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265 ObjetIvOs de aprendIzagem Após estudar este capítulo, você estará ca- pacitado para: »» Definir os mais recentes métodos de re- muneração. »» Descrever a remuneração variável ou flexível. »» Elaborar um plano de bonificação anual. »» Desenhar a distribuição de ações da empre- sa aos funcionários. »» Desenhar a opção de compra de ações da empresa. »» Desenhar a participação nos resultados al- cançados. »» Desenhar a remuneração por competência. »» Desenhar a distribuição do lucro ao fun- cionário. O Que será vIstO adIante »» Recompensas e punições. »» Novos métodos de remuneração. »» Remuneração variável. »» Plano de bonificação anual. »» Distribuição de ações da empresa aos fun- cionários. »» Opção de compra de ações da companhia. »» Participação nos resultados alcançados. »» Remuneração por competência. »» Distribuição do lucro aos colaboradores. »» Como desenhar um plano de incentivos. pRoGRaMas de IncentIvos CaPítulo 10 CasO IntrOdutórIO: o dilema da rede bahia A Rede Bahia é uma cadeia de lojas de produtos de hi- giene e beleza. O presidente da companhia, Carlos Alberto Santos, quer transformar seus executivos em empreende- dores capazes de tocar as doze lojas da rede como se fos- sem pequenas empresas independentes. Seu negócio está voltado para o comércio varejista e atacadista, e a empresa sempre enfrentou as grandes lojas de departamentos e os supermercados. Para ter sucesso nessa disputa, a agilidade e a flexibilidade tornaram-se a principal receita. Daí Carlos Alberto ter optado por uma gestão descentralizada, para que cada uma das doze lojas de varejo tivesse autonomia total. O passo inicial foi definir com exatidão qual seria a atividade-fim da empresa: ser uma empresa de comércio de produtos de higiene e beleza para mulheres, homens e crianças, concluiu Carlos Alberto após ter contratado um instituto de pesquisa que entrevistou clientes, fornecedo- res e funcionários para definir a identidade da empresa. Essa definição foi fundamental, pois os gerentes de lojas chegaram a vender sabão em pó e brinquedos, o que prejudicou a imagem da empresa. O segundo passo foi estabelecer um credo que contivesse a missão do negócio e que servisse como bússola para os gerentes. Em seguida, investiu no desenvolvimento dos executivos para dar-lhes uma visão generalista e a autonomia necessária. O quarto passo a ser dado por Carlos Alberto seria criar um sistema altamente motivador de remuneração. Como fazê-lo? Não basta remunerar as pessoas pelo tempo dedica- do à organização. Não basta remunerá-las pelo que pas- sou. Isso é necessário, mas insuficiente. É preciso olhar para a frente e incentivá-las continuamente a fazer o melhor possível, a ultrapassar o desempenho atual e a alcançar metas e resultados desafiantes formulados para o futuro. A remuneração fixa funciona geralmen- te como fator higiênico e insatisfaciente, e não con- segue motivar as pessoas para a superação de metas e 266 parte Iv – reCoMpensando pessoas objetivos ou para a melhora contínua das atividades. Na verdade, a remuneração fixa foi um produto do iní- cio do século XX para compensar o trabalho rotineiro e repetitivo dos funcionários em uma época de estabi- lidade e permanência. Era uma época em que tudo se repetia indefinidamente. Mas o mundo mudou. E as organizações também. Hoje, a maior parte das organi- zações bem-sucedidas está migrando para programas de remuneração flexível e variável, capazes de motivar, incentivar e mexer com o brio das pessoas. Os progra- mas de incentivos estão em alta. E mirando o futuro. RecomPensas e PunIções As organizações dispõem de sistemas de recom- pensas (incentivos e alicientes para estimular com- portamentos desejados pela organização) e punições (castigos e penalidades – reais ou potenciais – para coibir certos tipos indesejáveis de comportamento) a fim de balizar o comportamento das pessoas que delas participam. O sistema de recompensas inclui o pacote total de benefícios que a organização coloca à disposição de seus membros, bem como os meca- nismos e procedimentos pelos quais estes benefícios são distribuídos. Não apenas salários, férias, prêmios, promoções para posições mais elevadas (com maio- res salários e benefícios) são considerados, mas tam- bém outras recompensas menos visíveis como garan- tia de segurança no emprego, transferências laterais para posições mais desafiantes ou para posições que levem ao crescimento, ao desenvolvimento adicional e a várias formas de reconhecimento pelo desempe- nho excelente.1 Por outro lado, o sistema de punições inclui uma série de medidas disciplinares que visam a orientar o comportamento das pessoas e evitar que se desvie dos padrões esperados, bem como prevenir a sua repetição (com advertências verbais ou escritas), ou ainda, em casos extremos, castigar a reincidência (com suspen- são do trabalho) ou ainda afastar o autor do convívio dos demais participantes (com o desligamento da or- ganização). O sistema de recompensas e punições é o fator que induz as pessoas a trabalhar em benefício da or- ganização.2 Este capítulo se refere às opções de remu- neração flexível como recompensas oferecidas pela organização. A parte relacionada a punições será tra- tada no Capítulo 15, “Saúde, Segurança e Qualidade de Vida”. Os principais objetivos das recompensas organiza- cionais são os seguintes:3 •» Aumentar a consciência e a responsabilidade do in- divíduo e da equipe para com a organização, isto é, incentivar a consciência da missão organizacional e o espírito de visão de futuro na empresa. •» Ampliar a interdependência do indivíduo para com a equipe e da equipe para com toda a organi- zação. Em outras palavras, incentivar o espírito de equipe e o trabalho em conjunto. •» Ajudar a enfatizar a constante criação de valor na organização. Em outras palavras, incentivar ações que agreguem valor à organização, ao cliente e às próprias pessoas. O desempenho excelente deve ser premiado. Os tipos de recompensas financeiras adotados são os seguintes:4 •» Recompensas relacionadas com alcance de objetivos organizacionais: como o lucro ou o prejuízo. A participação nos resultados anuais ou semestrais é um exemplo deste critério. Embora ainda limitadas a certos níveis, como diretores e gerentes, este critério encerra potencialmente um forte impacto motivacional. •» Recompensas vinculadas ao tempo de serviço do funcionário: e que são concedidas automati- camente em certos intervalos como 5 ou 10 anos, desde que o funcionário não tenha tido um de- sempenho insatisfatório. Os quinquênios ou decê- nios são exemplos deste critério. Tais incentivos buscam proporcionar incentivo salarial. •» Recompensas relacionadas com desempenho excepcional: exigem apenas diferenciação no de- sempenho e melhorias salariais com valor moti- vacional. É o aumento por mérito. •» Recompensas relacionadas com resultados de- partamentais, divisionais ou mesmo globais: objetivamente quantificáveis. Podem ser compar- tilhadas pela equipe, em termos de igual porcen- tagem com relação à base salarial de cada pessoa. •» Recompensas relacionadas com aumento de competências no sentido de incrementar o apren- dizado e a construção de novas competências. CapÍtULo 10 – prograMas de InCentIvos 267 Esses tipos de recompensas são concedidos – se- parada ou conjuntamente – como retribuição pelo alcance de objetivos organizacionais, como aumen- to da produção, excelência no serviço, aumento de produtividade, crescimento de vendas, aumento da margem de lucro operacional, aumento de clientes, maior satisfação da clientela ou melhora da imagem da organização. avalIaçãO CrítICa: o que vale é somente o dinheiro? O dinheiro é um fator que pode motivar as pessoas desde que utilizado de maneira apropriada. A recom- pensa financeira deve ser oportuna, no tempo certo e na medida certa. Contudo, as recompensas não financeiras representam enorme oportunidade para as organizações motivaremos colaboradores. Reconhecimento, aprova- ção social, atendimento às expectativas, clima organiza- cional no ponto certo, tapinhas nas costas e camarada- gem são altamente motivadores. O que pensar disso? O sistema de recompensas e punições deve se ba- sear nos seguintes aspectos: 1. Realimentação (retroação): deve contribuir como reforço positivo do comportamento desejado. A realimentação deve reforçar, fortalecer e incremen- tar o desempenho excelente. 2. Relacionar as recompensas oferecidas com os re- sultados alcançados. O sistema de recompensas deve levar em conta o conceito de reforço positivo de Skinner: todo com- portamento é determinado pelas suas consequên- cias. O reforço positivo se fundamenta em dois prin- cípios básicos: 1. As pessoas procuram desempenhar as atividades pelas quais obterão maiores recompensas ou be- nefícios. 2. As recompensas obtidas atuam no sentido de refor- çar cada vez mais a melhora do desempenho. O reforço positivo é orientado para os resultados desejados. A teoria do reforço positivo considera que as pessoas se comportam por uma das duas razões: 1. Porque um tipo ou nível de desempenho é consis- tentemente recompensado. 2. Porque um padrão de desempenho específico já foi recompensado, de maneira que será repetido na ex- pectativa de que a recompensa se repita. avalIaçãO CrítICa: motivação positiva ou negativa? Desafortunadamente, as organizações utilizam mais a punição do que a recompensa para alterar ou melhorar o desempenho das pessoas. Em outros termos, elas utilizam mais a ação negativa (repreen- der e punir) do que a ação positiva (incentivar e motivar). Para piorar as coisas, utilizam mais a ação corretiva (tentar corrigir, posteriormente) do que a ação preventiva (evitar antecipadamente futuros er- ros). O que acha disso? Como pode a remuneração mudar isso? Relações de intercâmbio A recompensa ou o incentivo é uma gratificação tangível ou intangível, em troca da qual as pessoas se tornam membros da organização (decisão de par- ticipar) e, uma vez na organização, contribuem com tempo, esforço ou outros recursos pessoais (decisão de desempenhar). A organização precisa cuidar da ba- lança dos incentivos-contribuições.5 E o que significa essa balança? Que as pessoas e as organizações estão engajadas em um sistema de relações de intercâmbio: as pessoas fazem contribuições à organização e dela re- cebem incentivos ou induzimentos. Assim: •» Para as pessoas, as contribuições que elas fazem à organização representam investimentos pessoais que devem proporcionar certos retornos na forma de incentivos ou recompensas. •» Para a organização, os incentivos representam in- vestimentos que também devem proporcionar re- tornos na forma de contribuições das pessoas. 268 parte Iv – reCoMpensando pessoas A organização precisa manter uma balança suficien- temente equilibrada dos incentivos-contribuições. Cada pessoa faz contribuições à organização (na forma de tra- balho, dedicação, esforço, tempo, etc.), na medida em que recebe induzimentos ou incentivos (na forma de salários, benefícios, prêmios, reconhecimento, promoções, etc.). Assim, as pessoas estão dispostas a arcar com certos cus- tos pessoais para obter certos retornos ou benefícios da organização. Também as organizações estão dispostas a arcar com certos custos para obter certos retornos ou con- tribuições das pessoas. Nesse permanente intercâmbio, cada uma das partes faz investimentos para obter retor- nos da outra, comparando custos e benefícios e decidin- do o melhor caminho. E as organizações estão partindo para novas formas de remuneração que tragam retornos em termos de desempenho excelente e alcance de objeti- vos e resultados organizacionais. Qual é o foco dos incentivos? O que se pretende com os incentivos? Quase sem- pre incentivar o alcance de objetivos e a entrega de resultados. E o foco pode estar no desempenho do car- go ou na oferta de competências individuais. A forte tendência atual é migrar para a construção de compe- tências capazes de alicerçar a competitividade organi- zacional. A Figura 1 mostra as opções. noVos mÉtodos de RemuneRação A remuneração fixa ainda predomina na maior parte das organizações. Privilegia a homogeneização e padronização dos salários, facilita a obtenção de equilí- brio interno e externo dos salários, permite o controle centralizado por um órgão de administração salarial, proporciona uma base lógica para a distribuição dos sa- lários e focaliza a atividade cotidiana e rotineira das pes- soas em função do tempo (horário de trabalho) que elas estão à disposição da organização. Contudo, a remune- ração fixa e estável não consegue motivar as pessoas. Ela funciona como mero fator higiênico e não incentiva a aceitação de riscos e novas responsabilidades. avalIaçãO CrítICa: remuneração fixa é motivadora? Em uma era de competitividade, a remuneração fixa tornou-se insuficiente para motivar e incentivar as pessoas, obter um comportamento proativo, em- preendedor e eficaz na busca de metas e resultados excelentes. Daí, a adoção de novos modelos de re- muneração, como a remuneração variável e por com- petência. Incentivos Objetivo primário Objetivo final Eficiência Eficácia Indicador Retorno sobre o investimento Baseados em cargos Incentivar o bom desempenho no cargo ocupado Cargos bem desempenhados pelos seus ocupantes Adequação dos incentivos ao melhor desempenho dos cargos Percepção dos ocupantes quanto ao impulso dado pelos incentivos ao melhor desempenho do cargo Cargos adequadamente incentivados Melhoria do desempenho da força de trabalho e custos do programa de incentivo Baseados em competências Incentivar a boa aplicação das competências individuais ou grupais Competências bem utilizadas e aplicadas ao negócio da organização Adequação dos incentivos à aplicação das competências individuais ou grupais Percepção das pessoas quanto ao impulso dado pelo incentivo à melhor aplicação das competências individuais ou grupais Competências adequadamente incentivadas Aumento da contribuição individual ou grupal e custos do programa de incentivo fIgura 1 Incentivos baseados nos cargos versus baseados em competências. CapÍtULo 10 – prograMas de InCentIvos 269 prós e COntras: remuneração fixa prós •» Facilita o equilíbrio interno (consistência dos salários na organização) e o equilíbrio externo (consistência dos salários da organização com os do mercado). •» Homogeneíza e padroniza os salários na organiza- ção. •» Facilita a administração dos salários e o seu controle centralizado. •» Permite uma base lógica e racional para a distribui- ção dos salários. •» Focaliza a execução rotineira das tarefas e a busca da eficiência. •» Afeta diretamente os custos fixos da organização. Contras •» Não apresenta motivação intrínseca: funciona ape- nas como fator higiênico. •» Não incentiva o espírito empreendedor, nem a acei- tação de riscos e maiores responsabilidades. •» Funciona como elemento de conservação da rotina e do status quo. •» Remunera as pessoas em função do tempo disponi- bilizado no horário de trabalho, e não pelo desem- penho ou pelo alcance de metas ou resultados. RemuneRação VaRIáVel Nas últimas décadas, as empresas deixaram de lado a remuneração fixa e fizeram decolar uma tendência que está ganhando espaço: remunerar as pessoas pelos resultados alcançados ou pelas competências oferecidas. Os resultados não são totalmente embolsados pela orga- nização, mas rateados entre a organização e as pessoas que ajudaram a alcançá-los. Trata-se de uma parceria que funciona nas duas vertentes, no lucro ou no prejuízo. O colaborador ganha mais se a organização ganhar, ganha menos se a organização ganhar menos e nada ganha a mais se a organização ganha apenas seu salário fixo. Remuneração variável é a parcela da remuneração total creditada periodicamente – trimestral, semestral ou anualmente – a favor do colaborador. Em geral, é de caráter seletivoe depende dos resultados estabelecidos pela empresa – seja no cargo ou na equipe – em deter- minado período pelo trabalho da equipe ou do colabo- rador tomado isoladamente. A remuneração variável deve se ancorar em quatro aspectos básicos: 1. Alinhar a remuneração variável com a conquista de resultados. 2. Avaliar o desempenho em uma base quantitativa e mensurável. 3. Atrelar a remuneração variável ao desempenho tanto individual quanto coletivo. 4. Garantir o foco na criação de valor no longo prazo, recompensando ao mesmo tempo as metas tangí- veis de curto prazo. Objetivos Alinhar a remuneração variável com a conquista de resultados Avaliar o desempenho em uma base quantitativa Atrelar a remuneração variável ao desempenho no nível individual e coletivo Garantir o foco na criação de valor no longo prazo, recompensando, ao mesmo tempo, metas tangíveis de curto prazo fIgura 2 Objetivos de um plano de remuneração variável.6 rH de HOje: migração para a remuneração flexível Algumas empresas têm feito essa migração de forma acelerada, como Rhodia, Mangels, Monsanto e Iochpe- -Maxion, que aderiram ao novo figurino. Os nomes mu- dam conforme a empresa: pay for performance, remune- ração variável ou flexível, participação nos resultados, gain sharing, salário flexível. O desenho do programa varia, 270 parte Iv – reCoMpensando pessoas mas o objetivo é o mesmo: fazer do executivo ou do fun- cionário um aliado e parceiro no negócio. Esse modelo de remuneração coloca por terra os mitos sagrados que sempre comandaram a administração salarial, como tempo de casa, lealdade ou formação escolar. Com a re- muneração variável, passam a dominar outros critérios como resultados, competências, criatividade, inovação, espírito empreendedor e valor agregado pelas pessoas. prós e COntras: remuneração flexível prós •» Ajusta a remuneração às diferenças individuais das pessoas, ao seu desempenho e ao alcance de metas e resultados. •» Funciona como motivação intrínseca, ou seja, como fator motivacional, dando ênfase à autorrealização pessoal. •» Premia o bom desempenho e incentiva o desempe- nho excepcional. •» Focaliza os resultados e o alcance de objetivos. •» Permite a autoavaliação de cada pessoa, pois funcio- na como retroação. •» Estabelece uma remuneração adicional e contingen- cial. •» Não produz impacto sobre os custos fixos da orga- nização. Contras •» Requer certa “des-administração” salarial. •» Altera as estruturas salariais lógica e rigidamente estabelecidas, instalando a contingência em função do desempenho. •» Quebra a isonomia dos ganhos na organização. •» Reduz o controle centralizado dos salários. •» Pode provocar queixas de pessoas não beneficiadas e pressões sindicais. Uma das vantagens da remuneração variável é a flexi- bilidade. Se a empresa está no vermelho, pode mirar como alvo principal o lucro. Caso precise ganhar espaço da con- corrência, elege a participação no mercado como a princi- pal meta. Os principais modelos de remuneração variável são: planos de bonificação anual, distribuição de ações da empresa aos funcionários, opção de compra de ações da companhia, participação nos resultados alcançados, remuneração por competência e distribuição do lucro aos funcionários. vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: o dilema da rede bahia Carlos Alberto pretendia um sistema avançado de remuneração para a Rede Bahia. Queria um sistema flexível de remuneração para conseguir o comprome- timento dos funcionários com os objetivos da empresa. Carlos Alberto queria explorar todas as possibilidades para motivar seu pessoal. Plano de bonIfIcação anual O plano de bonificação anual é o tipo de remune- ração variável mais encontrado no mercado. Trata-se de um valor monetário oferecido ao final de cada ano a certos colaboradores em função da sua contribuição ao desempenho da empresa. O desempenho é medido por critérios como lucratividade, aumento da partici- pação no mercado, melhora da produtividade, etc. rH de HOje: como saber quem merece o ouro7 Pouca coisa mexe mais com a adrenalina de um exe- cutivo do que o bônus anual concedido pela empresa. Alguns executivos ficam com a conta bancária recheada, enquanto outros, menos aquinhoados, queixam-se da injustiça e da subjetividade dos critérios. Centenas de milhões de dólares são pagos todos os anos no universo das 500 maiores empresas brasileiras na forma de bô- nus – o primo mais sofisticado do “bicho” recebido pelos craques do futebol. Os planos de bonificação requerem cuidadosa montagem, remontagem e administração. No fim da linha, sobram dúvidas: quanta gente recebeu mais do que devia e quanta gente recebeu menos do que merecia? Como garantir que o programa de bônus seja um fator de crescimento para o negócio? Ou como fixar metas e medi-las? Como fazer com que o bônus re- compense o desempenho extra do executivo e não a sua obrigação já remunerada pelo salário mensal? CapÍtULo 10 – prograMas de InCentIvos 271 Para afastar a subjetividade, as empresas vinculam os prêmios a resultados concretos e mensuráveis. Os novos tempos obrigaram as empresas a migrar para es- quemas mais objetivos. Primeiro: por pressão dos pró- prios executivos. Na hora de discutir o salário em um novo emprego, o candidato quer saber quanto vai levar se atingir suas metas. Segundo: qualquer aumento de salário significa uma alavanca para os custos fixos da empresa – o que, nestes tempos de competição acirra- da, é um temor. A vantagem dos programas de bônus é que eles são autofinanciáveis. O executivo só recebe se a empresa tiver os ganhos combinados no início do exercício. É nesse ponto que a empresa pode garantir um programa para estimular seus resultados. As me- tas definidas devem ser sintonizadas com a estratégia global da empresa, como fazem os integrantes de uma equipe de Fórmula 1 na hora do pit stop. Na Plascar, fabricante de autopeças em Jundiaí, SP, os objetivos são definidos a partir do plano de ação anual da empresa. É o primeiro passo. A partir daí, cada gerên- cia define suas próprias metas em sintonia com a estraté- gia geral e cada setor determina suas tarefas para ajudar a empresa a cumprir o seu plano de ação. A empresa está dividida em 100 células. Cada qual funciona como uma empresa autônoma e cujos clientes e fornecedores são outras células: uma verdadeira confederação de empre- sas. A definição de metas desce a pirâmide da organiza- ção até essas células. A partir daí, chega a cada um dos 1.900 funcionários, vista ele paletó e gravata ou maca- cão. Os 100 principais executivos têm um compromisso estratégico e recebem um bônus por ano, cujo valor pode chegar a quatro salários mensais. O bônus é calculado com base na variação do patrimônio líquido da empresa. Esse indicador mede a variação da riqueza do acionista. A Plascar, detentora de um faturamento de US$ 166 milhões, teve um retorno sobre o patrimônio líquido de 18%. A média de bônus ficou em torno de dois a três salá- rios mensais. A empresa adotou um gatilho para seu pro- grama: caso a rentabilidade do patrimônio não ultrapasse 6%, nem um centavo sequer pinga na conta bancária dos executivos a título de bônus, pois o acionista conseguiria essa variação em uma simples aplicação em caderneta de poupança. Dessa forma, a Plascar estabelece um limite entre o que é função do executivo e o que é esforço extra, um dos desafios do programa de bonificações. O esquema de premiações no chão da fábrica ad- quire outro desenho. As metas são mensais e o desem- penho é medido em índices específicos, como redução de refugo e ganhos de produtividade, entre outros. Existem aí duas lições. Uma: quanto mais próximas da fábrica, as metas devem ser mais fáceis de medir e estar ao alcance do funcionário. Segunda: ao criar um progra- ma de bônus, deve-se estar preparado para lidar com dificuldades. Uma delas é a inevitabilidade de ampliar o número de favorecidos na medida em que os funcioná-rios percebem que parte das metas dos chefes depende de seu trabalho. Na antiga gestão centralizada, a empre- sa apontava quais executivos em posição estratégica de- veriam ser protegidos das investidas dos concorrentes. Em suas mãos estavam as grandes decisões da compa- fIgura 3 Bolso recheado: programa de bonificações (valores em milhões de dólares). empresa Funcionários Participantes bônus (em salários) valor distribuído Critérios para premiação volvo 1.700 1.700 1,8 5 Crescimento de vendas, lucro e outros índices de desempenho Copesul 785 785 1,9 a 2,2 3,2 Resultado operacional e metas da equipe Heublein 800 40 1,5 a 2,5 0,5 Lucro e geração de caixa da companhia e desempenho pessoal Rhodia 10.000 350 2 a 4 4,5 Lucro operacional da matriz francesa e da filial e resultados das áreas Plascar 1.900 1.900 2 a 3 3 variação do patrimônio líquido e metas individuais Banco Boavista 2.400 2.400 4 a 6 22 Lucro do banco, metas dos setores e desempenho individual Lloyds Bank 800 290 3 a 7 5,5 Lucro do banco e resultados de cada área Pactual 282 264 23,8 12,6 Lucro do banco e avaliações de desempenho 272 parte Iv – reCoMpensando pessoas nhia. Com a gestão participativa, multifuncionalidade e empowerment, os funcionários ganharam autonomia. Até que chegou a hora em que eles perguntaram: o que eu levo com isso? Afinal, para muitos, a motivação passa tam- bém pelo bolso. A subsidiária brasileira do Lloyds Bank inaugurou seu programa de bonificação em 1990 com a participa- ção de 30 executivos. Esse número cresceu até chegar a 290. Detalhe: o quadro de funcionários é de 800 pes- soas. O banco voltou-se mais para negócios e abando- nou o varejo, o que aumentou o número de funcioná- rios em funções estratégicas. O programa é sustentado em dois pilares. Um é o desempenho do banco, medido pelo lucro. Outro é o resultado de cada uma de suas dez áreas. Cada critério tem peso igual a 50%. No início de cada ano, um triunvirato do Lloyds – o presidente e dois vice-presidentes – determina o percentual do lucro a ser distribuído, caso a meta seja atingida. Se for superada, os executivos ganham mais uma parcela do exceden- te. Se ficar abaixo do negociado, o banco tem direito de pagar um percentual menor do que o prometido. O triunvirato define também a quantia a distribuir para cada área. No final do ano, entregam aos diretores dois “potes de bônus”. Um é rateado entre os participantes da equipe, em número de salários. O outro pote é dis- tribuído conforme o desempenho de cada um dos exe- cutivos da área. A avaliação é feita com base nas metas definidas no início do ano. A subjetividade do processo é inevitável e até mesmo desejável. O mercado financeiro tem tradição de pagar bônus generosos e superiores aos da indústria. Uma pesquisa da Coopers & Lybrand junto a 112 empresas revela que a maioria paga bonificações equivalentes a 30% do sa- lário anual. Outro estudo feito pela área de RH do Banco Multiplic mostra que em 20 bancos consultados, a mé- dia dos bônus chega a doze salários mensais. Ou seja, o executivo dobra seus ganhos, mas facilita o comprome- timento com os objetivos da empresa. A agressividade dos bancos nesse terreno tem duas explicações. Uma é a intensa concorrência do setor. Outra, o peso da remu- neração nos custos operacionais é grande. Os salários fixos altos pressionam mais esse item. As bonificações vinculadas a resultados, não. O Banco Pactual, um dos maiores bancos de inves- timentos do país, leva esse princípio ao extremo. Ali vigora a lucrocracia. Distribuiu US$ 12,6 milhões entre 264 dos seus 282 funcionários (os outros 18 são sócios do banco). A média concedida a cada um foi equiva- lente a 23,8 salários. Em contrapartida, os salários são baixos. O teto salarial do banco é de US$ 4.000 para os diretores. Os colaboradores do Pactual são divididos em três grupos, os gratificados, os “peelizados” (de PL, participação nos lucros) e os sócios. O primeiro time tem seus bônus calculados com base no número de salários. Os peelizados recebem um percentual direto do lucro anual. As gratificações dos sócios vêm na forma de ações. Quanto maior esse time, mais rico eu fico, diz o presidente do Banco. O total distribuído entre os co- laboradores não pode ultrapassar 25% do lucro líquido. Para receber o bônus, cada colaborador passa por uma avalanche de avaliações. Chefes, subordinados e pares dão notas pelo seu desempenho. Cada colaborador recebe em média vinte avaliações. O cruzamento das notas é feito por uma dupla de sócios. Daí surge o valor a ser creditado ao colaborador. É um desenho diferente do padrão praticado no mercado. Geralmente, o primei- ro passo é uma negociação de metas entre o executivo e seu superior imediato. O número de metas é reduzido, pois senão se perde o foco do trabalho. Em média, cin- co objetivos. A seguir, cada uma das metas recebe um peso para definir as prioridades. O executivo também sabe quanto pode receber no final do exercício. Para cada nível hierárquico, há uma faixa fixada pelo núme- ro de salários mensais. Na Rhodia, subsidiária do grupo francês Rhône- -Poulenc, há cinco níveis hierárquicos que abrigam 350 profissionais. No nível de diretoria, o teto do bônus chega a quatro salários. No mais baixo, o de gerente de departamento, o máximo é de dois salários. O total em dinheiro embolsado depende do cumprimento ou não das metas. A empresa só paga o bônus se atingir um resultado global predefinido. Caso contrário: zero. Só jogador de futebol recebe salário para perder. Quando ganha ou empata, ele leva o bicho. Existem dois tipos de planos de bonificação anual: 1. Plano tradicional de metas definidas: baseia-se em metas orçadas e definidas com teto e piso para pagamento de bônus. A meta de bônus é o alcance do objetivo predeterminado. Com isso, o baixo de- sempenho não é penalizado e o desempenho exce- lente não é recompensado, pois o plano determina um valor definido e limitado, conforme demonstra- do na Figura 4. CapÍtULo 10 – prograMas de InCentIvos 273 3. Se o executivo ultrapassa a meta de desempenho, o excedente passa para o banco de bônus positivo. Fica com um saldo credor que pode receber no mé- dio e longo prazos. vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: o dilema da rede bahia Carlos Alberto resolveu instituir um plano de boni- ficação anual ligado ao alcance de objetivos organiza- cionais. O lucro veio em primeiro lugar. Reservou 5% do lucro operacional anual para distribuí-lo ao pessoal. Outros objetivos organizacionais, como participação no mercado, satisfação do cliente e produtividade foram acrescentados, com pesos diferentes no bolo da distri- buição. No primeiro ano, o plano de bonificação envol- veu apenas os gerentes na repartição dos 5% do lucro. No segundo ano, passou a se estender para os chefes, reservando-lhes 2% do lucro. No terceiro ano, a ideia era se abrir para a totalidade dos funcionários, atribuindo- -lhes 1% do lucro anual. dIstRIbuIção de ações da emPResa aos funcIonáRIos A distribuição gratuita de ações da empresa a de- terminados funcionários, como forma de compensa- ção, é outra maneira de se fazer remuneração flexível. Aqui, o dinheiro do bônus é substituído por papéis da companhia. rH de HOje: promon8 A Promon Tecnologia é uma empresa à parte. Não vende produtos acabados, mas, sim, inteligência: in- tegração de sistemas, principalmente no campo das telecomunicações, é o que ela coloca no mercado. A empresa não tem chão de fábrica. Quase 70% dos co- laboradores dispõem de formação universitária. Todos eles podem ser sócios da empresa e a maioria já é. O salário médio, ao redor de R$ 5.000, é um dos seus pontos mais altos. Na verdade, a Promon é uma co- munidade de profissionais que são sócios da empre- sa. Só os colaboradores é que podem ser acionistas, e só pode ter ações da empresa o colaborador que for Banco de bônus positivo Meta de desempenho Meta de bônus Bônus pago no ano Banco de bônus negativo Superaçãoda meta de desempenho fIgura 5 Plano de bônus EvA.6 2. Plano de bônus flexível EVA: baseia-se também em metas flexíveis que não possuem piso ou teto para pa- gamento de bônus. EVA (economic value added) é um modelo de gestão e remuneração por incentivos que cria um novo direcionamento na empresa. Trata-se de uma gestão baseada em valor e com metodologia universal, reconhecida pelo mercado acionário. O ob- jetivo é maximizar o valor criado pela empresa pela mudança da cultura corporativa para que os gerentes pensem, ajam e sejam recompensados como se fos- sem acionistas da empresa. O EVA envolve e alinha os processos de decisão, avaliação do desempenho e remuneração para que os gerentes analisem as fontes de valor e possam direcionar a definição de metas e objetivos da empresa. Visa a transformar o gerente em um coproprietário da empresa (Figura 5). Má performance não penalizada Ótima performance não recompensada 80% 100% Lucro orçado Meta de bônus 120% fIgura 4 Plano tradicional de bônus. O plano de bônus EVA apresenta três aspectos in- teressantes: 1. Se a meta de desempenho for alcançada, o executi- vo ganha a meta de bônus. 2. Se o executivo não alcança a meta de desempenho, passa para o banco de bônus negativo. Fica com um saldo devedor para o próximo ano. 274 parte Iv – reCoMpensando pessoas indicado pelos chefes à direção geral. Quando um colaborador falece, se aposenta ou sai, as suas ações são compradas pela empresa e redistribuídas entre os que ficam. Elas não podem ser vendidas fora da com- panhia, não se transferem por herança e nem podem ser doadas. Individualmente, ninguém pode ter mais do que 5% do capital da empresa, o que é uma forma de garantir equilíbrio de poder entre os colaboradores acionistas. Caso o colaborador não tenha dinheiro su- ficiente para comprar os papéis, a conta é dividida em 36 prestações; 85% das pessoas têm ações da com- panhia e 93% delas creem que este seja um de seus fatores de sucesso. A empresa teve um lucro líquido de US$ 86 mi- lhões; US$ 40 milhões foram reinvestidos entre parti- cipação nos lucros e nos dividendos acionários naqui- lo que a empresa considera fundamental para o seu sucesso: seus 1.500 colaboradores. Em média, cada um deles levou para casa três salários a mais a título de participação nos lucros. Os que trabalharam bem em equipe e ofereceram soluções inovadoras embol- saram até seis salários extras. O grupo definiu seus valores e objetivos há déca- das. Ética, algo indispensável numa empresa na qual quase todo mundo é sócio, é um desses valores. Ali tudo é transparente. A responsabilidade pela gestão está em mudança constante: os diretores são eleitos a cada três anos. Níveis hierárquicos? Só existem dois, entre os diretores e os office-boys. O ambien- te é de desafio intelectual, consequência natural da qualificação dos colaboradores e do tipo de ativida- de da empresa. O nível de exigência é estimulante e faz o clima. Em um ambiente assim, há liberdade para propor e fazer. A Promon é uma companhia que gosta de inovar. E é uma das melhores empresas para se trabalhar. vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: o dilema da rede bahia Para transformar cada funcionário em um acionista da empresa, Carlos Alberto instituiu um plano de distri- buição de ações da Rede Bahia. Em vez de dar dinheiro ou bonificações, o jovem presidente queria dar uma parte do capital da empresa aos funcionários, desde que alcançassem certos resultados anuais. oPção de comPRa de ações da comPanHIa Muitas empresas estão proporcionando uma for- ma diferente de remuneração variável pela oferta de ações que são vendidas (por preço subsidiado) ou transferidas aos seus colaboradores de acordo com determinadas regras. O objetivo é fazer com que o co- laborador – parceiro principal – se torne acionista da organização por sua própria conta, mas com a ajuda da organização. Trata-se de um modelo comum nos EUA (stock options), e dá ao colaborador o direito de comprar um lote de ações da empresa por determinado preço. O direito de compra deve ser exercido dentro de um pra- zo previamente determinado. A DuPont estende essa possibilidade para todos os funcionários, até mesmo do chão da fábrica. Ela distribui ações para os seus 140 mil colaboradores em várias partes do mundo, para desenvolver um conceito de companhia global entre eles. Muitos deles compram seus lotes e mantêm um patrimônio invejável nas mãos. avalIaçãO CrítICa: a reciprocidade nos ganhos Bancos como o Icatu, Pactual e Garantia foram os primeiros a oferecer a oportunidade de participação acionária a seus colaboradores. Um dos objetivos do sistema era atrair profissionais com talento em um mercado competitivo. Os colaboradores do Banco Pac- tual que se tornaram acionistas têm bons motivos para estar satisfeitos. O patrimônio líquido do banco pulou de R$ 2 milhões para R$ 150 milhões em apenas oito anos. Vinte executivos do banco detêm 37% do capital acionário, e o presidente, o maior acionista, não tem dúvidas de que o principal estímulo ao forte cresci- mento patrimonial seja justamente a participação acionária. O bolo cresce com a adesão e envolvimento dos colaboradores. rH de HOje: como transformar o funcionário em acionista 9 O programa de participação acionária da Promon foi criado na década de 1960 e permite a cada cola- borador a compra de ações da empresa. Para evitar a concentração do capital nas mãos de poucos, cada co- CapÍtULo 10 – prograMas de InCentIvos 275 laborador tem direito de comprar, no máximo, 2% do capital. Um dos gerentes da Promon é dono de 3.500 ações da empresa e sente-se bastante comprometido na companhia. Comprador habitual de ações da Pro- mon, desde que ingressou na empresa, ele tem um patrimônio estimado em mais de R$ 200 mil. Para ele, não há outra aplicação financeira tão rentável quanto essa. Sua intenção é fazer desses recursos um pecúlio para a aposentadoria ou para pagar a faculdade dos filhos. A compra de ações é um excelente negócio do ponto de vista do colaborador, mas sob a ótica da em- presa os ganhos não deixam a desejar. A Promon é um exemplo: seu faturamento cresceu mais de seis vezes no decorrer de vinte anos; 45% do capital está nas mãos dos colaboradores e o restante está sob o controle de 70 acionistas que não podem, indivi- dualmente, deter mais do que 5% do total. A direto- ria da empresa é eleita pelos acionistas a cada três anos. Uma regra importante no programa acionário da Promon é que as ações não podem ser doadas ou vendidas fora da companhia. Os colaboradores que deixam a empresa devem vendê-las na tesouraria. Com a rentabilidade média anual de 30%, as ações da Promon podem ser adquiridas pelos colaborado- res com financiamento concedido pela própria em- presa em até três anos. Anualmente, são distribuídos dividendos. Outra empresa que aderiu à ideia de abrir o direi- to de participação acionária aos colaboradores foi o laboratório norte-americano Eli Lilly. A filial brasileira iniciou o programa de venda de ações em 1993, tor- nando disponíveis 200 ações aos seus 700 colabora- dores com prazo de carência de três anos. Ao liberar outro lote de ações para venda aos colaboradores, uma equipe realizou reuniões com grupos de fun- cionários e foi liberada uma linha telefônica só para esclarecer dúvidas sobre o assunto. Boletins internos e correio eletrônico da empresa cuidam de divulgar as cotações das ações. A maioria, 75%, exerceu o direito de venda assim que expirou o período de carência. Para a empresa valeu a pena, pois a motivação dos colaboradores aumentou sensivelmente. Existem várias formas de estabelecer a participa- ção do empregado no capital da empresa. Além do mo- delo denominado Stock Options, há o Phantom Share, utilizado nos mesmos termos do primeiro, só que com ações fictícias cujo valor é calculado com base no patrimônio líquido da empresa. Essa é a modalidade adotada pela Construtora MRV, que distribuium per- centual de seu lucro anual, na forma de ações, entre alguns funcionários. Com isso, a empresa pretende alcançar dois objetivos: comprometer os executivos com o destino da companhia e quebrar a estrutura de empresa familiar para perenizar o negócio. Nos EUA, a venda ou a concessão de ações é prática corrente entre as empresas. O benefício está se estendendo a todos os colaboradores, e o governo norte-americano passou a conceder a partir de 1995 isenções fiscais às empresas que adotassem o modelo. O sistema de aquisição de ações apresenta certas limitações. Uma delas é que, no Brasil, ainda não se desenvolveu a cultura do mercado de capitais entre os colaboradores. O comportamento dos portadores que vendem ações confirma os resultados de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, segundo a qual, dois terços dos trabalhadores exercem o direito de compra e venda das ações adquiridas para o prazo de apenas seis meses. A necessidade de curto prazo é mais forte do que o compromisso de longo prazo, e as especulações no mercado de capitais levam a oscilações bruscas no preço das ações. Além disso, existem dúvidas legais com relação à participação do colaborador no capital da empresa: a concessão de ações pode ser considerada salário indireto ou participação nos resultados. Alguns especialistas optam pela segunda alternativa: se for considerada uma forma de participação nos resultados, não ha- verá incidência de encargos e o benefício poderá ser negociado entre os sindicatos e estendido a todos os colaboradores. avalIaçãO CrítICa: cuidados preliminares Uma limitação da opção de compra de ações é o receio de que haja manipulação pelos próprios cola- boradores, principalmente daqueles que detêm infor- mações privilegiadas. Para prevenir tal possibilidade, a Informix, empresa que produz software para bancos de dados, estabeleceu que os colaboradores que tenham ações da empresa somente podem negociá-las 30 dias após a divulgação dos resultados trimestrais. Parte IV - Recompensando Pessoas Capítulo 10 – Programas de Incentivos