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índice Introdução ........................................................................... 3 Aspectos históricos e teóricos da abordagem ..................... 4 Organização modular do tratamento da DBT ...................... 9 Estratégias de intervenção ............................................... 12 Considerações finais ........................................................ 14 A Artmed ......................................................................... 16 Referências ..................................................................... 17 3TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Durante uma boa parte da história das práticas psicoterapêuticas, os pa- cientes com grande desregulação emocional, comportamentos autolesivos, com ou sem intenção suicida, e nomeados como “manipuladores” eram ca- tegorizados como não responsivos à psicoterapia: os famosos “casos difí- ceis”. Pacientes esses que, ao se depararem com a exigência de mudança, experienciam raiva, frustração ou entram em pânico, já que esforços ante- riores não demonstraram a efetividade desejada. Por sua vez, os terapeutas passam a desacreditar na possibilidade de mu- dança, ou até mesmo concluem que o insucesso da psicoterapia é fruto da baixa motivação e falta de habilidades do paciente. A Terapia Comporta- mental Dialética (DBT) foi desenvolvida para servir de base especialmente para terapeutas e pacientes que estão exatamente nessas circunstâncias citadas anteriormente. Este e-book foi elaborado com objetivo de apresentar esse enfoque teóri- co-prático da Terapia Comportamental Dialética (DBT) aos profissionais da saúde, oferecendo suporte àqueles interessados em aprofundar seus co- nhecimentos e considerar sua implementação no contexto clínico. Ressal- tamos, porém, que se trata de um modelo de intervenção complexo e sua implementação integral demanda um investimento em formação e supervi- são. Esperamos que você encontre aqui ferramentas que o auxiliem em sua prática profissional! INTRODUÇÃO 4TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA A história da Terapia Comportamental Dialética certamente acom- panha a carreira e história de vida de sua criadora, a Dra. Marsha Linehan. Durante a década de 1970, Linehan aplicava um protoco- lo de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), aprendido na State University of New York, em pacientes mulheres cronicamente suici- das e com autolesão não letal. Após cada sessão, a equipe discutia o comportamento dos terapeutas e das pacientes, com o objetivo de verificar a efetividade dos métodos utilizados. Durante esse período, Linehan observou três problemas centrais da aplicação do protocolo de TCC em suas pacientes: a) o foco na mudança era percebido como uma experiência invali- dante; b) os pacientes, de forma não intencional, reforçavam as práticas não efetivas dos terapeutas e puniam as estratégias efetivas; e c) a quantidade e gravidade dos problemas dos pacientes tornava difícil a aplicação do programa de intervenção (Dornelles & Alano, 2016; Dornelles & Sayago, 2015). Insatisfeitos com os resultados do protocolo utilizado, Linehan e sua equipe fizeram um levantamento das intervenções eficazes em psicoterapia. A partir desse trabalho, eles desenvolveram um novo grupo de intervenções terapêuticas, unindo elementos advindos de diversas práticas, como da Terapia Comportamental, da TCC, das te- rapias psicodinâmicas, da gestalt terapia, da abordagem centrada na pessoa, das abordagens de psicoterapia paradoxais, da abordagem dialética e dos elementos Zen Budistas. Assim, surge, na década de 1980, a Terapia Comportamental Dialética (do inglês Dialectical Behavior Therapy, DBT), como um método de tratamento indicado para pacientes diagnosticados com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Essa fusão entre diversas práticas resultou em uma abordagem ro- busta, conforme indicado por diferentes estudos, como ensaios clí- nicos randomizados e metanálises (Cristea et al., 2017, DeCou et al., 2018). Desde então, a literatura na área acumulou evidências de efetividade da DBT para redução de diferentes quadros, como com- portamentos suicidas, abandonos de tratamento, sintomas depres- sivos, desesperança, uso/abuso de substâncias, sintomas ansiosos, transtornos alimentares, entre outros (Bedics et al., 2012; Linehan, 1991; Verhuel et al., 2003). Além disso, a DBT é indicada pela Divi- são 12 da Associação Americana de Psicologia (APA, s.d.) como um método fortemente apoiado pelas pesquisas científicas para o tratamento de TPB. ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA ABORDAGEM 5TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA A escolha do termo “dialética” para compor o nome da DBT bus- cou representar dois principais significados da abordagem: a) o da natureza fundamental da realidade e b) do diálogo e do rela- cionamento persuasivos. A DBT salienta uma inter-relação entre as coisas, o que significa que análises de partes individuais de um sistema têm valor limitado. Em outras palavras, a DBT busca compreender partes individuais (ex.: comportamento específi- co), sua relação com outras partes (ex.: outros comportamentos) e com o todo (ex.: a cultura). Além disso, a dialética indica que a realidade não é estática, mas composta por forças opostas (por exemplo, os pacientes se aceitarem como são e, ao mesmo tem- po, sentirem a necessidade de mudança) (Linehan, 2018). durante um depoimento emocionante concedido ao Institute of Li- ving (uma clínica de Hartford, EUA), Marsha Linehan contou sobre ter sido diagnosticada, aos seus 17 anos, como portadora de esqui- zofrenia. Sua história foi marcada por hospitalizações de longa du- ração e tratamentos ineficientes, bem como ilustrativas demonstra- ções de julgamentos proferidos por profissionais da saúde mental para com os pacientes. Posteriormente, Linehan descobriu que seu diagnóstico na verdade era de TPB. O relato está publicado no The New York Times (2011). Em suas palavras: “eu estava no inferno [...] e fiz um juramento: quando eu sair, vou voltar e tirar outros daqui.” (em tradução livre). FATO CURIOSO: 6TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Para a compreensão e manejo do TPB, Marsha Linehan propôs o modelo biossocial. Esse modelo postula que a desregulação emocional pode con- tribuir para a etiologia e manutenção de diversos quadros psicopatológicos. A desregulação emocional deve ser entendida como uma característica ine- rente aos seres humanos, uma vez que todos são, em algum grau, vulnerá- veis ao próprio processamento emocional. Contudo, os pacientes com TPB, quando comparados com a população não-clínica, apresentam uma maior dificuldade de alterar ou regular os gatilhos emocionais, experiências, ações, respostas verbais e/ou expressões não verbais emocionais em condições normativas (Dornelles & Sayago, 2015; Koerner, 2020; Linehan et al., 2007) O modelo biossocial propõe que a desregulação emocional nos transtornos psicopatológicos (como o TPB) surge da combinação entre a vulnerabilida- de biológica com os ambientes sociais invalidantes. Em relação ao primeiro fator, o modelo aponta para três características biológicas específicas que contribuem para a vulnerabilidade, são eles: a) alta sensibilidade: os indivíduos apresentam um limiar mais baixo de ati- vação das emoções, ou seja, tendem a responder de forma mais rápida dian- te de estímulos que possam eliciar emoções; b) alta reatividade: refere-se a uma tendência de apresentar um pico de ativa- ção emocional mais alto, com respostas emocionais mais intensas; c) retorno lento à linha de base: é a dificuldade para voltar ao estado de cal- ma após passar por alguma situação de ativação emocional. MODELO BIOSSOCIAL 7TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Já o segundo fator (ambientes sociais invalidantes), é compreendi- do como ambientes que tratam os comportamentos emitidos pelosindivíduos como erráticos, patológicos, não apropriados, que negli- genciam a forma mais adaptativa de responder ao comportamento do indivíduo (por exemplo, não dando a atenção adequada) ou, ain- da, que apresentam como modelo de resposta comportamentos desadaptativos. Como resultado, as pessoas podem não aprender a reconhecer e classificar suas experiências privadas, não desen- volvendo, assim, estratégias para resolver os problemas em si ou para regular o próprio processamento emocional. Além disso, em um ambiente invalidante, é necessário que o indi- víduo aumente a intensidade de sua expressão emocional, ou que demonstre de forma extrema os seus problemas para conseguir a resposta ambiental almejada. Dessa forma, o ambiente acaba reforçando as expressões emocionais extremas. A Figura 1 ilus- tra o resultado da interação entre as vulnerabilidades biológicas e os ambientes invalidantes (Dornelles & Alano, 2016; Dornelles & Sayago, 2015; Koerner, 2020) grupo de intervenções terapêuticas, unindo elementos advindos de diversas práticas, como da Terapia Comportamental, da TCC, das terapias psicodinâmicas, da gestalt terapia, da abordagem centrada na pessoa, das abordagens de psicoterapia paradoxais, da abordagem dialética e dos elementos Zen Budistas. Assim, surge, na década de 1980, a Terapia Com- portamental Dialética (do inglês Dialectical Behavior Therapy, DBT), como um método de tratamento indicado para pacientes diagnosti- cados com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). 8TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Apesar de ter sido desenvolvido para a compreensão do TPB, o mo- delo biossocial é hoje utilizado como base para uma série de psi- copatologias que envolvem a desregulação emocional como fator etiológico e mantenedor dos aspectos disfuncionais. Assim, a DBT compreende que uma série de comportamentos psicopatológicos (como os autolesivos) são estratégias para lidar com a desregula- ção emocional (Dornelles & Alano, 2016; Dornelles & Sayago, 2015). Figura 1. Esquema explicativo do modelo biossocial. Fonte: adaptado de Linehan (2010) e retirado de Dornelles & Alano (2016) Sensibilidade aumentada + alta intensidade + lento retorno ao estado de calma = vulnerabilidade emocional Vulnerabilidade emocinonal + inabilidade de regular as emoções = desregulação emocional Vulnerabilidade emocinonal = características biológicas; Inabilidade de regular emoções/ambiente invalidante = características ambientais. Vulnerabilidade emocinonal + inabilidade de regular emoções = desregulação emocional = modelo biossocial da desregulação emocional Portanto... conforme indicado por Dornelles e Alano (2016), há um consenso entre terapeutas e pesquisadores que trabalham com a DBT que o termo “Transtorno da Regulação das Emoções (TRE)” deveria ser utilizado no lugar de “Transtorno de Personalidade Borderline”, por representar melhor as dificuldades desses pacientes e, ainda, como forma reduzir os estereótipos carregados pelo diagnóstico. NOTA: 9TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA A DBT trabalha dentro de uma proposta de tratamento modular em vez de protocolar, ou seja, trata-se de uma terapia articulada em di- ferentes modos de tratamento, para garantir que tanto os pacien- tes quanto os terapeutas estejam alinhados com os seus princípios (Dornelles & Alano, 2016; Dornelles & Sayago, 2015). Os modos de tratamento são compostos por: a) Psicoterapia individual: o terapeuta individual é o responsável pelo gerenciamento do caso, ou seja, trabalha o comprometimento do paciente com a DBT em geral (terapia individual, grupo de habili- dade, consultoria por telefone e tratamentos auxiliares), bem como fica responsável por supervisionar e montar a formulação de caso. b) Grupo de habilidades: trata-se de um aspecto fundamental para o manejo da desregulação emocional. Linehan desenvolveu qua- tro grupos de habilidades que são fundamentais para os pacientes (mindfulness, efetividade interpessoal, regulação emocional e tole- rância ao mal-estar). c) Consultoria por telefone: os objetivos desse modo são ajudar a construir uma relação terapêutica adequada, generalizar as habilida- des aprendidas nas sessões e auxiliar os pacientes a lidarem com situações em que eles necessitem praticar habilidades para geren- ciar o mal-estar. d) Consultoria para terapeutas: tratar pacientes que apresentam uma intensa desregulação emocional e comportamentos autolesi- vos pode ser uma tarefa muito estressante para os terapeutas. Por isso, a DBT destaca a necessidade do terapeuta contar com um su- porte, como supervisores ou outras equipes. e) Tratamentos auxiliares: é comum os pacientes necessitarem de outros tratamentos auxiliares, como intervenções psicofarmacoló- gicas, nutricionais, grupos para uso abusivo de substâncias, entre outros. Ademais, a DBT aborda uma premissa que parece óbvia: para me- lhorar, o paciente deve estar comprometido e engajado com a psi- coterapia. Apesar da ideia de abordar os comportamentos que atra- palham a adesão ao tratamento ser comum em todas as terapias, a DBT organiza de forma sistemática e hierárquica os comportamen- tos a serem abordados e observados, conforme na Tabela 1. (Dor- nelles & Alano, 2016; Dornelles & Sayago, 2015; Koerner, 2020) ORGANIZAÇÃO MODULAR DO TRATAMENTO DA DBT 10TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Tabela 1. Determinando a intensidade e o tipo do tratamento. Características do paciente Intervenções sugeridas Estágio 2 da DBT Estágio 1 da DBT 1) Comportamentos que ameaçam a vida, por exemplo: tentativas de suicídio, comportamentos de crise suicida, comportamento autolesivo. 2) Graves comportamentos que interferem na terapia, por exemplo: comportamentos não colaborativos, oposição frequente ao terapeuta e/ou não cumprimento de tarefas, comportamentos que interferem com outros pacientes. 3) Graves comportamentos que interferem a qualidade de vida, por exemplo: transtorno mental grave e/ou incapacitante, extrema pobreza/privação/sem casa para morar, violência doméstica, comportamentos criminais com risco alto e iminente de prisão. 4) Déficits graves de habilidades 1) Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) 2) Transtornos mentais residuais com gravidade moderada não tratados no estágio 1, por exemplo: transtornos de ansiedade, alimentares, depressivos e bipolar. 3) Desregulação emocional relacionada à intensidade da ativação ou duração das emoções de forma disfuncional, por exemplo: vergonha culpa, sensibilidade às críticas, raiva, repulsa, inveja, ciúme, solidão, luto inibido, vazio, tristeza excessiva e medo. DBT ambulatorial (ver anteriormente) + protocolo para o tratamento do TEPT da DBT + exposição prolongada ou outro tratamento para TEPT com base em evidências. Currículo do treinamento de habilidades em DBT para: transtornos alimentares, desregulação emocional, depressão resistente ao tratamento. DBT ambulatorial: treinamento de habilidades em DBT + acompanhamento telefônico de habilidades entre as sessões + equipe de consultoria da DBT + terapia individual da DBT… ou gerenciamento de caso intensivo + protocolo de suicídio da DBT + plano de crises com serviço telefônico de crises da área. DBT programas de treinamento em regime de internação, residencial e hospital-dia: treinamento de habilidades em DBT + coaching das habilidades entre as sessões + terapia individual da DBT + equipe de DBT. Treinamento de habilidades em DBT durante a lista de espera: + equipe de consultoria da DBT. 11TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Estágio 4 da DBT Estágio 3 da DBT 1) Problemas de vida, tais como: transtornos mentais de gravidade leve, dificuldades em estabelecer e/ou atingir as metas de vida, dificuldades na solução de problemas, baixa autoeficácia/ autoestima, dificuldades/mal-estar no trabalho, indecisão/desejo por consultoria. 1)Incompletude, por exemplo: desejo por realização espiritual/ direção espiritual, desejo por experiências culminantes/ experiências da realidade como ela é, tédio, questões relacionadas ao término da vida. Treinamento de habilidades em DBT + equipe de DBT + treinamento individual (DBT ou não DBT) e/ou coaching das habilidades conforme o necessário. Treinamento de habilidades de aceitação da realidade e de mindfulness da DBT + equipe de DBT e/ou retiros de mindfulness com os participantes. Fonte: adaptado de Linehan (2018) 12TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Ao longo do desenvolvimento da DBT, Linehan e diversos autores propuseram uma série de estratégias para manejo da desregulação emocional e outros aspectos dos quadros psicopatológicos. Aqui, apresentamos algumas estratégias comumente citadas na literatu- ra, que favorecem um movimento entre a aceitação e a mudança (Dornelles & Alano, 2016): a) Penetrar no paradoxo: o objetivo dessa técnica é aumentar a fle- xibilidade cognitiva e comportamental dos pacientes, através de insights sobre a existência de aspectos paradoxais. Por exemplo, imagine que o terapeuta precisasse, por motivos pessoais, remarcar a sessão para a semana seguinte. O paciente, inconformado, acha que vai sofrer e não concorda com a decisão do terapeuta, que pode responder: “sim, seria melhor para você se eu não remarcasse a ses- são, mas mesmo assim necessito remarcar!”. Assim, o terapeuta va- lida a percepção do paciente ao mesmo tempo que mantém a sua posição. b) Usar metáforas: usar histórias e exemplos pode ser uma forma de confrontar de forma suave algumas situações dialéticas. Tome- mos como exemplo um paciente que se recusa a realizar as técni- cas de exposição, com medo de cometer falhas e erros. O terapeuta pode responder com a seguinte metáfora: “quando as crianças es- tão aprendendo a caminhar, ou até a andar de bicicleta, elas buscam a perfeição e acertam de primeira?” Uma resposta: “não, elas come- tem muitos erros até aprenderem o comportamento alvo”. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO 13TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA c) Técnica do advogado do diabo: utilizada comumente no início do trata- mento para auxiliar na definição dos objetivos da terapia e aumentar a moti- vação do paciente com seus objetivos. Nessa técnica, o terapeuta argumen- ta favoravelmente ao padrão desadaptativo do paciente, enquanto a outra parte argumenta a favor do lado mais adaptativo (ex.: o terapeuta argumen- tando que se isolar é uma estratégia “adequada” para enfrentar conflitos vs o paciente argumentando sobre a necessidade de estabelecer um diálogo assertivo). d) Alongamento: trata-se de uma técnica que demanda muita cautela, para não parecer irônico e invalidante. O alongamento consiste em levar uma afir- mação do paciente como mais séria do que o próprio paciente. Por exemplo, ao propor remarcar uma sessão, o paciente responde “caso você remarque eu posso me matar”. Com isso, o terapeuta pode responder “isso é muito grave, assim devemos acionar a rede de apoio e pensarmos em internação, conforme estabelecemos em nosso plano de enfrentamento para crises”. e) Ativar a mente sábia: consiste em uma das habilidades aprendidas no grupo de treinamento. Objetiva encontrar um equilíbrio entre a “mente racio- nal” e a “mente emocional”. Imagine que um paciente afirma que se sente feio e desprezível. O terapeuta pode evocar um pensamento mais dialético, perguntando o que a mente sábia diria sobre isso. f) Fazer do limão uma limonada: deve-se ter cautela para não simplificar e invalidar o problema do paciente. Nessa técnica, o terapeuta pode utilizar algo que parece muito problemático para o paciente como uma ótima opor- tunidade para aprender ou praticar alguma das habilidades da DBT. 14TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA CONSIDERAÇÕES FINAIS Esperamos que este material tenha trazido contribuições relevantes para a sua prática profissional. Vale observar que esta obra não é exaustiva e tampouco pretende atingir esse objetivo. Buscamos aqui apresentar alguns aspectos centrais da Terapia Comportamental Dialética. Recomendamos a busca por outros materiais complementares, como os informados na lista de referências da presente obra. g) Permitir mudanças naturais: diferentemente de outras abordagens, a DBT estimula a introdução de mudanças e instabilidade na terapia (ex.: mudando os horários e regras das sessões). h) Avaliação dialética: refere-se a uma análise de outras possibilidades não avaliadas para explicar uma determinada situação. Faz-se importante validar a impressão inicial do paciente, mesmo que incompleta sobre a situação. i) Validação: essa é uma das estratégias mais utilizadas dentro da DBT. Não diz apenas de uma comunicação empática entre paciente e terapeuta, mas principalmente uma forma de comunicar ao paciente sobre o que existe de válido em suas emoções, comportamentos e pensamentos. 15TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA SOBRE ESSE E-BOOK Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia: Cognição e Comportamento (PPG-CogCom) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduado em Psicologia pela UFMG. Pesquisador membro do Laboratório de Avaliação e Intervenção na Saúde (LAVIS/ UFMG). Membro da Comissão Jovem da Associação de Terapias Cognitivas de Minas Gerais (ATC-Minas). Membro da Diretoria Consultiva da Liga de Terapias Cognitivo- Comportamentais da UFMG (LiTeCC-UFMG). Sobre o autor: Willian de Sousa Rodrigues Psicóloga, Pós-Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental - LaPICC-USP. Pesquisadora Associada do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP. Presidente da Federação Latino Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais - ALAPCCO (2019-2022). Presidente da Associação de Ensino e Supervisão Baseados em Evidências (2020-2023). Sobre a editora-chefe: Carmem Beatriz Neufeld Como citar: Rodrigues, W. S., & Neufeld, C. B. (2022). Terapia Comportamental Dialética: da teoria à prática [Cartilha Digital]. Artmed. 16TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA Este conteúdo foi útil para você? No nosso site, você encontra soluções para continuar se atualizando na área de Psicologia quando e onde quiser. Acesse o site e confira as opções de livros, cursos e programas de atualização para se aprimorar profissionalmente: www.artmed.com.br http://www.artmed.com.br 17TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA REFERÊNCIAS: Associação Americana de Psicologia (APA, s.d.). Treatment: Dialectical Behavior Therapy for Borderline Personality Disorder. Recuperado em 27 de janeiro de 2022, de https://div12.org/treatment/dialectical-behavior-therapy-for-borderline-personality-disorder/ Bedics J. D., Atkins, D. C., Comtois, K. A., & Linehan M. M. (2012). Treatment differences in the therapeutic relationship and introject during a 2-year randomized controlled trial of dialectical behavior therapy versus nonbehavioral psychotherapy experts for borderline personality disorder. J Consult Clin Psychol, 80(1), 66-77. doi:10.1037/a0026113 Cristea, I. A., Gentili, C., Cotet, C. D., Palomba, D., Barbui, C., & Cuijpers, P. (2017). Efficacy of Psychotherapies for Borderline Personality Disorder. JAMA Psychiatry, 74(4), 319. doi:10.1001/jamapsychiatry.2016.4 DeCou, C. R., Comtois, K. A., & Landes, S. J. (2018). Dialectical Behavior Therapy Is Effective for the Treatment of Suicidal Behavior: A Meta-Analysis. Behavior Therapy, 50, 60-72. doi:10.1016/j.beth.2018.03.009 Dornelles, V. G., & Alano, D. S. (2016). Terapia comportamental dialética. In Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, Neufeld, C. B., Falcone, E. M. O. & Rangé, B. (Orgs.).PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 3. (pp. 9-51). Porto Alegre: Artmed Panamericana. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). Dornelles, V. G., & Sayago, C. W. (2015). Terapia Comportamental Dialética: Princípios e Bases do Tratamento. In Lucena-Santos, P., Pinto-Gouveia, J., & Oliveira, M. S. (Orgs.). Terapias Comportamentais de Terceira Geração. (pp. 440-473). Sinopsys. Koerner, K. (2020). Aplicando a Terapia Comportamental Dialética: um guia prático. Novo Hamburgo: Sinopsys Editora. Linehan, M. (2018). Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Terapeuta (2ª ed.). Porto Alegre: Artmed. 18TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA REFERÊNCIAS: Linehan, M. M. (2010). Vencendo o transtorno da personalidade borderline com a terapia cognitivo-comportamental: tratamentos que funcionam: manual do paciente. Porto Alegre: Artmed. Linehan, M. M., Armstrong, H. E., Suarez, A., Allmon, D., & Heard, H. L. (1991). Cognitive-behavioral treatment of chronically parasuicidal borderline patients. Archives of General Psychiatry, 48, 1060-1064. doi:10.1001/archpsyc.1991.01810360024003 The New York Times (2011). Expert on Mental Illness Reveals Her Own Fight. Recuperado em 27 de janeiro de 2022, de https://www. nytimes.com/2011/06/23/health/23lives.html Verhuel, R., Van den Bosch, L. M., Koeter, M. W., Ridder, M. A., Stijnen, T., & Van den Brink, W. (2003). Dialectical behaviour therapy for women with borderline personality disorder: 12-month, randomised clinical trial in The Netherlands. British Journal of Psychiatry, 182, 135-40. doi:10.1192/bjp.182.2.135 19TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA (DBT): DA TEORIA À PRÁTICA