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Saúde e Bem-estar OBJETIVOS • Listar as quatro metas gerais de saúde pública do Healthy People 2020 para americanos. • Discutir a definição de saúde. • Discutir as crenças em saúde, promoção de saúde, necessidades humanas básicas e modelos holísticos de saúde para entender a relação entre atitudes e práticas de saúde dos pacientes • Descrever as variáveis que influenciam as crenças e práticas de saúde. • Descrever promoção de saúde, bem-estar e atividades para prevenção de doenças • Discutir os três níveis de cuidados preventivos. • Descrever quatro tipos de fatores de risco que afetam a saúde. • Descrever a modificação dos fatores de risco e a mudança dos comportamentos de saúde. • Descrever as variáveis que influenciam o comportamento frente à doença. • Descrever o efeito da doença nos pacientes e famílias. • Discutir o papel da enfermeira na saúde e na doença. TERMOS-CHAVE Bem-estar, p. 70 Comportamento frente à doença, p. 74 Comportamentos frente à saúde, p. 66 Doença aguda, p. 73 Doença crônica, p. 73 Doença, p. 73 Estratégias ativas de promoção de saúde, p. 71 Estratégias passivas de promoção de saúde, p. 71 Fator de risco, p. 71 Modelo de crença em saúde, p. 66 Modelo holístico de saúde, p. 67 Mudanças de comportamento de saúde, p. 72 Prevenção de doenças, p. 70 Prevenção primária, p. 71 Prevenção secundária, p. 71 Prevenção terciária, p. 71 Promoção de saúde, p. 70 Saúde, p. 66 No passado, a maioria dos indivíduos e as sociedades viam a boa saúde, ou o bem-estar, como o oposto ou a ausência de doença. Essa atitude simples ignora os estados de saúde existentes entre a doença e a boa saúde. Saúde é um conceito multidimensional, e é vista de uma perspectiva mais ampla. A avaliação do estado de saúde de um paciente é um importante aspecto da enfermagem. Os modelos de saúde oferecem uma perspectiva para se compreender as relações entre os conceitos de saúde, bem-estar e doença. As enfermeiras estão em uma posição privilegiada para auxiliar os pacientes a alcançar e manter níveis ótimos de saúde. Elas precisam entender os desafios do atual sistema de cuidados de saúde e aproveitar as oportunidades para promover a saúde e o bem-estar além de prevenir a doença. Em uma era de custos elevados e tecnologia avançada, as enfermeiras são um elo vital para a melhora da saúde dos indivíduos e da sociedade. Pela avaliação e conhecimento dos pacientes, elas identificam os fatores de risco reais e potenciais que predispõem um indivíduo ou um grupo à doença. Além disso, uma enfermeira usa estratégias de modificação de fatores de risco para promover saúde e bem-estar, além de prevenir a doença. Diferentes atitudes provocam nas pessoas diferentes reações à doença ou à doença de um membro da família; essa reação é o comportamento frente à doença. As enfermeiras que compreendem como os pacientes reagem à doença podem minimizar seus efeitos, ajudando esses pacientes e suas famílias a manter ou a retornar ao mais alto nível de funcionamento. Documentos do healthy people (Pessoas Saudáveis) O projeto Healthy People (Pessoas Saudáveis) estabelece metas nacionais para 10 anos, baseadas em evidências, para promover a saúde e prevenir a doença. Em 1979, foi publicado um documento influente, o Healthy People: the Surgeon General’s Report on Health Promoção and Disease Prevention; o documento introduziu uma meta para que em 1990 a saúde dos americanos estivesse melhor. O relatório delineava objetivos prioritários para serviços preventivos, proteção à saúde e promoção da saúde direcionados a melhoras no estado de saúde, redução de riscos, conscientização pública e profissional de prevenção, serviços de saúde e medidas de e proteção, vigilância e avaliação. Esse relatório serviu como uma estrutura básica para os anos 1990, quando os Estados Unidos enfocavam mais a promoção de saúde e a prevenção de doença que os cuidados com tratamento. A estratégia exigia um esforço cooperativo por parte do governo, organizações voluntárias e profissionais, empresas e indivíduos. Amplamente citado pela mídia popular, por revistas profissionais e em conferências de saúde, o relatório inspirou programas de promoção de saúde em todo o país. Healthy People 2000: National Health Promotion and Disease Prevention Objectives, publicado em 1990, identificou metas para a melhoria da saúde e objetivos a serem alcançados no ano 2000 (U.S. Department of Health e Human Services [USDHHS, Public Health Service], 1990). Healthy People 2010, publicado em 2000, serviu como um roteiro visando à melhoria de saúde de toda a população americana durante a primeira década do século XXI (USDHHS, 2000). Essa edição ressaltou o elo entre a saúde do indivíduo e a da comunidade, bem como a premissa de que a saúde das comunidades determina o estado de saúde geral da nação. O Healthy People 2020 foi aprovado em dezembro de 2010. Este documento promove uma sociedade na qual todas as pessoas têm vida longa e saudável. Há quatro metas fundamentais: (1) alcançar vidas longas com mais qualidade, livres de doenças passíveis de prevenção, incapacidades, lesões e morte prematura; (2) alcançar equidade em saúde, eliminar disparidades e melhorar a saúde de todos os grupos; (3) criar ambientes sociais e físicos que promovam boa saúde para todos; e (4) promover qualidade de vida, desenvolvimento saudável e comportamentos saudáveis em todos os estágios da vida (USDHHS, s.d.). Definição de saúde Definir saúde é difícil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1947). Muitos aspectos da saúde precisam ser considerados. Saúde é um estado de ser que as pessoas definem em relação aos seus próprios valores, personalidade e estilo de vida. Cada um tem um conceito pessoal de saúde. Pender et al. (2015) definem saúde como a realização do potencial humano inerente e adquirido por meio do comportamento direcionado a objetivos, cuidados pessoais competentes e relacionamentos satisfatórios com os outros, enquanto outros ajustes são realizados, se necessário, para manter a integridade estrutural e a harmonia com o ambiente. As visões dos indivíduos sobre saúde variam entre as diferentes orientações culturais (Pender et al., 2015). Pender (1996) explica que “nem todas as pessoas que não têm uma doença são igualmente saudáveis”. As visões sobre saúde foram ampliadas para incluir não apenas o bem-estar físico, mas também o bem-estar mental, social e espiritual, e um foco nos níveis de saúde da família e da comunidade. Para auxiliar os pacientes a identificar e alcançar as metas de saúde, as enfermeiras descobrem e usam informações sobre seus conceitos de saúde. Pender et al. (2015) sugerem que, para muitas pessoas, as condições de vida, e não os estados patológicos, definem a saúde. As condições de vida podem ter efeitos positivos ou negativos sobre a saúde muito antes de uma patologia se tornar evidente (Pender et al., 2015). As condições incluem variáveis socioeconômicas, como ambiente, dieta, práticas de estilo ou escolhas de vida, e muitas outras variáveis fisiológicas e psicológicas. Saúde e doença são definidas de acordo com a percepção individual. Saúde geralmente inclui condições anteriormente consideradas como doença. Por exemplo, uma pessoa com epilepsia que aprendeu a controlar as convulsões com medicação, com boa função em casa e no trabalho, ou aquela totalmente recuperada de um acidente vascular encefálico com paralisia limitada e vida independente podem não se considerar mais doentes. A enfermeira precisa considerar a pessoa como um todo e o ambiente em que ela vive para individualizar os cuidados de enfermagem e aumentar o significado do estado de saúde futuro do paciente. Modelos de saúde e doença Um modelo é um modo teórico de entender um conceito ou ideia. Os modelos representam diferentes modos de abordagem a questões complexas. Como saúde e doença são conceitos complexos, os modelos explicam as relações entreesses conceitos e as atitudes do paciente em direção à saúde e os comportamentos frente à saúde. As crenças em saúde são as ideias, convicções e atitudes de uma pessoa sobre saúde e doença. Podem ser baseadas em informações factuais ou incorretas, no senso comum ou em mitos, em expectativas reais ou falsas. Como as crenças em saúde geralmente influenciam o comportamento frente à saúde, podem afetar de maneira positiva ou negativa o nível de saúde do paciente. Os comportamentos positivos de saúde são atividades relacionadas com manutenção, obtenção ou recuperação da boa saúde e prevenção da doença. Os comportamentos de saúde positivos comuns incluem imunizações, padrões adequados de sono, exercícios adequados, controle do estresse e nutrição. Os comportamentos de saúde negativos incluem práticas reais ou potencialmente prejudiciais à saúde, como tabagismo, abuso de drogas ou álcool, dieta pobre e recusa em tomar as medicações necessárias. As enfermeiras desenvolveram os seguintes modelos de saúde para compreender as atitudes e valores dos pacientes sobre saúde e doença, bem como para prestar cuidados de saúde eficientes. Esses modelos de enfermagem permitem a compreensão e a previsão do comportamento de saúde dos pacientes, incluindo como eles usam os serviços de saúde e aderem à terapia recomendada. Os modelos de saúde positivos focalizam-se nos pontos fortes, resiliências, recursos, potencial e capacidades do indivíduo e não na doença ou patologia (Pender et al., 2015). Modelo de Crença em Saúde O modelo de crença em saúde de Rosenstoch (1974) e de Becker e Maiman (1975) (Fig. 6-1) aborda a relação entre as crenças e comportamentos de uma pessoa. O modelo de crença em saúde ajuda a enfermeira a entender os fatores que influenciam as percepções, crenças e comportamento dos pacientes quando planeja os cuidados que ajudarão com mais eficiência os pacientes a manter ou restaurar a saúde e a prevenir a doença. FIGURA 6-1 Modelo de crença em saúde. (Dados de Becker M, Maiman L: Sociobehavioral determinants of compliance with health and medical care recommendations, Med Care 13[1]:10, 1975.) O primeiro componente desse modelo envolve a percepção do indivíduo da suscetibilidade a uma doença. Por exemplo, um paciente precisa reconhecer o vínculo familiar na doença arterial coronariana. Depois de identificado esse vínculo, particularmente quando um genitor e dois irmãos morreram de infarto do miocárdio na quarta década de vida deles, o paciente pode perceber o risco pessoal de doença cardíaca. O segundo componente é a percepção que o indivíduo tem da seriedade da doença. Essa percepção é influenciada e modificada por variáveis demográficas e sociopsicológicas, ameaças percebidas da doença e dicas para a ação (p. ex., campanhas na mídia de massa e o conselho da família, amigos e profissionais de saúde). Por exemplo, um paciente pode não perceber como sua doença cardíaca é grave, o que pode afetar a maneira de cuidar de si mesmo. O terceiro componente é a probabilidade de que uma pessoa adote uma ação preventiva. Esse componente resulta da percepção que ela tem sobre os benefícios da adoção de uma ação e das barreiras a isso. As ações preventivas incluem modificações no estilo de vida, maior adesão às terapias médicas, ou a busca de aconselhamento ou tratamento médico. A percepção do paciente da suscetibilidade à doença, bem como da gravidade de uma doença, ajuda a determinar a probabilidade de que ele participará ou não de comportamentos saudáveis. Modelo de Promoção de Saúde O modelo de promoção de saúde (MPS) proposto por Pender (1982; revisado, 1996) pretendia ser uma “contraparte complementar dos modelos de proteção à saúde” (Fig. 6-2). Ele define saúde com um estado positivo, dinâmico, e não simplesmente a ausência de doença (Pender et al., 2015). A promoção da saúde é direcionada a aumentar o nível de bem-estar do paciente. O MPS descreve a natureza multidimensional das pessoas quando elas interagem em seu ambiente em busca de saúde (Pender, 1996; Pender et al., 2015). O modelo focaliza-se nas três áreas a seguir: (1) características e experiências individuais; (2) conhecimento e afeto específicos do comportamento; e (3) resultados comportamentais, em que o paciente se compromete com um comportamento ou o modifica. O MPS nota que cada pessoa tem características pessoais e experiências únicas que afetam as ações subsequentes. O conjunto de variáveis para o conhecimento e afeto específicos do comportamento tem importante significado motivacional. Essas variáveis podem ser modificadas por meio de ações de enfermagem. O comportamento de promoção da saúde é o resultado comportamental desejado e o objetivo do MPS. Os comportamentos de promoção de saúde resultam em melhora da saúde, maior capacidade funcional e melhor qualidade de vida em todos os estágios de desenvolvimento (Pender et al., 2015) (Quadro 6- 1). FIGURA 6-2 Modelo de promoção de saúde (revisado). (Redesenhada de Maslow AH, Frager RD (Editor), Fadiman J (Editor): Motivation and personality, ed 3. ©1987. Reimpressa com permissão de Ann Kaplan.) Quadro 6-1 Foco em idosos Promoção de Saúde • Promove estilos de vida saudáveis encorajando atividade física regular adaptada à capacidade do indivíduo, que aceita a responsabilidade pela própria saúde, usando estratégias de controle do estresse, com foco nas capacidades de autocuidado, melhorando a autoeficácia e praticando exercícios de relaxamento (Pascucci et al., 2012; Pender et al., 2015). • Considera o ambiente social do idoso e fortalece o apoio social para promover a saúde e proporcionar o acesso aos recursos (Touhy e Jett, 2012). • A prevenção de acidentes é uma estratégia-chave para promover e melhorar a saúde (Touhy e Jett, 2012). • Promove programas de exercício baseados na comunidade para diminuir o isolamento social e aumentar a independência (Wallace et al., 2014). • Relato de fatores que afetam a disposição dos idosos para participar de atividades de promoção de saúde podem incluir os socioeconômicos, crenças e atitudes de pacientes e profissionais, incentivo por parte de um profissional de saúde, motivação específica baseada na eficácia das crenças, acesso aos recursos, idade, número de doenças crônicas, saúde mental e física, estado civil, capacidade de autocuidado, gênero, educação e presença de um sistema de apoio (Byam- Williams e Salyer, 2010; Pascucci et al., 2012). • Incentiva refeições saudáveis frequentes, bem balanceadas, e contendo frutas, vegetais, além de produtos lácteos (Pascucci et al., 2012). Hierarquia das Necessidades de Maslow As necessidades humanas básicas são os elementos essenciais para a sobrevivência e saúde humana (p. ex., alimento, água, segurança e amor). Embora cada pessoa tenha necessidades únicas, todas as pessoas compartilham as necessidades humanas básicas, e a extensão em que elas satisfazem essas necessidades é um importante fator na determinação de seu nível de saúde. A hierarquia das necessidades de Maslow é um modelo que as enfermeiras usam para compreender as inter-relações das necessidades humanas básicas (Fig. 6-3). De acordo com esse modelo, certas necessidades humanas são mais básicas que outras (i.e., algumas necessidades devem ser atendidas antes de outras [p. ex., deve-se satisfazer as necessidades fisiológicas antes das necessidades de amor e pertencimento]). A autorrealização é a mais alta expressão do potencial do indivíduo e permite a contínua autodescoberta. O modelo de Maslow leva em consideração as experiências individuais, que são sempre exclusivas desse indivíduo (Touhy e Jett, 2012). FIGURA 6-3 Hierarquia de necessidades de Maslow. (Redesenhada de Maslow AH: Motivation and personality, ed 3, Upper Saddle River, NJ, 1970, Prentice Hall.) O modelo hierárquico das necessidades fornece uma base para as enfermeiras cuidarem de pacientes de todas as idades em ambientes de cuidados de saúde. Porém, ao aplicar o modelo, o foco do cuidado está nas necessidades do paciente e não na estrita adesão àhieraquia. É irrealista sempre esperar que as necessidades básicas do paciente ocorram em uma ordem hierárquica fixa. Em todos os casos, uma necessidade fisiológica emergente tem precedência sobre uma necessidade em nível mais alto. Em outras situações, a necessidade de segurança psicológica ou física assume a prioridade. Por exemplo, em um incêndio na casa, o medo de lesão e morte tem prioridade sobre as questões de autoestima. Embora possa parecer que, para uma paciente que acabou de ser submetida a uma cirurgia, a necessidade mais forte é controlar a dor na área psicossocial, se essa cirurgia foi uma mastectomia, sua necessidade principal pode ser nas áreas de amor, pertencimento e autoestima. É importante não supor quais sejam as necessidades do paciente somente porque outros pacientes tiveram determinadas reações. A hierarquia de Maslow pode ser muito útil quando aplicada a cada paciente individualmente. Para uma prestação de cuidados mais eficiente, é preciso compreender as relações entre as diferentes necessidades e os fatores que determinam as prioridades para cada paciente. Modelo Holístico de Saúde Os cuidados de saúde começaram a adotar uma visão mais holística de saúde ao considerar o bem-estar emocional e espiritual assim como outras dimensões de um indivíduo, por exemplo, aspectos importantes do bem--estar físico. O modelo holístico de saúde de enfermagem tenta criar condições que promovam um ótimo nível de saúde para o paciente. Nesse modelo, as enfermeiras que usam o processo de enfermagem consideram os pacientes como os principais conhecedores no que se refere à sua própria saúde, e respeitam a experiência subjetiva deles como relevante para a manutenção da saúde ou como auxílio na cura. No modelo holístico de saúde, os pacientes são envolvidos em seus processos de cura, assumindo assim alguma responsabilidade pela manutenção da saúde (Edelman e Mandle, 2014). As enfermeiras que usam o modelo holístico de enfermagem reconhecem as capacidades naturais do corpo e incorporam intervenções complementares e alternativas, como meditação, musicoterapia, reminiscência, terapia de relaxamento, toque terapêutico e imagens guiadas, porque são complementos não farmacológicos eficazes, econômicos, não invasivos aos cuidados médicos tradicionais (Cap. 33). Essas estratégias holísticas, que podem ser usadas em todos os estágios de saúde e doença, são parte integrante do papel em expansão da enfermagem. As enfermeiras usam terapias holísticas isoladamente ou em conjunto com a medicina convencional. Por exemplo, elas empregam a reminiscência na população geriátrica para ajudar a aliviar a ansiedade de um paciente que lida com a perda da memória, ou para um paciente com câncer que lida com os difíceis efeitos colaterais da quimioterapia. A musicoterapia na sala de cirurgia cria um ambiente relaxante. A terapia de relaxamento geralmente é útil para distrair o paciente durante um procedimento doloroso como a troca de curativos. Exercícios respiratórios são ensinados com frequência para ajudar pacientes a lidar com a dor associada ao trabalho de parto e o parto. Variáveis que influenciam as crenças e as práticas de saúde Muitas variáveis influenciam as crenças e práticas de saúde do paciente. Variáveis internas e externas influenciam o seu modo de agir e pensar. Como mencionado anteriormente, as crenças de saúde quase sempre influenciam o comportamento ou práticas de saúde e, da mesma forma, afetam positiva ou negativamente o nível de saúde do paciente. Portanto, a compreensão dos efeitos dessas variáveis permite o planejamento e a prestação de cuidados individualizados. Variáveis Internas As variáveis internas incluem estágio de desenvolvimento, formação intelectual, percepção do funcionamento, bem como os fatores emocionais e espirituais de uma pessoa. Estágio de Desenvolvimento Os padrões de pensamento e comportamento de uma pessoa se modificam ao longo da vida. A enfermeira considera o nível de crescimento e desenvolvimento quando usa as crenças e práticas de saúde do paciente como base para o planejamento dos cuidados (Cap. 11). O conceito de doença para uma criança, um adolescente ou um adulto depende do estágio de desenvolvimento do indivíduo. Medo e ansiedade são comuns em crianças doentes, especialmente se a noção sobre doença, hospitalização ou procedimentos basear-se na falta de informações ou de clareza das informações. O desenvolvimento emocional também pode influenciar as crenças pessoais sobre questões relacionadas com a saúde. Por exemplo, são utilizadas técnicas diferentes para ensinar a contracepção a uma adolescente e a uma mulher adulta. O conhecimento dos estágios de crescimento e desenvolvimento ajuda a predizer a resposta do paciente à doença presente ou à ameaça de uma doença futura. Adapta-se, então, o planejamento de cuidados de enfermagem às expectativas do desenvolvimento e às capacidades do paciente de participar do autocuidado. Background (Acúmulo) Intelectual As crenças de uma pessoa sobre saúde são, em parte, moldadas pelo conhecimento, falta de conhecimento ou informações incorretas sobre as funções e doenças do corpo, escolaridade, tradições e experiências passadas. Essas variáveis influenciam a maneira do paciente pensar sobre saúde. Além disso, as habilidades cognitivas moldam o modo de pensar de uma pessoa, incluindo a capacidade de entender os fatores envolvidos na doença e de aplicar o conhecimento de saúde e doença às suas práticas pessoais de saúde. As habilidades cognitivas também se relacionam com o estágio de desenvolvimento da pessoa. A enfermeira considera o acúmulo intelectual de tal forma que essas variáveis possam ser incorporadas às abordagens de comunicação e orientação (Edelman e Mandle, 2014). Percepção do Funcionamento O modo de perceber o funcionamento físico das pessoas afeta suas crenças e práticas de saúde. Ao avaliar o nível de saúde de um paciente, a enfermeira reúne dados subjetivos sobre como o paciente percebe o funcionamento físico, por exemplo, o nível de fadiga, dispneia ou dor. Em seguida, ela obtém dados objetivos sobre o funcionamento real, como pressão arterial, medidas da altura e avaliação dos sons pulmonares. Essas informações permitem um planejamento mais bem-sucedido e a implementação de abordagens individualizadas, como o autocuidado e a mobilidade. Fatores Emocionais O grau de estresse do paciente, depressão ou medo pode influenciar as crenças e práticas de saúde. A maneira como a pessoa lida com o estresse em cada fase da vida influencia como ela reage à doença. A pessoa que geralmente é muito calma pode ter uma resposta emocional precária durante a doença, enquanto outro indivíduo pode ser incapaz de enfrentar emocionalmente a ameaça da doença e reagir de maneira exagerada, ou negar a presença de sintomas e não adotar a ação terapêutica (Cap. 38). Fatores Espirituais A espiritualidade reflete-se no modo de viver da pessoa, incluindo os valores e crenças exercidas, as relações estabelecidas com a família e os amigos; e na capacidade de encontrar esperança e significado na vida. A espiritualidade serve como tema de integração na vida das pessoas (Cap. 36). As práticas religiosas da pessoa são o seu modo de exercer a espiritualidade. Algumas religiões restringem o uso de certas formas de tratamento médico. Por exemplo, os membros da religião Testemunhas de Jeová não recebem transfusões de sangue. É necessário entender as dimensões espirituais dos pacientes para envolvê-los efetivamente nos cuidados de enfermagem. Variáveis Externas As variáveis externas que influenciam as crenças e práticas de saúde de uma pessoa incluem as práticas familiares, fatores psicossociais e socioeconômicos, além do contexto cultural. Práticas Familiares A maneira como as famílias dos pacientes usam os cuidados de saúde geralmente afeta suas práticas de saúde. Suas percepções sobre a gravidade das doenças e sua história de comportamentos de cuidados preventivos (ou ausência deles) influenciam o modo de pensar dos pacientessobre a saúde. Por exemplo, se a mãe de uma mulher jovem nunca se submeteu a exames ginecológicos anuais ou ao exame de Papanicolaou (Pap), é improvável que a filha se submeta a esses exames anuais. Fatores Psicossociais e Socioeconômicos Os fatores socioeconômicos e psicossociais aumentam o risco de doença e influenciam o modo como a pessoa define e reage à doença. As variáveis psicossociais incluem a estabilidade do relacionamento conjugal ou íntimo da pessoa, hábitos de estilo de vida e ambiente ocupacional. Em geral, a pessoa procura aprovação e apoio das redes sociais (vizinhos, companheiros e colegas de trabalho), e esse desejo de aprovação e apoio afeta as crenças e práticas de saúde. As variáveis socioeconômicas determinam, em parte, como o sistema de saúde presta cuidados médicos. A organização do sistema de cuidados de saúde define como os pacientes obtêm cuidados, o método de tratamento, o custo para os pacientes e o reembolso em potencial ao serviço de saúde ou aos pacientes. As variáveis econômicas geralmente afetam o nível de saúde do paciente por aumentarem o risco de doença e influenciar como, ou em que ponto, o paciente entra no sistema de saúde. A adesão da pessoa ao tratamento que se destina a manter ou a melhorar a saúde também é afetada pela situação econômica. A pessoa com gastos altos, que cuida de uma família grande e tem baixa renda, tende a dar maior prioridade à alimentação e abrigo que a medicamentos ou tratamento caros, ou a dietas especiais dispendiosas. Alguns pacientes decidem tomar medicações em dias alternados, em vez de diariamente, conforme prescrito, para economizar, o que afeta muito a eficácia dessas medicações. Contexto Cultural O contexto cultural influencia crenças, valores e costumes. Ele influencia o acesso aos sistemas de saúde, práticas pessoais de saúde e a relação enfermeira–paciente. O contexto cultural também influencia as crenças do indivíduo sobre as causas da doença e os remédios ou práticas para restaurar a saúde (Quadro 6-2). Se a enfermeira não se conscientizar de seus próprios padrões culturais de comportamento e linguagem, terá dificuldade em reconhecer e entender os comportamentos e crenças de seu paciente. Também e provável que ela tenha dificuldade em interagir com os pacientes. Assim como nas variáveis familiares e socioeconômicas, ela precisa incorporar variáveis culturais ao plano de cuidados do paciente (Cap. 9). Quadro 6-2 Aspectos culturais do cuidado Crenças Culturais em Saúde Os contextos culturais dos pacientes moldam suas visões sobre saúde, modo de tratar e prevenir a doença e em que consistem os bons cuidados (Narayan, 2010; Purnell, 2013). Existem duas crenças em saúde comuns: o indivíduo, a família ou a comunidade podem influenciar a sua própria saúde; ou o indivíduo tem pouco controle sobre sua saúde, porque este é um dom de um ser ou poder superior (Purnell, 2013). As crenças em saúde variam geralmente dentro de um grupo cultural; portanto, é importante avaliar aquelas de cada paciente e não criar estereótipo de um paciente com base no contexto cultural (Kersey-Matusiak, 2012). As crenças culturais em saúde influenciam as respostas dos indivíduos à saúde e à doença, como contato ocular, resposta à dor e controle da dor, uso do toque, percepção e tratamento da doença mental e comportamentos frente à doença (Narayan, 2010; Purnell, 2013). Outros exemplos de crenças culturais que afetam as práticas de cuidados de saúde incluem o equilíbrio yin/yang, alimentos quentes e frios, influência dos humores, importância das magias, espíritos e perda da alma (Giger, 2013). O reconhecimento das crenças em saúde do paciente ajuda a enfermeira a prestar cuidados culturalmente competentes que consideram as necessidades físicas, psicológicas, sociais, emocionais e espirituais de cada paciente. As enfermeiras precisam usar recursos culturalmente apropriados e estar aptas à realização de práticas culturais baseadas em evidência (Douglas et al., 2011). Implicações para os Cuidados Centrados no Paciente • Estar ciente do efeito da cultura na visão do paciente e compreensão da doença. • Compreender as tradições, valores e crenças do paciente e como essas dimensões podem afetar a saúde, bem-estar e doença. • Não criar estereótipos de pacientes com base em sua cultura e não assumir que eles adotarão todas as crenças e práticas culturais (Kersey-Matusiak, 2012). • Ao educar os pacientes sobre sua doença e regimes de tratamento, a enfermeira precisa compreender que existem percepções culturais únicas referentes à causa de uma doença e seu tratamento. • Usar um intérprete treinado, se possível, quando o paciente e a família não falam português para evitar a interpretação errônea das informações (Purnell, 2013). • Esteja ciente de seu próprio contexto cultural e reconheça preconceitos que levam ao estereótipo e à discriminação (Purnell, 2013). Promoção de saúde, bem-estar e prevenção de doenças Atualmente, os cuidados de saúde focalizam-se mais na promoção da saúde, bem-estar e prevenção da doença. Além disso, alterações no custo dos cuidados de saúde e na cobertura de seguro motivaram as pessoas a procurar maneiras de melhorar a saúde, diminuir a incidência de doença e incapacidade, e minimizar os resultados destas. Os conceitos de promoção de saúde, bem-estar e prevenção da doença estão estreitamente relacionados e, na prática, sobrepõem-se até certo ponto. Todos estão focalizados no futuro; a diferença entre eles envolve motivações e objetivos. As atividades de promoção de saúde, como exercícios de rotina e boa nutrição, ajudam os pacientes a manter ou aumentar seus níveis atuais de saúde. Elas motivam as pessoas a agir positivamente para alcançar níveis de saúde mais estáveis. A educação para o bem-estar ensina as pessoas a cuidar de si mesmas de maneira saudável e inclui tópicos como a consciência física, controle do estresse e autorresponsabilidade. As estratégias de bem-estar ajudam as pessoas a ter uma nova compreensão e controle sobre suas vidas. As atividades de prevenção de doenças, como os programas de imunização, protegem os pacientes contra ameaças reais ou potenciais à saúde. Elas motivam as pessoas a evitar o declínio dos níveis de saúde ou funcionais. As enfermeiras enfatizam as atividades de promoção de saúde, estratégias para aumentar o bem-estar e atividades de prevenção de doenças como formas importantes de cuidados de saúde, porque ajudam os pacientes a manter e melhorar a saúde. O objetivo de um programa de saúde total é melhorar o nível de bem-estar do paciente em todas as dimensões, e não apenas a saúde física. Os programas de saúde total baseiam-se na crença de que muitos fatores podem afetar o nível de saúde de uma pessoa (Quadro 6-3). Quadro 6-3 Prática baseada em evidências Estratégias de Promoção de Saúde Questão PICO: Para os indivíduos na comunidade, as estratégias psicossociais promovem efetivamente a saúde e os auxiliam com mudanças no estilo de vida? Sumário de Evidência As enfermeiras usam uma variedade de estratégias psicossociais para melhorar a promoção de saúde dos indivíduos. A pesquisa mostra que algumas são mais eficazes que outras. Uma estratégia crescente é a enfermagem em comunidade de fé (FCN, para faith community nursing). A FCN é uma área especializada de enfermagem em que enfermeiras que atuam em paróquias centram seus objetivos na promoção de saúde holística (Dandridge, 2014). Uma ampla variedade de programas de promoção de saúde é apresentada pelas enfermeiras que atuam em paróquias em suas comunidades de fé. São necessárias mais pesquisas sobre os resultados desses programas FCN (Dandridge, 2014). A comunicação face a face é outra estratégia psicossocial. A entrevista motivacional (EM) é uma estratégia de comunicação face a face utilizada pelas enfermeiras para avaliar a prontidão do indivíduo para a mudança (Droppa e Lee, 2014). Ao envolver os indivíduos na comunicação, as enfermeiras que empregam a EM estão mais aptas a compreender a motivação de seus pacientes,elas os ajudam a trabalhar com a resistência à mudança, além de capacitar o indivíduo e ajudá-lo a apoiar sua autoeficácia (Droppa e Lee, 2014). As técnicas de EM ajudam a mover o indivíduo por alvos estabelecidos em sua jornada de promoção de saúde. Han e Yan (2014) também descobriram que a comunicação face a face é eficaz para melhorar a atividade física dos indivíduos. Aplicação à Prática de Enfermagem • Use diálogos face a face, quando possível, para encorajar os indivíduos no que se refere à promoção de saúde e modificações do estilo de vida (Han e Yan, 2014). • Dê apoio aos indivíduos quando eles trabalharem na modificação do estilo de vida (Hornsten et al., 2014). • Determine se o indivíduo tem acesso à FCN — programas de promoção de saúde patrocinados (Dandridge, 2014). • Use as técnicas de entrevista motivacional para determinar as preocupações e a motivação do indivíduo para a mudança (Droppa e Lee, 2014). Os exemplos dos tópicos de saúde e objetivos, definidos pelo Healthy People 2020 incluem atividade física, saúde do adolescente, tabagismo, abuso de substância, doenças sexualmente transmissíveis, saúde mental e transtornos mentais, lesão e prevenção da violência, saúde ambiental, imunização e doença infecciosa e acesso aos cuidados de saúde (USDHHS, 2015). Esses objetivos e tópicos mostram a importância da promoção de saúde, bem-estar e prevenção de doenças, além de encorajar todos a participar da melhora de saúde. As práticas individuais, como maus hábitos alimentares e pouco ou nenhum exercício, influenciam a saúde. Estressores físicos, como um precário ambiente de vida, estresse no trabalho, exposição a poluentes do ar e ambiente inseguro também afetam a saúde. Estressores hereditários e psicológicos, como fatores emocionais, intelectuais, sociais, de desenvolvimento e espirituais influenciam o nível de saúde de um indivíduo. Os programas de saúde total são direcionados à mudança do estilo de vida do indivíduo pelo desenvolvimento de hábitos mais orientados à saúde. Outros programas visam a problemas de saúde específicos. Por exemplo, grupos de apoio ajudam as pessoas com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Programas de exercício encorajam os participantes a se exercitar regularmente para reduzir o risco de doença cardíaca. Programas de redução do estresse ensinam os participantes a enfrentar os estressores e a reduzir os riscos de múltiplas doenças, como infecções, doença gastrintestinal e doença cardíaca. Alguns programas de promoção de saúde, educação sobre bem- estar e prevenção de doença são dirigidos por serviços de saúde; outros têm administração independente. Muitas empresas oferecem aos funcionários atividades de promoção de saúde no local de trabalho. Da mesma forma, colégios e centros comunitários oferecem programas de promoção de saúde e prevenção de doença. Alguns enfermeiros participam ativamente desses programas, prestando cuidados diretos, enquanto outras atuam como consultoras ou encaminham pacientes para os programas. O objetivo dessas atividades é melhorar o nível de saúde do paciente por meio de serviços preventivos de saúde, proteção ambiental e educação em saúde. Os profissionais de saúde que trabalham na área de promoção de saúde empregam esforços proativos para a prevenção de doenças. As atividades de promoção de saúde são passivas ou ativas. Nas estratégias passivas de promoção de saúde, os indivíduos obtêm ganhos com as atividades de outros sem agirem por si mesmos. A fluoretação da água potável dos municípios e a fortificação do leite homogeneizado com vitamina D são exemplos de estratégias passivas de promoção de saúde. Nas estratégias ativas de promoção de saúde, os indivíduos adotam programas de saúde específicos. Os programas de redução de peso e cessação do tabagismo requerem a participação ativa dos pacientes nas medidas para melhorar seus níveis presentes e futuros de bem-estar, à medida que diminuem o risco de doença. A promoção de saúde é um processo de auxílio às pessoas para que melhorem sua saúde alcançando um ótimo estado de bem-estar físico, mental e social (WHO, 2009). O indivíduo assume a responsabilidade pela saúde e bem-estar ao fazer escolhas apropriadas de estilo de vida. As escolhas de estilo de vida são importantes visto que afetam a qualidade de vida e o bem-estar de um indivíduo. Fazer escolhas positivas e evitar escolhas negativas de estilo de vida também tem um papel na prevenção da doença. Além de melhorar a qualidade de vida, a prevenção da doença tem um impacto econômico, pois diminui os custos dos cuidados de saúde. Níveis de Cuidados Preventivos Os cuidados de enfermagem orientados à promoção de saúde, bem- estar e prevenção de doença são descritos em termos de atividades de saúde em níveis primário, secundário e terciário (Tabela 6-1). Tabela 6-1 Três Níveis de Prevenção PREVENÇÃO PRIMÁRIA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA Promoção de Saúde Proteção Específica Diagnóstico Precoce e Tratamento Imediato Limitações da Incapacidade Recuperação e Reabilitação Educação em saúde Bom padrão nutricional ajustado às fases de desenvolvimento da vida Atenção ao desenvolvimento da personalidade Provisão de habitação e recreação adequadas e condições de trabalho agradáveis Aconselhamento conjugal e educação sexual Triagem genética Exames seletivos periódicos Uso de imunizações específicas Atenção à higiene pessoal Uso de saneamento ambiental Proteção contra os riscos ocupacionais Proteção contra acidentes Uso de nutrientes específicos Proteção contra carcinógenos Evitar alérgenos Medidas de detecção de casos e atividades de triagem individual e em massa Exames seletivos para curar e prevenir o processo de doença, prevenir a disseminação de doença transmissível, prevenir complicações e sequelas, além de reduzir o período de incapacidade Tratamento adequado para interromper o processo de doença e prevenir complicações e sequelas Provisão de centros para limitação de incapacidades e evitar a morte Provisão de hospital e instalações comunitárias para retreinamento e educação a fim de maximizar o uso das capacidades remanescentes Educação do público e da indústria para empregar ao máximo possível as pessoas reabilitadas Colocação seletiva Terapia ocupacional em hospitais Uso de casas de apoio Dados de Leavell H, Clark AE: Preventive medicine for the doctors in his community, ed 3, New York, 1965, McGraw-Hill; e modificada de Edelman CL, Mandle CL: Health promotion throughout the life span, ed 7, St Louis, 2014, Mosby. Prevenção Primária A prevenção primária é a prevenção verdadeira; precede a doença ou disfunção e é aplicada aos pacientes considerados física e emocionalmente saudáveis. A prevenção primária, que visa à promoção de saúde, inclui os programas de educação em saúde, imunizações, programas nutricionais e atividades de condicionamento físico. Inclui todos os esforços de promoção de saúde e atividades de educação sobre o bem-estar com foco na manutenção ou melhora da saúde geral de indivíduos, famílias e comunidades (Edelman e Mandle, 2014). A prevenção primária inclui proteção específica, como imunização para influenza e proteção auditiva, em ambientes ocupacionais. Prevenção Secundária A prevenção secundária tem seu foco nos indivíduos que estão com problemas de saúde ou doenças e em risco de desenvolver complicações ou agravamento de afecções. As atividades são direcionadas ao diagnóstico e à pronta intervenção, reduzindo assim a gravidade e permitindo que o paciente retorne o mais breve possível ao nível normal de saúde (Edelman e Mandle, 2014). Uma grande parte dos cuidados de enfermagem relaciona-se à prevenção secundária que é realizada em domicílios, hospitais ou instituições especializadas de enfermagem. Inclui técnicas de triagem e o tratamento dos estágios iniciais das doenças para limitar a incapacidade, prevenindo ou retardando as consequências da doença avançada. As atividades de triagem também se tornaram uma oportunidade-chave para oensino de saúde como uma intervenção de prevenção primária (Edelman e Mandle, 2014). Prevenção Terciária A prevenção terciária ocorre quando um defeito ou incapacidade é permanente e irreversível. Envolve a minimização dos efeitos da doença ou incapacidade em longo prazo por meio de intervenções direcionadas à prevenção de complicações e deterioração (Edelman e Mandle, 2014). As atividades são direcionadas à reabilitação e não ao diagnóstico e tratamento. Por exemplo, um paciente com uma lesão na medula espinal submete-se à reabilitação para aprender a usar uma cadeira de rodas e realizar as atividades da vida diária (AVDs) independentemente. Os cuidados nesse nível ajudam os pacientes a alcançar o nível mais alto possível de funcionamento, apesar das limitações causadas pela doença ou do comprometimento da capacidade. Fatores de risco Um fator de risco é qualquer situação, hábito, ou outra variável — como social, ambiental, fisiológica, psicológica, de desenvolvimento, intelectual ou espiritual — que aumenta a vulnerabilidade de um indivíduo ou grupo a uma doença ou a um acidente. Um exemplo são os fatores de risco de quedas, como marcha prejudicada, visão reduzida e fraqueza da extremidade inferior. Os fatores de risco e comportamentos, as modificações dos fatores de risco e do comportamento são componentes integrantes da promoção de saúde, bem-estar e prevenção de doença. As enfermeiras em todas as áreas de prática de enfermagem têm oportunidades de reduzir os fatores de risco dos pacientes a fim de promover a saúde e diminuir os riscos de doença ou lesão. A presença de fatores de risco não significa que uma doença se desenvolverá, mas eles aumentam as chances de que o indivíduo venha a ter uma doença ou disfunção específica. As enfermeiras e outros profissionais de saúde preocupam-se com os fatores de risco, às vezes chamados de riscos para a saúde, por várias razões. Os fatores de risco têm um importante papel na maneira como a enfermeira identifica o estado de saúde do paciente. Na maioria das vezes, os fatores de risco influenciam as crenças e práticas de saúde se o paciente tiver consciência de sua presença. Geralmente, eles são atribuídos às seguintes categorias inter-relacionadas: fatores genéticos e fisiológicos, de idade, ambiente físico e estilo de vida. Fatores Fisiológicos e Genéticos Os fatores de risco fisiológicos envolvem o funcionamento físico. Certas condições físicas, como o sobrepeso, impõem maior estresse sobre os sistemas fisiológicos (p. ex., o sistema circulatório), aumentando a suscetibilidade a doença. Hereditariedade, ou predisposição genética a uma doença específica, é um importante fator de risco físico. Por exemplo, a pessoa com uma história familiar de diabetes melito está em risco de desenvolver a doença em fase avançada da vida. Outros fatores de risco genético documentados incluem histórias familiares de câncer, doenças cardíaca, renal ou mental. Idade A idade afeta a suscetibilidade da pessoa a certas doenças e condições. Por exemplo, bebês prematuros e neonatos são mais suscetíveis a infecções. À medida que a pessoa envelhece, o risco de doença cardíaca e de muitos tipos de cânceres aumenta. Os fatores de risco relativos à idade em geral estão estreitamente associados a outros fatores de risco, como história familiar e hábitos pessoais. As enfermeiras precisam educar seus pacientes sobre a importância da realização regular de exames clínicos completos programados para seu grupo etário. Várias organizações profissionais e agências federais desenvolvem e atualizam as recomendações para triagens de saúde, imunizações e aconselhamento. Ambiente O local onde vivemos e a condição dessa área (seu ar, água e solo) determinam como vivemos, o que comemos, os agentes patológicos aos quais estamos expostos, nosso estado de saúde e capacidade de adaptação. O ambiente físico em que a pessoa trabalha ou vive pode aumentar a probabilidade de ocorrer certas doenças. Por exemplo, é mais provável o desenvolvimento de alguns tipos de câncer e outras doenças quando trabalhadores industriais são expostos a certas substâncias químicas ou quando as pessoas vivem próximo a locais de descarte de lixo tóxico. As avaliações de enfermagem estendem-se do indivíduo para a família e comunidade onde vivem, focalizando-se nos efeitos em curto prazo da exposição e no potencial para efeitos em longo prazo (Edelman e Mandle, 2014). Estilo de Vida Muitas atividades, hábitos e práticas envolvem fatores de risco. As práticas e comportamentos de estilo de vida têm efeitos positivos ou negativos sobre a saúde. Dentre estes, são fatores de risco aqueles com efeitos negativos em potencial. Alguns hábitos são fatores de risco para doenças específicas. Por exemplo, banhos de sol excessivos aumentam o risco de câncer de pele; o tabagismo aumenta o risco de doenças pulmonares, incluindo o câncer; e uma dieta pobre e o sobrepeso aumentam o risco de doença cardiovascular. Como geralmente os pacientes assumem riscos, dá-se maior ênfase à prestação de cuidados preventivos pelas enfermeiras. As escolhas de estilo de vida levam a problemas de saúde que causam um grande impacto na economia do sistema de saúde. Portanto, é importante compreender o efeito dos comportamentos de estilo de vida no estado de saúde. As enfermeiras educam seus pacientes e o público sobre comportamentos de estilo de vida para a promoção do bem-estar. O estresse é um fator de risco do estilo de vida, caso seja intenso ou prolongado, ou a pessoa seja incapaz de enfrentar os eventos de vida de maneira adequada. O estresse ameaça a saúde mental (estresse emocional) e o bem-estar físico (estresse fisiológico). Ambos participam do desenvolvimento de uma doença e afetam a capacidade de adaptação de uma pessoa às modificações potenciais associadas à doença, bem como à capacidade de sobreviver a uma doença potencialmente fatal. O estresse também interfere na adoção, por parte do paciente, de atividades de promoção de saúde e na implementação de modificações necessárias do estilo de vida. Alguns estressores emocionais resultam de eventos da vida, como divórcio, gravidez, morte de um cônjuge ou membro da família, e de instabilidades financeiras. Por exemplo, os estressores relacionado com o trabalho sobrecarregam as habilidades cognitivas de uma pessoa e a capacidade de tomar decisões, levando à “sobrecarga mental” ou “esgotamento” (Caps. 1 e 38). O estresse também ameaça o bem-estar físico e está associado a doenças como a doença cardíaca, o câncer e os distúrbios gastrintestinais (Pender et al., 2015). Reveja sempre os estressores da vida como parte de uma análise abrangente dos fatores de risco do paciente. O objetivo da identificação dos fatores de risco é auxiliar os pacientes a visualizar as áreas de sua vida que eles podem modificar, controlar ou até eliminar a fim de promover o bem-estar e prevenir a doença. Pode-se usar uma variedade de formulários de avaliação de risco de saúde disponíveis para estimar ameaças de saúde específicas da pessoa com base na presença de vários fatores de risco (Edelman e Mandle, 2014). A enfermeira deve unir o instrumento de avaliação da saúde aos programas educacionais e outros recursos da comunidade, caso o paciente precise modificar o estilo de vida e reduzir os riscos de saúde (Pender et al., 2015).