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Fisiologia da dor anestesiologia

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Fisiologia da dor 
A dor é um dos mecanismos de defesa do organismo que alertam o cérebro de que seus 
tecidos podem estar em perigo, ainda que a dor possa ser iniciada sem que tenha ocorrido 
dano físico aos tecidos. A resposta à dor, propriamente dita, é um fenômeno complexo 
que envolve componentes sensoriais, comportamentais, emocionais e culturais. 
Quando os nociceptores são estimulados, impulsos de dor são enviados para o cérebro 
como um aviso de que a integridade do corpo está em risco. A parte avaliatória do cérebro 
interpreta esses sinais como dor. Componentes emocionais, culturais e sociais estão 
interligados na percepção da dor. 
O processo da dor 
Um estímulo nocivo ou um estímulo nociceptivo causa a ativação das fibras da dor. 
 A resposta à dor começa com o estímulo dos nociceptores, terminações nervosas 
especializadas que respondem aos estímulos dolorosos. O estresse ou a lesão mecânica 
dos tecidos excita os nociceptores mecanossenssíveis. 
➢ Várias substâncias químicas liberadas durante a resposta inflamatória, como a 
bradicinina, serotonina, histamina e prostaglandinas, excitam os nociceptores 
quimiossenssíveis. 
➢ Para entender a complexidade da dor, é fundamental a compreensão das várias 
etapas neurofisiológicas envolvidas em sua transmissão, percepção e inibição. 
O sistema nervoso (os nervos periféricos sensitivos e motores, a medula 
espinhal, o tronco cerebral e o cérebro) forma uma complexa rede de vias 
aferentes e eferentes para transmitir e reagir aos impulsos que o cérebro 
“percebe” como dolorosos. 
➢ Todos os impulsos nocivos são transmitidos pelas vias aferentes para o tálamo, 
onde o estímulo “doloroso” provoca os processos fisiológicos e psicológicos 
descritos anteriormente. 
➢ A dor foi conceituada, em 1986, pela Associação Internacional para o Estudo 
da Dor (IASP) como uma “experiência sensorial e emocional desagradável 
que é associada a lesões reais ou potenciais ou descrita em termos de tais 
lesões. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo 
através de suas experiências”. Este conceito não admite uma relação direta 
entre lesão tecidual e dor e enfatiza o aspecto de subjetividade na interpretação 
do fenômeno doloroso. 
➢ O primeiro passo na sequência dos eventos que origina o fenômeno sensitivo-
doloroso é a transformação dos estímulos ambientais em potenciais de ação 
que, das fibras nervosas periféricas, são transmitidas para o SNC. Os 
receptores nociceptivos são representados por terminações nervosas livres 
presentes nas fibras mielínicas finas A-delta e amielínicas C das estruturas 
superficiais e profundas do tegumento, parede das vísceras e dos vasos 
sanguíneos e em algumas fibras do sistema musculoesquelético. 
➢ Os nociceptores relacionados com as fibras C respondem à estimulação 
mecânica, térmica e/ou química intensas e, os relacionados às fibras A-delta, 
à estimulação mecânica e/ou térmica intensas. 
➢ A atividade dos receptores nociceptivos é modulada pela ação de substâncias 
químicas, denominadas algogênicas, liberadas em elevada concentração no 
ambiente tecidual em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos 
e/ou isquêmicos. 
➢ São originadas de células lesadas, leucócitos, mastócitos, plaquetas e de 
moléculas livres presentes no interior dos vasos sangüíneos. 
➢ Dentre as substâncias algogênicas, destacam-se: a acetilcolina, as 
prostaglandinas, a histamina, a serotonina, a bradicinina, o leucotrieno, a 
substância P, a tromboxana, o fator de ativação plaquetário, os radicais ácidos 
e os íons potássio. 
Existem 3 estados de sensação dolorosa diferentes: 
1- A dor da fase 1 é aquela consequente a um estímulo nocivo rápido. Sinaliza 
a presença de uma lesão em potencial. É uma sensação necessária para a 
sobrevivência e o bem-estar do indivíduo. O mecanismo neurofisiológico 
compreende uma via simples de transmissão central para o tálamo e o córtex 
cerebral. 
 
2- A dor da fase 2 expressa a capacidade do sistema nociceptivo normal de 
responder a estímulos prolongados, os quais tenham produzido lesão tissular 
e iniciado um processo inflamatório. Os mecanismos neurofisiológicos 
envolvidos diferem dos da fase 1. Aqui ocorrem alterações importantes. A 
liberação de substâncias excitatórias faz com que ocorra um processo de 
sensibilização dos nociceptores, uma diminuição do limiar de excitabilidade, 
como também descargas aferentes. 
A nível central surge um aumento da excitabilidade dos neurônios 
nociceptores e se instala um mecanismo de amplificação central. O processo 
inflamatório e a estimulação nociceptiva continuada fazem com que se 
estabeleça um aumento global da excitabilidade central. Essa dor caracteriza-
se pelo envolvimento central, o qual se inicia e se mantém devido à presença 
de descargas contínuas aferentes persistentes. 
 
3- As dores da fase 3 são representadas por estados dolorosos anormais, os 
quais se originam frequentemente de lesões dos nervos periféricos ou SNC. A 
característica fundamental é uma ausência da relação entre lesão e dor. 
Enquanto as dores das fases 1 e 2 têm origem em estímulos nocivos ou em 
lesões periféricas, as da fase 3 são sintomas de enfermidade neurológica, que 
se manifestam como dores espontâneas, provocadas por estímulos inócuos ou 
como respostas exageradas a estímulos nocivos de baixa intensidade 
(hiperalgesia). As dores da fase 3 surgem somente em uma minoria de 
indivíduos, e podem estar relacionadas a fatores genéticos ou familiares. 
 
 
 
➢ A dor tem como objetivo principal o de proteção e surge quando existe uma lesão 
de tecido. O sistema nervoso é composto por dois sistemas funcionais: o sistema 
nervoso periférico e o sistema nervoso central. As terminações nervosas livres 
existentes na pele e noutros tecidos possuem os receptores da dor. É através do 
sistema nervoso periférico que o estímulo da dor é percebido e captado. Os nervos 
sensoriais e motores da coluna espinhal conectam os tecidos e órgãos ao sistema 
nervoso central, completando assim o sistema. 
Fibras sensoriais 
 O impulso gerado pelo estímulo é transmitido para a espinha dorsal através das fibras A-
delta (que são mielinizadas e conduzem o impulso doloroso rapidamente) e as fibras C 
(não mielinizadas que conduzem o impulso lentamente). 
Sistema endócrino 
Este sistema governa a transmissão química dos sinais da dor. Estes hormônios dividem-
se em: 
➢ Neurotransmissores - transmitem impulsos através das sinapses. São eles a 
epinefrina, norepinefrina, dopamina e acetilcolina. 
➢ Neuromoduladores - a endomorfina (opiáceo natural produzido pelo corpo) 
possuindo ação idêntica à morfina. Pensa-se que estes hormônios impede a 
transmissão do impulso da dor, bloqueando a libertação dos 
neurotransmissores excitatórios. 
Sistema de controle da dor no cérebro e medula espinal 
A estimulação elétrica em regiões diversas do cérebro e medula pode reduzir ou mesmo 
bloquear os impulsos dolorosos transmitidos na medula. Foram descobertos dois sistemas 
de opiáceos no cérebro, compostos semelhantes à morfina, as encefalinas e as endorfinas. 
Estas atuam como transmissores excitadores que ativam porções do sistema analgésico 
do cérebro.

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