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IV Encontro de Pesquisa em Gastronomia do Brasil – IV ENPEGASTRO Universidade Federal do Ceará – 23 a 26 de abril de 2024 EXPLORANDO TRADIÇÕES CULINÁRIAS: UMA RELEITURA DAS QUEIJADAS COM O SABOR DO DOCE DE COCO BABAÇU SANTOS, Ana Cristina Pires Especialista em Cozinha Francesa, Confeitaria e Panificação acristina.pires@hotmail.com SAMPAIO, Domingos Sávio Estevam Especialista em Vigilância Sanitária Professor e Coordenador do curso de Gastronomia do Centro Universitário Inta -UNINTA saviosam13@gmail.com LOPES NETO, José Especialista em Gastronomia Vegana e Vegetariana Técnico de Laboratório Gastronômico do Centro Universitário Inta - UNINTA neto2404@gmail.com LOPES, Eliana de Jesus Professora do Centro Universitário Inta - UNINTA prof.eng.eliana@gmail.com OLIVEIRA, Marcleide Sampaio Pós Graduanda em Finanças, Auditoria e Controladoria pelo Centro Universitário Inta –UNINTA marcleidesampaio19@gmail.com A diversidade da culinária brasileira é uma expressão vibrante da rica mistura de culturas que moldaram a identidade gastronômica do país ao longo dos séculos. Sendo formada pela chegada dos portugueses e imigração de diversos povos, ocasionou uma miscigenação e uma herança cultural riquíssima (SANTOS; PASCOAL, 2013). Apesar da miscigenação, cada região possui sua peculiaridade gastronômica e dentre elas destaca-se a nordestina, refletindo a história, cultura e geografia dessa região (SANTANA; LUCENA FILHO, 2018). A culinária do Nordeste é conhecida por sabores intensos, mistura de influências étnicas e pratos únicos, mas Freyre (2007) traz ênfase para os bolos e doces, afirmando ser a maior riqueza gastronômica dessa região. A cidade de Sobral, localizada ao Noroeste do estado do Ceará, corrobora com essa riqueza, tendo em vista a produção, comercialização e disseminação de receitas de doces como fartes, queijadas e bulins, frutos do legado dos portugueses (GOMES et al., 2020). Dentre esses doces, destaca-se o delicioso doce intitulado queijada, o qual alguns historiadores dizem ser uma herança dos portugueses e outros que é considerada uma herança dos escravos, já que estes foram os responsáveis por suas adaptações (SANTANA; LUCENA FILHO, 2018). O doce tem como principal ingrediente o coco, porém, pode ser adaptada dependendo da região (GOMES et al., 2020), como a utilização do coco babaçu. mailto:prof.eng.eliana@gmail.com IV Encontro de Pesquisa em Gastronomia do Brasil – IV ENPEGASTRO Universidade Federal do Ceará – 23 a 26 de abril de 2024 O coco babaçu é uma espécie nativa da região amazônica, abundante nos Estados do Maranhão, Pará, Tocantins, Piauí e Ceará, e desempenha um papel significativo na economia, na culinária local e na sustentabilidade ambiental (SILVA et al., 2016). Na gastronomia, o coco babaçu é um ingrediente versátil e nutritivo, de onde extraído para comercialização o óleo, o leite e a amêndoas (PORRO, 2019). Das amêndoas é extraído o óleo de babaçu, usado em frituras e preparações de pratos típicos, além de ser considerado mais saudável e rico em ácidos graxos essenciais e antioxidantes. Também é extraído a polpa e o mesocarpo (pó do babaçu), que possui propriedades anti-inflamatórias e analgésica. O coco babaçu também desempenha um papel importante na subsistência de muitas comunidades. A coleta e o processamento envolvem práticas tradicionais, passadas de geração em geração, constituindo uma fonte de renda para muitas famílias. Tendo em vista seu valor gastronômico, social e ambiental, o objetivo desse artigo é relatar a experiência de uma oficina gastronômica em que se trouxe uma proposta de releitura do doce conhecido como queijada através da adaptação do coco tradicional para o coco babaçu. O presente estudo segue uma natureza descritiva, conforme Gil (2017) explica, tem por característica descrever fenômenos estudados e baseia-se na experiência de egressa do curso de Gastronomia do Centro Universitário Uninta, durante a condução da oficina intitulada “Queijadas com o coco babaçu”, na semana da Gastronomia, que teve como tema “A Herança Cultural Indígena na Culinária Brasileira”, organizada por ela e docentes do curso. A oficina ocorreu no dia 13 de março, às 18h, duração média de 1h, com acadêmicos do curso. A oficina foi dividida em quatro momentos: (i) preparo da massa, (ii) preparo do recheio, (iii) montagem da queijada e (iv) discursão do tema. A receita tradicional tem como ingredientes: farinha do trigo, ovos, leite de coco, margarina, açúcar e coco. E a receita da oficina: farinha de trigo, ovos, leite de coco extraído do coco babaçu, margarina, açúcar e coco babaçu. Na primeira etapa da oficina, o preparo da massa, a mudança é o leite de coco, que na receita original é usado leite de coco industrializado, enquanto na oficina o leite é extraído do coco babaçu. Carvalho et al. (2020) afirma este ser um excelente insumo, pois sua extração produz diversos produtos. Na segunda etapa, constituída pelo recheio, a mudança está no coco para o coco babaçu. Ressalta-se que o coco babaçu é menos úmido, sendo necessário a inclusão também do leite de coco para umedecer o recheio. Em seguida, na terceira etapa, realiza-se a montagem, que segue o modelo tradicional em formatos de tortinhas (GOMES et al., 2020) (Figura 1 e 2). IV Encontro de Pesquisa em Gastronomia do Brasil – IV ENPEGASTRO Universidade Federal do Ceará – 23 a 26 de abril de 2024 Figura 1 - Egressa ministrando a oficina Figura 2 – Queijada de coco babaçu Fonte: Autoria própria (2024). Fonte: Autoria própria (2024). Na última etapa, discursão do tema, foi ressaltado a importância da receita das queijadas e a oportunidade da inserção de ingredientes do bioma amazônico. Houve várias trocas de conhecimentos, principalmente para a sensibilização em prol da valorização da cultura local, da biodiversidade, promoção da sustentabilidade social, ambiental e cultural, e estímulo à criatividade gastronômica com uso de recursos locais. Além disso, foi explanado sobre a produção de outros produtos com o coco babaçu, como o caso do leite de coco para a produção de peixada e o bagaço para uma farofa doce. Diante da enriquecedora vivência, tornou-se evidente que a exploração e adaptação de receitas gastronômicas tradicionais desempenham um papel vital no fortalecimento das identidades culturais locais. Também se revela uma valiosa ferramenta para impulsionar o desenvolvimento econômico, social e cultural das comunidades. A oficina, concedeu um espaço para troca de saberes e experiências aos acadêmicos ampliando o repertório culinário e fomentando reflexões sobre preservação e valorização das tradições alimentares locais. Gomes et al. (2020) explicam que essa prática mantém viva a cultura como um patrimônio da cidade e sendo assim, a inserção do coco do babaçu no doce contribui para a comercialização desse recurso, que pode ser encontrada em municípios aos arredores da cidade de Sobral, como no caso da Serra da Meruoca. Portanto, este artigo cumpre seu propósito ao relatar essa experiência rica com a releitura do doce de queijada, como resultado da oficina realizada, oferecendo contribuições práticas e teóricas para os estudantes de gastronomia sobre uma culinária histórica e IV Encontro de Pesquisa em Gastronomia do Brasil – IV ENPEGASTRO Universidade Federal do Ceará – 23 a 26 de abril de 2024 regionalmente significativa. Palavras-chave: Coco babaçu; oficina gastronômica; doces nordestinos; sustentabilidade. REFERÊNCIAS CARVALHO CASTRO, Geandro et al. Aproveitamento integral do coco babaçu como estratégia de educação e desenvolvimento social sustentável. Extensão em Foco, n. 21, 2020. FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do nordeste do Brasil. 5. ed., rev. São Paulo, SP: Global, 2007. GIL, Antonio Carlos. Como elaborarprojetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2017. GOMES, Mirtes Barbosa et al. Saberes e sabores da culinária tradicional sobralense. Revista da Casa da Geografia de Sobral (RCGS), v. 22, n. 1, p. 78-92, 2020. PORRO, Roberto. A economia invisível do babaçu e sua importância para meios de vida em comunidades agroextrativistas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, v. 14, p. 169-188, 2019. SANTANA, Flávio Menezes; LUCENA FILHO, Severino Alves. A queijadinha de Dona Marieta em São Cristóvão/SE no contexto do Folkturismo como estratégia para o desenvolvimento local. Revista Internacional de Folkcomunicação, v. 16, n. 36, p. 251-268, 2018. SANTOS, Valdirene F. Neves; PASCOAL, Grazieli Benedetti. Aspectos gerais da cultura alimentar paraense. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 5, n. 1, p. 73-80, 2013. SILVA, Guilherme et al. A importância do coco babaçu para a comunidade escolar e extrativista no município de São João do Arraial/PI. Agrarian Academy, v. 3, n. 05, p. 1-15, 2016.