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teoria da cor aula 4

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TEORIA DA COR 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Ed Marcos Sarro 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A cor na linguagem e na comunicação visual 
Nesta aula estudaremos as características da cor que a dotam de 
informação e significado enquanto forma de linguagem, especificamente na 
comunicação visual. Entenderemos um pouco sobre a dinâmica da cor no 
universo das marcas em que há questões práticas envolvendo a construção de 
significado e valor econômico. 
Buscaremos entender também aspectos técnicos relativos à combinação 
de cores com outros elementos visuais (como a tipografia) que estão além dos 
limites da óptica da cor (já abordada nas últimas aulas) quanto à legibilidade e à 
sua integração harmônica na composição. 
Por fim, faremos uma breve análise das relações entre cor e forma, com 
base nos estudos da Bauhaus, retomando Kandinsky. 
CONTEXTUALIZANDO 
Dada a sua grande força expressiva, a cor se tornou tanto parte da 
linguagem humana quanto uma forma de linguagem em si mesma. Isso vale 
também para a dinâmica da cor nas marcas comerciais ou não. A produção e 
gestão da marca é uma área que movimenta milhões de reais na ecomomia, nos 
segmentos de Publicidade e Propaganda, Marketing e Design, em que a cor 
representa um papel muito importante. 
É esperado que o profissional entenda minimamente a dinâmica da cor 
enquanto código de comunicação em diferentes aplicações para que apresente 
soluções de projeto criativas e eficazes. 
TEMA 1 – COR COMO INFORMAÇÃO 
A palavra informação pode ser decomposta em in + forma + ação, ou seja, 
a forma dinâmica que se percebe em um determinado espaço e que se torna 
consciente aos nossos sentidos (no caso, a visão) sendo atribuída a ela algum 
significado (Pignatari, 2002). 
 
 
 
3 
Figura 1 – Informação 
 
Crédito: Diana Volkovskaia/Shutterstock. 
Informação, nesse sentido, é o elemento que, surgido no campo visual, 
nos dá critérios de escolha entre o zero (o fundo vazio) e o 1, a figura, no caso, 
o círculo preto (Figura 1). Informação também é um parâmetro de comparação, 
o que implica no conceito de qualidade (Pignatari, 2002). Na figura a seguir 
(Figura 2), as três figuras, apesar de iguais na forma, constituem três modos 
distintos de informação segregados basicamente pela cor. Tanto pelo matiz 
quanto pelo tom: 
Figura 2 – Segregação por cor 
 
Crédito: Asag Studio/Shutterstock. 
Como vimos anteriormente, a cor é o elemento de referência mais notório 
e eficiente que nossos olhos possuem para distinguir diferentes informações 
visuais. Pequenas variações da mesma cor, ou o contraste absoluto entre preto 
e branco, nos permitem estabelecer minimamente diferenças entre elementos 
na mesma composição. 
 
 
4 
No experimento clássico de Gestalt, a relação entre a figura e o fundo 
pode nos mostrar tanto dois rostos simétricos de cor preta (em posição oposta 
entre si) quanto uma coluna ou um vaso branco na figura central (Figura 3). 
Figura 3 – Gestalt 
 
Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 
Automaticamente, por meio da dinâmica do contraste entre cores (que já 
vimos anteriormente) e da segregação entre figura e fundo, teremos associado 
essas formas a palavras e conceitos de nosso repertório: rosto, coluna, vaso. 
Cor aqui se transforma em informação. 
1.1 Cor, informação e comunicação 
Como vimos nas aulas anteriores, a cor contém de si várias características 
de informação: pode ser primária ou secundária, pode ser fria ou quente como 
pode ser neutra, pode ser uma cor complementar ou análoga. Pode ser cor-luz 
ou cor-pigmento (Figura 4). 
Figura 4 – Cor como informação 
 
Crédito: Dino Osmic/Shutterstock. 
 
 
5 
Entretanto, até aqui, tratamos da cor enquanto dado objetivo. Quando 
inserida em outros contextos e associada a outras informações, a cor ganha 
subjetividade e passa a estar relacionada a outros significados. 
Para ilustrar isso podemos usar um exemplo comum do trânsito de 
nossas cidades. O vermelho, o amarelo e o verde sozinhos são apenas cores. 
Quando inseridos na dinâmica do trânsito e incorporados à sinalização viária (na 
forma do semáforo) passam a ter importante função para a mobilidade urbana 
(Figura 5). 
Figura 5 – Cores no semáforo 
 
Crédito: Victor Grow/Shutterstock. 
Convencionou-se internacionalmente nos sinais luminosos de trânsito que 
o vermelho é a cor que conota alerta e a proibição de seguir em frente, que o 
amarelo sugere atenção na aproximação, enquanto o verde é utilizado para 
indicar caminho livre (Figura 6). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 6 – Significado das cores 
 
Crédito: Sapunkele/Shutterstock. 
Mesmo quem não dirige um automóvel saberá identificar esses usos da 
cor no trânsito, porque ciclistas e pedestres precisam dessa informação para 
conviverem em segurança com os motoristas (Figura 7). 
Figura 7 – Código para todos 
 
Crédito: Romrodphoto/Shutterstock. 
Isso vale também para os motoristas entre si: os carros são fabricados 
com luzes de seta de cor vermelha ou alaranjada, com as quais o condutor 
comunica a outros motoristas suas intenções de manobra; se vai virar à direita, 
à esquerda ou se vai trocar de faixa (Figura 8). 
 
 
 
 
 
 
7 
Figura 8 – Sinal de seta 
 
Crédito: Fotandy/Shutterstock. 
Incorporada à lanterna traseira, além da luz de seta, há também uma luz 
na cor branca, que, quando acesa, sinaliza para quem está atrás que o motorista 
pretende se movimentar em marcha à ré. 
Tanto como dado objetivo quanto como informação subjetiva, a cor entra 
no campo da comunicação como vetor de uma mensagem. Essa mensagem 
pode ser a de uma marca por exemplo, como veremos a seguir. 
TEMA 2 – A COR COMO MARCA 
Desde tempos muito antigos, as cores têm sido usadas como emblema 
para identificar, associar e distinguir indivíduos, grupos e organizações. 
Figura 9 – Brasão 
 
Crédito: Svetocheck/Shutterstock. 
 
 
8 
No passado (assim como as marcas e a identidade visual de empresas 
e organizações de hoje) as bandeiras, estandartes, flâmulas, uniformes e 
brasões (Figura 9) tinham na cor uma forma de comunicação rápida e eficaz de 
determinados significados. Na Idade Média, poderia até haver brasões sem 
figuras ou símbolos, mas nunca sem cores (Consolo, 2015). 
2.1 Cor e significado 
Seja nos aparatos de cavaleiros medievais ou nos paramentos de ordens 
religiosas muito antigas ou nos sinais de trânsito da atualidade, a cor sempre 
adquiriu representatividade por meio de significados que lhes são atribuídos de 
forma arbitrária ou por associação direta. 
No caso do cavaleiro medieval, por estar coberto da cabeça aos pés pelo 
aço da armadura (Figura 10), as cores tinham uma função prática, distintiva e de 
identificação, seja no campo de batalha ou nos jogos de guerra (Consolo, 2015). 
Figura 10 – Cavaleiro 
 
Crédito: Photo Spirit/Shutterstock. 
As cores do cavaleiro o associavam à sua posição social, ao rei a quem 
servia e mesmo à causa que defendia. 
Na atualidade, as cores também têm sido associadas a causas, como o 
Outubro Rosa e o Novembro Azul (Figura 11), no esforço para prevenção de 
câncer de mama e de próstata. Também se faz a associação entre outras cores 
e meses para falar sobre suicídio, autismo e deficiência. 
 
 
 
 
9 
Figura 11 – Novembro Azul 
 
Crédito: Jo Panuwat D/Shutterstock. 
Ao longo da história, as cores também foram associadas a doenças: a 
Peste Negra (Figura 12), a febre amarela, a escarlatina (escarlate é um tom de 
vermelho) e a púrpura (púrpura trombocitopênica imunológica) que recebe esse 
nome porque a pessoa apresenta manchas roxas (de cor púrpura) no corpo são 
exemplos disso. 
Figura 12 – Peste Negra, ilustração medieval 
 
Crédito: Everett Historical/Shutterstock. 
A cor pode se tornar sinônimo de um produto ou serviço, como as páginas 
amarelas (Petit, 2003). Nos casos citados, a cor exerce uma função designativae utilitária. Às vezes, uma cor não necessariamente representa o significado 
exato que lhe é atribuído: a “caixa preta” com informações de bordo de aviões 
não é preta, mas laranja (Figura 13). As águas do Mar Vermelho, no Oriente 
Médio, de fato, não são vermelhas. E imprensa marrom é uma forma de se referir 
 
 
10 
ao jornalismo sensacionalista e de credibilidade duvidosa (Rabaça; Braga, 
2002). 
Figura 13 – Caixa preta de avião 
 
Crédito: David Mg/Shutterstock. 
Curiosamente, a cor da Ferrari, notória marca italiana de carros de luxo, 
não é o vermelho, como muitas pessoas imaginam, mas o amarelo (Contesini, 
2016). 
2.2 A força comercial da cor nas marcas 
Grandes marcas estão associadas às suas respectivas cores, às vezes 
uma cor compartilhada por mais de uma marca da mesma empresa. As cores 
das marcas estão relacionadas com aspectos históricos da empresa, questões 
filosóficas ou mesmo estratégias psicológicas de consumo. Isso vale também 
para os produtos e serviços que elas oferecem. As cores das marcas estão na 
identidade visual da empresa (Figura 14) ou do produto/serviço, nas fachadas, 
nas embalagens, nos veículos de frota, nos crachás e nos uniformes dos 
empregados (Tai, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Figura 14 – Identidade visual 
 
Crédito: Macrovector/Shutterstock. 
Às vezes, cores são uma forma de diferenciação entre marcas em 
determinados contextos: em shopping centers, reconhecer pela cor da fachada 
externa onde está a loja de sua marca preferida pode ser muito útil (Figura 15). 
Figura 15 – Fachadas de lojas em shopping 
 
Crédito: Sonpichit Salangsing/Shutterstock. 
Na cidade de São Paulo, por conta da Lei Cidade Limpa, que disciplina a 
comunicação visual urbana, aumentou o investimento na cor das fachadas 
(Figura 16) de estabelecimentos para destacar marcas e, de certa forma, utilizar 
brechas da lei (Guedes; Deodoro, 2012). 
 
 
 
12 
 
Figura 16 – Lojas de grifes na Rua Oscar Freire, em São Paulo 
 
Crédito: Diego Grandi/Shutterstock. 
Alguns bancos investiram na incorporação de suas cores às fachadas, 
como o Itaú com o laranja (Figura 17) de maneira a diferenciar-se no contexto 
urbano. 
Figura 17 – Cor na fachada de banco 
 
Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock. 
Fabricantes de refrigerantes, cervejarias, cadeias de fast food, indústrias 
alimentícias, empresas aéreas, montadoras, empresas de tecnologia e mesmo 
lojas on-line fixam suas marcas no imaginário dos consumidores também por 
meio das cores que os representam. 
 
 
13 
Figura 18 – As “amarelinhas” 
 
Crédito: Jfmdesign/Istockphoto. 
As pilhas Rayovac (fabricadas pela Spectrum Brands do Brasil), por 
exemplo, há anos usam um slogan que associa o produto à sua cor: as 
amarelinhas (Figura 18). O slogan, de certa forma, parece fazer alusão também 
ao uniforme principal da Seleção Brasileira de futebol (amarelo e azul, mesmas 
cores da pilha, além do vermelho do logotipo) talvez porque já foi uma tradição 
torcedores ouvirem a locução de partidas em seus radinhos portáteis à pilha, até 
mesmo dentro dos próprios estádios. 
2.3 A cor no design de marcas 
Eventualmente designers e outros profissionais criativos são contratados 
para trabalhar numa cor que melhor represente o espírito de uma marca. 
 
 
 
 
 
 
 
14 
Figura 19 – Marca da Lufthansa em avião 
 
Crédito: Dawid Lech/Shutterstock 
Em 1963, Otl Aicher (1922-1991) criou o sistema de identidade visual para 
a empresa aérea Lufthansa (Figura 19) e estabeleceu um tom de amarelo como 
parte da marca da empresa porque achava que passava a ideia de velocidade, 
segurança, agilidade, atividade e engenharia (Golling, 2011). 
Aqui no Brasil, desenhada por Alexandre Wollner (1928-2018), a marca 
original do banco Itaú trazia o logotipo branco dentro de um campo quadrado de 
cor preta, dado o fato que a palavra Itaú, em tupi-guarani, significa pedra preta 
(Stolarski, 2005). A marca depois foi ganhando outras cores por questões 
estratégicas de marketing (Figura 20). 
Figura 20 – Evolução da marca do Itaú 
 
Fonte: PropMark, 2015. 
Outro fato curioso é empresas que patenteiam certos tons de cor como 
marcas comerciais. É o caso, por exemplo, do tom de rosa escolhido pela Mattel 
para servir de identidade visual para sua boneca Barbie. Outro caso é o da 
empresa americana de telefonia celular T-Mobile, que patenteou um tom de 
magenta e chegou a entrar numa disputa judicial com a AT&T por causa de seu 
 
 
15 
uso em um produto. A indústria de máquinas John Deere tem há anos o direito 
de uso de uma combinação específica de tons de verde e amarelo (Santos, 
2011). A United Parcels (UPS), desde a sua fundação, utiliza o mesmo tom de 
marrom da sua marca em seus furgões de entrega mundo afora, supostamente 
para passar a ideia de seriedade e eficiência (Pettit, 2003). 
Essas cores das marcas são padronizadas de acordo com a escala 
Pantone, um sistema internacional que estabelece combinações CMYK e RGB 
de acordo com o tom da cor. O verde da bandeira brasileira, por exemplo, é 
designado pelo código Pantone RGB 0/156/59 e CMYK 100/3/100/1. Sobre o 
sistema Pantone, nos aprofundaremos nas próximas aulas. 
2.4 Cor, marca e paixão 
Os times de futebol e as escolas de samba são exemplos muito próximos 
de nós de como as cores se tornam marcas de uma agremiação, tornando-se 
inclusive substitutos de seus nomes originais. Essas cores têm significados muito 
diferentes de pessoa para pessoa e carregam em si uma carga simbólica e 
psicológica. Às vezes, elas se tornam a expressão de vida de centenas ou 
milhares de pessoas, suscitando paixões em níveis diferentes de identificação e 
adesão (Silveira, 2015). 
Figura 21 – Esquema de cores do uniforme do São Paulo F.C. 
 
Crédito: Grebeshkovmaxim/Shutterstock 
O tricolor paulista, apelido dado ao São Paulo Futebol Clube, alude às 
cores do time da capital paulista, o vermelho, o preto e o branco (também cores 
 
 
16 
da bandeira do Estado de São Paulo) que estão no uniforme dos jogadores 
(Figura 21), na bandeira e no brasão do time. 
Figura 22 –São Paulo Futebol Clube 
 
Quando no trecho da letra de um samba enredo lê-se “atrás da verde rosa 
só não vai quem já morreu”; está sendo feita uma alusão à Estação Primeira de 
Mangueira, tradicional escola de samba do Carnaval carioca (Figura 23). 
Figura 23 – Desfile da escola de samba Mangueira 
. 
Crédito: Cp Dc Press/Shutterstock. 
No que diz respeito às bandeiras de países, as cores têm ainda mais 
importância como a expressão da própria identidade nacional (dependendo, é 
claro, do maior ou menor senso cívico): a palavra auriverde, significando algo 
que é amarelo e verde, remete às cores principais da bandeira brasileira (Figura 
24). 
 
 
17 
Figura 24 – Bandeira do Brasil Império 
 
Crédito: Grebeshkovmaxim/Shutterstock. 
Essas duas cores representam a união das casas reais: o verde dos 
Bragança, a família de Dom Pedro I e o amarelo dos Habsburgo-Lorena, casa 
real da Áustria, país de onde veio a imperatriz Leopoldina (Luz, 1997). Auriverde 
virou sinônimo de Brasil ou de algo relacionado ao nosso país. Sobre o 
simbolismo das cores, falaremos mais nas próximas aulas. 
TEMA 3 – INTERAÇÃO ENTRE CORES 
Às vezes, a combinação entre cores em um projeto de design pode ser 
difícil ou mesmo não funcionar, dependendo do uso ou de possíveis 
necessidades de reprodução. Isso vale para a maioria dos projetos, 
especificamente para o desenho de websites (Figura 25) em que a cor tem um 
papel muito importante em agarrar o olhar do observador. 
Figura 25 – Criando um website 
 
Crédito: Rawpixel.Com/ Shutterstock 
 
 
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Quando navegamos na internet, tendemos a trocar de site muito rápido. 
Uma forma de reter o olhar é uso de um esquema de cores atraente. 
Tons de cores muito próximos ou muito contrastantes numa composição 
podem ser percebidos de forma inadequadaou não serem confortáveis para o 
observador. 
Figura 26 – Placa de estrada 
 
Crédito: Lefpic/Shutterstock. 
Por outro lado, dados o poder de segregação e a vibração de uma cor em 
relação à outra, a combinação das duas pode ser favorável. Algumas placas de 
estrada que são amarelas e pretas (Figura 26), por exemplo, o amarelo vibrante, 
associado ao formato de losango (que conota movimento) faz com que a seta 
preta fique mais em evidência. 
Falaremos mais sobre isso nas próximas aulas. 
TEMA 4 – LEGIBILIDADE DA COR 
Como desdobramento do tópico anterior, quando a cor se alia ou interage 
com outro elemento gráfico (como a tipografia, por exemplo) nem sempre uma 
solução pode funcionar: letras vermelhas numa placa de fundo verde podem não 
ser adequadamente lidas à certa distância (Figura 27). 
 
 
 
 
 
 
 
19 
Figura 27 – Bom e mau contraste 
 
O uso de fontes serifadas ou muito rebuscadas associado a combinações 
pouco comuns de cores em slides de Powerpoint, por exemplo, acaba por não 
ser muito legíveis ou cansar o leitor (Figura 28). 
Figura 28 – Slide de Powerpoint ruim 
 
Marcas compostas por formas geométricas e cores podem ter pouca 
eficiência por conta da falta de afinidade da forma com a cor escolhida. Veremos 
mais sobre isso no próximo tópico. 
TEMA 5 – RELAÇÕES ENTRE COR E FORMA 
Em aulas anteriores, vimos como Kandinsky (artista e professor da 
Bauhaus) atribuiu temperaturas a diferentes cores com base em análises 
estruturais e associações daquelas com aspectos físicos, emocionais e naturais. 
 
 
20 
Ele também relacionou cores a timbres de som e à estrutura de formas 
geométricas básicas, de acordo com a sensação de sinestesia entre movimento, 
cor e forma (Barros, 2006). 
Assim como outros colegas, Kandinsky buscava uma linguagem plástica 
autônoma, não dependente da representação da natureza como a arte fora até 
então. Ele queria encontrar uma linguagem gráfico-visual universal, que 
transcendesse barreiras culturais e regionalismos estéticos e que fosse aplicável 
tanto nas artes quanto no design. No seu livro Ponto, linha, plano (1926), 
Kandinsky se refere a um glossário de elementos criativos visando uma espécie 
de gramática para a criação (Barros, 2006). Ele havia escrito algo a respeito 
também no seu outro livro Do espiritual na arte (1914), já citado anteriormente. 
Kandinsky acreditava que se duas formas geométricas iguais fossem 
pintadas com cores diferentes, a percepção de ambas seria também diferente. 
Para ele, um quadrado azul não seria percebido da mesma forma que um 
quadrado vermelho (Figura 29). Ele afirmava que certas formas geométricas 
potencializavam a força expressiva de determinadas cores primárias (Silveira, 
2015). 
Figura 29 – Comparativo de cores 
 
 
 
 
 
 
 
Em 1923, durante um workshop de pintura mural, Kandinsky aplicou um 
formulário de pesquisa a alunos e professores da Bauhaus (e a alguns 
profissionais) no qual ele pedia para que a pessoa associasse uma cor-pigmento 
opaca primária a uma forma geométrica básica. Apesar de controvérsias quanto 
à consistência do método utilizado e à precisão dos dados coletados (Barros, 
2006), o resultado foi o que se segue: 
1- O azul foi associado ao círculo (Figura 30), por ser considerada uma cor 
imaterial, fria, profunda e ligada ao movimento centrípeto, para dentro. 
 
 
21 
Concentrado1. A característica estável do círculo e a ideia de ciclo 
contínuo e de “infinito” combina bem com o conceito de espiritualidade 
que Kandinsky lhe atribuiu. Seu colega de Bauhaus Johannes Itten 
afirmava que o azul suscitava o movimento circular e a sensação de 
transparência (Barros, 2006; Silveira, 2015). Curiosamente, anos depois 
cosmonautas soviéticos afirmariam que “a Terra é azul”. 
Figura 30 – Círculo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2- Sendo uma cor quente, o amarelo foi identificado com o triângulo, (Figura 
31) por ser uma forma pontiaguda e que se expande de forma 
multidirecional, também por conter certa agressividade e expressão por 
causa de suas pontas. Talvez por remeter também aos raios de sol. Itten 
achava que o triângulo era uma representação possível para o 
pensamento (Barros, 2006; Silveira, 2015). 
Figura 31 – Triângulo 
 
 
 
 
 
 
 
1 Em inglês diz-se que alguém sente-se blue (azul) quando está deprimido. 
 
 
22 
3- O vermelho foi visto como melhor representado pelo quadrado (Figura 32) 
por conter características tanto frias quanto quentes (no vermelho-
avioletado ou no laranja-avermelhado) sendo um meio termo entre o 
círculo e o triângulo (Barros, 2006). O vermelho dialoga bem com o 
quadrado porque, ao passo que o primeiro é uma cor forte, quente e quase 
violenta, o quadrado é associado aos conceitos de tensão, peso e 
permanência, enquanto resistência (Silveira, 2015). 
Figura 32 – Quadrado 
 
 
 
 
 
 
A mesma lógica valeria para os sólidos geométricos: a pirâmide, a esfera 
e o cubo (Silveira, 2015). Combinações de formas entre si implicariam na mistura 
de cores correspondentes (Barros,2005): o pentágono (Figura 33) seria laranja, 
por exemplo, por ser uma mistura do triângulo (amarelo) com o quadrado 
(vermelho). 
 
Figura 33 – Pentágono 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na verdade, o experimento de Kandinsky apenas confirmou suposições 
que os professores da Bauhaus já tinham: em 1922, Peter Keler, outro colega da 
escola, construiu um berço (Figura 34) para o filho de Itten, seguindo essa lógica 
de relação entre cor e forma (Barros, 2006). 
 
 
23 
Figura 34 – Berço de Keler 
 
Crédito: John Macdougall/Getty Images. 
Karl Gerstner, também professor da Bauhaus, e o próprio Itten 
aprofundariam as conclusões de Kandinsky, inclusive em combinação com a 
Doutrina das Cores de Goethe (Silveira, 2015). Essas leis das relações forma-
cor seriam aplicadas a projetos posteriores de murais, cartazes e capas de livros 
e de revistas (Barros, 2006). 
Passados esses anos todos, a pesquisa de Kandinsky tem sido repetida 
por outros professores em outras épocas e em outros contextos, apresentando 
algumas variações. 
TROCANDO IDEIAS 
Leia o artigo da revista Exame sobre a origem das cores de algumas das 
marcas mais valiosas do mundo no link: 
<https://exame.abril.com.br/marketing/o-significado-das-cores-de-10-marcas-
famosas/>. 
Qual delas você acha que faz menos sentido? Você conhece outra história 
para alguma dessas marcas? Você sabe o significado das cores de outra marca 
que não foi citada no texto? 
https://www.gettyimages.com/search/photographer?family=editorial&photographer=JOHN+MACDOUGALL
 
 
24 
NA PRÁTICA 
Faça os exercícios que se seguem para ajudar na fixação do conteúdo 
visto nesta aula. 
1- Desenhe uma marca pessoal para você utilizando o que aprendeu sobre 
a relação entre cor e forma. 
2- Experimente fazer a pesquisa da Bauhaus – relacionando cores primárias 
e figuras geométricas básicas – com amigos e familiares. Avalie se o 
resultado se aproxima daquele obtido por Kandinsky. 
FINALIZANDO 
Concluímos mais esta aula esperando que você tenha aproveitado 
bastante o conteúdo apresentado. Por meio dele, entendemos que a cor contém 
informação e pode tornar-se vetor para uma mensagem na comunicação visual. 
Vimos que essa comunicação pode ter um fim utilitário, como nos sinais de 
trânsito, ou ser vinculada a uma marca, gerando valor econômico. Tivemos uma 
noção do poder da cor em suscitar sentimentos e emoções no futebol, no 
Carnaval e nos símbolos nacionais, por exemplo, bem como o de causar 
desconforto quando mal utilizada em projetos de design gráfico. Por fim, 
entendemos um pouco a relações entre cor e forma nas pesquisas da Bauhaus. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo. São Paulo: Editora Senac, 2006. 
CÓDIGO de Trânsito Brasileiro. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. 3.ed. 
Brasília: DENATRAN, 2008. 
CONTESINI, L. Não: a cor oficial da Ferrari não é o amarelo. Disponível em: 
<https://www.flatout.com.br/nao-cor-oficial-da-ferrari-nao-e-o-amarelo/> 
Acessado em: 23 jan. 2020. 
GOLLING, D. What's in a colour: Lufthansa yellow. Disponível em: 
<https://www.disegnodaily.com/article/what-s-in-a-colour-lufthansa-yellow>. 
Acesso em: 23 jan. 2020. 
GUEDES, D.; DEODORO, J. Marcas usam design para driblar Lei Cidade 
Limpa. Disponível em: <https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,marcas-
usam-design-para-driblar-lei-cidade-limpa-imp-,928679>. Acesso em: 23 jan. 
2020. 
LUZ, M. A história dos símbolos nacionais: a bandeira, o brasão, o selo, o 
hino / Milton Luz. Brasília: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e 
Publicações, 1999. 
PETIT, F. Marca e meus personagens. São Paulo: Editora Futura, 2003. 
PIGNATARI, D. Informação, linguagem, comunicação. São Paulo: Ateliê 
Editorial, 2002. 
RABAÇA, C. A.; BARBOSA, G. G. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: 
Editora Campus, 2002. 
SANTOS, A. Cores que podem te render um processo caso você use 
alguma delas. Disponível em: <https://www.publicitarioscriativos.com/cores-
que-podem-te-render-um-processo-caso-voce-use-alguma-delas/>. Acesso em: 
23 jan. 2020. 
SILVEIRA, L. M. Introdução a teoria da cor. Curitiba: Editora UTFPR, 2015. 
STOLARSKI, A. Alexandre Wollner e a formação do design visual brasileiro. 
São Paulo: Cosac Naify, 2005. 
 
 
26 
TAI, H.-A. Design: conceitos e métodos. São Paulo: Editora Blücher, 2018.