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MOTIVAÇÃO E PROPÓSITO Chaves do Engajamento e Produtividade nas Organizações Alexandre Vasconcellos de Andrade1 RESUMO Este artigo de revisão qualitativa de literatura visa entender qual é o papel da motivação no desempenho do trabalhador e como ela é influenciada pelo propósito pessoal em alinhamento com o planejamento estratégico das organizações: missão, visão e valores. Identificar as chaves do engajamento e da produtividade individual e organizacional tão necessárias ao sucesso comercial das empresas e sua sustentabilidade, desafiando sua permanência num mercado essencialmente globalizado que na atualidade é um desafio constante. Identificar quais são as práticas e estratégias organizacionais para fomentar e promover o engajamento individual e de equipes com a produtividade em alta com resultados operacionais e financeiros positivos. Por fim, foi possível constatar que sem o alinhamento entre os objetivos individuais e de equipes de trabalho em convergência e alinhamento com o propósito organizacional, não é possível obter resultados expressivos ou mesmo positivos: é preciso que haja transparência, satisfação, proveito e consonância de todos os stakeholders envolvidos. Palavras-chave: Motivação. Propósito. Engajamento. Produtividade. ABSTRACT This qualitative literature review article aims to understand the role of motivation in worker performance and how it is influenced by personal purpose in alignment with the strategic planning of organizations: mission, vision and values. Identifying the keys to individual and organizational engagement and productivity, so necessary for the commercial success of companies and their sustainability, challenging their permanence in an essentially globalized market, which today is a constant challenge. Identify the organizational practices and strategies to encourage and promote individual and team engagement with high productivity and positive operational and financial results. Finally, it was possible to verify that without the alignment between the individual and work team objectives in convergence and alignment with the organizational purpose, it is not possible to obtain expressive or even positive results: there must be transparency, satisfaction, profit and consonance of all stakeholders involved. Keywords: Motivation. Purpose. Engagement. Productivity. 1 Graduado em Pedagogia com Licenciatura Plena (UVA). Especialização em Educação e distância (UFF), Gestão de Recursos Humanos (AVM) e Ensino de Filosofia e Sociologia (UCAM). Mestrando em Psicologia Organizacional pela Must University. E-mail: prof.alexandre.vas@gmail.com mailto:prof.alexandre.vas@gmail.com 2 1 Introdução As organizações são por excelência ecossistemas de relações de troca, convivência, aprendizado, produção e lucro. Embora esses fatores sejam primordiais, insere-se nesse contexto a importância da motivação e da produtividade do colaborador para o sucesso e permanência das e nas organizações. A motivação está vinculada aos interesses individuais que podem ter origem de natureza própria ou interna, ou mesmo provocada pelo ambiente externo quando as possibilidades de ganho, satisfação e realização de sonhos individuais podem ser alcançados. A convergência dos objetivos organizacionais, individuais ou de grupos que as compõem devem ser planejados, implementados, controlados e avaliados pelos gestores responsáveis pela liderança das equipes para obtenção de resultados financeiros e operacionais positivos. O comportamento humano, e, portanto, as relações interpessoais no cotidiano de trabalho devem ser objeto de acompanhamento pelos responsáveis dos departamentos e de equipes porque ao influenciarem diretamente a satisfação, a motivação, o comprometimento e, em decorrência disso a produtividade, devem-se adotar estratégias de controle e promoção do engajamento no trabalho. A existência de um propósito claro e transparente das organizações, observando sua função social de promover o bem estar e a satisfação das partes envolvidas ou interessadas (stakeholders), tais como a sociedade, o governo, os colaboradores devem ter objetivos e metas moralmente aceitáveis, por todos. Nesse contexto, é comum que o nível de envolvimento, responsabilidade social e ambiental, quando adotado pela administração estratégica das empresas seja um forte elemento agregador e motivador dos colaboradores, sendo um fator preponderante no sentimento de propósito, satisfação, engajamento, comprometimento e produtividade nas organizações. O objetivo deste artigo de revisão de literatura é verificar a relevância da motivação e do engajamento no desempenho do colaborador e das organizações. 3 A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica de artigos indicados e de internet. A estrutura adota foi na introdução destacar a relevância do tema engajamento para resultados positivos nas organizações. No desenvolvimento apresentar suas três dimensões e sete estratégias de engajamento para verificar envolver e motivar os colaboradores. 2 Desenvolvimento 2. 1 Emoções e motivação: o mundo interior do colaborador De acordo com Miguel (2015) as emoções são sentimentos e expressões momentâneas, sendo constituídas de um mix de percepções e constructos internalizados, cuja origem proveem do mundo exterior. Essas influências geram no organismo ações e reações de ordem física e emocional que influenciam decisivamente as percepções conscientes do indivíduo. Nas palavras do referido autor: [...] parte-se do entendimento atual, na literatura, de que as emoções não são mais compreendidas como uma reação única, mas como um processo que envolve múltiplas variáveis. Nesse sentido, emoção poderia ser definida como uma condição complexa e momentânea que surge em experiências de caráter afetivo, provocando alterações em várias áreas do funcionamento psicológico e fisiológico, preparando o indivíduo para a ação. (Miguel, 2015, p. 1). Sendo assim, percebe-se o quanto o comportamento dos colaboradores pode ser influenciado pelas estratégias que uma organização, por meio de políticas de recursos humanos com a influência do clima e da cultural organizacional, bem como através das lideranças podem obter em conjunto resultados positivos na produtividade individual e/ou empresarial. O resultado promovido pelo engajamento na organização com bases em diversas estratégias, tais como: reconhecimento, elogios, prêmios, ambiente de trabalho ergonômico, visando ao bem estar dos colaboradores com um meio salubre - física e emocionalmente - 4 certamente constituem um diferencial competitivo que viabiliza a satisfação e a retenção de talentos na organização. Neste cenário, nosso autor destaca o processo integrativo das emoções explicitando uma cadeia sucessiva de eventos que se iniciam num evento ou ocorrência, desencadeia uma “inteligibilização” individual e interna, culminando numa interpretação, comportamento/atitude e reações orgânicas, conforme na figura 1: Modelo integrativo do processamento emocional Fonte: Miguel (2015, p.3) Diante do exposto, identifica-se o processo que desencadeado pelas ações promovidas sobre o indivíduo em seu meio familiar, social ou profissional influenciam suas ações e reações, percepções e sentimentos, assim como seu engajamento e produtividade. Cabe aos gestores das organizações junto ao setor de RH e lideranças diretas fomentarem um ambiente propício ao atingimento de suas metas e objetivos de produtividade e lucratividade. Schaufeli et al (2013) destacam a importância das emoções positivas no trabalho, relacionando-as com o equilíbrio com a vida pessoal e familiar, a fim de se evitar as tendências negativas da compulsão ao trabalho, que intitula o colaborador como workaholic. 5 2.2 Engajamento e produtividade Segundo Martins & Machado (2022) o termo engajamentofoi cunhado pelo pesquisador William Kahn nos idos dos anos 1990, visando representar um constructo mental positivo ou adequado ao ecossistema empresarial produtivo. Essa volição cognitiva é vista como positiva nos âmbitos racional e emocional, majorando os níveis de envolvimento e comprometimento com as metas estratégias e operacionais de uma organização. Os autores em tela, apoiados noutros teóricos como Schaufeli (2012, 2016, 2017) os quais destacam que “o construto é considerado uma condição positiva, cognitiva e afetiva caracterizada por elevado nível de vigor, dedicação e absorção”, no ambiente organizacional (Martins & Machado, 2022, p. 3). No extremo oposto, os referidos autores pontuam que a síndrome de Burnout refere-se à parte negativa de constructo, impactando necessariamente o emocional, as relações intrassociais e a saúde ocupacional do colaborador no contexto de stress laboral, conforme citato por Martins & Machado (2022, p. 4) como citado em Pocinho & Perestrelo (2011) e Schaufeli & De Witte (2017). Em linha com a autora Moreira et al (2022) apoiadas em Schaufeli & Bakker (2003) identificam-se dimensões ou camadas de engajamento que evidenciam o status de aderência à política, as metas e objetivos a que a organização se propõe, estabelecendo como diretrizes organizacionais a serem atingidas em determinado período. As autoras indicam três dimensões de engajamento, a saber: 1) Vigor: verifica-se altos níveis de envolvimento e aplicação de energia mental, emocional, física/orgânica para o atingimento de metas, bem como uma adoção de práticas e técnicas de trabalho para contornarem e/ou superarem as dificuldades a cada momento em que são vivenciadas ou identificadas; 6 2) Dedicação: identifica-se pelo alto nível de compromisso e responsabilidade, que proporcional realização, satisfação e pertencimento do colaborador com a organização. É comum nesses casos identificar os que assim se envolvem, terem maior nível de prontidão, dedicação “fazendo sempre mais” do que lhes é exigido ou esperado; 3) Absorção: estágio mais profundo e absorto de envolvimento com o trabalho cotidiano ao ponto de ignorar o tempo/horário, maior intensidade de produtividade, comprometimento e mesmo dificuldade de estabelecer limites de relação com o trabalho. De acordo com Sendin (2020) e Pedra (2023) o especialista britânico em Recursos Humanos Stephen Harding sintetiza os níveis de engajamento em: pensar, sentir e agir, o que tem relação direta as etapas descritas por Martins & Machado (2022), respectivamente: vigor, dedicação e absorção. 2.3 Ações de engajamento Pedra indica, citando Harding (2013) que há sete ações de engajamento que podem ser adotadas pelas organizações com a finalidade de motivar, envolver, criar sendo de propósito fazendo com que os colaboradores efetivamente e verdadeiramente “vista a camisa” e façam efetivamente parte da “equipe/time”: 1ª) Liderança de excelência: saber efetivamente liderar, ser exemplo, apoio, direção e incentivo mais do que apenas saber “dar ordens”; 2ª) Sentimento de propósito: valorizar as funções de cada colaborador, enfatizando sua importância e contribuições para um objetivo comum e maior; 7 3ª) Oportunidade de crescimento: não somente profissional, mas também humano e pessoal, facilitando assim a atribuição de valor, vínculo e propósito com a convergência de objetivos individuais e organizacionais; 4ª) Recompensas: não só materiais e financeiras, bem como as emocionais porque reconhecimento, elogios e desafios são saudáveis ao desenvolvimento e à permanência do colaborador na organização, reduzindo assim o absenteísmo e o turnover e controlando a satisfação; 5ª) Formas de aprimoramento: disponibilizar possibilidades de aperfeiçoamento pessoal e profissional com academias, universidades e escolas técnicas a fim de promover essas possibilidades, além de uma proposta de um (PDI) Plano de Desenvolvimento Individual; 6ª) Mecanismos de diálogo: identificar e valorizar a individualidade de cada colaborador, além de dar voz e saber ouvir (escuta ativa) a esse humano diverso em sua irrepetível singularidade; e 7ª) Integração da equipe: estratégias de reuniões mensais após confraternizações que parabenizam os destaques do mês e aniversariantes, além da apresentação de metas e resultados. Propor desafios e trabalhos voluntários que estejam alinhados à Responsabilidade Social da organização, seja com o entorno social, a sociedade, o meio ambiente ou quaisquer outras ações de inclusão social e profissional. Em Chiavenato (2014) na obra Gestão de Pessoas, o referido autor põe em evidência as principais funções da Moderna Gestão de Pessoas e, no item “manter pessoas” destaca como integrante o engajamento que deve ser fomentado pela administração. Nas palavras do autor: [...] gerir pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff. Trata-se de uma responsabilidade indelegável de cada executivo ou líder dentro da organização. Quem deve gerir pessoas é o próprio executivo ou líder que tem a responsabilidade de 8 lidar diretamente com seus subordinados, tomar decisões a respeito deles, definir seus objetivos individuais ou grupais e padrões de desempenho, liderá-los, orientá-los e engajá-los na organização, cuidar de seu treinamento e desenvolvimento, remuneração e incentivos (Chiavenato, 2012, p. 19). Na figura 2 a seguir, visualiza-se todas as principais funções de gestão de pessoas indicadas por Chiavenato: Processos básicos de gestão de pessoas Fonte: Chiavenato (2014, p. 19). Em linhas gerais, identifica-se que em todas as instâncias ou etapas da gestão de pessoas para o engajamento, desde o Recrutamento e Seleção (R&S) até o subsistema de Avaliação de Desempenho (AD) é possível atuar de maneira que o colaborador possa ser influenciado ao senso de pertencimento da organização e seu propósito, visando a satisfação dos objetivos de todos os envolvidos ou partes interessadas. 9 Concordamos com o autor que ao se referir à moderna Gestão de Pessoas, que os colaboradores devem ser vistos em sua singularidade e pessoas responsáveis. Que a perspectiva de que todos os funcionários são em alguma medida preguiçosos, conforme a Teoria X e Y, deve ser revista ou repensada. Como expõe o autor em tela: Pessoas como seres humanos proativos e inteligentes que devem ser impulsionados. Ênfase na liberdade e no comprometimento para motivar as pessoas (Chiavenato, 2014, p. 38). 3 Considerações Finais O engajamento é produto das emoções direcionadas em sentido positivo dentro das organizações, promovendo o sentido de pertencimento, o sendo de propósito e de motivação em consonância e convergência dos objetivos individuais, coletivos e organizacionais. Outra perspectiva do engajamento é a possibilidade de absorção, gerando um comportamento descomedido gerando o que se intitula de workaholic, podendo culminar no stress exacerbado e na Síndrome de Burnout, impactando negativamente nos resultados. As estratégias organizacionais de engajamento devem ser constantemente aplicadas pela organização por meio de políticas macro de incentivos e reconhecimento, sensibilizando e mobilizando os colaboradores rumo ao engajamento e atingimento de metas individuais e setoriais ou coletivas. As emoções são essenciais nesse processo de pertencimento e produtividade. Nesse contexto, evidente fica a importância e necessidade da atuação de um Psicólogo Organizacional e do Trabalho (POT) para o planejamento, implementação, execução, avaliação e adaptação constante. O papel e responsabilidade das lideranças imediata não é menor: trata-se de movimento constante visando à integração e participação de todos no bem estar comum. Em última instância, cabe ao humano por trás de cada colaborador estabelecer seus objetivos pessoais e profissionais,buscando uma razão de ser, um propósito que o faça maior. 10 4 Referências Bibliográficas Chiavenato, I. (2014). Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. (4. ed.) Barueri, SP: Manole. Harding, S. (2023). Time só se compromete com líder motivador. Disponível em: Time só se compromete com líder motivador | Exame Acesso em 22 abr. 2023. Martins, P. C. P.; Machado, P. G. B. (2022). Processo de Validação de Escala de Engajamento no Trabalho para População Brasileira. Disponível em: https://zir.li/#/lzA6yT9 Acesso em: 21 abr. 2023. Miguel, F. K. (2015). Psicologia das emoções: uma proposta integrativa para compreender a expressão emocional. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusf/a/FKG4fvfsYGHwtn8C9QnDM4n/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 20 abr. 2023. Moreira, M. L. R.; Rodrigues, R. A. P.; Mattos, C. A. C.; & Costa, C. E. A. S. (2022). Engajamento no Trabalho e Desempenho Profissional: Uma breve discussão. Disponível em: http://relise.eco.br/index.php/relise/article/view/610 Acesso em: 20 abr. 2023. Pedra, D. (2023). 7 ações de engajamento de funcionários nas empresas para aumentar a produtividade da equipe. Disponível em: 7 ações de engajamento de funcionários QUE FUNCIONAM! (siteware.com.br) Acesso em: 21 abr. 2023. Schaufeli, W.; Dijkstra, P.; & Vazquez, A. C.; (2013). Engajamento no Trabalho. [e‐book] Flórida: Must University Sendin, T. (2020). Nas mãos da Gerência. Disponível em: Nas mãos da gerência. Para o britânico Stephen Harding, o… | by Tatiana Sendin | Medium Acesso em 21 abr. 2023. https://exame.com/carreira/nas-maos-da-gerencia/ https://exame.com/carreira/nas-maos-da-gerencia/ https://zir.li/#/lzA6yT9 https://www.scielo.br/j/pusf/a/FKG4fvfsYGHwtn8C9QnDM4n/?format=pdf&lang=pt http://relise.eco.br/index.php/relise/article/view/610 https://www.siteware.com.br/produtividade/acoes-de-engajamento-nas-empresas/ https://www.siteware.com.br/produtividade/acoes-de-engajamento-nas-empresas/ https://tsendin.medium.com/nas-m%C3%A3os-da-ger%C3%AAncia-a6c8939a87dc https://tsendin.medium.com/nas-m%C3%A3os-da-ger%C3%AAncia-a6c8939a87dc