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FILOSOFIAFILOSOFIA CAP. 01 INTRODUÇÃO: AFINAL, O QUE É FILOSOFIA? Exportado em: 20/05/2024 Escaneie com o leitor de QR Code da busca de capítulos na aba ConteúdoConteúdo VER CAPÍTULOVER CAPÍTULO SLIDES DO CAPÍTULOSLIDES DO CAPÍTULO Christian Mueller / shutterstock.com Olá! Hoje nós começaremos a conhecer uma das disciplinas mais antigas e influentes do pensamento humano: a Filosofia. É muito provável que você já conheça ou tenha ouvido falar sobre ela. Afinal, todos(as) nós temos conhecimentos, experiências e até preconceitos sobre uma série de coisas em nossa vida, que nos acompanham sem que tenhamos consciência. Isso não se dá por acaso: afinal, vivemos em um mundo onde existe filosofia há quase três milênios, período durante o qual uma série de opiniões e lugares-comuns sobre a disciplina formou-se, transformou-se e consolidou-se. E, por mais que algumas dessas opiniões tenham variado durante nossa história – sendo diferentes para diversas sociedades e culturas –, outras se mantiveram vivas até hoje e ainda nos influenciam. Por vezes, todas essas opiniões e preconceitos podem nos passar despercebidos; mas, para entendê-los de forma coerente, é preciso parar e pensar com cuidado sobre eles, suas origens e características. E, toda vez que fizermos isso – ou seja, quando exercitamos nossa Para começar e refletirPara começar e refletir 1 https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/cultura/1539859862_392943.html curiosidade sobre as coisas que nos rodeiam –, nós estaremos, justamente, realizando duas das atividades mais caras à filosofia: a reflexão e a tentativa de compreensão. Agora, começaremos a conhecer essa disciplina e tudo isso que mencionamos. Vamos lá? Para pensar sobre a Filosofia – e também sobre alguns dos conhecimentos e preconceitos que a acompanham –, vamos fazer um exercício. Abaixo, você encontrará três pinturas: duas delas são do holandês Rembrandt H. van Rijn (1606-1669) e uma é um estudo de Salomon Koninck (1609-1656) inspirado diretamente nas primeiras. Todas retratam filósofos, como seus títulos indicam. Observe-as com atenção: Filósofo em meditação, óleo sobre tela de Rembrandt H. van Rijn, 1632. Dimensões: 28 × 34 cm. Museu do Louvre, Paris. Wikimedia Commons Como entender a Filosofia?Como entender a Filosofia? 2 Um doutor perto da janela , ou O filósofo lendo, óleo sobre tela de Rembrandt H. van Rijn, 1631. Dimensões: 60 × 48 cm. Domínio público O filósofo com um livro aberto , óleo sobre tela de Salomon Koninck, 1645. Dimensões: 28 × 33 cm. Museu do Louvre, Paris. Wikimedia Commons Após ter observado essas pinturas, reflita com seus(suas) colegas sobre as questões abaixo: 3 1. O que as figuras retratadas parecem estar fazendo? 2. Esses retratos o(a) fazem lembrar de alguma afirmação ou lugar-comum sobre os(as) filósofos(as)? Se sim, quais? 3. Preste atenção à luminosidade dos quadros. De que forma ela interfere na atividade das figuras retratadas? 4. Que significado geral poderíamos atribuir a essas pinturas? Além de sua longa história e grande influência em nosso pensamento – as quais você irá conhecer melhor a partir de hoje e durante os próximos anos –, a filosofia está presente em nosso vocabulário e em nosso cotidiano. Isso é algo que podemos constatar com facilidade: frequentemente, falamos da "filosofia de vida" de alguém ou dizemos, numa conversa, que alguém "está filosofando". Você já ouviu essas expressões? Se prestarmos atenção a essas e outras expressões parecidas, poderemos identificar uma série de pressupostos sobre a filosofia e o filosofar. A disciplina aparece como algo que justifica a vida e as atitudes de alguém ou como uma série de pensamentos que nos norteiam. Por sua vez, o(a) filósofo(a) ou aquele(a) que filosofa é tido(a) como uma pessoa pensativa, eloquente ou mesmo prolixa – isto é, que fala muito mesmo que não diga nada de mais ou diga coisas demasiado abstratas. Nas pinturas de Rembrandt, podemos identificar outros pressupostos e lugares-comuns sobre o filosofar: o filósofo encontra-se sozinho, em postura meditativa, com alguns livros ou olhando para o vazio, iluminado por uma forte luz natural que entra em seu cômodo. Em uma série de pinturas feita há quase 500 anos, encontramos retratos sobre a Filosofia que ainda hoje parecem familiares. Assim, surgem algumas questões: será que esses pressupostos nos ajudam a entender a Filosofia de forma coerente? Ou será que nos atrapalham e nos confundem, fazendo com que vejamos essa disciplina com olhos já muito viciados? E, se colocarmos em dúvida esses conhecimentos e opiniões prévias que possamos ter, como poderemos conhecer essa disciplina de maneira mais adequada? Antes de prosseguir, é necessário lembrar que, para essas perguntas, não há uma só resposta. Mais ainda: nem mesmo temos certeza, de início, de que há respostas absolutamente certas para elas. Esse gesto de questionamento permanente, de duvidar sempre das possíveis respostas que se apresentam, também é uma característica da Filosofia: 4 essa disciplina, como veremos, exige que exercitemos um espírito crítico e independente a todo momento. Para tentar, então, começar a conhecer essa disciplina, vamos propor três questões, ainda mais básicas, que as próximas páginas irão abordar. Em primeiro lugar, o que é a Filosofia? Em segundo, como ela se dá? E, por fim, ela serve para alguma coisa? Com essas três questões em mente, poderemos começar a conhecer a Filosofia e o seu sentido. Vamos lá? Para começar a estudar a Filosofia, vale a pena voltar nossa atenção para a própria palavra e tentar compreender seu significado. Afinal: o que significa filosofia? A palavra philosophia (em alfabeto grego, entre parênteses) é composta por outros dois termos gregos: philos e sophia. Para analisar essa palavra da maneira mais precisa possível, é necessário compreender suas raízes etimológicas, isto é, quais são os termos ou as palavras que a formam. A palavra philosophia tem origem no grego e é composta por duas outras palavras desse idioma: philos, que poderíamos traduzir como amizade, afeição ou amor, e sophia, cuja melhor tradução é sabedoria. Reconhecendo os radicais da palavra e seu significado, podemos identificar um primeiro significado da palavra filosofia: aquilo que caracteriza as pessoas que são amigas da sabedoria, ou seja, que buscam o conhecimento, que amam aprender e se dedicam a isso. A Filosofia, então, naturalmente designa aquele(a) que é filósofo(a), ou melhor, o(a) philósophos: aquele(a) que ama a sabedoria. Há algo muito interessante e profundo a depreender dessa simples análise etimológica. Afinal, percebemos através dela que o(a) filósofo(a) não é um(a) sábio(a), mas somente, um(a) amigo(a) do saber. Isso implica dizer que o(a) filósofo(a) se diferencia do(a) sábio(a), se levarmos o significado das palavras ao pé da letra. Ora, o que isso quer dizer? Será que, apesar de nossos lugares-comuns sobre o(a) filósofo(a), ele(a) não é nem procura A palavra A palavra philosophiaphilosophia 5 ser um(a) sábio(a)? Agora é com você Questão 01 Reúna-se com colegas e reflita: qual seria a diferença entre ser sábio(a) e ser amigo(a) da sabedoria? Busto de Sócrates , escultura em mármore de autoria desconhecida. Museu do Louvre, Paris, França. Sting / Wikimedia Commons Uma forma inicial de entender a relação do(a) filósofo(a) com o saber é conhecendo uma das primeiras figuras que procuraram entender o que seria a sabedoria: Sócrates (469-399 a.C.). Segundo os relatos de Platão, um de seus discípulos, Sócrates teria sido apontado como o O saber e o(a) filósofo(a)O saber e o(a) filósofo(a) 6 mais sábio entre os gregos, e sua sabedoria poderia ser resumida na seguinte frase, dita com frequência por Sócrates: "Só sei que nada sei". Como é relatado na Apologia de Sócrates, um amigo do filósofo (que o admirava profundamente) teria ido até o templo de Apolo, em Delfos, e perguntado a um dos oráculos lá presentes: "Há alguémmais sábio que Sócrates na Grécia?". O oráculo, então, respondeu negativamente: "Não há ninguém na Grécia que seja tão sábio quanto Sócrates". Ao ouvir essa resposta, Sócrates ficou atônito – afinal, ele era conhecido entre seus amigos por considerar-se ignorante sobre as coisas, apesar de seus estudos. Como assim, o oráculo – porta-voz de Apolo, deus das artes e da sabedoria – considerava-o o mais sábio da Grécia? Ora, como admitir que não saber nada pode ser sinal de sabedoria? Em outras oportunidades, você conhecerá essa história mais detalhadamente; para nós, é importante entender apenas como Sócrates lida com essa resposta paradoxal do oráculo: ele resolve verificá-la, indo até aqueles que se consideravam sábios e questionando-os sobre aquilo que diziam saber. Percebe, então, algo revelador: essas pessoas, ditas sábias, não sabiam nem mesmo aquilo sobre o que alegavam ser sábias. Assim, a frase "só sei que nada sei" mostra-se mais que uma simples admissão da falta de saber. Sócrates compreende, por meio de sua experiência, que reconhecer a própria ignorância e o próprio desconhecimento é o primeiro passo para a sabedoria e para o conhecimento verdadeiro: após adotar essa postura, podemos começar a nos questionar sobre como atingir um saber mais coerente a respeito daquilo que desconhecemos – e que, uma vez que admitimos não conhecer, sabemos que desconhecemos. O exemplo de Sócrates nos permite conceber uma primeira possibilidade para responder à questão "o que é a Filosofia?": a Filosofia e o ato de filosofar estão próximos de uma atitude intelectual, ou seja, de uma atividade do pensamento. Essa atividade seria caracterizada por uma curiosidade frente às coisas que nos circundam – o mundo, a natureza, as atitudes humanas etc. – e por um questionamento constante, tendo sempre em vista os possíveis problemas e limites das respostas encontradas. Isso significa dizer que, para a Filosofia e para aquele(a) que filosofa, não existem respostas óbvias, muito menos respostas prontas para os problemas com os quais nos defrontamos. Ou seja, a postura daquele(a) que responde "porque sim", "é assim que as coisas são" e assim por diante é o oposto do que se pode considerar uma atitude filosófica. Atividade do pensamento?Atividade do pensamento? 7 Retrato de Bertrand Russell, fotografia de autoria desconhecida, 1907. Wikimedia Commons Quem responde dessa forma a um questionamento está, quer queira, quer não, demonstrando um tipo de conformismo com uma informação ou opinião prévia, geralmente recebida de outra pessoa e tratada, assim, como uma verdade absoluta e inquestionável. Pois bem, é exatamente isso que não existe na filosofia: um fato ou uma verdade inquestionável. Se analisarmos a passagem abaixo, do filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970), encontraremos uma reflexão que caminha nesse sentido. Nessa interessante passagem sobre o sentido da filosofia, Russell insiste na capacidade que a reflexão filosófica tem de nos forçar a sair de nossas posições habituais, de pôr em xeque nossas opiniões e os lugares- comuns que conhecemos. A filosofia nos tira desse conforto e nos faz repensar aquelas certezas que julgamos ter e reconsiderá-las: O valor da Filosofia, na realidade, deve ser buscado, em grande medida, na sua própria incerteza. A pessoa que não tem alguma noção de Filosofia caminha pela vida afora presa a preconceitos derivados do senso comum, das crenças habituais de sua época e do seu país e das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. Para tal homem, o mundo tende a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objetos habituais não levantam problemas, e as possibilidades não familiares são desdenhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente nos damos conta [...] de que até as coisas mais ordinárias conduzem a problemas para os quais somente respostas muito incompletas podem ser dadas. A Filosofia, apesar de incapaz de nos dizer com certeza qual é a verdadeira resposta para as dúvidas que ela própria levanta, é capaz de sugerir numerosas possibilidades que ampliam nossos pensamentos, livrando-os 8 da tirania do hábito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza com relação ao que as coisas são, aumenta em muito nosso conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; ela remove o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora e vivifica nosso sentimento de admiração, ao mostrar as coisas familiares em um determinado aspecto não familiar. RUSSELL, Bertrand. Os problemas da Filosofia. Tradução de Jaimir Conte. Florianópolis: 2005. p. 175. (grifo nosso) É interessante verificar que o filósofo afirma que essa capacidade de nos levar para longe dos preconceitos e das opiniões naturalizadas é, justamente, o que há de mais valioso no pensamento filosófico; mais tarde, neste mesmo capítulo, essa questão voltará à nossa atenção. Agora, importa apenas que prestemos atenção ao fato de que a Filosofia, segundo o autor, também se caracteriza pelo questionamento constante, que expande as possibilidades de perceber nossa realidade e compreendê-la. Você pode ter percebido, todavia, que apresentamos uma série de características e possibilidades de compreensão da Filosofia; mas não oferecemos, em nenhum momento, uma definição dessa disciplina – ou seja, uma resposta do tipo "a Filosofia é tal ou tal coisa". Pelos exemplos, é fácil entender a razão para isso: por se tratar de uma área do saber que trafega tão cuidadosamente pelo pensamento e pelas respostas que produz, definir alguma coisa filosoficamente é uma tarefa que exige muito cuidado e muitas etapas pelas quais ainda não passamos. Portanto, sem pressa! Mesmo que não saibamos, ainda, o que é a Filosofia, já sabemos algumas das coisas que a compõem. Nas próximas páginas, olharemos para essa disciplina por outros ângulos e, com isso, poderemos entendê-la ainda melhor. Agora é com você Questão 01 Com base em nossos estudos até aqui, discorra sobre o papel da incerteza para o pensamento filosófico. Questão 01 Pratique: Pratique: o que é a Filosofia?o que é a Filosofia? 9 A B C D E A reflexão filosófica surgiu a partir da busca racional pelo sentido e pelo significado das transformações ocorridas na natureza e nas relações humanas. Sobre a origem grega da palavra filosofia, é correto afirmar que: filosofia significa amor ao saber, portanto o(a) filósofo(a) é aquele(a) que sempre está buscando o conhecimento. filosofia significa a constante busca por uma vida livre do pecado original e do comportamento antissocial. a Filosofia está relacionada à arte dos grandes sábios gregos, que buscavam encontrar o significado das coisas por meio da adivinhação. a Filosofia refere-se a coisas abstratas, como o que é a vida, por isso não contempla questões concretas do dia a dia. a Filosofia é uma ciência exata que busca se adequar aos princípios da Matemática na justificação do mundo. Questão 02 Vamos pensar um pouco mais sobre a atividade do pensamento? Observe a seguinte tirinha do gato Garfield. © 1985 PAWS, INC. Como você interpreta essa tirinha? Que sentido ela parece ter? Questão 03 Releia um trecho da citação de Russell, que vimos anteriormente: A filosofia, apesar de incapaz de nos dizer com certeza qual é a verdadeira resposta para as dúvidas que ela própria levanta, é capaz de sugerir numerosas possibilidades que ampliam nossos pensamentos, livrando-os da tirania do hábito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza com relação ao que as coisas são, aumenta em muito nosso conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; ela remove o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora e vivifica nosso sentimento de admiração, ao mostrar as coisas familiares em um determinadoaspecto não familiar. 10 RUSSELL, Bertrand. Os problemas da filosofia. Tradução de Jaimir Conte. Florianópolis: 2005. p. 175. Identifique a principal característica da filosofia, segundo Bertrand Russell. Ilustração retratando Aristóteles (à direita) e seu aluno mais famoso, Alexandre, o Grande (à esquerda). Aristóteles e seu pupilo Alexandre, o Grande , gravura de Charles Laplante, 1866. Charles Laplante / Wikimedia Commons Nas páginas anteriores, vimos algumas possibilidades de compreensão da Filosofia enquanto área do conhecimento. Vimos também como essas possibilidades não nos permitem definir, de forma conclusiva, o que ela é, e que, portanto, é necessário continuar investigando o sentido dessa disciplina por outras vias. Em todo caso, sabemos que a Filosofia, para além das nossas opiniões correntes sobre ela, pode ser caracterizada por uma atitude questionadora e por uma curiosidade incansável. Mas então podemos nos perguntar: como isso se dá? Como ela exercita esse questionamento e essa curiosidade? Ora, conhecemos alguns exemplos filosóficos que abordavam esses aspectos da disciplina, mas, sem saber como isso tudo se realiza de fato, pode ser difícil compreender o seu sentido. Com base no que estudamos até aqui, temos alguns pontos de partida para examinar esse ponto. A própria questão sobre como algo se dá nos permite intuir que estamos tratando não de uma coisa fixa – como um conjunto de saberes ou uma disciplina científica em sentido rigoroso, mas de uma atividade ou algum tipo de processo. Perguntar, então, "como se dá a filosofia?" não é muito diferente de perguntar "o que é o filosofar?". Como se dá a filosofia?Como se dá a filosofia? 11 Nas próximas páginas, começaremos a refletir sobre essa questão específica. Vamos lá? Você se lembra das pinturas de Rembrandt que vimos no começo deste capítulo? Agora, nós voltaremos a elas, para observar alguns detalhes com mais atenção. Um doutor perto da janela , ou O filósofo lendo, óleo sobre tela de Rembrandt H. van Rijn, 1631. Dimensões: 60 × 48 cm. Domínio público Observe, ao lado, a pintura Um doutor perto da janela, também conhecida como O filósofo lendo, de 1631. Nela, podemos ver uma pessoa de idade sentada em uma mesa próxima a uma grande janela, cuja luz natural ilumina sua leitura. Bom, até aqui, parece que não fomos muito mais longe do que aquilo que o título sugere; mas será que é somente isso que estamos vendo? Vamos pensar. Vemos, antes de tudo, que o doutor, ou filósofo, é um senhor de certa idade – a sua barba acinzentada e sua calvície, por exemplo, permitem inferir isso. Ademais, ele parece dedicado, de forma corriqueira, mas vivaz, ao hábito da leitura. Assim, com essa mesa propícia à leitura e pela idade da personagem retratada, podemos também ponderar que esse senhor não é um leitor de primeira viagem. A reflexão filosóficaA reflexão filosófica 12 O que tudo isso nos diz? Bom, agora fica mais claro que temos aqui o retrato de uma figura relativamente familiar em nosso imaginário e cultura: a do velho sábio, letrado e douto, um pouco recluso, e daí por diante. Há, porém, ainda mais a extrair desse quadro. Repare nos contrastes elaborados pela pintura: o sombreado escuro que dá corpo ao interior da casa e a forte luz natural que adentra pela janela e ilumina a atividade do senhor em dois sentidos – tanto permite que ele leia quanto direciona o nosso olhar e nos permite ver o que ele faz. E esse jogo de luz e sombra teria ele algum sentido? Observe, agora, esta outra pintura que vimos antes, Filósofo em meditação, de 1631. Filósofo em meditação, óleo sobre tela de Rembrandt H. van Rijn, 1632. Dimensões: 28 × 34 cm. Museu do Louvre, Paris. Wikimedia Commons Encontramos o mesmo conjunto de elementos estéticos: a janela e o interior; a luz natural e a penumbra da casa; o senhor próximo à luz. Levando ambos os retratos em consideração, talvez fique mais fácil refletir sobre todos esses elementos. Além da atividade frequente da leitura, uma vez que o filósofo aparece sempre à mesa, nota-se que ela está sempre próxima da luz – ou seja, simbolicamente, próxima da fonte de esclarecimento ou do saber, daquilo que permite alguma sabedoria. Aquilo que parecia apenas o retrato de um leitor começa a se desdobrar em outras possibilidades: agora, temos um quadro de experiências e conceitos – ou seja, a série de elementos que levantamos em nossa análise anterior, visível para nós e pela qual podemos começar a dar um sentido mais organizado ao quadro de Rembrandt. Assim, podemos dizer que a filosofia aparece como uma atividade contínua, intelectual e letrada, realizada por 13 uma pessoa sóbria que, por sua idade e seus hábitos, aparenta realizá-la há muito tempo; por meio da filosofia, o filósofo aproxima-se do saber e da clareza, o que acontece debaixo da luz natural e através dos estudos. E o que esse quadro, retrato dos diversos aspectos e lugares-comuns que vinculamos à figura do(a) filósofo(a), tem a nos dizer sobre o filosofar? Ora, podemos perceber que, aqui, o filosofar aparece como uma atividade individual, solitária, e se dá por meio da leitura e dos estudos por um longo período de tempo. Assim, a possibilidade de filosofar parece se abrir àquele(a) que se dedica ao cultivo do estudo e amadurece com esse hábito. Outro aspecto implícito nesse retrato é a especificidade ou a complexidade do pensamento filosófico. Ora, repare: o(a) filósofo(a) é, antes de tudo, um(a) estudioso(a); pode-se deduzir que tenha estudado seus objetos de estudo por toda a vida adulta. Isso nos remete a outro tema recorrente na imagem do(a) filósofo(a): ele(a) é, antes de tudo, alguém que pensa segundo critérios consolidados por diversas tradições do pensamento, que só se podem conhecer após longos anos de estudo e investigação. Assim, temos uma imagem bastante expressiva sobre o filosofar – apesar de não esgotar as possibilidades de definir a atividade do filósofo e de ser, também, um retrato permeado de lugares-comuns, os quais já discutimos. De acordo com ela, a filosofia é uma atividade de pensamento e estudo sistemático sobre diferentes assuntos da vida humana: temas como a existência, a origem das coisas, a sociedade, a natureza etc. Filosofar é pensar, mas, sobretudo, implica um pensamento sistemático e organizado. 14 Agora é com você Questão 01 Vimos, acima, uma reflexão sobre o filosofar com base em pinturas de Rembrandt; como dizemos, é apenas uma possibilidade e se ancora em lugares-comuns sobre o tema. Dentre esses lugares-comuns, destaca-se a ideia do sábio solitário, que realiza seus estudos distante do mundo e em contato com seus livros e suas próprias reflexões. Todavia, há algumas páginas, você conheceu a figura de Sócrates – para quem, como também vimos, a filosofia é uma atividade que se realiza em contato com o mundo e com as pessoas que o habitam. Discorra, portanto, sobre essas duas perspectivas e suas diferenças: o que elas podem revelar sobre a Filosofia ou sobre a imagem que habitualmente temos dela? Vimos, portanto, que o filosofar pode ser compreendido de várias formas, e que algumas das características habitualmente usadas para descrever o(a) filósofo(a) nos ajudam a compreender essa figura com mais clareza. Todavia, também essa imagem do filosofar erudito, fruto do estudo e da maturidade, pode e deve ser aprofundada, sem que se torne, ela também, um lugar-comum. Em primeiro lugar, é pertinente considerar que o filosofar não se restringe, necessariamente, a uma atividade individual. Para uma miríade de pensadores(as), o filosofar é um ato que pressupõe a presença e a companhia de outros(as), a quem podemos nos remeter e com quem podemos aprofundar nossas reflexões. O pensamento em diálogo e suas implicaçõesO pensamento em diálogo e suas implicações 15 Fotografia de Roberto Bolzani. Reprodução Um bom exemplo dessa possibilidade de interpretação é apresentado por Roberto Bolzani, filósofo brasileiro quediscorre sobre a relação entre a Filosofia, enquanto disciplina ou área do saber, e o filosofar, enquanto atividade dileta da primeira. Em determinado momento de sua reflexão, Bolzani menciona uma passagem da Apologia de Sócrates, texto que conhecemos antes, em que mesmo o gesto de se autoanalisar pressupõe o diálogo e a existência de outrem. Assim, depois de passar anos inquirindo os cidadãos atenienses para averiguar a afirmação do oráculo de Delfos, o filósofo grego teria revelado o sentido desse ato aos juízes atenienses. Veja, abaixo, a análise de Bolzani: Sócrates afirmou aos juízes que examinava a si mesmo quando examinava os outros. Como entender essa afirmação? Não está Sócrates seguro do sentido de sua missão divina? Certamente, mas parece que a cada vez que interroga algum sábio possível tem diante de si uma possibilidade de saber que não pode ignorar, que precisa investigar, possibilidade que, se confirmada, mudaria toda a sua visão sobre a verdade que nele até então habitava. Essa será talvez a prescrição mais fundamental e primitiva para o filosofar, que devemos, partindo do socratismo, tomar nossa: também nós, a cada vez que tomamos contato com uma possibilidade de saber, devemos estar em constante vigilância e atenção para nosso próprio exame. Devemos estar prontos para, em face de toda e qualquer opinião distinta da nossa, a propósito de um assunto que nos é caro, imaginar que sobre ele, na verdade, nada sabemos. BOLZANI, R. Sobre filosofia e filosofar. Discurso, São Paulo, 2005, vol. 35, p. 29-59. / p. 42-43. (grifo nosso) Repare, portanto: a grande lição do exemplo socrático, segundo Bolzani, é que o gesto de investigar nossos saberes é, antes de tudo, um gesto de confrontar nossos pressupostos com as opiniões alheias. Não se trata de um exercício vazio, como se simplesmente 16 testássemos aquilo que sabemos com a opinião equivocada dos outros: pelo contrário, é sempre possível que vejamos os lugares se inverterem e que seja a opinião alheia a mais coerente – ou que a nossa precise de mais reflexão quando posta à luz de outra perspectiva. Mais do que isso, porém: apesar de não ser uma atividade em isolamento, há uma boa parte do filosofar que se dá de forma individual, isto é, em nosso pensamento e em nosso raciocínio. Quando nos abrimos para uma perspectiva distinta da nossa, é preciso que exercitemos a atitude de colocar em suspenso aquelas coisas que situam a nossa própria perspectiva, refletindo da maneira mais aberta possível sobre aquilo que pensa o outro. Considerando a reflexão de Bolzani, novas perspectivas se abrem para o nosso debate acerca da Filosofia e do filosofar. Afinal, essa atividade do pensamento se mostra também um exercício complexo de avaliar e justapor saberes, conceitos e perspectivas com um espírito crítico e atento, de modo que nunca seja um pensamento isolado em si mesmo e em suas categorias. Enquanto reflete sobre suas próprias bases e pressupostos, o filosofar pressupõe avaliar criticamente também aquilo que o circunda. Retrato de Antonio Gramsci , fotografia de autoria desconhecida, 1920. Wikimedia Commons Trata-se, portanto, de uma atividade bem complexa, e essa complexidade de fato exige um alto grau de dedicação e estudo para ser bem realizada. Essa dificuldade, porém, não implica dizer que filosofar seja algo impossível para as pessoas comuns, restrito a especialistas que estudam por anos e anos, dedicando-se aos livros e afastados(as) da vida. Muito pelo contrário: se é uma atividade do pensamento e que parte da reflexão sobre os próprios conhecimentos e a própria ignorância, a filosofia está aberta a toda e qualquer 17 pessoa capaz de pensar – em outras palavras, a toda e qualquer pessoa. Abaixo, encontramos uma interessante e sucinta passagem do filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), em que a concepção da filosofia como exercício da erudição é criticada. Como indica o pensador, essa ideia é, antes de tudo, também um preconceito – e, pior, um preconceito ao qual estamos bastante acostumados(as). Assim, ele diz: É preciso destruir o preconceito muito difundido de que a filosofia é qualquer coisa de muito difícil pelo fato de ser uma atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso demonstrar, portanto, que todos os homens são "filósofos". GRAMSCI, Antônio. Obras escolhidas. Lisboa: Estampa, 1974. p. 25. Portanto, Gramsci afirma que todas as pessoas são filósofas, pois todas elas pensam. Assim, podemos inferir que, se a complexidade e a cautela são mesmo características da Filosofia, isso não impede seu exercício nem o torna exclusivo de poucos(as): antes, todos(as) podem pensar de forma sistemática, bastando que exercitem seu pensamento e conheçam, gradualmente, os aspectos mais complexos do pensamento sistemático da Filosofia. Acesse: o questionamento filosófico sob outra perspectiva Fotografia de Darío Sztajnszrajber. Wikimedia Commons Na seguinte matéria, você encontra uma reflexão sobre a filosofia feita pelo filósofo argentino Darío Sztajnszrajber. Essa entrevista pode servir como um aprofundamento temático, caso você queira conhecer mais reflexões acerca do tema que acabamos de estudar. Nela, você ainda encontrará reflexões pertinentes sobre o pensamento humano, sobre nossas paixões e as novas formas de comunicação na modernidade. Pratique: Pratique: a filosofia em exercícioa filosofia em exercício 18 https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/09/cultura/1557411080_605702.html A B C D A B C D Questão 01 Filosofar é pensar, mas implica um pensamento sistemático, organizado. Com base nesse pensamento e nos seus conhecimentos, é correto afirmar que a filosofia: é um direcionamento conflituoso sobre a existência das coisas. pode ser compreendida como uma inspiração religiosa radical. refere-se a uma aspiração ao conhecimento racional, lógico e reflexivo. origina-se de diferentes modos de pensar, mesmo que sem organização. Questão 02 O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia: é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando a educar o ser humano como cidadão. surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento Pratique: Pratique: a filosofia em exercícioa filosofia em exercício 19 E da verdade revelada pela codificação mítica. resulta da interpretação do ser humano de sua realidade e sua consciência e reconhecimento de sua incapacidade de perceber o mundo em que vive, atribuindo a existência dos fenômenos naturais às divindades. Questão 03 Observe a seguinte situação: shutterstock.com Um professor de Filosofia entra na sala de aula, põe a cadeira em cima da mesa e escreve no quadro: "Provem-me que esta cadeira não existe". Apressadamente, os alunos começam a escrever longas dissertações sobre o assunto. No entanto, um dos alunos escreve apenas duas palavras na folha e entrega-a ao professor. Este,quando a recebe, não pode deixar de sorrir depois de ler: "Qual cadeira?". POZZOBON, Carlos Wendell. Competência ou visão? 12 ago. 2007. Disponível em: <http://claudiaalmeida- prof.blogspot.com.br/>. Acesso em: 14 out. 2020 (adaptado). Desenvolva outro argumento possível para atender ao desafio do professor de Filosofia. E para que serve a Filosofia?E para que serve a Filosofia? 20 Vamos, agora, analisar a Filosofia por meio de outra questão que frequentemente ouvimos a respeito dela: "Para que ela serve? Teria alguma utilidade?". À luz do que acabamos de estudar, essa questão talvez não faça muito sentido – vimos, por exemplo, que ela pode ser muito importante para desnaturalizar preconceitos e refletir criticamente. Para começar a entender essa polêmica questão, todavia, temos de dar um passo para trás, pois vimos uma série de lugares-comuns sobre a Filosofia até aqui, mas há uma série de preconceitos mais agressivos que ainda precisamos conhecer para compreender o que está em jogo quando colocamos em questão a utilidade dessa disciplina. Diógenes, óleo sobre tela de Jean-Léon Gérôme, 1860. Dimensões: 74,5 × 101 cm. Museu de Arte Walters, Baltimore, Estados Unidos. Wikimedia Commons Vamos, portanto, analisar duas pinturas que retratam Diógenes, um importante filósofo da Antiguidade. Esses retratos sintetizam alguns dos elementos mais excêntricos e jocosos que, por vezes, são vinculados à Filosofia. Um deles é a pintura acima, de Jean-Léon Gerôme, que retrata Diógenes em um barril, cercado por cães. 21 Diógenes, óleo sobre tela de John William Waterhouse, 1882. Dimensões: 208 × 134 cm. Sidney, Austrália. Wikimedia Commons A outra pintura é de John William Waterhouse, em que Diógenes também é retratado em um cesto – dessa vez, cercado por algumas mulheres bem vestidas, que parecem rir dele. Notamos, logo de início, que Diógenes parece uma figura austera e um tanto marginalizada, algo que ambas as pinturas expressam. Porém, não é possível analisar bem essas pinturas sem conhecer mais a história desse pensador. Diógenes era um filósofo bastante polêmico e radical, conhecido por valorizar a reflexão e o cuidado da alma – o que evidenciava a influência de Sócrates – e abdicar dos valores sociais de Atenas, que seriam voltados, segundo ele, para a saciação das frívolas paixões e dos desejos humanos. Diógenes defendia esses princípios com tanta força que, de fato, abdicou de suas riquezas e viveu todo o restante de sua vida em condição de rua, morando em um barril de terracota e acusando as hipocrisias e imoralidades de seus concidadãos. Assim, ele é até hoje considerado o principal representante do cinismo, uma das diversas escolas filosóficas da 22 Antiguidade Tardia, cujo nome deriva do termo grego kynós, que significa cão. Esse termo se referia à abnegação e à pobreza autoimposta dos cínicos, que, como os cães atenienses, viviam na rua. Assim, há algo de irônico nesse nome e na concepção de filósofo que ela suscita: o filósofo é considerado tolo, e sua atividade é tida como desmesurada, como se, para realizá-la, o sujeito tivesse que afastar-se tanto do mundo humano e de seus assuntos habituais a ponto de se reduzir ao estatuto dos cães de rua. As pinturas ficam, agora, mais claras: Diógenes é acompanhado por cães e ridicularizado pela sociedade. O caso de Diógenes e sua falta de estima por seus concidadãos é um dos mais notáveis exemplos do desprezo que acompanha a figura do filósofo desde seu nascimento. A reflexão filosófica radicalmente crítica é capaz de provocar atos tão vivazes por parte de seus(suas) filósofos(as) e causar tanto estranhamento em seus(suas) espectadores(as) que pode, por fim, provocar a incompreensão e a repulsa daqueles(as) que não são filósofos(as) ou não veem sentido em filosofar. E é dessa opinião – que toma o(a) filósofo(a) como um indivíduo prepotente e ocioso – que surge uma das respostas mais contundentes para a questão que abre esta página: "A Filosofia não serve para nada; a Filosofia é inútil para o mundo". Com essa questão, estamos frente a mais um dos preconceitos arraigados quanto a essa disciplina, e no qual também precisamos nos deter. Nas próximas páginas, portanto, refletiremos sobre essa grave e conhecida acusação. Vamos lá? 23 Leitura Complementar Falamos aqui da figura de Diógenes e da intensidade com que vivia seus preceitos filosóficos. Para entender melhor como isso se dava na prática, vale a pena conhecer o seguinte relato, sobre um acontecimento envolvendo o filósofo e Alexandre, o Grande, que ficou bastante conhecido na Antiguidade. A anedota foi eternizada por Plutarco (46-120), pensador romano que redigiu uma série de biografias de importantes figuras da Grécia e de Roma, conhecida como Vidas paralelas. Leia-a abaixo: Os gregos, reunidos no Istmo, decidiram por votação que participariam com Alexandre de uma expedição contra os persas, proclamando-o general-chefe. Muitos políticos e filósofos foram ao seu encontro para felicitá-lo. Ele esperava que Diógenes de Sínope, que vivia em Corinto, fizesse o mesmo. Como este não prestava a mínima atenção a Alexandre e continuava tranquilamente no Craenium, foi Alexandre quem se deslocou. Diógenes estava estirado ao sol. Vendo chegar tanta gente, ele se endireitou um pouco e passou os olhos por Alexandre. Este, tendo saudado-o, lhe dirigiu a palavra primeiro perguntando-lhe se precisava de algo; "Afasta-te um pouco do sol", respondeu o outro. Alexandre, dizem, ficou profundamente impressionado; o filósofo o menosprezava, mas ele admirava seu desdém e sua grandeza: quando seus companheiros, ao irem embora, riram e troçaram, ele disse: "Eu, se não fosse Alexandre, seria Diógenes!". PLUTARCO. Vidas paralelas: Alexandre e César. Porto Alegre: LP&M, 2011. p.33. Será mesmo que olhar criticamente para as coisas não tem sentido? shutterstock.com O preconceito que conhecemos antes, acerca da falta de utilidade da Filosofia, não é apenas um elemento arraigado em nossa cultura desde um passado distante. Muito pelo contrário: ainda hoje, a utilidade da Filosofia é posta em questão – e sua suposta inutilidade é usada como argumento para que seja tratada como uma disciplina desnecessária, secundária ou até descartável. O tema da utilidade da Filosofia em nossos diasO tema da utilidade da Filosofia em nossos dias 24 Esse debate pode ser visto em nossos dias, no Brasil e pelo mundo, quando vemos setores da sociedade e do governo desestimularem o ensino e a pesquisa em Filosofia e em outras áreas das Ciências Humanas. O principal argumento desses grupos pode ser sintetizado em uma fala do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em defesa da redução de gastos com as Ciências Humanas no ensino superior. Disse assim o presidente, em rede social: O ministro da Educação [...] estuda descentralizar investimento em faculdades de Filosofia e Sociologia (Humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: Veterinária, Engenharia e Medicina. A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta. G1. MEC estuda corte de investimentos nas faculdades de Ciências Humanas, 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/04/26/mec-estuda-corte-de-investimentos-nas-faculdades-de- ciencias-humanas.ghtml>. Acesso em: 28 mar. 2020. De início, pode ser que o argumento acima nos pareça coerente: devem-se estimular mais aquelas ciências essenciais, sem as quais a vida e o bem-estar das pessoas podem correr perigo. No entanto, para refletir com precisão sobre esse argumento e suas implicações, devemos antes fazer algumas perguntas. Reflita sobre as questões abaixo com seus(suas) colegas: 1. Qual é o principal critério para determinar a utilidadede uma ciência, segundo o argumento acima? 2. Que implicação(ões) tem a redução de gastos em Ciências Humanas no ensino superior? 3. Será que essa redução impacta apenas a vida dos(as) estudantes universitários(as) ou tem algum efeito na sociedade? De início, reparamos que o critério de utilidade de uma ciência ou área do conhecimento parece ser determinado pelo retorno imediato que oferece à sociedade: formar médicos(as), engenheiros(as) e advogados(as), por exemplo, significaria formar pessoas capazes de lidar com problemas objetivos do nosso dia a dia. Todavia, pelo que estudamos aqui, não teria a Filosofia uma importante função também nesses problemas do dia a dia, ao nos fazer pensar sobre eles com cuidado e criticidade? Não poderíamos dizer que, sem o estudo específico da Filosofia, esses(as) profissionais estariam perdendo a oportunidade de refletir com mais atenção sobre suas práticas cotidianas? 25 Estátua de Filofrosine no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Filofrosine é uma divindade grega, deusa da compaixão e das virtudes. Sua estátua representa, aqui, a receptividade aos distintos saberes e compreensões do mundo – crucial para as instituições científicas e para a Filosofia. Wikimedia Commons Bem, este é só um exemplo – e ainda um pouco abstrato. Porém, se considerarmos que, em sua origem, a Filosofia era conhecida por abarcar todos os saberes e conhecimentos científicos do pensamento humano, ele ficará mais claro. Ora, diversos filósofos da Antiguidade eram também matemáticos, físicos ou astrônomos e não viam essas áreas do conhecimento como objetos completamente dissociados. Pelo contrário: a Filosofia, por promover uma reflexão crítica sobre o pensamento e as origens do conhecimento, permitia encontrar bases mais sólidas para essas ciências mais objetivas. Isso ainda se aplica à ciência em nossos dias – algo infelizmente ignorado no argumento destacado acima. Assim, para além do ganho imediato de se investir em áreas como Medicina ou Engenharia – de fato, muito importantes para nossa vida –, é interessante considerar o papel formativo da Filosofia em nosso pensamento teórico. Com isso, poderíamos encontrar uma utilidade para essa disciplina. Daí, podemos refletir sobre o impacto de menosprezar o ensino da Filosofia e de outras áreas do conhecimento. Afinal, sem formar professores(as) e estudiosos(as), como poderíamos ter um ensino dessa disciplina no ensino básico – mais especificamente aqui, no ensino médio, como você está tendo agora? Mais grave ainda: se a Filosofia nos ajuda a pensar, a ler e a escrever, como vimos antes, qual seria a vantagem de não tê-la em nosso ensino? Em 26 outras palavras: qual seria o ganho em pensar menos? Com essas questões em mente, podemos começar a pensar com mais profundidade sobre a questão da utilidade da Filosofia e, portanto, sobre a própria disciplina em si. Acesse: pensando a Filosofia e as Ciências Humanas em nosso cotidiano As notícias abaixo podem ajudar você a refletir sobre o lugar da Filosofia e das Ciências Humanas em nosso cotidiano. Nesta matéria do jornal El País, você encontra uma reflexão sobre a utilidade da Filosofia no dia a dia, balizada por quatro exemplos ilustrativos. Você pode ler um trecho da matéria abaixo: A disciplina de Filosofia deixou de ser considerada uma "área prioritária" e tem sido questionada por sua natureza pouco prática. Mas, como lembrava a filósofa Marina Garcés, "a filosofia não é útil ou inútil. É necessária". Trata-se de uma "linguagem fundamental" para aprender a pensar de forma crítica. De qualquer forma, neste momento haverá leitores dizendo algo como: "Ok, tudo bem. A filosofia é bonita. Pode ser um hobby, como jogar xadrez ou fazer palavras cruzadas. Mas não se traduz em nada que possa me servir. Nunca me verei na situação de duvidar se o mundo existe, como Descartes". Mas a reflexão e a análise de questões fundamentais têm muito mais consequências práticas do que parece. A filosofia não só nos ajuda a ver o mundo de maneira diferente, mas também pode mudar a forma como interagimos com ele. De como podemos ajudar os outros até como enfrentar a morte, ou se devemos tuitar com raiva. O pensamento crítico e as ferramentas que a filosofia nos proporciona nos ajudam a tomar decisões conscientes. BRASIL, El País. 4 exemplos práticos de que a filosofia serve para a vida cotidiana, 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/cultura/1539859862_392943.html>. Acesso em: 28 abr. 2020. Já a reportagem divulgada pela BBC Brasil aborda o papel das Ciências Humanas para a sociedade segundo Danielle Allen, professora da Universidade de Harvard. Abaixo, você encontra um trecho dessa entrevista: "Disciplinas como Filosofia, História e Literatura nos levam a questionar o que devemos fazer, quais são os propósitos da humanidade, quais devem ser nossos objetivos", diz Allen. Ao mesmo tempo, diz ela, ciências biológicas e exatas normalmente nos levam a questionar como podemos atingir os objetivos traçados. "Você precisa questionar tanto o que devemos fazer quanto como devemos fazer. Você não pode abandonar as disciplinas que ajudam as pessoas a pensar sobre quais são os propósitos humanos." 27 https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/cultura/1539859862_392943.html https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48070180 Por isso, ela defende que "ciências humanas são tão importantes quanto as ciências exatas e biológicas": "Não é uma questão de priorizar uma área sobre a outra, você precisa de ambas. São dois campos poderosos e complementares para o bem da humanidade". BRASIL, BBC News. "Ciências humanas são tão importantes quanto exatas e biológicas", diz professora de Harvard, 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48070180>. Acesso em: 30 abr. 2020. Agora é com você Questão 01 1.a) Antes de prosseguir em nossos estudos, convém exercitar o pensamento filosófico e questionar: ora, o que é utilidade? Por que só merece crédito aquilo que é supostamente "útil"? 1.b) Pondere, agora, sobre as seguintes questões: uma amizade é útil? Será que a "utilidade" é o melhor critério para avaliar essa forma de relação? A utilidade da filosofia em questãoA utilidade da filosofia em questão 28 Fotografia de Gilles Deleuze. Reprodução Antes de concluir nossos estudos, vamos analisar uma reflexão filosófica que nos permite aprofundar nossas investigações acerca da filosofia e sua utilidade. Ela se encontra na obra Nietzsche e a filosofia?, de Gilles Deleuze (1926-1995), um importante filósofo francês contemporâneo. No trecho que leremos abaixo, encontramos Deleuze apresentando uma definição um tanto original de filosofia, que aborda diversos dos temas pelos quais passamos hoje e lhes oferece um sentido radicalmente crítico. Leia seu argumento abaixo: Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. A filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para entristecer . Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas. Existe alguma disciplina, além da filosofia, que se proponha a criticar todas as mistificações, quaisquer que sejam sua fonte e seu objetivo? Denunciar todas as ficções sem as quais as forças reativas não prevaleceriam. Denunciar, na mistificação, essa mistura de baixeza e tolice que forma tão bem a espantosa cumplicidade das vítimas e dos algozes. Fazer, enfim, do pensamento algo agressivo, ativo, afirmativo. Fazer homens livres, isto é, homens que não confundam os fins da cultura com o proveito do Estado, da moral, da religião. Vencer o negativo e seus altos prestígios.Quem tem interesse em 29 tudo isso a não ser a filosofia? A filosofia como crítica mostra-nos o mais positivo de si mesma: obra de desmistificação. DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a filosofia. Rio de Janeiro, Editora Rio, 1976. p. 87. Apesar de sua complexidade, esse excerto nos permite compreender, com bastante clareza, uma série de aspectos essenciais da filosofia enquanto atividade crítica do pensamento. Em primeiro lugar, a principal utilidade da filosofia, segundo Deleuze, é justamente sua recusa, ou contestação: ela se opõe, criticamente, a tudo aquilo que se coloque como poder estabelecido – nossas opiniões corriqueiras, as verdades absolutas, os truísmos de nossa sociedade etc. Mais que isso: para o autor, esse poder contestatório – a crítica a mistificações de todos os tipos – é sobretudo uma característica específica da filosofia: é ela a única área do conhecimento que, sugere ele, dedica-se exclusivamente à refutação sistemática dos preconceitos. É claro que isso não implica tentar colocar a filosofia acima de outras áreas ou mesmo dizer que ela é a única que nos permite refletir criticamente; antes, trata-se de apontar como a filosofia, por suas características, consegue dedicar-se à reflexão crítica dos conceitos e valores de nossas sociedades e nossas culturas como nenhuma outra disciplina. 30 Virou notícia O debate sobre a utilidade da filosofia tem ganhado cada vez mais atenção pública em nossos dias: além de críticas à disciplina e ao gasto de recursos com sua manutenção, surgem defesas e argumentos favoráveis por parte de especialistas, que procuram evidenciar seu papel em nossa formação. Em uma coluna intitulada "Em defesa da filosofia", na revista Le Monde Diplomatique, Maurício Abdalla, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), oferece uma rica e interessante reflexão sobre o papel da filosofia no mundo contemporâneo. Leia, abaixo, um trecho dessa coluna. A filosofia não se identifica com nenhuma das tantas profissões e saberes específicos que se formam nos cursos superiores. Quem se forma em Filosofia não recebe uma capacitação prática e técnica. Formar-se em Filosofia é ser introduzido no mundo da razão com a missão de fazer dela o seu instrumento de vida e trabalho, sem, obviamente fechar-se a outras dimensões da vida e às outras faculdades que caracterizam a essência multidimensional do ser humano. Em realidade, a razão só cumpre corretamente sua função quando é compreendida como uma parte em interação sistêmica dentro de uma totalidade que é o ser humano, que, por sua vez, é parte de uma totalidade sistêmica que é o próprio Universo. Seja como professor, pesquisador, escritor, ou apenas como cidadãos e cidadãs que exercem distintas funções, os filósofos e as filósofas devem ter a razão como arma ou martelo (a metáfora é à escolha), sem os quais o soldado ou o ferreiro não executam seu trabalho. ABDALLA, Maurício. Em defesa da filosofia, 2019. Le Monde Diplomatique. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/em-defesa-da-filosofia/>. Acesso em: 28 abr. 2020. Questão 01 Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. A filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas. DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia. Rio de Janeiro, Editora Rio, 1976. p. 87. Pratique: Pratique: pensando a utilidade da filosofiapensando a utilidade da filosofia 31 https://diplomatique.org.br/em-defesa-da-filosofia/ A B C D E Segundo o autor, a filosofia se caracteriza pela: utilidade para a manutenção dos hábitos consolidados no mundo contemporâneo. facilidade teórica e conceitual de seu estudo e seus objetos de análise. possibilidade de lidar com a tristeza e outros sofrimentos psíquicos. capacidade de refutar pressupostos ingênuos estabelecidos. oportunidade de argumentar ironicamente sobre algo. Questão 02 Observe a imagem a seguir, que faz referência a uma famosa escultura chamada O pensador, do escultor francês Auguste Rodin: Com base em nossos estudos, analise a ilustração e responda: por que aprender Filosofia? 32 Questão 03 Veja a tirinha a seguir. Bill Waterson 3.a) O que você pensa a respeito da afirmativa de Calvin de que o "segredo da felicidade é a estupidez de autointeresse a curto prazo"? 3.b) Como seria possível refutar a opinião de Calvin, ou seja, desenvolver um contra-argumento baseado na experiência descrita nos quadrinhos? Christian Mueller / shutterstock.com Você se lembra dessa imagem? Nós a vimos na abertura deste capítulo, quando apresentávamos, de forma bastante geral, a disciplina que você começou a estudar hoje. Concluir sem concluirConcluir sem concluir 33 Apesar de não se relacionar especificamente com nenhum dos assuntos que vimos, ela ilustra algumas coisas sobre o nosso percurso. Sendo assim, observe mais uma vez a imagem e reflita sobre as seguintes questões: 1. Como podemos descrever essa imagem? Pense em uma frase que pode sintetizar o que vemos. 2. O que o grafite parece retratar? Será que ele pode simbolizar algo? 3. O que a pessoa fotografada parece estar fazendo? O que o(a) faz pensar isso? Bom, parece claro que a fotografia retrata uma pessoa passando em frente a um rico grafite, ilustrado pelo artista brasileiro Kobra. Em si, esse grafite parece retratar uma cena de época: vemos bondes, pessoas com roupas sociais, carros antigos... Podemos, mesmo, ver a data "1945" no grafite, possivelmente indicando o ano que ele retrata. Em contraste com esse mundo do passado, vemos uma pessoa passando em frente ao grafite. Ela parece estar apenas passando pela rua quando é fotografada por acaso; nada indica que ela esteja prestando atenção ao grafite nem mesmo que saiba ter sido fotografada. Pelo contrário: de um lado, o homem fotografado provavelmente estava apenas tentando chegar ao seu destino; e, por outro, o fotógrafo provavelmente pretendia retratar o grafite, e não o transeunte. Todavia, essa coincidência registra um retrato bastante expressivo. Uma pessoa está passando em frente ao passado, complexo e rico em detalhes; será que ela tem consciência disso? Se pensarmos nessa imagem a partir dessa perspectiva, poderemos ter um retrato bem resumido do trajeto que nos aguarda nesta disciplina de Filosofia: nós passaremos em frente e conheceremos uma série de elementos e sistemas de pensamento da nossa tradição de pensamento. E aí? O que você acha disso tudo? Se há uma coisa essencial a reter depois deste capítulo, é exatamente isto: o importante é pensar e dar forma a esse pensamento. É isso que faremos neste curso pelos próximos anos. E lembre sempre: você decide como passará por esse complexo trajeto – se passará atento(a), pensando criticamente, ou desatento(a), com os olhos e a mente em outro lugar. Além disso, hoje conhecemos um pouco mais sobre essa importante área do conhecimento. Ao fim deste capítulo, podemos dizer, então, que a Filosofia se relaciona com uma série de 34 • • • • características particulares: o ato de pensar sistematicamente; a reflexão sobre os elementos que constituem a realidade, a sociedade e a vida cotidiana; uma atitude crítica, que reflete sobre o próprio pensamento e seus pressupostos; entre outras. Assim, a Filosofia apresenta respostas e novas perguntas para as questões que se relacionam ao ser humano e ao espaço em que ele vive, mas as respostas oferecidas pela Filosofia, via de regra, não são definitivas nem excludentes. Sempre haverá outras formas de responder ou tentar responder a todas essas grandes questões. Os(As) pensadores(as)do passado, que começamos a conhecer hoje, fornecem alguns pontos de apoio para nossa reflexão, mas a tarefa de entender a realidade contemporânea deve partir de cada um(a) de nós. A realidade, a vida e seus conflitos, nossos dilemas pessoais – tudo isso nos coloca questões e mais questões, e ainda temos muitas coisas para conhecer e tentar entender. Seja bem-vindo(a) à disciplina de Filosofia! A Filosofia é uma disciplina com mais de três milênios de existência e uma grande variedade de características e objetos de estudo. O termo philosophia significa, literalmente, amor (ou amizade) pelo conhecimento. Isso implica dizer que o(a) filósofo(a) se aproxima do saber, mas não o possui. A filosofia pode ser exercida de várias formas, sendo o filosofar – ou seja, o ato do(a) filósofo(a) – igualmente complexo e plural. Todavia, é uma das características mais marcantes da filosofia e do filosofar não restringir de antemão possibilidades de reflexão e compreensão da realidade ou de si mesma. A utilidade da filosofia costuma ser colocada em questão devido à sua aparente falta de importância para fins imediatos em nossa vida e na sociedade. Todavia, essa afirmação ignora o profundo potencial reflexivo que essa área do conhecimento fortalece – para citar apenas uma de suas qualidades. ResumoResumo 35 VIDEOAULASVIDEOAULAS O que é a filosofia?O que é a filosofia? Escaneie com o leitor de QR Code da busca de capítulos na aba ConteúdoConteúdo ASSISTIRASSISTIR 36 FILOSOFIA VER CAPÍTULO SLIDES DO CAPÍTULO Para começar e refletir Como entender a Filosofia? A palavra philosophia O saber e o(a) filósofo(a) Atividade do pensamento? Pratique: o que é a Filosofia? Como se dá a filosofia? A reflexão filosófica O pensamento em diálogo e suas implicações Pratique: a filosofia em exercício E para que serve a Filosofia? O tema da utilidade da Filosofia em nossos dias A utilidade da filosofia em questão Pratique: pensando a utilidade da filosofia Concluir sem concluir Resumo VIDEOAULAS O que é a filosofia? ASSISTIR