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Brasília-DF. NeurociêNcia - comuNicação, LiNguagem e miNdfuLNess Elaboração Maraísa da Silva Soares Costa Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO ....................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 NEUROCIÊNCIA ....................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 COMUNICAÇÃO: LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBAL ........................................................... 17 CAPÍTULO 3 NEUROTRANSMISSORES ENVOLVIDOS NA PERCEPÇÃO AUDITIVA, DE FALA, LINGUAGEM, APRENDIZAGEM E MEMÓRIA .................................................................................................. 35 UNIDADE II NEUROCIÊNCIA E PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS .................................................................... 42 CAPÍTULO 1 NEUROCIÊNCIAS: NEUROANATOMIA E NEUROFISIOLOGIA X PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS ................................................................................................................................ 42 CAPÍTULO 2 NEUROCIÊNCIA E MINDFULNESS .......................................................................................... 46 CAPÍTULO 3 NEUROCIÊNCIA E PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS ....................................................... 60 UNIDADE III NEUROCIÊNCIA DA LINGUAGEM ......................................................................................................... 74 CAPÍTULO 1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DOS ESTUDOS EM NEUROLINGUÍSTICA .............................................. 74 CAPÍTULO 2 NEUROLINGUÍSTICA E DISTÚRBIOS E PATOLOGIAS DA LINGUAGEM ........................................... 78 UNIDADE IV NEUROCIÊNCIA E PROCESSOS AFETIVOS E COGNITIVOS ...................................................................... 86 CAPÍTULO 1 PROCESSOS AFETIVOS E COGNITIVOS E SUAS RELAÇÕES COM O CÉREBRO HUMANO ........... 86 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 102 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 104 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Compreender a linguagem e sua conexão com as distintas regiões do cérebro humano é um desafio não só para os neurocientistas que investigam o tema, mas também para os iniciantes nesse assunto que é tão curioso e instigante. O campo que envolve a linguagem e/ou comunicação e a neurociência é interdisciplinar e relaciona-se com outras áreas. A neurolinguística é um dos pontos principais nesta proposta de aprendizagem. Estudar e investigar como a linguagem falada, escrita ou “não’ verbal é elaborada por meio de mecanismos cerebrais, ou melhor encefálicos, é um dos propósitos da neurolinguística que, por meio do entendimento das funções mentais que envolvem o sistema nervoso, consegue explicar essas ligações. A neurociência associada à linguagem/comunicação é essencial para auxiliar os indivíduos a compreenderem não só o funcionamento das relações entre a linguagem, memória, atenção, cognição, inteligência, personalidade e o próprio cérebro humano, mas é uma ferramenta primordial para melhorar e alavancar o desempenho de uma pessoa. Sendo assim, aprenderemos vários tópicos interessantes sobre neurociência, comunicação e linguagem, entre outras abordagens que envolvem processos psicológicos básicos; como também afetivos e cognitivos. Possibilitar uma compreensão geral do tema é uma das propostas para que seja alavancado o conhecimento sobre esse assunto. Objetivos » Apresentar o que é a ‘neurociência’, o seu propósito e os seus ramos de estudo, bem como mostrar a composição do sistema nervoso central e suas relações com a linguagem, cognição, atenção, memória, entre outros. » Conhecer os distintos conceitos que envolvem a ‘comunicação verbal’ e a ‘não verbal’, como também a sua conexão com a neurociência. » Aprender sobre os neurônios e, principalmente, sobre neurotransmissores, os quais são primordiais no processo da linguagem, aprendizagem, memória e outros. » Compreender as concepções básicas relacionadas à ‘anatomia’ e à ‘fisiologia’ do sistema nervoso central, assim como definir e entender 8 determinados processos psicológicos básicos (atenção, memória, consciência, sensação e percepção) e suas relações neurofisiológicas e neurobiológicas. » Estudar sobre a perspectiva histórica da Neurolinguística e sobre os distúrbios da linguagem, as denominadas ‘afasias’. » Mostrar os conceitos relativos aopensamento e à linguagem, e sua interrelação; como também outros assuntos relativos aos processos afetivos e cognitivos (inteligência, criatividade, personalidade). » Promover e incentivar a aprendizagem por meio de vídeos, da leitura de artigos e textos e de outros recursos que impulsionem a construção do conhecimento. 9 UNIDADE INEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO CAPÍTULO 1 Neurociência Vamos lá! A neurociência é um ramo da ciência propriamente dita essencial em vários campos de estudos, o que a torna interdisciplinar. Isso ocorre por natureza sistêmica ao estudar o ser humano no seu âmbito anatômico, fisiológico, ou outros ramos peculiares, como o da linguística ou da comunicação. Partindo dessas perspectivas, aprenderemos alguns conceitos iniciais neste primeiro capítulo, os quais serão primordiais para a sequência de nosso aprendizado sobre o assunto. O que é neurociência? Figura 1. Neurociência. Fonte: https://www.freepik.com/free-photo/3d-medical-figure-with-brain-highlighted_2699723.htm. Acesso em: 25 fev. 2019. Neurociência pode ser entendida como: “[...] estudo do controle neural das funções vegetativas, sensoriais e motoras; dos comportamentos de locomoção, reprodução https://www.freepik.com/free-photo/3d-medical-figure-with-brain-highlighted_2699723.htm 10 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO e alimentação; e dos mecanismos da atenção, memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação.” (VENTURA, 2010, p. 13). Também, pode ser compreendida como “uma ciência que estuda o funcionamento cerebral, os comportamentos, as funções cognitivas, entre outros interesses.” (COSENZA; GUERRA, 2011 apud LORANDI; AZAMBUJA, 2014, p. 102). Tem-se, ainda, a definição de Neurociência como um “[...] conjunto das disciplinas que estudam, pelos mais variados métodos, o sistema nervoso e a relação entre as funções cerebrais e mentais.” (HERCULANO-HOUZEL, 2018, p. 3). Para que serve a neurociência? Segundo Bhatnagar (2004, p. 1) “o objetivo da neurociência é explicar o mecanismo, usado pelo encéfalo, para controlar as funções mentais superiores e produzir ações. A base biológica dessas funções interage com as atividades celulares e com a mente.” Campos da neurociência Ramos mais importantes da Neurociência podem ser verificados por meio do quadro a seguir: Quadro 1. Ramos da Neurociência. Ramo Domínio Neurologia Diagnóstico e tratamento dos transtornos do sistema nervoso. Neurocirurgia Cirurgia para retirada e reparo de estruturas patológicas que comprometem a organização funcional do sistema nervoso. Neuroanatomia Organização estrutural do sistema nervoso que consiste nos neurônios1 e em seus tratos (fibras). Neurorradiologia Técnicas de imageamento para diferenciar alterações patológicas do SNC (Sistema Nervoso Central); a radioterapia dos tumores do sistema nervoso é subespecialidade da neurorradiologia. Neuroembriologia Origem e desenvolvimento embrionário do sistema nervoso. Neurofisiologia Funções químicas, elétricas e metabólicas do sistema nervoso. Neuropatologia Características e origens das doenças e seus efeitos sobre o sistema nervoso. Fonte: Bhatnagar, 2004, p. 3. Além desses ramos da neurociência, tem-se um outro campo que é a neurolinguística. Ela relaciona-se bastante com outras áreas como a de neurobiologia, a de neurofisiologia, a de neuroanatomia, a de neurologia, entre outras. 1 Neurônios são “[. . .] células excitáveis, altamente diferenciadas, especializadas na recepção, condução e transmissão de impulsos nervosos através da sua membrana celular.” (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008 apud COSTA, 2011, p. 6). 11 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I A neurolinguística, de acordo com Thompson (2017, p. 308), “é a ciência que estuda a elaboração da linguagem. Ocupa-se com o estudo dos mecanismos do cérebro humano que suportam a compreensão, produção e conhecimento abstrato da língua, seja ela falada, escrita ou assinalada.” A neurolinguística, como o próprio nome aponta, une conhecimentos da neurociência e da linguística. (DIAS, 2015). Portanto, a neurolinguística será um dos foco do estudo deste material. O objetivo da neurolinguística é “[...] a relação entre linguagem e cérebro, buscando relacionar determinadas estruturas cerebrais com certos distúrbios da linguagem.” (MORATO, 2003, p. 143 apud DIAS, 2015, p. 156). Oliveira (2013, p. 40) defende que “temas clássicos como a compreensão da leitura, o desenvolvimento da fala e da escrita e a aprendizagem de línguas, entre outros, exigem uma reavaliação, agora, sob a ótica dos avanços neurocientíficos.” Compreender a linguagem associada à neurociência é primordial para que possa conhecer as melhores técnicas/métodos de alfabetização e de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita, bem como ter um entendimento sobre os problemas relativos aos distúrbios de atenção ou da dislexia. (OLIVEIRA, 2013). Ainda, na mesma acepção de Oliveira (2013), outro autor, Oliveira (2014, p. 15) argumenta o seguinte: Entender os aspectos biológicos relacionados com a aprendizagem, as habilidades e deficiências de cada indivíduo ajuda educadores e pais na tarefa de educar. Elaborar ações educativas com base no conhecimento da neurociência é dispor de ferramentas capazes de analisar o percurso da aprendizagem para que se alcance o potencial individual de desenvolvimento e aprendizagem. Assencio-Ferreira (2009) explica que os profissionais fonoaudiólogos estão preparados para a avaliação, orientação e reabilitação de pessoas com patologias neurológicas que, por sua vez, contemplam a neurolinguística e a neurocognição. Portanto, a Neurociência é indispensável também quando se trata da Fonoaudiologia, uma vez que a interdisciplinaridade e a união dessas duas áreas é essencial. Quando se trata da Enfermagem, a Neurociência é da mesma forma importante. Por tratar de indivíduos com distúrbios do sistema nervoso, os profissionais enfermeiros 12 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO devem ter conhecimentos da neurociência, conforme Mitchell et al (1988), citado por Zanei (1994) defendem. Fundamental sublinhar que o estudo da fala é bastante complexo - segundo pesquisas realizadas por alguns investigadores do tema -, uma vez que a linguagem envolve distintos sentidos do ser humano para que a fala possa ser assimilada e compreendida. Isso porque os estudos sobre o assunto propõem que “o cérebro “trata” a fala como algo que ouvimos, vemos e, inclusive, sentimos.” (SEKIYAMA; KANNO; MIURA; SUGITA, 2003; POEPPEL; MONAHAN, 2008 apud OLIVEIRA, 2013, p. 41). Nesse sentido, estudamos alguns conceitos básicos sobre a neurociência, a sua interdisciplinaridade com outras áreas da ciência, bem como a sua imprescindibilidade para a compreensão de patologias, como distúrbios da fala e para o processo de ensino e de aprendizagem. Agora, aluno, iremos passar para mais um tópico, mas, antes disso, aproveite os vídeos seguintes para explorar um pouquinho mais sobre esse assunto que vimos no capítulo 1. Para saber mais sobre o que é neurociência, como esta poderá reprogramar o cérebro de uma pessoa e a relação entre o cérebro e a neurociência, sugiro que dê uma breve pausa e assista aos seguintes vídeos: O que é Neurociência: https://www.youtube.com/watch?v=Cl1JArP9Ojc. Acesso em: 21 ago. 2019. Neurociência confirma: em 21 dias você reprograma seu cérebro: https://www. youtube.com/watch?v=-QM0LYsKP7o. Acesso em: 21 ago. 2019. EVS - O Cérebro e a Neurociência: https://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&list=PL3NRHXg9zuVszOsxH GGl5eASQa776Bi9c. https://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&list=PL 3NRHXg9zuVszOsxHGGl5eASQa776Bi9c https://www.youtube.com/watch?v=Cl1JArP9Ojc https://www.youtube.com/watch?v=-QM0LYsKP7o https://www.youtube.com/watch?v=-QM0LYsKP7o https://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&list=PL3NRHXg9zuVszOsxHGGl5eASQa776Bi9c https://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&list=PL3NRHXg9zuVszOsxHGGl5eASQa776Bi9c 13 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADEI Sistema nervoso humano, características e relações com a linguagem, memória e aprendizagem Figura 2. Sistema Nervoso (Central e Periférico). Encefálo Medula espinhal SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Gânglios Nervos Terminações Nervosas Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/6-ano/vida-e-evolucao-6-ano/sistema-nervoso/a/estrutura-do-sistema-nervoso. Acesso em: 7 maio 2019. O sistema nervoso humano é composto pelo Sistema Nervoso Central e Periférico, e executa funções primordiais para controle dos movimentos físicos do ser humano, entre outras finalidades. (BHATNAGAR, 2004). Compreender noções do Sistema Nervoso Central, bem como do Sistema Nervoso Periférico, é primordial para o estudo da linguagem, da memória, da atenção, entre outros. Também, é preciso conhecer as características do cérebro e a influência deste no processo de aprendizagem e de conhecimento, na comunicação, entre outros. O Sistema Nervoso Central (SNC) é constituído pela encéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo é composto pelo cérebro, cerebelo e ainda pelo tronco encefálico. (LENT, 2018). O Sistema Nervoso Periférico (SNP), conforme Bhatnagar (2004), é composto pelos nervos motores e sensitivos. Importante salientar que ambos compõem fibras e células nervosas. (LENT, 2018). O SNC é classificado anatomicamente de acordo com a estrutura básica apresentada no quadro seguinte: Encefálo https://pt.khanacademy.org/science/6-ano/vida-e-evolucao-6-ano/sistema-nervoso/a/estrutura-do-sistema-nervoso 14 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Quadro 2. Classificação anatômica básica do SNC. SNC Encéfalo Medula espinhalCérebro Cerebelo Tronco encefálico Telencéfalo Diencéfalo Córtex Núcleos profundos Mesencéfalo Ponte BulboCórtex Cerebral Núcleos da base Fonte: Lent, 2018, p. 21. Na composição do encéfalo, tem-se o telencéfalo, constituído pelos núcleos da base e córtex cerebral. Ele representa a parte volumosa do encéfalo e cerca de 2% (dois por cento) do peso total do corpo de um ser humano, sendo considerado primordial porque “[...] sozinho executa as funções mentais superiores, como linguagem, cognição, emoção, raciocínio, atenção, memória, orientação no tempo e no espaço, julgamento e raciocínio reflexivo. (BHATNAGAR, 2004, p. 22, grifo nosso). Verifica-se, por meio da perspectiva de Bhatnagar (2004), a importância do encéfalo na comunicação humana, bem como na capacidade cognitiva, entre outros. Schenkman et al. (2016) explicam e afirmam que a própria herança genética do ser humano é uma guia para o desenvolvimento e maturação da linguagem, independentemente da cultura no qual está envolvido ou de sua instrução gramatical. O desenvolvimento da linguagem está intimamente relacionado ao encéfalo humano, isto é, a formação e a composição da linguagem é intrínseca a esta parte do crânio humano. Outra informação essencial sobre o encéfalo humano é esclarecida por Bhatnagar (2004), o qual aborda o seguinte: [...] os distúrbios da linguagem e da fala tornaram-se indicadores sensíveis do comprometimento estrutural e fisiológico no encéfalo. O encéfalo humano [...] é singularmente equiparado para analisar e sintetizar informações no contexto do passado, presente e futuro. Por meio de sua interação biológica com o ambiente, o encéfalo gera substratos para a cognição, a consciência, o aprendizado, o conhecimento, a personalidade, as emoções, os pensamentos, a capacidade criativa, a imaginação, a comunicação simbólica, a atenção e as funções sensitivo-motoras. (BHATNAGAR, 2004, p. 1, grifo do autor). O comprometimento da estrutura e da fisiologia encefálica poderá trazer doenças, transtornos de ordem mental e psicológica e poderá afetar a interação do indivíduo em sua vida social. 15 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I Pesquisas realizadas por Hanna Damasio, citada por Pinho e Sholl-Franco (2011), apontaram que áreas lesadas com uma barra de ferro no cérebro, por exemplo, causando traumatismo craniano encefálico, atingiram “[...] não somente o hemisfério esquerdo, responsável por limitações de linguagem dependendo da área lesada, mas igualmente o direito. [...]. Assim, podemos dizer que apesar das lesões estarem localizadas no mesmo lobo, atingiram áreas distintas.” O cérebro humano é formado por dois hemisférios, direito e esquerdo, conforme demonstra a imagem seguinte: Figura 3. Cérebro Humano. Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/human-brain-infographic-with-assortment-doodles_1008855.htm. Acesso em: 5 mar. 2019. Os hemisférios direito e esquerdo são divididos pela “fissura longitudinal e inter- hemisférica” e contemplam semelhanças no aspecto para o “processamento de funções sensitivas e motoras”. (BHATNAGAR, 2004, p. 23). O hemisfério direito é considerado o mais preparado para o processamento de “[...] habilidades pragmáticas, conceitos visuais e espaciais, música e emoções”. Já o hemisfério esquerdo “[..] é superior, no processamento da linguagem, da fala e da memória verbal [...].” (BHATNAGAR, 2004, p. 23). Algumas características podem ser apontadas em relação aos hemisférios direito e esquerdo do cérebro, conforme quadro seguinte: https://www.freepik.com/free-vector/human-brain-infographic-with-assortment-doodles_1008855.htm 16 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Quadro 3. As Funções dos Hemisférios Direito e Esquerdo do Cérebro. Hemisfério Esquerdo Hemisfério Direito Verbal: usa palavras para designar, descrever, definir. Não-Verbal: percebe as coisas com um mínimo de conexão com palavras. Analítica: concebe as coisas passo a passo, componente por componente. Sintética: agrupa as coisas para formar um todo. Simbólica: usa símbolos para representar coisas. Por exemplo, o desenho “O” representa olho, o sinal “+” representa o processo de adição. Concreta: concebe cada coisa tal como ela é no momento. Abstrata: seleciona uma pequena parte das informações e usa-a para representar o todo. Analógica: vê as semelhanças entre as coisas; compreende relações metafóricas. Temporal: marca o tempo colocando as coisas em sequência. Faz o primeiro lugar, depois o que vem em segundo lugar etc. Não temporal: não tem senso de tempo. Racional: tira conclusões baseadas na razão e nos fatos. Não-racional: não precisa se basear em razão ou fatos; não se apressa a formar julgamentos ou opiniões. Digital: usa números, como no ato de contar coisas. Espacial: vê onde as coisas se situam em relação a outras e como as partes se unem para formar um todo. Lógico: tira conclusões baseadas na lógica: uma coisa segue outra em ordem lógica – comonum teorema matemático ou num argumento bem enunciado. Intuitiva: assimila as coisas aos pulos, muitas vezes à base de amostra incompletas, palpites, pressentimentos ou imagens visuais. Fonte: adaptado de Edwards, 1984, p. 49. O Sistema Nervoso Central é uma parte fundamental do crânio humano, uma vez que o encéfalo, o qual é componente daquele, está envolvido fortemente com o desenvolvimento da linguagem, da capacidade cognitiva, do raciocínio, como também está relacionado à atenção, à memória, à orientação temporal e espacial, entre outros. A linguagem e/ou comunicação está bastante conectada com a região encefálica e independe do contexto cultural ou da instrução gramatical dada ao indivíduo, apesar destes aspectos serem determinantes e na formação e no desenvolvimento da comunicação das pessoas. 17 CAPÍTULO 2 Comunicação: linguagem verbal e não-verbal Iremos, neste capítulo, estudar e compreender conceitos reativos à ‘Comunicação’ e como este ato ou processo social se relaciona com a Neurociência. Fato é que comunicar bem tem sido uma das exigências da contemporaneidade e pré-requisito para melhorar as relações interpessoais e o desempenho dos indivíduos não só na vida pessoal, mas também na vida escolar/acadêmica e profissional. Nesse aspecto, é fundamental abordar: o que é comunicação? Qual seu objetivo? Como funciona o processo de comunicaçãoe ainda a relação da comunicação com a Neurociência? Comunicação Saber o significado de ‘comunicação’ é primordial para que se possa compreender os distintos tipos de comunicação, os quais são utilizados pelos indivíduos: verbal e não verbal. Vamos em frente! Figura 4. Comunicação. Fonte: https://pixabay.com/illustrations/communication-head-balloons-man-1991850/. Acesso em: 25 fev. 2019. O que é? Objetivo? Como funciona? Várias são as definições para o termo “comunicação”, de acordo com perspectivas diferentes de autores. https://pixabay.com/illustrations/communication-head-balloons-man-1991850/ 18 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Pode-se conceituar comunicação como “ato que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre o transmissor e o receptor, através da linguagem oral, escrita ou gestual, por meio de sistemas convencionados de signos e símbolos.” (MICHAELIS, 2019, grifo nosso). Comunicação pode ser compreendida ainda como “o estabelecimento de uma unidade social entre seres humanos pelo uso de signos de linguagem”. (CHERRY apud OLIVEIRA, 2010, p. 308, grifo nosso). Também, é entendida como um “processo social em que duas ou mais partes trocam informações e compartilham significados.” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 294, grifo nosso). Quanto ao objetivo da comunicação, Oliveira (2010, p. 309) esclarece que é “[...] estabelecer entre as pessoas uma associação ou ligação, um entendimento ou identificação, ainda que momentâneo.” Comunicação verbal (oral e escrita) Neste tópico, estudaremos sobre a comunicação verbal, a qual envolve a comunicação oral e a escrita. Comunicação oral Figura 5. Comunicação Oral. Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/people-speaking-different-languages-with-flat-design_2564895.htm. Acesso em: 25 fev. 2019. A comunicação oral tem sido, cada vez mais, importante não só para as relações interpessoais da vida cotidiana, mas também tem sido critério de contratação de https://www.freepik.com/free-vector/people-speaking-different-languages-with-flat-design_2564895.htm 19 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I colaboradores para as organizações, uma vez que “o mundo laboral tem exigido” bastante profissionais com boa capacidade e habilidade de comunicação. Comunicar oralmente significa verbalizar por meio de palavras faladas e não escritas aquilo que se pretende expressar ou transmitir. Schenkman et al. (2016, p. 599, grifo nosso) defende que “[...] o termo fala se refere principalmente aos aspectos mecânicos da expressão verbal que envolvem a articulação.” Griffin e Moorhead (2016, p. 297) esclarecem que “as formas orais de comunicação são bastante convincentes porque incluem não apenas as palavras do locutor mas também as mudanças de tom, altura, velocidade e volume, podendo ser acompanhadas de expressões faciais e gestos [...].” Isso significa que a comunicação oral pode ou não vir acompanhada da comunicação não verbal (expressões faciais, gestos, entre outras formas que não são relativas à comunicação oralizada). A comunicação oral, segundo Robbins, Jugdge e Sobral (2010, p. 329) é “[...] o principal meio de transmitir mensagens [...]”. E tem como vantagens “[...] a rapidez e o feedback.” Contudo, tem-se como desvantagem “[...] distorções potenciais [...] quando há necessidade de transmiti-la a um grande número de pessoas, o que poderá haver ruído ou interpretações inadequadas.” Comunicação escrita Figura 6. Comunicação Escrita. Fonte: https://www.freepik.com/free-vector/vector-pop-art-illustration-man-woman-sitting-negotiation-table-top-view_1320610. htm. Acesso em: 25 fev. 2019. https://www.freepik.com/free-vector/vector-pop-art-illustration-man-woman-sitting-negotiation-table-top-view_1320610.htm https://www.freepik.com/free-vector/vector-pop-art-illustration-man-woman-sitting-negotiation-table-top-view_1320610.htm 20 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO No âmbito da comunicação verbal, temos também a comunicação escrita, a qual poderá contemplar “[...] memorandos, cartas, transmissões de fax, e-mails, mensagens instantâneas, jornais internos, informativos em murais (inclusive os eletrônicos) e qualquer outro meio que use a linguagem escrita ou simbólica.” (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010, p. 329). Griffin e Moorhead (2016) explicam que as organizações habitualmente utilizam distintos meios de comunicação escrita, que auxiliam e facilitam a comunicação propriamente dita. Memorandos e e-mails são formas de comunicação escrita destinadas, geralmente, a mais de uma pessoa e são mais informais do que uma carta, por exemplo. Assim, cartas enviadas aos clientes ou aos fornecedores, por exemplo, são meios mais formais de comunicação escrita do que aqueles. Outras maneiras de comunicação escrita que colaboram não só para elevar o desempenho organizacional, mas também para aferir/ medir o rendimento da empresa são os relatórios e os formulários de avaliação de desempenho. Também, manuais de instruções são manuseados por colaboradores para que possam conhecer as políticas da organização e ser auxiliados nos procedimentos a serem realizados em seus cargos/funções. Sá (2018) ao abordar as estratégias da expressão ou produção escrita, nomeadamente, no contexto da educação, aponta a perspectiva de Yves Reuter, o qual traz aspectos essenciais sobre as estratégias a serem utilizadas na escrita e explica que elas dependem de três operações: planificação; textualização e revisão: A planificação é responsável pela conceção do texto, isto é, pela ativação, na memória, das informações pertinentes para a sua elaboração. Também, pela sua organização, ou seja, pela ordenação e hierarquização das informações ativadas. E ainda pela sua adequação ao público a quem se destina. A textualização é ligada à redação propriamente dita; responsável pela gestão dos constrangimentos textuais globais e locais, que asseguram a coerência e a coesão do texto produzido; A revisão que conduz à releitura crítica do texto produzido, à deteção dos problemas e a sua resolução. (YVES REUTER, 1996 apud SÁ, 2018). Assim, verificamos brevemente neste tópico como se dá a comunicação escrita no âmbito das organizações, bem como algumas estratégias utilizadas no âmbito da educação para a expressão ou produção da escrita. 21 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I Comunicação não verbal Figura 7. Comunicação Não Verbal. Fonte: https://studypoints.blogspot.com/2014/12/what-is-importance-of-facial.html. Acesso em: 20 abr. 2019. A comunicação não verbal envolve meios que transmitam uma determinada mensagem distintos da comunicação oral e escrita. É um tipo de comunicação que muitas vezes é desconsiderada pelo indivíduo ou por uma organização, mas que traz informações essenciais não só sobre um pensamento de uma pessoa, mas também sobre o significado da essência desta pessoa, uma vez que é capaz de comunicar muito mais do que propriamente a comunicação verbal. Sob esse aspecto, estudaremos neste tópico as funções da comunicação não verbal e os seus campos de análise, os quais são bastante instigadores. A comunicação não verbal é bastante rica em informações, uma vez que a linguagem que não é expressa por meio de palavras demonstra muito mais aquilo que realmente o indivíduo quer transmitir ao outro do que propriamente alguns discursos/falas. Quatro funções básicas da comunicação não verbal nas relações interpessoais são apresentadas por Silva (1996), citado por Castro e Silva (2001, p. 82), conforme segue: 1. Complementar a comunicação verbal - significa fazer qualquer sinal não verbal que reforce, reitere ou complete o que foi dito verbalmente. 2. Substituir a comunicação verbal - significa fazer qualquer sinal não verbal para substituir as palavras. 3. Contradizer o verbal - significa fazer qualquer sinal não verbal que contradiga o que foi dito verbalmente. https://studypoints.blogspot.com/2014/12/what-is-importance-of-facial.html 22 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO4. Demonstrar sentimentos - significa demonstrar qualquer emoção não por palavras, mas, principalmente, por expressões faciais, entre outros sinais. Esse tipo de comunicação demonstra como cada pessoa reage a determinados estímulos do seu meio social e divide-se nos seguintes campos de análise e estudo, conforme apontam Ekman e Friesen citados por Knapp (1980, tradução nossa): a) cinésico, b) características físicas, c) conduta tática ou tato (tacêsica), d) paralinguagem, e) proxêmica, f) artefatos e g) fatores do meio ambiente. Os campos de análise são descritos a seguir: a. Cinésico (“movimento do comportamento corporal”): “[...] é a linguagem do corpo dada através de gestos, movimentos corporais, expressões faciais, olhar e postura [...].” (KNAPP, 1980 apud CORREIA, 2018, p. 30). Alguns comportamentos não verbais são divididos em algumas categorias: emblemas; ilustradores; amostras de afeição; reguladores e adaptadores, conforme apontam Ekman e Friesen citados por Knapp (1980). Emblemas ou símbolos, por exemplo, podem ser similares em determinadas culturas, como o caso dos gestos que representam o “ok” ou a “paz”. Sinais como um “sorriso no rosto” podem indicar felicidade. (KNAPP, 1980, tradução nossa). No que diz respeito aos ilustradores, “há atos não verbais diretamente ligados à fala ou que a acompanham e que servem para ilustrar o que é dito verbalmente. Podem ser movimentos que acentuam ou enfatizam uma palavra, delineiam um caminho de pensamento, apresentam objetos [...].”(KNAPP, 1980, p. 20, tradução nossa). Amostras de afeição são expressões faciais ou corporais que podem expressar estados afetivos. Importante salientar que esses registros afetivos podem ou não estar relacionados às manifestações afetivas verbais, bem como podem ser conscientes ou não. Exemplos desses tipos de manifestações são: postura abatida ou desanimada, um corpo triste. (KNAPP, 1980, tradução nossa). Reguladores: são atos não verbais que podem regular o início e o fim de uma comunicação, assim como podem dar continuidade ao discurso ou torná-lo mais agradável. Knapp (1980) argumenta o seguinte: Referem-se aos sinais que usamos para mostrar a outra pessoa que queremos falar; para impedir que outra pessoa tire o uso de nossas palavras; para renunciar à nossa vez de intervenção e pedir a outra 23 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I pessoa que continue; e para manifestar que terminamos de falar e que a outra pessoa poderá continuar. Geralmente, nós não dizemos essas coisas verbalmente, mas as comunicamos por meio de uma multidão de comportamentos não verbais. Provavelmente, os reguladores mais conhecidos são os movimentos da cabeça e o comportamento visual. [...] Descobrimos que as pessoas que tentaram encerrar uma conversa diminuíram significativamente o contato visual com a outra pessoa. Os reguladores parecem estar na periferia da nossa consciência e são, em geral, difíceis de inibir. Eles são como hábitos arraigados e quase involuntários, mas são sinais dos quais somos muito conscientes quando outros os produzem. (KNAPP, 1980, pp. 21-22, tradução nossa). E os adaptadores são comportamentos desenvolvidos desde a infância para que se possa “[...] satisfazer necessidades, realizar ações, dominar emoções, desenvolver contatos sociais ou realizar um grande número de outras funções.” (KNAPP, 1980, p. 22, tradução nossa). Exemplos de comportamentos adaptadores são: coçar o nariz, limpar o canto dos olhos, manipular objetos (cigarro [fumar] e lápis) em momentos de tensão ou angústia; pegar, apertar, arranhar ou beliscar a si próprio. (KNAPP, 1980, tradução nossa). a. Características Físicas: são sinais não verbais importantes, incluindo a forma física/corporal (peso, altura, cor, tom da pele, entre outros), que não necessariamente estejam se movendo. (KNAPP, 1980, tradução nossa). b. Conduta Tática (tato): este campo de análise inclui a linguagem do toque ou a ‘Tacêsica”, que é “toda forma de comunicação que envolve o toque físico e a sensação tátil.” (MONTAGU, 1971 apud NETO, 2016, p. 38). Alguns autores apontam o contato físico ou tátil como uma categoria/ um campo que é distinto do estudo da cinética, já outros incluem na cinética o comportamento tátil. (KNAPP, 1980, tradução nossa). c. Paralinguagem: “estuda como as caraterísticas sonoras da voz podem influenciar o significado. Volume, tonalidade, velocidade, inserção de pausas e ruídos influenciam e alteram os significados do que falamos.” (PIRES, 2019). De acordo com Trager citado por Knapp (1980, p. 24-25, tradução nossa), dois são os componentes da paralinguagem: d. Qualidades da voz: refere-se ao controle do ritmo, do tom (altura da voz), da articulação, do tempo, da ressonância, do controle da glote e do controle labial da voz. 24 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO e. Vocalizações: subdividas em três categorias: a) caracterizadores vocais: o riso, o choro, o suspiro, o bocejo, o espirro, o ronco, entre outros. b) qualificadores vocais: dizem respeito à intensidade de voz (do suave ao tom forte de voz), da altura (do tom mais agudo ao tom mais grave) e da extensão, que significa o arrastar das palavras até a fala extremamente cortada. c) segregações vocais, o que inclui, por exemplo, o”hum”, “m-hmm”, “ah”, “uh” e variações dessa sorte. Provavelmente, é necessário incluir nesta seção o trabalho relacionado a elementos como pausas (fora das juntas), sons do intruso, erros na fala e estados de latência. (KNAPP, 1980, pp. 24-25, tradução e grifo nosso). Silva (1996), citado por Castro e Silva (2001, p. 82), argumenta que “independentemente dos fonemas que compõem as palavras, os sinais paralinguísticos demonstram sentimentos, características da personalidade, atitudes, formas de relacionamento interpessoal e autoconceito. a. Proxêmica: “é o uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico, como a distância mantida entre os participantes de uma interação”, conforme Silva (1996) citado por Castro e Silva (2001. p. 82) descreve. Em outras palavras, é o “uso do espaço pelo homem”, segundo Correia (2016. p. 30). Segundo Knapp (1980, tradução nossa, p. 25), “o termo ‘territorialidade’ no estudo da proxêmica é também frequente para designar a tendência humana de marcar o território pessoal - ou espaço intocável - da mesma maneira que os animais ou aves silvestres fazem.” Hall (1986, pp. 137-148), ao estudar sobre as distâncias existentes entre os indivíduos, no que diz respeito à percepção e utilização do espaço social, dividiu-as em 4 (quatro): distância íntima, distância pessoal, distância social e distância pública, conforme quadro seguinte: 25 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I Quadro 4. As distâncias constituídas pelo ser humano com seus semelhantes. Distância Descrição Íntima É a distância que pressupõe a possibilidade ou a hipótese de um contato particular/físico ou uma proximidade entre pessoas, o que poderá causar ou não desconforto. A distância íntima poderá ser no modo mais próximo ou no mais afastado (entre 15 e 45 cm). A distância no modo próximo é aquela em que há um espaço bem reduzido ou mínimo entre os indivíduos, pode ser considerada a distância “[... ] do acto sexual e a da luta, a do reconforto e a da proteção.” (HALL, 1986, p. 137). Os pormenores e as sensações neste tipo de distância são percebidos com mais facilidade, por exemplo, o cheiro (olfato), o calor, entre outros, são intensificadas com a distância mínima existente entre as pessoas. Contudo, a distância no modo mais afastado é aquela que “[...] cabeças, coxas, bacias não se encontram facilmente em contacto, mas as mãos podem juntar-se. A cabeça é vista como maior do que o natural e os traços são deformados.” (HALL, 1986, p. 138). Pessoal A distância pessoal poderá ser no modo mais próximo (45 a 75 cm) ou no modo longínquo (entre 75 e 125 cm). No modo mais próximo, é a distância em que as “posições respectivas dos indivíduos revelama natureza das suas relações ou dos seus sentimentos. Uma esposa pode impunemente manter-se na zona de proximidade do marido, mas o mesmo não acontece com outra mulher.” (HALL, 1986, p. 140).Consegue-se nesse tipo de distância visualizar os traços de outra pessoa sem que haja distorção, reações nos músculos dos olhos são também percebidas. Já o modo mais longínquo é a “[...] distância do comprimento do braço [...]. Esta distância inclui-se entre o ponto que está precisamente para além da distância de contacto fácil e o ponto onde os dedos se tocam na condição dos dois indivíduos estenderem os braços simultaneamente. Trata-se, em suma, do limite do alcance físico em relação a outrem. [...] A tal distância, podemos discutir assuntos pessoais.” Também, é possível verificar a “textura da pele, cabelos brancos, pregas nos olhos, imperfeições dos dentes [...].” (HALL, 1986, p. 140). Social A distância social é aquela em que já não há percepção dos detalhes do rosto de uma pessoa e “[...] ninguém toca ou se espera que toque outrem, exceto se realizar um esforço determinado nesse sentido específico.” (HALL, 1986, p. 141). A distância social poderá ser no modo mais próximo (1,20 a 2,10 metros) ou no modo longínquo (entre 2,10 e 3,60 metros). O modo próximo é a distância “[...] das negociações impessoais e [...] implica, bem entendido, mais participação do que o modo longínquo. As pessoas que trabalham juntas praticam geralmente a distância social próxima. Esta vale também de modo corrente nas reuniões informais. A esta distância, olhar de pé e a direito uma pessoa sentada evoca a impressão de dominação do homem que se dirige à sua secretária ou à sua assessora.” (HALL, 1986, p. 142). No entanto, a distância no modo longínquo é aquela caracterizada como mais formal do que aquela no de proximidade. Em entrevistas, por exemplo, “[...] é mais importante manter o contacto visual a esta distância do que a uma distância mais próxima.” Também, em determinadas situações, “levantar a voz ou gritar pode ter como resultado reduzir a distância social a distância pessoal.” Esse tipo de distância “[...] pode servir para isolar ou separar os indivíduos.” (HALL, 1986, p.143). Pública A distância pública é aquela que está fora da percepção referencial da pessoa, ou seja, acabam as referências das distâncias pessoal e social havendo alteração substancial de comportamento para outras pessoas. A partir de 3,60 metros até 7,50 metros, considera-se o modo próximo da distância pública. Nesta distância já não se percebe a cor dos olhos da pessoa. A essa distância pode haver um comportamento de fuga. A voz utilizada pelo locutor, mesmo alta, já não agride. A partir de 7,50 metros, considera-se o modo afastado da distância pública. A partir de 9 metros, muitas autoridades cumprimentam outras pessoas e se pronunciam. A partir de 10 metros de distância, perdem-se a expressão da voz e os detalhes da fisionomia da pessoa, podendo deixar de expressar de forma contundente a mensagem que se queira passar. Deve-se trabalhar melhor os gestos e posturas do corpo como um todo para que a mensagem seja passada com evidência a essa distância. Também, nessa distância, a pessoa integra o ambiente, passando a fazer parte da paisagem apresentada aos espectadores. Apenas com a visão focada do locutor é que poderão os espectadores visualizar seu comportamento e a expressão de seu corpo para entender as mensagens que está sendo transmitida. (HALL, 1986). Fonte: adaptado de Hallm, 1986, pp. 137-148. Vale salientar que as descrições de cada uma dessas distâncias indicadas por Hall (1986) foram feitas por meio de observações e entrevistas realizadas com indivíduos. a. Artefatos: “incluem a manipulação de objetos com pessoas interagindo que podem agir como estímulos não verbais. Esses artefatos incluem perfume, roupas, batom, óculos, peruca [... ], e todo o repertório de postiços e produtos de beleza.”(KNAPP, 1980, p. 25, tradução nossa). b. Fatores do Meio Ambiente: Os fatores ambientais interferem indiretamente nas relações humanas e, assim, na comunicação das pessoas. Diversos fatores ambientais e suas variações podem marcar uma pessoa, bem como deixar mostrar como uma determinada pessoa vive e 26 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO pensa: a disposição do mobiliário, as decorações, a iluminação, as cores, a música ambiente, a temperatura, entre outros. (KNAPP, 1980, tradução nossa). Impressões deixadas em um ambiente por um indivíduo poderão apresentar características pessoais deste e ter influência na relação deste mesmo indivíduo com outra pessoa. Assim, aprendemos um tema bem interessante que é a comunicação não verbal, a qual demonstra, por meio dos campos de análise de estudo, o quão vasto é esse tipo de linguagem. A comunicação não verbal transmite informações que a comunicação oral e escrita não conseguem passar. Processo de comunicação Figura 8. O processo de comunicação. Ruído Envio Codificação Transmissão Decodificação Decodificação Transmissão Codificação Ciclo de Feedback (Verificação) Fonte [Emissor] Receptor Fonte: adaptado de Griffin e Moorhead, 2016, p. 299. Griffin e Moorhead (2016, p. 299) definem o processo de comunicação como “[...] um laço que liga o emissor e o receptor e opera nas duas direções.” Segundo esses autores, a “[...] comunicação não está completa até que o emissor original saiba que o receptor entendeu a mensagem.” Esse processo é composto por alguns elementos: fonte, codificação, transmissão, decodificação, receptor, feedback e ruído, os quais são apontados a seguir: (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016). a. Fonte: diz respeito à pessoa, grupo ou organização que prepara, codifica e comunica (transmite) uma mensagem a outra parte (indivíduo, grupo ou organização0. (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016). Pode-se dizer que é 27 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I o emissor (locutor ou falante) do processo de comunicação. (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). b. Codificação: o emissor comunica uma determinada mensagem por meio da codificação de um pensamento. “Quando falamos, a fala é a mensagem. Quando escrevemos o texto escrito é a mensagem. Quando gesticulamos, os movimentos de nossos braços e as expressões em nosso rosto são a mensagem.” (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010, p. 327). Pode-se definir codificação como “o processo em que a mensagem é traduzida de uma ideia ou de um pensamento para símbolos que possam ser transmitidos.” Exemplos de símbolos: “[...] palavras, números, imagens, sons, gestos, movimentos”. (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 299, grifo nosso). c. Transmissão: “é o processo por meio do qual os símbolos que representam a mensagem são transmitidos ao receptor.” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 300). A mensagem é transmitida pelo canal que é o meio (caminho) de disseminação da, divulgação ou envio da mensagem. (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Exemplos de canais: jornais, revistas, rádio, TV, fala, entre outros. Griffin e Moorhead (2016) argumentam que os diferentes canais de comunicação podem determinar o efeito que a mensagem pode ter naquele que a recebe, neste caso, o receptor. O autor explica que, consoante à situação, uma conversa ‘cara a cara’ pode exercer um impacto maior do que uma carta escrita, ou, por exemplo, um telefonema pode ser uma abordagem mais pessoal do que uma carta para um cliente. A escolha do meio (canal) é fundamental para que a mensagem possa ser compreendida. a. Decodificação: é a tradução do significado dos símbolos (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Em outras palavras, pode-se dizer que “é o processo pelo qual o receptor da mensagem interpreta seu significado” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 300). O receptor irá compreender a mensagem de acordo com sua experiência e conhecimento. A mensagem que foi decifrada/entendida, pelo receptor, poderá ter igual significado à fonte pelo qual essa foi emitida ou não. Daí alguns problemas de falhas de comunicação, quando a mensagem foi deturpada do seu verdadeirosignificado, o que poderá causar mal-entendidos e consequências negativas para uma ou todas as partes envolvidas no processo de comunicação. (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016). b. Receptor (interlocutor, ouvinte ou destinatário): é aquele que recebe a mensagem e que traduz seus símbolos de um modo que se possa 28 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO compreender [decodificação da mensagem]. (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Ou seja, “[...] é o indivíduo, grupo ou organização que percebe os símbolos codificados; ele pode decodificá-lós ou não a fim de entender a mensagem que o emissor queria transmitir.” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 300). A mensagem poderá ser entendida de acordo com os meios e os símbolos utilizados pela fonte, bem como pela concentração ou atenção dada pelo receptor à mensagem que está sendo recebida. (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016). c. Feedback: é o processo no qual o receptor dá um retorno positivo ou negativo ao emissor da mensagem. Em outras palavras, significa uma avaliação do resultado da mensagem transmitida. (SCHERMERHORN JR; HUNT; OSBORN, 2007). d. Ruído: “[...] é qualquer perturbação no processo comunicativo que interfira na comunicação ou a distorça. [...] É uma perturbação na comunicação que é causada principalmente pelo meio [canal].” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2016, p. 301). Exemplos de ruído: erros de semântica, distrações físicas, diferenças culturais, ausência de feedback, entre outros. (SCHERMERHORN JR; HUNT; OSBORN, 2007). A comunicação eficiente faz parte de um processo de comunicação no qual o emissor transmite uma mensagem clara para o receptor. Também, outros fatores são considerados para uma boa comunicação. Aproveite este momento, dê uma breve pausa na leitura e assista ao seguinte vídeo sobre ‘processo de comunicação’: Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=WTMeDxPCW4o. Acesso em: 22 ago. 2019. Comunicação organizacional Aprender um pouco mais sobre comunicação é entender também o que é a comunicação organizacional propriamente dita. Afinal, o que é comunicação organizacional? Quais são os seus níveis? Como funciona cada um deles? Essas respostas serão colocadas nesta seção de estudo; e ainda terão algumas sugestões importantes para a melhoria desse tipo de comunicação. Pode-se definir comunicação organizacional como um “[...] processo específico segundo o qual a informação se movimenta e é trocada através da organização, e https://www.youtube.com/watch?v=WTMeDxPCW4o 29 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I entre a organização e o seu ambiente.” (SCHERMERHORN JR; HUNT; OSBORN, 2007, p. 246). Segundo Haswani (2017), três são os níveis da comunicação organizacional: intrapessoal, interpessoal e grupal. A comunicação intrapessoal é o nível da comunicação que permite a autointerpretação do conteúdo da mensagem antes de enviá-la aos receptores (destinatários da mensagem)..Esse é o nível mais básico e elementar da comunicação humana. (KREPS apud HASWANI, 2017). Haswani (2017) esclarece que a comunicação intrapessoal “[...] ocorre quando um indivíduo troca informações com ele mesmo, em momentos de reflexão [...].” A comunicação interpessoal é o nível da comunicação em que há o envolvimento de “[...] duas ou mais pessoas [...] no processo.” (HASWANI, 2017). A comunicação grupal é o nível da comunicação no qual há uma interação complexa de muitas relações interpessoais, envolvendo três ou mais pessoais, o que poderá ser em pequenos grupos (até dozes pessoas) ou grandes grupos (centenas de pessoas) (HASWANI, 2017). Torquato (2015), ao abordar a comunicação organizacional, argumenta o seguinte: “De um lado, há um tipo de comunicação que é fruto da informação e do conhecimento técnico; de outro, as atitudes, os valores, as normas. A questão é ajustar as duas partes formando um composto comunicacional que possa ser consumido naturalmente.” Algumas possibilidades para melhorar a comunicação no âmbito das organizações são colocadas por Torquato (2015): » Atentar-se para os fluxos de comunicação (ascendente, descendente e lateral). “O volume de comunicação, o tipo de comunicação e a direção da comunicação constituem o centro de processamento da eficiência organizacional.” » Treinar pessoas na organização: o treinamento favorece uma melhor comunicação e interação dos trabalhadores. Torquato (2015), ao abordar sobre os fluxos de comunicação, ainda, salienta que “[...] muita informação (quantidade), instrumental-técnico (tipo), descendo para os níveis inferiores (direção descendente), sem muito retorno (direção ascendente), gera distorções e frequentemente cria problemas de engajamento.” 30 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Desse maneira, neste tópico, tivemos a oportunidade de conhecer de modo breve os níveis de comunicação organizacional e algumas sugestões para melhorar a comunicação no âmbito das organizações. Uma eficiente e eficaz comunicação interna promove o sucesso de uma Organização ou de uma Instituição. Os autores Araújo e Duarte (2017), por meio do artigo cujo título é “Os Desafios e Dificuldades na Gestão da Comunicação Organizacional Interna”, trazem perspectivas essenciais sobre o tema. Dessa maneira, dê uma ligeira pausa em sua leitura e aproveite as informações interessantes que o texto traz para você aluno! Resumo do artigo: O presente artigo tem como objetivo analisar a gestão da comunicação interna através das relações dos atores envolvidos nas organizações. Para uma comunicação eficiente, é necessário que os funcionários desenvolvam a capacidade de comunicar-se bem. A comunicação interna está presente nos mais diferentes níveis da organização e tem ocupado cada vez mais espaço e importância, pois é através do processo eficiente de comunicação que os funcionários podem compreender melhor a missão e visão da empresa, bem como sua cultura organizacional. Entretanto, muitas organizações desconhecem a real importância desta ferramenta, não compreendem a relevância em manter seus colaboradores informados sobre o que está acontecendo na empresa e não investem no desenvolvimento de tais habilidades. Por isso, através de um estudo bibliográfico, a pesquisa em questão buscou levantar informações acerca dos desafios e dificuldades da comunicação organizacional interna e maneiras de ultrapassar tais barreiras. (ARAÚJO; DUARTE, 2017, p. 408). Link do texto: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/841/1202. Acesso em: 22 ago. 2019. Comunicação x neurociência Bhatnagar (2004, p. 1) defende que “a neurociência é indispensável para que sejam compreendidos os correlatos fisiológicos da fala, da linguagem, dos gestos e da cognição.” Ao tratar do tema “transtornos cognitivos e de comunicação”, Bhatnagar (2004, p.2) elucida o seguinte: Há número sempre crescente da pacientes com transtornos cognitivos e da comunicação, resultantes de traumatismo craniano, acidentes vasculares, malformações embrionárias, doenças degenerativas, https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/841/1202 31 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I senilidade, tumores, epilepsia, e outras doenças orgânicas congênitas e adquiridas. Comunicação escrita e neurociência A neurociência tem um papel fundamental não só na aprendizagem da leitura e da escrita mas também na compreensão de como se dão estas habilidades por meio da estrutura cerebral. Conhecer a importância da neurociência para a alfabetização de crianças e adultos é parte do estudo da Neurolinguística, definida no primeiro capítulo desta Unidade. O cérebro humano pode se organizar de modo que responda a alguma adaptação necessária, seja na leitura, seja na escrita, conforme os autores seguintes argumentam: Uma das descobertas mais importantes da neurociência é a de que o cérebro apresenta grande plasticidade e que, devido a esta plasticidade, ele pode se organizar funcionalmente para atender a alguma adaptação necessária. Ler e escrever requeremadaptações no funcionamentocerebral, uma vez que não há, na genética da espécie, uma área designada para a leitura ou para a escrita. (CALVIN, 1996; DEHAENE, 2007; LENT, 2010 apud LIMA, 2013) Lima (2013) clarifica que premissas como a história ou o contexto de vida do indivíduo, bem como o desenvolvimento do ser humano por meio de fatores biológicos e culturais, são determinantes para a formação cerebral de uma pessoa. A cultura escolar, por exemplo, é fundamental para que sejam desenvolvidos os conhecimentos necessários ao aluno. A comunicação oral (falada) x neurociência No que diz respeito à comunicação escrita, Elvira de Souza Lima, neurocientista e pesquisadora de desenvolvimento humano (LIMA, 2015), desenvolveu um projeto denominado “Escrita para Todos”, o qual tem grande conexão com a neurociência . (LIMA, 2013). Para a comunicação escrita, o projeto tem como objetivo “[...] aprimorar a prática pedagógica dos educadores, utilizando, para tanto, os conhecimentos da neurociência sobre o desenvolvimento humano da criança e do adulto e sobre os processos conhecidos até o presente de como o cérebro aprende a escrever. (LIMA, 2013, p. 5). 32 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Portanto, o projeto coloca a neurociência como ponto forte para a aprendizagem e alfabetização de crianças e adultos. Ferramentas da neurociência da comunicação A neurociência da comunicação utiliza ferramentas para o seu estudo cujos resultados podem ser utilizados em análises, estudos e metodologia de comunicação. Tais ferramentas podem fornecer informações em tempo real dos processos mentais. O estudo dessas informações pode levar à análise e a variações de comportamentos e outros estudos correlatos. Fundamental lembrar que as ferramentas e seus resultados devem ser utilizados, em sede de estudos e análises, com outras referências para melhor compreensão do objeto ao qual se estuda. Geralmente, as ferramentas como Eletroencefalograma – EEG e Ressonância Magnética Funcional (FMRI), que são ferramentas de imagem diagnóstica, bem como Eyetracker e Condutância da pele são utilizadas em laboratórios especializados e/ou em ambientes próprios. (BATISTA; MARLET, 2018). As ferramentas são as seguintes: a. Eletroencefalograma (EEG): “é a representação gráfica das diferenças de potencial [...], na superfície do couro cabeludo, que representam potenciais elétricos transmitidos pelo encéfalo ou ondas encefálicas do córtex abaixo, especificamente das células piramidais verticais.” (BHATNAGAR, 2004). É um procedimento de imagem que grava a atividade elétrica no couro cabeludo do ser humano. O EEG tem o menor custo comparado a outros processos de imagem cerebral. No EEG, o indivíduo tem a possibilidade de exercer atividades motoras ou até cognitivas que se aproximam da realidade cotidiana. (BATISTA; MARLET, 2018). b. Ressonância magnética funcional (fMRI): “é uma medida entre a razão de desoxigenação e oxigenação sanguínea nas áreas do cérebro onde há aumento da atividade neural.” (BATISTA; MARLET, 2018, p. 9). Essa ferramenta de neuroimagem combina a resolução espacial e a temporal às partes do cérebro que são ativadas e que respondem a determinados estímulos. (JOHNSTON et al., 2009 apud BATISTA; MARLET, 2018). No entanto, existem limitações. Dentre elas, o alto custo de aquisição, manutenção e operação do equipamento de fMRI, uma vez que se trata de um equipamento de grande porte que deve ser instalado em local 33 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I apropriado e devidamente preparado. Sua manutenção e operação tem custo elevado uma vez que feitas por pessoas especializadas. Também, sua utilização causa desconforto físico em face do escaneamento a que é submetida a cabeça do paciente. (NOBLE et al., 2013 apud BATISTA; MARLET, 2018). c. Eyetracker: é um aparelho que mede a variação ocular do indivíduo, ou seja, registra a atividade ocular mediante estímulos. Fornece o tempo de fixação ocular em locais de interesse. No campo da comunicação, por exemplo em uma publicidade, essa ferramenta consegue fornecer a imagem do esforço da percepção ocular que o indivíduo tem ao receber um estímulo em relação à determinado filme, reportagem ou outra cena que lhe é colocada. Ainda, pode apontar diferenças de percepção entre diversos grupos (jovens e velhos, masculino e feminino etc). No entanto, os resultados sempre se referem à análise puramente visual, limitando sua utilização. (BATISTA; MARLET, 2018). d. Condutância da pele: é basicamente uma ferramenta de tato que indica as variações do suor na pele humana. Tais variações alteram a condução elétrica da pele de acordo com os estímulos percebidos. (CACIOPPO et al., 2000 apud BATISTA; MARLET, 2018). “Essas respostas neurofisiológicas ocorrem de forma involuntária ou automática, sendo controladas pelo sistema nervoso autônomo.” (OHME et al., 2009 apud BATISTA; MARLET, 2018, p. 11). As situações cotidianas, sejam elas estimuladas ou não, alteram a resposta do organismo. Emoções como medo, susto, ansiedade e outras podem ser medidas por meio desse sistema de análise. (RAVAJA, 2004 apud BATISTA; MARLET, 2018). No entanto, é uma ferramenta limitada, uma vez que não indica a parte do cérebro que é ativada e não leva a uma resposta conclusiva. (BATISTA; MARLET, 2018). Outras ferramentas podem ser utilizadas para estudos de neurociência da comunicação, como: [...] magneto encefalografia, tomografia por emissão de pósitrons, espectroscopia no infravermelho próximo funcional, estimulação magnética transcraniana, estimulação transcraniana de corrente contínua, potenciais relacionados com eventos, frequência cardíaca, eletromiografia facial, entre outras (CASCIO; FALK, 2016; FALK, 2013; RAVAJA, 2004 apud BATISTA; MARLET, 2018, p. 16). 34 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO Com o título de “Perspectiva da neurociência em comunicação”, o autor Everaldo Pereira (2018) traz um estudo relevante, não somente no que diz respeito à neurociência propriamente dita mas também sobre a sua conexão com a tecnologia, que é considerada fundamental na interface entre neurociência e comunicação. Para saber um pouco mais sobre essa abordagem, interrompa um pouquinho sua leitura e vamos agregar mais conhecimento a seus estudos! Veja um trecho do resumo do artigo: Pesquisa bibliográfica com objetivo de consolidar o estágio atual da intersecção entre neurociência e comunicação. Usamos um referencial teórico multidisciplinar com o objetivo de oferecer insights investigativos e chaves de entendimento. Dividido em três partes: compreender a neurociência e sua interface com a comunicação; investigar as tecnologias em neurociência e suas aplicações em comunicação; e avaliar a viabilidade do uso da metodologia de Design Science Research na interface comunicação neurociência. Compreendemos que há espaço para uma investigação sistemática e de que é viável o uso dessa metodologia, considerando uma orientação pragmática utópica. (PEREIRA, 2018, p. 39). Link do artigo: http://ojs.labcom-ifp.ubi.pt/index.php/ec/article/view/323/pdf. Acesso em: 22 ago. 2019. http://ojs.labcom-ifp.ubi.pt/index.php/ec/article/view/323/pdf 35 CAPÍTULO 3 Neurotransmissores envolvidos na percepção auditiva, de fala, linguagem, aprendizagem e memória Compreender e conhecer como funciona a comunicação das células do sistema nervoso é fundamental para entendermos a influência que essa comunicação tem no processo de cognição, da comunicação, da atenção, da memória, entre outros. O sistema nervoso (SN) é complexo e, a partir de determinadas células, “os neurônios”, é possível transmitir sinais a outros neurônios, o que viabiliza o funcionamento do SN em vários aspectos. Os neurotransmissores, substâncias químicas, são primordiais para que sejam regulados alguns mecanismos encefálicos. Nesse sentido, estudaremos neste capítulo um assunto muito interessante que instigará ainda mais a sua curiosidade sobre o tema. NeurotransmissoresNesta seção veremos conceitos importantes no que diz respeito aos neurônios e aos neurotransmissores. Também, conheceremos neurotransmissores que estão envolvidos no processo da linguagem, aprendizagem, memória e outros. Figura 9. Neurotransmissores. Soma (corpo celular) Axônio Cone axonal Dentrito Mielina Sinapse Terminal axonal Célula pré-sináptica Célula pós-sináptica Neuro- trans- missor Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/biology/human-biology/neuron-nervous-system/a/overview-of-neuron-structure-and- function. Acesso em: 6 maio 2019. https://pt.khanacademy.org/science/biology/human-biology/neuron-nervous-system/a/overview-of-neuron-structure-and-function https://pt.khanacademy.org/science/biology/human-biology/neuron-nervous-system/a/overview-of-neuron-structure-and-function 36 O que são neurônios e neurotransmissores? Pode-se definir Neurônio como uma célula nervosa que conduz sinais químicos e elétricos e que é composta por duas partes: corpo celular (onde está contido o núcleo) e neuritos, os quais são de dois tipos: dentritos e axônio. Essa célula é considerada unidade básica da função encefálica, ou seja, do encefálo. (BEAR; CONNORS, PARADISO, 2008). Os neurônios são ligados ou conectados por células denominadas de Gliais, que são essenciais e determinam o número de sinapses realizadas no cérebro. (HERCULANO-HOUZEL, 2014 apud LEYSER, 2018). Para o processo de transferência de informações ao longo do sistema nervoso (SN), os axônios têm uma importância fundamental. (BEAR; CONNORS, PARADISO, 2008). Por meio do axônio, há uma codificação das informações e condução (transmissão) destas da unidade do corpo da célula dentrítica para as junções sinápticas. O terminal axonal é localizado próximo do neurônio. Dessa maneira, o impulso nervoso aos demais neurônios são propagados pelo axônio. (LEYSER, 2018). Uma curiosidade em relação ao axônio é que este, quando desmielinizado, pode retardar ou interromper a condução de impulsos nervosos, o que causa doenças como a esclerose múltipla. O axônio é coberto por uma bainha de mielina, a qual é composta por camadas de lipídeos e proteínas. Quando há uma desmielinização axonal, isto é, uma danificação da mielina, poderá ocorrer doenças como a supracitada. (LEYSER, 2018). Olviera (2000) citado por Leyser (2018, p. 26) explica que “o ponto de contato entre o botão do terminal e o outro neurônio é chamado de sinapse. É aqui que a informação é enviada de um neurônio para outro. No SNP [Sistema Nervoso Periférico], os botões terminais podem formar sinapses com células musculares.” Bear, Connors e Paradiso (2008, p. 24) esclarecem que “são os neurônios que percebem modificações no ambiente, comunicam essas modificações a outros neurônios e comandam as respostas corporais a essas sensações.” Você sabia que os neurônios podem ser regenerados? Os neurônios podem, sim, ser criados! Alguns hábitos favorecem a formação de novos neurônios, por exemplo, exercitar a memória por meio de leituras; da alimentação, da realização de esportes, da prática da meditação, entre outros. O nosso cérebro tem uma grande capacidade de transformação e adaptação que denominamos de Neuroplasticidade, que é “[...] a propriedade do sistema 37 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I nervoso de alterar a sua função ou a sua estrutura em resposta às influências ambientais que o atingem.” (LENT, 2018, p. 112). Por meio da plasticidade neural e outros fatores é possível formar novos neurônios. Um estudo publicado pela Revista Cell Stem Cell mostra que pessoas mais velhas, até os 79 anos, podem produzir novos neurônios, conforme texto seguinte da Revista Forbes: Tem sido tema de debate na neurociência se os cérebros humanos podem continuar a produzir novas células ao longo da vida e novas pesquisas publicadas sugerem que os cérebros mais velhos são tão capazes de produzir essas células quanto os mais jovens. A pesquisa publicada [...] na revista Cell Stem Cell, liderada por cientistas da Columbia University, sugere que muitos idosos podem permanecer mais cognitivamente e emocionalmente intactos do que o geralmente aceito, com a pesquisa descobriu- se que até mesmo os cérebros de pessoas mais velhas estudados produzem novas células. Os pesquisadores analisaram uma área do cérebro chamada hipocampo das autópsias de 28 pessoas de 14 a 79 anos que morreram repentinamente, mas que antes eram saudáveis e não usavam qualquer medicamento que pudesse afetar seus cérebros, uma diferença fundamental em relação a estudos anteriores sobre o assunto. Maura Boldrini, professora-adjunta de neurobiologia da Universidade de Columbia e principal autora do estudo, disse: “Descobrimos que pessoas mais velhas têm capacidade similar de produzir milhares de novos neurônios do hipocampo a partir de células progenitoras, como os mais jovens. Encontramos também volumes equivalentes do hipocampo por meio das idades.” O hipocampo é uma estrutura cerebral intrinsecamente ligada à aprendizagem, formação da memória e do processamento emocional; e estudos em primatas não humanos e roedores já haviam indicado que a capacidade de gerar novos neurônios nessa região diminui com a idade. A nova pesquisa sugere que esse não é o caso em humanos. (FORSTER, 2018, tradução nossa) Krebs, Weinberg e Akesson (2013) citado por Leyser (2018, p. 26, grifo nosso) afirmam que “a comunicação na sinapse é possível graças à liberação de substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores. Estes são armazenados nas vesículas sinápticas do botão do terminal.” A comunicação entre neurônios é realizada por meio da sinapse pelo processo de neurotransmissão. 38 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO O Neurotransmissor “[...] é uma substância química, liberada na sinapse [ponto de encontro entre dois neurônios], para transmitir sinais, ao longo dos neurônios.” (BHATNAGAR, 2004, p. 128), ou seja, o neurotransmissor faz a conexão entre um ou mais neurônios. A neurotransmissão é realizada por meio da sinapse. (LEYSER, 2018). Os neurotransmissores, em grande parte, são constituídos de moléculas de proteínas. Essas moléculas podem ser grandes ou pequenas. Geralmente os neurotransmissores de pequenas moléculas são compostos de aminoácidos, exceto a acitilcolina; os de grandes moléculas são compostos de pequenos números de aminoácidos e são chamados de neuropeptídeos. As funções dos neurotransmissores depende do receptor a que estão ligados. (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013 apud LEYSER, 2018). Outra informação significativa em relação aos neurotransmissores é sua relação com a quantidade, conforme comentada pelos autores: A quantidade de neurotransmissor liberada pode ser dependente da quantidade de cálcio que entra no neurônio pré-sináptico após despolarização. Portanto, um aumento na quantidade de cálcio que entra no neurônio torna-se associado a maiores quantidades de neurotransmissores sendo liberados. Por outro lado, pequenas quantidades de cálcio que entram no neurônio serão associadas com pouca ou talvez nenhuma liberação de neurotransmissor. No entanto, às vezes essa relação não é óbvia: o aumento da transmissão sináptica pode não acompanhar o aumento do fluxo de cálcio. Além do mais, a diminuição do cálcio também acompanha os aumentos na liberação do neurotransmissor. Quando isso ocorre, a liberação do neurotransmissor é considerada independente do cálcio (PICCOLINO; PIGNATELLI, 1996 apud LEYSER, 2018, p. 38, grifo nosso). Sendo assim, vimos neste tópico a definição de neurônios e de neurotransmissor, o que será indispensável para o entendimento dos próximos assuntos de nosso estudo. Principais neurotransmissores Os neurotransmissores “[...] ajudam a regular mecanismos encefálicos, que controlam a cognição, a linguagem, a fala, a audição, o humor, a atenção, a memória, a personalidade, a motivação e o ajuste fisiológico do encéfalo.” (BHATNAGAR, 2004, p. 128).Portanto, é essencial que profissionais e estudantes que têm interesse em temas relacionados a transtornos de comunicação conheçam alguns dos transmissores, conforme descrito a seguir: 39 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I » Acetilcolina: “é o neurotransmissor na junção neuromuscular e, portanto,é sintetizada por todos os neurônios motores na medula espinhal e no tronco encefálico. Outras células colinérgicas contribuem para as funções de circuitos específicos no SNP [Sistema Nervoso Periférico] e no SNC [Sistema Nervoso Central]”. (BEAR; CONNORS, PARADISO, 2008, p. 142). “Os neurônios que contêm acetilcolina ou ChAT são chamados de neurônios colinérgicos.” (STERNBERG, R.; STERNBERG, K., 2016 apud LEYSER, 2018, p. 41). Esse foi um dos primeiros neurotransmissores identificados e é considerado um dos fundamentais e principais mensageiros químicos do SNP, ou seja, é o neurotransmissor primário deste sistema nervoso. (BHATNAGAR, 2004). A acetilcolina é encontrada “[...] nos neurônios motores do tronco encefálico e da medula espinhal que inervam os músculos do esqueleto.” A enzima colina é responsável pela ligação acetiltransferase (ChAT). A ligação é química e produz contração muscular. (STERNBERG, R.; STERNBERG, K., 2016 apud LEYSER, 2018, p. 41). Pepeu e Giovannini (2004, tradução nossa) esclarecem que pesquisas demonstram que lesões dos neurônios colinérgicos do cérebro podem reduzir os níveis de acetilcolina, o que poderá ser acompanhado de déficits comportamentais. Os autores esclarecem também que a acetilcolina pode estar relacionada à atenção, à memória, à aprendizagem. Também, conforme segundo Bhatnagar (2004, p. 130, grifo nosso) elucida: Projeções colinérgicas deficientes, no hipocampo e no córtex órbito- frontal, também, foram implicadas na doença de Alzheimer, doença degenerativa, caracterizada por atrofia do neocórtex e do hipocampo, que causa perda de memória, alteração de personalidade e demência. A acetilcolina é fundamental para o sistema nervoso, conforme verificado neste item. a. Monoaminas: são neurotransmissores de moléculas pequenas (iguais à acetiocolina) que compõem anoradrenalina (norepinefrina), adrenalina (epinefrina), dopamina, serotonina (5- HT ou 5-hidroxitriptamina) e histamina, sendo que cada tipo de neurotransmissor tem diversos receptores. Importante apontar que a noradrenalina, a adrenalina e a dopamina são denominadas “catecolaminas”, “sintetizadas a partir de tirosina - um aminoácido”, e “produzem comportamentos importantes como movimento, humor e cognição.” (HALL, 2017 apud LEYSER, 2018, p. 41). 40 UNIDADE I │ NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO A dopamina é um neurotransmissor primordial para o controle dos movimentos corporais. Quando comprometido, poderá causas doenças, como Parkinson ou Esquizofrenia. (GUYTON; HALL, 1997 apud ANDRADE et al., 2003).O Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central que tem como consequência alguns sintomas, por exemplo, tremores, instabilidades posturais, rigidez dos membros, entre outros. Isso se deve à destruição ou “[...] morte de neurônios produtores de dopamina da substância negra. (SOUZA et al., 2010, p. 718). A esquizofrenia é um transtorno mental no qual são identificadas algumas características tais como “alucinações e delírios, transtornos de pensamento e fala, perturbação das emoções e do afeto, déficits cognitivos e avolição.” (SILVA, 2006, p. 265). Bhatnagar (2004) clarifica que as projeções dopaminérgicas quando comprometidas podem causas determinados tipos de doenças mentais. Quantidades maiores de dopamina podem ocasionar sensações agradáveis. A Norepinefrina (ou noradrenalina) é uma das monoaminases, sendo “o neurotransmissor do sistema nervoso simpático e precursor da adrenalina” e tendo como precursor a dopamina. (OSTINI et al., 1998, p. 405). Os neurônios que contêm norepinefrina estão situados na ponte e no bulbo. Grande parte das células que contêm norepinefrina está situada na formação reticular no tronco encefálico. Os neurônios noradrenérgicos ramificam-se para o tálamo, hipotálamo, estruturas límbicas. Suas fibras descendentes projetam-se para o tronco encefálico, córtex cerebelar e medula espinhal. Em uma análise clínica, os neurônios noradrenérgicos estão relacionados com o sono paradoxal, vigilância e atenção. Os fármacos usados no tratamento da depressão estimulam a transmissão da norepinefrina. A Serotonina, “também conhecida como 5-hydroxytryptamine (5HT), é o hormônio e o neurotransmissor envolvido principalmente na excitação de órgãos e constrição de vasos sanguíneos.” (GUYTON; HALL, 1997 apud ANDRADE et al., 2003). Embora a seratonina seja um importante neurotransmissor, a maior parte dela é encontrada nas plaquetas saguíneas e no trato gastrointestinal. Suas “terminações sorotonergéticas estão situadas na formação reticular, hipotálamo, tálamo, septo, hipocampo, tubérculo olfatório, córtex cerebral, gânglios da base e amígdalas”. A seratonina está relacionada com o nível geral de despertar e do sono de ondas lentas, bem como com o controle da dor. Acredita-se que os baixos níveis deste hormônio estão relacionados à depressão grave. (BHATNAGAR, 2004, p.131). O GABA é um importante neurotransmissor do sistema nervoso central (SNC), sendo derivado do glutamato. Estes neurônios estão por todo sistema nervoso. É encontrado no córtex cerebral, córtex cerebelar e no hipocampo. O GABA é um neurotransmissor 41 NEUROCIÊNCIA E COMUNICAÇÃO │ UNIDADE I inibitório. A redução do GABA causa elevação anormal da proporção entre dopamina e acetilcolina, podendo causar perda de movimento. Sua elevação, ao contrário, causa movimentos anormais. (BHATNAGAR, 2004). É considerado o mais comum dos neurotransmissores de aminoácidos inibitórios e é responsável pela produção da hiperpolarização, abrindo canais de cloreto ou de potássio. Existem dois tipos: GABAA e GABAB. O primeiro [A] é responsável pela inibição pré-sinaptica da membrana de cloreto e o segundo [B] de potássio. Os medicamentos antiansiedade se ligam a esses receptores. (HALL, 2017 apud LEYSER, 2018). b. Peptídios (endorfinas, encefalinas, substância P): “são substâncias químicas de moléculas grandes que podem funcionar como neurotransmissores ou neuromoduladores.” As projeções dos peptídeos “são importantes no controle da dor.” (BHATNAGAR, 2004, p. 131). Aluno! Vimos neste capítulo sobre os neurotransmissores que influenciam na linguagem, na aprendizagem, na memória e em outros. Para aprofundar seu estudo e torná-lo ainda mais interessante, surgiro a leitura do texto do artigo escrito por Nogueira e outros autores (2019). Síntese do artigo: Esta pesquisa visou mostrar a funcionalidade de alguns neurotransmissores em quem tem o transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH), pois o que se sabe pelos muitos artigos e pesquisas realizadas é que tal transtorno constitui 7% das crianças no Brasil, sendo então de extrema relevância apontar sua definição, diagnóstico e a influência dos neurotransmissores neste processo. (NOGUEIRA, et al., 2019, p. 1). Link do texto: http://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/02/001_A- FUNCIONALIDADE-DOS-NEUROTRANSMISSORES-NO-TDAH.pdf. Acesso em: 22 ago. 2019. http://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/02/001_A-FUNCIONALIDADE-DOS-NEUROTRANSMISSORES-NO-TDAH.pdf http://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/02/001_A-FUNCIONALIDADE-DOS-NEUROTRANSMISSORES-NO-TDAH.pdf 42 UNIDADE II NEUROCIÊNCIA E PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS CAPÍTULO 1 Neurociências: neuroanatomia e neurofisiologia x processos psicológicos básicos Estudar o sistema nervoso é compreender as suas distintas partes anatômicas, isto é, a estrutura geral do encéfalo humano e o seu funcionamento. Nesse sentido, iremos aprender um pouco sobre esse tema, de modo sucinto, para que se possa ter noções essenciais para o aprendizado do
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