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W BA 10 95 _V 1. 0 PROCESSOS E PROJETOS DE MELHORIA CONTÍNUA 2 Caio Cardinali Rebouças Tobias Leonardo Kunrath São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 PROCESSOS E PROJETOS DE MELHORIA CONTÍNUA 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Tobias Leonardo Kunrath Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Rebouças, Caio Cardinali Processos e projetos de melhoria contínua / Caio Cardinali Rebouças, Tobias Leonardo Kunrath. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 44 p. ISBN 978-65-5356-317-9 1.Melhoria contínua. 2. PDCA. 3. Metologia DMAIC. I. Kunrath, Tobias Leonardo. II. Título. CDD 658 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O R292p © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Ferramentas da Qualidade visando a Melhoria Contínua ____ 07 A Melhoria Contínua sob a ótica do PDCA e DMAIC __________ 21 Geração e análise de dados voltados à melhoria contínua ___ 29 Gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua _____________________________________________________ 41 PROCESSOS E PROJETOS DE MELHORIA CONTÍNUA 5 Apresentação da disciplina A disciplina de Processos e projetos de melhoria contínua é importante para qualquer pessoa que trabalha em uma organização que produza produtos ou serviços. Visa proporcionar um entendimento mais aprofundado sobre diversas ferramentas e técnicas de gestão da qualidade, utilizadas pelas organizações. Além disso, abordará temas como, por exemplo, o Balanced Scorecard, a metodologia Seis Sigma e a Gestão da Qualidade Total. Haverá também a oportunidade de aprender sobre as principais ferramentas da qualidade, no âmbito da melhoria contínua aplicada a projetos e processos, como: • Programa 5’s e sua evolução para o 10’s. • Just in Time com enfoque ao processo produtivo enxuto. • DMAIC e ciclo PDCA para condução de projetos de melhoria contínua. • Técnicas para identificar a causa raiz de um problema, como: Diagrama de Ishikawa, 5 porquês e Brainstorming. A disciplina também proporciona entender o que são dados e quais as diferenças entre dados estruturados, semiestruturados e não estruturados, bem como compreender o que são variáveis e porque são importantes. Dessa forma, fornece uma visão holística sobre dados e variáveis no contexto da melhoria contínua. 6 Será possível entender sobre o papel dos dados na análise de problemas e quais ferramentas podem auxiliar na identificação de problemas, como, por exemplo: Lista de controle, Histograma, Diagrama de Pareto e Diagrama de Correlação. Por fim, visa proporcionar uma visão sistêmica de como implementar projetos e processos de melhoria contínua nas organizações. Ao longo da disciplina, diversas aplicações práticas serão apresentadas. Isso permite entender, com situações práticas, a importância de conduzir projetos e processos de melhoria contínua. Venha aprender mais a respeito nesse conteúdo! 7 Ferramentas da Qualidade visando a Melhoria Contínua Autoria: Caio Cardinali Rebouças Leitura crítica: Tobias Leonardo Kunrath Objetivos • Apresentar as ferramentas da qualidade mais usualmente aplicadas. • Compreender e diferenciar as diferentes ferramentas da qualidade. • Estabelecer relações de interconexão entre as ferramentas no âmbito da melhoria contínua. 8 1. Principais ferramentas da Qualidade A melhoria contínua para aperfeiçoamento de processos, produtos e serviços é uma busca incessante adotada por empresas a partir da análise detalhada de seus processos internos, visando superar ineficiência, retrabalhos, desperdícios, com foco na satisfação do cliente e na rentabilidade das organizações. No presente conteúdo, abordaremos as principais metodologias e ferramentas da qualidade no âmbito da melhoria contínua aplicada a projetos e processos. Veremos o conceito do Programa 5’s e sua evolução para o 10’s; o Balanced Scorecard e a inter-relação de suas quatro vertentes com o planejamento estratégico; a metodologia Seis Sigma, com abordagem quantitativa visando a redução de defeitos; o Just in Time, com enfoque ao processo produtivo enxuto, com vistas a redução de estoque e desperdícios e, finalmente, a Gestão da Qualidade Total, que visa a satisfação total do cliente, integrando toda a organização (pessoas, áreas e processos). Venha aprender mais sobre esse conteúdo! 1.1 Programas 5’s e 10’s Desenvolvidos pelos japoneses durante a reestruturação econômica do país após a Segunda Guerra Mundial, o 5’s é um método de organização do espaço de trabalho, com o objetivo otimizar a produtividade e a qualidade e promover a redução de desperdícios. Segundo Toniazzo (2016), o programa envolve mudança comportamental dos colaboradores ao incorporar no ambiente de trabalho, valores alusivos à organização, disciplina, limpeza e padronização, tendo por objetivo aumentar a produtividade, reduzir custos e riscos de acidentes, facilitar o trabalho operacional, entre outros. 9 De maneira sucinta, os 5’s estão relacionados a cinco sensos, sendo o senso de utilização, ordenação, limpeza, saúde e higiene, e por fim, o senso de autodisciplina, como pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Representação esquemática dos cinco sensos (5s) Fonte: elaborada pelo autor. Senso de Utilização (SEIRI): objetiva que no ambiente ou posto de trabalho, tenha apenas o necessário e o que se utiliza com frequência. Materiais desnecessários devem ser guardados adequadamente ou descartados, pois representam estoque e custo desnecessário, além de espaço físico ocupado. Senso de Ordenação (SEITON): consiste em organizar o local e classificar os materiais, de modo que sejam facilmente acessíveis, 10 de acordo com a frequência e sequência de uso. O benefício inclui a redução de tempo em localizar materiais e ferramentas de trabalho, por exemplo, tornando o trabalho mais ágil. Senso de Limpeza (SEISO): significa manter os equipamentos e ambientes limpos e eliminar as causas da sujeira, determinar responsabilidade e identificar as atividades de limpeza e a rotina de manutenção exigida; desenvolvendo, assim, a consciência de que a responsabilidade pela limpeza é de todos. Senso de Saúde e Higiene (SEIKETSU): consiste no zelar pela saúde e higiene, funcionando como uma verificação do estado do programa na medida em que se estende por toda a empresa, incluindo refeitórios, banheiros, áreas administrativas e de produção. Senso de Disciplina (SHITSUKE): considerado um senso abrangente, o senso de disciplina objetiva o cumprimento de padrões estabelecidos na empresa. Sendo, seguramente, o mais abrangente de todos, pois a autodisciplina demanda aperfeiçoamento constante e possibilita identificar oportunidades de melhoria constante. Entre os principais benefícios do senso, convém destacara otimização de espaços, redução de tempo improdutivo e de despesas e a melhoria na comunicação interna. Uma evolução do método foi a inclusão de outros cinco sensos, passando a denominação de 10’s, o que inclui: Senso de Determinação e União (SHIKARI YARO): objetiva o desenvolvimento da liderança, motivação e comunicação a partir da participação e integração de gestores juntos aos demais colaborados. Tal senso estimula o comprometimento e motiva a prática do trabalho em equipe para o alcance dos resultados. Senso de Treinamento (SHIDO): consiste no desenvolvimento de talentos e aprimoramento do conhecimento, por meio do treinamento 11 profissional e educacional dos colaboradores, visando aumentar a produtividade e os resultados. Senso de Economia e Combate aos Desperdícios (SETSUYAKU): consiste no estímulo ao desenvolvimento de práticas que minimizem ou eliminem perdas e promovam a reciclagem, visando a redução de custos e a preservação do meio ambiente. Senso dos Princípios Morais e Éticos (SETSUYAKU): consiste em definir claramente os padrões de conduta para com os clientes e fornecedores e a própria empresa, de modo que os colaboradores estejam alinhados e comprometidos com tais princípios em suas atitudes e comportamento. Senso de Responsabilidade Social (SEKININ SHAKAI): objetiva o alinhamento do conjunto de diretrizes e práticas da empresa que beneficiam o meio social, com as ações de estímulo aos colaboradores. De acordo com Werkema (2012), os principais resultados benéficos do método, incluem os ganhos de produtividade, melhoria no atendimento aos prazos, redução de defeitos e perda de materiais e, portanto, de custos, aumento da segurança do trabalho e melhoria na percepção para distinguir condições normais e anormais de trabalho. Em concomitante, uma vez implementado, aos ganhos auferidos vão além dos mencionados anteriormente, dado que seu sucesso em mudanças culturais dentro da organização serve como alicerce para a implementação de muitas outras ferramentas da qualidade. Todavia, é importante destacar que para que se tenha sucesso em programa de melhoria contínua como um todo, o envolvimento e comprometimento da alta direção é crucial, além do desenvolvimento de lideranças, o emprego de operações padrões para monitorar a adesão 12 ao programa e a quantificação dos resultados das auditorias das áreas de abrangência do programa. 1.2 Metodologia Balanced Scorecard (BSC) Criado por Robert Kaplan e David Norton, na década de 1990, o Balanced Scoredcard, conhecido como BSC, trata de um método multifuncional que melhorou a eficácia de implementação da estratégia empresarial e a avaliação dos resultados, aliada a uma diferenciação frente as metodologias usuais, em função da utilização de diversos indicadores de desempenho, em contraponto aos sistemas de avaliação que se norteavam apenas sob a perspectiva financeira dos resultados. Em linhas gerais, da aplicação do método, resultaram em uma melhora da percepção gerencial do desempenho organizacional e, consequentemente, na conquista da excelência em sua área de atuação. O método tem por concepção a interligação de quatro vertentes que estabelecem entre si, relações de causa e efeito com o planejamento estratégico da organização, isto é, com a missão, a visão, os valores e a estratégia. 13 Figura 2 – Representação esquemática das perspectivas do BSC Fonte: acervo Platos. As quatro vertentes são apresentadas abaixo sob as seguintes perspectivas: 14 • Perspectiva do cliente: orientada a participação de mercado da organização e na satisfação do cliente (captação, experiência da compra e fidelização). • Perspectiva financeira: envolve a análise e relação da estratégia da organização com os resultados financeiros, como o crescimento e a rentabilidade. • Perspectiva dos processos internos: abordagem com foco na melhoria de processos críticos como estratégia para o desenvolvimento da inovação, operação (custos, qualidade e clientes) e pós-venda. • Perspectiva do aprendizado e do crescimento: treinamento interno, estímulo a pesquisa e desenvolvimento e aquisição/ substituição de equipamentos. As principais vantagens do BSC se traduzem na conexão que se estabelece entre o planejamento estratégico a uma execução vinculada às quatro perspectivas, sempre em busca dos objetivos definidos pela alta direção. Uma vantagem é a exposição da estratégia em termos operacionais, mediante emprego de indicadores de desempenho mensuráveis, metas e iniciativas, de modo a envolver: todos os colaboradores; a vinculação de um planejamento a execução da estratégia; o favorecimento da comunicação entre a equipe e o estímulo a cultura do aprendizado. 1.3 Metodologia Seis Sigma O surgimento da metodologia Seis Sigma se deu na década de 1980, sendo seu desenvolvimento concebido pela empresa Motorola, que visava reduzir defeitos de fabricação e, consequentemente, custos e impactos na imagem corporativa, por conta da insatisfação de cliente. 15 O termo é usualmente utilizado e se refere ao estabelecimento de uma escala para níveis mais altos de melhoria ou qualidade. Nesse contexto, Seis Sigma significa que para se alcançar a qualidade, um processo de produção, por exemplo, não deve produzir mais do que 3,4 defeitos por milhão de oportunidade. Sendo uma oportunidade definida como uma chance de não conformidade, o que condiciona o processo a cultura do zero defeito, ao invés de se aceitar que os erros são inevitáveis ou aceitáveis. O método Seis Sigma se caracteriza por seu enfoque e abordagem analítica, baseando-se em fatos estatisticamente comprovados, que visam melhorar o funcionamento das empresas e assegurar a garantia da qualidade dos serviços e/ou produtos aos consumidores. Segundo Werkema (2012), o principal objetivo do Seis Sigma é a redução de custos e a promoção da melhoria da qualidade em produtos e processos. A lógica do processo está vinculada no foco ao alcance das metas estratégicas da organização, por meio do emprego de ferramentas e métodos quantitativos na melhoria de processos e produtos pré- existentes, como o DMAIC e o DMADV; somado a capacitação específicas para formação dos especialistas responsáveis pela execução dos projetos Seis Sigma. O detalhamento do desenvolvimento de um projeto Seis Sigma, incluindo a coordenação e os diferentes níveis de aprofundamento do programa (Black Belts, Green Belts, Yellow Belts, White Belts) serão detalhados posteriormente. 1.4 Just in Time e a melhoria contínua O Just in Time (JIT) é um sistema de planejamento e controle da produção, sendo parte do conceito de produção enxuta (Lean Manufacturing), concebido por Taiichi Ohno (GUERRINI, 2014), que busca a otimização 16 dos recursos, por meio da minimização e/ou eliminação de perdas ou estoque desnecessários. Sendo, portanto, um conjunto de técnicas que objetivam a melhoria contínua do sistema de produção. Em tradução livre, Just in time, significa tempo certo ou, em uma linha de produção, no momento exato. No contexto industrial, entende-se que as matérias-primas estarão disponíveis na fábrica apenas quando for demandada na linha de montagem, por exemplo, conforme o fluxo de informação e de materiais, sempre respondendo a demanda. Para que consigamos manter um fluxo ideal a produção, não poderá ser mais rápida ou devagar que a demanda do cliente. Para alinhar a velocidade da produção, é determinado o Takt Time, que nada mais é que o ritmo/ tempo em que deve ser produzido determinado produto. Outro conceito envolve o Lead time, definido como o período entre o recebimento de um pedido e sua conclusão com a entrega ao cliente. O sucesso da produção puxada está na sincronia do Takt Time e da produção em fluxo, na medida em que estes reduzem, consequentemente, o Lead Time de produção. Nesse conceito, se produz o necessário, no momento certo para utilização imediata, de modo que a produção tenha fluxo contínuo por meio das diferentesetapas da produção. Isso evitando estoques parados e custos relativos, uma vez que o processo está diretamente relacionado ao conceito de produção por demanda. Os princípios e objetivos do Just in Time estão alinhados à melhoria contínua dos processos na medida em que buscam, segundo Rodrigues (2014): • Dispor de ambientes limpos e organizados. • Focar em células de produção. • Possuir sistemas à prova de falhas humanas. 17 • Aumentar a integração operador versus máquina. • Dispor de sistema de produção puxada pelo cliente. • Reduzir ou zerar estoque em todo processo. • Zerar a produção com defeitos e desperdícios. • Garantir a qualidade total. Em que pese as vantagens acima listadas, o processo apresenta limitações quanto sua aplicação em todos os setores, dado que em muitas organizações não há grandes regularidades nos pedidos, sendo as oscilações de demanda parte inerente do negócio. Importante destacar também que para que ter sucesso nessa prática, é preciso dispor de fornecedores que possam assegurar a entrega da matéria- prima na hora certa e livre de atrasos e erros. 1.5 Gestão da Qualidade Total (GQT) A Gestão da Qualidade Total (GQT) é uma abordagem de negócios que se caracteriza por analisar os produtos e serviços fornecidos, relacionando-os com os processos empregados pela empresa em sua criação, visando garantir que estes satisfaçam totalmente os requisitos e expectativas do cliente. Entre as múltiplas definições de Gestão da Qualidade Total, em função de sua ampla aplicabilidade e, portanto, de seu caráter evolutivo, pode ser definida precisamente como: A Gestão da Qualidade Total também é definida como um processo orientado para o cliente e com metas para melhoria contínua das operações comerciais. A garantir que todo o trabalho relacionado (em particular o trabalho dos empregados) seja direcionado para os objetivos comuns de melhorar a qualidade do produto ou a qualidade do serviço 18 prestado, bem como o processo de produção ou execução dos serviços. No entanto, o foco está na tomada de decisão baseada em evidências, com o uso de medidas de desempenho para monitorar o progresso. (LUTRA et al., 2020, p. 19) Sua aplicação é abrangente, tanto na integração de todas as funções dentro de uma organização (incluindo o financeiro, engenharia, design, produção, logística, atendimento ao cliente, entre outros) quanto na aplicabilidade, como no setor de serviços (saúde, transporte, alimentação, tecnologia da informação etc.) e no industrial, podendo ser aplicado também no setor público. Os princípios-chave da GTQ se baseiam em quatro pilares: • Compromisso da alta direção. • Empoderamento dos empregados. • Melhoria contínua. • Foco no cliente. O compromisso e o envolvimento da alta direção deve ser claro e orientado para o treinamento, o controle dos processos e resultados. A demonstração de compromisso e liderança é peça-chave, portanto, na medida em que a GQT é uma decisão estratégica da organização. O empoderamento dos empregados está orientado no sentido de que todos devem ser qualificados para atuar em prol da qualidade em todos os seus desdobramentos, com foco no trabalho em equipe e na liderança permeando todos os setores. A atitude passa, portanto, pela valorização do capital humano ao reconhecer e estimular sua capacidade na resolução de problemas. O perfeito alinhamento da equipe objetiva, ainda, a permanente busca pela perfeição a partir da mudança de atitude e de comportamento, 19 com foco na melhoria contínua por meio do emprego das ferramentas da qualidade, visando a redução de defeitos e, em última instância, a satisfação do cliente. Para o controle total da qualidade do processo, deve-se lançar mão da ferramenta denominada ciclo do PDCA, que consiste em quatro ações que incluem: Planejar (Plan), Fazer (Do), Checar (Check) e Agir (Act). Além do PDCA, que será detalhado no conteúdo seguinte, podemos citar como práticas usuais de gerenciamento da qualidade total: • Histograma. • Gráfico de Pareto. • Gráfico de dispersão. • Carta controle. A geração e análise de dados e o detalhamento destas ferramentas numéricas serão objeto de estudo no ainda nesta disciplina. Aprenderemos extrair as informações dos dados obtidos e como estes podem ser aplicados no contexto da melhoria contínua. Em síntese, pudemos aprender ao longo deste conteúdo os conceitos relativos as principais ferramentas da qualidade e sobre como estas podem ser aplicadas para atender e exceder de maneira consistente os requisitos do cliente. No contexto da melhoria contínua, o céu deve ser encarado como o limite da excelência! Referências CAMPOS, V. F. TQC Controle da Qualidade Total no estilo japonês. Nova Lima: Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. 20 GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; JUNIOR, W. A. Planejamento e controle da produção – Projeto e operação de sistemas. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. LUTRA, S.; GARG, D.; AGARWAL, A. et al. Total quality management (TQM): principles, methods, and applications. Boca Raton: CRC Press, 2020. ( RODRIGUES, M. V. Entendendo, aprendendo e desenvolvendo sistema de produção Lean Manufacturing. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. TONIAZZO, R. 5S muito além da limpeza e organização. E-book: Producente, 2016. WERKEMA, C. Lean Seis Sigma. Rio de Janeiro: Campus, 2012. 21 A Melhoria Contínua sob a ótica do PDCA e DMAIC Autoria: Caio Cardinali Rebouças Leitura crítica: Tobias Leonardo Kunrath Objetivos • Apresentar o método do PDCA e a metodologia DMAIC. • Compreender e diferenciar o PDCA do DMAIC. • Saber implantar o PDCA e/ou DMAIC em projetos e processos de melhoria. 22 1. A melhoria contínua sob a perspectiva do PDCA e DMAIC Vimos sobre as principais ferramentas da qualidade aplicadas para o aperfeiçoamento de processos, produtos e serviços em organização que buscam incessantemente a melhoria contínua. No presente conteúdo, abordaremos especificamente o método PDCA e a metodologia DMAIC no âmbito da melhoria contínua aplicada a projetos e processos. Vamos aprender mais sobre esses métodos! 1.1 Ciclo do PDCA Conforme vimos em Controle Total da Qualidade, a busca pela melhoria contínua passa pela aplicação do método denominado Ciclo do PDCA. O Ciclo do PDCA pode ser entendido como um método de gestão para o controle de processos. O ciclo em si é desenhado para que fluxo represente o caminho a ser trilhado para que as metas definidas possam ser atingidas. Também denominado de Ciclo de Deming ou Ciclo de Shewhart, o PDCA propõe a melhoria contínua por meio de um ciclo contínuo de quatro ações que incluem: Planejar (Plan), Fazer (Do), Checar (Check) e Agir (Act), com o objetivo de compreender as interrelações entre o surgimento ou causa do problema e a forma como deve ser solucionado, conforme apresentado na Figura 1. 23 Figura 1 – Representação do ciclo do PDCA Fonte: orsonsurf/iStock.com. Podemos descrever as etapas do ciclo do PDCA como: Plan (planejamento): fase inicial e crucial, na qual os colaboradores elencam problemas e dúvidas que precisam ser equacionadas para a solução. Quando elaborado por um bom número de colaboradores, há melhor compreensão da análise do problema, assim como quando acompanhado por uma pesquisa e coleta de dados que evidencie o problema. Do (execução): desenvolvida a etapa de planejamento, uma proposta de solução é definida, assim como uma estratégia é formulada e implementada na etapa de execução para enfrentar os desafios que 24 venham a se apresentar aos colaboradores. Em síntese, trata-se de executar o que fora planejado. Check (checar): esta etapa avalia a eficiência e eficácia das estratégias empregadas, por meio da realização de uma análise comparativa de antes e depois para medir os resultados. O checar permite avaliar se o resultado esperado foi alcançado ou não, além de auxiliar na identificação de causas ou falhas no processo que possam ser ajustadas ou complementadas para que se tenha sucessona melhoria-alvo. Act (agir): durante esta fase, os resultados obtidos são documentados para que possam ser analisados criticamente pela equipe envolvida no processo para que se possa rever o planejamento ou avançar para a resolução de outros problemas que visem melhoria contínua, utilizando como referência o processo em outros setores da empresa. Além do PDCA, podemos citar como práticas usuais de gerenciamento da qualidade total as seguintes ferramentas: • Checklist. • Histograma. • Gráfico de Pareto. • Diagrama de causa e efeito (Ishikawa). • Gráfico de dispersão. • Análise de modos de falha e efeitos (FMEA). • Carta controle. Convém destacar que a utilização de métodos, como o PDCA, associado a ferramentas para o controle da qualidade, tem efeito sinérgico quando atuam em conjunto, viabilizando a obtenção de resultados. 25 Para que possamos entender a importância das ferramentas analíticas dentro do Ciclo do PDCA, é preciso que tenhamos clareza que o resultado (meta) é obtido por meio do método empregado (PDCA). Para tanto, quanto maior o número de informações, como dados, conhecimento e fatos forem coletados, analisados e dispostos, durante o Ciclo do PDCA, maiores as chances de sucesso. Nesse sentido, ferramentas estatísticas são valiosas para análise de dados gerados para a melhoria contínua, como a utilização de indicadores, sistematização e segmentação de dados e, em maior escala, business intelligence. 1.2 Metodologia DMAIC A metodologia DMAIC foi desenvolvida pela empresa Motorola, na década de 1980, para reduzir de defeitos de fabricação e, consequentemente, custos e impactos na imagem corporativa, por conta da insatisfação de cliente. O termo é usualmente utilizado e se refere ao estabelecimento de uma escala para níveis mais altos de melhoria ou qualidade. Nesse contexto, Seis Sigma significa que para alcançar a qualidade, um processo de produção, por exemplo, não deve produzir mais do que 3,4 defeitos por milhão de oportunidade. Sendo uma oportunidade definida como uma chance de não conformidade, o que condiciona o processo a cultura do zero defeito, ao invés de se aceitar que os erros são inevitáveis ou aceitáveis. O método Seis Sigma se caracteriza por seu enfoque e abordagem analítica, baseando-se em fatos estatisticamente comprovados, que visam melhorar o funcionamento das empresas e assegurar a garantia da qualidade dos serviços e/ou produtos aos consumidores. 26 Segundo Werkema (2012), o principal objetivo do Seis Sigma é a redução de custos e a promoção da melhoria da qualidade em produtos e processos. A lógica do processo está vinculada no foco ao alcance das metas estratégicas da organização, por meio do emprego de ferramentas e métodos quantitativos na melhoria de processos e produtos pré- existentes, como o DMAIC e o DMADV, somado à capacitação específica para formação dos especialistas responsáveis pela execução dos projetos Seis Sigma. O que é o DMAIC? Trata-se de uma sigla que significa: Definir (D), Mensurar (M), Analisar (A), Melhorar (M) e finalmente, Controlar (C). Sendo, portanto, a representação de ciclo sem fim de melhoria contínua. Podemos observar a representação desse ciclo na figura abaixo, com esses termos em inglês. 27 Figura 2 – Representação esquemática do ciclo DMAIC Seis Sigma Fonte: Shutterstock.com. Em linhas gerais, a estratégia DMAIC significa: • Definir: identificar o problema e estabelecer metas claras para o setor/ atividade e as melhorias desejadas. • Mensurar: segmentar o problema e levantar causas potenciais, além de extrair dados confiáveis para estabelecer métricas válidas de medição para contenção do problema. • Analisar: analisar a causa raiz do problema e definir caminhos para eliminá-lo, baseando em dados qualitativos e numéricos, como análise estatística. 28 • Melhorar: a partir da comprovação da causa raiz, deve-se elaborar e implementar as ações corretivas. • Controlar: assegurar que o atingimento da meta seja mantido a longo prazo, por meio da avaliação dos resultados e processos. A execução estruturada do DMAIC inclui a preparação, planejamento e organização das ações, o estabelecimento dos métodos de avaliação para mensuração dos resultados e o engajamento de um grupo numeroso de colaboradores de diferentes áreas e hierarquia, além do envolvimento e estímulo da alta direção. A geração e análise de dados e o detalhamento destas ferramentas numéricas serão objeto de estudo ainda nesta disciplina. Aprenderemos a extrair as informações dos dados obtidos e como estes podem ser aplicados no contexto da melhoria contínua. Em síntese, pudemos aprender, ao longo deste conteúdo, os conceitos relativos às principais ferramentas da qualidade e sobre como estas podem ser aplicadas para atender e exceder de maneira consistente os requisitos do cliente. No contexto da melhoria contínua, o céu deve ser encarado como o limite da excelência! Referências CAMPOS, V. F. TQC Controle da Qualidade Total no estilo japonês. Nova Lima: Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. LUTRA, S.; GARG, D.; AGARWAL, A. et al. Total quality management (TQM): principles, methods, and applications. Boca Raton: CRC Press, 2020. RODRIGUES, M. V. Entendendo, aprendendo e desenvolvendo sistema de produção Lean Manufacturing. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. SELEME, R.; STADLER, H. Controle da Qualidade – As ferramentas essenciais. Curitiba: IBPEX, 2010. WERKEMA, C. Lean Seis Sigma. Rio de Janeiro: Campus, 2012. 29 Geração e análise de dados voltados à melhoria contínua Autoria: Caio Cardinali Rebouças Leitura crítica: Tobias Leonardo Kunrath Objetivos • Definir o que são dados e apresentar exemplos. • Definir o que são variáveis e apresentar exemplos. • Apresentar as ferramentas de análise de dados 30 1. Geração e análise de dados Geração e análise de dados são importantes para projetos e processos de melhoria contínua, pois ajudam a identificar problemas e oportunidades de melhoria, além de fornecerem insights para a tomada de decisões estratégicas. A geração de dados pode ser feita de diversas formas, incluindo a coleta de dados existente, a realização de entrevistas e pesquisas, e a observação do comportamento das pessoas. Uma vez que os dados são gerados, devem ser analisados de forma a identificar padrões e tendências. Esta análise pode ser feita manualmente ou por meio de software de análise de dados. Os dados também podem ajudar a identificar oportunidades de melhoria e fornecer um direcionamento para as ações necessárias para alcançar os objetivos desejados. No presente conteúdo, abordaremos o conceito de dados e as diferenças entre dados estruturados, semiestruturados e não estruturados. Veremos o conceito de variável e as diferenças entre variáveis qualitativas e quantitativas. Por fim, entenderemos as principais técnicas para geração e análise de dados, como: Lista de controle, Histograma, Diagrama de Pareto e Diagrama de Dispersão. 1.1 Dados Os dados são a base de todo projeto e processo de melhoria contínua, fornecem a informação necessária para que seja possível tomar decisões e ações baseadas em fatos. Sem os dados, seria impossível saber se as melhorias estão sendo bem-sucedidas e se estão alcançando os objetivos desejados. Os dados podem ser obtidos de diversas fontes, como registros históricos, experimentos, medições e análises, e devem ser tratados 31 de forma a garantir sua precisão e validade, para que possam ser confiáveis. Além disso, devem ser armazenados de forma segura e acessível, para que possam ser usados quando necessário. Os dados podem ser organizados em dados estruturados, semiestruturados e não estruturados. • Dados estruturados: os dados estruturados são dados que estão organizados de forma a permitir um processamento eficiente. Geralmente, são armazenados em um banco de dados relacional e podem ser facilmente consultados usando uma linguagem de consulta estruturada, como o SQL. Exemplos:tabelas utilizadas no ambiente empresarial (linhas e colunas organizadas), banco de dados relacionais, planilhas eletrônicas. • Dados semiestruturados: os dados semiestruturados são aqueles que possuem alguma estrutura, mas não o suficiente para serem considerados estruturados. Podem conter algumas marcações, como tags HTML, mas não são organizados de forma a permitir um processamento eficiente. Exemplos: documentos XML, arquivos de texto, e-mails. • Dados não-estruturados: dado não estruturado é qualquer informação que não se encaixa em um formato predefinido ou que não pode ser facilmente analisada por meio de técnicas de processamento de dados convencionais. Exemplos: imagens, áudio, vídeo. 1.2 Variáveis As variáveis são importantes em processos de melhoria contínua, pois podem ser usadas para monitorar e controlar os processos. Essas variáveis podem ser organizadas da seguinte forma, conforme Figura 1. 32 Figura 1 – Organização das variáveis Fonte: elaborada pelo autor. As variáveis qualitativas são características que podem ser medidas, mas não podem ser quantificadas. As variáveis qualitativas são usadas para identificar as características dos processos e podem ser definidas por várias categorias, ou seja, representam uma classificação dos indivíduos. Além disso, estão organizadas em nominal e ordinal: • Variável qualitativa nominal: consiste em nomes, rótulos ou categorias. Os dados não podem ser ordenados. Exemplos: tipo de defeito (arranhão, trinca, amassado), time preferido (Flamengo, São Paulo, Cruzeiro), religião (Católica, Protestante, Evangélica), estado Civil (solteiro, casado, viúvo), nacionalidade, sexo etc. • Variável qualitativa ordinal: as variáveis podem ser organizadas em alguma ordem, mas diferenças entre os valores dos dados não podem ser determinados. Exemplos: classe social (A, B, C, D, E), grau de satisfação (satisfeito, insatisfeito), imagem da marca (boa, regular, ruim), escolaridade etc. 33 As variáveis quantitativas são características que podem ser medidas e quantificadas e são usadas para monitorar as variações nos processos, discreta e contínua são os dois tipos de variáveis quantitativas. • Variável quantitativa discreta: número de valores finitos ou uma quantidade enumerável e não assumem valores fracionários. São variáveis expressas por números (0, 1, 2, 3, 4, ...). Exemplo: número de peças não-conformes, número de produtos defeituosos, número de projetos atrasados, número de atendimento por hora etc. • Variável quantitativa contínua: expressas por números reais e que podem assumir qualquer valor ao longo de uma escala. Exemplo: diâmetro de um pneu (centímetros), consumo de água (litros), peso (quilograma), temperatura (grau Celsius), tempo (segundos) etc. Variáveis em projetos e processos de melhoria contínua são elementos que podem ser medidos ou controlados para produzir resultados desejados. Além disso, variáveis de projetos e processos de melhoria contínua podem incluir fatores ambientais, operacionais, de pessoal e de equipamento. As variáveis podem ser organizadas em: internos ou externos ao sistema, de controles ou indicadores. • Variável interna: variáveis internas ao sistema podem ser medidas e controladas pelo projeto ou pelo processo de melhoria contínua. Essas variáveis estão no sistema e podem ser modificadas para melhorar o desempenho. Por exemplo, a temperatura interna de um forno pode ser ajustada para obter um resultado desejado. • Variável externa: variáveis externas ao sistema não podem ser medidas ou controladas pelo projeto ou pelo processo de melhoria contínua. Essas variáveis estão fora do sistema e não podem ser modificadas para melhorar o desempenho. Por exemplo, a temperatura do ar fora do forno não pode ser alterada para melhorar o desempenho sem interferência de outra variável. 34 • Variável de controle: variáveis de controle são usadas para monitorar e manter o sistema em um estado desejado. As variáveis de controle podem ser internas ou externas ao sistema. Por exemplo, a temperatura do ar fora do forno pode ser usada como uma variável de controle para manter o forno em um estado desejado. • Variável de indicador: variáveis de indicadores são usadas para monitorar o desempenho do sistema. As variáveis de indicadores podem ser internas ou externas ao sistema. Por exemplo, a temperatura interna do forno pode ser usada como uma variável de indicador para monitorar o desempenho do forno. 1.3 Ferramenta de análise de dados As ferramentas de análise de dados são importantes em projetos e processos de melhoria contínua porque ajudam a identificar problemas e monitorar processos. Fornecem uma maneira de visualizar os dados para que as pessoas possam tomar decisões baseadas em dados. Além disso, as ferramentas de análise de dados são úteis para identificar tendências, monitorar o progresso e avaliar o impacto de mudanças. Nesse sentido, as ferramentas de análise de dados são usadas para analisar variáveis e dados, e para visualizar como os valores de uma variável se relacionam com os valores de outra variável. As ferramentas de análise de dados também são utilizadas para calcular a frequência com que os valores ocorrem em um conjunto de dados. As ferramentas mais utilizadas são: lista de controle, histograma, diagrama de Pareto e diagrama de dispersão. 1.3.1 Lista de controle A lista de controle, também conhecida como folha de verificação, é um formulário utilizado para coletar e analisar dados com a finalidade 35 de melhorar a qualidade de um projeto ou processo. Essa ferramenta é um formulário estruturado e tem como objetivo observar quantas vezes um problema ocorre em um processo, em função de um período determinado. Algumas situações em que a ferramenta pode ser utilizada: ao coletar dados de um processo de produção, ao coletar dados sobre a frequência de defeitos. Para colocar em prática, é necessário seguir alguns passos, conforme Figura 2. Figura 2 – Sequência de passos para implementar a lista de controle Fonte: elaborada pelo autor. O Quadro 1, abaixo, apresenta um exemplo de lista de controle para organizar a quantidade de defeitos por determinada categoria durante os dias da semana. Quadro 1 – Lista de controle Tipos de defeito Dia da semana Segunda- feira Terça-feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta-feira Defeito A 10 12 11 12 16 Defeito B 2 5 1 2 6 Fonte: elaborado pelo autor. 36 1.3.2 Histograma Um histograma é um gráfico de barras que representa a distribuição de frequências de um conjunto de dados. É útil para visualizar a dispersão dos dados e identificar tendências. O histograma é construído a partir de dados agrupados em classes, onde cada classe representa um intervalo de valores. A altura de cada barra representa o número de observações que caem dentro da classe. A Figura 3 ilustra o exemplo de como cinquenta clientes avaliaram a satisfação com determinado serviço. Pelo histograma, é possível perceber que 14% avaliaram o serviço como péssimo, 20% como ruim, 30% como regular, 20% como bom e 16% como excelente. Figura 3 – Exemplo: histograma Fonte: elaborada pelo autor. 37 1.3.3 Diagrama de Pareto O diagrama de Pareto, também conhecido como 80-20, é uma técnica usada para analisar a relação entre variáveis. É baseado na ideia de que 80% dos efeitos podem ser atribuídos a 20% das causas. O diagrama de Pareto é considerado como uma ferramenta analítica, usada para visualizar e classificar dados em ordem decrescente de importância. Essa ferramenta também é conhecida como o Princípio de Pareto, ou o 80-20 Rule. Para usar o diagrama de Pareto, os dados devem ser classificados em ordem decrescente de importância. Uma vez que os dados estejam classificados, podem ser plotados em um gráfico de barras, onde as barras mais altas representam os valores mais altos. O diagrama de Pareto é útil para identificar as áreas onde uma mudança terá o maior impacto. Além disso, tambémpode ser usado para avaliar quais problemas devem ser abordados primeiro. Esse diagrama pode ser usado para analisar qualquer conjunto de dados que possa ser dividido em categorias. É particularmente útil para a análise de dados qualitativos, como problemas, defeitos ou falhas. Algumas situações em que isso pode ser observado: • Na logística, 80% dos atrasos derivam de 20% das possíveis causas. • Na venda, 80% da receita deriva de 20% dos clientes ou 20% dos produtos. • Na fábrica, 80% do tempo de indisponibilidade deriva de 20% dos problemas. A Figura 4 apresenta a sequência de passos para colocar em prática a utilização do diagrama de Pareto. 38 Figura 4 – Sequência de passos para implementar o diagrama de Pareto Fonte: elaborada pelo autor. A Figura 5 apresenta um exemplo de diagrama de Pareto. Neste exemplo, os dados foram organizados de acordo com a quantidade de reprovações por tipo de reprovação. Figura 5 – Diagrama de Pareto Fonte: elaborada pelo autor. 39 1.3.4 Diagrama de dispersão O diagrama de dispersão, também conhecido como diagrama de correlação, é um tipo de gráfico usado para visualizar e analisar a relação entre duas variáveis, que mostra como as duas variáveis estão relacionadas e pode ser usado para prever o comportamento de uma variável com base no valor de outra variável. O diagrama de dispersão pode ser útil para descobrir padrões ou tendências, bem como para identificar outliers (dados que estão fora do padrão). O objetivo principal é determinar o grau de correlação entre duas variáveis. Correlação é uma medida estatística que descreve a relação linear entre duas variáveis. Existem três tipos principais de correlação: positiva, negativa e nula. • Correlação positiva: significa que duas variáveis estão relacionadas de forma que quando uma variável aumenta, a outra também aumenta. Exemplo: uma correlação positiva pode ser vista quando se analisam os níveis de educação e renda. Quanto maior o nível de educação, geralmente, maior é a renda. • Correlação negativa: significa que duas variáveis estão relacionadas de forma que quando uma variável aumenta, a outra diminui. Exemplo: uma correlação negativa pode ser vista quando se analisam os níveis de estresse e bem-estar. Quanto maior o nível de estresse, geralmente, menor é o bem-estar. • Correlação nula: uma correlação nula significa que não há relação linear entre as duas variáveis. Exemplo: uma correlação nula pode ser vista quando se analisam os níveis de temperatura e umidade. Quanto maior a temperatura, não há uma correlação clara com o nível de umidade. 40 A Figura 6 apresenta um exemplo de correlação negativa entre nível de satisfação e o tempo de resposta. Quanto menor o tempo de resposta, maior o nível de satisfação. Figura 6 – Correlação entre nível de satisfação e tempo de resposta Fonte: elaborada pelo autor. Referências CAMPOS, V. F. TQC Controle da Qualidade Total no estilo japonês. Nova Lima: Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; JUNIOR, W. A. Planejamento e controle da produção – Projeto e operação de sistemas. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. LUTRA, S.; GARG, D.; AGARWAL, A. et al. Total quality management (TQM): principles, methods, and applications. Boca Raton: CRC Press, 2020. RODRIGUES, M. V. Entendendo, aprendendo e desenvolvendo sistema de produção Lean Manufacturing. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. 41 Gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua Autoria: Caio Cardinali Rebouças Leitura crítica: Tobias Leonardo Kunrath Objetivos • Compreender a diferença entre projeto e processo de melhoria contínua. • Apresentar os fatores de sucesso e insucesso na gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua. • Apresentar uma aplicação prática. 42 1. Gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua A gestão de projetos e processos de melhoria contínua é uma área de grande importância para as organizações que buscam aumentar a eficiência e a eficácia de seus processos. Essa atividade de melhoria contínua requer o envolvimento de todos os setores da empresa, bem como a definição de indicadores de desempenho que sirvam de base para a medição dos resultados alcançados. Como resultado, as organizações conseguem aumentar a produtividade, reduzir custos, melhorar a qualidade dos produtos ou serviços, melhorar a imagem da empresa perante o mercado etc. No presente conteúdo, abordaremos o conceito e as diferenças de projetos e processos de melhoria contínua. Veremos os fatores de sucesso e insucesso na gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua. Por fim, apresentaremos uma aplicação prática sobre gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua. 1.1 Projeto de melhoria contínua O projeto de melhoria contínua é um conjunto de tarefas, que visa identificar e implementar medidas para melhorar a eficiência e o desempenho de uma organização. Esse conjunto de tarefas tem uma duração predeterminada, com início e fim definidos claramente. Normalmente, projetos de melhoria contínua apresentam um escopo definido, prazo de conclusão e trabalho em equipe. As principais etapas para implementar um projeto de melhoria contínua são apresentadas na Figura 1. 43 Figura 1 – Principais etapas para implementar um projeto de melhoria contínua Fonte: elaborada pelo autor. 1. Identificar o problema ou área de oportunidade: o primeiro passo é identificar onde a melhoria é necessária. Isso pode ser feito por meio de análises internas ou de feedback externo. 2. Definir objetivos e metas: é importante que os objetivos do projeto sejam bem definidos e mensuráveis. Além disso, os objetivos e metas devem ser alinhados às estratégias empresariais da organização. 3. Planejar a implementação da solução: após identificar as áreas de melhoria e definir os objetivos e metas, a organização deve desenvolver planos de ação ou cronograma de atividades para atingir esses objetivos e metas. Esses planos devem ser documentados e devem incluir prazos, responsáveis e orçamentos. 4. Implementar soluções: colocar em prática o plano de ação ou cronograma de atividades. 5. Acompanhar e medir os resultados: é importante monitorar os resultados para garantir que as metas sejam alcançadas. Essa avaliação deve incluir uma análise dos dados antes e depois da implementação das melhorias, bem como uma comparação com os objetivos iniciais. A gestão de projetos de melhoria contínua deve ser abordada de forma proativa e preventiva, considerando todos os aspectos do negócio e do ambiente organizacional. Além disso, os projetos devem ser estruturados e implantados de forma a atender às necessidades 44 específicas da organização, considerando seus objetivos, valores e cultura. Normalmente, as práticas de melhoria contínua começam a ser implementadas por meio de projetos e após um determinado período se tornam processos. Esse período varia de acordo com o tipo de organização e com o grau de maturidade em relação as ferramentas da qualidade. 1.2 Processo de melhoria contínua Para entender o que é processo de melhoria contínua, é necessário fazer um sobrevoo pelos processos de negócios. Nesse sentido, processos de negócios podem ser definido como qualquer trabalho que: • Seja recorrente. • Afete algum aspecto da capacitação da empresa. • Envolva a coordenação de esforços para a sua realização. Os processos de negócio, geralmente, são divididos em dois grandes grupos: os processos de suporte e os processos operacionais. Os processos de suporte são aqueles que apoiam as atividades principais da empresa, como a melhoria contínua, o financeiro e o marketing. Por outro lado, os processos operacionais são aqueles diretamente envolvidos na entrega de produtos ou serviços aos clientes, como o processo de fabricação ou o processo de atendimento ao cliente. O esquema clássico para visualizar um processo é apresentadona Figura 2. A definição de processo pela descrição da transformação de inputs em outputs, não é suficiente para especificar o assunto que interessa. 45 Figura 2 – Esquema clássico para visualizar um processo Fonte: elaborada pelo autor. Um processo típico também envolve endpoints, transformações, feedback e repetibilidade. Dado isso, processo de melhoria contínua pode ser definido como uma sequência de atividades que ocorre de maneira contínua e rotineira, gera resultados constantes e padronizados e suporta a organização nas atividades principais da empresa. Essa sequência de atividades tem responsáveis, que estão associados a estrutura organizacional da empresa e são integrados com a cadeia de valor da empresa. Nas organizações, é comum existir departamentos ou setores de melhoria contínua. Esses departamentos ou setores atuam por meio de processos padronizados, ou seja, processam um conjunto de inputs por meio da sequência de atividades estabelecida e geram um conjunto de outputs. 1.3 Fatores de sucesso e insucesso na gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua As organizações estão constantemente buscando melhorias em seus processos e na gestão de seus projetos. Para atingir esses objetivos, 46 é necessária a implantação de processos de melhoria contínua. No entanto, a gestão e implantação desses processos não são tarefas simples e requerem muito cuidado e atenção. Existem diversos fatores que podem influenciar positivamente ou negativamente no sucesso da gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua. Alguns desses fatores são: a escolha do modelo de melhoria contínua a ser utilizado, a disponibilidade de recursos, o envolvimento e comprometimento da alta direção, a capacitação da equipe, entre outros. Cada um desses fatores precisa ser cuidadosamente considerado e gerenciado, para que a melhoria contínua seja bem-sucedida. Nesse sentido, apresentam-se os fatores de sucesso: • A gestão eficaz de um projeto ou processo de melhoria contínua requer um líder forte e comprometido que estabeleça uma visão clara e motivadora para o projeto ou processo. • Outro fator importante para o sucesso é a participação ativa e envolvimento de todos os envolvidos no projeto ou processo. • É fundamental que haja um comprometimento sólido com a melhoria contínua e a adoção de medidas, a fim de assegurar que os objetivos do projeto ou processos sejam alcançados. • Por fim, é preciso ter um plano de ação bem definido e seguir as etapas do projeto ou processo de melhoria contínua, de forma consistente, para alcançar os resultados desejados. São fatores de insucesso: • Falta de comprometimento dos líderes com a implementação do projeto. • Falta de envolvimento da equipe no processo de implantação. 47 • Falta de padronização dos processos. • Falta de métricas para acompanhamento dos resultados. 1.4 Aplicação prática 1.4.1 Estudo de caso – Projeto de melhoria contínua O estudo de caso, apresentado a seguir, trata da gestão e implantação de projetos de melhoria contínua em uma organização de médio porte. A organização, uma fábrica de componentes mecânicos, sofreu um grande revés nos últimos anos, devido à concorrência com fornecedores chineses. Com a queda nas vendas, a organização teve que reduzir seu quadro de funcionários em cerca de 20%. Ao mesmo tempo em que isso ocorria, a organização enfrentava problemas de qualidade em seus produtos, o que levou a reclamações dos clientes. Para reverter essa situação, a organização decidiu implantar um projeto de melhoria contínua, com o objetivo de aumentar a qualidade dos produtos e, consequentemente, as vendas. O projeto de melhoria contínua está descrito a seguir: 1. Projeto para atuação nos problemas de qualidade. Durante o projeto, foram realizadas análises de processos e identificados os principais problemas de qualidade. Para isso, foram selecionados os dois principais produtos da organização: parafusos e pinos. A partir dessa definição, os dados das últimas vinte e nove semanas foram analisados. Por meio de um diagrama de Pareto, foi possível verificar os principais problemas de qualidade. 48 Figuras 3 – Histograma dos motivos de reprovação Fonte: elaborada pelo autor. Por meio do diagrama de Pareto construído, foi verificado que o principal motivo para reprovação dos pinos era a dureza e para os parafusos o diâmetro, porém, foi realizado um levantamento do custo da não qualidade. Esse tipo de levantamento é importante para direcionar ações de redução de custo ou para tomar decisões de qual problema começar a resolver primeiro. Nesse sentido, a Figura 4 apresenta o custo total de não qualidade para as últimas vinte e nove semanas. 49 Figuras 4 – Custo da não qualidade. Fonte: elaborada pelo autor. Por meio dessa análise, é possível perceber que o custo da não qualidade dos pinos é muito superior ao custo da não qualidade dos parafusos. Dessa maneira, a empresa decidiu priorizar os problemas relacionados aos pinos. Ao verificar os principais motivos de reprovação pelo diagrama de Pareto, percebeu-se que o principal motivo de reprovação está associado a dureza do pino. A partir dessa constatação, optou-se por construir um diagrama de Ishikawa para verificar as principais causas. Esse diagrama foi construído a partir de um brainstorming, com as pessoas envolvidas do processo produtivo e está representado na Figura 5. 50 Figuras 5 – Diagrama de Ishikawa. Fonte: elaborada pelo autor. A partir da identificação das principais causas, foi identificada a causa raiz do problema, foram estabelecidas metas para a redução desses problemas, estabelecido um plano de ação para solucionar o problema e realizado a implementação da solução. Após a implementação, os resultados foram analisados e a solução padronizada na organização. 1.4.2 Estudo de caso – Processo de melhoria contínua Uma empresa gostaria de implementar um processo de melhoria contínua a partir da geração de ideias. Para isso, o setor de melhoria contínua incentivará os colaboradores a gerarem ideias e registrarem essas ideias no banco de ideias. A partir disso, o setor de melhoria contínua fará o processo de melhoria contínua, analisando quais ideias são relevantes, por exemplo. Para desenvolver isso, o setor de melhoria contínua documentou a sequência de atividades, utilizando a linguagem EPC (Event-driven Process Chain) e validou com os diretores 51 da organização. Como resultado, o processo de melhoria contínua está representado na Figura 6. Figuras 6 – Processo de melhoria contínua Analisar as ideias registradas Setor de melhoria contínua Analisar relevância das ideias propostas considerando visão estratégica da empresa Banco de Ideias Banco de Ideias Classificar as ideias propostas, definindo quais serão aprovadas. Banco de Ideias Ideias aprovadas Ideias que podem ser refinadas e resubmetidas Ideias reprovadas Comunicar ao colaborador sobre a aprovação da ideia Setor de melhoria contínua Definir próximos passos para implementação da ideia Setor de melhoria contínua Colaborador comunicado sobre aprovação Comunicar ao colaborador sobre necessidade de refinar e resubmeter ideia Colaborador comunicado sobre necessidade de refinamento Comunicar ao colaborador sobre a reprovação da ideia, indicando razões Setor de melhoria contínua Colaborador comunicado sobre a reprovação da ideia Setor de melhoria contínua Setor de melhoria contínua Setor de melhoria contínua Email Email Email Realizar projetos de melhoria contínua do produto Próximos passos definidos Gerir ideias de melhoria contínua Ideia lançada no banco de ideias Fonte: elaborada pelo autor. O processo inicia por meio do registro da ideia no banco de ideias. Após isso, o setor de melhoria contínua analisa as ideias registradas, analisa a 52 relevância das ideias propostas, considerando a estratégia da empresa e classifica as ideias propostas,definindo quais serão aprovadas. Se a ideia foi aprovada, o setor de melhoria contínua comunica o colaborador sobre a aprovação da ideia e define os próximos passos para implementação das ideias. Com os próximos passo definidos, a ideia passa a ser um projeto de melhoria contínua e será implementada como um projeto. Se for solicitado o refinamento da ideia, o setor de melhoria contínua comunica o colaborador sobre a necessidade de refinar e submeter a ideia. Se a ideia for reprovada, o setor de melhoria contínua comunica o colaborador que a ideia foi reprovada. Referências CAMPOS, V. F. TQC Controle da Qualidade Total no estilo japonês. Nova Lima: Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; JUNIOR, W. A. Planejamento e controle da produção – Projeto e operação de sistemas. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. LUTRA, S.; GARG, D.; AGARWAL, A. et al. Total quality management (TQM): principles, methods, and applications. Boca Raton: CRC Press, 2020. GAYER, J. A. C. A. Gestão da qualidade total e melhoria contínua de processos. Curitiba: Contentus, 2020. LIKER, J. K.; FRANZ, J. K. O modelo Toyota de melhoria contínua: estratégia + experiência operacional = desempenho superior. Porto Alegre: Bookman, 2013. SILVA, L. C. Gestão e melhoria de processos: conceitos, técnicas e ferramentas. Rio de Janeiro: Brasport, 2015. RODRIGUES, M. V. Entendendo, aprendendo e desenvolvendo sistema de produção Lean Manufacturing. Rio de Janeiro: Elseiver, 2014. 53 Sumário Apresentação da disciplina Ferramentas da Qualidade visando a Melhoria Contínua Objetivos 1. Principais ferramentas da Qualidade Referências A Melhoria Contínua sob a ótica do PDCA e DMAIC Objetivos 1. A melhoria contínua sob a perspectiva do PDCA e DMAIC Referências Geração e análise de dados voltados à melhoria contínua Objetivos 1. Geração e análise de dados Referências Gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua Objetivos 1. Gestão e implantação de projetos e processos de melhoria contínua Referências