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PÓS-GRADUAÇÃO À DISTÂNCIA Professora autora/conteudista MARCIA MAURILIO SOUZA É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação pública, sob pena de responsabilização civil e criminal. SUMÁRIO 11 Como surgiu a neurociência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1 .1 Fenômeno elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1 .2 Funções específicas e suas localizações no cérebro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1 .3 A evolução do sistema nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1 .4 O neurônio como unidade básica do sistema nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Recapitulando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2 O sistema nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2 .1 Apresentação do sistema nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2 .2 O desenvolvimento do cérebro – o cérebro triúno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2 .3 Plasticidade neural ou neuroplasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2 .3 .1 O neurônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 2 .3 .2 A sinapse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2 .3 .3 Relação entre plasticidade cerebral e memória/experiência . . . . . . . .23 Recapitulando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3 Sistema límbico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3 .1 Apresentação do sistema límbico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3 .2 Estruturas cerebrais que compõem o sistema límbico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.2.1 Amígdala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 3 .2 .2 Hipocampo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 3 .2 .3 Tálamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 3 .2 .4 Hipotálamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 3.2.5 Giro cingulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 3 .2 .6 Tronco cerebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 3 .2 .7 Área tegmental ventral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30 3.2.8 O septo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30 3 .2 .9 Área pré-frontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Recapitulando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4 Neurociência e aprendizagem: questões relevantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4 .1 Sentimentos, emoções, afeto, consciência, cognição, vontade e aprendizagem 33 4 .1 .1 Afeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 4 .1 .2 Emoções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 4 .1 .3 Consciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 4 .1 .4 Sentimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 4 .1 .5 Ainda sobre as emoções e a aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . .37 4 .1 .6 Vontade ou ato volitivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38 4 .2 Processos sensoriais e aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4 .2 .1 A visão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 4 .2 .2 A audição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 4 .2 .3 O olfato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 4 .2 .4 A gustação ou sentido do paladar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 4 .2 .5 O tato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52 4 .2 .6 O sistema vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54 4 .2 .7 Sistema proprioceptivo ou cinestésico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 4 .3 Percepção e o desenvolvimento da aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4 .4 Linguagem e pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Recapitulando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Pág. 6 de 72 APRESENTAÇÃO Caro(a) cursista, a neurociência é uma ciência que somente se configurou como tal a partir de meados do século XX. Entretanto, antes disso, muitos estudiosos já investigavam o sistema nervoso e suas funções, e há indícios, no transcorrer da História Antiga, de que desde a Pré-História os hominídeos já entendiam que o cérebro era importante. A neurociência é uma ciência multidisciplinar. Pesquisadores de várias áreas contribuem para o arcabouço de seus conhecimentos (médicos, psicólogos, matemáticos, psiquiatras, entre outros), e todos aqueles que têm o sistema nervoso como objeto de estudo. Nosso sistema nervoso é o responsável pelas funções do pensar, movimentar e sentir. Em sua organização há terminações nervosas que compõem os sistemas sensoriais e que são capazes de captar as informações do meio ambiente e de nosso próprio organismo. Essas informações chegam às várias áreas do cérebro responsáveis por seu processamento e, com base nessas percepções,podemos tomar decisões e realizar tarefas. Todas as informações que são processadas em nosso sistema nervoso são importantes para nossa aprendizagem. Está comprovado que nossas experiências e aprendizagens modificam o nosso cérebro por meio da plasticidade neural. Um adulto possui um cérebro único, que foi redesenhado pela neuroplasticidade, por suas experiências de vida e aprendizagens. Esperamos que o conteúdo desta aula seja importante e interessante o suficiente para que possa despertar interesse em novos estudos e melhorar a prática profissional de todos(as). Profa. Dra. Marcia Maurilio Souza Pág. 7 de 72 OBJETIVOS DA AULA Apresentar conceitos das neurociências e da plasticidade neural em interface com os processos de ensino-aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento do sistema nervoso, as estruturas cerebrais que o compõem e os processos sensoriais, de percepção e de aquisição de linguagem. Pág. 8 de 72 UNIDADE 1 – HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA 1 COMO SURGIU A NEUROCIÊNCIA Todos nós temos consciência de que nosso sistema nervoso é o responsável por nossos pensamentos, sentimentos e movimentos, mas desde quando os estudiosos pensaram dessa forma? Como surgiram essas ideias? Quando falamos em sistema nervoso, estamos falando do encéfalo, da medula espinhal e dos nervos do corpo; o encéfalo, por sua vez, é composto pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico (ou cerebral), ou seja, tudo o que está dentro de nossa caixa craniana. Bear, Connors e Paradiso (2002) afirmam que nossos ancestrais pré-históricos já tinham o entendimento de que o encéfalo era vital para o desenvolvimento humano. Os autores reiteram que crânios de hominídeos de cerca de 7 mil anos foram abertos cirurgicamente, isso com a pessoa ainda viva, pois há sinais de cicatrização. Os procedimentos tinham a intenção de curar dores de cabeça ou transtornos mentais e eram chamados de trepanação, o que para Bear, Connors e Paradiso (2002) poderia ser uma forma de esses ancestrais oferecerem uma porta de saída para os maus espíritos. Figura: Desenho de uma trepanação (1517) Fonte: markus mueller/Commons.wikimedia.org Pág. 9 de 72 Temos escritos médicos de cerca de 5 mil anos que comprovam que os egípcios também já observavam os sintomas das lesões cerebrais. O pai da medicina ocidental, Hipócrates (469-370 a.C.), que viveu na Grécia Antiga, fez afirmações sobre o encéfalo ser o órgão das sensações e a sede da inteligência, baseado na perspectiva da teoria da “correlação entre estrutura e função”. Essa teoria partia do princípio de que as partes do nosso corpo se caracterizam de acordo com suas funções. Tendo isso em vista, Hipócrates observou, ao dissecar o encéfalo, que os nervos que captam as sensações se encaminham para dentro dele, visto que seus órgãos estão localizados na cabeça – os olhos e os ouvidos, responsáveis pela visão e audição; o nariz e a língua, que captam os odores e os sabores por meio do paladar. Ainda na Grécia, o médico Galeno (130-200 d.C.) fez experiências de dissecações de encéfalos de ovelha e, ao tocá-los com seus dedos, fez a seguintes afirmações: que o cérebro, por ser macio, poderia receptar e armazenar as sensações; por sua vez, o cerebelo, por ter uma estrutura mais rígida, deveria originar os comandos para o corpo. Segundo Bear, Connors e Paradiso (2002), o médico grego não ficou tão longe da verdade, os autores reiteram: “O cérebro está, de fato, bastante comprometido com as sensações e percepções, e o cerebelo é principalmente um centro de controle motor. Além do mais, o cérebro é um repositório da memória” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 5). Galeno (130-200 d.C.) também afirmou que os nervos eram tubulações ocas; assim sendo, fluidos ou humores encontrados nos ventrículos percorriam esses tubos para impulsionar os movimentos dos membros. Essa afirmação incorreta perdurou por quase 1.500 anos, na Renascença alguns outros detalhes foram adicionados à estrutura do encéfalo. Essa “teoria do fluido mecânico” era defendida por René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático. Entretanto, Descartes defendia que a teoria poderia explicar o funcionamento do encéfalo dos animais, mas não totalmente dos seres humanos, porque, para ele, os humanos tinham algo mais; para o filósofo e matemático, a mente humana era como uma entidade espiritual. Segundo Bear, Connors e Paradiso (2002), as pesquisas contemporâneas em neurociências chegam à conclusão de que o cérebro é a base física da mente. Pág. 10 de 72 Figura: O encéfalo de acordo com Descartes Fonte: Descartes (1677, p. 139). Bear, Connors e Paradiso (2002) ressaltam que somente nos séculos XVII e XVIII essa teoria foi rompida, outras substâncias cerebrais foram citadas pelos pesquisadores e essas divididas em branca e cinzenta, assim como suas funções foram designadas. Os autores indicam que a substância branca tem em sua continuidade os nervos do corpo, ela contém fibras que conduzem informações para a substância cinzenta. As teorias da localização cerebral passaram a ser desenvolvidas a partir do final do século XVIII pelos estudiosos da neuroanatomia, quando o sistema nervoso havia sido todo dissecado e seus sulcos e giros observados em detalhe. Bear, Connors e Paradiso (2002) relacionam algumas das teorias sobre o funcionamento do sistema nervoso no período supracitado: as diferentes partes identificáveis do encéfalo provavelmente executam funções distintas; a comunicação entre o encéfalo e o corpo se dá por meio dos nervos; o encéfalo segue as leis da natureza e funciona como uma máquina; e os danos no encéfalo provocam desorganizações nos movimentos, pensamentos e sensações, e podem levar à morte. 1 .1 Fenômeno elétrico Os fenômenos elétricos passaram a ter novas compreensões após a publicação, em 1751, do panfleto “Experimentos e Observações sobre a Eletricidade”, por Benjamin Franklin (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). Essa descoberta de Benjamin Franklin impulsionou novos estudos, entre eles o do cientista italiano Luigi Galvani e do biólogo alemão Emil Du Bois-Reymond, isso no início do Pág. 11 de 72 século XIX. As pesquisas de Galvani e Bois-Reymond acabaram por derrubar a teoria dos fluidos, demonstrando que os músculos eram movimentados por estímulos elétricos nos nervos, além de provarem que o encéfalo podia gerar eletricidade; nesse sentido, a teoria passou a ser de que os nervos eram como cabos que conduziam sinais elétricos para o encéfalo e dele para o corpo. Somente em 1810, quando dois cientistas observaram que os nervos têm em suas terminações filamentos, é que conseguiram provar que os nervos podiam conduzir sinais dos movimentos e das sensações ao mesmo tempo. Eles testaram as ligações desses filamentos com a medula espinhal (na parte da frente e na parte de trás) e conseguiram observar que eram conduzidas diferentes informações ao mesmo tempo para o encéfalo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). Figura: Nervos espinhais e raízes nervosas espinhais Fonte: Instituto Phorte. No total temos 31 pares de nervos que saem da medula espinhal e inervam a pele e os músculos. Se um desses nervos é cortado, há uma perda da sensação e dos movimentos na região afetada do corpo; por sua vez, onde os nervos se ligam à medula espinhal, as fibras motoras de saída se dividem em raízes espinhais. Nesse sentido, Bell e Magendie observaram que as raízes ventrais contêm somente fibras motoras e as raízes dorsais contêm fibras sensoriais (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). Pág. 12 de 72 1 .2 Funções específicas e suas localizações no cérebro Utilizando o mesmo método de Bell e Magendie, o fisiologista francês Marie-Jean Flourens constatou déficits motores e sensoriais provenientes de lesões em diferentes partes do sistema nervoso. O fisiologista também provou que o responsável pela coordenação dos movimentos era o cerebelo. Por sua vez, o neurologista francês Paul Broca examinou o encéfalode um de seus pacientes, após sua morte, e assim pôde localizar uma lesão em seu lobo frontal, o que provocava afasia no paciente, apesar de conseguir compreender a linguagem. Esse foi um grande passo para comprovar que as funções cerebrais estavam localizadas em suas diferentes partes (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). 1 .3 A evolução do sistema nervoso Os neurocientistas desenvolveram pesquisas em encéfalos de várias espécies de animais, assim identificaram as partes do encéfalo que eram especializadas em determinadas funções. Esses pesquisadores tiveram como base a teoria da seleção natural e da evolução das espécies de Charles Darwin, que observou que as diferentes espécies apresentam comportamentos e reações similares que são ativadas pelo sistema nervoso, como o medo ou o senso de proteção. Assim sendo, o sistema nervoso evoluiu de ancestrais comuns, entretanto, as várias espécies, a depender do ambiente em que vivem, desenvolveram comportamentos altamente especializados (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). 1 .4 O neurônio como unidade básica do sistema nervoso Somente no início do século XIX os pesquisadores puderam desenvolver suas investigações em nível celular, isso com a ajuda do microscópio. Até então, pairavam dúvidas sobre a unidade celular do sistema nervoso ser os neurônios. Foi o zoologista alemão Theodor Schwann, em 1839, quem propôs a “teoria celular: todos os tecidos são compostos por unidades microscópicas chamadas células” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002, p. 12). Pág. 13 de 72 Figura: Estrutura do neurônio Fonte: Instituto Phorte. As neurociências estão em evolução constante; assim, as pesquisas nessa área apresentam descobertas importantes, impulsionadas por novas tecnologias como microscópios mais precisos, aparelhos de ressonância magnética, entre outros recursos. Na atualidade, os neurocientistas optaram por uma abordagem reducionista para enfrentar o desafio da complexidade que é estudar o sistema nervoso. Essa abordagem está dividida em níveis, segundo Bear, Connors e Paradiso (2002, p. 15): • Neurociência molecular – o estudo do encéfalo em seu nível elementar. • Neurociência celular – o estudo de como as moléculas trabalham juntas para dar ao neu- rônio suas propriedades especiais. • Neurociência de sistemas – estudo de como diferentes circuitos neurais analisam infor- mações sensoriais, formam a percepção do mundo externo, tomam decisões e executam movimentos. • Neurociência comportamental – estudo de como os sistemas neurais trabalham juntos para produzir comportamentos integrados. • Neurociência cognitiva – investiga como a atividade do encéfalo cria a mente (as ativida- des mentais superiores como a consciência, a imaginação e a linguagem). Pág. 14 de 72 RECAPITULANDO Nesta primeira unidade vimos a história da neurociência. Desde os primórdios, ainda na pré- história, os hominídeos já observavam que o cérebro era um órgão importante para a vida humana. Ainda na Grécia Antiga, Hipócrates estabelecia o encéfalo como o órgão da inteligência e das sensações. Passamos pelas várias descobertas de médicos, desde a Grécia, com Galeano, realizador de experiências e suposições sobre as estruturas e funcionamento dos nervos com sua “teoria do fluido mecânico”, que foi defendida por Descartes e derrubada somente no início do século XIX quando médicos conseguiram observar que, na verdade, o que ocorria eram transmissões elétricas. A partir das descobertas do neurologista Paul Broca é que os pesquisadores identificaram que o cérebro é constituído de partes distintas, e essas são responsáveis por funções diferentes. Hoje em dia, com a ajuda de tecnologias como a ressonância magnética, pode-se localizar com mais facilidade onde o cerebelo foi/está lesionado e se diagnosticar as consequências das lesões. Somente com o uso do microscópio pode-se afirmar que o neurônio é a célula fundamental do sistema nervoso, ou sua unidade básica. Com todas essas descobertas e a alta tecnologia a favor dos pesquisadores, a neurociência é considerada uma ciência em evolução e com muitas especificidades; além disso, as pesquisas na área têm contribuído grandemente para o ensino e a aprendizagem. Pág. 15 de 72 UNIDADE 2 – O SISTEMA NERVOSO 2 O SI STEMA NERVOSO 2 .1 APRE SENTAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO Sendo o sistema nervoso o objeto de pesquisa das neurociências, faremos uma breve apresentação dele. O sistema nervoso humano é composto basicamente pelo sistema nervoso central – cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal – e pelo sistema nervoso periférico – nervos e gânglios. Figura: Sistema nervoso central e sistema nervoso periférico Fonte: Pikovit44/iStock Pág. 16 de 72 Seguindo padrões anatômicos e funcionais, o sistema nervoso é dividido da seguinte forma: Figura: Divisão do sistema nervosoFigura: Divisão do sistema nervoso Fonte: Elaborado pela autora. No sistema nervoso central (SNC) temos o encéfalo (cérebro, tronco encefálico e cerebelo), localizado na caixa craniana. O cérebro é composto pelo telencéfalo e o diencéfalo. O telencéfalo é dividido em dois hemisférios, direito e esquerdo, ligados pelo corpo caloso. O diencéfalo é a região central do cérebro recoberta pelos dois hemisférios cerebrais, cortada pelo terceiro ventrículo cerebral, que contém o tálamo e o hipotálamo. O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo, ou seja, conecta a medula espinal com as estruturas encefálicas localizadas superiormente. Ele é composto pelo bulbo, ponte e mesencéfalo. O cerebelo, segundo Machado (1991 apud CEREBELO, 2017), define-se como: […] órgão do sistema nervoso suprassegmentar, deriva da parte dorsal do metencéfalo e fica situado dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do tecto do quarto ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do lobo occipital por uma prega da dura-máter denominada tenda do cerebelo. Pág. 17 de 72 Figura: Encéfalo Fonte: http://www.auladeanatomia.com/novosite/sistemas/sistema-nervoso O sistema nervoso periférico é composto por nervos e gânglios. Os primeiros são divididos em cranianos (derivados do encéfalo, têm funções sensitivas, motoras e viscerais) e nervos espinhais (aqueles que estão ligados à coluna espinhal), e os segundos são acúmulos de corpos celulares de neurônios situados fora do sistema nervoso central. 2 .2 O desenvolvimento do cérebro – o cérebro triúno Se tomarmos como base as teorias de Darwin sobre a seleção natural e o desenvolvimento segundo as necessidades do meio ambiente, podemos também pensar em um desenvolvimento do sistema nervoso, mais precisamente do cérebro, de acordo com as eras históricas pelas quais a humanidade passou. Em 1970, o neurocientista Paul MacLean, em seu livro The triune brain in evolution: role in paleocerebral functions (tradução livre: “O encéfalo triúno em evolução: papel das funções paleocerebrais”), propõe que nosso cérebro se divide em três funções, de acordo com a evolução pela qual ele passou ao longo da história da humanidade. Nosso cérebro apresenta três unidades funcionais: a analítico-lógica, a sintético-intuitiva e a fisiológico-operacional. Embora essas funções sempre estivessem presentes, dependendo do contingente histórico, uma delas era privilegiada em detrimento das outras. Pág. 18 de 72 As funções fisiológico-operacionais foram intensamente predominantes nos primórdios da vida humana no planeta. A luta árdua pela sobrevivência exigia ação permanente, ocupação integral com as estratégias propiciadoras de coleta, caça, pesca, refúgio, abrigo, luta, proteção e reprodução. Até 10.000 anos atrás, quando se inicia a descoberta da agricultura e da domesticação de animais, as unidades fisiológico-operacionais predominantemente conduziram o cérebro na condução de atividades humanas. Antes de tudo era preciso sobreviver, e a premência dissorelegou para o plano secundário as outras atividades funcionais do cérebro. (GRECO, 1992, p. 36). Segundo Greco (1992), somente após essa época, quando a agricultura foi desenvolvida e os homens passaram a fixar-se, ocupando e utilizando o solo, construindo moradias e dividindo o trabalho, é que a unidade sintético-intuitiva passou a se desenvolver. Isso ocorreu por volta de 4 mil anos atrás. Iniciou-se uma interpretação do mundo genuinamente humana, em que se começa a assumir contornos de correntes religiosas bem ordenadas. A sabedoria não era lógica, mas intuitiva, sintética, mística, mítica e holística. A terceira unidade funcional do cérebro passa a predominar a partir de 600 a.C. Na Grécia, os pensadores dessa época, como Tales, Pitágoras, Heráclito, Platão e Sócrates, entre outros, são os precursores históricos desse processo que se consolida por volta do século XVIII. Esse novo ciclo que marca a nova era culmina com a sistematização do método científico e novos padrões tecnológicos que possibilitaram e possibilitam o progresso da humanidade e uma nova revolução cerebral. Esses três processos fundamentais do cérebro podem ser traduzidos como lógico, intuitivo e prático, constituindo um sistema funcional complexo, simultâneo e para-autônomo. O processo sintético-intuitivo ocorre predominantemente no hemisfério direito do cérebro, o analítico-lógico é um processo do hemisfério esquerdo, e o motriz-operacional (prático) ocorre na porção central ou comum. Ainda segundo Greco (1992), há um jogo ou um conflito em nosso cérebro. Quando um dos três processos é acionado, os outros dois ficam de lado. Tal identificação das funções é importante para que possamos ter um olhar especial para cada pessoa e ver qual de suas funções é a mais desenvolvida e em qual ela tem mais deficiência. Pág. 19 de 72 Figura: Cérebro triúno Fonte: ttsz/iStock.com A função motriz operacional está ligada ao cérebro reptiliano, que é composto pela medula, tronco cerebral e cerebelo. São as estruturas mais antigas do cérebro (arquiencéfalo) e que controlam as funções vitais: respiração, batimentos cardíacos e todo o sistema neurovegetativo. Em educação chamamos de cérebro psicomotor ou motriz-operacional, é responsável pela motricidade automática, involuntária, pelo equilíbrio ou em termos práticos pela ação, pelo movimento, pelos negócios, pelo trabalho, pelas profissões, pelo dia a dia, pela luta de sobrevivência e reprodução da espécie. (GRECO, 1992, p. 116-117). A segunda função, exercida predominantemente pelo lado direito do cérebro e que evolui há dezenas de milhões de anos em ancestrais que eram mamíferos, mas não primatas, é a sintético- intuitiva, sistema límbico ou sistema emocional, responsável pelo controle emocional, em que são sediados nossos sentimentos e emoções, orientando nossas ações e reações. Devemos a ela nossa imaginação, afetividade, intuição, criatividade, estética, mística, religiosidade, poesia, música e artes. O cérebro esquerdo é o analítico-lógico. Este evoluiu há milhões de anos em nossos ancestrais primatas (neoncéfalo). Compreende toda a camada mais externa do encéfalo, denominada córtex, em ambos os hemisférios e em ambos os lados, portanto, chamá-lo de lado esquerdo é uma convenção. É responsável pela comunicação, além disso, a função da fala também foi localizada no lado esquerdo do cérebro, na área de Broca. É o nosso lado “lógico, acadêmico, racional, teórico, científico, matemático, comunicador, responsável pela reflexão e pelo pensamento” (GRECO, 1992, p. 118). Essa função detém a distinção da nossa espécie. Pág. 20 de 72 As três funções não devem ser pensadas de forma isolada. Esse modelo foi estruturado apenas para localizarmos em que momento evolutivo da humanidade ele teve seu início e apogeu. Hoje, essas manifestações estão corticalizadas, ou seja, ocorrem em todo o córtex cerebral, e sabemos que o cérebro funciona em uníssono para desenvolver suas funções. 2 .3 Plasticidade neural ou neuroplasticidade De acordo com Amaral e Oliveira (2017), o sistema nervoso “[…] detecta estímulos externos e internos, tanto físicos quanto químicos, e desencadeia as respostas musculares e glandulares”; assim sendo, é responsável por integrar o organismo com o meio ambiente à sua volta. O sistema nervoso é formado por células nervosas interconectadas de uma forma muito específica, que compõem circuitos neurais; por meio desses circuitos o organismo consegue produzir respostas como reflexos, que são comportamentos fixos e invariáveis e também comportamentos variáveis. Todo ser vivo dotado de um sistema nervoso é capaz de modificar o seu comportamento em função de experiências passadas. Essa modificação comportamental é chamada de aprendizado, e ocorre no sistema nervoso através da propriedade chamada plasticidade cerebral . (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, grifo dos autores). Vejamos alguns conceitos envolvidos na neuroplasticidade para entendermos melhor esse processo: 2 .3 .1 O neurônio O principal componente do sistema nervoso é a célula nervosa, ou o neurônio. Estima-se que no cérebro humano existam 15 bilhões dessas células, aproximadamente, e elas são responsáveis por todas as funções do sistema nervoso. As formas e funções dos neurônios variam dependendo de sua localização e estrutura morfológica, mas basicamente os neurônios são constituídos dos mesmos componentes básicos: • o corpo do neurônio (soma) é constituído de núcleo e pericário, que dá suporte metabó- lico a toda célula; • o axônio (fibra nervosa) prolongamento único e grande que aparece no soma. É responsá- vel pela condução do impulso nervoso para o próximo neurônio, podendo ser revestido ou não por mielina (bainha axonial), célula glial especializada, e; Pág. 21 de 72 • os dendritos que são prolongamentos menores em forma de ramificações (arborizações terminais) que emergem do pericário e do final do axônio, sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela comunicação entre os neurônios através das sinapses. Basicamente, cada neurônio possui uma região receptiva e outra efetora em relação à condução da sina- lização. (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). 2 .3 .2 A sinapse A região ou estrutura dos neurônios onde ocorrem os processos de comunicação entre eles é a sinapse. Nessa região ocorrem as transmissões sinápticas, ou seja, a passagem do sinal neural por meio de processos eletroquímicos (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Em uma sinapse os neurônios não se tocam, permanecendo um espaço entre eles denominado fenda sináptica, onde um neurônio pré-sináptico liga-se a um outro denominado neurônio pós-sináptico. O sinal nervoso (impulso), que vem através do axônio da célula pré-sináptica chega em sua extremidade e provoca na fenda a liberação de neurotransmissores depositados em bolsas chamadas de vesículas sinápticas. Este elemento químico se liga quimicamente a receptores específicos no neurônio pós-sináptico, dando continuidade à propagação do sinal. (AMARAL; OLIVEIRA, 2017, grifos no original). A capacidade plástica do sistema nervoso é demonstrada pelo número e qualidade das sinapses. O número de conexões sinápticas que um neurônio pode enviar ou receber varia entre mil e 100 mil, e a qualidade é estabelecida pela experiência e aprendizagem de cada um. O mapa neural de adultos varia de pessoa para pessoa, pois o que o determina são os fatores de vivências e aprendizagens que geraram a plasticidade do cérebro adulto. Conforme De Groot (apud AMARAL; OLIVIERA, 2017), “[…] a plasticidade neural é a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos”. Figura: Sinapses neurais Fonte: FlashMovie/iStock.com Pág. 22 de 72 Curiosidade Assista a este vídeo que mostra imagens de sinapses neurais. Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=82QU198Hpyc A plasticidade neural ocorre de trêsformas: no desenvolvimento, com a aprendizagem e após processos lesionais. Não entraremos em detalhes em relação aos processos lesionais, pois nosso foco de estudo é a neuroplasticidade em relação à aprendizagem. Eles estão mais relacionados à reabilitação, também envolvendo aprendizagens novas e a recuperação de anteriores. No desenvolvimento, ainda durante a embriogênese ou embriologia, as células se diferenciam, e células indiferenciadas, por expressão genética, passam a ser neurônios. Essas células migram pelo tubo neural para os locais adequados e começam a fazer as conexões entre si. Ainda no período embrionário inicia-se a maturação do sistema nervoso central, que somente terminará na vida extrauterina. Logo, a maturação sofrerá influências de fatores genéticos, do ambiente fetal e do ambiente externo após o nascimento. Figura: Desenvolvimento do sistema nervoso intrauterino Fonte: Cowan (1979, p. 42). O processo de aprendizagem é um dos desencadeadores da neuroplasticidade, seja durante a infância, seja na fase adulta ou na terceira idade. A aprendizagem de algo novo e a modificação de comportamentos de acordo com o que foi aprendido é um disparador da neuroplasticidade. Aprender requer adquirir conhecimentos, e o sistema nervoso central guarda, integra e recruta esses conhecimentos quando necessitamos deles. Pág. 23 de 72 Durante o processo de aprendizagem, há modificações nas estruturas e funcionamento das células neurais e de suas conexões, ou seja, o aprendizado promove modificações plásticas, como crescimento de novas terminações e botões sinápticos, crescimento de espículas dendríticas, aumento das áreas sinápticas funcionais, estreitamento da fenda sináptica, mudanças de conformação de proteínas receptoras, incremento de neurotransmissores. A prática ou a experiência promovem, também, modificações na representação do mapa cortical. Pascual-Leone et al. demonstraram que a aquisição de uma nova habilidade motora, neste caso, tocar piano, reorganizava o mapa cortical, aumentando a área relacionada aos músculos flexores e extensores dos dedos. Em um estudo com leitores de Braille, verificaram que o dedo indicador utilizado para a leitura tem maior representação cortical que o dedo contralateral. (OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2001). Com essas informações sobre os neurônios e as sinapses e sobre como a aprendizagem ativa a neuroplasticidade em nosso sistema nervoso, podemos concluir o quanto a aprendizagem ao longo da vida é importante para mantermos nosso sistema nervoso ativo e produtivo, prevenindo doenças que possam degenerá-lo. 2 .3 .3 Relação entre plasticidade cerebral e memória/experiência O ato de aprender está relacionado à memória/experiência e à plasticidade cerebral, ou seja, à aquisição de experiências motoras, sensitivas, sensoriais e de linguagem. As aprendizagens começam em nossa infância – as motoras ou práxicas (aquelas que são antecipadas e planejadas antes da execução; por exemplo, saltar um degrau de escada), quando os bebês aprendem a engatinhar e caminhar, e depois as aprendizagens motoras continuam ao longo da vida. Podemos aprender inúmeras delas, desde as motoras grossas, como correr ou dançar, ou mais finas, como escrever, desenhar ou tocar um instrumento musical. Há também a necessidade de desenvolvermos as capacidades de identificar as diferenciações das mesmas sensações, por exemplo, a sensação de frio – mais frio, menos frio –, será que preciso colocar um casaco ou uma blusa mais leve? Ter noção do esquema corporal, reconhecer imagens, sons e aprender as funções da linguagem, tanto oral como escrita ou gestual (ROTTA, 2015). No sistema nervoso central, duas áreas são mais importantes para a aprendizagem relacionada à neuroplasticidade, “[…] o cerebelo e o sistema límbico. O primeiro com uma função coordenadora do ato cognitivo, e o segundo trazendo a modulação afetiva para que tal função seja executada” (ROTTA, 2015, p. 479). Pág. 24 de 72 O cérebro responde à estimulação do meio ambiente com a aprendizagem, e esta provoca modificações que são a expressão da plasticidade. As janelas de oportunidades devem ser bem aproveitadas, ou seja, há momentos certos para que essas aprendizagens ocorram, o que pode ser chamado de momentos críticos. Nesses períodos, a estimulação sensitivo-sensorial é essencial, apesar de saber-se também que mesmo o SNC dos adultos é capaz de responder, em algum grau, à estimulação (ROTTA, 2015). RECAPITULANDO Nesta segunda unidade apresentamos o sistema nervoso, sua composição, seguindo os padrões anatômicos e funcionais. Em seguida apresentamos o desenvolvimento do cérebro triúno de acordo com os estudos do neurocientista Paul MacLean e assim conseguimos entender como as várias fases de seu desenvolvimento conformaram as três principais partes do cérebro e suas funções e como isso influencia nossa vida cotidiana. Trouxemos também a plasticidade neural, ou neuroplasticidade, e para tal descrevemos o neurônio e a sinapse, assim como discutimos a relação entre plasticidade neural e memória/experiência e como esses processos auxiliam na aprendizagem. Pág. 25 de 72 UNIDADE 3 – SISTEMA LÍMBICO 3 SISTEMA LÍMBICO 3 .1 Apresentação do sistema límbico O neurologista francês Paul Broca, em 1878, observou que […] na superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do córtex, existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o nome de lobo límbico (do latim limbus, que traduz a ideia de círculo, anel, em torno de etc.), uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico […]. Esse conjunto de estruturas, mais tarde denominado sistema límbico, surgiu com a emergência dos mamíferos inferiores (mais antigos). (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). O sistema límbico comanda os comportamentos que todos os mamíferos precisam para a sobrevivência. Ele modula e cria funções específicas que permitem distinguir entre o que nos agrada e o que nos desagrada. Ele é o centro do controle das emoções e do afeto, é o responsável pela indução de fêmeas a terem atenção e cuidados com suas crias e da tendência de alguns mamíferos de brincar. Os sentimentos como medo, ódio, alegria, entre outros, também são originários do sistema límbico. É responsável também por “alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória” (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). 3 .2 Estruturas cerebrais que compõem o sistema límbico Traremos brevemente algumas das estruturas que compõem o sistema límbico e suas funções na contribuição de determinado tipo de emoção, como a amígdala, o hipocampo, o tálamo, o hipotálamo, o giro cingulado, o tronco cerebral, a área tegmental ventral, o septo, o fórnix, o giro hipocampal e a área pré-frontal. Saiba mais O pesquisador Guilherme Carvalhal Ribas escreveu o artigo: As bases neuroanatômicas do comportamento: histórico e contribuições recentes, no artigo ele “[…] trata dos aspectos anatômicos das estruturas neurais, destacando particularmente as suas relações topográficas e as suas principais conexões. O estudo tem como objetivo fundamental contribuir para a compreensão das organizações anatômicas e funcionais básicas das principais estruturas encefálicas relacionadas com o comportamento humano”. Clique no link para saber mais: https://www.scielo.br/j/rbp/a/k5nxfgHwZG SXBHBqjGcsqZg/?lang=pt Pág. 26 de 72 3.2.1 Amígdala Amaral e Oliveira (2017) descrevem a amígdala como: Pequena estrutura em forma de amêndoa, situada dentro da região anteroinferior do lobo temporal, se interconecta com o hipocampo, os núcleos septais, a área pré- frontal e o núcleo dorsomedial do tálamo. Essas conexões garantem seu importante desempenho na mediação e controle das atividades emocionais de ordem maior, como amizade, amor e afeição, nas exteriorizações do humor e, principalmente, nos estados de medo e ira e na agressividade. A amígdala é ocentro identificador do perigo, portanto imprescindível para a autopreservação, nela são gerados o medo e a ansiedade – assim, o animal se coloca em alerta, pronto para reagir (lutar ou fugir). Se as amígdalas são destruídas ou sofrem lesão (temos duas, uma para cada hemisfério cerebral), o animal se torna dócil, não consegue identificar situações de perigo, não discrimina a sexualidade e não caracteriza a afetividade. Quando se estimula eletricamente essas estruturas, são provocadas crises violentas de agressividade. Nos humanos, se a amígdala é lesionada, uma das reações percebidas é a perda do sentido afetivo da percepção das informações vindas de fora, por exemplo, a pessoa vê alguém conhecido, reconhece a pessoa, mas não consegue discriminar ou saber se gosta ou não dela. Figura: Amígdala Fonte: Life Science Databases (LSDB) 3 .2 .2 Hipocampo • Função: Responsável pela memória de longa duração. Permite ao animal e ao homem avaliar situações atuais com base em experiências vividas para fazer a melhor escolha e garantir a sua preservação e segurança. • Lesão: Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos, nada mais é gravado na memória. O indivíduo esquece rapidamente a mensagem recém-recebida (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Pág. 27 de 72 Figura: Hipocampo Fonte: pixologicstudio/iStock.com 3 .2 .3 Tálamo • Anatomia: O núcleo dorsomedial se conecta com as estruturas corticais da área pré-frontal e com o hipotálamo. Os núcleos anteriores ligam-se aos corpos mamilares no hipotálamo (e, por meio destes, via fórnix, com o hipocampo) e ao giro cingulado, fazendo, assim, parte do circuito de Papez (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • Lesões ou estimulações do núcleo dorsomedial e dos núcleos anteriores do tálamo estão correlacionadas com alterações da reatividade emocional, no homem e nos animais. No entanto, a importância desses núcleos na regulação do comportamento emocional possi- velmente decorre não de uma atividade própria, mas das conexões com outras estruturas do sistema límbico (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Figura: Tálamo Fonte: Life Science Databases(LSDB)/commons.wikimedia.org Pág. 28 de 72 3 .2 .4 Hipotálamo • Anatomia: Esta estrutura tem amplas conexões com as demais áreas do prosencéfalo e com o mesencéfalo (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • A lesão dos núcleos hipotalâmicos interfere em diversas funções vegetativas e em al- guns dos chamados comportamentos motivados, como regulação térmica, sexualidade, combatividade, fome e sede. Aceita-se que o hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. • Função: Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, ao passo que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável. De um modo geral, contudo, a participação do hipotálamo é menor na gênese do que na expressão (manifestações sintomáticas) dos estados emocio- nais. Quando os sintomas físicos da emoção aparecem, a ameaça que produzem retorna, via hipotálamo, aos centros límbicos e destes aos núcleos pré-frontais, aumentando, por um mecanismo de feedback negativo, a ansiedade, podendo até chegar a gerar um estado de pânico (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Figura: Hipotálamo Fonte: Life Science Databases(LSDB)/Commons.wikimwdia.org 3.2.5 Giro cingulado • Anatomia: Situado na face medial do cérebro, entre o sulco cingulado e o corpo caloso (principal feixe nervoso ligando os dois hemisférios cerebrais) (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • Função: Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se que a sua por- ção frontal coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Essa região participa, ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Pág. 29 de 72 • A ablação do giro cingulado (cingulectomia) em animais selvagens domestica-os totalmen- te. A simples secção de um feixe desse giro (cingulotomia), interrompendo a comunicação neural do circuito de Papez, reduz o nível de depressão e de ansiedade preexistentes (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Figura: Giro do cíngulo Fonte: PALMIHELP/Commons.wikimedia.org 3 .2 .6 Tronco cerebral • Anatomia: As estruturas envolvidas são a formação reticular e o locus coeruleus, uma massa concentrada de neurônios secretores de norepinefrina. Outras estruturas do tronco cerebral são os núcleos dos pares cranianos (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • Função: O tronco cerebral é a região responsável pelas “reações emocionais”; na verda- de, apenas respostas reflexas de vertebrados inferiores, como os répteis e os anfíbios. É importante ressaltar que, até mesmo em humanos, essas primitivas estruturas continuam participando não só dos mecanismos de alerta, vitais para a sobrevivência, mas também da ma- nutenção do ciclo vigília-sono. Os núcleos dos pares cranianos, estimulados por impulsos provenientes do córtex e do estriado (uma formação subcortical), respondem pelas altera- ções fisionômicas dos estados afetivos: expressões de raiva, alegria, tristeza, ternura etc. (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Figura: Tronco encefálico Fonte: Instituto Phorte. Pág. 30 de 72 3 .2 .7 Área tegme ntal ventral • Anatomia: Na parte mesencefálica (superior) do tronco cerebral existe um grupo compacto de neurônios secretores de dopamina (área tegmental ventral) cujos axônios vão terminar no núcleo accumbens (via dopaminérgica mesolímbica) (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • Função: A descarga espontânea ou a estimulação elétrica dos neurônios dessa região produzem sensações de prazer, algumas delas similares ao orgasmo. Indivíduos que apre- sentam, por defeito genético, redução no número de receptores das células neurais dessa área tornam-se incapazes de se sentirem recompensados pelas satisfações comuns da vida e buscam alternativas “prazerosas” atípicas e nocivas como, por exemplo, alcoolismo, cocaína, mania, compulsividade por alimentos doces e pelo jogo desenfreado (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Figura: Área tegmental ventral Fonte: NIDA / Commons.wikimedia.org 3.2.8 O septo Ant eriormente ao tálamo situa-se a área septal, onde estão localizados os centros do orgasmo (quatro para a mulher e um para o homem). Certamente por isto, essa região se relaciona com as sensações de prazer, mormente aquelas associadas às experiências sexuais (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Pág. 31 de 72 Figura: Área septal Fonte: Frank Gaillard/commons.wikimwdia.org 3 .2 .9 Área pré-fro ntal • Anatomia: Compreende toda a região anterior não motora do lobo frontal. Ela se desenvol- veu muito durante a evolução dos mamíferos, sendo particularmente extensa no homem e em algumas espécies de golfi nhos. Não faz parte do circuito límbico tradicional, mas suas intensas conexões bidirecionais com o tálamo, amígdala e outras estruturas subcorticais explicam o importante papel que desempenha na gênese e, especialmente, na expressão dos estados afetivos (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). • Função: Quando o córtex pré-frontal é lesionado, o indivíduo perde o senso de suas responsabilidades sociais, bem como a capacidade de concentração e de abstração. Em alguns casos, a pessoa, conquanto mantendo intactas a consciência e algumas funções cognitivas, como a linguagem, já não consegue resolver problemas, mesmo os mais elementares. Quando se praticava a lobotomia pré-frontal, para tratamento de certos dis- túrbios psiquiátricos, os pacientes entravam em estado de “tamponamento afetivo”, não mais evidenciando quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. Em suas palavras ou atitudes não mais se vislumbravam quaisquer resquícios de afetividade (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). Pág. 32 de 72 Figura: Córtex pré-frontal Fonte: Database Center for Life Science (DBCLS)/Commons.wikimedia.org RECAPITULANDO Nesta terceira unidade foram apresentados o sistema límbico e as estruturas cerebrais que o compõem. Lembrando que esse sistema é o responsável por várias funções em todos os mamíferos,principalmente aquelas relacionadas às emoções, ao afeto, à memória, algumas das quais são essenciais para a sobrevivência, os relacionamentos sociais e para a aprendizagem. As estruturas cerebrais que compõem o sistema límbico foram descritas anatomicamente, assim como suas funções específicas e o que ocorre em caso de lesões. Pág. 33 de 72 UNIDADE 4 – NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM: QUESTÕES RELEVANTES 4 NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM: QUESTÕES RELEVANTES 4 .1 Sentimentos, emoções, afeto, consciência, cognição, vontade e aprendizagem Segundo Amaral e Oliveira (2017), a espécie humana apresenta a maior variedade de sentimentos e emoções, talvez pelo grande número de conexões entre a área pré-frontal e as estruturas límbicas tradicionais. O sistema límbico, como já citamos anteriormente, somente evoluiu a partir dos primeiros mamíferos. Nos répteis e anfíbios, o sistema límbico é praticamente inexistente, ao passo que nos pássaros encontramos alguns indícios de suas funções. Quanto mais evoluído o mamífero, mais comportamentos como o cuidado com seus filhotes e a tendência à brincadeira são acentuados. E a evolução dos mamíferos nos traz até o homem: O nosso antepassado hominídeo certamente diferenciava as sensações que experimentava em ocasiões distintas, como estar em sua caverna polindo uma pedra, correndo atrás de um animal mais fraco, fugindo de um animal mais forte ou caçando uma fêmea da sua espécie. (AMARAL; OLIVEIRA, 2017). A aquisição da linguagem pelo homem permitiu a nomeação das sensações, mas até hoje, pela subjetividade desse componente, não há uma uniformidade quanto à terminologia que usamos em relação a essas sensações. Primeiramente, devemos fazer uma diferenciação entre afeto, emoção e sentimento. Embora esses termos sejam usados de forma indiscriminada para designar as sensações, cada um deles deve ser bem definido por sua etimologia e pelas diferentes reações físicas e mentais que produzem. Pág. 34 de 72 4 .1 .1 Afeto Na descrição de Amaral e Oliveira (2017), Afeto (do Latim affectus, significando afligir, abalar, atingir) é definido por Aurélio como sendo “um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos ou paixões, acompanhadas sempre da impressão de prazer ou dor, de satisfação sob a forma de emoções, sentimentos ou paixões, ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza”. (grifo nosso) O que ocorre com frequência é que evitamos caracterizar o afeto como algo negativo, assim, sempre nos referimos ao afeto como sendo impressões positivas, como carinho, amor, paixão e não as manifestações negativas como a raiva, o medo ou o desagrado. 4 .1 .2 Emoções Etimologicamente, vem do latim emovere, significando movimentar, deslocar. São reações que manifestamos quando estamos frente a situações afetivas que, quando são intensas, mobilizam- nos em direção a uma ação. Diferentemente dos afetos, as emoções e os sentimentos são usados nos dois sentidos, isto é, podem ser boas ou más. Para o neurocientista Antonio Damásio (2000, p. 64), a emoção “[…] designa o conjunto de reações, muitas delas, publicamente observáveis. Ela ocorre em um contexto de consciência. Podemos sentir consistentemente nossas emoções, e sabemos que as sentimos”. Segundo Souza (2008), podemos, a princípio, definir as emoções como reações instintivas e comportamentos inatos. Damásio (2000, p. 74, grifos nossos) classifica as emoções em três grupos: • Emoções primárias ou universais: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa ou repugnância; • Emoções secundárias ou sociais: como embaraço, ciúme, culpa ou orgulho; e • Emoções de fundo, como bem-estar ou mal-estar, calma ou tensão. Pág. 35 de 72 Figura: Emoções primáriasFigura: Emoções primárias Fonte: Instituto Phorte As emoções de fundo são mais sutis e mais difíceis de serem observadas no outro, pois ocorrem internamente. Elas geralmente são induzidas por esforços físicos prolongados. As suas reações são mais íntimas e seu alvo é mais interno do que externo, também expressadas por mudanças musculoesqueléticas, posturas sutis do corpo ou na configuração dos movimentos corporais (DAMÁSIO, 2000). Ainda segundo o autor, as emoções são processos biologicamente determinados e mecanismos inatos do cérebro que ocupam um grupo razoavelmente restrito de regiões subcorticais. São determinadas por um conjunto complexo de reações químicas e neurais, formando um padrão. Todas as emoções têm algum tipo de papel regulador a desempenhar. O seu papel é ajudar o organismo a conservar a vida. Todos os mecanismos podem ser acionados automaticamente, sem uma reflexão consciente e todas as emoções usam o corpo como teatro. Damásio (2000) discute a relevância do papel biológico das emoções em relação à consciência e afirma que as emoções são instrumentos voltados para a sobrevivência. Nos organismos que são equipados para sentir emoções, ou seja, para ter sentimentos, as emoções têm um impacto sobre a mente, quando ocorrem no aqui e agora. Para os organismos que também são equipados com consciência, os sentimentos são reconhecidos e promovem internamente o impacto da emoção, isso permite que a emoção e a consciência permeiem o processo de pensamento. Por fim, a consciência torna possível que qualquer objeto seja conhecido – o “objeto” emoção e qualquer outro objeto – e, com isso, aumenta a capacidade do organismo para reagir de maneira adaptativa, atento às necessidades do organismo em questão. A emoção está vinculada à sobrevivência de um organismo, e o mesmo se aplica à consciência. (DAMÁSIO, 2000, p. 80). Pág. 36 de 72 4 .1 .3 Consciência Para Damásio (2000, p. 394, grifo do autor), “[…] consciência começa com um sentimento, […] a consciência dá a sensação de ser um sentimento […]. Ela dá a sensação de ser um padrão construído com os sinais não verbais dos estados do corpo”. Ainda segundo o autor, “[…] A consciência é uma revelação da existência […]. Em algum ponto de seu desenvolvimento, com a ajuda da memória, do raciocínio e, mais tarde, da linguagem, a consciência também se torna um meio de modificar a existência.” (DAMÁSIO, 2000, p. 398). Logo, se a consciência começa com um sentimento, ela é privada de emoção, ou seja, ela não se manifesta publicamente e não pode ser observada por outras pessoas. Quando tomamos consciência de objetos, de ações, iniciamos a modificação de nossa existência, começamos a escrever a nossa história. Como o próprio autor diz, a consciência nos coloca a par do drama da vida humana, é o que nos faz querer uma vida melhor e o que temos que fazer para chegarmos a isto (DAMÁSIO, 2000). É a consciência que nos faz conhecer nossas emoções e nos ajuda a reagir a elas de acordo com nossa cultura e aprendizado social. 4 .1 .4 Sentimento Segundo Damásio (2000, p. 64), sentimento é uma “experiência mental privada de uma emoção. Ninguém pode observar os sentimentos que um outro vivencia, mas alguns aspectos das emoções que originam esses sentimentos serão patentemente observáveis por outras pessoas”. Pág. 37 de 72 O autor concebeu um mapa conceitual que explica esse processo: Quadro: Mapa conceitual Fonte: Damásio (2000, p. 79). Adaptado pela autora. 4 .1 .5 Ainda sobre as emoções e a aprendizagem Confirmando Damásio, o neurobiólogo Maturana (2005, p. 16) afirma que “[…] biologicamente, as emoções são dispositivos corporais que determinam ou especificam domínios de ações”. As emoções são publicamente observáveis. Podemos lê-las nas expressões do corpo, pois os animais e as pessoas agem de acordo com elas (SOUZA, 2008). Embora as emoções sejam inatas, Damásio (2004) reitera que o aprendizado e a cultura alteram nossas expressões das emoções, e isso lhes confere novos significados. Nós, humanos, segundo Maturana (2005), entrelaçamos o emocional e o racional por meio da linguagem, porque com ela defendemos e justificamos nossas ações. Retornando à ideia de quenosso corpo é o teatro das emoções, Damásio (2004) considera que, quando nos sentimos felizes ou tristes, esses sentimentos são percepções do que nosso corpo está demonstrando, ou seja, de uma paisagem corporal, e temos consciência disso. Assim como Pág. 38 de 72 tomamos consciência de nossas percepções visuais, táteis, auditivas, olfativas, entre outras. Temos que entender que todas essas percepções vêm acompanhadas de “sentimentos de emoções”. Quando ouvimos uma música ou comemos algo de que gostamos, essa percepção vem acompanhada do sentimento afetivo que temos pela música ou pelo alimento. Imaginem quando comemos um bolo que nossa avó costumava fazer para nós quando éramos crianças, conseguimos até nos transportar para cenas vividas na casa de nossa avó, vivenciando emoções e sentimentos passados naqueles momentos da infância. Diante dessas definições, Souza (2008) considera que […] a criança influenciada por suas emoções e sentimentos que são inatas, mas também aprendidas pelo seu meio social, terá consciência de seu corpo, do que ocorre com ele, assim como terá consciência do mundo ao seu redor por meio das percepções, e essas serão em grande parte influenciadas pelas emoções e sentimentos. Se as experiências que ela vivenciar proporcionarem boas percepções sua aprendizagem será facilitada. Podemos reiterar as considerações de Souza (2008) apresentando o que afirma Vygotsky (1984, p. 95) em relação ao aprendizado. O autor afirma que “[…] o aprendizado e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. A criança aprende incidentalmente, todo o tempo, quando interage com as pessoas, com os objetos e com o meio ambiente ao seu redor. Vygotsky (1984, p. 101) ainda reitera que o aprendizado não é desenvolvimento, mas somente um dos aspectos do processo de desenvolvimento. O aprendizado desperta “processos internos de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” quando a criança interage com pessoas em seu meio ambiente. 4 .1 .6 Vontade ou ato volitivo Outro “componente” envolvido na aprendizagem é a vontade. Ela estabelece o que o cérebro pode ou não fazer e é também moldada pelo contexto cultural (VYGOTSKY, 1984). Nesse sentido Vygotsky (1984, p. 145, grifos nossos) questiona: […] em que medida o desenvolvimento da vontade infantil, começando por movimentos primitivos voluntários, que se realizam a princípio segundo instruções verbais e terminam mediante atos volitivos complicados, é função da atividade coletiva da criança? Em que medida as formas primitivas da atividade volitiva infantil representam o emprego, por parte da própria criança, com relação a si mesma, dos procedimentos que o adulto com ela utiliza? Em que medida o comportamento volitivo da criança se manifesta como uma forma peculiar de seu comportamento social com respeito a si mesma? Pág. 39 de 72 Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1988, p. 678, grifos nossos), volitivo é um adjetivo que diz respeito à “volição ou à vontade”, que é “o ato pelo qual a vontade se determina a alguma coisa”, e a vontade é a “faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticado em obediência a um impulso ou a motivos ditados pela razão”. É também um “sentimento que incita alguém a atingir o fim proposto por esta faculdade; aspiração; anseio; desejo”. Pode ser a “capacidade de escolha, de decisão”. Podemos considerar que, se a criança é um ser que se forma socialmente e culturalmente em seu meio, esse comportamento volitivo com certeza se formará de acordo com o contexto social e cultural em que vive. Apesar de o ato volitivo ser arbitrário, ele é influenciado por outros fatores, como a razão e os sentimentos, que também são moldados pelo meio social e cultural (SOUZA, 2008). Segundo Souza (2008), a criança é um ser que se constitui social e culturalmente em seu meio ambiente; assim, o comportamento volitivo está relacionado e se constituirá no contexto cultural e social em que ela está inserida. Mesmo sendo o ato volitivo arbitrário, outros fatores o influenciam, como a razão e os sentimentos, que também são moldados pelo meio. A cognição, a emoção e a vontade estão imbricadas. Elas são componentes dos processos mentais, formatam, organizam e dão sentido às nossas ações e comportamentos. Para complementar, Souza (2008) afirma que: A cognição está diretamente ligada à vontade de aprender da criança, que, por sua vez, depende da motivação intrínseca e da autoestima. Tudo isso deve ser mediado por adultos que respeitam a criança em suas dificuldades, em sua cultura e em seu meio, e assim o desenvolvimento se dará mais efetivamente. A cognição, a emoção e a vontade estão imbricadas. Elas são componentes dos processos mentais, formatam, organizam e dão sentido às nossas ações e comportamentos. Damásio traz uma conclusão sobre o desenvolvimento do encéfalo humano que confirma as considerações anteriores em relação à aprendizagem e ao meio social e cultural de cada indivíduo, como segue: Em primeiro lugar, […] só uma parte das redes de circuitos nos nossos cérebros é especificada pelos genes. O genoma humano especifica com grande minúcia a construção dos nossos corpos, o que inclui o design geral do cérebro. Mas nem todos os circuitos se desenvolvem ativamente e funcionam como se encontram estabelecidos nos genes. Uma grande parte das redes de circuitos do cérebro, em grande momento da vida adulta, é individual e única, refletindo fielmente a história e as circunstâncias daquele organismo em particular. Naturalmente que isso não facilita a revelação dos mistérios neurais. Em segundo lugar, cada organismo humano funciona em conjuntos de seres semelhantes; a mente e o comportamento dos indivíduos que pertencem a Pág. 40 de 72 esses conjuntos e que funcionam em meios ambientes culturais e físicos específicos não são moldados apenas pela atividade das redes de circuitos acima mencionadas, muito menos apenas pelos genes. Para se compreender satisfatoriamente o modo como o cérebro cria a mente e o comportamento humanos, é necessário considerar seu contexto social e cultural. E é isso que torna a empresa tão espantosamente difícil. (DAMÁSIO, 1996, p. 292). Mais uma vez vemos a afirmação de que o contexto social e cultural é de fundamental importância para a formação da pessoa. Mesmo o cérebro, que parecia ser algo tão formatado biologicamente, é influenciado pelo contexto social e cultural e se torna único. Tudo o que a pessoa vive ao longo de sua vida, a aprendizagem, a linguagem e as habilidades adquiridas vão delineando seu cérebro de forma a torná-lo único. Isto parece mágico, quase um milagre, mas é real. O que nos é transmitido culturalmente e pela aprendizagem do dia a dia é de fundamental importância nessa diferenciação que se faz internamente. 4 .2 Processos sensoriais e aprendizagem Por meio dos sentidos captamos o mundo ao nosso redor, e disso ninguém tem dúvida, pois com as informações captadas e processadas conseguimos entender e determinar o ambiente em que vivemos. Nossos sentidos, a princípio, são a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato; e os sentidos corporais são o proprioceptivo ou cinestésico (percepção muscular do corpo no espaço, articulações) e o vestibular (equilíbrio). Na maioria dos casos utilizamos sempre mais de um sentido para avaliarmos as situações ou “sentirmos” o que estamos fazendo ou o que está acontecendo ao nosso redor. Imaginemos uma cena cotidiana: no momento de nosso banho, temos a água caindo sobre nosso corpo, que pode estar quente, morna ou fria; o sabonete que passamos em nosso corpo é mais liso ou mais áspero e tem seu perfume. Essas são sensações que, para sentirmos, temos que usar vários de nossos sentidos, como o tato, o olfato e mesmo a audição, ouvindo o som da água saindo do chuveiro caindo sobre nosso corpo e de nosso corpo no chão… Nossocérebro está nesse momento recebendo todas essas informações/sensações, decodificando-as, integrando-as e dando feedback para avaliarmos se a água está muito quente, por exemplo, ou muito fria para o dia de inverno. Esse processo em nosso cérebro é chamado de percepção. Trataremos cada um de nossos sentidos como sistemas sensoriais. Para a codificação sensorial, cada um desses sistemas conta com “células especializadas em órgãos dos sentidos, denominadas receptores” (NOLEN-HOEKSENA et al., 2012, p. 103). Pág. 41 de 72 Um receptor é um tipo especializado de célula nervosa ou neurônio […]. Quando ele é ativado, transmite seu sinal elétrico para conectar os neurônios. O sinal viaja até chegar à sua área de recepção no córtex, com diferentes modalidades sensoriais enviando sinais a diferentes áreas de recepção. Em algum lugar do cérebro, o sinal elétrico resulta na experiência sensorial consciente que, por exemplo, fundamenta as reações em uma experiência psicofísica. Desse modo, quando experimentamos o tato, a experiência está ocorrendo em nosso cérebro, não em nossa pele. (NOLEN- HOEKSENA et al., 2012, p. 103). Esses sistemas evoluíram para captar informações sobre cada objeto e evento do mundo. Quais informações precisamos saber sobre um evento como uma luz piscante? Sua intensidade (brilho), sua cor, de onde vem (localização), a frequência de sua intermitência (breve ou longo) e cada um de nossos sistemas sensoriais nos fornecerá informações sobre esses diversos atributos. Isso está relacionado à codificação da intensidade e da qualidade das informações captadas pelos sistemas sensoriais. Figura: Sistemas sensoriais Fonte: Elaborado pela autora. Como podemos observar na Figura Sistemas sensoriais, há uma captação de estímulos. Primeiramente é apenas uma sensação. Com o processamento do cérebro, esses estímulos são integrados e nominados e podemos chamá-los de percepções. Essas percepções influenciam nossos comportamentos. Os sistemas sensoriais de nosso corpo ajudam no controle visceral e influenciam também nosso comportamento. Para entendermos melhor nossos sentidos, apresentaremos cada um deles a seguir. Pág. 42 de 72 4 .2 .1 A visão A visão é um dos nossos sentidos de distância, juntamente com a audição e o olfato. Ele é o mais especializado e adaptado de nossos sentidos de distância. Cada um dos nossos sentidos reage a uma forma particular de energia física. Para nossa visão, o estímulo é a luz. “A luz é uma forma de energia eletromagnética – uma energia que emana do sol e do restante do universo e banha o nosso planeta constantemente” (NOLEN-HOEKSENA et al., 2012, p. 105). A energia eletromagnética apresenta-se em ondas que variam de 4 trilionésimos de 1 centímetro até vários quilômetros. Nossa visão capta o equivalente a aproximadamente 400 a 700 nanômetros, e 1 nanômetro corresponde à bilionésima parte de 1 metro. “A energia eletromagnética visível – a luz, portanto – constitui apenas uma pequena parte da energia eletromagnética” (NOLEN- HOEKSENA et al., 2012, p. 105). O sistema visual é composto pelos olhos, várias partes do cérebro e as vias que as conectam. Os olhos, como podemos ver na Figura A estrutura do olho, apresenta vários componentes/partes que necessitam estar preservadas para seu perfeito funcionamento. A parte anterior de nossos olhos é composta pela córnea, pupila e íris, além, logo atrás, do cristalino (lente) e do humor vítreo. Ao fundo temos a retina e o nervo óptico como principais componentes. Todas essas partes dos olhos são responsáveis por captar as imagens do mundo utilizando-se da luz, e o nervo óptico conduzirá os estímulos para serem decodificados no cérebro. A córnea, a pupila e o cristalino são responsáveis pela formação da imagem. • Córnea – Superfície frontal transparente do olho, por ela passam os raios luminosos defle- tidos, o que dá início ao processo de formação da imagem. • Pupila – É uma abertura circular entre a córnea e o cristalino, cujo diâmetro varia em fun- ção do nível de luz presente. Quando a luz está fraca, ela se abre; quando em luz plena, ela se fecha, deixando passar a quantidade de luz suficiente através do cristalino para a formação da imagem. • Cristalino – É como uma lente. Ele muda de formato, fica mais esférico ou menos esférico, para focalizar objetos mais distantes ou mais próximos. Pág. 43 de 72 Figura: A estrutura do olho Fonte: solar22/iStock.com Na Figura Sistema visual, podemos observar como ocorre a captação das imagens pelo nervo óptico e como os impulsos são conduzidos para o cérebro. As imagens capturadas pelo campo visual esquerdo são enviadas para o lado direito do cérebro e as capturadas pelo campo visual direito são enviadas para o lado esquerdo do cérebro. S istema visual Figura: Sistema visual Fonte: Miquel Perello Nieto/Commons.wikimedia.org Todo o processo de transmissão dos impulsos nervosos para o cérebro chama-se transdução sensorial, que é a capacidade de todo receptor sensorial transformar a energia de um estímulo em um sinal biológico (elétrico). Pág. 44 de 72 No sistema visual acontece da seguinte forma, temos […] vários tipos de receptores neurais que se espalham pela retina, de forma semelhante à maneira pela qual os fotodetectores se espalham sobre a superfície da imagem de uma câmera digital. Há dois tipos de células receptoras, bastonetes e cones, denominadas assim devido às suas formas distintas […] A retina também contém uma rede de outros neurônios, com células de apoio e vasos sanguíneos. (NOLEN- HOEKSEMA et al., 2012, p. 106). • Bastonetes – são utilizados para a visão noturna. Eles funcionam em intensidades baixas e ocasionam baixa resolução e sensações sem cores. • Cones – São específicos para a visão diurna. Eles reagem a altas intensidades e resultam em sensações de alta resolução que incluem cores. Figura: Transdução visual Fonte: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Fisiologiaanimal/sentido8.jpg Cones e bastonetes são os dois tipos de células na retina que contêm pigmentos em seu interior. Os bastonetes existem em maior quantidade na periferia da retina e são estimulados com luz de baixa intensidade. É frequente dizer que são usados para a visão no escuro e não registram cores. Os cones, por sua vez, ocorrem principalmente na região central da retina e seu estímulo depende de altas intensidades luminosas, reconhecem cores e diz-se que são células utilizadas quando há claridade. Quando os pigmentos são estimulados, eles geram modificações energéticas que são transmitidas às células sensitivas, cujos prolongamentos se reúnem, formando o nervo óptico. Este conecta-se com o cérebro, conduzindo os impulsos para determinada área do lobo occipital, onde as informações são decodificadas e as imagens são reconhecidas. (OS RECEPTORES, 2010). Pág. 45 de 72 Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 107) afirmam que Os bastonetes e cones contêm substâncias químicas, denominadas fotopigmentos, que absorvem a luz. A absorção da luz pelos fotopigmentos inicia um processo que culmina em um impulso nervoso. Quando essa etapa de transdução é concluída, os impulsos elétricos devem seguir para o cérebro através da conexão dos neurônios. As respostas dos bastonetes e cones são inicialmente transmitidas para as células bipolares e de lá para outros neurônios, denominados células ganglionares [observe a Figura Transdução visual]. As células ganglionares se estendem para fora do olho para moldar o nervo óptico e ligar-se ao cérebro. No ponto onde o nervo óptico deixa o olho não há receptores, ou seja, há um ponto cego. Nosso cérebro preenche automaticamente esse ponto, por isso não o percebemos (NOLEN- HOEKSEMA et al., 2012). Na região da fóvea há uma concentração de receptores. Ela é uma região no centro da retina. Quando queremos ver detalhes em um objeto, movemos nossos olhos para que o objeto seja projetado para essa região. Adaptação ao escuro, enxergando padrões e cores A pupilae as alterações fotoquímicas que ocorrem nos receptores de luz são responsáveis pelas adaptações de nossos olhos ao escuro. Quando saímos de um ambiente iluminado e entramos em um ambiente escuro, demoramos um pouco para adaptar nossos olhos à pouca luz. A princípio, praticamente não enxergamos nada, mas aos poucos nossos olhos vão se adaptando à penumbra e conseguimos enxergar os objetos que estão a nossa volta e, com o passar do tempo, até distinguir o rosto das pessoas. Lembre-se de nossas experiências quando entramos em uma sala de cinema, por exemplo. “A acuidade visual é a capacidade de nossos olhos para determinar detalhes.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 109, grifo nosso). Herman Snellen, em 1862, criou uma tabela para medir a acuidade visual, aquela que o oftalmologista usa quando vamos ao consultório, com letras em tamanhos diferentes. Contudo, nem sempre essa tabela é a mais indicada para medir tal acuidade, pois com crianças e pessoas que não sabem ler ela não funcionará. Além disso, o método foi desenvolvido para testar a acuidade de objetos vistos a distância e não a acuidade para a leitura e outras atividades a curta distância, logo deve-se usar outros testes para essas situações. A acuidade de Snellen é medida em relação ao observador que não precisa usar óculos. Deste modo, uma acuidade de 20/20 indica que o observador é capaz de identificar as letras a uma distância de 20 metros, a qual um observador normal consegue ler. Uma acuidade de 20/100 significa que o observador pode ler apenas as letras a 20 metros, que são grandes o suficiente para um observador normal ler a uma distância de 100 metros. Neste caso, a acuidade visual é menor do que o normal. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 109). Pág. 46 de 72 • A visão das cores Nosso sistema visual faz algo extraordinário para podermos ver as cores. Toda luz visível é semelhante, logo, para vermos as cores, nosso sistema visual transforma o comprimento da onda em cores. “A visão de cores é compreendida por meio da teoria tricromática, a qual defende que a percepção de cores é baseada na atividade de três tipos de receptores de cone […].” (NOLEN- HOEKSEMA et al., 2012, p. 117). Na teoria tricromática, o comprimento de ondas curtas (450-500 nanômetros) aparece em azul; os comprimentos de ondas médias (500-570 nanômetros) aparecem em verde e os comprimentos de ondas longas (650-780 nanômetros) aparecem em vermelho. Essa teoria é bem aceita quando a sensação de cor é originada por um objeto que emite luz, como o sol ou uma lâmpada incandescente (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012). Na maioria das vezes, a sensação de cor origina-se em um objeto iluminado por uma luz. Nesses casos, nossa sensação de cor é determinada não somente pelo comprimento das ondas, mas também por outros fatores, como o contexto em torno das cores. A capacidade de vermos o vermelho de uma calça que temos, apesar das variações de iluminação do ambiente, chama-se estabilidade da cor. Apesar de a visão da cor ser uma experiência subjetiva, pois é o resultado da análise de nosso cérebro do comprimento das ondas, ela também é objetiva na medida em que dois ou mais “observadores com os mesmos tipos de receptores de cores (cones)” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 110) conseguem interpretar a mesma cor em um objeto. Podemos organizar nossas experiências com cores em três dimensões: nuance, brilho e saturação. • Nuance - Característica mais descritiva da denominação da cor, como amarelo e azul-ce- leste. • Brilho - Refere-se à quantidade de luz que é refletida de uma superfície colorida, sendo o branco o mais brilhante e o preto o mais fosco. • Saturação - Refere-se à pureza da cor, em que uma totalmente saturada, como o carmim, não parece ter o cinza, e uma cor insaturada, como o laranja, é uma mistura do vermelho com o amarelo. Pág. 47 de 72 Para termos ideia da importância das cores em nossas vidas, temos cerca de 7.500 cores nominadas e, levando em consideração o brilho e a saturação, o sistema visual pode distinguir um número superior a 7 milhões de cores. Temos uma segunda teoria sobre a percepção de cores, a das cores oponentes. Há quatro sensações de cores básicas: vermelho, amarelo, verde e azul. A teoria de cores oponentes propõe que há processos oponentes de cores, vermelha-verde e amarela-azul, cada um deles reagindo de forma oposta às suas duas cores oponentes. As teorias tricromática e de cores oponentes têm sido combinadas com sucesso, considerando-se a proposta de que operam em diferentes localizações neurais do sistema visual. 4 .2 .2 A audição A audição, como dissemos anteriormente, também é um dos nossos sentidos de distância. O sistema auditivo capta as ondas sonoras – e o que são as ondas sonoras? O som se origina do movimento ou da vibração de um objeto, semelhante ao balanço do vento entre os galhos de uma árvore. Quando algo se move, as moléculas de ar em sua frente se aproximam. Essas moléculas empurram outras moléculas e então retornam à sua posição original. Desta forma, uma onda de alterações de pressão (a onda sonora) é transmitida através do ar, apesar de as moléculas de ar individuais não irem muito longe. Essa onda é semelhante à ondulação criada quando jogamos uma pedra em um lago. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 117). Em relação à frequência , as ondas sonoras (o som) são medidas por hertz, que é a frequência do tom, o número de ciclos por segundo. Os tons de alta frequência assumem ondas senoidais de alta frequência, e os tons de baixa frequência assumem as ondas senoidais de baixa frequência. A sensação de sonoridade diz respeito à amplitude do som, e este é medido em decibéis. Os sons têm amplitudes diferentes, por exemplo, um sussurro produz cerca de 30 decibéis, e um avião decolando pode produzir mais de 140 decibéis (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012). O timbre é outro componente do som. Ele refere-se à nossa experiência da complexidade de um som, ou seja, os sons não são puros. É como a identidade dos sons. Cada um de nós tem um timbre de voz diferente, por exemplo, assim como os instrumentos musicais, os sons que os animais emitem, entre outros. Pág. 48 de 72 O sistema auditivo Assim como o sistema visual, o sistema auditivo tem componentes que captam o som, ampliando-o e transmitindo-o para os receptores. A maior parte desse sistema está localizada dentro da caixa craniana. O sistema de transmissão é composto pelo ouvido externo ou pavilhão, com o canal auditivo e o ouvido médio, que consiste no tímpano e três ossículos, o martelo, a bigorna e o estribo. “O sistema de transdução é abrigado em uma parte do ouvido interno, chamada cóclea, que contém os receptores de som.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 118). O sistema de transmissão e o de transdução funcionam da seguinte forma: • O ouvido externo auxilia na coleta do som, conduzindo-o do canal auditivo até uma mem- brana firme, o tímpano. • O tímpano, a parte mais externa do ouvido médio, é levado a vibrar por ondas sonoras conduzidas até ele por meio do canal auditivo. • O ouvido médio transmite as vibrações do tímpano por meio de uma cavidade cheia de ar para outra membrana, a janela oval, que é a porta de entrada para o ouvido interno e os receptores. • Martelo, bigorna e estribo: três ossículos que fazem a transmissão mecânica do som no ouvido médio, transmitindo e ampliando o som. • Cóclea: tubo espiral de osso, dividida em seções de líquidos e membranas. • Membrana basilar: sustenta os receptores auditivos, que são chamados de células capi- lares, pois têm estruturas semelhantes aos cabelos, que se prolongam até o líquido. A pressão na janela oval (que conecta o ouvido médio e o interno) acarreta alterações de pressão no líquido da cóclea, o qual, por sua vez, faz com que a membrana basilar vibre, resultando em uma curvatura das células capilares e um impulso elétrico. Por meio desse processo complexo, a onda sonora é então convertida em impulsoselétricos. Os neurônios que fazem sinapse com as células capilares possuem axônios longos que fazem parte do nervo auditivo. A maioria desses neurônios auditivos se conecta a células capilares isoladas. […] A via auditiva de cada ouvido segue para ambos os lados do cérebro e faz sinapses em vários núcleos antes de alcançar o córtex auditivo. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 119). Pág. 49 de 72 Figura: Sistema auditivo Fonte: acer/commons.wikimedia.org Saiba mais O vídeo “A natureza do som e do ouvido humano” apresenta como o ouvido reage às ondas sonoras e vibrações. Acesse o link e assista: https://www.youtube.com/watch?v=wsCIl5ehL0c 4 .2 .3 O olfato O olfato não é considerado como um “sentido superior” como a audição e a visão, mas ele auxilia na sobrevivência de nossa espécie: “[…] ele é necessário para a detecção de alimentos estragados ou vazamento de gás, e a perda do sentido olfato pode levar à falta de apetite” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 123). A área ocupada no cérebro responsável pelo olfato varia de espécie para espécie. No homem ela ocupa aproximadamente a vigésima parte do que ocupa no cérebro de um cão, por exemplo. O sistema olfativo Diferentemente dos sistemas visuais e auditivos, em que os receptores estão protegidos, no sistema olfativo os receptores dos cheiros estão na cavidade nasal, ligados diretamente ao cérebro, sem mediações sinápticas. Pág. 50 de 72 Os receptores olfativos são cobertos por substância oleosa. Por isso as moléculas voláteis que deixam as substâncias e entram na cavidade nasal devem ser solúveis em gordura. O sistema olfativo consiste de receptores na passagem nasal, determinadas regiões do cérebro e vias neurais interconectadas. Os receptores de odor estão localizados no alto da cavidade nasal. Quando os cílios (estruturas semelhantes às dos pelos) desses receptores entram em contato com as moléculas voláteis, ocorre um impulso elétrico; este é o processo de transdução. Esse impulso viaja através das fibras nervosas até o bulbo olfativo, região do cérebro que fica logo abaixo do lóbulo frontal. O bulbo olfativo, por sua vez, está ligado ao córtex olfativo no interior dos lobos temporais. (Curiosamente, há uma conexão direta entre o bulbo olfativo e parte do córtex, conhecida por estar envolvida na formação de memórias de longo prazo. Talvez isso esteja relacionado à ideia de Proust, de que um odor característico pode representar uma poderosa ajuda na recuperação de memórias antigas.) (NOLEN- HOEKSEMA et al., 2012, p. 124, grifos do autor). Figura: Sistema olfativo Fonte: OpenStax/pngcommons.wikimedia.org Pág. 51 de 72 4 .2 .4 A gustação ou sentido do paladar Este sentido é influenciado por nossa experiência em relação ao que estamos ingerindo, ou seja, as pessoas apresentam sensibilidade variada em relação aos sabores amargos e cítricos; por exemplo, “indianos vivendo na província de Karnataka, na Índia, que ingerem vários alimentos azedos e consideram os sabores do ácido cítrico e do quinino (o sabor da água tônica) agradáveis.” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 125). Os ocidentais, ou mesmo indianos que cresceram em países ocidentais, não compartilham dessa mesma sensação. O sistema gustativo Nosso sistema gustativo não é considerado um dos principais. Nem sempre damos a ele seu real valor, mas sua importância está em podermos avaliar os sabores dos alimentos em conjunto com o sistema olfativo. Imaginem quão valiosos esses sistemas sensoriais eram para nossos antepassados que passaram por épocas em que não conheciam todos os alimentos in natura e tinham que prová-los para avaliá-los. Assim, o nosso paladar foi com o tempo se especializando para hoje termos consciência dos sabores dos alimentos que estamos comendo. O estímulo para o paladar é uma substância solúvel na saliva. O sistema gustativo inclui receptores que estão localizados na língua, bem como na garganta e no céu da boca. O sistema também inclui partes do cérebro e vias neurais interligadas. […] Esses receptores gustativos encontram-se em agrupamentos, denominados papilas gustativas, nas saliências da língua e ao redor da boca. Nas extremidades das papilas gustativas, são curtos, com estrutura semelhante a dos pelos e se estendem para fora. O contato resulta em impulsos elétricos; este é o processo de transdução. Em seguida, os impulsos elétricos viajam até o cérebro. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 126). Figura: Sistema gustativo Fonte: NEUROtiker/commons.wikimedia.org Pág. 52 de 72 4 .2 .5 O tato Nosso tato é constituído por nossa pele, que é considerada o maior órgão de nosso organismo e é composta por derme e epiderme. A epiderme é a camada mais superficial da pele, menos espessa e com células epiteliais estratificadas. A derme é a camada mais profunda, é densa e composta por uma rede de tecido fibroso e elástico. Nossa pele ainda possui os pelos e as glândulas sebáceas e sudoríparas, a primeira com a função de lubrificar a pele e a segunda de secretar o suor. Sistema tegumentar Nas regiões providas de pelo temos terminações nervosas que captam as forças mecânicas aplicadas contra o pelo, como os receptores de Ruffini, que são receptores de calor. Nas regiões desprovidas de pelo, assim como naquelas que estão cobertas de pelos encontramos três tipos de receptores comuns: • Corpúsculos de Paccini: Captam especialmente estímulos vibráteis e táteis – pressão. • Corpúsculos de Meissner: Estão nas saliências da pele sem pelos (como nas partes mais altas das impressões digitais) e percebem o tato leve. • Discos de Merkel: De sensibilidade tátil e de pressão. Os movimentos de pressão e tração sobre a epiderme desencadeiam o estímulo. (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 135). Há ainda na pele: • Terminações nervosas livres: Sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos e especial- mente aos dolorosos. • Bulbos terminais de Krause: Receptores térmicos de frio. Situam-se nas regiões limítro- fes da pele com as membranas mucosas (por exemplo: ao redor dos lábios e dos genitais). (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 136). Pág. 53 de 72 Figura: Sistema tegumentar: os sensores Fonte: BruceBlaus/commons.wikimedia.org Como podemos observar, nosso tato é responsável por recepcionar diferentes sensações – calor, frio, dor, toques sutis ou pressões mais acentuadas. Essas sensações são transmitidas para nosso cérebro e processadas no lobo parietal, responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura e pressão. Podemos afirmar que com o sistema tátil nosso organismo tem a habilidade de receber e interpretar estímulos por meio do contato com a pele. Tem-se formulado teorias sobre como o sistema tátil se desenvolve ainda antes do nascimento. O sentido do tato é importante no desenvolvimento da consciência corporal. O funcionamento tátil se divide em dois sistemas diferentes. O sistema de discriminação nos dá as informações sobre o tamanho, forma e textura de objetos no meio ambiente. O sistema protetor, por sua vez, provê-nos de informações sobre como somos tocados (por exemplo: toque suave, pressão profunda, temperatura ou dor). O sistema protetor é responsável por o corpo evitar automaticamente aquele toque que lhe pareça ruim. Pág. 54 de 72 Uma pessoa com um problema do sistema tátil pode ser hipo ou hipersensível ao toque ou pode ter uma discriminação tátil pobre. Uma pessoa hipossensível pode não estar consciente de que lhe tocam ou pode não reagir apropriadamente às experiências dolorosas (cortes, golpes). Uma pessoa hipersensível pode parecer agressiva com os outros: pode evitar a terra, a areia ou projetos artísticos ou pode ter dificuldade para completar uma tarefa devido à necessidade de proteger a si mesma, com medo da entrada tátil que virá. 4 .2 .6 O sistema vestibular Os receptores do sistema vestibular estão localizados no ouvido interno, e eles interpretam os efeitos da gravidade no corpo por meio do movimento e da posição da cabeça.Esses receptores sensoriais no ouvido interno enviam mensagens a níveis mais altos do cérebro para que sejam processados. O sistema vestibular funciona no desenvolvimento de um bom balanço, consciência espacial, estabilidade proximal (a habilidade de estabilizar suas articulações, dos ombros e quadril) e uniformidade geral no controle motor. Estudos sugerem também que o sistema vestibular contribui com a habilidade de prestar atenção a uma tarefa. Estimulação apropriada a esse sistema pode prover um efeito calmante e preparar o cérebro para concentrar sua atenção. Sistemas vestibulares imaturos podem reagir de duas maneiras. Algumas crianças são extremamente sensíveis a qualquer atividade de movimento e ficam aterrorizadas com a ideia de participar em qualquer atividade física. Por sua vez, algumas crianças não processam informações vestibulares suficientes. Essas crianças nunca parecem tontas e adoram as atividades que provoquem estimulação sensorial. Parece que não existe uma atividade que as deixe tontas. Uma criança com baixa visão e múltipla deficiência pode mexer-se continuamente ou dar voltas em círculos de maneira autoestimulante. Isso pode ser interpretado como um sistema nervoso imaturo que necessita de estímulo vestibular. Quando ele é provido com uma informação sensorial apropriada, aquela atitude tende a diminuir. A estimulação vestibular é uma fonte de informação forte para o sistema nervoso. Pode ser estimulada de diferentes maneiras, muitas das quais são simples. Devemos ter o cuidado – como em qualquer tipo de atividade – de protegê-los contra quedas e lesões. Em todas as atividades vestibulares a criança deve estar no controle. Permita que seja ela quem decida quanto de estímulo pode tolerar. Crianças com uma desordem que provoque convulsões não devem participar de atividades de rodopio. Isso é contraindicado e poderia causar as mencionadas convulsões. Essas crianças podem beneficiar-se de estímulos vestibulares, porém estes devem ser providos de maneira linear (movimentos para frente e para trás, ou de um lado para outro). Pág. 55 de 72 Figura: Estruturas do sistema vestibular Fonte: Thomas.haslwanter/commons.wikimedia.org 4 .2 .7 Sistema proprioceptivo ou cinestésico Segundo Lent (2001), a propriocepção refere-se à percepção do próprio corpo, o que propicia a consciência da postura, do movimento, das diferentes partes de nosso corpo e das mudanças de equilíbrio que ocorrem durante os movimentos. Ela também se refere ao posicionamento das articulações e das sensações dos movimentos. Ainda se conhece pouco sobre a propriocepção, apesar de ser muito estudada. O sistema proprioceptivo tem como receptores os proprioceptores, eles estão localizados nas articulações, músculos, tendões, cápsulas e ligamentos. As sensações captadas pelos proprioceptores são enviadas ao sistema nervoso central pelas vias aferentes, “[…] de modo consciente ou inconsciente, e estas podem influenciar o tônus muscular, programas de execução motora, coordenação, cinestesia, reflexos musculares, equilíbrio postural e estabilidade articular” (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 2003, p. 215). Os dançarinos e atletas apresentam, de acordo com a teoria das múltiplas inteligências, a inteligência corporal-cinestésica, que consiste em habilidades que lhes permitem executar movimentos precisos para o desenvolvimento de suas técnicas. Pág. 56 de 72 Figura: Propriocepção Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_7H9r_7bo6nc/SlgHt2VqyBI/AAAAAAAAA3g/Z5i1zzF4JRQ/s400/sc_proprioception.jpg A propriocepção encontra-se dividida em quatro funções distintas e separadas: • Sensação de movimento passivo: esta é considerada o resultado de sensações induzi- das por forças externas que levam à alteração da posição do membro sem que haja con- tração muscular. • Cinestesia: é defi nida como a sensação do movimento ativo, passando por alterações do movimento ou posicionamento do membro com o músculo em contração. • Estagnosia: é a percepção da posição de um membro no espaço. • Dinamaestesia: é a presença de tensão e percepção da força aplicada no momento de rea- lização de uma contração voluntária. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 2003, p. 217-218). Quando ocorre algum tipo de alteração no sistema proprioceptivo, o organismo apresenta alguns sintomas variados, que podem ser: • Dor: pode surgir como cefaleia, enxaqueca, dor muscular, na planta dos pés, pescoço ou costas. • Desequilíbrio: pode aparecer na forma de vertigem, tonturas, enjoo, sensação de náu- seas, quedas sem explicação, choques contra objetos sem justifi cativa. Pág. 57 de 72 • Queda do rendimento escolar: o indivíduo progride no âmbito escolar abaixo de sua ca- pacidade de inteligência e do esforço desenvolvido. Pode-se observar sintomas de dislexia, discalculia, disgrafia, dislalia, disortografia, déficit de atenção, entre outros. • Perturbações vasculares: a mais frequente é a palidez da pele, normalizando-se após o tratamento proprioceptivo. • Erros de localização espacial: o indivíduo apresenta dificuldade na percepção de cada segmento do seu corpo em relação aos outros segmentos, e também a relação entre corpo e espaço. (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 2003, p. 219). A abordagem para o tratamento e acompanhamento das alterações proprioceptivas deve ser multidisciplinar; os profissionais que podem ser envolvidos no tratamento são: fisioterapeutas, ortopedistas, oftalmologistas, dentistas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. 4 .3 Percepção e o desenvolvimento da aprendizagem Os nossos sentidos captam e enviam para o cérebro informações brutas do meio ambiente em que vivemos. A percepção é o que vai organizar e integrar essas informações, segundo a definição de Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 138), ela vai nos ajudar a fazer “suposições de como o mundo se junta”. O que isso significa? Que tudo o que se apresenta à nossa volta tem certa lógica. Não podemos conceber um elefante sobre uma geladeira em nossa cozinha, por exemplo. Quando pensamos em uma cozinha comum, vemos um fogão, uma geladeira, uma pia e talvez um micro- ondas sobre um armário. Ainda segundo Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 138), nossa percepção dessa realidade ou dessas cenas cotidianas é repleta de “suposições para integrar o mundo, com base no qual tomamos decisões e agimos”. As questões perceptivas são divididas em cinco categorias: 1 – Atenção É a capacidade de selecionar um conjunto relevante de todas as informações no ambiente. Para isso temos três processos separados no cérebro. O primeiro é o sistema que nos dá a capacidade de nos mantermos alertas, o segundo sistema, de acordo com Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 139), […] é responsável por orientar os recursos de processamento com relação a informações relevantes às tarefas (por exemplo, focar em uma voz para entender o que está sendo dito); e o terceiro, que muitas vezes é chamado de “executivo”, decide se queremos continuar a participar das informações ou, ao contrário, mudar nossa atenção para outras informações. Pág. 58 de 72 Esses processos interagem para compor a atenção, quando queremos estar atentos a um objeto ou som, dirigimos nossa atenção visual ou auditiva; a esses atos denominamos atenção seletiva, que “[…] é o processo por meio do qual selecionamos os estímulos para processamento ulterior enquanto ignoramos outros. Na visão, o meio primário de direcionar nossa atenção são os movimentos dos olhos” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 141). Essa capacidade de atenção seletiva, que nos faz ignorar partes dos estímulos que estão à nossa volta, ajuda nosso cérebro a reduzir a quantidade de processamento de informações até um ponto em que possa ser mais bem administrada, e, ao mesmo tempo, na maioria dos casos, não conseguiremos nos lembrar das informações que não foram selecionadas para prestarmos atenção, pois elas não foram processadas pelo cérebro. 2 – Localização É a capacidade de localizar ou determinar onde estão os objetos.A importância dessa capacidade é clara. Imaginemos que estamos nos deslocando em um ambiente, mesmo o cotidiano de nossa casa, ir da cama até o banheiro sem bater em nenhum móvel ou tropeçar em um degrau, ou mesmo localizarmos um objeto entre outros e pegá-lo. A capacidade de localização requer duas habilidades: a de separar e a de determinar a posição dos objetos. Na primeira, precisamos conseguir fazer a separação dos objetos uns dos outros e do fundo em que se encontram; e na segunda, Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 141) explicam que precisamos “determinar a posição do objeto no mundo tridimensional, incluindo sua distância até nós e seus padrões de movimento”. Ainda segundo Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 149), Localizar um objeto requer também que saibamos sua distância até nós. Esta forma de percepção, conhecida como percepção de profundidade, não é tão fácil porque não está disponível na imagem retinal. Nós temos uma variedade de sugestões de profundidade, seja monocular e binocular, que nos permite fazê-lo. Figura: Figura e fundo reversíveis Fonte: emil~commonswiki/Commons.wikimwdia.org Pág. 59 de 72 3 – Reconhecimento Para reconhecermos um objeto, precisamos ter atenção, e esse processo de reconhecimento requer que várias características associadas ao objeto, como cores e formas, estejam corretamente vinculadas entre si. Geralmente utilizamos como auxílio os aspectos globais da cena. Há dois processos-chave para o reconhecimento de objetos: o bottom-up (de baixo para cima) e o top-down (de cima para baixo). Nesse sentido, Nolen-Hoeksema et al. (2012, p. 156) observam que “os processos bottom-up são movidos somente pelo input – os dados brutos, sensoriais –, considerando que os processos top-down são movidos pelo conhecimento da pessoa, sua experiência, atenção e expectativas”. Na maioria das vezes utilizamos no reconhecimento o processo bottom-up por meio dos inputs dos dados brutos sensoriais, ao passo que o processo top-down também tem importante papel na percepção de objetos e pessoas. Geralmente o processo top-down envolve as expectativas, por exemplo, sabemos que sempre encontramos nosso professor de física na sala de aula às terças- feiras. Logo, quando ele entrar na sala de aula, o reconheceremos pelo processo top-down. Se estivermos em uma loja no shopping e nosso professor de física entrar, teremos que dar aquela segunda olhada nele para termos certeza de quem é, usaremos um pouco mais de input no processo bottom-up para reconhecê-lo fora do contexto habitual em que o encontramos. O reconhecimento de faces pelos seres humanos passa por processos diferentes do que o reconhecimento de objetos. Os homens desenvolveram uma capacidade excepcional para reconhecer faces, pois, diferentemente dos objetos que podem ter formas e cores diferentes, os rostos mantêm uma configuração parecida – dois olhos, um nariz e uma boca, na mesma posição. Uma pessoa que sofre um dano cerebral e passa a ter a chamada prosopagnosia não consegue reconhecer rostos, mas continua reconhecendo objetos. Também é difícil reconhecermos rostos quando apresentados de cabeça para baixo. Pág. 60 de 72 4 – Abstração O nosso cérebro, por um processo de conversão, transforma as informações que os órgãos sensoriais captam ainda de forma bruta em “categorias abstratas que são pré-armazenadas na memória (por exemplo, letras e palavras)” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 162). As abstrações ocupam menos espaço em nosso cérebro do que as sensações brutas que recebemos dos órgãos sensoriais. Podemos comparar com um computador. Se fizermos um desenho no Paint a mão livre, quando o salvarmos, ele tomará, por exemplo, 60 KB de espaço, ao passo que se o mesmo desenho for feito com formas do próprio programa, como círculos, linhas, quadrados, retângulos, ele tomará, por exemplo, somente 20 KB de espaço. O mesmo acontece em nosso cérebro. 5 – Constâncias perceptivas Necessitamos das constâncias perceptivas “[…] para manter a aparência dos objetos igual, apesar das grandes variações nas representações iniciais dos estímulos recebidos pelos órgãos sensoriais que são engendrados pelos diversos fatores ambientais” (NOLEN-HOEKSEMA et al., 2012, p. 168). O que isso significa? Que nosso cérebro, apesar de receber informações variadas dos órgãos sensoriais sobre um objeto que reconhecemos, consegue manter nossa percepção sobre esse objeto invariável. Isso ocorre em relação à constância de tamanho quando olhamos um objeto distante e conseguimos saber o real tamanho dele, mesmo que a distância em que ele se encontra o deixe menor. Quando vemos um carro a uma distância de 100 metros ou mais, o vemos pequeno, mas não pensamos que é um carro de brinquedo porque ele assim se apresenta, sabemos que é um carro em seu tamanho normal. O mesmo ocorre com a constância de cor e brilho, percebemos a cor e o brilho de um objeto, mesmo que eles possam estar alterados pela luz do ambiente. Embora as constâncias perceptivas ocorram em todas as modalidades sensoriais, as visuais são as mais perceptíveis, assim podemos explicar as diversas ilusões visuais que temos. Pág. 61 de 72 Figura: As linhas são paralelas? Fonte: Katie Walker/commons.wikimedia.org Os pesquisadores investigaram o desenvolvimento perceptivo para entender até que ponto essas habilidades perceptivas são inatas ou aprendidas pela experiência. Para isso, estudam as habilidades de discriminação dos bebês e já comprovaram que, a partir dos seis meses, as capacidades de constâncias perceptivas começam a ser desenvolvidas. 4 .4 Linguagem e pensamento Figura: Linguagem mãe e bebê – Maternagem Fonte: Prostock-Studio/iStock.com Pág. 62 de 72 O desenvolvimento da linguagem faz parte das aprendizagens da criança desde sua tenra idade. Ele se dá nos momentos de interação com os adultos, outras crianças e com os objetos em seu meio social e cultural. Traremos aqui algumas considerações sobre o desenvolvimento da linguagem por meio da mediação e do brincar. Froebel foi um dos precursores da educação infantil. Ele afirmava que o adulto é o mediador para a criança no processo de aquisição de linguagem, o adulto nomeia e dá significado a objetos e ações. Quando brincamos com a criança e nomeamos a ação, os locais, dando condições para a criança entender o fenômeno e sua denominação. Outro ponto importante para Froebel é que a criança deve ter um sentimento de pertencimento em relação à comunidade. Geralmente isso se inicia na família. Somente com esse sentimento a criança consegue desenvolver plenamente sua linguagem (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007). Segundo Verden-Zöller (2004, p. 137), devemos considerar a relação mãe-filho “entendendo que a maternidade é uma relação permanente de cuidado que um adulto adota com uma criança”. Isto é, todo adulto que for o mediador do mundo para a criança terá esse papel de “maternagem”. A mãe, segundo Froebel, interage com a criança pequena todo o tempo, durante o cuidado pessoal, trocas de roupa, banho, alimentação, nomeando as partes do corpo, e isso auxilia o “desenvolvimento da linguagem e a consciência de si e das partes de seu corpo” (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 47). Verden-Zöller (2004, p. 146) afirma que […] o bebê encontra sua mãe na brincadeira antes de começar a viver na linguagem. Todavia, a mãe humana pode encontrar o bebê na linguagem e no brincar, pois já está na linguagem quando começam as conversações que constituem o seu bebê. J. Bruner afirma que a “mãe dispõe de um saber que a criança ainda não tem completamente, ou que tem apenas no sentido primitivo. Para auxiliar nesse processo, a mãe usa diferentes formas de diálogo por andaimes (BRUNER, 1978 apud KISHIMOTO, 2007, p. 260, grifo nosso). Segundo Souza (2009, p. 167), as primeiras formas de comunicação da criança são gestos e expressões faciais, assim como o choro e o riso, e suas intencionalidades são interpretadas pela mãe que já possui a linguagem.Essas respostas que a mãe dará a essas expressões que com o tempo e sua consistência se transformará em comunicação. Pág. 63 de 72 Froebel menciona também as brincadeiras interativas, que seriam aquelas de esconder objetos e perguntar à criança onde está, esperar que ela procure e dê a resposta, e a afirmação do acerto ou erro vem do adulto como feedback. […] nas brincadeiras interativas, há ação livre e espontânea, exploração e sequência de ações que são compreendidas pela criança. O brincar envolve o clima interativo e prazeroso com situações marcadas por uma pergunta, uma resposta e um feedback. (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 51). Essa dinâmica de “minha vez – sua vez” é uma das bases da linguagem e do diálogo, além da formação de conceitos de lugar, nomes de objetos e ações. As brincadeiras interativas trazem todas essas possibilidades de aquisição e ampliação da linguagem. J. Bruner também se refere ao jogo como “[…] uma forma de caracterizar o diálogo, com papéis, turnos de pegar, iniciar e responder” (KISHIMOTO, 2007). Figura: Brincadeira de esconde-esconde (estimulação) Fonte: Paul Bradbury/iStock.com Quando as brincadeiras acontecem com o uso de objetos e brinquedos, começa uma nova fase do brincar e da aquisição da linguagem, pois a criança observa e interage com objeto, e o adulto nomeia o movimento (por exemplo, “jogar a bola” e a ação “pegar a bola”), que leva ao “brincar- palavra” a que Froebel se refere. A criança adquire o saber-fazer nas ações, compreende o fenômeno e a sua denominação, e a aquisição da linguagem o acompanha (KISHIMOTO; PINAZZA, 2007). O homem, segundo Vygotsky (1998), desenvolveu sua linguagem pela necessidade de comunicação com seu grupo. “A vivência pessoal, ou seja, suas experiências particulares para serem compartilhadas necessitavam ser traduzidas em signos, simples e generalizantes, para serem transmitidas aos outros.” (SOUZA, 2009, p. 168). Pág. 64 de 72 Segundo Maturana (2005), o viver na linguagem surgiu na história evolutiva do homem. Para o autor, “[…] o conversar (linguajear – linguagem) é resultado da intimidade do viver em comunidade, ou seja, de seus relacionamentos socioculturais” (SOUZA, 2009, p. 168). Vygotsky (1998) corrobora Froebel quando afirma que a criança começa a dar significado às coisas a partir de sua ação sobre o objeto, que é o que dará as propriedades dos objetos. Essa ação sobre o objeto dará à criança as experiências necessárias para a formação do conhecimento. Quando uma criança leva à boca um objeto, balança-o, agita-o, atira-o, todas estas ações trarão informações acerca de cor, forma, tipo de material, peso, tamanho etc. Depois ela começará a fazer as comparações e relações entre os objetos para conceituar grande/pequeno, leve/pesado etc. (SOUZA, 2005, p. 28). Para refletirmos sobre a mediação, a aprendizagem, o desenvolvimento e o brincar, traremos as teorias de Vygotsky (1984, p. 95) em que ele afirma que o “aprendizado e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. A criança aprende o tempo todo, recebe informações das mais variadas fontes e capta essas informações com seus sistemas sensoriais, adquirindo conhecimentos, em muitos casos incidentalmente, e isso ocorre quando ela interage com as pessoas, os objetos e com tudo o que ocorre ao seu redor. As interações comunicativas e linguísticas com as pessoas que se encontram nos diferentes ambientes de vida aumentam essa informação, dão-lhe forma e tornam cada experiência nova mais significativa que a anterior. (AMARAL, 2004). Em relação à mediação, Vygotsky (1998) ressalta a importância do outro social no desenvolvimento, por meio da ênfase que dá aos processos sócio-históricos. Nessa visão, os indivíduos têm uma inter-relação ou interdependência, assim, os adultos do grupo social a que a criança pertence devem propiciar situações de aprendizado, pois será através da inter-relação adulto-criança-meio social que se dará o seu desenvolvimento (SOUZA, 2009). Vygotsky (1984) apresenta dois níveis de desenvolvimento, o nível de desenvolvimento mental real da criança e o nível de desenvolvimento proximal. Quando avaliamos esses dois níveis, podemos determinar o estado de desenvolvimento mental dela. Isto é, o que a criança consegue fazer hoje com ajuda, por imitação, demonstra que ela conseguirá fazer sozinha no futuro. Uma compreensão plena do conceito de zona de desenvolvimento proximal deve levar à reavaliação do papel da imitação no aprendizado. […] psicólogos têm demonstrado que uma pessoa só consegue imitar aquilo que está no seu nível de desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1984, p. 98-99). Pág. 65 de 72 J. Bruner utiliza o termo “andaime” para a Zona de Desenvolvimento Proximal. Ele ocorre na díade mãe-filho, em que o adulto nomeia o objeto de interesse apontado pela criança, em livros ilustrados ou objetos reais, ajudando no desenvolvimento da narrativa da criança (KISHIMOTO, 2007). Vygotsky (1984) afirma que o aprendizado não é desenvolvimento, mas somente um dos aspectos do processo de desenvolvimento. Ele desperta “processos internos de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” (VYGOTSKY, 1984, p. 101), quando a criança interage com pessoas em seu meio ambiente, um exemplo disso é a linguagem. A linguagem se inicia como uma forma de comunicação entre ela e as pessoas de seu convívio e depois se torna um organizador de seu pensamento. Em relação ao brinquedo e à Zona de Desenvolvimento Proximal, Vygotsky (1984, p. 122) afirma que No brinquedo, a criança sempre se comporta além do seu comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob a forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento. Sendo assim, o brincar é importantíssimo para o desenvolvimento da criança, pois nele, com a interação com os objetos, situações e as pessoas que brincam com ela, a criança se desenvolve em todos os sentidos. Figura: O brincar é importantíssimo para o desenvolvimento da criança Fonte: SeventyFour/iStock.com Pág. 66 de 72 RECAPITULANDO Nesta quarta unidade trouxemos alguns pontos relevantes para a aprendizagem tendo em vista as descobertas da neurociência ao longo da história. Começamos explicando, segundo os neurocientistas, como os sentimentos, as emoções, o afeto, a consciência, a cognição e a vontade influenciam o ensino-aprendizagem; assim, podemos tirar proveito disso buscando instrumentos e metodologias de ensino que favoreçam o interesse do aprendiz. Apresentamos os sistemas sensoriais – órgão principal, sentidos e seu funcionamento; desde a visão, o olho, seus componentes e como ocorre o “ver” e decodificar o que vemos; o que ouvimos; o que sentimos pelo tato; o paladar; o olfato e assim por diante. Demonstramos também os outros sentidos “esquecidos” – proprioceptivo ou cinestésico e o vestibular. Ainda em relação à percepção, a neurociência explica como ela se compõe especificando a atenção, a localização, o reconhecimento, a abstração e as constâncias perceptivas e assim as relacionando com a aprendizagem. Para finalizar trouxemos a constituição do pensamento e da linguagem tendo como base teórica autores que discutem o tema, relacionando com o brincar, a mediação e a relação social. Pág. 67 de 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentamos um panorama do que é a neurociência voltada para a área educacional com a apresentação de conceitos básicos sobre o que é a neurociência e como ela se consolidou historicamente. Trouxemos biologicamente a composição do sistema nervoso humano e o desenvolvimento de nosso cérebro triúno ontologicamente, ou seja, como nosso cérebro, em determinadas épocas da história da humanidade, desempenhou suas funçõese organizou-se para atender às necessidades dos homens. A plasticidade neural foi assunto discutido com a finalidade de entendermos como nosso cérebro se organiza e se reorganiza durante o desenvolvimento, desde a concepção até a vida adulta, tornando-se único, de acordo com nossas experiências e aprendizagens. O sistema límbico foi explicado em suas estruturas e funções para entendermos a importância das emoções, do afeto, da consciência, da vontade, da cognição e tantos outros componentes que são processados nele e são peças fundamentais para as aprendizagens humanas. Para entendermos como o cérebro recebe as informações sensoriais, trouxemos a descrição dos sistemas sensoriais que captam as informações do mundo ao nosso redor e complementamos com as discussões sobre o desenvolvimento perceptivo e a aprendizagem. Para fecharmos, o desenvolvimento da linguagem foi discutido com base em autores que a relacionam com a mediação e o brincar, ações cruciais para a aquisição de linguagem e consequente aprendizagem das crianças em fase de desenvolvimento. Pág. 68 de 72 VÍDEOS GLOSSÁRIO Ablação Substantivo feminino. Extirpação; ação de retirar um órgão ou parte deste, geralmente em razão de um tumor: ablação cardíaca; ablação por cateter; ablação endometrial. Ação ou efeito de tirar, de arrancar, de remover. Etimologia (origem da palavra ablação). Do latim ablatio.onis. Ansiedade Substantivo feminino. Desconforto físico e psíquico; agonia, aflição, angústia. [Figurado] Desejo intenso e impetuoso; impaciência, sofreguidão, avidez. [Figurado] Ausência de tranquilidade; medo, receio. [Psicologia] Condição emocional de sofrimento, definida pela expectativa de que algo inesperado e perigoso aconteça, diante da qual o indivíduo se acha indefeso. Etimologia (origem da palavra ansiedade). Do latim anxietas.atis. Disponível em: https://www.dicio.com.br/ansiedade/ Detrimento Substantivo masculino que significa dano, prejuízo, perda. Também é sinônimo de estrago, quebra e desvantagem. Disponível em: https://www.significados.com.br/detrimento/ Hominídeos Pág. 69 de 72 Adjetivo [Zoologia] Pertencente aos Hominídeos, família dos primatas, de gênero único Homo, à qual pertence o homem e seus ancestrais. Semelhante ao homem; antropoide. Etimologia (origem da palavra hominídeo). Do latim homine; hominidae + ídeo. Disponível em: https://www.dicio.com.br/ hominideo/ Hipócrates de Cós O “pai da medicina”, viveu na segunda metade do século V a.C., auge da efervescência cultural ateniense. Tão elevada se tornou sua reputação que grande número de textos médicos, escritos em dialeto iônico e de características técnicas e literárias díspares, acabaram sendo-lhe atribuídos pela posteridade. Após sua morte, tantas lendas foram criadas e incorporadas à sua biografia que se tornou difícil, hoje em dia, separar o Hipócrates histórico do Hipócrates lendário. Leia mais em: RIBEIRO Jr., Wilson Alves. Aspectos reais e lendários da biografia de Hipócrates, o “pai da medicina”. Disponível em: https://warj.med.br/pdf/hipocrates.pdf Imbricado Unido tão perfeitamente que se confunde com outro; entrelaçado. Disponível em: https://www. dicio.com.br/imbricado/ Uníssono Que está em concordância com; unânime. Que não apresenta diferenças; semelhante. Disponível em: https://www.dicio.com.br/unissono/ Volitivo Que resulta da vontade; determinado pela vontade ou causado por ela; em que há intenção. Disponível em: https://www.dicio.com.br/volitivo/ Pág. 70 de 72 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bibliografia clássica AMARAL, I. et al. Avaliação e intervenção em multideficiência. Lisboa: Ministério da Educação, Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, Centro de Recursos para a Multideficiência, 2004. BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002. DAMASIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. DAMASIO, A. R. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. DAMASIO, A. R. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. FERREIRA, A. B. H. 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