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Epilepsia Benigna com Pontas Centrotemporais

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CASOS CLÍNICOS EM NEUROLOGIA 415
com os achados da RM e uma eletrencefalografia, na tentativa de localizar a anor-
malidade focal.
ERB, também conhecida como epilepsia benigna com pontas centrotemporais, 
é uma síndrome epiléptica idade-dependente, com um início entre três e 13 anos. 
Basicamente todos os pacientes deixarão de apresentar suas crises por volta dos 20 
anos, o que é uma razão para rotular a crise de benigna. Outra razão para isso é o fato 
de que cerca de dois terços dos pacientes apresentaram somente uma ou muito pou-
cas crises, o que é importante ao considerar a instituição ou não de um tratamento 
anticonvulsivante. A crise típica da ERB começa com manifestações sensorimotoras 
em um lado da face e boca. Parestesias orais unilaterais, assim como atividade facial 
clônica e/ou tônica, são comuns. A incapacidade de falar, que pode ser observada in-
dependentemente de a crise envolver o hemisfério dominante ou não dominante, e a 
sialorreia também são relatadas com frequência. Alguma variação na sintomatologia 
da crise epiléptica pode ser observada entre as crises para qualquer paciente, sendo 
que alguns apresentam dois tipos distintos de crises. Cerca de 75% das crises são 
noturnas, ocorrendo logo após adormecer ou ao acordar. Os demais pacientes apre-
sentam crises noturnas e diurnas ou, mais raramente, apresentam eventos epilépticos 
somente durante as horas de vigília.
Um EEG é útil principalmente para fazer o diagnóstico de ERB, pois várias 
características podem ser observadas no período interictal. Se durante a execução 
do EEG for registrado um período de sono, cerca de 30% dos pacientes com ERB 
apresentarão ondas agudas que se originam da região centrotemporal. Embora es-
tejam além do escopo desta revisão, existem outras características, como um dipolo 
frontal e um pré-potencial, que ajudam na identificação dessas ondas agudas como 
consistentes com ERB. Quando a história e o EEG são consistentes com ERB, é 
desnecessário aprofundar o trabalho diagnóstico com mais exames. Se a história 
for consistente, mas o EEG não revela nada digno de nota, a realização de um novo 
EEG pode fazer sentido para tentar capturar uma atividade anormal diagnóstica. 
Certamente, na presença de características focais no exame neurológico, aspectos 
preocupantes na história (como regressão no desenvolvimento), ou anormalidades 
EEG inconsistentes com ERB, exames de neuroimagem com RM devem ser consi-
deradas. De forma curiosa, nem todos os pacientes com anormalidades EEG con-
sistentes com ERB realmente apresentam crises. De fato, apenas 10% dos pacientes 
com ondas agudas centrotemporais do tipo ERB realmente apresentaram uma ou 
mais crises clínicas.
Uma vez feito o diagnóstico, a atenção deve estar voltada para o tratamento. 
A maioria dos pacientes apresenta somente uma crise ou poucas crises e todos os 
pacientes, eventualmente, deixam de apresentar ERB. Além disso, embora esta seja 
uma questão debatida, não há nenhuma evidência de que as crises típicas e infre-
quentes de ERB sejam prejudiciais ao sistema nervoso em desenvolvimento. Dados 
esses fatores, como os efeitos colaterais dos anticonvulsivantes, muitos neurologistas 
recomendam não iniciar o tratamento antes que um paciente tenha apresentado três 
ou mais crises. Essa decisão deve ser adaptada para cada criança e seus pais. Se o 
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