Prévia do material em texto
Prática dos procedimentos especiais Prof. Guilherme Andrade Descrição Você vai conhecer as principais características de três procedimentos especiais de extrema importância prática no cotidiano jurídico, quais sejam, a ação monitória, as ações possessórias e os embargos de terceiro. Propósito Estudar os procedimentos especiais, principalmente a ação monitória, as ações possessórias e os embargos de terceiro, é fundamental para profissionais do direito, pois são procedimentos frequentemente usados na resolução de questões jurídicas cotidianas. Preparação Tenha em mãos o Código de Processo Civil. Objetivos Módulo 1 Ação monitória Identificar conceitos, características e regras do procedimento da ação monitória. Módulo 2 Ações possessórias Reconhecer os conceitos de posse e de possuidor, bem como as diversas espécies de ações possessórias e seus respectivos requisitos. Módulo 3 Embargos de terceiro Analisar a utilidade dos embargos de terceiro, a legitimidade para a propositura da ação e as consequências de seu julgamento. Introdução O tradicional estudo jurídico foca no procedimento comum, no cumprimento de sentença e nas execuções de títulos executivos extrajudiciais, deixando de lado diversos procedimentos especiais de grande importância prática. Existem diversos desses procedimentos especiais a serem estudados no processo civil, no entanto, a ação monitória, as ações possessórias e os embargos de terceiro têm grande recorrência nos processos judiciais, motivo pelo qual é imprescindível conhecer as principais características de cada um deles. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material 1 - Ação monitória Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car conceitos, características e regras do procedimento da ação monitória. javascript:CriaPDF() Aspectos gerais da ação monitória Neste vídeo, o especialista fará uma introdução sobre o que é a ação monitória e esclarecerá se ela é um procedimento impositivo ou uma faculdade ao autor. O que é ação monitória? A ação monitória é uma ação cujo procedimento especial é um meio-termo entre uma ação de conhecimento e uma ação de execução de título executivo extrajudicial. Acompanhe a definição de ambos para melhor entendimento: Ação de conhecimento Em um processo de conhecimento, o autor vai discutir a própria existência do direito afirmado, para, caso sejam julgados procedentes seus pedidos, executar a sentença transitada em julgado que lhe servirá de título executivo, nos termos do art. 515, I, do Código de Processo Civil (CPC). Ação de execução Em uma ação de execução de título executivo extrajudicial, o processo já se inicia com a adoção do rito executivo, uma vez que a petição inicial já vem instruída com um dos títulos executivos extrajudiciais previstos em lei, conforme dispõem os arts. 798, I, a, 783 e 786, todos do CPC). Na ação monitória, busca-se facilitar a obtenção de um título executivo com a adoção de uma técnica de cognição sumária, que prevê uma espécie de liminar para a determinação de pagamento imediato, quando o autor tiver instruído sua petição inicial com prova escrita, sem eficácia de título executivo, que demonstre a existência do direito de o credor exigir do devedor capaz o pagamento de quantia em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa (arts. 700 e 701 do CPC), e que prevê que, caso não haja o pagamento ou a defesa do devedor seja rejeitada, a decisão liminar será convertida em título executivo judicial (arts. 701, §2º, e 702, §8º, do CPC). Faculdade do autor A adoção do procedimento monitório é facultativa, isto é, caso queira, o autor pode optar por ajuizar uma ação de conhecimento de cobrança em vez de ajuizar a ação monitória, conforme o art. 785 do CPC: Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial. (art. 785 do CPC) O art. 785 do CPC trata da facultatividade do ajuizamento da ação de execução de título executivo extrajudicial quando autor tiver um título executivo extrajudicial. Utilizando-se o mesmo raciocínio, se o autor contar com uma prova escrita que demonstre a existência de um crédito, na forma do art. 700 do CPC, nada impede que, em vez de ajuizar uma ação monitória, ajuíze uma ação de cobrança pelo procedimento comum. Cabimento da ação monitória Neste vídeo, o especialista explicará o cabimento da ação monitória, o requisito da prova documentada e se é possível utilizá-la conta a Fazenda Pública ou incapaz. Admissibilidade Veja o que determina o art. 700 do CPC quanto à admissibilidade da ação monitória: Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I. o pagamento de quantia em dinheiro; II. a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III. o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. (art. 700 do CPC) Analisando o dispositivo legal, percebe-se que é admissível o ajuizamento da ação monitória quando o devedor contar com uma prova escrita, sem eficácia de título executivo, que demonstre a existência do direito de o credor exigir do devedor capaz o pagamento de quantia em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa. A lei não especifica o que vem a ser prova escrita, não existindo um conceito legal predefinido. No entanto, além do documento escrito propriamente, no qual conste, de forma expressa e clara, a existência do crédito, pode ser considerada prova escrita, para fins do ajuizamento da ação monitória, qualquer documento que contenha elementos indiciários da materialização de uma dívida. Não é necessário que o documento seja estreme de dúvida, bastando existir indícios da materialização da dívida. Pessoa acessando sua caixa de e-mail. Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça (STJ) que “a prova hábil a instruir a ação monitória, isto é, apta a ensejar a determinação da expedição do mandado monitório – a que aludem os arts. 1.102-A do CPC/1.973 e 700 do CPC/2.015 –, precisa demonstrar a existência da obrigação, devendo o documento ser escrito e suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado, não sendo necessária prova robusta, estreme de dúvida, mas sim documento idôneo que permita juízo de probabilidade do direito afirmado pelo autor” (AgInt no AREsp 2.251.889/SE, relator ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 24 de abril de 2023, DJe de 27 de abril de 2023). Assim, de acordo com a REsp 1.381.603/MS, relator ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 6 de outubro de 2016, DJe de 11 de novembro de 2016 – Informativo 593, a doutrina e jurisprudência admitem como prova escrita para fins do ajuizamento da ação monitória: Cheque De acordo com a Súmula 299 do STJ. Contrato de abertura de crédito O contrato deve ser de abertura de crédito em conta-corrente acompanhado do demonstrativo de débito, de acordo com a Súmula 247 do STJ. E-mail O e-mail no qual conste evidência da existência de dívida. A prova escrita mencionada pelo art. 700 do CPC não exige que o devedor tenha participado de sua formação. Sendo assim, a doutrina e a jurisprudência admitem como prova escrita: Faturas As faturas referentes à prestação de serviços, acompanhadas por planilha orçamentária (REsp 1.025.377/RJ, DJe de 4 de agosto de 2009, e REsp 925.584/SE, relator ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 9 de outubro de 2012). Notas Notas fiscais (AgRg no AREsp 763.885/RS, relator ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 27 de outubro de 2015, DJe de 5 de novembro de 2015). Duplicatas protestadas Duplicata sem aceite protestada (AgInt no AREsp 1.336.763/PA, relatorministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 19 de novembro de 2018, DJe de 22 de novembro de 2018). Duplicatas sem protesto Duplicatas sem aceite, sem protesto, mas com comprovante de entrega de mercadoria ou de prestação de serviços (AgRg no AREsp 559.231/PE, relator ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 10 de março de 2015, DJe de 17 de março de 2015). Prova documentada Algumas vezes, o credor pode não ter a prova escrita exigida pelo art. 700 do CPC para fins do ajuizamento da ação monitória. Exemplo Imagine a situação em que o credor emprestou determinada quantia em dinheiro para o devedor na frente de duas testemunhas, mas não formalizou esse empréstimo em um contrato escrito. Nessas hipóteses, o credor pode ajuizar uma ação probatória autônoma, na forma do art. 381, III, do CPC, a fim de que as testemunhas sejam ouvidas, e a prova produzida em audiência possa comprovar a existência da dívida e justificar o ajuizamento da ação monitória, conforme estabelece o §1º do art. 701 do CPC. Ação monitória contra a Fazenda Pública Muito já se discutiu a respeito da admissibilidade do ajuizamento da ação monitória contra a Fazenda Pública. No entanto, mesmo antes do CPC de 2015, a jurisprudência já havia consolidado esse entendimento, conforme se extrai da Súmula 339 do STJ (“É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”). Atualmente, o CPC de 2015 não deixa qualquer dúvida quanto ao cabimento de ação monitória contra a Fazenda Pública, prevendo apenas que, sendo concedida a liminar determinando a expedição de mandado de pagamento monitório (art. 701 do CPC), caso a Fazenda Pública não efetue o pagamento ou não apresente sua defesa (embargos monitórios), a decisão liminar que determinou a expedição de mandado de pagamento monitório será convertida, automaticamente, em título executivo judicial, e o processo seguirá, a partir de então, o rito do cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública previsto nos arts. 534 e 535 do CPC, cuja forma de pagamento é por meio de precatório ou requisição de pequeno valor, conforme estabelece o §4º do art. 701 do CPC. Homem analisando documento em frente ao seu computador. Ação monitória contra incapaz Em razão da especificidade e celeridade do rito, a ação monitória não poderá ser utilizada quando o devedor for incapaz, conforme se extrai do caput do art. 700 do CPC. Procedimento inicial Neste vídeo, o especialista tratará dos aspectos iniciais do procedimento da monitória, tais como eventuais requisitos da petição inicial, o papel da liminar e a finalidade da citação do réu. Petição inicial Na petição inicial da ação monitória, além dos requisitos previstos no art. 319 do CPC e da prova escrita demonstrativa da dívida, é imprescindível que o autor a instrua com o demonstrativo do débito atualizado e, tratando-se de pedido de entrega de coisa (móvel ou imóvel) ou de obrigação de fazer, com o valor atualizado da coisa ou o proveito econômico pretendido, sob pena de indeferimento da petição inicial, conforme se extrai da redação do art. 700, §2º, do CPC. Se a prova escrita que embasa a ação monitória for um cheque, o STJ tem o entendimento consolidado de que é dispensável expor, nos fundamentos da petição inicial, o negócio jurídico que deu origem ao crédito, conforme se extrai da Súmula 531. No entanto, tal entendimento deve ficar restrito a cheques e outros documentos que Homem preenchendo folha de talão de cheques. demonstrem, claramente, o débito de um devedor em relação ao credor e respectiva promessa de pagamento. Isso porque o documento escrito que serve de lastro ao ajuizamento da ação monitória não precisa ser prova robusta da dívida, bastando que tenha indícios quanto à existência do débito, como pode ocorrer nos casos em que a existência da dívida está registrada em um e-mail. Recomendação Nos casos em que a existência da dívida está registrada em um e-mail, é mais do que recomendável que o autor da petição inicial exponha sua causa de pedir, fazendo menção aos fatos que deram origem à dívida, a fim de que o magistrado possa analisar se, realmente, aquele documento (o e-mail) comprova a existência do crédito do autor. Liminar de mandado de pagamento monitório Ao analisar a petição inicial, se o juiz entender que o direito do autor é evidente, isto é, se entender que a prova escrita que instruiu a petição inicial demonstra, claramente, um crédito do autor em relação ao réu, deferirá, de forma liminar, a expedição de mandado de pagamento monitório, determinando que o réu efetue o pagamento do débito no prazo de 15 dias, acrescido de honorários advocatícios de 5% sobre o valor atribuído à causa, conforme se extrai do art. 701 do CPC. Dúvida quanto à idoneidade de prova documental Se, porventura, o juiz entender que a prova escrita não demonstra, nem de forma indiciária, a existência do crédito, intimará o autor para emendar a petição inicial, transformando-a em uma petição inicial de uma ação de cobrança, que tramitará pelo procedimento comum, conforme estabelece o §5º do art. 700 do CPC. Citação do réu Deferida a expedição do mandado de pagamento monitório na forma do art. 701 do CPC, o réu será citado por qualquer dos meios admitidos no procedimento comum, inclusive, se for o caso, por meio das citações fictas (citação por hora certa e citação por edital), conforme dispõem o §7º do art. 700 do CPC e a Súmula 282 do STJ (“Cabe a citação por edital em ação monitória”). Manifestação do réu Neste vídeo, o especialista explicará quais são as respostas do réu na ação monitória, discorrendo sobre o papel dos embargos monitórios e seus principais aspectos. Posturas do réu Ao ser citado e intimado da determinação de pagamento mencionada no art. 701 do CPC, o réu pode adotar três posturas diferentes. Primeira postura A primeira postura é satisfazer a obrigação. Se o réu efetuar o pagamento do valor devido no prazo de 15 dias, acrescido do percentual de 5% de horários advocatícios, a obrigação será satisfeita e o processo será extinto sem a condenação do réu ao pagamento das custas, conforme dispõe o art. 701, caput e §1º, do CPC. Comentário Perceba que a lei concede uma benesse ao devedor para estimulá-lo a efetuar o pagamento, autorizando que os honorários advocatícios que, em regra, são de 10%, sejam de 5% sobre o valor da causa, bem como isentando o réu do pagamento de custas. Destaca-se que a lei admite que o réu efetue o pagamento parcelado, da mesma forma que ocorre no processo de execução de título executivo extrajudicial, conforme determinam o §5º do art. 701 e o art. 916 do CPC. Dessa forma, ao ser citado para efetuar o pagamento no prazo de 15 dias, o réu poderá, depositando o equivalente a 30% do valor cobrado, acrescido de custas e de honorários de advogado, requerer que o restante da dívida seja pago em até seis parcelas mensais. Segunda postura A segunda atitude que o réu pode tomar ao ser citado e intimado da determinação de pagamento liminar é permanecer inerte. Nessa hipótese, a decisão que concedeu a liminar e determinou a expedição do mandado de pagamento monitório é convertida, automaticamente (de pleno direito), em título executivo judicial, e o procedimento passará a seguir o rito do cumprimento de sentença, conforme estabelece o §2º do art. 701 do CPC. Dessa forma, como não houve o pagamento do valor estabelecido no mandado de pagamento monitório, o credor deverá requerer o cumprimento de sentença, a fim de que o devedor seja intimado a pagar a quantia devida no prazo de 15 dias, sob pena do pagamento de multa de 10% e mais honorários advocatícios de 10%, nos termos do art. 513 do CPC. Mulher recebendo notificação judicial. Terceira postura Como última postura, o devedor poderá se opor à ação monitória, oferecendo embargos monitórios, conforme estabelece o art. 702 do CPC. Embargos monitórios De acordo com o art. 702 do CPC, “independentemente de préviasegurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são a defesa do réu no procedimento monitório, os quais poderão ser opostos, nos mesmos autos, independentemente de garantia do juízo, isto é, independentemente de o réu depositar em juízo o valor que lhe está sendo cobrado. A decisão que concedeu o mandado de pagamento monitório de forma liminar prevista no art. 701 fica suspensa até o julgamento dos respectivos embargos monitórios, conforme dispõe o §4º do art. 701 do CPC. A doutrina majoritária entende que os embargos monitórios teriam natureza jurídica de ação autônoma de impugnação, de forma semelhante ao que ocorre com os embargos à execução de título executivo extrajudicial. No entanto, o entendimento consolidado do STJ é de que os embargos monitórios têm natureza jurídica de contestação (REsp 1.713.099/SP, relatora ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9 de abril de 2019, DJe de 12 de abril de 2019), podendo o réu se utilizar de todas as alegações defensivas que seriam admissíveis no procedimento comum, conforme estabelece de forma expressa o §1º do art. 701. Dessa forma, o réu pode alegar, por exemplo, que a dívida não existe porque o contrato não é válido ou por já ter efetuado o pagamento. Poderá alegar também a prescrição e demais matérias de mérito, sem prejuízo das defesas processuais. Todavia, se o réu quiser alegar que o autor está pleiteando um valor superior ao que é devido, deverá dizer o valor que entende correto, apresentando uma planilha discriminada do respectivo valor, sob pena de os embargos monitórios serem rejeitados liminarmente ou, se esse não for o único fundamento, de não ser analisada a alegação de excesso, conforme dispõem os §§2º e 3º do art. 702 do CPC. Planilha de excel com valores discriminados em tela de computador. Ademais, quando o réu se limitar a impugnar parte do valor (reconhecendo, dessa forma, a existência parcial do crédito), o juiz poderá determinar que os embargos monitórios sejam autuados em apartado (como se fosse um processo autônomo, mas vinculado ao principal), situação em que haverá a conversão em título executivo judicial da parcela incontroversa, prosseguindo o feito principal pelo rito do cumprimento de sentença, sem prejuízo da análise dos embargos monitórios, conforme o §7º do art. 702 do CPC. Comentário Ressalta-se que o réu-embargante poderá oferecer reconvenção, não sendo admitida, entretanto, a reconvenção à reconvenção em sede de ação monitória, nos termos do §6º do art. 702 do CPC. Depois da apresentação dos embargos, se não for o caso de indeferimento ou rejeição liminar, o juiz mandará intimar o autor-embargado para apresentar réplica no prazo de 15 dias, conforme determina o §5º do art. 702 do CPC. Oferecida a réplica, é possível a realização de prova oral em audiência ou, mesmo, prova pericial, testemunhal, a fim de discutir a higidez da prova escrita, situação em que, depois de produzida a prova (ou se ela não for necessária), o juiz prolatará sentença. Sentença e recurso Neste vídeo, o especialista abordará o conteúdo da sentença da ação monitória, assim como quais são os recursos cabíveis nesse procedimento. Sentença Se o juiz, na sentença, acolher as alegações constantes nos embargos monitórios e entender que a prova escrita não demonstra a existência da dívida ou que ela está prescrita, prolatará sentença julgando improcedente os pedidos constantes na ação monitória. É evidente que, na sentença, o juiz poderá extinguir o processo sem resolução de mérito, caso acolha alguma preliminar processual alegada pelo réu, na forma do art. 337 do CPC. Por outro lado, se o juiz rejeitar os embargos monitórios, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, e o procedimento passará a seguir o rito do cumprimento de sentença, conforme estabelece o art. 702, §8º, do CPC. Mulher analisando informações em seu tablet. Recurso Contra a sentença proferida no julgamento da ação monitória e dos embargos monitórios, caberá apelação, nos termos do §9º do art. 702 do CPC. Na vigência do CPC de 1973, o STJ entendia que a referida apelação deveria ser recebida no duplo efeito, isto é, no efeito devolutivo e no efeito suspensivo (REsp 207.728/SP, relatora ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 17 de maio de 2001, DJe de 25 de junho de 2001, p. 169). No entanto, o CPC de 2015 passou a prever que a oposição dos embargos à ação monitória suspende a eficácia da decisão liminar que determinou a expedição de mandado de pagamento monitório (art. 701, CPC), tão somente, até o julgamento em primeiro grau (art. 702, §4º, CPC). Comentário Se a eficácia da decisão referida no §1º do art. 701 fica suspensa apenas até a decisão de primeiro grau, isto é, até a sentença, é evidente que apelação interposta será recebida apenas no efeito devolutivo, já que a decisão mencionada no art. 701 voltará a ter efeito imediato, com sua conversão em título executivo depois do julgamento dos embargos monitórios. Nesse sentido, o enunciado 134 do Conselho de Justiça Federal dispõe que “a apelação contra a sentença que julga improcedentes os embargos ao mandado monitório não é dotada de efeito suspensivo automático”. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Marco emprestou R$ 20 mil para seu amigo Yves, que se comprometeu a pagar a dívida no prazo de 60 dias. O negócio jurídico não foi celebrado por escrito, mas, apenas, de forma verbal. Transcorrido o prazo de 60 dias, Yves não honrou com o pagamento da dívida, e Marco começou a pressionar seu amigo para que honrasse com o compromisso assumido. Em determinada oportunidade, Marco enviou um e-mail para Yves questionando o motivo pelo qual não estava atendendo a suas ligações e a data em que Yves efetuaria o pagamento da dívida de R$ 20 mil. Yves respondeu o e-mail pedindo desculpas para Marco e reconheceu que estava devendo aquela quantia, mas explicou que, naquele momento, não tinha condições de efetuar o pagamento da dívida. Inconformado, Marco ajuizou uma ação monitória contra Yves, com base no e-mail, pleiteando os R$ 20 mil. O juiz deferiu a expedição do mandado de pagamento monitório na forma do art. 701 do CPC, determinando a citação do réu para efetuar o pagamento da dívida no prazo de 15 dias. Citado, Yves apresentou embargos monitórios alegando que o e- mail utilizado pelo autor Marco não poderia dar ensejo ao ajuizamento da ação monitória por não se tratar de uma prova escrita demonstrativa de uma dívida, conforme exige o art. 700 do CPC. Considerando as alegações formuladas nos embargos monitórios, exponha, de forma fundamentada, se assiste razão ao réu. Digite sua resposta aqui Exibir solução Você deve saber que, de acordo com o art. 700, I, do CPC, a ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz o pagamento de quantia em dinheiro. Segundo o STJ, a prova hábil a instruir a ação monitória precisa demonstrar a existência da obrigação, devendo o documento ser escrito e suficiente para, efetivamente, influir na convicção do magistrado acerca do direito alegado, não havendo necessidade de prova robusta, estreme de dúvida, mas sim de documento idôneo que permita juízo de probabilidade do direito afirmado pelo autor. Nesse sentido, doutrina e jurisprudência admitem como prova escrita para fins do ajuizamento da ação monitória o correio eletrônico (e-mail), sendo certo que, no caso em tela, o referido e- mail foi suficiente para demonstrar a existência da dívida, tendo em vista que o próprio réu reconhece sua existência, afirmando, tão somente, não ter condições de efetuar o pagamento naquele momento. Sendo assim, não assiste razão ao réu. 2 - Ações possessórias Ao �nal deste módulo, você serácapaz de reconhecer os conceitos de posse e de possuidor, bem como as diversas espécies de ações possessórias e seus respectivos requisitos. Aspectos gerais das ações possessórias Neste vídeo, o especialista fará uma introdução sobre o papel das ações possessórias e a figura do possuidor, a competência e a fungibilidade. Conceito de possuidor e ações possessórias O art. 1.196 do Código de Processo Civil (Código Civil), adotando a teoria objetiva a respeito do conceito de posse, formulada por Rudolf von Ihering, estabeleceu que “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Por essa teoria, portanto, para ser considerado possuidor basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa ou que tenha a mera possibilidade de ter esse contato, exercendo algum dos poderes inerentes à propriedade, tais como a faculdade de usar, gozar ou dispor da coisa, nos termos do art. 1.228 do CPC. Assim, é prescindível o ânimo de ser dono para que alguém seja considerado possuidor, motivo pelo qual podem ser incluídos nesse conceito o locatário ou o comodatário. O CPC de 2015 estipulou três espécies de ações para a proteção do direito à posse, as quais, basicamente, diferenciam-se em razão da efetiva ocorrência ou não da perda dessa posse. São elas: Ação de reintegração de posse De acordo com o art. 560 do CPC. Ação de manutenção de posse De acordo com o art. 560 do CPC. Interdito proibitório De acordo com o art. 561 do CPC. Será cabível a ação reintegração de posse quando já tiver ocorrido o esbulho possessório, isto é, a perda da posse. No entanto, se ainda não ocorreu o esbulho, mas a posse está sendo turbada (incomodada ou violentada) no momento do ajuizamento da ação, o autor deverá ajuizar a ação de manutenção de posse. Nesse sentido, estabelece o art. 560 do CPC que “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho”. Por outro lado, se o esbulho não ocorreu e se não está ocorrendo a turbação da posse no momento do ajuizamento da ação, isto é, se há apenas um justo receio que sua posse possa ser molestada, o possuidor deverá ajuizar uma ação de interdito proibitório, conforme dispõe o art. 567 do CPC. Princípio da congruência X Fungibilidade das ações possessórias Ao analisar as espécies de ações possessórias, bem como as hipóteses de cabimento, percebe-se que as situações legitimadoras do ajuizamento de cada ação demonstram situações fáticas que, muitas vezes, são muito próximas e variantes no tempo. Assim, por exemplo, imagine-se a situação em que um fazendeiro toma ciência de que um grupo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra está se dirigindo para sua fazenda com intuito de se apossar dela. Nesse primeiro momento, o fazendeiro tem apenas um justo receio de ter a posse de sua terra molestada, razão pela qual a ação correta a ser ajuizada é a ação de interdito proibitório, nos termos do art. 567 do CPC. Fazendeiro preocupado olhando ao horizonte em sua fazenda. A situação fática relatada é cambiante, de modo que existe a possibilidade de, no momento do ajuizamento da ação, ou, até mesmo, quando o magistrado for analisar a petição inicial da ação de interdito proibitório, o grupo já ter invadido a fazenda. Para não deixar o legítimo possuidor desguarnecido de proteção jurídica, o art. 554 do CPC prevê a fungibilidade entre as ações possessórias, estabelecendo que “a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”. Dessa forma, ainda que o autor tenha ajuizado uma ação de interdito proibitório, requerendo apenas uma liminar para que os réus se abstenham de molestar sua posse, o magistrado, verificando que já ocorreu o esbulho, poderá conceder a reintegração de posse. Trata-se de uma exceção do princípio da congruência previsto nos arts. 141 e 492 do CPC. Competência De acordo com o art. 47, §2º, do CPC, “a ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta”. Por se tratar de competência absoluta, ainda que o réu não tenha alegado a incompetência em sede de preliminar, o magistrado poderá reconhecer a incompetência de ofício, caso verifique que a ação possessória imobiliária não foi ajuizada no foro da situação da coisa, nos termos do art. 64, §1º, do CPC. Comentário Ressalta-se, todavia, que nem todas as ações possessórias têm como objeto um bem imóvel, podendo existir ação possessória de coisa móvel (um veículo, por exemplo), situação em que o foro competente para processar e julgar a ação será o domicílio do réu, nos termos do art. 46 do CPC. Legitimidade e procedimento Neste vídeo, o especialista discorrerá sobre a legitimidade ativa e a passiva nas ações possessórias, assim como sobre o procedimento dessas ações. Legitimidade A legitimidade para ajuizar a ação possessória pertence, obviamente, ao possuidor, sendo ele direto ou indireto. Assim, por exemplo, em uma situação em que existe um contrato de locação de um imóvel entre o locador (possuidor indireto) e o locatário (possuidor direto), se, por acaso, um terceiro esbulha esse imóvel, tanto o locador (possuidor indireto) como o locatário (possuidor direto) podem ajuizar a ação de reintegração de posse. Da mesma forma, o possuidor direto pode ajuizar uma ação possessória contra o possuidor indireto, por exemplo, na hipótese em que o proprietário, mesmo no curso do contrato de locação, tente reaver indevidamente e à força o imóvel, conforme estabelece o art. 1.197 do CPC. O detentor, todavia, não pode ajuizar ação possessória. Nos termos do art. 1.198 do CPC, “considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”. Um caseiro, portanto, que conserva uma casa em nome e sob as ordens de seu dono, é considerado um simples detentor, não podendo ajuizar a ação possessória para defender a respectiva posse. Caseiro realizando reparos no telhado de uma casa. Com relação à legitimidade passiva, será réu aquele que for apontado pelo autor como esbulhador ou turbador, e essa figura pode recair até mesmo sobre o poder público (estado ou município, por exemplo), não sendo incomuns situações em que o poder público invade imóvel de particular. A peculiaridade, todavia, é que não será admissível a concessão de decisão liminar de reintegração ou manutenção de posse contra o poder público sem o ouvir previamente, conforme dispõe o parágrafo único do art. 562 do CPC. Procedimento O CPC criou um procedimento especial para as ações possessórias, que está previsto a partir do art. 560. No entanto, esse procedimento especial das ações possessórias somente será aplicado nas ações de força nova (posse nova), isto é, aquelas ações ajuizadas no prazo de um ano e um dia, contado da data da turbação ou do esbulho, conforme o caput do art. 558 do CPC. Ultrapassado o prazo de um ano e um dia da turbação ou do esbulho, estaremos diante de uma ação de força velha (posse velha), a qual não tramitará pelo procedimento especial previsto nos arts. 560 e seguintes do CPC, mas sim pelo procedimento comum (arts. 318 e seguintes), situação que, todavia, não perderá seu caráter possessório, nos termos do que estabelece o parágrafo único do art. 558. Comentário Ressalte-se que a diferença significativa entre o procedimento especial das ações possessórias e o procedimento comum é a liminar prevista no art. 562 do CPC, a qual se trata de uma espécie de tutela de evidência, que dispensa a demonstração do perigo da demora, bastando que autor demonstre a presença dos requisitos no art. 561 do CPC, especialmente, sua posse anterior e a turbação ou esbulho. Isso quer dizer que, apenas nas ações de força nova, poderá conceder-sea liminar prevista no art. 562 do CPC, que não poderá ser concedida nas ações que tramitam pelo procedimento comum. No entanto, mesmo que não seja admissível a concessão da tutela de evidência liminar prevista no art. 562 do CPC, poderá ser concedida a tutela provisória de urgência antecipada, desde que o autor demonstre a presença de seus requisitos, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo da demora (art. 300 do CPC). Nesse sentido, “o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que é possível a concessão de tutela antecipada em ação possessória de força velha, desde que preenchidos os requisitos do art. 300 do CPC” (AgInt no AREsp 1.089.677/AM, relator ministro Lázaro Guimarães – desembargador convocado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, Quarta Turma, julgado em 8 de fevereiro de 2018, DJe de 16 de fevereiro de 2018). Petição inicial e liminar Neste vídeo, o especialista abordará a petição inicial das ações possessórias, a admissibilidade ou não de exceção de domínio, assim como aspectos da concessão de liminar. Petição inicial A petição inicial deverá ser destinada ao juízo cível da comarca do local onde está situado o imóvel, caso se trate de bem imóvel, em alinhamento com a redação do art. 47, §2º, do CPC (por exemplo, excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da vara cível da comarca de tal município). Além dos requisitos previstos no art. 319 do CPC, o autor deverá provar que era, de fato, possuidor do imóvel, bem como a data da turbação ou do esbulho, conforme dispõe o art. 561 do CPC. Sobre a comprovação da posse, é imprescindível fazer duas considerações, segundo a REsp 930.336/MG, relator ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6 de fevereiro de 2014, informativo 535: Em primeiro lugar, deve o autor comprovar sua posse logo na petição inicial, por meio de prova documental, utilizando-se de comprovantes de residência, fotos etc. Isso porque, caso haja a efetiva comprovação da Em segundo lugar, cumpre esclarecer que, mesmo que não esteja comprovada a posse na petição inicial, o autor poderá fazê-lo durante o curso do processo, mas, caso, ao fim do processo, o autor não tenha logrado posse, o juiz deferirá a liminar de reintegração ou manutenção de posse, na forma do art. 562 do CPC. êxito em comprovar a posse, o processo deverá ser extinto com resolução de mérito, fazendo coisa julgada material sobre a questão. Exceção de domínio A ação possessória visa discutir o direito à posse, e não o direito de propriedade. Tanto é assim que há situações em que ação possessória poderá ser ajuizada pelo possuidor direto em face do proprietário do imóvel. Não por outro motivo, o CPC veda a alegação de exceção de domínio, conforme se extrai da redação do art. 557 do CPC. Dessa forma, em regra, é irrelevante a alegação e discussão quanto à propriedade, interessando à ação possessória saber quem, legitimamente, detém a posse do imóvel. Há situações, porém, em que a discussão possessória tem por pano de fundo o direito de propriedade. Exemplo Pense na hipótese em que duas pessoas estão discutindo a posse do imóvel alegando que têm um título de propriedade legítimo, o que lhes daria, consequentemente, o direito de possuir o imóvel de forma legítima. Nesse caso, para esclarecer quem tem a melhor posse, terá de ser analisado o direito de propriedade, motivo pelo qual, além de permitido, há necessidade do debate a respeito do direito de propriedade, conforme estabelecido pelo enunciado da Súmula 487 do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o qual “será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”. Cumulação de pedidos Nessa petição inicial, o autor também poderá formular, além do pedido de proteção possessória, o pedido de condenação em perda e danos e indenização dos frutos, conforme o art. 555 do CPC. Assim, por exemplo, nas ações de reintegração de posse, é comum que o autor formule um pedido de fixação de aluguel ou taxa de ocupação, em razão do tempo de utilização do imóvel. Liminar – tutela de evidência Nos termos do que dispõe o art. 562 do CPC, se a petição inicial estiver devidamente instruída, isto é, se o autor tiver comprovado sua posse e o esbulho e a turbação, o juiz deferirá a liminar de reintegração ou de manutenção de posse. Audiência de justi�cação Pode ser, todavia, que o Juiz entenda não estar provada a posse do autor, situação em que, em vez de indeferir, de plano a liminar, deverá marcar uma audiência de justificação, de acordo com o que determina a parte final do art. 562. A audiência de justificação servirá para que o autor possa, como o nome já indica, justificar sua posse, isto é, possa comprovar sua posse, seja por meio de novos documentos, seja por meio de testemunhas. Ressalte-se que o réu também será citado para comparecer a essa audiência de justificação, podendo também levar documentos e testemunhas. Se, depois da audiência de justificação, o juiz entender que o autor, agora sim, comprovou sua posse e o esbulho (ou turbação), será concedida a liminar de reintegração/manutenção de posse, nos termos do art. 563 do CPC. Contestação e procedimento comum Neste vídeo, o especialista discorrerá sobre a contestação nas possessórias, a incidência do procedimento comum e a possível utilização dos litígios coletivos possessórios. Contestação A contestação da ação possessória deverá ser apresentada no prazo de 15 dias. O termo inicial para a apresentação da contestação vai variar. Se, por acaso, tiver sido deferida a liminar de reintegração/manutenção de posse na forma do art. 562, o dia do começo do prazo é o dia da juntada aos autos do mandado de citação, na forma do art. 231, II, do CPC (lembrando que o dia do começo do prazo deve ser excluído – art. 224 do CPC). Se, porventura, o juiz tiver marcado a audiência de justificação, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar, nos termos do parágrafo único do art. 564 do CPC. Costuma-se dizer que a ação possessória tem natureza dúplice, pelo fato de o réu poder formular, em sede de contestação, e independentemente de reconvenção, a proteção possessória quando entender que, na verdade, sua posse que está sendo violada pelo autor, nos termos do art. 556 do CPC. Confira as matérias de defesa mais comuns de serem alegadas: A legitimidade da posse do réu Procedimento comum Depois da apresentação da contestação, o processo continuará seguindo, agora, pelo procedimento comum, podendo, se for o caso, ser realizada audiência de instrução de julgamento para a oitiva de testemunhas e das partes, bem como determinada a realização de perícia para fins de apuração da indenização pelas benfeitorias. Litígios coletivos possessórios O CPC de 2015 trouxe algumas previsões específicas para situações em que tiver um grande número de pessoas no polo passivo. Para fins de nosso estudo, basta a leitura atenta dos §§ 1º a 3º do art. 554 e do art. 565 do CPC. Falta pouco para atingir seus objetivos. A ocorrência de usucapião A indenização pelas benfeitorias O direito de retenção Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Edison alugou um imóvel de sua propriedade para Felipe. Ainda durante o prazo de locação, os dois tiveram uma discussão por razões políticas via WhatsApp. Revoltado com a opinião de Felipe, Edison, sabendo que Felipe estava passando o fim de semana fora de casa, invadiu o imóvel que constituía objeto do contrato de locação e impediu o retorno de Felipe ao local. Por tal motivo, Felipe ajuizou ação de reintegração de posse contra Edison, alegando o esbulho possessório por parte do locador e pedindo a liminar de reintegração de posse. Antes mesmo da apreciação do requerimento da liminar pelo juiz, Edison apresentou contestação aos autos argumentando que não assistiria razão a Felipe, não sendo possível pedir a reintegração de posse contra o próprio proprietáriodo imóvel. Diante da situação narrada e considerando verdadeiros todos os fatos mencionados, explique, de forma fundamentada, se a liminar de reintegração de posse deve ser deferida. Digite sua resposta aqui Exibir solução Você deve saber que, inicialmente, cumpre ressaltar que, de acordo com o art. 560 do CPC, “o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho”. Além disso, segundo o art. 1.196, “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. No caso em análise, Felipe é considerado legítimo possuidor do imóvel de propriedade de Edison, pois, em razão de um contrato de locação, passou a utilizar e gozar do imóvel para fins de moradia, razão pela qual pode defender sua posse contra quem a turbe ou a esbulhe, nos termos do art. 1.210 do Código Civil e do art. 560 do CPC. Nesse ponto, vale ressaltar que, de acordo com o art. 1.197 do CPC, “a posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender sua posse contra o indireto”. Dessa forma, Felipe, locatário, é considerado possuidor direto do imóvel e pode defender sua posse contra o proprietário e possuidor indireto do imóvel, Edison, o qual esbulhou a posse do primeiro de forma ilegítima. Sendo assim, estando demonstrada a legítima posse do autor Felipe e que o réu Edison invadiu o imóvel objeto do contrato de locação apenas por discussões políticas, restou comprovado o esbulho possessório por parte do locador, o que autoriza a concessão de liminar de reintegração de posse na forma do art. 562 do CPC. 3 - Embargos de terceiro Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a utilidade dos embargos de terceiro, a legitimidade para a propositura da ação e as consequências de seu julgamento. Conceito Os embargos de terceiro são uma ação de conhecimento, ajuizada por um terceiro estranho ao processo, com o objetivo de evitar (ameaça) ou desconstituir o chamado esbulho judicial de algum bem de que seja proprietário. Isto é, os embargos de terceiro têm por objetivo evitar ou desconstituir ato de constrição judicial (penhora, arresto, sequestro, busca e apreensão etc.) praticado no processo principal que tenha atingido algum bem de posse ou propriedade de um terceiro estranho ao processo, conforme dispõe o art. 674 do Código de Processo Civil (CPC). Legitimidade Neste vídeo, o especialista analisará o papel dos embargos de terceiro e as principais questões sobre sua legitimidade passiva e ativa. Legitimidade ativa A legitimidade para o ajuizamento dos embargos de terceiro pertence àquele possuidor ou proprietário que teve seu bem constrito em um processo principal do qual não faz parte. Vale ressaltar que a legitimidade para a apresentação dos embargos de terceiro estende-se até mesmo ao proprietário fiduciário, que é aquele que detém a propriedade fiduciária (espécie de direito real de garantia para pagamento de um débito), mas que nunca teve a posse direta do bem, conforme o §1º do art. 674 do CPC. Assim, por exemplo, imagine que alguém penhora um imóvel de um devedor para pagamento de uma dívida, mas esse imóvel, antes, já havia sido alienado fiduciariamente para a instituição financeira, como garantia do pagamento do financiamento para a aquisição do próprio imóvel. Nessa situação, essa instituição financeira poderá ajuizar embargos de terceiro, a fim de questionar a penhora, pois o imóvel lhe foi alienado fiduciariamente, motivo pelo qual não pode ser objeto de penhora. Conceito de penhora de imóvel. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem o entendimento pacífico de que “como a propriedade é do credor fiduciário, inviável recair a penhora sobre o próprio imóvel para saldar dívida do devedor fiduciante, ressalvando-se, contudo, a possibilidade de constrição dos direitos decorrentes do contrato de alienação fiduciária pelas vias ordinárias” (AgInt no REsp 1.485.972/SC, relator ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 14 de junho de 2021, DJe de 17 de junho de 2021). É muito comum que as pessoas celebrem compromisso de compra e venda de um imóvel, mas não levem esse contrato a registro perante o cartório do registro geral de imóveis (RGI). Isso faz o promitente comprador do imóvel poder vir a ter seu imóvel penhorado em razão de uma dívida do antigo proprietário (promitente vendedor). Com efeito, pode ser que o credor desse proprietário (promitente vendedor), ao diligenciar a respeito da existência de bens penhoráveis, verifique a existência de um imóvel registrado no RGI em nome do devedor (promitente vendedor). E, como não há qualquer informação a respeito de uma promessa de compra e venda desse bem, é natural que o credor peça a penhora e alienação desse imóvel em juízo. No entanto, se já houve a celebração da promessa de compra e venda desse imóvel, com a transferência da posse para o promitente comprador, o promitente comprador pode ajuizar embargos de terceiro para defender sua posse, conforme autorizado pela Súmula 84 do STJ, que estabelece que “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro”. Homem analisando documento de forma concentrada. Além dos legitimados anteriores, o CPC estende a legitimidade para o ajuizamento dos embargos de terceiro, de forma expressa, a quatro sujeitos, conforme se extrai da redação do art. 674, §2º. Sem prejuízo da devida importância dos demais legitimados, o caso mais comum no cotidiano forense é a apresentação dos embargos de terceiro pelo cônjuge não contratante do devedor (art. 674, §2º, I, CPC), o que justifica algumas considerações. O inciso I do §2º do art. 674 do CPC outorga a legitimidade para o cônjuge ou companheiro defender a posse de seus bens próprios ou de sua meação. Isso porque o CPC estipula, nos arts. 1.643 e 1.644, a responsabilidade solidária dos cônjuges quando apenas um deles contrair dívidas em benefício da família. Nessas situações, é comum que, ainda que não tenha celebrado o contrato, o cônjuge não contratante tenha seus bens próprios ou sua meação penhorados para o pagamento de dívida contraída pelo outro cônjuge, que celebrou o negócio jurídico, nos termos do que dispõe o art. 790, IV, do CPC. Sendo, portanto, penhorado algum bem seu de propriedade exclusiva ou sua meação, o cônjuge poderá tanto opor os embargos à execução como ajuizar uma ação de embargos de terceiro, a fim de comprovar que a dívida não reverteu em benefício da família, o que afastaria sua responsabilidade prevista nos arts. 1.643 e 1.644 do CPC. Nesse sentido, entende o STJ que “a intimação do cônjuge enseja-lhe a via dos embargos à execução, nos quais poderá discutir a própria causa debendi e defender o patrimônio como um todo, na qualidade de litisconsorte passivo do(a) executado(a) e a via dos embargos de terceiro, com vista à defesa da meação a que entende fazer jus” (AgInt no REsp 1.680.021/AL, relator ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 21 de novembro de 2017, DJe de 27 de novembro de 2017). Fachada do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Ademais, mesmo que o cônjuge já tenha sido intimado da penhora sobre o imóvel do cônjuge do devedor, na forma do art. 842 do CPC (“Recaindo a penhora sobre bem imóvel ou direito real sobre imóvel, será intimado também o cônjuge do executado, salvo se forem casados em regime de separação absoluta de bens”), poderá ajuizar a ação de embargos de terceiro, conforme estabelece a Súmula 134 do STJ, segundo a qual “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”. Por fim, ressalta-se que, embora, nos embargos à execuçãoou nos embargos de terceiro, tenha sido reconhecida a propriedade exclusiva de seus bens ou a proteção de sua meação, isso não impedirá que o imóvel que também pertence ao outro cônjuge devedor (ressalvados os casos de imóveis considerados bem de família) seja integralmente levado a leilão judicial, situação em que, do saldo apurado, será reservada a quota-parte do cônjuge que não celebrou o negócio jurídico, de acordo com o art. 843, caput e §2º, do CPC. Legitimidade passiva Dispõe o art. 677, §4º, do CPC que “será legitimado passivo o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, assim como o será seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial”. Na leitura do dispositivo legal, note que a legitimidade passiva nos embargos de terceiro será do exequente do processo principal que conseguiu a penhora do bem. No entanto, se o executado ofereceu o referido bem à penhora, na forma do art. 829, §2º, do CPC, haverá um litisconsórcio entre o exequente e o executado. Competência e prazo para o ajuizamento Neste vídeo, o especialista explicará as regras sobre a competência para os embargos de terceiro, assim como sobre seu prazo para ajuizamento. Competência Dispõe o art. 676 do CPC que “Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo que ordenou a constrição e autuados em apartado”. Pela análise do dispositivo legal, percebe-se que, como regra, a competência para julgar os embargos de terceiro será do juízo que determinou a penhora ou outra constrição do bem. Sendo assim, o interessado deverá destinar a petição dos embargos de terceiro ao juízo onde tramita a ação principal onde ocorreu a penhora, distribuindo o processo por dependência (por exemplo, excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da 3ª Vara Cível da comarca da capital do estado do Rio de Janeiro... processo XXXXX). Prazo para o ajuizamento De acordo com o art. 675 do CPC, “os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta”. Segundo o dispositivo legal, se a constrição do bem ocorreu na fase de conhecimento (em razão de uma tutela provisória de urgência, antecipada ou cautelar, por exemplo), o prazo para opor os embargos é até o trânsito em julgado da sentença. No entanto, se a constrição só ocorreu na fase de cumprimento de sentença ou então em um processo de execução, o prazo para opor os embargos é até cinco dias contados da expropriação judicial do bem (adjudicação, alienação por iniciativa particular, ou arrematação em leilão), mas sempre antes da assinatura da respectiva carta (carta de adjudicação ou carta de arrematação). Em que pese a previsão legal, o STJ vem entendo que o prazo de cinco dias depois da arrematação e antes de assinada a carta só tem cabimento se o terceiro tinha conhecimento da execução. Caso contrário, isto é, se o terceiro não tinha conhecimento da execução, esse prazo de cinco dias será contado a partir do momento da imissão na posse por parte do arrematante, pois será nesse momento que, sem dúvidas, o terceiro terá conhecimento do esbulho judicial (AgInt no AREsp 1.747.126/RJ, relator ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 3 de abril de 2023, DJe de 25 de abril de 2023). Procedimento dos embargos de terceiro Neste vídeo, o especialista abordará aspectos da petição inicial, citação, liminar e resposta nos embargos de terceiro. Petição inicial De acordo com o art. 677 do CPC, o embargante deverá, em sua petição inicial, fazer a prova sumária de seu domínio ou de sua posse, isto é, deverá juntar farta documentação, a fim de demonstrar ser o real possuidor ou proprietário do imóvel. Caso o autor não conte com tamanha documentação para fazer a prova sumária de sua posse ou de seu domínio, nada impede que requeria a designação de audiência preliminar, a fim de que leve testemunhas para comprovar tal fato, conforme o §1º do art. 677 do CPC. Diferentemente do procedimento comum, em que o rol de testemunhas deve ser juntado no prazo de 15 dias depois da decisão que defere a produção de prova oral em audiência (art. 357, §4º, do CPC), o autor deverá juntar o rol de testemunhas logo na petição inicial dos embargos de terceiro, sob pena de preclusão (REsp 362.504/RS, relator ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 4 de abril de 2006, DJ de 23 de maio de 2006, p. 135). Liminar Se o juiz entender que o autor demonstrou, em sua petição inicial, ser o real possuidor ou proprietário do bem, poderá conceder uma liminar suspendendo, provisoriamente, os atos constritivos e mantendo ou reintegrando, também provisoriamente, o terceiro na posse do bem, de acordo com o art. 678 do CPC. Citação Segundo o art. 677, §3º, do CPC, “a citação será pessoal, se o embargado não tiver procurador constituído nos autos da ação principal”. Interpretando-se em sentido contrário, percebe-se que, como regra, o réu na ação de embargos de terceiro (exequente no processo principal) será citado na pessoa de seu advogado, independentemente de o advogado ter ou não poderes para receber citação, uma vez que se trata de determinação legal. Nesse sentido, já decidiu o STJ que “[...] considera-se válida a citação da parte embargada, realizada em sede embargos de terceiro, em nome de seu advogado, devidamente constituído nos autos, sendo desnecessária procuração que confira poderes especiais ao patrono para tanto, porquanto se trata de situação excepcional, na qual a própria lei conferiu poderes especiais ao causídico [...]” (AgRg no REsp 1.432.121/DF, relator ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 5 de maio de 2015, DJe de 14 de maio de 2015). Contestação A contestação dos embargos de terceiro deverá ser apresentada no prazo de 15 dias. Nela, o réu poderá apresentar toda a matéria de defesa possível, de acordo com o art. 679 do CPC. Procedimento comum Depois da apresentação da contestação, estabelece o art. 679 do CPC que será seguido o procedimento comum, com a apresentação de réplica, especificação de provas, decisão de saneamento e organização do processo, audiência de instrução de julgamento e sentença. Sentença dos embargos de terceiro Neste vídeo, o especialista explicará as regras sobre a sentença nos embargos de terceiro, especialmente passando pelo Tema Repetitivo 872 do STJ. Características Segundo o art. 681 do CPC, “acolhido o pedido inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da reintegração definitiva do bem ou do direito ao embargante”. No processo civil, vigora o princípio da causalidade, situação em que quem deu causa ao ajuizamento da ação deverá responder pelos encargos sucumbenciais, mesmo que tenha sido vencedor na ação. Nesse sentido, dispõe a Súmula 303 do STJ que “em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios”. Da mesma forma, o STJ, no julgamento do Tema Repetitivo 872, fixou a seguinte tese: Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro. (REsp 1.452.840/SP, relator ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 14 de setembro de 2016, DJe de 5 de outubro de 2016) Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticaralguns conceitos? Questão 1 Roberto, casado com Julia pelo regime da comunhão parcial de bens desde 2010, era sócio-administrador da pessoa jurídica Nerd On-Line Comércio de Eletrônicos Ltda., da qual não faz parte sua esposa. Durante o exercício de atividades empresariais, a empresa Nerd On-Line Comércio de Eletrônicos Ltda. vendeu diversos produtos eletrônicos ao consumidor Bruno pelo valor de R$ 30 mil. Ocorre que os produtos apresentaram diversos vícios, que não foram sanados voluntariamente de forma extrajudicial pela referida empresa. Por tal motivo, Bruno ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais contra a empresa Nerd On-Line Comércio de Eletrônicos Ltda., perante a 10ª Vara Cível da comarca da capital do estado X (processo 123456- 78.2023.8.19.0001), tendo o pedido sido julgado procedente para condenar a empresa ré a restituir a quantia de R$ 30 mil a título de danos materiais, bem como a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil. Transitada em julgado a sentença, Bruno iniciou o cumprimento de sentença contra a empresa Nerd On-Line Comércio de Eletrônicos Ltda., o qual, todavia, restou infrutífero ante a inexistência de bens penhoráveis em nome da empresa. Sendo assim, Bruno instaurou o incidente de desconsideração da personalidade jurídica da empresa ré, com fundamento no §5º do art. 28 do CPC, pleiteando o afastamento da personalidade jurídica da Nerd On-Line Comércio de Eletrônicos Ltda., a fim de que fossem atingidos os bens do sócio-administrador Roberto. Depois de regular tramitação do incidente, o juízo da 10ª Vara Cível deferiu a desconsideração da personalidade jurídica, a fim de que os bens de Roberto passassem a responder pelo pagamento da dívida, o que levou Bruno a pedir a penhora on-line dos valores eventualmente encontrados em nome de Roberto. Feita a solicitação de bloqueio, o juízo constatou a existência de uma quantia de R$ 30 mil depositada em conta conjunta em nome de Roberto e sua esposa Julia, tendo Bruno insistido na realização do bloqueio integral dos valores, ante a existência de solidariedade em relação aos valores depositados em conta-corrente conjunta, o que foi deferido pelo juízo da 10ª Vara Cível. Não bastasse isso, Bruno pediu a penhora de um imóvel de veraneio situado no município de Búzios, avaliado em R$ 2 milhões, adquirido pelo devedor Roberto no ano de 2012, quando já era casado com Julia, o que também foi deferido pelo juízo, determinando-se a penhora integral do imóvel. Julia foi regularmente intimada a respeito da penhora do imóvel, na forma do art. 842 do CPC. Mais de trinta dias úteis depois, mas antes da transferência dos valores penhorados na conta-corrente e antes da alienação do imóvel penhora, Julia procura um advogado para solucionar seus problemas. Imagine que você é o(a) advogado(a) de Julia e elabore a peça processual cabível para a defesa dos interesses de sua cliente, indicando seus requisitos e fundamentos, nos termos da legislação vigente. Digite sua resposta aqui Exibir solução Você deve saber que a peça correta para defender os interesses de Julia é a petição inicial da ação de embargos de terceiro. O foro competente é o da 10ª Vara Cível da comarca da capital do estado X, devendo ser requerida a distribuição por dependência aos autos do processo principal (processo 123456- 78.2023.8.19.0001), na forma do art. 676 do CPC. Julia deverá figurar como autora dos embargos de terceiro e Bruno, como réu. As partes devem estar devidamente qualificadas. A autora deverá indicar a tempestividade dos embargos de terceiro, nos termos do art. 675 do CPC. Ainda no começo da petição inicial, a autora deverá mencionar que, mesmo que tenha sido intimada da penhora sobre o imóvel, isso não impede que ajuíze a ação de embargos de terceiro, conforme estabelece a Súmula 134 do STJ, segundo a qual “embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”. Também no começo da petição inicial, a autora deverá fazer um tópico alertando a respeito do requerimento de suspensão liminar da constrição dos bens, ante a prova sumária de sua qualidade de terceiro e da propriedade dos valores depositados na conta- corrente e de sua meação sobre o imóvel, conforme estabelecem os arts. 676 e 677 do CPC. Na petição inicial, deverá ressaltar que não desconhece que as dívidas contraídas por um dos cônjuges em benefício da família obrigam solidariamente ambos os cônjuges, conforme dispõem os arts. 1.643 e 1.644 do CPC. No entanto, deverá a autora alegar que a dívida mencionada nos autos não foi revertida em favor da família, já que diz respeito à responsabilidade civil de uma pessoa jurídica da qual não faz parte, motivo pelo qual não pode ter seus bens penhorados. Nesse sentido, a autora deverá alegar que o exequente não pode solicitar a penhora integral dos valores depositados na conta- corrente conjunta, tendo em vista que a solidariedade existente entre os titulares da conta e a instituição financeira não se estende a terceiros, de maneira que a obrigação pecuniária assumida por um dos correntistas perante terceiros não poderá repercutir na esfera patrimonial do cotitular da conta conjunta solidária, caso inexistente disposição legal ou contratual atribuindo responsabilidade solidária pelo pagamento da dívida executada. Dessa forma, a autora deverá mencionar o entendimento consolidado do STJ de que “é presumido, em regra, o rateio em partes iguais do numerário mantido em conta-corrente conjunta solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de responsabilidade solidária dos correntistas pelo pagamento de dívida imputada a um deles. Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta solidária no âmbito de execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira mantenedora, sendo franqueada aos cotitulares e ao exequente a oportunidade de demonstrar os valores que integram o patrimônio de cada um, a fim de afastar a presunção relativa de rateio” (REsp 1.610.844/BA, relator ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 15 de junho de 2022, DJe de 9 de agosto de 2022). Sendo assim, a autora deverá requerer a desconstituição da penhora de 50% dos valores penhorados, no valor equivalente a R$ 15 mil. Com relação à penhora do imóvel, a autora deverá alegar que a penhora foi indevida, uma vez que recaiu sobre a totalidade do imóvel, sem resguardar sua meação de 50% sobre o bem imóvel. Com efeito, a parte autora deverá ressaltar que o imóvel foi adquirido durante a constância conjugal, razão pela qual 50% do imóvel é de sua propriedade. Sendo assim, a autora deverá requerer a redução da penhora para apenas a quota-parte do cônjuge devedor (50%) e o resguardo, em caso de alienação integral do imóvel, de sua meação sobre o produto da alienação, nos termos do que dispõe o art. 843 do CPC. Nos pedidos, a parte autora deverá requerer a concessão de liminar para suspender os atos de constrição ou, subsidiariamente, a desconstituição da penhora de 50% dos valores penhorados na conta-corrente conjunta, no valor equivalente a R$ 15 mil, bem como a redução da penhora do imóvel, para que recaia apenas sobre a quota-parte do cônjuge devedor (50%) e, em caso de alienação integral do imóvel, o resguardo de sua meação sobre o produto da alienação, conforme determina o art. 843 do CPC. Deverá requerer também que, ao fim, sejam julgados procedentes seus pedidos para, confirmando a decisão liminar, desconstituir a penhora de 50% dos valores penhorados na conta-corrente conjunta, no valor equivalente a R$ 15 mil, bem como para reduzir a penhora do imóvel, para que recaia apenas sobre a quota-parte do cônjuge devedor (50%) e que, em caso de alienação integral do imóvel, seja resguardada sua meação sobre o produto da alienação, nos termos do que dispõe o art. 843 do CPC. Ainda na partefinal dos pedidos, a autora deverá requerer a condenação do embargante ao pagamento das despesas processuais e de honorários advocatícios, bem como a produção de todas as provas admitidas em direito. Deverá por fim, atribuir à causa o valor de R$ 1.015 mil, que se refere ao proveito econômico pretendido pela parte autora, consubstanciado nos R$ 15 mil penhorados na conta e na metade do valor do imóvel. Considerações �nais Estudamos os procedimentos especiais da ação monitória, das ações possessórias e dos embargos de terceiro, que são os principais procedimentos especiais do cotidiano forense. Analisamos as principais características de cada um dos procedimentos, demonstrando, além da previsão legal, o entendimento dos tribunais superiores sobre diversas questões controvertidas. O profissional do direito da atualidade deve conhecer e estudar os procedimentos especiais da ação monitória, das ações possessórias e dos embargos de terceiro. Sua grande incidência prática nas lides do dia a dia torna imprescindível que o advogado conheça as peculiaridades de cada rito, orientando adequadamente seu cliente. Explore + Para saber mais sobre ação monitória, leia o livro Ação monitória, de Ozéias J. Santos, cuja sétima edição foi lançada em 2022 pela editora Rumo Jurídico. Para aprofundar seus conhecimentos sobre ações possessórias, pesquise o livro Ações possessórias e petitórias, de Gilberto Ferreira Marchetti Filho, publicado pela editora Contemplar em 2022. Para ampliar seus estudos sobre embargos de terceiro, consulte o livro Embargos de terceiro, de Donaldo Armelin, publicado pela editora Saraiva em 2017. Referências CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. NEVES, D. A. A. Manual de direito processual civil. Volume único. 9. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil – procedimentos especiais. Volume II. 50. ed. revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Forense, 2016. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()