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| p. 1 MARC 11 – “MIL FACES” (Lesão renal aguda e crônica) Objetivos: - Discutir doença renal aguda (DRA) e crônica (DRC); - Discutir o diagnóstico e manejo clínico do paciente com DRA e DRC; - Compreender a classificação da DRC; - Abordar sobre os cuidados paliativos do paciente com DRC; - Verificar os aspectos relacionados à prevenção da DRC na Atenção Primária à Saúde (APS). 1. Lesão renal aguda 1.1. Definição - Lesão renal aguda (LRA): Comprometimento das funções renais de filtração e excreção, que ocorre ao longo de dias a semanas, resultando na retenção de escórias nitrogenadas e outros detritos normalmente eliminados pelos rins. Não é uma única doença, mas é o termo usado para descrever um grupo heterogêneo de condições que têm em comum alguns elementos diagnósticos, especificamente o aumento da concentração sérica de creatinina (CrS), em geral associada à diminuição do volume urinário. É um diagnóstico clínico, e não estrutural. 1.2. Epidemiologia - A LRA complica 5-7% das internações para cuidados agudos e até 30% das internações na UTI. - A LRA está associada a um aumento acentuado do risco de morte entre pacientes hospitalizados, principalmente naqueles internados em UTIs, onde as taxas de mortalidade intra-hospitalar podem passar de 50%. 1.3. Etiologia - Causas comuns de LRA adquirida na comunidade: Depleção de volume, IC, efeitos adversos de medicamentos e obstrução do trato urinário, ou ainda malignidade. - Causas comuns de LRA adquirida no hospital: Sepse, cirurgias de grande porte, doença crítica envolvendo insuficiência cardíaca ou hepática e administração de medicamentos nefrotóxicos. - Etiologias da LRA específicas de cada região: Envenenamentos por serpentes, aranhas, lagartas e abelhas; infecciosas como malária e leptospirose; e lesões por esmagamento e de rabdomiólise por terremotos. - Tradicionalmente, as etiologias da LRA são subdivididas em 3 grupos gerais: azotemia pré- renal, doença renal parenquimatosa intrínseca e obstrução pós-renal. 1.3.1. Etiologias pré-renais (azotemia pré-renal) - É o tipo mais comum de LRA. - Descreve a elevação da concentração de CrS ou ureia, em consequência do fluxo plasmático renal inadequado e da pressão hidrostática intraglomerular insuficiente para manter a filtração glomerular normal. - Os distúrbios clínicos mais associados à azotemia pré-renal são hipovolemia, redução do débito cardíaco e fármacos que interferem com as respostas autorreguladoras renais, incluindo AINEs e IECAs. - A hipoperfusão renal ativa mecanismos adaptativos de autorregulação, sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina aldosterona (SRAA) para manter a taxa de filtração glomerular (TFG). A biossíntese intrarrenal das prostaglandinas vasodilatadoras (prostaciclina, prostaglandina E2), da calicreína, das cininas e, possivelmente, do óxido nítrico (NO) também aumenta em resposta à redução da pressão de perfusão renal. A autorregulação também é realizada pelo feedback tubuloglomerular, no qual as reduções das quantidades de solutos apresentados à mácula densa provocam dilatação da arteríola aferente justaposta de forma a manter a perfusão glomerular. Esse mecanismo é mediado em parte pelo NO. - Quando a hipoperfusão é mantida ou a resposta adaptativa é inadequada, a TFG é inicialmente | p. 2 diminuída sem dano parenquimatoso (LRA pré- renal). Se a perfusão renal adequada não for restaurada, podem ocorrer danos nos órgãos, com necrose tubular aguda isquêmica (NTA). - Alguns fatores determinam a intensidade da resposta autorreguladora e o risco de desenvolver azotemia pré-renal. Aterosclerose, hipertensão crônica e idade avançada podem causar hialinose e hiperplasia da mioíntima, resultando no estreitamento luminal das arteríolas intrarrenais e diminuição da capacidade de vasodilatar as arteríolas aferentes renais. Com a DRC, a vasodilatação aferente renal pode estar operando em sua capacidade máxima para aumentar a TFG em resposta à diminuição da massa renal funcionante. Os fármacos podem afetar as respostas compensatórias desencadeadas para manter a TFG. ◦ AINEs inibem a produção de prostaglandinas no rim, limitando a vasodilatação aferente renal. ◦ IECAs e BRAs limitam a vasoconstrição eferente renal. ▪ Esse efeito é, especialmente, pronunciado nos pacientes com estenose bilateral das artérias renais ou estenose unilateral da artéria renal (quando há apenas um rim funcionante), porque a vasoconstrição arteriolar eferente renal é necessária à manutenção da TFG em consequência da perfusão renal reduzida. ◦ A doença hepática avançada desenvolvem um perfil hemodinâmico semelhante ao da azotemia pré-renal no contexto de sobrecarga de volume corporal total. ▪ A LRA é uma complicação comum nesses casos e pode ser desencadeada pela depleção de volume e por peritonite bacteriana espontânea. ▪ O prognóstico é, especialmente, desfavorável nos casos de síndrome hepatorrenal tipo 1. - Por definição, a azotemia pré-renal não inclui lesão do parênquima renal e pode ser revertida rapidamente tão logo o fluxo sanguíneo parenquimatoso e a hemodinâmica intraglomerular sejam restaurados. - A azotemia pré-renal pode coexistir com outras formas de LRA intrínseca associadas a processos que agem diretamente no parênquima renal. 1.3.2. Etiologias renais (doença renal parenquimatosa intrínseca) - As causas mais comuns de LRA intrínseca são sepse, isquemia e nefrotoxinas endógenas e exógenas. - Em muitos casos, a azotemia pré-renal progride para lesão tubular. - Embora seja descrita classicamente como “necrose tubular aguda”, a confirmação da necrose tubular por biópsia em humanos, em geral, não é possível nos casos de sepse e isquemia; de fato, processos como inflamação, apoptose e alteração da perfusão regional podem ser contribuintes importantes sob o ponto de vista fisiopatológico. Muitas vezes, a NTA também é diagnosticada clinicamente sem confirmação por biópsia em contextos como sepse com múltiplos diagnósticos potenciais, incluindo nefrite intersticial fármacoinduzida e glomerulonefrite por imunocomplexos. ◦ Essas e outras causas de LRA intrínseca são menos comuns e podem ser classificadas anatomicamente com base no sítio principal de lesão do parênquima renal: glomérulos, túbulos e interstício e vasos. | p. 3 - Sepse: G atilho mais comum de lesão renal aguda em pacientes internados. A resposta à infecção leva à indução de óxido nítrico e óxido nítrico sintase com consequente vasodilatação, que por sua vez acarreta a diminuição do enchimento arterial e a ativação dos barorreceptores. Essas alterações circulatórias desencadeiam a ativação do sistema nervoso simpático, o que induz um aumento da renina- angiotensina-aldosterona e vasoconstrição renal. Simultaneamente, a vasopressina arginina é liberada e contribui para retenção de água. - Necrose tubular aguda por exposição a toxinas: Drogas nefrotóxicas (p. ex., antibióticos, meios de contraste, entre outros) e toxinas endógenas (p. ex., mioglobina, ácido úrico, entre outras) são filtradas e concentradas (algumas delas também reabsorvidas ou secretadas) pelos néfrons e podem atingir níveis tóxicos para as células tubulares. As toxinas podem ter um efeito citotóxico direto no epitélio tubular renal ou nas células endoteliais ou prejudicar a hemodinâmica intrarrenal com precipitação de metabólitos ou cristais, entre outros. - Rabdomiólise: Ocorre após trauma, overdose de narcóticos, embolia arterial ou uso de medicamentos que podem induzir grande lesão muscular. Os princípios de tratamento são reposição volêmica rápida e agressiva, eliminaçãode medicamentos causadores, correção de síndrome compartimental, alcalinização da urina (pH > 6,5). - Síndrome cardiorrenal: Uma piora aguda da função cardíaca pode levar à hipoperfusão renal por meio da redução do volume circulante efetivo ou do aumento da pressão venosa central. Em pacientes com disfunção cardíaca, muitas vezes, a LRA é sobreposta à DRC, sendo frequentemente desencadeada por uma descompensação aguda de IC. Tipo 1 (aguda): IC aguda resulta em lesão renal aguda. Tipo 2: IC crônica causa doença renal crônica progressiva (DRC). Tipo 3: Agravamento abrupto e primário da função renal devido, por exemplo, a isquemia renal ou glomerulonefrite, causa disfunção cardíaca aguda, que pode se manifestar por IC. Tipo 4: DRC primária contribui para a disfunção cardíaca, que pode se manifestar por doença coronariana, IC ou arritmia. Tipo 5 (secundário): Distúrbios sistêmicos agudos ou crônicos (p. ex., sepse ou DM) que causam disfunção cardíaca e renal. - Síndrome hepatorrenal (SHR): A LRA parece ocorrer sem alterações histopatológicas renais, sendo essencialmente funcional. Ocorre intensa vasoconstrição renal associada a substancial ativação do SRAA, sugerindo que eventos neuro-hormonais levam ao seu desenvolvimento. Diminuição da pressão arterial sistêmica secundária à vasodilatação esplâncnica é um evento-chave. A definição da síndrome SHR é o desenvolvimento de injúria renal aguda em pacientes com cirrose e ascite, nos quais outras causas de falência renal foram excluídas. - Cirurgia de grande porte: LRA multifatorial. Envolve perdas de sangue, aumento de perdas insensíveis, extravasamento de urina para o terceiro espaço, entre outras causas. Os efeitos sistêmicos dos medicamentos anestésicos (p. ex., vasodilatação periférica, depressão do miocárdio, entre outras) são considerados a principal causa de LRA em pacientes submetidos a cirurgias de grande porte. O aumento do nível de citocinas circulantes e de espécies reativas de oxigênio contribui para a lesão renal. - LRA associado a cirurgia cardíaca: Os principais fatores presumidamente incluem baixo débito cardíaco pós-operatório (incluindo IC direita), congestão, fatores de risco pré-operatórios, condições predisponentes como DRC e diabetes. A diminuição da perfusão e do fornecimento de oxigênio durante a circulação extracorpórea possui papel importante (isquemia). | p. 4 Os efeitos da hemoglobina livre, com a inflamação sistêmica, também são fatores significativos. Os procedimentos cirúrgicos mais associados à LRA são cirurgias cardíacas com bypass cardiopulmonar (procedimentos valvulares e cirurgia de revascularização combinados), intervenções vasculares com clampeamento transversal da aorta e cirurgias intraperitoneais. - Queimaduras e pancreatite aguda: Há perdas volumosas de líquidos para os compartimentos extravasculares. Além da hipovolemia grave que diminui o débito cardíaco e amplia a ativação neuro-hormonal, as queimaduras e a pancreatite aguda podem causar inflamação desregulada e aumentar o risco de sepse e lesão pulmonar aguda, condições que podem facilitar o desenvolvimento e a progressão da LRA. - Hipertensão intra-abdominal: O aumento da pressão intra-abdominal, usualmente > 15 mmHg, leva a uma diminuição da perfusão renal devido à vasoconstrição das artérias renais e, sobretudo, à redução da drenagem venosa (compressão das veias renais), bem como ao aumento da pressão hidrostática espacial de Bowman. A inflamação sistêmica, devido à perfusão visceral prejudicada e à produção pelo rim de mediadores inflamatórios, contribui para a lesão renal. - Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP): Em pacientes geneticamente predispostos, diferentes agentes ativam uma resposta autoimune que pode causar lesão glomerular. Podem ser primárias ou secundárias, sendo usualmente associadas às glomerulonefrites crescênticas, um grupo de doenças que se caracteriza por extensa proliferação extracapilar (crescentes) em mais de 70% dos glomérulos, com evolução para lesão renal em semanas a meses. ANCA-c (antiproteinase 3): Mais comum na granulomatose com poliangeíte. ANCAp (antimieloperoxidase): Mais comum poliangeíte microscópica e doença de Churg-Strauss. - Nefrite intersticial aguda (NIA): Processo inflamatório renal, que pode causar perda de função renal e cursa com infiltrado inflamatório no interstício renal. Em pacientes geneticamente predispostos, drogas ou agentes infecciosos podem ativar uma reação imune. Pode ter uma apresentação “clássica” de erupção cutânea, artralgia e eosinofilia. ◦ Essa apresentação é mais comumente associada a certos fármacos, como os derivados da penicilina. A febre é o sinal clínico mais comum. A anormalidade mais comum é o aumento lento e constante da concentração de escórias nitrogenadas no sangue e da concentração sérica de creatinina. 1.3.3. Etiologias pós-renais (obstrução pós- renal) - Ocorre quando o fluxo unidirecional normal da urina é bloqueado de forma aguda (parcial ou totalmente), resultando no aumento da pressão hidrostática retrógrada e interferindo com a filtração glomerular. A obstrução do fluxo urinário pode ser causada por distúrbios funcionais ou estruturais em qualquer localização, desde a pelve renal até a extremidade da uretra. - Para haver LRA em indivíduos que tenham dois rins sadios funcionais, a obstrução deve afetar ambos os rins de modo a serem observadas amplas elevações nos níveis de CrS. - A obstrução unilateral pode causar LRA quando há DRC subjacente significativa ou, raramente, em consequência do vasospasmo reflexo do rim contralateral. - A obstrução do colo vesical é uma causa comum de LRA pós-renal que tem impacto sobre ambos os rins. Ela pode ser causada por doenças da próstata (hipertrofia benigna da próstata ou câncer da próstata), bexiga neurogênica ou tratamento com agentes anticolinérgicos. - Outras causas de obstrução das vias urinárias inferiores são coágulos, cálculos e estenoses uretrais. - A obstrução ureteral pode ser causada por obstrução intraluminal (p. ex., cálculos, coágulos, papilas renais desprendidas), infiltração da parede dos ureteres (p. ex., neoplasia) ou compressão externa (p. ex., fibrose retroperitoneal, neoplasia, abscesso ou lesão cirúrgica acidental). - A fisiopatologia da LRA pós-renal inclui alterações hemodinâmicas desencadeadas pelo aumento súbito das pressões intratubulares. O período inicial de hiperemia causada pela dilatação das arteríolas aferentes é seguido de vasoconstrição intrarrenal secundária à síntese de angiotensina II, tromboxano A2 e vasopressina e à redução da produção de NO. | p. 5 1.4. Manifestações clínicas - A LRA costuma ser assintomática e manifestações clínicas só aparecem em fase tardia, quando o paciente se encontra em estágio avançado. - Uremia: Paciente pode apresentar-se com náuseas, vômitos, sangramento do trato gastrointestinal, tamponamento pericárdico, dispneia, hipertensão e alterações neurológicas. - Achados cardiovasculares: Hipertensão, congestão pulmonar, edema periférico, arritmias, hipotensão e tamponamento pericárdico. - Achados respiratórios: Taquipneia e hiperventilação devido a acidose. - Achados neurológicos: Relacionados a uremia como confusão mental, sonolência, convulsão e coma. - Achados gastrointestinais: Vômitos, HDA e soluços. - Débito urinário: Oligúria (débito urinário < 400 mL em 24 h) ou anúria (débito urinário < 100 mL em 24 h). A anúria sugere obstrução total bilateral. Suspeitar de LRA pré-renal quando: - Vômitos, diarreia e glicosúria com poliúria secundária, utilizaçãovários fármacos (DIU, AINEs, IECAs e BRAs). - Hipotensão ortostática, taquicardia, diminuição da pressão venosa jugular, redução do turgor cutâneo e membranas mucosas ressecadas. Suspeitar de LRA intrarrenal quando: - ICC, doença hepática e síndrome nefrótica podem estar associadas a quedas no fluxo sanguíneo renal e/ou alterações na hemodinâmica intrarrenal com consequente diminuição da TFG. - Doença vascular extensa levanta a possibilidade de doença arterial renal, em especial, se os tamanhos dos rins forem comprovadamente assimétricos. - Doença ateroembólica pode estar associada ao livedo reticular e outros sinais de embolia nos membros inferiores. - Presença de sepse. Suspeitar de LRA pós-ranal quando: - Uma história de doença prostática, nefrolitíase ou neoplasias malignas pélvicas ou para-aórticas. - Anúria. - Complicações importantes: 1.5. Exames complementares - De acordo com as definições atuais, a presença de LRA é definida pela elevação da concentração de CrS ou por uma diminuição no débito urinário. Definição de LRA segundo KDIGO Elevação da creatinina de pelo menos 0,3 mg/dL em relação ao valor basal, dentro de 48 h; OU Elevação da creatinina que seja no mínimo 50% maior que o valor basal ocorrida em 1 semana; | p. 6 OU Redução no débito urinário para menos de 0,5 mL/kg/h por mais de 6 h. * Critério mais atual e mais utilizado. Outros critérios para definir LRA * Critérios de RIFLE (2004) e de AKIN (2007) são mais antigos e serviram como base para a elaboração dos critérios de KDIGO (2012). * Em ambos os sistemas, apenas um critério precisa ser preenchido para definir LRA. - Exame de urina simples/tipo I (EAS) e exame do sedimento urinário: Recursos de valor inestimável. Conforme a LRA progride, identificam-se proteinúria, hematúria e cilindros, quadro mais compatível com LRA intrínseca. Caso a urina 1 apresente proteinúria, a quantificação deve ser realizada com relação proteína urinária/creatinina urinária em amostra isolada ou por proteinúria de 24 h. - Hemograma completo: Anemia pode estar presente. Eosinofilia periférica pode estar associada à nefrite intersticial, à doença ateroembólica, à poliarterite nodosa e à vasculite de Churg- Strauss. Anemia grave sem sangramento pode indicar hemólise, mieloma múltiplo ou microangiopatia trombótica (SHU ou PTT). Trombocitopenia, esquizócitos no esfregaço de sangue periférico, nível alto de LDH e concentração baixa de haptoglobina também sugerem microangiopatia. - Eletrólitos: LRA pode ser acompanhada de hiperpotassemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia. Hiperfosfatemia acentuada com hipocalcemia sugere rabdomiólise ou síndrome da lise tumoral. ◦ Os níveis séricos de creatina-cinase e de ácido úrico com frequência estão elevados na rabdomiólise, enquanto a síndrome da lise tumoral caracteriza-se por níveis normais ou ligeiramente elevados de creatina-cinase e concentrações séricas muito altas de ácido úrico. O anion gap pode aumentar diante de qualquer causa de uremia, em consequência da retenção de ânions como fosfato, hipurato, sulfato e urato. Coexistência de anion gap e gap osmolar aumentados pode sugerir intoxicação por etilenoglicol, que também pode causar cristalúria de oxalato e deposição de oxalato no tecido renal. Anion gap reduzido pode ser um indício do diagnóstico de mieloma múltiplo em consequência da presença de proteínas catiônicas não quantificadas. - Índices de insuficiência renal: Excreção fracionada de sódio (FeNa): Fração da carga de sódio filtrado | p. 7 reabsorvida pelos túbulos. Depende da ingesta de sódio, do volume intravascular efetivo, da TFG, do uso de diuréticos e da integridade dos mecanismos de reabsorção tubular. ◦ < 1%: Sugere azotemia pré-renal (há uma ávida reabsorção do sódio nos túbulos renais). ◦ > 1%: Sugere DRC ou NTA. ◦ Algumas condições elevam a FeNa falsamente, como DRC e uso prévio de diuréticos. ◦ IC, SHR, grande queimado, sepse, rabdomiólise, nefropatia induzida por contraste podem reduzir indevidamente a FeNa. Fração excretória de ureia (FEUr): Vantagem de não ser afetada pelo uso de diuréticos e valores ≤ 35% são compatíveis com LRA pré-renal. Relação ureia/creatinina: Se > 40 é sugestiva de LRA pré-renal e de melhor prognóstico. ◦ Diversos fatores interferem nos níveis séricos de ureia, como nutrição (ingesta de proteínas e catabolismo), sangramento gastrointestinal e corticosteroide (elevam a ureia) e hepatopatia avançada (reduzem). ◦ A creatinina, por sua vez, é afetada por várias outras condições, como massa muscular, idade, raça e gênero. - Exames de imagem: USG renal com Doppler: ◦ Alterações parenquimatosas renais podem ser facilmente distinguidas pelo USG, com o achado de aumento da ecogenicidade, com especificidade de 96%. ▪ Sua associação com redução dos tamanhos dos rins possui boa correlação com DRC. ◦ Outra utilidade da USG é na LRA pós- renal. A sensibilidade do exame é de 100%, quando há hidronefrose de moderada a importante. ◦ Na DRC, os rins costumam ser menores, a não ser que o paciente tenha nefropatia diabética, nefropatia associada ao HIV ou doenças infiltrativas. ◦ Na LRA, espera-se encontrar rins de tamanho normal. ◦ Rins de tamanho aumentado em um paciente com LRA sugerem a possibilidade de nefrite intersticial aguda ou doenças infiltrativas. TC também pode ser considerada. - Biópsia renal: Quando a etiologia da LRA não é evidenciada com base na história clínica, no exame físico, nos exames laboratoriais e na avaliação radiológica, a biópsia renal deve ser considerada. Os resultados podem fornecer informações diagnósticas e prognósticas definitivas sobre a LRA e a DRC. Na maioria dos casos, esse exame é realizado nos pacientes com LRA quando as possibilidades de azotemia pré-renal, LRA pós-renal e LRA isquêmica ou nefrotóxica foram consideradas improváveis e quando outros diagnósticos possíveis ainda são considerados, incluindo glomerulonefrite, vasculite, nefrite intersticial, nefropatia do mieloma, SHU e PTT e disfunção de um aloenxerto. Há risco de sangramento, que pode ser grave e colocar em risco o rim ou a vida. | p. 8 1.6. Tratamento 1.6.1. Medidas de suporte - Reposição volêmica: O efeito da expansão volêmica na hemodinâmica e na função renal é frequentemente avaliado por meio da sistematização de erro e tentativa, uma vez que os parâmetros clínicos são inadequados para a avaliação da volemia. Na LRA pré-renal, a administração de fluidos melhora a perfusão e função renal. Na insuficiência cardíaca grave ou disfunção diastólica, a perfusão renal é inadequada, a despeito de normo ou hipervolemia. Nesses pacientes, expansões volêmicas adicionais são potencialmente danosas por prejudicarem ainda mais a função cardíaca e causarem edema pulmonar. Tipo de solução: Os guidelines do KDIGO recomendam o uso de cristaloides isotônicos em detrimento de coloides sintéticos (amidos) e albumina para expansão volêmica em pacientes com risco de LRA e ausência de choque hemorrágico. | p. 9 Vasopressores são frequentemente considerados prejudiciais à perfusão orgânica. - DIU de alça: Nos casos graves de sobrecarga de volume, a furosemida pode ser administrada na forma de bolus (200 mg) seguido de infusão intravenosa contínua (10-40 mg/h), com ou sem um diurético tiazídico. Na insuficiência cardíaca descompensada, a terapia diurética escalonada é superior à ultrafiltração na preservação da função renal. O tratamento com diuréticos deve ser interrompido se não houver resposta. - Correção de distúrbios eletrolíticos e acidobásicos: Ahipercalemia deve ser prontamente tratada se K+ > 6,0 mEq/L. Hipocalcemia e hiperfosfatemia são comuns na LRA. Entretanto, não há estudos randomizados que avaliaram o benefício de tratar essas alterações. ◦ Sugere-se o tratamento da hiperfosfatemia > 6 mg/dL. ▪ Em geral, pode ser tratada por limitação da absorção intestinal do fosfato utilizando quelantes específicos (carbonato de cálcio, acetato de cálcio, lantano, sevelamer ou hidróxido de alumínio). ◦ Em geral, a hipocalcemia somente precisa ser tratada quando é sintomática. A acidose metabólica é o distúrbio ácido- base mais comum em pacientes críticos com LRA. Até 2018, o tratamento da acidose metabólica na LRA não tinha sido adequadamente avaliado em ensaios clínicos randomizados, e as suas consequências eram pouco claras. ◦ A maioria dos especialistas no tema recomendava que acidemia grave (pH < 7,1) indicaria prescrição de bicarbonato. - Nutrição: Conforme as diretrizes do KDIGO, os pacientes com LRA devem alcançar uma ingesta energética total de 20-30 kcal/kg/dia. A ingesta de proteínas varia conforme a gravidade da LRA: ◦ 0,8-1,0 g/kg/dia na LRA não catabólica sem necessidade de diálise; ◦ 1,0-1,5 g/kg/dia em pacientes sob diálise; ◦ Até 1,7 g/kg/dia se houver hipercatabolismo e terapia de substituição renal contínua. - Diálise: Indicada quando o tratamento clínico não consegue controlar a sobrecarga de volume, a hiperpotassemia ou a acidose; em algumas exposições tóxicas; e quando ocorrem complicações graves da uremia (asterixe, atrito ou derrame pericárdico, encefalopatia, sangramento urêmico). Não há uma indicação estabelecida do momento de iniciar a diálise. Muitos nefrologistas iniciam a diálise empiricamente para tratar LRA quando a ureia excede determinado valor (p. ex., 200 mg/dL) em pacientes sem sinais clínicos de recuperação da função renal. As modalidades disponíveis de terapia renal substitutiva para LRA requerem acesso à cavidade peritoneal (diálise peritoneal) ou a vasos sanguíneos calibrosos (hemodiálise, hemofiltração e outros procedimentos híbridos). 2. Doença renal crônica (DRC) 2.1. Definição - A National Kidney Foundation-Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (NKF-K/DOQI) definiu a DRC como: Lesão renal por 3 meses ou mais , definida por anormalidades estruturais ou funcionais dos rins com ou sem aumento da TFG, manifestada por anormalidades patológicas ou marcadores de lesão renal, incluindo anormalidades na composição do sangue ou da urina ou em exames de imagem; OU | p. 10 Anormalidades estruturas que definem DRC TFG ≤ 60 mL/min/1,73 m 2 durante 3 meses ou mais, com ou sem marcadores de lesão renal. - Engloba um espectro de processos fisiopatológicos associados à função renal anormal e ao declínio progressivo da TFG. - Classificação KDIGO (2013) da DRC: * Doença renal em estágio terminal = DRC estágio 5. * Destacar que há o estadiamento da albumina e da TFG neste gráfico. OBS: Como avaliar a TFG? TFG medida: Medida direta do clareamento de determinada substância do plasma (normalmente, o clearence de creatinina); TFG estimada: Uso fórmulas matemáticas. ◦ Utiliza-se o valor da creatinina sérica. - Cálculo da TFG: * CKD-EPI é a mais utilizada e a mais precisa. 2.2. Etiologia - 5 categorias mais frequentes de etiologias da DRC que, em conjunto, representam mais de 90% de todos os casos mundiais da doença. * No Brasil, a principal causa de DRC é a hipertensão arterial, entretanto, no mundo a principal causa é o DM. * O ranking de causas de DRC no Brasil é: hipertensão arterial, DM e, por fim, glomerulonefrite crônica. - Na América do Norte e na Europa, a causa mais comum de DRC é nefropatia diabética, na maioria dos casos secundária ao DM 2 . * Outras alterações na DRC por DM: rins de tamanhos variáveis (tendência a tamanhos normais/aumentados), sem/pouquíssima hematúria, albuminúria, proteinúria nefrótica (pode haver síndrome nefrótica), retinopatia diabética. - Quando não há outras evidências de doença renal glomerular ou tubulointersticial primária, a DRC, em geral, é atribuída à hipertensão. | p. 11 - DRC pode ser causada por doença renal policística. OBS: Causas de DRC com rins de tamanho normal ou aumentado: DM, infecção por HIV, doenças granulomatosas (sarcoidose ou tuberculose), anemia falciforme, amiloidose e doença renal policística. - A grande maioria dos pacientes com DRC nos estágios iniciais morre em razão das complicações cardiovasculares e cerebrovasculares, antes de progredir para os estágios mais avançados da DRC. OBS: LRA x DRC: 2.3. Fatores de risco - Baixo peso ao nascer para a idade gestacional, obesidade infantil, hipertensão, DM, doença autoimune, idade avançada, descendência africana, história familiar de doença renal, episódio prévio de LRA e existência de proteinúria, sedimento urinário anormal, ou anormalidades estruturais do trato urinário. 2.4. Fisiopatologia - Caracteriza-se por 2 amplos grupos de mecanismos lesivos: Mecanismos iniciais específicos da etiologia subjacente (p. ex., anormalidades do desenvolvimento ou da integridade renal, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renais); Hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são uma consequência comum da redução da massa renal a longo prazo, independentemente da etiologia subjacente e que leva ao declínio adicional da função renal. - As respostas à redução da quantidade de néfrons são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. - Por fim, essas adaptações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) para manter a TFG tornam-se mal-adaptativas à medida que a pressão e o fluxo sanguíneo aumentados dentro do néfron predispõem à distorção da arquitetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, levando à esclerose e à destruição dos néfrons remanescentes. - O aumento da atividade intrarrenal do SRAA parece contribuir para a hiperfiltração compensatória inicial e para a subsequente hipertrofia e esclerose mal-adaptativas. OBS: Tireoidização renal: Morfologicamente, a atrofia tubular é em geral caracterizada por redução do volume tubular, espessamento e rugosidade da membrana basal tubular e pode apresentar aspecto de simplificação do epitélio ou de “tireoidização” em que o epitélio é atrófico e os lúmens dilatados e preenchidos por material eosinofílico que lembra coloide. | p. 12 2.5. Uremia/Síndrome urêmica - Embora as concentrações séricas de ureia e creatinina sejam utilizadas para avaliar a capacidade excretora dos rins, o acúmulo dessas 2 moléculas, por si só, não explica os muitos sinais e sintomas que caracterizam a síndrome urêmica na insuficiência renal avançada. Um grande número de toxinas que se acumulam com o declínio da TFG foram implicadas na síndrome urêmica. Entre essas toxinas, estão as hidrossolúveis, as hidrofóbicas, aquelas ligadas a proteínas e os produtos metabólicos não voláteis contendo nitrogênio com e sem carga. - A síndrome urêmica envolve mais do que a insuficiência excretora renal. - Em resumo, a fisiopatologia da síndrome urêmica pode ser dividida em 3 esferas de manifestações disfuncionais: Distúrbios secundários ao acúmulo das toxinas normalmente excretadas pelos rins; Anormalidades consequentes à perda das outras funções renais, como a homeostase hidreletrolítica e a regulação hormonal; Inflamação sistêmica progressiva e suas consequências vasculares e nutricionais. - Neve urêmica: Rara manifestação cutânea observada em pacientes comníveis séricos de ureia > 200 mg/dL. Depósito branco na superfície cutânea, secundário à ureia cristalizada excretada pelo suor. Responde à diálise. 2.6. Manifestações clínicas e laboratoriais e exames complementares * Hiperparatireoidismo secundário. * A manifestação mais precoce de DRC em pacientes portadores de DM é a presença de microalbuminúria, pois esta é um sinal precoce de comprometimento renal e pode indicar lesões nos glomérulos. - Exames de imagem: USG renal: Mostra-se particularmente útil ao diagnóstico de alguns casos de DRC [doença renal policística e uropatia obstrutiva], bem como para diferenciar a LRA da DRC. ◦ Rins simetricamente pequenos (< 8,5 cm) sustentam o diagnóstico de DRC, enquanto a observação de rins de | p. 13 tamanho normal favorece um processo agudo mais do que crônico. Outros exames de imagem podem ajudar a estabelecer a causa da DRC. ◦ USG com Doppler dúplex das artérias renais, cintigrafia renal e angiorressonância magnética são úteis aos pacientes com suspeita de doença isquêmica renovascular. ◦ Uretrocistografia miccional mostra-se útil para afastar a possibilidade de nefropatia de refluxo. ◦ TC possibilita avaliar a atividade dos cálculos renais, bem como evidências de necrose papilar. - Biópsia renal: Deve ser reservada aos pacientes com rins de tamanho quase normal, nos quais não é possível estabelecer um diagnóstico bem-definido através de métodos menos invasivos e quando há suspeita de causa potencialmente tratável. Nos pacientes com rins pequenos bilateralmente, a biópsia renal não é recomendável porque: ◦ É tecnicamente difícil e tem maior tendência a provocar sangramento e outras consequências desfavoráveis; ◦ Costuma haver tanta fibrose que a doença primária não pode ser definida; ◦ A janela de oportunidade para promover um tratamento para a doença específica já passou. Outras contraindicações à biópsia renal: Hipertensão descontrolada, infecção urinária em atividade, diátese hemorrágica (inclusive sob tratamento anticoagulante) e obesidade grave. A biópsia percutânea orientada pela USG é a abordagem preferível, mas a técnica cirúrgica ou laparoscópica pode ser considerada, especialmente, nos pacientes com rim único, nos quais a visualização direta e o controle do sangramento são cruciais. Em pacientes com DRC para os quais a biópsia renal é indicada (p. ex., suspeita de processo concomitante ou superposto em atividade, como nefrite intersticial, ou nos casos de perda acelerada da TFG), o tempo de sangramento precisa ser determinado e, se estiver aumentado, deve-se administrar desmopressina imediatamente antes do procedimento. ◦ Um ciclo breve de hemodiálise (sem heparina) também pode ser considerado antes da biópsia renal para normalizar o tempo de sangramento. 2.7. Tratamento - Tratamento conservador: Indicado para todos os pacientes com DRC. Objetivos: ◦ Tratar a causa da DRC, se possível, e detectar assim como tratar qualquer causa reversível de diminuição da função renal, como depleção de volume, ITU, uropatia obstrutiva, uso de agentes nefrotóxicos, hipertensão acelerada ou descontrolada e reativação ou exacerbação do processo mórbido etiológico subjacente; ◦ Implementar as intervenções necessárias para evitar ou retardar a progressão da DRC; ◦ Prevenir ou tratar as complicações da DRC; ◦ Prevenir ou tratar as complicações associadas a outras condições comórbidas, particularmente diabetes e doença cardiovascular; ◦ Preparar o paciente e a sua família para a terapia renal substitutiva. Os pacientes com DRC devem ser encaminhados a um nefrologista quando a TFGe for < 30 mL/min (estágio 4), visto que essa conduta permite tempo suficiente ao preparo adequado do paciente para terapia renal substitutiva. - Intervenções para retardar a progressão da DRC: Controle da pressão arterial (PA): ◦ D ieta com baixo teor de sal (< 2 g/dia) ; ◦ IECAs e BRAs constituem os agentes anti-hipertensivos de escolha, visto que reduzem a hipertensão glomerular | p. 14 através de um mecanismo duplo: redução da PA sistêmica e vasodilatação predominante da arteríola eferente; além disso, melhoram a permeabilidade da membrana glomerular e diminuem a produção de citocinas fibrogênicas. ▪ Os BRAs têm menos efeitos colaterais do que os IECAs, como tosse ou hiperpotassemia; entretanto, devido a seu custo mais elevado, são habitualmente recomendados aos pacientes que não respondem aos IECAs ou que não os toleram. ◦ A PA -alvo recomendada é < 130/80 para pacientes com proteinúria de < 1 g/dia e < 125/75 para aqueles com proteinúria de > 1 g/dia. Controle da glicemia em pacientes diabéticos. ◦ Diminui o risco de desenvolvimento de nefropatia, particularmente, quando iniciada precocemente na evolução do diabetes e/ou nefropatia diabética (estágio de normo ou microalbuminúria). ◦ Se TFG entre 45-30 mL/min, limitar a dose da metformina a 1 g/dia, e se TFG < 30 ml/min, suspender o uso desse medicamento. ◦ Inibidores da SGLT2 mostram-se benéficos se TFG > 30 mL/min. ◦ Alvo de hemoglobina glicada por volta de 7% (mas o alvo deve ser individualizado). Restrição dietética de proteína. - Prevenção e tratamento das complicações urêmicas: Sobrecarga de volume: Dieta com baixo teor de sal (2 a 3 g de sódio/dia) e diuréticos de alça para a sobrecarga de volume. ◦ Os diuréticos tiazídicos não são eficazes quando a TFG é < 30 mL/min. Hiponatremia: Pode ser evitada reduzindo o aporte de água (p. ex., para 1,5 L/dia). Hiperpotassemia: D ieta com baixo teor de potássio (40 a 60 mEq/dia) e evitar as fontes exógenas de potássio, incluindo transfusões sanguíneas, substituto do sal e certas medicações (AINEs e diuréticos poupadores de potássio). Hipermagnesemia: E vitar o uso de antiácidos e catárticos contendo magnésio. Excesso de bicarbonato sérico: O nível sérico de bicarbonato deve ser mantido em ≥ 22 mEq/L com a administração de bicarbonato de sódio, particularmente, em pacientes sintomáticos, bem como para prevenir o retardo do crescimento em crianças. Desnutrição: Acompanhamento por um nutricionista qualificado, a fim de evitar a desnutrição; em geral, recomenda-se um aporte proteico e energético de 0,75 g/kg/dia e 30 a 35 kcal/kg/dia, respectivamente. ◦ Manter ingesta de proteínas < 0,8 g/kg/dia. Disfunção plaquetária: O tratamento é indicado aos pacientes com sangramento ativo, bem como antes da realização de procedimento cirúrgico; as medidas apropriadas incluem: correção da anemia com eritropoietina ou transfusão sanguínea, administração de desmopressina ou crioprecipitado para correção rápida, utilização de estrogênios conjugados para correção a longo prazo e redução da azotemia com diálise, quando indicado. ◦ Os alvos são: hemoglobina entre 10-12 g/dL, ferritina > 100-200 ng/mL e índice de saturação de transferrina > 20%. Deficiência de vitamina D: Repor vitamina D (colecalciferol) para manter o alvo > 30 ng/mL. - Prevenção e tratamento das condições comórbidas: Como as complicações cardiovasculares representam a principal causa de morte em pacientes com DRC, o controle apropriado dos fatores de risco e da doença cardiovascular estabelecida é da máxima importância. As complicações diabéticas também devem ser tratadas apropriadamente. - Preparação para terapia renal substitutiva: Informação sobre as diferentes modalidades de tratamento; Educação sobre a preservação das veias do antebraço visando a futuro acesso vascular para hemodiálise; Encaminhamento aos serviços sociais para avaliar a necessidade de transporteaté a unidade de diálise, continuação do trabalho | p. 15 em alguns casos, reabilitação e participação em grupos de apoio; Colocação de acesso vascular permanente, de preferência uma fístula arteriovenosa, quando a depuração de creatinina for < 25 mL/min, o nível sérico de creatinina for > 4 mg/dL, ou o tempo estimado até o início da diálise for de 12 meses. ◦ Os cateteres para diálise peritonial devem ser colocados 2 a 4 semanas antes de iniciar a diálise. Indicações de terapia renal substitutiva: OBS: Mnemônico “A-E-I-O-U”: Para memorizar os sintomas que indicam diálise de urgência. • A: Acidose metabólica grave e refratária; • E: Eletrólitos (hipercalemia refratária); • I: Intoxicação (metanol, etilenoglicol, salicilatos, lítio); • O: Overload (hipervolemia refratária); • U: Uremia (síndrome urêmica com pericardite, encefalopatia, serosites). Opções: Hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal. Referências: - BRANDÃO NETO, R. et al. Medicina de emergência: abordagem prática. 17. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2023. - JAMESON, J. Medicina interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020. - LERMA, E. CURRENT nefrologia e hipertensão: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: AMGH, 2012.