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Psicologia Escolar e Educacional

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Psicologia escolar 
Psicologia educacional: voltada para a pesquisa teórica, a psicologia escolar coloca-se como vertente aplicada desse conhecimento, sendo utilizada diretamente no espaço de escolarização.
A Psicologia educacional e escolar tem intrinsecamente relacionadas, no entanto não são idênticas, não podem reduzir-se uma a outra, cada uma possui sua autonomia relativa.
A Psicologia Educacional pode ser considerada como sub-área a psicologia, que tem como vocação a produção de saberes relativos aos fenômenos psicológicos constituintes do processo educativo.
A Psicologia da educação, diferentemente, refere-se a um campo de ação determinado, isto é, o processo de escolarização, tendo por objeto a escola e as relações que aí se estabelecem; fundamento sua atuação nos conhecimentos produzidos pela psicologia da educação.
Relação entre Psicologia e Educação no Brasil
Década de 1830 - Primeiras discussões (embora incipientes e pouco sistemáticas) sobre a criança e seu processo educativo, incluindo assuntos como desenvolvimento, aprendizagem e ensino.
Em meados do século, essa preocupação se torna mais sistemática e frequente, e nos anos finais do mesmo século percebe-se a incorporação de objetos que mais tarde seriam próprios da psicologia da educação. 
Reforma de Benjamin Constant - 1890:
Transformou a disciplina filosofia em psicologia e lógica, que, por desdobramento, gerou mais tarde a disciplina pedagogia e psicologia. 
A primeira escala métrica de inteligência infantil foi desenvolvida por Binet, na França em 1905.
“Sua passagem para o laboratório de pedagogia experimental, foi um passo decisivo na constituição do primeiro método em psicologia escolar" (Psicometria)
Tinha como objetivo desenvolver instrumentos que possibilitaram a seleção, adaptação, orientação e classificação de crianças que necessitassem de educação especial em normais e anormais.
· A partir da década de 1980 que se iniciou um movimento de análise crítica de atuação do psicólogo escolar.
· A psicologia escolar foi uma das primeiras áreas no Brasil a esboçar uma crítica à formação profissional e ao modelo de atuação psicológica em educação.
· Os “problemas de aprendizagem” passaram a ser vistos como um fenômeno complexo.
· O papel do psicólogo foi repensado, com vista a promover o desenvolvimento de práticas pedagógicas de melhor qualidade.
As questões postas a partir da crítica à psicologia escolar/educacional, possibilitaram nos anos 1990, pesquisas sobre os seguintes temas:
a) fracasso escolar;
b) identidade profissional;
c) escolarização do deficiente mental;
d) formação profissional;
e) atuação profissional na educação de uma perspectiva crítica;
f) avaliação psicológica de problemas escolares;
g) vida diária escolar, dentre outros.
h) Rompimento da culpabilização das crianças adolescentes e suas famílias pelas dificuldades escolares.
Referências técnicas para a atuação do Psicólogo na educação básica
A escola, hoje, como um sistema aberto, se constitui em um​ mercado de serviços, projetos e produtos para seus usuários. Na escola “mercado” se multiplicam as práticas de avaliação dos produtos para o controle de qualidade e otimização dos processos, incluindo as avaliações diagnósticas, consideradas práticas de “segurança” que identificam os indivíduos e definem as ações do momento seguinte. Frente a todas as incertezas produtoras de medos, indecisão e agitação, a medicalização tem sido um procedimento generalizado funcionando como mantenedor da ordem produtora de exclusões e violação do direito à educação.
· Compor com a equipe escolar a elaboração, implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico da escola, e, a partir dele, construir seu projeto de atuação, como um profissional inserido e implicado no campo educacional.
· Problematizar o cotidiano escolar, colaborando na construção coletiva do projeto de formação em serviço, no qual professores possam planejar e compor acções continuadas;
· Construir, com a equipe da escola, estratégias de ensino-aprendizagem, considerando os desafios da contemporaneidade e as necessidades da comunidade onde a escola está inserida;
· Considerar a dimensão de produção da subjetividade, sem reduzi-la a uma perspectiva individualizante, afastando-se do modelo clínico-assistencial;
· Valorizar e potencializar a construção de saberes, nos diferentes espaços educacionais, considerando a diversidade cultural das instituições e seu entorno para subsidiar a prática profissional;
· Buscar conhecimentos técnicos-científicos da Psicologia e da Educação, em sua dimensão ética para sustentar uma atuação potencializadora;
· Produzir deslocamento do lugar tradicional do psicólogo no sentido de desenvolver práticas coletivas que possam acolher as tensões, buscando novas saídas para os desafios da formação entre educadores e educandos;
· Romper com a patologização, medicalização e judicialização das práticas educacionais nas situações em que as demandas por diagnósticos fortalecem a produção do distúrbio/transtorno, da criminalização e da exclusão.
POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Art. 205 - A educação, direito de todos, dever do
Estado e da família será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando a ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. (BRASIL, Constituição Federal, 1988).
Na direção de contribuir para a melhoria da qualidade da educação em todos os níveis, nossas ações devem pautar- se em tornar
disponível um saber específico da Psicologia para questões da Educação que envolvam prioritariamente o fortalecimento de uma gestão educacional democrática que considere todos os agentes que
participam da comunidade escolar, e de formas efetivas de acompanhamento do processo de escolarização.
Esse saber fundamenta-se no entendimento da dimensão
subjetiva do processo ensino-aprendizagem. Temáticas como: desenvolvimento, relações afetivas, prazeres e sofrimentos, comportamentos, ideias e sentimentos, motivação e interesse, aprendizagem,
socialização, significados, sentidos e identificações contribuem para
valorizar os sujeitos envolvidos nas relações escolares.
A(O) PSICÓLOGA(O) E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Ao se deparar com o contexto escolar para elaborar planos de intervenção, levando em conta o projeto político pedagógico, é necessário compreender e conhecer dados objetivos relativos à organização escolar. Entre eles destacamos: o número de estudantes, de turmas, de professores, serviços prestados à comunidade, reuniões que estão planejadas; índice de aprovação, reprovação e evasão; membros das equipes pedagógicas, administrativas e de prestação de serviços gerais; o perfil socioeconômico da comunidade escolar; informações sobre características do território em que a escola está localizada, bem como sua história. É importante ainda conhecer o corpo docente e equipe pedagógica, considerando sua formação acadêmico-profissional, salários e condições de trabalho, carga horária; informações sobre o trabalho pedagógico, enfocando como ocorre a prática pedagógica incluindo a metodologia, recursos, conteúdos.
A INTERVENÇÃO DA(O) PSICÓLOGA(O) NO
PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
O conhecimento da psicologia na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem se constitui, historicamente, desde concepções higienistas até àquelas que analisam esse processo como síntese de múltiplas determinações: pedagógicas, institucionais, relacionais, políticas, culturais e econômicas. As práticas de intervenção, portanto, decorrem dessas concepções.
Nessa perspectiva, a(o) psicóloga(o) avança na compreensão desse processo quando o analisa a
partir de condições histórico-sociais determinadas. Sua superação depende de ação que envolva os diferentes aspectos do processo de escolarização: relações familiares, grupos de amigos, práticas institucionais e contexto social.
No trabalho com estudantes, é fundamental resgatar a função do conhecimento científico comoinstrumento que possibilita a compreensão e transformação da realidade (VYGOTSKY, 2000).11
À(ao) psicóloga(o) cabe uma prática que conduza a criança e o jovem a descobrir o seu potencial de aprendizagem,16 auxiliando na utilização de mediadores culturais (música, teatro, desenho, dança,
literatura, cinema, grafite, e tantas outras formas de expressão artísticas) que possibilitam expressões da subjetividade. No caso da avaliação das dificuldades no processo de escolarização, é fundamental avaliar o aluno prospectivamente, naquilo que ele pode se desenvolver, e não se restringir àquilo que o aluno não consegue
realizar, ou mesmo centrar-se somente no aluno, sem refletir sobre a produção social do fracasso escolar.
Com pais, familiares ou responsáveis, a(o) psicóloga(o) pode refletir sobre o papel social da escola e da família, assim como sobre as problemáticas que atravessam a vida de pais e filhos. Frente a possíveis dificuldades escolares, a discussão coletiva pode facultar novas ideias e ações favorecedoras de uma prática compartilhada que contribua para a qualidade do processo ensino e aprendizagem.
O TRABALHO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES
Nem sempre educadores e psicólogas(os) têm clareza da visão de homem e educação que permeia a sua prática profissional.
A forma como a escola se organiza, nos dias de hoje, está atrelada a circunstâncias históricas que produziram tendências pedagógicas que ora privilegiavam o professor e o conteúdo, como era o caso da
Pedagogia Tradicional; ora privilegiavam o estudante, como é o caso da Escola Nova e do Construtivismo, por exemplo, ou ora privilegiavam a técnica, como é o caso da Pedagogia Tecnicista.12 Cada tendência pedagógica carrega uma visão acerca da atuação dos educadores que permeia todo o trabalho pedagógico e que influenciará a prática desenvolvida pela(o) psicóloga(o) na escola (FACCI, 2004).
O TRABALHO DA(O) PSICÓLOGA(O) E
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
É importante considerar que na intervenção na escola é preciso que a(o) psicóloga(o) identifique, primeiramente, concepções “de sociedade, de educação, de grupo, de indivíduo, de coletividade” dos professores, estudantes e familiares, assim como as suas próprias concepções. É preciso compreender a constituição histórica do psiquismo humano e resgatar propostas de ações societárias e coletivas para uma atuação crítica da(o) psicóloga(o) em contextos educativos buscando romper com práticas excludentes na escola (BARROCO, 2007, p. 179).
O trabalho da(o) psicóloga(o) com a temática do preconceito e a promoção de discussões coletivas a respeito do processo de
inclusão escolar, em que seja garantido o direito de pertencimento
do estudante com deficiência à escola regular, pode promover condições para que a relação social entre o estudante com deficiência e o ambiente escolar promovam situações desafiadoras que “empurram a criança para a via da compensação” no sentido de desenvolver potencialidades que auxiliem na superação da deficiência, conforme anuncia Vygotski (1997, p. 106). Dessa forma, em seu trabalho, a(o) psicóloga(o) focalizará a força que esse estudante possui para criar condições para o enfrentamento de sua deficiência e expansão de seus limites, que tem como objetivo buscar uma posição social mais valorizada pela sua comunidade.
Além do exposto, é importante destacar que o profissional pode desenvolver ações como: acompanhamento de estudantes visando à inclusão e permanência com qualidade de todos e todas no contexto escolar; participação na articulação de serviços para o atendimento do estudante com deficiência, na busca da garantia de seu direito à educação, a saúde e a assistência social; mobilização
de encontros e participação em reuniões com docentes e outros profissionais, visando a auxiliar a equipe de docentes da escola na construção do planejamento educacional para a(o) estudante com
deficiência; reflexão e adequação do processo de avaliação psicopedagógica; inserção de discussão e possibilidades de atuação nos Projetos Políticos Pedagógicos, contribuindo com a construção do plano da escola e desenvolvendo programas e outras situações para promover a apropriação do conhecimento por todos alunos.
O TRABALHO DA(O) PSICÓLOGA(O) COM GRUPOS DE ALUNOS
Uma outra possibilidade de atuação refere-se ao acompanhamento dos alunos em conselhos de classe, no cotidiano da escola, nas dificuldades que surgem no processo de escolarização. Um trabalho que geralmente obtém bons resultados é aquele que envolve as turmas de alunos trabalhando no sentido de promover orientação em relação a temáticas que circunscrevem o espaço escolar. Nesse sentido, o trabalho com orientação profissional, constitui-se em
um espaço muito rico de intervenção. Bock (2003) ressalta a necessidade da compreensão da relação entre educação e trabalho em um contexto neoliberal. Dessa forma, a discussão travada acerca da
orientação profissional pode trazer informações sobre o mundo do trabalho, o processo de alienação, informações sobre as várias profissões existentes, sobre instituições que oferecem cursos em nível Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) na educação básica 51 de graduação ou mesmo cursos técnicos e outros aspectos relativos a essa temática. Mais uma vez, ressalta-se a necessidade de considerar que as escolhas são estabelecidas socioculturalmente.
O fundamental é realizar ações que caminhem em colaboração com a finalidade da escola, ou seja, a socialização do conhecimento.
Grupos de apoio psicopedagógicos com alunas(os) que apresentam dificuldades no processo de escolarização também pode ser uma outra atividade desenvolvida. A(o) psicóloga(o), nesse sentido, poderá trabalhar, em parceria com pais, professores e equipe
pedagógicas, com atividades que colaborem para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, enfocando a relação entre
cognição e afeto.
Professoras(es) e psicólogas(os) possuem histórias de vida, singularizações produzidas nas relações com os demais e circunscritas nas instituições político-histórica, e estão socialmente em luta pela sobrevivência frente às adversidades cotidianas, dessa forma, cabe a nós, psicólogas(os):
[...] compreendermos como se constitui a subjetividade e trabalhar em prol do desenvolvimento da humanidade de cada indivíduo. Esta compreensão também demanda muito esforço, muito aprofundamento teórico e muita sensibilidade, assim como solidariedade para se colocar no lugar do outro, e contribuir para que ele consiga enxergar outras facetas da sua vida, de forma que possa tomar consciência do seu lugar, nesta sociedade dividida em classes, e possa ter o desejo e condições de transformar essa sociedade. (FACCI, 1998, p. 235).
A produção do fracasso escolar
· O fracasso escolar como problema psíquico: a culpabilização das crianças e de seus pais;
· O fracasso escolar como um problema técnico: culpabilização do professor;
· O fracasso escolar como uma questão institucional: a lógica excludente da educação escolar;
· O fracasso escolar como questão política:cultura escolar, cultura popular e relações de poder.
Início do séc XX (1900) - Movimento Higienista 
As ideias médicas da época, legitimadas por seu estatuto de ciência, que deveria explicar a conduta e estabelecer normas para ela, constitui a escola como objeto de saneamento físico e moral, com base em projetos higienistas, com foco na formação moral, visando à normalização do comportamento dos alunos pela ação repressiva às condutas tidas como perniciosas. A expansão da psicometria e os saberes psi serviram aos fins higienistas.
"Biologização" dos fenômenos escolares e normatização das crianças- 1920
Individualizou o fracasso escolar no corpo das crianças e isentou a comunidade escolar da responsabilidade. A psicologia contribuiu para tal "biologização" com a classificação de crianças "normais" e "anormais" a partir do uso de testes psicométricos.
Maria Helena Souza Patto (1981) - Psicologia e Ideologia: uma introdução crítica à Psicologia Escolar.
Principais críticas: 
A) As explicações a respeito dasdificuldades de aprendizagem, focadas na criança e na teoria da Carência Cultural;
B) ao modelo clínico, psicoterapêutico e reeducativo de atuação psicológica no atendimento à queixa escolar.
1930: Movimento da Escola Nova- Os pioneiros da Educação
O Brasil passava por mudanças estruturais de urbanização e industrialização. Nesse cenário, o movimento da Escola Nova começou a se expandir com promessas de revolução educacional e progresso. O movimento tinha um discurso de escola democrática com oportunidades iguais para todos. Logicamente, isso era um mito, que camuflava as desigualdades sociais, negando as diferenças de classe, e culpabiliza o sujeito por sua condição de fracasso escolar.
1960 - Psicologismo na Educação e determinismo sociológico
A Psicologia passa a minimizar os fatores biológicos como explicação dos comportamentos do estudante e inicia-se um discurso sobre fatores ambientais e socioeconômicos como produtores de "déficits comportamentais".
Teorias da Assistência Científica e da Carência Cultural.
1962: Regulamentação da profissão do Psicólogo
Início com a Psicologia "do" Escolar
Foco na” criança-problema”, ou criança que não aprende e nos problemas de aprendizagem. Medição de aptidões tidas como naturais e busca de um ajustamento dos anormais através da Higiene Mental.
Até que chegou o dia em que foi dito: - É preciso ir à escola. Todos os meninos vão. Para se transformarem em gente. Deixar as coisas de criança. Em cada criança brincante dorme um adulto produtivo. É preciso que o adulto produtivo devore a criança inútil. E assim aconteceu. (ALVES R., 1995, p.35)
“[educar] é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo 15 conjunto dos homens'' (SAVIANI 1991, p.21.
A educação institucionalizada serve – no seu todo – o propósito de não só fornecer o conhecimento e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitimam os interesses dominantes. (MÉSZÁROS 2006, p.196)
No Brasil, a educação transita entre práticas sociais conservadoras, de benemerência e tutela, e práticas comprometidas com a emancipação humana e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (NUNES, 2009, p.91)
Teorias da Assistência Científica e da Privação Cultural
A ASSISTÊNCIA CIENTÍFICA foi formulada no início do século XX fundamentando práticas assistencialistas no desenvolvimento de uma pedagogia da submissão, tendo por objetivo disciplinar os pobres para a aceitação da exploração social e ausência do Estado na gestão de programas. 
A assistência científica se desenvolve a partir de três aspectos, a saber: 
A primeira é caracterizada como um conjunto de medidas fundamentadas, não no direito, mas na subserviência dos que dela necessitam, reproduzindo as desigualdades e um poder disciplinar sobre os pobres; 
O segundo consiste na apresentação de um método científico para sistematizar saberes e intervenções, com objetivo de controle social e moralização da pobreza; 
E o terceiro é representado pela polarização entre o papel do Estado e da sociedade civil. 
A concepção da PRIVAÇÃO CULTURAL, por sua vez, foi difundida no Brasil na década de setenta com o objetivo de orientar o desenvolvimento da educação compensatória através da valorização de medidas assistenciais e educativas, que objetivam compensar as supostas carências socioculturais das crianças . Perspectiva que muda o foco das problemáticas relacionadas à população em situação de pobreza, que inicialmente deveria ser disciplinada/moralizada numa visão depreciativa da mesma, camuflando as desigualdades sociais e históricas que a constituí, apontando para os problemas, não mais dos sujeitos, mas para as carências do meio a que pertencem. 
[...] Ancorada na ideia de educação compensatória, as instituições educativas destinadas às crianças pobres buscam compensar suas privações culturais através de programas preventivos e assistencialistas, que, como dito anteriormente, informam a elas qual o seu lugar na organização social e produtiva capitalista. (SOARES, 1996, p.36) 
Vale registrar que, ainda hoje, apesar do Brasil ser considerado como um dos países mais multi-étnico-culturais do mundo, como contextualiza Lima (2006), os projetos educativos desenvolvidos em suas várias regiões adotam propostas curriculares que têm como característica principal a homogeneização e o silenciamento das diversidades culturais empobrecendo as representações culturais das crianças e das famílias atendidas na educação sendo estas descritas, apenas por suas supostas carências. 
A SUPOSTA CARÊNCIA DA CRIANÇA CONDUZIRIA A UMA INAPTIDÃO GENERALIZADA: 
linguística, motora, social. Bem por isso as crianças pobres fracassaram na escola: eram incapazes, por força de suas inaptidões, de assimilar os ensinamentos e as informações transmitidas pelo sistema escolar. Com isso, a escola e a própria estrutura social como um todo eram poupadas em suas responsabilidades, que seriam convenientemente transferidas à própria criança carente (MERISSE 1997, p.46)
As limitações e os preconceitos presentes nos atendimentos das escolas para a classe popular incluíam, não apenas as crianças, como também as famílias e os próprios educadores 
As famílias, a grande maioria muito pobres, eram consideradas incapazes de cuidar devidamente da saúde e proteção de suas crianças, daí a ideia de que era necessário educar não só as crianças, mas também suas famílias. Portanto, a escola, nas décadas de 20 e 30, passa a ter como base de sua pedagogia a ciência da higiene, utilizando a sala de aula como um espaço para a higienização das famílias. 
O papel da família foi, portanto, redefinido enfatizando as dificuldades e o despreparo dos pais na educação das crianças sendo duplamente penalizadas pelas desigualdades sociais em que são constituídas e marcadas, assim como as crianças.
O PAPEL ÉTICO-POLÍTICO DA EDUCAÇÃO 
Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. (BOURDIEU, P. 53).
O fracasso escolar aparece como um fracasso da escola, fracasso este localizado (a). na impossibilidade de aferir a real capacidade da criança; (b) no desconhecimento dos processos naturais que levam a criança a adquirir conhecimento; (c) na incapacidade de estabelecer uma ponte entre o conhecimento prático - do qual a criança, pelo menos em parte, já dispõe - e os conhecimentos formalizados do currículo escolar.
EDUCAÇÃO E SOFRIMENTO ÉTICO-POLÍTICO - SAWAIA
Sawaia (2009) afirma que a desigualdade social desencadeia um tipo de sofrimento específico, nomeado por ela de ético-político.
Em síntese, o sofrimento ético-político abrange múltiplas afecções do corpo e da alma, que mutilam a vida de diferentes formas. Qualifica-se pela maneira como sou tratada e trato o outro na intersubjetividade, face a face ou anônima, cuja dinâmica, conteúdo e qualidade são determinados pela organização social. Portanto, o sofrimento ético-político retrata a vivência cotidiana das questões sociais dominantes em cada época histórica, especialmente a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade. Ela revela a tonalidade ética da vivência cotidiana da desigualdade social, da negação imposta socialmente às possibilidades da maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de movimentar-se no espaço públicoe de expressar desejo e afeto.

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