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LETRAS 2024.1 TEORIA E FUNDAMENTOS DA LITERATURA NOVO DIGITAL WEB 2 Prof. Me. Neilton Lima 27/03/2024 SETOR DE MARKETING GRUPO SER EDUCACIONAL SETOR DE MARKETING GRUPO SER EDUCACIONAL Os Gêneros, da Antiguidade à Contemporaneidade Os Gêneros clássicos: Lírico, Épico e o Dramático Os Gêneros Modernos A linguagem literária Discutir a linguagem literária incide primordialmente na reflexão sobre o que se entende por literatura. A mesma carrega em si uma série de definições e correlações de ordem epistemológica e histórica, e seu conceito é compreendido sob diferentes perspectivas até os dias atuais. Nesse sentido, é possível assinalar que a literatura manifesta-se como uma matéria complexa e ambígua. Para Emil Steiger (1988, p. 102), a mesma pode ser concebida em dois sentidos de amplitudes diferentes, dos quais o mais amplo estabelece a literatura como “[...] a totalidade de textos destinados a uso permanente”. Enquanto que, em uma percepção mais restrita, a literatura se insere somente como “[...] obras de arte literária, ‘poesia’, ‘beletrística’, ‘literatura de ficção’”. A partir dessa elucidação, infere-se que a literatura, sob tais perspectivas, resulta em materiais cujos aspectos estilísticos, ligados ao uso dos subsistemas linguísticos, diferem-se entre si, o que determina, por sua vez, os gêneros literários. Gênero lírico Os textos que pertencem a este gênero têm como cerne as emoções; o(a) autor(a) expressa subjetividades inerentes ao seres humanos. É o gênero que mais se utiliza dos recursos simétricos, sendo majoritariamente materializado em versos. São algumas modalidades do gênero: • O Soneto, poema de catorze versos, realizado em dois quartetos e dois tercetos; • A Elegia, com temas sobre o luto e a tristeza; • A Epopeia ou o poema Épico, com versos que anunciam um discurso narrativo. “Um poema acentuadamente lírico” Apavorado acordo, em treva. O luar É como o espectro do meu sonho em mim E sem destino, e louco, sou o mar Patético, sonâmbulo e sem fim. Desço da noite, envolto em sono; e os braços Como ímãs, atraio o firmamento Enquanto os bruxos, velhos e devassos Assoviam de mim na voz do vento. Sou o mar! Sou o mar! Meu corpo informe Sem dimensão e sem razão me leva Para o silêncio onde o Silêncio dorme Enorme. E como o mar dentro da treva Num constante arremesso largo e aflito Eu me despedaço em vão contra o infinito. Vinicius de Moraes “O que o vento não levou” No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo um carinho no momento preciso o folhear de um livro de poemas o cheiro que tinha um dia o próprio vento… Mário Quintana “Tecendo a manhã” Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. João Cabral de Melo Neto 1 Gênero dramático Tal gênero se encerra em encenações em forma de roteiro, por exemplo, para o cinema e televisão, e por meio de peças de teatro, mais tradicionalmente. Sem narrador(a), as personagens interagem entre si, sendo a estória desenrolada, a partir de um tema central. [...] podemos observar que o dramático, como indica a própria origem da palavra (drama vem do verbo grego dráo = fazer), é ação. Por isso, o mundo nele representado (pois o texto dramático se completa na representação) apresenta-se como se existisse por si mesmo, sem a interferência de um narrador. (Soares, 2007, p. 58). As principais variações do gênero são: • Representação de fatos trágicos; • Uso de linguagem coloquial, que representa o cotidiano de um grupo de modo cômico; • Nome do gênero em termos gerais e especificamente um composto de tragédia e comédia; • Relaciona-se com os mistérios, a moralidade e o religioso; • Assuntos profanos. 2 O gênero épico Em uma perspectiva mais abrangente, ou narrativo, em um recorte, pode realizar-se em forma de verso (na maioria da epopeias), mas é em prosa que as demais modalidade se expressam. As epopeias são o marco inicial das obras narrativas e se classifica como “[...] uma longa narrativa literária de caráter heroico, grandioso e de interesse nacional e social” (Soares, 2007, p. 39). Segundo Soares (2007), em conjunto a todos os elementos narrativos (o(a) narrador(a), personagens, tema, enredo, espaço e tempo) se forma uma atmosfera maravilhosa que, em torno de acontecimentos históricos passados, contempla mitos, heróis e deuses. As demais modalidades se desenvolveram a partir da influência dos Movimentos modernos, como o Romantismo. Entre elas, destacam-se o conto, a novela, o romance, a crônica (todas em prosa). 3 4 Normalmente, a epopeia narra eventos heroicos ligados a uma cultura. Ela deriva da palavra epos, que era anteriormente aplicada a obras ou contida em hexâmetros. Os registros mais antigos deste gênero literário são encontrados na Mesopotâmia em 2200 a.C. com o trabalho intitulado Poema de Gigalmesh. No início, a epopeia não era propriamente um texto escrito, mas histórias contadas oralmente e recitadas publicamente, passadas fielmente de geração em geração. Os aedos eram poetas que cantavam as façanhas dos heróis. Esse tipo de epopeia oral foi deslocada a partir do século XIV pelo que mais tarde foi chamado de epopeia clássica onde é demostrado um modelo mais sofisticado do que nos tempos antigos. Epopeias clássicas ou primárias: Ilíada (guerra entre gregos e troianos) e Odisseia (retorno de Ulisses para a Grécia após a Guerra de Troia), de Homero, do século VIII a.C. Epopeias de imitação ou secundárias: Eneida, de Virgílio, dos anos 30 a 19 a.C. com a saga de Enéias, um troiano que é salvo dos gregos em Tróia, e sua viajaem errante pelo Mediterrâneo até chegar à região que atualmente é a Itália; e Os Lusíadas (1556), de Camões. 2 1 4 3 O conto é o mais breve dos gêneros narrativos prosaicos, e é também o mais antigo e comum na História das literaturas, em comparação às longas narrativas. Foi cultivado pelos árabes, na Europa Ocidental, na Espanha, na Itália, na França, na Rússia, etc. (Soares, 2007, p. 54). É resultado, portanto, de um processo de seleção e de harmonização dos elementos selecionados, com ênfase no essencial. Mesmo possuindo os componentes do romance (personagens, tempo, espaço, etc.), o conto elimina as análises em grandes detalhes, complicações no enredo e comprime o tempo e o espaço (Ibidem, p. 54). O romance é a modalidade de maior expansão e contempla uma riqueza de detalhes para sustentar tal característica. Surge na Idade Média com o Romance de cavalaria; E como ficção no Renascimento, realizando-se como Romance pastoril e sentimental; e verifica-se no Romance barroco, de aventuras complicadas e inverossímeis(Ibidem, p. 42). Ainda segundo Soares (Ibidem, p. 43): “Em qualquer dessas formas, ora perfeitamente delineados e identificáveis, ora desestruturados e camuflados, o enredo, as personagens, o espaço, o tempo, o ponto de vista da narrativa constituem os elementos estruturadores do romance. 1 A novela é um intermédio entre conto e romance, em sua expansão. Estrutura-se com os mesmos elementos narrativos do romance, havendo redução de alguns aspectos, tais quais longas descrições e análises. Há uma tendência de enredos unilineares, nos quais a ação é o cerne, e momentos de crises são destacados, em oposição aos romances que, em geral, descrevem toda a vida dos personagens (Soares, 2007, p. 55-56). Soares (Ibidem, p. 56) afirma aindaque “O predomínio da ação que, muitas vezes, favorece a construção dialogada, dá à novela uma feição dramática [...]”. A crônica é um gênero textual muito presente em jornais e revistas. Em geral, os assuntos abordados em textos desse tipo são voltados ao cotidiano das cidades – a crônica pode ser entendida como um retrato verbal particular dos acontecimentos urbanos. Os bons cronistas são aqueles que conseguem perceber, no dia a dia de suas vidas, impressões, ideias ou visões da realidade que não foram percebidas por todos. Embora não seja uma regra, as crônicas costumam tratar de assuntos mais leves e de um modo humorístico. 2 Poema em prosa Lima (2018) alude que não é possível apontarmos com exatidão um marco que date o surgimento do poema em prosa. No entanto, muitos teóricos afirmam que é no seio do Romantismo que essa forma literária encontra abertura para desenvolver-se, posto que o poema em prosa está ligado à necessidade de libertação das formas impostas pelo movimento literário anterior, o Classicismo. Charles Baudelaire (1821-1867), autor de Flores do Mal (1857), é um dos primeiros — e talvez um dos mais conhecidos — a associar prosa e verso na sua obra Pequenos poemas em prosa, publicada postumamente em 1869. 3 XXXIII EMBEBEDAI-VOS É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão. Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos. E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedai-vos sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.” (BAUDELAIRE, Charles. Pequenos Poemas em Prosa (Le Spleen De Paris). In: https://www.epedagogia.com.br/materialbibliotecaonine/3619Pequenos-Poemas -em-Prosa-Le-Spleen-De-Paris.pdf Baudelaire (1821-1867), Mallarmé (1842-1898) e Rimbaud (1854-1891) Prosa poética Alguns autores entendem que há uma diferenciação possível entre o poema em prosa e a prosa poética. Para Paixão (2013), é a primeira palavra de cada um dos termos que os diferencia. A prosa poética, nesse sentido, teria a sua ênfase centrada na prosa, sendo o que a define enquanto forma de escrita, porém, ela apresenta recursos estilísticos advindos da poesia. Dessa maneira, a prosa poética lança um “olhar lírico sobre a realidade”, mas as frases e os parágrafos propõem uma “dinâmica extensiva para o texto e as imagens evocadas” (Paixão, 2013, p. 152). Para o autor, dois exemplos nesse sentido são essenciais: Finnegans Wake, de James Joyce, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Embora seja possível escrever em poesia e em prosa ao mesmo tempo, a primeira, em sua essência, é formatada/materializada preliminarmente no poema. Ou seja, o poema é a forma substancial da poesia. Sabe-se que, nos primórdios da literatura, não havia distinção entre música e poema. No poema, então, tem-se o foco subjetivo da significação poética, e a estrutura métrica e rítmica do verso. O mesmo, segundo Baptista (1995, p. 325 apud Araújo, 2020, p. 35), configura-se a partir de três princípios básicos: repetição; arte da significação; possibilidade de ressignificação. Para começar, é necessário discernirmos que prosa é o estilo de texto literário organizado em frases e parágrafos, sendo que os seus exemplares possuem início, desenvolvimento e fim. A prosa não possui versos, estrofes ou metrificação intencional e é conhecida, em geral, como narrativa, um texto que apresenta uma sequência de ações narradas, abrangendo alguns gêneros, como novela, conto, romance e crônica. O primeiro princípio básico está ligado à estruturação textual - marcadores rítmicos e métricos, além de elementos próprios do gênero, tais quais versos (uma linha), estrofe (três ou quatro versos), rima, etc. O segundo princípio é relativo à capacidade associativa e criativa na construção de significados, repassando por diversas esferas da semiótica (estudo das representações de signos e sistemas de comunicação, considerando não somente aspectos linguísticos, mas também sociais). E, por fim, essa teia significativa própria da poética relaciona-se com os leitores e suas interpretações e construção de significados, fechando um ciclo de continuidade das obras. Um dos primeiros elementos a se observar na análise do poema é sua estrutura visual (número de estrofes e de versos, disposição visual, etc.). Essa observação é importante para que se estabeleça relações de sentido entre o texto e sua forma visual. Essa análise é também conhecida como a análise do nível gráfico do poema, ou seja, da forma como ele está escrito. Nessa análise, também é importante observar o título, pois ele serve como uma espécie de slogan do poema, interferindo em sua significação. Tanto a disposição das palavras quanto os espaços em branco são importantes para essa análise. Após a “leitura visual” do poema, passamos para a análise do nível fônico do poema, observando os elementos de versificação, as repetições, a acentuação, a entonação. Outro nível relevante a ser considerado no poema é o nível lexical. De que forma o sentido denotativo das palavras constitui sua literariedade? No nível sintático, aprofunda-se a análise dos desvios sintáticos na construção do texto. No nível semântico, procura-se observar a estrutura de significação das palavras no texto, por meio das semelhanças e diferenças entre o sentido do texto e o sentido literal das palavras Cidade, Arthur Rimbaud Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole considerada moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não encontrará o menor sinal de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem tem necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo espectros novos rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito gemendo na lama da rua. “Brisa marinha” (Brise marine) A carne é triste e eu, aí! já li todos os livros. Fugir! Fugir p’ra longe. Oiço as aves aos gritos Ébrias na espuma ignota e sob o céu, em bando! Nada, nem vãos jardins nos olhos se espelhando Retém meu coração que se embebe de mar, Oh noite! nem a luz da candeia a alumiar O deserto papel que a brancura defende; Nem mesmo jovem mãe que seu filho amamente. Hei-de partir! Vapor em marítimas crises, Iça o ferro e faz rumo a exóticos países. Um tédio triste, em cruel e inútil esperar, Crê no supremo adeus dos lenços a acenar. Que os mastros, porventura, atraindo presságios, São os mesmos que um vento inclina nos naufrágios. Soltos no mar, no mar, sem ilhas nem esteiros. Mas ouve, coração, cantar os marinheiros. “O Acaso” Cai a pluma rítmico suspense do sinistro nas espumas primordiais de onde há pouco sobressaltara seu [delírio a um cimo fenescido] pela neutralidade idêntica do abismo DÉCIO PIGNATARI O gênero narrativo, suas Tipologias e Teorias Obrigado! image1.png image2.png image3.png image4.pngimage5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png image11.png image12.jpeg image13.png image14.jpg image15.png image16.jpg image17.jpg image18.png image19.jpg image20.png image21.png image22.png image23.jpg image24.jpg image25.jpg image26.jpg image27.png image28.png image29.png image30.png