Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lesão Renal Aguda 1 � Lesão Renal Aguda Type Aula Gravada Date Especialidade Nefrologia Material Reviewed Área Clínica Médica Definida como redução da taxa de filtração glomerular → evidenciada por aumento da creatinina sérica e/ou pela diminuição do débito urinário. A classificação mais usada é a KDIGO. É a alteração que dura até 7 dias → quando há duração > 90 dias, denomina- se DRC → se > 7 dias e < 3 meses, denomina-se doença renal aguda (DRA). Tradicionalmente dividida em pré-renal (hipovolemia, IC, IH), renal ou intrínseca (glomerular, vascular, túbulo intersticial, sepse) e pós-renal (obstrução) → essa divisão não engloba a complexidade dos diferentes etiologias, como cardiorrenal, hepatorrenal, associada a sepse ou grandes @January 26, 2023 Lesão Renal Aguda 2 cirurgias, toxicidade externa (contrastes e ATB) ou interna (mioglobina e ácido úrico), hipertensão intra-abdominal, GNRP, nefrite intersticial aguda e obstrução. Manifestações Clínicas Pode ser oligossintomática ou com achados inespecíficos → dependem da gravidade, etiologia, status clínico prévio, comorbidades e velocidade de instalação. Sempre suspeitar se: náuseas, vômitos, dispneia, dor abdominal, inapetência, fraqueza ou perda de peso (principalmente se fatores de risco: idosos, DM) → edema agudo de pulmão, HAS, hipervolemia com ou sem diagnóstico de IC → arritmias sem causa aparente, sobretudo se ECG com QRS alargado ou BAVT → cefaleia, encefalopatia, convulsões, torpor ou coma. Lesão Renal Aguda 3 Manifestações podem decorrer de complicações da disfunção renal: hipercalemia e outros distúrbios eletrolíticos, acidose metabólica → ou à hipervolemia ou à síndrome urêmica → quanto mais rápida a instalação, maior a chance de sintomas graves. Pode ou não ter alteração do débito urinário → classificar em oligúrica ou não oligúrica (nefrotoxicidade por aminoglicosídeos, contraste, NTA, diabetes insipidus nefrogênico) → anúria: < 100mL em 24h / oligúria: 100-400mL em 24h / poliúria: > 3L → quando há alternância, lembrar de obstruções urinárias intermitentes. Pré-Renal É a forma mais frequente e ocorre por hipofluxo renal decorrente de redução da volemia total (desidratação, vômitos, diarreia, sangramento) ou da volemia efetiva (IC e IH). Mesmo em adultos saldáveis, a autorregulação renal é prejudicada quando a PAS cai abaixo de 80 mmHg, levando a redução da TFG e DU. Com a manutenção do fator agressor, a LRA pré-renal pode evoluir para LRA intrínseca por lesão tubular ou isquemia. Quando a hipotensão ocorre por hipovolemia total, a expansão deve ser feita com cristaloides isotônicos (SF, ringer simples ou lactato) → os coloides são Lesão Renal Aguda 4 indicados como primeira escolha em condições específicas, como PBE. LRA também é um fator de risco para sobrecarga de volume → expansão deve ser feita com cautela, quantificando diurese e balanço hídrico → BH positivo se relaciona a efeitos deletérios, como alteração de trocas gasosas, redução de complacência pulmonar, maior trabalho respiratório, menor contratilidade miocárdica, disfunção diastólica, má absorção intestinal e íleo, redução do fluxo plasmático renal e da TFG, drenagem linfática comprometida, alterações da microcirculação, má cicatrização, etc. 💡 Toda reposição de cristaloide deve ser avaliada quanto indicações, contraindicações, riscos e benefícios → SF 0,9% pode causar acidose metabólica hiperclorêmica pela grande quantidade de cloro (aumento do cloro reduz bicarbonato). Pós-Renal Devido um fator obstrutivo do trato urinário → acomete principalmente homens idosos (HPB ou CaP), pacientes com doenças neurológicas (esclerose múltipla, AVC, neuropatia), tumores ou RT prévia em região pélvica (neoplasia de colo de útero) e uso de medicações que podem causar retenção urinária (opioides, anticolinérgicos, antidepressivos) → em crianças, a principal causa de obstrução é a obstrução da junção ureteropélvica (JUP). Há um aumento da pressão hidráulica da via urinária que se transmite aos túbulos e espaço de Bowman, causando a redução da pressão de ultrafiltração e consequente redução da TFG → é importante corrigir a obstrução o mais rápido possível para impedir lesões parenquimatosas definitivas. Clinicamente, se apresentam com anúria → alguns apresentam dificuldade no início da micção → presença de dor abdominal ou em flancos que irradia para fossa ilíaca e genitália é sugestiva de cálculos. Em internados, importante atentar para obstrução de sonda vesical de demora, caracterizada pela redução abrupta da diurese acompanhada de aumento da escórias. A verdadeira anúria súbita ou de rápida evolução pode ocorre em: obstrução baixa por cálculos, coágulos ou grumos, obstrução alta bilateral ou unilateral em rim único, choque séptico grave, isquemia grave Lesão Renal Aguda 5 (geralmente com necrose cortical), GNRP ou vasculite, trombose de vias ou artérias renais bilaterais, dissecção de artérias renais bilateral na síndrome aórtica aguda, obstrução de sonda vesical, após cirúrgica abdominal, ginecológica ou urológica (ligadura inadvertida de ureteres). Diagnóstico é feito com exames de imagem → USG costuma ser o primeiro exame e revela hidronefrose em caso de obstrução → a ausência de dilatação não exclui obstrução, como nos casos recentes, cálculo coraliforme, fibrose retroperitoneal ou doença renal infiltrativa, principalmente se paciente desidratado → se há hidronefrose na USG, mas não vê ponto de obstrução, prosseguir com TC → a avaliação urodinâmica é mais indicada nos diagnóstico de bexiga neurogênica. A obstrução completa do trato urinário evolui para LRA e exige drenagem → se for abaixo da bexiga, um cateter uretral/sonda vesical ou cistostomia pode resolver pelo menos temporariamente até tratamento específico → se for mais alta (ureteral) pode ser feita a passagem do cateter ureteral retrógado (duplo J) ou a nefrostomia percutânea → se sem equipe de urologia ou alterações ameaçadoras à vida, a dialise pode ser realizada. Após a desobstrução completa é comum a produção de diurese pós obstrutiva, caracterizada por poliúria intensa → resposta diminuída ao ADH e desregulação das células justaglomerulares → há uma maior excreção de potássio, magnésio e fósforo → tratamento é suporte, com reposição volêmica e eletrolítica necessárias → é autolimitada, durando dias a uma semana. Observa-se com frequência a presença de hematúria após desobstrução da bexiga → ocorre após alívio rápido e completo da obstrução e é denominado hematúria ex vacum → comumente benigna e autolimitada. Síndrome Compartimental Abdominal É uma causa compressiva/congestiva de LRA, com mecanismo singular. Consequência da hipertensão intra-abdominal, sendo de causa multifatorial → compressão extrínseca causa um aumento da pressão da veia renal com redução do fluxo plasmático renal e consequente queda da TFG. Definida como PIA constante > 20mmHg e/ou pressão de perfusão cerebral < 60mmHg associada a nova disfunção orgânica → hipertensão Lesão Renal Aguda 6 intra-abdominal: PIA sustentada ≥ 12) → uma PIA normal varia entre 5-7 mmHg. Medição da PIA: o padrão-ouro é a transdução da pressão da bexiga por meio de cateter urinário → outras formas são por SNG, sonda retal/intracolônica, cateter de veia cava inferior. Causas: condições abdominais (ascite, sangramento, cirurgia), trauma, queimadura, transplante hepático, condições retroperitoneais, pós-cirúrgico, BH positivo > 5L. Manejo: diretamente relacionado com a etiologia → compreende melhora da complacência da parede abdominal, remoção do excesso de fluídos (se sobrecarga de volume), evacuação de conteúdo intraluminal e de líquidos peri-intestinais e abdominais → a descompressão cirúrgica é reservada para casos que não respondem a medidas clínicas ou de etiologia predominantemente cirúrgica → laparotomia mediana completa é o padrão ouro. Renal ou Intrínseca Causada por dano ao parênquima renal e representa a principalcausa de LRA em pacientes internados → grande maioria tem como causa a necrose tubular aguda, decorrente da hipoperfusão renal e hipóxia ou, menos frequentemente de exposição do parênquima a agentes tóxicos. Lesão Renal Aguda 7 Necrose Tubular Aguda Ocorre por isquemia renal, nefrotoxinas exógenas e/ou endógenas. Caracterizada por perda do epitélio tubular devido necrose das células epiteliais com descamação e obstrução tubular. A recuperação ocorre entre 7 e 2 dias → nessa fase, o paciente desenvolve poliúria seguida da queda das escórias nitrogenadas. Toda LRA pré-renal pode evoluir para NTA devido à isquemia, consequente da hipoperfusão renal prolongada → na pré-renal, os rins está ávidos em reabsorver sódio e água para tentar restabelecer volemia, logo a urina é pobre em sódio e água e bastante concentrada → na NTA há uma dano tubular com prejuízo na reabsorção, ocasionado uma urina rica em sódio e água. Lesão Renal Aguda 8 A fração de excreção de qualquer soluto (X) é calculada por: Não existe tratamento específico para NTA → uso da dopamina em doses renais não está indicado, e mesmo em doses baixas pode ter efeitos adversos fatais (arritmias) → a recuperação pode ser completa ou haver perda de néfrons, mas o restante consegue manter a TFG. Rabdomiólise Síndrome clínica-laboratorial de apresentação aguda caraterizada por destruição e necrose muscular esquelética, com liberação de conteúdo intracelular (eletrólitos, mioglobina, CPK, DHL, ALT, AST e aldolase). Pode se manifestar desde assintomática com elevação da CPK até uma condição potencialmente fata com LRA e CIVD. A LRA é causada, na rabdomiólise e na hemólise, pelo pigmento heme que é liberado da mioglobina ou hemoglobina e é tóxico para o rim. Grande maioria dos casos se relaciona com traumas musculares diretos → atividade física excessiva, esmagamento, imobilização prolongada ou uso abusivo de álcool. Lesão Renal Aguda 9 💡 Síndrome de Infusão de Propofol: quando paciente é submetido a infusão de altas doses da droga (> 5 mg/kg/h) e por tempo prolongado (> 48h), principalmente se associado ao uso de corticoides e catecolaminas → além de rabdomiólise, pode ocorrer IC, arritmias, acidose, LRA, hipertrigliceridemia → tratamento com suspensão da droga + suporte dialítico. Toxinas/Venenos de Animais: LRA ocorre principalmente em acidentes de serpentes (cascavel e jararaca) → ocorre por nefrotoxicidade direta, rabdomiólise, hemólise, hipotensão/choque → lesões histológicas mais comuns são NTA e NIA → tratamento específico com uso precoce de soro heterólogo específico contra o veneno, além de realizar profilaxia para Lesão Renal Aguda 10 tétano e ATB se sinais de infecção local → se sinais de rabdomiólise e/ou hemólise, realizar medidas para prevenir LRA por pigmentos. Manifestações Clínicas: as clássica incluem dor muscular, fraqueza e urina escura → dor mais intensas nos grupos musculares proximais, panturrilhas e lombar → metade dos pacientes não tem sintomas musculares → manifestações adicionais incluem cãibras, indisposição, febre, taquicardia, náuseas e vômitos → pode ocorrer edema muscular, principalmente após reposição de volume. Complicações: as musculares podem ser compressão de nervos e vasos, síndrome compartimental, necrose irreversível, fasciotomia ou descompressão cirúrgica → as extramusculares são hipercalemia, hiperfosfatemia, hiperuricemia, hipocalcemia, acidose metabólica e LRA → além de CIVD. Diagnóstico: confirmado com laboratório → CPK em níveis 5x acima do valor de referência, geralmente > 5000 UI/L → mioglobina também se eleva, mas dosagem pouco sensível no sangue e na urina. LRA costuma ser dramática, com níveis de creatinina desproporcionalmente maiores ao níveis de ureia devido a liberação pela lesão muscular → posteriormente há elevação constante da ureia, pelo hipercatabolismo das proteínas musculares. Os preditores de necessidade de TRS são: níveis de creatinina e CPK na admissão, etiologia, características pessoais e níveis de cálcio, fósforo e bicarbonato → escore criado com essas característica, onde pontuação < 5 é de baixo risco, de 6-9 risco moderado; a partir de 10 alto risco de necessitar de hemodiálise e morte. Lesão Renal Aguda 11 Fisiopatologia → efeito toxico direto da mioglobina: pela porção heme leva a disfunção e NRA → isquemia renal: pelo desequilíbrio entre mediadores vasoconstritores e vasodilatadores, com efeito final de vasoconstrição → obstrução tubular: pelos cilindros formados pelo pigmento de mioglobina. Tratamento da causa base é o primeiro componente do manejo, concomitante com a estabilização inicial e prevenção de fatores que potencializam LRA (depleção de volume, obstrução tubular, acidúria e liberação de radicais livres). Prevenção da LRA requer a reposição volêmica precoce e agressiva para manter perfusão renal e aumentar fluxo urinário. Hidratação Vigorosa: iniciar com 1-2 L/h e após o início da diurese, a reposição de manutenção é de 100 a 200 mL/h → reposição deve ser continuada até a obtenção de DU adequado (3 mL/Kg/h ou 200 mL/h) ou até que haja sobrecarga volêmica (iniciar diurético de alça) Alcalinização da Urina: se pH urinário < 6,5 → 150 mEq de bicarbonato em 850 mL de SG 5% ou água destilada → 1,5L/hora até fluxo urinário Lesão Renal Aguda 12 adequado → bolus de 100 mEq de bicarbonato a 8,4% pode ser adicionado com o objetivo de otimizar o pH urinário. Manitol 10%: velocidade de infusão de 15 a 45 mL/h (média de 2 a 5g de manitol/h, máximo 120g/dia) → indicado apenas se CPK > 30.000 + sobrecarga de volume → aumentar o fluxo sanguíneo renal e a TFG → reduz o edema muscular → previne obstrução dos túbulos por mioglobina → contraindicado em oligoanúricos, pois pode levar a hiperosmolaridade e hipervolemia → monitorar osmolaridade plasmática e gap osmolar com interrupção se a diurese adequada não for restabelecida ou se o gap osmolar > 55 mOsm/Kg. Reposição de Cálcio: restringida à hipocalcemia sintomática ou na hipercalemia grave. Terapia Renal Substitutiva: sem indicação de qualquer modalidade de diálise para prevenção da LRA induzida pela mioglobinúria → indicada se LRA grave com hipervolemia, hipercalemia ou acidose metabólica. Síndrome de Lise Tumoral É uma emergência oncológica → pela maciça lise de células tumorais, liberando metabólitos intracelulares, como potássio, fosfato e ácidos nucleicos → o catabolismo dos ácidos nucleicos em ácido úrico leva à hiperuricemia. Grande aumento da excreção de ácido úrico pode resultar na precipitação de ácido úrico nos túbulos e pode induzir vasoconstrição renal, comprometendo auto-regulação, diminuindo fluxo sanguíneo renal e inflamação, resultando em LRA. A hiperfosfatemia com deposição de fosfato de cálcio nos túbulos também pode causar LRA. É mais comum após o início do tratamento em pacientes com linfomas de alto grau (particularmente de Burkitt) ou leucemia linfoblástica aguda → também pode ocorrer espontaneamente ou com outros tipos de tumores (se alta taxa proliferativa). As consequências metabólicas incluem hipercalemia (complicação inicial que pode causar alterações neuromusculares e arritmias), hiperfosfatemia, hipocalcemia secundária (pode causar graves arritmias, como torsades de pointes e PCR; além de irritabilidade neuromuscular, como tetania, convulsões e estado de mal epilético), hiperuricemia e LRA. Lesão Renal Aguda 13 Existem características clínicas que predispõem ao desenvolvimento de LT, como hiperuricemia pré-tratamento (ácido úrico > 7,5) ou hiperfosfatemia; nefropatia preexistente ou exposição a nefrotoxinas, oligúria e/ou urina ácida; desidratação, depleção de volume ou hidratação inadequada durante tratamento. Manifestações Clínicas: são diversas e associadas às complicações metabólicas → náuseas, vômitos, diarreia, anorexia, letargia, hematúria, IC, arritmias, convulsões, cãibras, tetania, síncope e morte súbita. Exames Complementares → gerais:hemograma, função renal, DHL, exames de coagulação, exame de urina (mostra muitos cristais de ácido úrico ou uratos amorfos na urina ácida) e perfil hepático → específicos: ácido úrico, fósforo, cálcio e potássio → o ECG é importante para identificar arritmias graves; o USG de rins e vias urinárias avalia se há outra causa de LRA, como obstrução extrínseca pelo tumor. Diagnóstico: realizado a partir da classificação de Cairo-Bishop. Tratamento e Prevenção → hidratação EV: 1-2L inicial, total de 4-6L; manter DU de 75-150mL/h; furosemida e diálise se não tolera volume → hiperfosfatemia: hidróxido de alumínio 15-20mL 4-6x/dia → hipocalcemia: 100-200mg de gluconato de cálcio se arritmia, convulsão ou sintomas neuromuscular grave → hipercalemia: medidas específicas → hiperuricemia: alopurinol (antes do tratamento) 300mg 8/8h ou raburicase Lesão Renal Aguda 14 (medicação de escolha) 0,1-0,2mg/kg/dia; febuxostat é alternativa se impossibilidade da raburicase → hemodiálise deve ser considerada precocemente nos pacientes com alterações metabólicas e eletrolíticas persistentes ou se sintomas urêmicos ou hipervolemia. Nefrotoxicidade Presença de qualquer lesão renal causada direta ou indiretamente por medicamentos. Os critérios que sugerem causalidade são exposição ao agente por pelo menos 24h, mecanismo de lesão relacionado a medicamentos compatível com condição apresentada, investigação de outras causas de nefropatia com evolução ou manifestações clínicas não totalmente compatíveis. Fatores de Risco: maioria relacionado à redução da reserva funcional renal, maior concentração de fármacos nos túbulos ou lesão sinérgica entre drogas. Mecanismos: (1) lesão tubular proximas e NTA (dependente da dose): vancomicina, aminoglicosídeos, cisplatina, MTX → (2) obstrução tubular por cristais ou moldes (dependente da dose): TARV, aciclovir, cipro, sulfonamidas, MTX, etc → (3) NIA (independente da dose): IBP, AINE, betalactâmicos; cursa com febre, rash, eosinofilia/lúria, hematúria não Lesão Renal Aguda 15 dismórfica, LRA oligúrica e aumento de IgE sérica → (4) microangiopatia trombótica (independente da dose): inibidores de calcineurina, antineoplásicos (bortezomibe, vincristina). Existem drogas com mecanismos indiretos, como diuréticos de alça que podem levar a desidratação; e inibidores do SRAA que causam vasodilatação da arteríola eferente e redução da pressão intraglomerular. AINEs: inibe a produção de prostaglandinas, que tem ação vasodilatadora e aumenta perfusão renal → altas doses se relacionam com LRA especialmente em idosos, por vasoconstrição da arteríola aferente (pré-renal) ou por NIA, associada ou não a síndrome nefrótica por lesões mínimas e necrose de papila (nefropatia analgésica) → uso crônico se relaciona com DRC. Vancomicina: ATB usado para gram-positivas → risco maior com dose diária > 4g, tempo > 14 dias e alta concentração sérica → mecanismo de toxicidade envolve NTA, obstrução tubular por cilindros, maior toxicidade se combinado com piperacilina-tazobactam → previne-se mantendo dose terapêutica (15-20 mg/L) com coleta 30min antes da dose → tratamento com troca de medicamento por linezolida e daptomicina. Aminoglicosídeos: ATB para bactérias gram-negativas multirresistentes → manifesta-se com LRA poliúrica acompanhada de aumento da creatinina, glicosúria, enzimúria, aminoacidúria e excreção urinária de íons (hipercalciúria, hipermagnesúria, hipocalcemia, hipocalemia e hipomagnesemia) → pela alta prevalência de toxicidade renal e ototoxicidade, a KDIGO recomenda evitá-lo sempre que houver outra opção menos tóxica → para minimizar danos, realizar correção de hipocalemia e hipomagnesemia antes da infusão, curto tempo de uso (< 10 dias), evitar uso se hipovolemia, dosar uma vez ao dia com preferência a administração diurna e dose ajustada com nível sérico (1ª hora com > 20 μg/mL; após 18-24h <5-8 μg/mL) → após suspender, pode continuar havendo piora da função renal por dias; mas bom prognóstico. Polimixina: ATB para gram-negativos multirresistentes → toxocidade relacionada À hipocalemia e hipomagnesemia → função renal deve ser monitorada de perto durante sua administração, que se associa à hematúria, proteinúria, oligúria e LRA devido NTA. Anfotericina B: usado para micoses sistêmicas → mecanismo envolve lesão tubular difusa e direta pelo aumento da permeabilidade da Lesão Renal Aguda 16 membrana celular e isquemia induzida pela vasoconstrição da arteríola aferente → manifesta-se com hipocalemia, hipomagnesemia, defeito na concentração urinária e acidose metabólica, além de redução de TFG, que iniciam após 1 semana de uso → recomenda-se trocá-la por formulações menos tóxicas ou diferentes classes de antifúngicos, principalmente equinocandinas e voriconazol → se sem alternativas, recomenda-se aumentar o tempo de infusão, volume de diluição, hidratação pré- infusão (500-1000 mL) e monitoramento e correção dos DHE como medidas preventivas para LRA → amilorida e espironolactona pode prevenir hipocalemia. Aciclovir: pode levar a deposição de cristais de aciclovir nos túbulos → a LRA costumar ocorre 24-48h após início da terapia → pode haver queixa de náuseas, dor no flanco ou abdominal, induzida por obstrução → pode ser evitada com reposição de volume (diurese > 75mL/h) e infusão EV lenta durante 1-2h → tratamento com reposição de volume e diurético de alça na tentativa de eliminar os cristais obstrutivos. Muitas medicações tem mecanismo semelhante ao do aciclovir, como: CATAFIMS: ciprofloxacino, aciclovir, triamtereno, atazanavir, fosfato de sódio oral, indinavir, MTX, sulfadiazina. Lesão Renal Aguda 17 Lesão Renal Aguda 18 Nefropatia Induzida por Contraste Comprometimento da função renal (aumento de 25% na creatinina de base ou aumento de 0,5mg/dL no valor absoluto da creatinina) dentro de48-72h após uso de contraste. É potencialmente evitável → uso de agentes hipo ou iso osmolares, com menor dose efetiva, e uso de cristaloides isotônicos EV pré-procedimento reduzem o risco de NIC em pacientes de alto risco. Lesão Renal Aguda 19 Fatores de Risco: DRC pré-existente com DM; idade avançada, DCV, instabilidade hemodinâmica, uso de certos medicamentos (diuréticos, AINE, hipoglicemiantes orais, IECA/BRA, entre outros). Não há tratamento definitivo para LRA após uso de contraste → evitar a depleção de volume intravascular é a estratégia mais importante para reduzir a lesão renal → SF 0,9% administrado a 1mL/kg/h por 6–12h antes do procedimento, intra-procedimento e continuado por 6–12 h pós- procedimento → se ICC compensada, os fluidos devem ser administrados de acordo com status volêmico, exame clínico, USG à beira leito e sintomatologia. Doenças Tropicais LRA é frequente no curso de algumas dessas infecções e está associada a maior gravidade e mortalidade. Acometimento pode ser glomerular (proteinúria ou hematúria leve a síndrome nefrótica ou síndrome pulmão-rim) ou tubular → em todas, principalmente nas formas graves, pode haver aumento da permeabilidade vascular, com extravasamento de plasma para o extravascular, incluindo cavidade e órgãos, associados a distúrbios de coagulação, causando hipovolemia, hipotensão, redução da perfusão renal, redução da TFG e NTA. Lesão Renal Aguda 20 Tratamento: tratar doença de base, restabelecimento da volemia, reposição eletrolítica e no suporte renal, quando necessário. Necrose Cortical Aguda Causa rara de LRA → cursa com a tríade anúria + hematúria + dor lombar. Principais causas se relacionam com gestação: DPP, placenta prévia, embolia amniótica, síndrome HELLP, abortos sépticos. Quadro grave caracterizado pela destruição total ou parcial do córtex renal, devido lesão endotelial intensa, vasoconstrição e trombose da microvasculatura → pode ser difusa e bilateral. A TC com contraste tem boa acurácia: hipercaptação subcapsular em anel; hipocaptação cortical; captação normal na medula; ausência de excreção de LesãoRenal Aguda 21 contraste para o sistema coletor; calcificação cortical distrófica. Prognóstico muito ruim → se sobreviver, há evolução para falência renal na dependência de TSR. Tratamento Tratamento Conservador Baseia-se na compensação das complicações da LRA de maneira clínica → principais complicações agudas são sobrecarga volêmica, hipercalemia, acidose metabólica e uremia. Sobrecarga Volêmica: aumento do volume extracelular em relação ao estado euvolêmico → em internados, é calculado como diferença entre ganhos (dieta, medicamentos, soluções) e perdas (diurese, drenos e perdas insensíveis) em dado período, também chamado de balanço hídrico → medida inicial é a restrição hídrica. → o uso de diuréticos é indicado se a restrição hídrica não é suficiente para que haja um balanço negativo → furosemida é a mais usada na LRA por ser um diurético de alça, que tem maior poder diurético, e por ter apresentação endovenosa, porém todas as classes podem ser utilizadas → teste de estresse com furosemida: realizado para predizer a evolução da LRA; consiste na administração de furosemida em bolus, na dose de 1,0 mg/kg para quem não usava e 1,5 mg/kg para usuários, e avaliação da diurese em 2h; se apresentar diurese < 200mL tem maior chance de evoluir para LRA grave e necessidade de TRS. Hipercalemia: inicia com suspensão da suplementação de potássio, se não for suficiente, iniciar medidas medicamentosas → administração de Lesão Renal Aguda 22 gluconato ou cloreto de cálcio para reduzir risco de arritmias, por estabilizar a membrana cardíaca → inalação de beta-2-agonistas e infusão de glicose com insulina (solução polarizante) tem ação rápida e usadas na urgência, mas são transitórias, pois o potássio intracelular voltará par a circulação → reposição de bicarbonato é outra medida, pois a acidose pode induzir aumento do potássio sérico → a furosemida e resina de troca (sorcal) espoliam o potássio → se falharem, indica-se diálise. Acidose Metabólica: por bicarbonato baixo → tratar com reposição de bicarbonato EV se pH < 7,2, bicarbonato sérico < 12 ou BE < -10 → efeito colateral é a hipernatremia. Restrição de proteínas, embora seja uma medida adotada no tratamento conservador de paciente com DRC, está contraindicada em pacientes agudos, principalmente graves, independente da alteração de função renal ser aguda ou crônica → podem precisar de aportes proteicos maiores, aqueles em diálise ainda mais que os pacientes em tratamento clínico, para auxílio na recuperação. Pacientes que não ficam adequadamente compensados com o tratamento conservador da LRA têm indicação de suporte dialítico. Terapia Substitutiva Renal Pode ser necessária quando medidas clínicas são refratárias para o controle de manifestações graves ou potencialmente graves associadas a LRA → pode ser instituída nas modalidades hemodiálise ou diálise peritoneal (principalmente na pediatria). Indicações: sobrecarga de volume refratária → hipercalemia refratária → acidose metabólica refratária → uremia: pericardite, encefalopatia, rebaixamento do nível de consciência sem outras causas, diátese hemorrágica → intoxicações aguda: lítio com litemia > 6, etilenoglicol → evolução desfavorável com progressão de oligúria e azotemia. Lesão Renal Aguda 23 Podem ser classificadas pela duração do procedimento e se divide em: clássica (até 5 horas); estendida ou SLED (6 h ou mais); e contínua (24h ou mais) → pacientes que necessitem remoção rápida de solutos se beneficiam das intermitentes e aqueles que não podem ter variações rápidas se beneficiam das terapias contínuas. Indicações da contínua: instabilidade hemodinâmica; disnatremias (hiponatremia ou hipernatremia); lesão cerebral aguda; necessidade de grande perda volêmica; hipercatabolismo; lesão hepática fulminante. Prevenção Baseia-se em tratar a causa ou fator desencadeante e prevenir novos insultos. A otimização hemodinâmica inclui a correção dos fatores pré-renais → adequação de PA (PAM >65), hidratação e DC → medidas de prevenção são importantes para evitar novos insultos em pacientes já com LRA ou em recuperação de função renal e para prevenir a LRA em pacientes com alto risco de desenvolver a patologia. A suspensão de drogas nefrotóxicas e o ajuste de doses para a função renal fazem parte do pacote de medidas para prevenção da LRA. Contrastes iodados devem ser evitados quando não forem mudar a conduta a ser tomada com o paciente naquele momento, porém não se deve deixar de fazer exames e procedimentos que permitam o diagnóstico e tratamento adequado, dando preferência a exames que não usem contrastes iodados → usar contrastes iso ou hipo osmolares ao invés de contrastes hiperosmolares, nas menores quantidades possíveis → suspender medicações nefrotóxicas no dia do exame e realizar hidratação venosa com solução cristalóide. Resumão Lesão Renal Aguda 24 Lesão Renal Aguda 25
Compartilhar