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PROCESSOS 
PATOLÓGICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Definir neoplasia benigna e maligna.
 > Diferenciar os fatores morfológicos relacionados às neoplasias benignas 
e malignas.
 > Classificar as modificações morfológicas associadas à gradação neo-
plásica.
Introdução
O termo “neoplasia”, do grego neo (nova) e plasis (forma), significa neoforma-
ção, novo crescimento. Um neoplasma é constituído de células que sofreram 
modificações nos seus mecanismos regulatórios de multiplicação, adquirindo, 
por isso, autonomia de crescimento e independência dos estímulos fisiológicos 
que o originaram. Seu crescimento ultrapassa e não é coordenado com o dos 
tecidos normais, persistindo da mesma maneira após a cessação dos estímulos 
que o desencadearam. 
Como toda a população de células dentro do tumor surge de uma célula 
isolada que sofreu uma alteração genética envolvida no controle do ciclo celular, 
costuma-se dizer que as neoplasias são clonais. Elas podem ser classificadas 
de acordo com alguns critérios, entre eles: comportamento clínico (neoplasias 
Aspectos das 
neoplasias benigna 
e maligna
Lisiane Cervieri Mezzomo
benignas e malignas); aspecto microscópico ou histomorfológico; e local de 
origem (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016). 
Os distúrbios na proliferação celular que originam as neoplasias são resul-
tado da interação entre os fatores genéticos associados a carcinógenos (como 
radiação ultravioleta e ionizante), substâncias químicas (como os componen-
tes do fumo do tabaco) e carcinógenos biológicos (que incluem certos vírus, 
bactérias ou parasitos). 
Neste capítulo, você vai estudar o que são neoplasia benigna e neoplasia 
maligna e seus aspectos morfológicos. Além disso, vai conhecer a classificação 
das modificações morfológicas de acordo com a gradação neoplásica.
Neoplasias benignas e malignas
Um dos pontos mais importantes no estudo das neoplasias é o estabeleci-
mento dos critérios de diferenciação entre cada uma das lesões, o que, algumas 
vezes, torna-se difícil. Pode-se dizer que, de acordo com o comportamento 
biológico, critérios histomorfológicos, características clínicas e as formas de 
evolução, elas podem ser agrupadas entre benignas e malignas (BRASILEIRO 
FILHO, 2018).
Todos os tumores benignos e malignos apresentam dois componentes 
básicos: as células neoplásicas em proliferação, que constituem o parênquima; 
e o estroma de sustentação, formado por tecido conjuntivo e vasos sanguí-
neos, que fornece a estrutura para o parênquima. As células parenquimatosas 
determinam o comportamento das neoplasias e suas consequências patoló-
gicas, porém o crescimento e a evolução dos neoplasmas são criticamente 
dependentes do seu estroma (KUMAR et al., 2016). Observe nas Figuras 1 e 2 
algumas diferenças morfológicas entre as neoplasias benignas e malignas 
para entender melhor as duas classificações. As Figuras 1 mostra o aspecto 
das neoplasias benignas e malignas e a forma que interagem com o tecido. 
Compare as diferenças entre os dois grupos de tumores em termos de:
 � integridade do tecido;
 � característica infiltrativa nas neoplasias malignas;
 � característica encapsulada nas neoplasias benignas;
 � necrose e possibilidade de disseminação linfática e hematogênica nas 
neoplasias malignas.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna2
Figura 1. Morfologia das neoplasias benignas e malignas.
Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. 
Superfície epitelial 
intacta Vasos linfáticos
Cápsula
Tumor benigno Tumor maligno
Ulceração
Necrose
Invasão
linfática
Extravasamento 
pelo sangue
Na Figura 2, os detalhes celulares estão explicados de forma geral, mos-
trando as diferenças morfológicas nucleares das células normais e das células 
neoplásicas. Essas diferenças, teciduais e celulares auxiliam na gradação 
dos tumores e são as bases dos métodos laboratoriais de classificação das 
neoplasias, como histologia e citologia.
Figura 2. Célula normal versus célula neoplásica.
Fonte: Adaptada de gritsalak karalak/Shutterstock.com.
Célula normal Célula neoplásica
Nucléolo
Núcleo
Citoplasma
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 3
Confira a seguir os métodos de diagnóstico laboratorial das 
neoplasias. 
Exame citológico
O exame citológico é um meio de diagnóstico das neoplasias, sobretudo as 
neoplasias malignas e suas lesões precursoras, como o exame citopatológico do 
câncer de colo uterino e suas lesões precursoras. É útil para avaliação citológica 
das lesões das cavidades serosas, dos tecidos com lesões que podem ser aspi-
radas, como mama e tireoide, e das lesões de pele, próstata, estômago e rim. É 
utilizado também para avaliação de elementos descamados na urina. Além disso, 
é uma ferramenta útil para avaliação e triagem das lesões suspeitas na mucosa 
oral, como as decorrentes do HPV. A técnica consiste em raspagem, esfoliação 
ou aspiração das células da lesão e posterior coloração de Papanicolaou para 
avaliação da morfologia celular por microscopia óptica. A Figura 3 mostra células 
da mucosa oral coradas pela coloração de Papanicolaou. É possível distinguir 
os elementos celulares individuais e os limites nítidos das células escamosas.
Figura 3. Células da mucosa oral coradas pela coloração de Papanicolaou.
Fonte: Komsan Loonprom/Shutterstock.com. 
Exame anatomopatológico (biópsia)
Nos exames anatomopatológicos, os fragmentos de tecidos são removidos dos 
locais suspeitos de lesão com o objetivo de avaliação e gradação da arquitetura 
tecidual. A coloração universal é a hematoxilina-eosina (HE), embora com frequ-
ência sejam necessárias colorações especiais ou histoquímicas para auxiliar o 
diagnóstico. A avaliação anatomopatológica é realizada com microscopia óptica. 
A Figura 4 mostra um corte histológico do adenocarcinoma de cólon, onde é 
possível observar a arquitetura tecidual, as camadas epiteliais e a submucosa, 
porém os limites celulares não são nítidos. No adenocarcinoma, a arquitetura 
tecidual é desorganizada.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna4
Figura 4. Corte histológico do adenocarcinoma de cólon diagnosticado com exame 
anatomopatológico.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock.com. 
Métodos imuno-histoquímicos
Os métodos imuno-histoquímicos utilizam anticorpos como reagentes para 
detectar antígenos em células ou tecidos. A visualização é realizada com o 
auxílio de microscopia óptica. A Figura 5 mostra a microscópica de um câncer de 
mama invasivo (infiltrativo). A técnica de imuno-histoquímica mostra a coloração 
positiva para o receptor de estrogênio (marrom escuro).
Figura 5. Microscópica de um câncer de mama invasivo (infiltrativo).
Fonte: David A Litman/Shutterstock.com. 
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 5
Neoplasias benignas
As neoplasias benignas, ou tumores benignos, crescem de forma organi-
zada e expansiva. Apresentam limites nítidos e, apesar de não invadirem 
os tecidos vizinhos, podem comprimir os órgãos e estruturas adjacentes. 
Por isso, muitas vezes necessitam de remoção cirúrgica para minimizar as 
consequências clínicas. 
Nesses tipos de tumores, as células, em geral, crescem unidas entre si e 
formam uma massa tumoral geralmente esférica, bem-delimitada por uma 
cápsula de tecido conjuntivo, chamada cápsula fibrosa, que separa o tumor 
do tecido do hospedeiro — com exceção dos gliomas, tumores do tecido 
nervoso e tumores vasculares, que não têm cápsula e apresentam limites 
pouco precisos. Essa cápsula deriva principalmente do estroma do tecido do 
hospedeiro à medida que as células parenquimatosas atrofiam sob a pressão 
do tumor em expansão. Tal encapsulamento não impede o crescimento do 
tumor, mas mantém o neoplasma benigno como uma massa circunscrita, 
facilmente palpável e removível (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016). 
Exemplos de tumores benignos incluem o lipoma (que tem origem no tecido 
gorduroso), o mioma (que tem origem no tecido muscular liso) e o adenoma 
(tumor benigno das glândulas) (BRASILEIRO FILHO, 2018).
Em geral, os tumores benignostêm taxa de divisão celular pequena e baixo 
índice mitótico, tendo, consequentemente, uma taxa de crescimento lento. O 
lento crescimento desses tumores permite o adequado desenvolvimento de 
vasos sanguíneos, que asseguram uma boa nutrição das células tumorais. 
Por isso, degenerações, necrose e hemorragia são pouco comuns nesses 
casos. Quase todos os tumores benignos crescem como massas coesas, que 
permanecem localizadas em seus sítios de origem e não têm capacidade de 
se infiltrar, invadir ou metastatizar para locais distantes. Por isso, tumores 
benignos não levam a ulcerações. Também não comprometem a nutrição do 
hospedeiro, nem produzem substâncias que podem causar anemia ou caquexia 
(BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016). Além disso, não recidivam após a 
ressecção cirúrgica, com exceção do tumor pleomórfico de glândulas salivares. 
A remoção dos tumores benignos geralmente ocorre para confirmar que 
são tumores realmente benignos, garantir que não tenham chance de se 
tornarem cancerosos, aliviar os sintomas caso o tumor esteja em um local que 
leve a consequências clínicas indesejáveis ao paciente (como a produção de 
secreções hormonais que alteram a homeostase) ou à pressão por compressão 
de estruturas adjacentes. Exemplos incluem adenomas de hipófise, que têm 
como consequência a secreção hormonal, e tumores cerebrais benignos. 
Aspectos das neoplasias benigna e maligna6
Embora a maioria dos tumores benignos não causem danos, os que crescem 
no cérebro podem ser fatais se não forem removidos.
Neoplasias malignas
As neoplasias malignas, ou tumores malignos, manifestam um maior grau de 
autonomia comparadas às neoplasias benignas. São pouco delimitados, isto 
é, mal-demarcados, não têm cápsula e têm crescimento infiltrativo, sendo 
capazes de invadir tecidos vizinhos e provocar metástases a distância. Essas 
características se relacionam à resistência ao tratamento e são causas de 
morte do hospedeiro. As células neoplásicas malignas, em geral, têm alta taxa 
de multiplicação (alto índice mitótico) e, por isso, seu crescimento costuma 
ser rápido. O estroma e os vasos sanguíneos desenvolvem-se lentamente, 
resultando em necrose, degenerações, hemorragia e ulceração nessas lesões. 
Por isso, as neoplasias malignas geralmente sangram e apresentam áreas de 
necrose (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016).
As metástases (metastatis: mudança de lugar, transferência), implantes 
tumorais separados do tumor primário, caracterizam de modo inequívoco 
um tumor como sendo maligno. Com poucas exceções, todas as neoplasias 
malignas podem metastatizar. Em geral, quanto mais agressivo, de cresci-
mento mais rápido e maior o tumor primário, maior a probabilidade de a 
neoplasia metastatizar ou de já ter metastatizado. Portanto, juntamente 
ao desenvolvimento de metástases, a invasividade é a característica mais 
segura que distingue os tumores benignos dos malignos (BRASILEIRO FILHO, 
2018; KUMAR et al., 2016).
O termo “câncer” refere-se à neoplasia maligna, quando algumas 
das células crescem descontroladamente e se espalham para outras 
partes do corpo. É uma doença genética causada por mudanças nos genes que 
controlam o crescimento e diferenciação celular.
Alguns tumores parecem evoluir em um estágio pré-invasivo, chamado 
carcinoma in situ. Isso ocorre nos tumores de pele, na mama e em alguns 
outros locais e é mais bem ilustrado pelo carcinoma da cérvice uterina. Os 
tumores epiteliais in situ mostram as mesmas características citológicas de 
malignidade sem invasão da membrana basal. Podem ser considerados uma 
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 7
etapa anterior a um câncer invasivo: com o tempo, a maioria penetra na mem-
brana basal e invade o estroma subepitelial, características que definem um 
carcinoma como sendo invasor (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016).
A Figura 6 ilustra a cascata metastática, uma sequência ordenada de 
alterações. Esse processo requer múltiplas etapas, entre eles a transloca-
ção da célula cancerosa do seu local de origem original, sua multiplicação 
e sua sobrevivência. A Figura 6 ilustra as etapas sequenciais envolvidas na 
disseminação hematogênica de um tumor. As células tumorais penetram na 
membrana basal e invadem os tecidos adjacentes. As células tumorais inva-
soras atingem o vaso sanguíneo, entram no fluxo sanguíneo e se disseminam, 
eventualmente dando origem ao tumor secundário em um local distinto do 
tumor original (tumor primário).
Figura 6. Etapas sequenciais envolvidas na disseminação hematogênica de um tumor.
Fonte: Adaptada de Novikov et al. (2021).
Células tumorais
Membrana basal
Matriz extracelular
Células endoteliais
Vasos sanguíneos
Aspectos das neoplasias benigna e maligna8
A disseminação metastática reduz muito a possibilidade de cura. Comu-
mente, a causa de morte associada a neoplasias malignas pode ser atribuída 
à disseminação metastática do câncer (a metástase é responsável por 90% 
das mortes por câncer). Muitos tumores sólidos já sofreram metástase quando 
são diagnosticados (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016; NOVIKOV 
et al., 2021).
A capacidade de se disseminar e formar metástases caracteriza de 
modo inequívoco um tumor como sendo maligno.
Aspectos morfológicos das neoplasias 
benignas e malignas
Alguns critérios morfológicos permitem distinguir os tumores benignos dos 
malignos. De forma geral, as células dos tumores benignos são quase sempre 
bem-diferenciadas e lembram suas células normais de origem. Já as células 
dos tumores malignos são relativamente diferenciadas, mas alguma perda 
da diferenciação está sempre presente (KUMAR et al., 2016).
Observe no Quadro 1 algumas características que diferenciam as neopla-
sias benignas e malignas, incluindo aspectos clínicos e morfológicos.
Quadro 1. Características das neoplasias benignas e malignas
Características Neoplasias benignas Neoplasias malignas
Taxa de crescimento Baixa Alta
Figuras de mitose Raras Frequentes
Graus de diferenciação Bem-diferenciado Desde bem-
diferenciado 
até anaplásicas 
(indiferenciados)
Atipias celulares e 
arquiteturais
Raras Frequentes
Degeneração, necrose Ausentes Presentes
(Continua)
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 9
Características Neoplasias benignas Neoplasias malignas
Tipo de crescimento Expansivo Infiltrativo
Cápsula Presente Geralmente ausente
Limites da lesão Bem-definidos Imprecisos
Efeitos locais e 
sistêmicos
Geralmente 
inexpressivos
Geralmente graves e às 
vezes letais
Necrose Ausente ou escassa Presente
Recidiva Em geral ausente Presente
Metástases Ausentes Presentes
Fonte: Adaptado de Brasileiro Filho (2018).
As células neoplásicas malignas apresentam algumas características especí-
ficas, como o aumento da relação núcleo-citoplasmática. As células neoplásicas, 
em geral, têm um núcleo mais volumoso do que as células normais. O formato 
nuclear é muito variável, podendo haver células bi ou multinucleadas. Normal-
mente, nos núcleos, podem ser encontrados nucléolos grandes. Além disso, as 
células neoplásicas apresentam hipercromasia nuclear e morfologia nuclear 
anormal. A cromatina é irregular e mais compacta e está grosseiramente distri-
buída ao longo da membrana nuclear. Os núcleos contêm DNA em abundância 
e apresentam uma coloração mais escura (hipercromática). Figuras de mitose 
tri ou multipolares são frequentes, tanto típicas quanto atípicas, bem como 
anomalias cromossômicas, refletindo a maior atividade proliferativa das células 
parenquimatosas. Mais importantes como características morfológicas de 
neoplasias malignas são as mitoses atípicas, bizarras, produzidas, às vezes, por 
fusos tripolares, quadripolares ou multipolares. Destaca-se também o pleomor-
fismo celular. O citoplasma se altera, havendo muitas variações pronunciadas 
no volume e na forma das células. Em razão da perda da diferenciação celular, 
as células malignas apresentam atipias variadas, algumas vezes tornando-
-se monstruosas ou perdendo seus aspectosmorfológicos característicos. A 
atipia acentuada e a perda completa das características morfológicas de uma 
célula caracterizam a anaplasia (falta de diferenciação, considerada um ponto 
fundamental da transformação maligna). As atipias celulares causam, também, 
atipias arquiteturais, ou histológicas, pois as células não se organizam segundo 
a orientação própria do tecido normal. Além disso, a orientação das células 
(Continuação)
Aspectos das neoplasias benigna e maligna10
anaplásicas está acentuadamente alterada, isto é, há perda de polaridade 
normal. Camadas ou grandes massas de células tumorais crescem de maneira 
anárquica, desorganizada. Por fim, observa-se uma redução da adesividade. 
Como são menos aderidas entre si, as células cancerosas movimentam-se e 
infiltram o estroma e os tecidos adjacentes (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR 
et al., 2016).
Gradação neoplásica
A gradação dos tumores baseia-se no grau de diferenciação das células 
tumorais e no número de mitoses. O primeiro refere-se à semelhança das 
células tumorais com as do tecido normal, que se supõe ter dado origem ao 
tumor. O termo “displasia” significa crescimento desordenado e refere-se a 
uma condição adquirida, caracterizada por alterações na proliferação e dife-
renciação celulares (KUMAR et al., 2016). É um termo utilizado para descrever 
a presença de células anormais em um tecido ou órgão. A displasia não é 
câncer, mas às vezes pode se tornar um câncer.
Pode ser leve, moderada ou severa/grave, dependendo da aparência 
anormal das células ao microscópio e de quanto do tecido ou órgão é afetado. 
É encontrada principalmente nos epitélios e caracteriza-se por diversas 
alterações, que incluem perda na uniformidade das células individuais e na 
sua orientação arquitetural. As células displásicas exibem pleomorfismo con-
siderável e frequentemente contêm núcleos hipercromáticos anormalmente 
grandes para o tamanho da célula (hipercromasia). As figuras mitóticas são 
mais abundantes que o usual, apesar de quase sempre se restringirem aos 
padrões normais. Aparecem frequentemente em localizações anormais dentro 
do epitélio (KUMAR et al., 2016). Como exemplo, podemos citar as displasias do 
colo uterino, dos brônquios e da mucosa gástrica, que muitas vezes precedem 
os cânceres que se formam nesses tecidos. 
A displasia é um processo reversível, podendo estacionar ou, até 
mesmo, regredir. Portanto, não evolui obrigatoriamente para um 
câncer. Displasias leves a moderadas que não envolvem toda a espessura do 
epitélio podem regredir e, com a remoção das causas que deram origem a ela, 
o epitélio pode voltar ao normal. Porém quando mais grave a lesão, maior o 
risco de evolução para um câncer (BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016).
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 11
Na displasia, a arquitetura tecidual pode estar desorganizada e, por 
exemplo, a maturação progressiva de células altas na camada basal para as 
escamas achatadas na superfície pode se perder e ser substituída por uma 
mistura de células com aspecto basal escuro no epitélio. Quando as alterações 
displásicas são acentuadas e envolvem toda a espessura do epitélio, mas 
a lesão permanece confinada ao tecido, são consideradas um neoplasma 
pré-invasivo, o carcinoma in situ. No momento em que as células displásicas 
se movem para além dos limites do tecido, o tumor é chamado de invasivo 
(KUMAR et al., 2016).
Veja na Figura 7 a evolução das alterações displásicas no colo do útero, 
desde o epitélio normal até o carcinoma invasor. Em geral, essas alterações 
desenvolvem-se ao longo de anos. O colo do útero é a extremidade estreita 
e inferior do útero, que forma um canal entre o útero e a vagina. 
Figura 7. Alterações cervicais.
Fonte: Adaptada de National Cancer Institute at the National Institutes of Health (NIH, 2022). 
Normal NIC 1
NIC 2, NIC 3, 
carcinoma 
in situ
Câncer 
cervical
Útero
Cérvice
Vagina
As lesões cervicais se desenvolvem com frequência no colo do útero. As 
células do colo do útero passam por alterações morfológicas, que, como 
vimos, são chamadas de displasias. O último estágio é o carcinoma escamoso. 
Histologicamente, a Figura 7 mostra a evolução das lesões e do comprome-
timento tecidual: as alterações morfológicas tornam-se mais acentuadas 
com a progressão das lesões. As lesões pré-cancerosas podem regredir ou 
evoluir para o câncer.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna12
Confira a seguir a gradação das displasias ilustrada na Figura 7.
 � NIC 1 (neoplasia intraepitelial cervical de grau 1): displasia leve.
 � NIC 2, NIC 3 (neoplasias intraepiteliais cervicais de graus 2 e 3), carcinoma in 
situ: displasias moderada e acentuada.
O carcinoma in situ ocorre em muitas áreas, incluindo pele, cavidade oral, 
esôfago, brônquio e colo uterino. No epitélio glandular, lesões in situ se de-
senvolvem na mama, no estômago, no endométrio e no intestino grosso. Nas 
mamas, o carcinoma ductal in situ pode preencher os ductos mamários, mas 
não progride para invasão tecidual localizada. Essas lesões são facilmente 
tratadas.
A displasia epitelial pode ser visualizada pela citologia em microscopia 
óptica. Veja na Figura 8 a imagem de um raspado citológico epitelial com 
presença de células displásicas. Compare as características das células dis-
plásicas com as células benignas presentes na lâmina. Observe as células 
escamosas epiteliais normais e o grupamento de quatro células displásicas 
com hipercromatismo, aumento do volume nuclear (aumento da relação 
núcleo-citoplasmática) e irregularidades na forma nuclear. Ao lado, com 
citoplasma orangeofílico, são vistas células escamosas normais com núcleos 
picnóticos.
Figura 8. Células displásicas e células normais.
Fonte: Komsan Loonprom/Shutterstock.com.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 13
Não se sabe quanto tempo leva para que as lesões pré-invasivas se tornem 
invasivas. Certos carcinomas cervicais se originam de lesões pré-invasivas, 
levando vários anos até que progridam para carcinomas invasivos e me-
tastáticos. Além disso, muitos casos de cânceres da cavidade orofaríngea 
originam-se a partir de lesões pré-malignas, que evoluem para malignas em 
cerca de 1% das lesões (RIVERA, 2015). As características genéticas individuais 
e fatores imunológicos influenciam a carcinogênese e a evolução das lesões 
(BRASILEIRO FILHO, 2018; KUMAR et al., 2016; NOVIKOV et al., 2021).
Displasias leve, moderada e acentuada
O carcinoma de células escamosas do colo do útero e suas lesões precursoras 
exemplificam bem os processos displásicos e sua evolução. Quando a desor-
denação celular ocorre nas camadas mais basais do epitélio estratificado, 
trata-se de uma neoplasia intraepitelial cervical grau 1 (NIC I), isto é, uma 
lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (anormalidades do epitélio no 
1/3 proximal da membrana). É, como vimos na Figura 7, a displasia leve.
Se a desordenação avança 2/3 proximais da membrana, há uma neoplasia 
intraepitelial cervical grau 2 (NIC 2), uma displasia moderada. Na neoplasia 
intraepitelial cervical grau 3 (NIC 3), lesão intraepitelial escamosa de alto grau, 
o desarranjo é observado em todas as camadas, sem romper a membrana 
basal. Também é chamada de displasia acentuada, ou carcinoma in situ (INCA, 
2016; KUMAR et al., 2016).
O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum em 
homens (depois do câncer de pele) em todo o mundo. Tem o potencial 
de se disseminar para outros tecidos, especialmente os ossos (via metástase). 
Três fatores aumentam a probabilidade de desenvolver câncer de próstata: 
ter idade superior a 65 anos, ter história familiar de câncer de próstata e ser 
afroamericano. Alguns sintomas primários dessa doença são problemas durante 
a micção (dor ou dificuldade em parar o jato de urina), dor lombar (devida a 
metástases nas vértebras) e ejaculação dolorosa (porque a próstata secreta 
fluido para o sêmen). Observe o exemplo a seguir.
Um homem de 69 anos é encaminhado a um urologistareferindo disúria 
e outros sintomas que foram atribuídos a uma infecção do trato urinário. Os 
sintomas continuaram por mais de dois anos apesar do tratamento com antibi-
óticos. O paciente procurou um urologista para uma segunda opinião. Seu nível 
de antígeno prostático específico (PSA) era de 9,8 ng/mL. A biópsia transretal 
confirmou o diagnóstico de adenocarcinoma de próstata clinicamente localizado. 
No pós-operatório, o nível de PSA permaneceu inferior a 0,5 ng/mL.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna14
Morfologicamente, o adenocarcinoma prostático exibe um padrão glandular 
arquitetônico anormal com distúrbio das relações epitelial-estromal benignas. 
O aumento nuclear e o aumento nucleolar são os principais critérios. A atipia 
nuclear em glândulas malignas se manifesta mais frequentemente como aumento 
do núcleo e nucléolos proeminentes. A aparência clássica de um núcleo de 
carcinoma prostático é um único grande núcleo com eliminação da cromatina 
e um macronucléolo com coloração profunda. 
Figura 9. Fotomicrografia da biópsia da próstata mostrando histologia de adenocarcinoma 
prostático.
Fonte: David A Litman/Shutterstock.com. 
Essa classificação está bem estabelecida para o carcinoma cervical, mas 
as características morfológicas não são tão evidentes em todos os processos 
neoplásicos. Por exemplo, embora bastante semelhantes aos das lesões es-
camosas cervicais, o diagnóstico e a graduação da displasia epitelial oral são 
baseados em uma combinação de alterações arquitetônicas e citológicas. Tal 
esquema tem sido resistido nas patologias oral e maxilofacial, porque, mesmo 
na presença de alterações citológicas graves, no epitélio oral muitas vezes 
há evidências de maturação normal com uma espessa camada superficial de 
queratina. Assim, a mudança de espessura total análoga à displasia severa 
cervical raramente é vista na boca. Nas lesões orais, quando as alterações 
citológicas são muito pronunciadas, a lesão deve ser classificada considerando 
esses critérios citológicos em conjunto com a arquitetura tecidual, e a lesão 
classificada considerando essa combinação. Mudanças consideradas parti-
cularmente significativas incluem pleomorfismo nuclear e mitoses anormais 
(EL-NAGGAR et al., 2017; RANGANATHAN; KAVITHA, 2019; SPEIGHT, 2007). 
Aspectos das neoplasias benigna e maligna 15
Embora esteja estabelecido que lesões orais potencialmente malignas 
e displasia epitelial são estatisticamente mais propensas a progredir 
para câncer, os mecanismos reais são mal compreendidos e não é inevitável que 
uma lesão displásica progrida para câncer.
Como vimos, os tumores representam um crescimento descontrolado de 
tecido. A diferença entre tumores benignos e malignos envolve basicamente 
as taxas de crescimento mais rápidas de tumores malignos, além de alterações 
microscópicas, que incluem a falta de organização do tecido normal e uma 
perda de diferenciação celular.
Em contraste com as neoplasias benignas, as neoplasias malignas são 
localmente invasivas, têm um maior grau de anaplasia celular e capacidade 
de metastatizar regionalmente para os linfonodos ou distantemente para 
outros locais do corpo por via hematogênica. As neoplasias malignas são 
conhecidas coletivamente como cânceres. Os cânceres podem ser causados 
por vírus, exposição significativa à radiação, defeitos genéticos ou exposição a 
produtos químicos cancerígenos. Por exemplo, o uso de tabaco está fortemente 
associado ao carcinoma oral. O câncer é precedido por alterações displásicas, 
que significam crescimento e diferenciação anormais. Em patologia, o termo 
“displasia” é usado para descrever o crescimento desordenado e a maturação 
de células que não são normais, mas que não são obviamente malignas. Assim, 
a displasia é uma condição pré-maligna, ou seja, um precursor da neoplasia 
invasiva. Exemplos incluem a displasia cervical e das lesões orais. Pode ser 
dividida em leve, moderada e severa, baseada nos critérios morfológicos, e 
sua classificação leva em conta critérios citológicos e histológicos.
O conhecimento da evolução das lesões neoplásicas, bem como das dife-
renças gerais entre os tipos de neoplasias e sua gradação, é fundamental na 
formação profissional, especialmente considerando o contexto atual em que 
as neoplasias representam importante causa de morbidade e mortalidade 
em todo o mundo, acometendo uma parcela significativa da população e 
enquadrando-se como um dos principais problemas de saúde pública.
Aspectos das neoplasias benigna e maligna16
Referências 
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 
2018.
EL-NAGGAR, A. K. et al. WHO classification of head and neck tumours. 4th ed. Lyon: 
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Aspectos das neoplasias benigna e maligna 17
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Aspectos das neoplasias benigna e maligna18

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