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suficientemente examinado por ocaslao do 
julgamento das ADIMCs. n!!s 1.776, relatada 
pelo Ministro Sepúlveda Pertence, e 1.777, da 
relatoria do Ministro Sydney Sanches, ambas 
julgadas na Sessão de 18.03.98, cujos acórdã­
os ainda não foram publicados. 
Registro que a Súmula 339 estabelece que 
não cabe ao Poder Judiciário, que não tem 
função legislativa, aumentar vencimentos de 
servidores públicos, sob fundamento de iso­
nomia. 
6. Ante o exposto, tendo em vista os prece­
dentes e acolhendo o parecer do Ministério 
Público Federal, julgo procedente a ação para, 
confirmando a liminar, declarar a inconstitu­
cionalidade da Resolução n!! 62, de 29 de maio 
de 1996, do Tribunal de Contas da União, 
atribuindo a esta decisão de mérito o efeito ex 
tunc. 
EXTRATO DE ATA 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO-
NALIDADE N!! 1.782-2 
Proced.: Distrito Federal 
Relator: Min. Maurício Corrêa 
Reqte.: Procurador-Geral da República 
Reqdo.: Tribunal de Contas da União 
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, jul-
gou procedente a ação direta para declarar a 
inconstitucionalidade da Resolução n!! 62, de 
29/5/1996, do Tribunal de Contas da União. 
Votou o Presidente. Ausentes, justificada­
mente, o Senhor Ministro Celso de Mello, e, 
neste julgamento, o Senhor Ministro Carlos 
Velloso (Presidente). Presidiu o julgamento o 
Senhor Ministro Marco Aurélio (Vice-Presi­
dente). Plenário, 09.9.1999. 
TRIBUNAL MARÍTIMO - REVISÃO JUDICIAL - VALIDADE TÉCNICA 
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRIBUNAL MARÍTIMO. As de­
cisões do Tribunal Marítimo podem ser revistas pelo Poder Judiciário; 
quando fundadas em perícia técnica; todavia, elas só não subsistirão se esta 
for cabalmente contrariada pela prova judicial. Recurso especial conhecido 
e provido. 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
RECURSO ESPECIAL N!! 38.082 
Recorrente: Iate Clube de Caioba 
Recorrido: Egas Penteado Izique 
Relator: Senhor Ministro Ari Pargendler 
ACÓRDÃO 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, 
acordam os Ministros da TERCEIRA TUR­
MA do Superior Tribunal de Justiça, na con­
formidade dos votos e das notas taquigráficas 
a seguir, por unanimidade, conhecer do recur­
so especial e lhe dar provimento. Participaram 
do julgamento os Srs. Ministros Menezes Di­
reito, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Wal­
demar Zveiter. 
Brasília, 20 de maio de 1999 (data do jul­
gamento). 
257 
MINISTRO Carlos Alberto Menezes Direi­
to, Presidente 
MINISTRO Ari Pargendler, Relator 
RELATÓRIO 
O Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler 
Egas Penteado Izique propôs ação ordinária 
contra o Iate Clube de Caiobá, para vê-lo 
condenado a indenizar-lhe pela perda do bar­
co que estava sob a guarda deste (fi. 02/09). 
Os fatos foram assim relatados no Tribunal 
a quo: 
"Noticiam os autos que no dia 12 de feve­
reiro de 1985, por volta das 16:00 horas, em 
frente ao late Clube de Caiobá, baía de Gua­
ratuba Paraná, a lancha "Consull/", de pro­
priedade de Egas Pellfeado Izique, teve uma 
explosão seguida de incêndio. O acidente 
ocorreu logo após o garagista do late Clube, 
Luiz Vieira de Aguiar, ter colocado a lancha 
em funcionamento para recolhê-Ia à gara­
gem. A embarcação teve o seu casco de fibra 
destruído e terminou por naufragar" (fi. 261). 
A Egrégia 4â Câmara Cível do Tribunal de 
Justiça do Estado do Paraná, Relator o emi­
nente Desembargador José Meger, manteve a 
sentença de procedência do pedido, em acór­
dão assim ementado: 
"Ação ordinária de indenização. Explosão 
de barco junto ao late Clube de Caiobá. Após 
o incêndio a embarcação veio a naufragar. 
Prejuízo total. Despacho saneador. Agravo 
retido. Perícia e audiência realizadas. Sen­
tença de procedência do pedido, face a inte­
gral responsabilidade do Clube pela Indeni­
zação, com base nos arts. 159 c/c o art. 1.521, 
11/, ambos do Código Civil. Apelação. 
Agravo retido reputado como renunciado 
nos termos do art. 522, § lI!. do CPC, e man­
tida a decisão de li!. grau, por maioria de 
votos. 
A perícia realizada não conseguiu apurar 
a causa determinante da explosão do barco. 
Entretanto, a responsabilidade civil indireta 
da empresa ou comitellfe pela guarda da em­
barcação, bem coma por ato de seus empre­
gados ou prepostos, ficou sobejamente com­
provada 110 bojo dos autos. O garagista ou 
258 
manobrista do barco não era habilitado. Núo 
padece sombra de dúvida que as pessoas que 
manobram embarcações são responsáveis pe­
los danos causados a terceiros e pelo Cll/lI­
primellfo dos dispositivos do Regulamento. 
No caso, ficou caracterizada a culpa in eli­
gendo por parte do late Clube de Caiobá e a 
culpa do preposto do mesmo na modalidade 
de negligência, imprudência e imperícia. 
Comprovado está que o late Clube fez má 
escolha de manobrista imperito para função. 
Restou, assim, clara a responsabilidade indi­
reta do réu, por ato de seu empregado. VER­
BA HONORÁRIA ADVOCATíCIA. No tocan­
te à verba honorária advocatícia fixada em 
20% (vínte por cento) sobre o valor da con­
denação, não se apresenta exagerada, por 
isso desmerece alteração a sentença, tam­
bém, nesta parte. Sentença bem lançada. 
Agravo retido tido como renunciado. Apela­
ção, impro~'imento, mas por maioria de vo­
tos" (fi. 259/260). 
Ficou vencido o eminente Desembargador 
Wilson Reback, de cujo voto se transcreve o 
seguinte tópico: 
"No que concerne ao Tribunal Marítimo, 
impossível olvidar os preceitos da Lei ni!. 
2.180/59, cujo art. 18 preceitua que suas de­
cisões referentes aos acidentes e fatos da na­
vegação 'têm valor probatório e se presumem 
certas', somente podendo ser desconstituídas 
por provas em processo judicial, conforme 
ressalva o mesmo artigo. E, 110 caso, a deci­
são do Tribunal Marítmo não foi desconsti­
tuída, fundamentando-se a dOllfa maioria -
que muito respeito merece - em presunções 
e ilações jurídicas impertinentes à espécie. 
Assim, à falta de prova de culpa do preposto 
do apelante, e considerando inexistir, na es­
pécie, responsabilidade objetiva dele, a con­
clusão mais lógica e justa seria admitir que 
os prejuízos do apelado resultaram de caso 
fortui to" (fi. 268). 
Seguiram-se embargos infringentes (fI. 
278/294), rejeitados, também por maioria de 
votos, sendo relator o eminente Desembarga­
dor Osiris Fontoura, nos termos do acórdão 
que levou a seguinte ementa: 
"INDENIZAÇÃO. INCÊNDIO E EXPLO­
SÃO DE BARCO, RESPONSABILIDADE DO 
CLUBE ENCARREGADO DA GUARDA DA 
EMBARCAÇÃO. MANOBRISTA EMPREGA­
DO DO CLUBE. ATO CULPOSO. Culpa do 
manobrista que ao retirar a lancha para re­
colher à garagem, não operou diligentemen­
te. Embargos rejeitados" (jI. 3 I7). 
U-se no voto vencedor: 
"Em virtude do evento fácil é presumir que 
a operação não foi diligentemente executada. 
Se fossem tomadas as precauções não ocor­
reria a explosão nem incêndio. Além do ma­
nobrista mencionado, outros trabalhavam no 
late Clube, o qual autorizava a funcionar em 
manobras de embarcações, pessoas não ha­
bilitadas, como relatam ex-empregados do 
embargante (jI. 84-verso e 85). Prevê o artigo 
491, parágrafo único, do Requlamento para 
o Tráfego Marítimo: "Somellte podem mano­
brar embarcações de esporte ou recreio, a 
propulsão mecânica ou vela, as pessoas de­
vidamente habilitadas ". Fica assim caracte­
rizada a culpa in eligendo por parte do em­
bargante" (jI. 322). 
Do voto vencido do eminente Desembarga­
dor OUo Luiz Sponholz extraem-se estes tre­
chos: 
"A rigor consagrou o acórdão embargado 
a teoria da responsabilidade 'sem culpa', 
pois esta não foi demonstrada em momento 
algum. Pelo contrário, a decisão juntada às 
fi. 150, da qual não houve recurso, expressa­
mente consigna que 'ficou patente o defeito 
de fabricação do tanque de combustível e a 
sua colocação na lancha fabricada pela Car­
brasmar', fato que levou os juízes daquele 
Tribunal do Ministério da Marinha a 'excul­
par os representados '. Acórdão nl! 12.499, fi. 
/50 TJ. O voto vencedor na apelação cível, 
ora sustenta que o manobrista foi imprudente, 
negligente e imperito (sem demonstrar como 
chegou a tal conclusão -voto do relator) e 
ora sustenta que o Clube recorrente 'não pro­
duziu prova capaz de afastar a apontada pre­
sunção de culpa contratual' - sic - (fi. 275 
- voto do vogal) - fi. 326. 
"Causa perplexidade a assertiva do acór­
dão embargado no afã de sustentar a respon­
sabilidade civil do Clube recorrente, quando 
proclamou: 'presume-se (sic) que a operação 
não foi diligentemente executada pelo funcio­
nário '. Pode haver presunção contra prova 
expressa e não refutada ? Era possível ao 
acórdão presumir a condwa culposa do ma­
nobrista? E só com tal culpa presumida do 
preposto, jurídica foi a conclusão da existên­
cia de culpa presumida do patrão?" (tl. 327). 
"É evidente que a existência de um julgado, 
propalado (sic) por Tribunal Administrativo, 
por mais idôneo e sério como aquele que 
decidiu a espécie, junto ao Ministério da Ma­
rinha, não elide a apreciação do fato pelo 
Poder Judiciário. Contudo, para desconsti­
tu ir as conclusões e as decisões que ele erigiu 
como adequadas, é necessário que se faça 
prova inequívoca do erro ou equívoco em que 
teria o Colegiado incorrido. A ausência de 
culpa do manobrista e do late Clube foi pro­
palada em decisão de mérito do Tribunal Ma­
rítimo" (jI. 328). 
Opostos embargos de declaração (fI. 
336/337), foram acolhidos, para explicitar 
que: 
"Ante os termos do documento de fi. 150 
tem pronta receptividade os embargos, pois 
este Relator laborou em equívoco ao afirmar 
que a decisão do Tribunal Marítimo dera o 
dono do barco como um dos culpados. Regis­
tre-se que em vez de apoiar-se na decisão do 
Tribunal, vali-me do documento de fi. 25. Há 
de se ter presente, todavia, que a argumellta­
ção contida no acórdão embargado, quanto 
a prova testemunhal e a entrega do barco 
pelos filhos do dono do barco sinistrado, con­
tinua valendo" (tl. 323/324)" - tl. 346. 
Daí o presente recurso especial, interposto 
pelo Iate Clube de Caiobá, com base no artigo 
105, inciso m, letras "a" e "c", da Consti­
tuição Federal, por violação dos artigos 128, 
264,333, I e 460 do Código de Processo Civil, 
dos artigos 13, 17 e 18 da Lei n!! 2.180, de 
1954 e dos artigos 159, 1.521 e 1.523 do 
Código Civil (tl. 399/365). 
Originariamente não admitido (fI. 
379/382), o recurso especial foi processado 
por força de agravo de instrumento provido 
pelo eminente Ministro Dias Trindade (tl. 
397). 
VOTO 
O Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler 
259 
Os artigos 12g, 264, 333, I e 460 do Código 
de Processo Civil não foram prequestionados. 
Quanto ao mais, há uma certa dificuldade 
em precisar se o Tribunal a quo decidiu à base 
de fatos ou de questões de direito - só no 
último caso viável o recurso especiaL 
No julgamento da apelação, o Relator im­
putava a responsabilidade pelo acidente ao 
Iate Clube de Caiobá, porque" o manobrista 
como empregado da recorrente agia sob as 
ordens de sua direção, além de ser imperito 
como se comprova dos depoimentos das tes­
temunhas e isto não foi ilidido pela deman­
dada" (tl 265). O outro voto vencedor, do 
eminente Desembargador Ivan Righi, con­
cluiu que, em caso de culpa contratual, o ônus 
da prova se inverte, e que "Iate Clube não 
produ::.iu prova capa::. de afastar a apontada 
presunção de culpa contratuar' ... "não pôde 
comprovar que o funcionário encarregado de 
recolher a lancha (apesar de inabilitado) se­
guira o procedimento adequado para esse 
fim" (11. 276). Finalmente, o voto vencido do 
eminente Desembargador Wilson Reback, 
sustentou que, "fundamentada a ação no art. 
159 do Código Civil, cumpria ao autor a pro­
va, segura, indubitável e convincente de que 
o prejuí::.o que sofreu decorrera de ação ou 
omissão voluntária, negligência, ou imperí­
cia do preposto da ré. E isso, a meu ver, não 
ficou provado" (11. 267). Quer dizer, o acór­
dão teve, à luz dos votos vencedores, um du­
plo fundamento: prova da culpa do preposto 
do Iate Clube de Caiobá (matéria de fato, 
insuscetível de reexame em recurso especial) 
e imputação da responsabilidade ao Iate Clu­
be de Caiobá porque não se desincumbiu do 
ônus de provar que o preposto seguira o pro­
cedimento adequado (questão de direito, su­
jeita a exame no recurso especial). 
A ementa do acórdão proferido nos embar­
gos infringentes, aparentemente, supera essa 
dificuldade, a saber: "INDENIZAÇÃO. IN­
CÊNDIO E EXPLOSÃO DE BARCO, RES­
PONSILBILlDADE DO CLUBE ENCARRE­
GADO DA GUARDA DA EMBARCAÇÃO. 
MANOBRISTA EMPREGADO DO CLUBE. 
ATO CULPOSO. Culpa do manobrista que 
ao retirar a lancha para recolher à garagem, 
não operou diligentemente. Embargos rejei-
260 
tados" (jl. 3/7). Diz-se. aparentemente. por­
que não há no julgado qualquer referência à 
prova de que o preposto agiu com culpa. Pelo 
contrário, os embargos infringentes foram de­
cididos à base de um só dos fundamentos 
adotados, no julgamento da apelação, para 
manter a sentença, in verbis: "Assumiu o em­
bargante a obrigação de tirar o barco d'água 
e recolhê-lo na garagen. Para tanto, era ne­
cessário acionar o motor da lancha, assumin­
do o embargante o encargo de tomar todas 
as precauções necessárias para evitar o aci­
dente, incluindo-se a tarefa de abrir escoti­
lhas, verificar vazamentos. Note-se que o ma­
nobrista ao ser ouvido perante o Tribunal 
Marítimo, referiu que não pode perceber se 
havia cheiro de gasolina, devido o forte vento 
reinante (j7, 24). Ao ser ouvido em juí::.o não 
referiu ao vento, ligando a chave de ignição 
(j7. 185). Em virtude do evento,fácil é presu­
mir que a operação não foi diligentemente 
executada. Se fossem tomadas as precauções 
não ocorreria a explosão nem incêndio. Além 
do manobrista mencionado, outros trabalha­
vam no late Clube, o qual autorizava a fun­
cionar em manobras de embarcaçães, pes­
soas não habilitadas, como relatam ex-em­
pregados do embargante (j7. 84-verso e 85), 
Prevê o artigo 991, parágrafo único, do Re­
gulamento para o Tráfego Marítimo: 'Somen­
te podem manobrar embarcações de esporte 
ou recreio, a propulsão mecânica ou vela, as 
pessoas devidameme habilitadas', Fica assim 
caracterizada a culpa in eligendo por parte 
do embargante" (11. 3211322). 
À luz do que foi transcrito, o Tribunal a quo 
não explicitou qualquer juízo de fato que pre­
judique o recurso especiaL 
É certo que, nos embargos de declaração, 
ficou registrado que: "Há de se ter presente, 
todavia, que a argumentação contida no 
acórdão embargado, quanto a prova testemu­
nhal e a entrega do barco pelos filhos do dono 
do barco sinistrado, continua valendo (fl. 
323/324)" - 11. 346. 
Mas às aludidas folhas 323 e 324 foi dito 
apenas que: "Com efeito, após os filhos do 
embargado terem saído no domingo para pes­
car, o barco ficou até 3U feira, quando foi 
recolhido (fl. 185 e 186). Testemunha arrola-
dll pelo embargante, afirma que del1Jomrull1 
1/111 pouco pa ra recolhe r a emba rcarâo (//. 
184). Note-se que Luiz Vieira de Alencar re­
cebeu ordem para recolher a embarcação no 
dia do evento (fi. 185)" - fi. 323. 
A matéria, portanto, pode. sim, ser exami­
nada neste recurso especial. 
Os autos dão conta de que a ação foi ins­
truida com relatório da Capitania dos Portos 
de Paranaguá. cuja parte dispositiva tem o 
seguinte teor: 
"De tudo quanto contêm os presentes autos, 
cone/ui-se: 
I - que o acidente foi devido a explosão 
de gasolina. sem se poder precisar a causa 
que proporcionou a explosão. conforme se vê 
às fls. 21; 
2 - que. e:n conseqüência houve dano to­
tal do casco da embarcação e grandes danos 
nos motores, conforme consta das fls. 17, fls. 
I7v e fls. 25; 
3 - são possíveis responsáveis: 
a) diretamente. Luiz Vieira de Aguiar. por 
não ser habilitado. não conhecer a embarca­
ção e tê-Ia manobrado sem as precauções de 
segurança; e 
b) indiretamente. o late Clube de Caiobá. 
por manter pessoal não qualificado para ma­
nobrar embarcações e o proprietário da em­
barcação por entregar a mesma a pessoa não 
habilitada" (jl. 25). 
Em meio à instrução da causa. sobreveio 
acórdão do Tribunal Marítimo. COI11 o seguin­
te dispositivo: 
"Acordamos Juízes do Tribunal Marítimo. 
por unanimidade: a) quanto à naU/reza e ex­
tensão do acidente: explosão; incêndio; nau­
frágio de lancha com motor Volvo Penta à 
gasolina. fabricada pela Carbrasmar; b) 
quanto à causa determinante: não apurada; 
c) decisão: julgar improcedente a repre­
sentaçâo, exculpando os representados e ar­
quivando-se o processo" (fi. 150). 
De acordo com o artigo 18 da Lei nl! 2.180. 
de 1954: 
.. Ar\. 18 - As decisões do Tribunal Marí­
timo quanto à matéria técnica referente aos 
acidentes e fatos da navegação têm valor pro­
batório e se presumem certas. sendo suscetí­
veis de reexame pelo Poder Judiciário somen-
te quando forem contrárias a texto expresso 
de lei. prova evidente dos autos. ou lesarem 
direito individual." 
Nesse contexto. o acórdão do Tribunal Ma­
rítimo poderia ser revisto, mas, apenas, se 
fosse contrário a texto expresso de lei, prova 
evidente dos autos. ou lesasse direito indivi­
dual. 
Na espécie. ao invés disso, o Tribunal a quo 
se fundou em prova superada, representada 
pelo Relatório da Capitania dos Portos de Pa­
ranaguá, que o Tribunal Administrativo não 
acolheu, in verbis: "Ante os termos do docu­
mento de fi. 150 tem pronta receptividade os 
embargos. pois este Relator laborou em equí­
voco ao afirmar que a decisão do Tribunal 
Marítimo dera o dono do barco como um dos 
culpados. Registre-se que em vez de apoiar-se 
na decisão do Tribunal, vali-me do documen­
to de fi. 25" (fi. 346). 
O documento de fi. 25 é parte do Relatório 
da Capitania dos Portos de Paranaguá (fi. 
24/25). 
Daí a conclusão de que o acórdão recorrido 
contrariou o artigo 18 da Lei nl! 2.180, de 
1954, porque desconsiderou a decisão do Tri­
bunal Marítimo sem aludir às circunstâncias 
que admitiriam esse procedimento, como se­
jam, a demonstração de que contrariou texto 
expresso de lei e a prova evidente dos autos 
ou de que lesou direito individual. 
Assim, sem a prova de culpa do preposto, 
que o Tribunal Marítimo não reconheceu (ex­
culpar significa tirar a culpa de), o acórdão 
recorrido também contrariou os artigos 159 e 
1.521 do Códígo Civil. 
Voto. por isso. no sentido de conhecer do 
recurso e de dar-lhe provimento para julgar 
improcedente a ação, condenando Egas Pen­
teado Izique ao pagamento das custas e dos 
honorários de advogado à base 20% (vinte por 
cento) do valor da causa. 
VOTO 
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO 
MENEZES DIREITO: 
Senhores Ministros. estou de acordo com o 
261 
Senhor Ministro-Relator. l"ão há presunção 
de culpa nessa matéria. 
ESCLARECIMENTOS 
o SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: 
Sr. Ministro Ari Pargendler, o Tribuual, para 
firmar a culpa do preposto do recorrente, ba­
seou-se, disse V. Exa., num relatório da Ca­
pitania dos Portos. Esse relatório propicia ele­
mentos suficientes para se concluir por essa 
culpa? 
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER 
(RELATOR): Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, 
baseou-se no relatório de fls. 25. O relatório 
é o ato preparatório, é o que leva ao conheci­
mento ... 
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: 
Sr. Ministro Ari Pargendler, que dados o Tri­
bunal de Alçada apontou para dele extrair que 
houve culpa? 
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: 
Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, suprimi a lei­
tura de parte do meu voto, no qual começo 
dizendo assim: (lê) 
"Há uma série de dificuldades em precisar 
se o Tribunal a quo decidiu à base de fato ou 
de questões de direito. Só no último caso, 
viável o recurso especial . .. 
Fiquei com essa dúvida até dar-me conta de 
que a questão nem era propriamente de direi­
to, era de erro. O Relator dos embargos in­
fringentes foi surpreendido por esta contradi­
ção: em que ele se baseou para dizer tudo 
isso? Ele afirmou que foi no relatório de fls. 
25. 
Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, considero 
que esse relatório, que não tem efeitos deci­
sórios, ficou prejudicado pela decisão do Tri­
bunal administrativo. 
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: 
Peço vênia para discordar. Como de pacífico 
entendimento, o Tribunal Marítimo é órgão 
simplesmente administrativo. Não integra o 
Poder Judiciário e não exerce função jurisdi­
cional. As decisões que profere tem eficácia 
no âmbito administrativo, mas de nenhum 
modo podem condicionar as que venham a ser 
262 
proferidas pelo Judiciário. Qualquer norma 
legal que dispusesse em contrário seria in­
constitucional, pois importaria subtrair a esse 
Poder a apreciação de lesão a direito. E im­
plicaria isso determinar que a decisão de ór­
gão administrativo a propósito da culpa em 
evento de que resultou dano, não se exporia 
a reexame. 
Ocorre que a lei teve isso em conta e não 
pretendeu cercear atividade jurisdicional. Por 
isso estabeleceu que uma das hipóteses em 
que possível contrariar decisão do Tribunal 
Marítimo é quando se cogitar de lesão de 
direito. Aliás, após o julgamento de que se 
cuida, o texto legal foi modificado para esta­
belecer simplesmente que aquelas decisões 
podem se revistas pelo Judiciário. 
Possível, pois, no âmbito da Jurisdição, rea­
valiar os elementos e concluir de modo diver­
so daquele por que se inclinou aquele Tribu­
nal. 
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO 
MENEZES DIREITO (PRESIDENTE): O 
advogado, da tribuna e o Sr. Ministro Ari 
Pargendler, quando votou, não deram por fun­
damento exclusivamente a existência de pro­
va consolidada no Tribunal Marítimo, mas, 
também, que o tribunal de origem teria recha­
çado essa prova com base em uma presunção. 
Se ele rechaçou com base em presunção e o 
eminente advogado, Dr. Gordilho, leu, da tri­
buna, o texto em que o acórdão, expressamen­
te, faz referência a isso, é evidente que não é 
possível impor a responsabilidade. Pareceu­
me tanto mais grave esse fato porque apenas 
nos embargos de declaração é que o acórdão 
faz menção ao documento de fls. 25. Quando 
questionado qual o fundamento para decidir 
daquela forma, se não uma presunção, ele 
indicou, então, esse relatório. Mas. do voto, 
no acórdão principal, não consta nenhuma 
fundamentação de reapreciação da prova do 
Tribunal Marítimo; ao contrário, ele afirma 
que houve uma presunção. E esse é motivo 
suficiente para lastrear a exclusão da respon­
sabilidade, por isso registrei no meu voto. 
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER 
(RELATOR): O tribunal a quo ficou muito 
impressionado com a circunstância de que o 
preposto não tinha habilitação, daí ele con-
c1uiu que ele não seguiu os procedimentos 
adequados e não há como saber. 
O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO 
MENEZES DIREITO: V. Exa. me perdoe, o 
trecho lido, da tribuna, do acórdão é exata­
mente esse: o acórdão recorrido teria afirma­
do que presume-se a culpa porque não teria o 
manobrista competência ou formação sufi­
ciente para fazer a operação que fez. Ora, 
evidentemente, isso é admitir que se poderia 
impor a responsabilidade por presunção. Esse 
é o fundantento do meu voto, que fiz questão 
de salientar. 
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: 
O que exatamente estou indagando é se o 
acórdão apresentou alguma base fática para 
daí extrair a conclusão quanto à culpa ou se 
ficou só nessas considerações, fundadas em 
presunções que, evidentemente, não têm am­
paro em nosso ordenamento. 
O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: 
Se V. Exa. me permite, então, vou ler a parte 
do voto vencedor que não li no relatório, mas 
que consta do voto. O voto vencedor, nos 
embargos infringentes, na parte que me pare­
ceu mais importante, diz assim: (lê) 
.. Em virtude do evento ....... por parte do 
embargante. " 
A culpa in eligendo pode ter ocorrido, mas 
primeiro era preciso que se comprovasse a 
culpa do preposto. 
É importante, e está muito bem articulado, 
o voto vencido do Desembargador Otho Luiz, 
embora não sendo sob os fundamentos cita­
dos. Ele diz: (lê) 
.. A rigor, consagrou ................... exculpar 
os representados." 
E diz, ainda: 
"Causa perplexidade a ....... presumida do 
patrão?" 
Essa é a questão. 
O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: 
Reiterando pedido de vênia ao eminente Re­
lator. afasto o fundamento apontado. Não se 
verificouviolação à Lei 2.180, mas ao artigo 
159 do Código Civil. Resulta desse dispositi­
vo que existe obrigação de reparar o dano 
quando esse for causado culposamente. Ora, 
admitir culpa presumida corresponde a dis­
pensá-la. o que só é possível nas hipóteses 
previstas em lei. O fato de alguém não se 
achar legalmente habilitado não significa se 
tenha comportado com culpa em determinada 
circunstância. Mister indicar em que teria 
consistido o comportamento culposo e isso o 
acórdão não fez. 
Com essas observações, acompanho a con­
clusão do voto do Relator. 
VOTO 
O SR. MINISTRO W ALDEMAR ZVEI­
TER: Sr. Presidente, voto de acordo com o 
proposto pelo Sr. Ministro Eduardo Ribeiro. 
CERTIDÃO DE JULGAMENTO 
TERCEIRA TURMA 
Nl! Registro: 93/0023708-0 
P A UT A: 20/05/1999 
Relator 
Exmo. Sr. Min. ARI PARGENDLER Pre­
sidente da Sessão 
Exmo. Sr. Min. CARLOS ALBERTO ME­
NEZES DIREITO 
Subprocurador-Geral da República 
Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES 
MORAIS ALHO 
Secretário (a) 
SOLANGE ROSA DOS SANTOS 
AUTUAÇÃO 
Recte.: Iate Clube de Cai oba 
Advogado.: Pedro Augusto de Freitas Gor­
lho e Outros 
Recdo.: Egas Penteado Izique 
Advogado.: Hugo Mosca e Outros 
SUSTENTAÇÃO ORAL. 
Sustentou oralmente, o Dr. Pedro Augusto 
de Freitas Gordilho. pelo recorrente. 
26~ 
CERTIDÃO 
Certifico que a egrégia TERCEIRA TUR­
MA ao apreciar o processo em epígrafe. em 
sessão realizada nesta data, proferiu a seguin­
te decisão: 
,. A Turma. por unanimidade, conheceu do 
recurso especial e deu-lhe provimento." 
Participaram do julgamento os Srs. Minis­
tros Menezes Direito, Nilson Naves, Eduardo 
Ribeiro e Waldemar Zveiter. 
O referido é verdade. Dou fé. 
Brasília, 20 de maio de 1999 
SECRET ÁRIO(A) SOLANGE ROSA 
DOS SANTOS 
(COMENTÁRIO) 
SUGESTÕES PARA INDEXAÇÃO: 
TRIBUNAL MARÍTIMO. SUAS 
DECISÕES TÊM VALOR PROBATÓRIO 
E SE PRESUMEM CERTAS. PROVA: 
TRIBUNAL MARÍTIMO 
I. O feito chegou ao STJ dando supe­
rioridade à tese de que não prevalece decisão 
do Tribunal Marítimo sobre conjunto proba­
tório, com base no qual restou definida a res­
ponsabilidade civil do recorrente, por ato de 
seu proposto. 
2. Mas o acórdão recorrido fez por consig­
nar sua decisão com base na pura presunção, 
como se vê do seguinte trecho culminante: 
"(. .. ) em virtude do evento,jácil é presumir 
que a operação não foi diligentemente execu­
tada (Fls. 321)." 
3. Ora, lei federal não permite presunção 
contra decisão certa em contrário do Tribunal 
Maríti mo, nos termos do art. 18 da L. 
2.180/54, que prescreve: 
"Art. 18. As decisões do Tribunal Marítimo 
quanto à nnatéria técnica referente aos aci­
dentes e fatos da navegação tem valor proba­
tório e se presumem certas, sendo suscetíveis 
de reexame pelo Poder Judiciário, somente 
quando forem contrárias a texto expresso de 
lei, prom e1'idente dos autos, ou lesarem di­
reito indil'idual." 
264 
4. E para se chegar à conclusão de que o 
acórdão recorrido ofendeu a lei federal e di­
vergiu da jurisprudência não havia necessida­
de de reexaminar-se a prova, como assinalou 
o julgado comentado. 
5. O acórdão recorrido alegou presunção, 
adotando presunção contra decisão certa do 
Tribunal Marítimo. Havia, portanto, violação 
do ordenamento federal que merecia ser coi­
bida, porque, em face do dispositivo dado 
como ofendido, não se admite presunção con­
tra decisão do Tribunal Marítimo, fundamen­
to especialmente destacado no voto do Minis­
tro Carlos Alberto Menezes Direito. 
6. Em momento algum duvidou-se da pro­
va. O recurso questionou o acórdão, dado que 
o mesmo infringiu decisão final e certa do 
Tribunal Marítimo, sem amparo em prova 
produzida nos autos judiciais. 
7. E mais: decidiu-se sem amparo em prova 
judicial porque nos autos não se produziu pro­
va alguma diversa daquela examinada pelo 
Tribunal Marítimo. Adotou-se a prova do pro­
cedimento administrativo, produzida no âm­
bito do Tribunal Marítimo, decidindo-se, con­
trariamente, a ela. 
8. Com efeito, a decisão do órgão especia­
lizado foi juntada pela própria perícia judi­
cial. Fora a matéria da culpa, para a qual se 
louvou na decisão do Tribunal Marítimo, a 
perícia judicial somente examinou e quantifi­
cou os danos (o que não se discutiu). Não 
houve juntada de outros documentos ou de­
poimentos de testemunhas, diferentes daque­
las ouvidas no processo do Tribunal Maríti­
mo. 
9. Ora, cotejar as peças processuais incon­
troversas para se chegar a esta conclusão não 
configura reexame da prova. Não se impunha 
examinar elementos da prova para aferir-se 
da culpabilidade da parte, mas as peças do 
caderno processual. para saber se o texto da 
lei federal foi. ou não, violado. Ou seja, se 
havia ou não elemento novo nos autos, não 
considerado pelo Tribunal Marítimo. 
I O. Este exame é necessário e admitido pela 
jurisprudência notória. que permite a qualifi­
cação do negócio jurídico, através do exame 
de sua existência e natureza. 
11. Nada mais visou o recurso senão fazer 
boa afirmação da lei federal de que, sem prova 
em contrário nos autos judiciais (o que se 
constatou compulsando-se as peças do pro­
cesso. sem necessidade de examinar a matéria 
de fato), superpõe-se a decisão certa do Tri­
bunal Marítimo no tocante aos fatos da nave-
gação. matéria de sua especialidade. Este o 
escopo do recurso especial, que o acórdão 
comentado deu provimento, fiel ao diploma 
dado como negado. 
Pedro Gordilho 
CONCESSÃO DE OBRA PÚBLICA - TARIFA - ALTERAÇÃO 
MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO OBRA PÚBLICA. JUL­
GAMENTO PELA MELHOR OFERTA. PREÇO FIXADO NO EDITAL. POS­
SIBILIDADE, OU NÃO, DE MODIFICAÇÃO UNILATERAL DA TARIFA. 
AUSÊNCIA DE FATO SUPERVENIENTE. DEFICIÊNCIA DE PROCEDI­
MENTO REGULAR. 
Se a alteração definida pela Administração afeta a própria base do 
contrato de concessão, pois modifica o resultado do que se teve, à época, 
por expressão do equilíbrio econômico-financeiro, inviável que se a efetive 
de modo unilateral. 
Assim não fora, porém, juridicamente insustentável que o faça à revelia 
de procedimento direcionado à decisão, com possibilidade efetiva de parti­
cipação do concessionário, não bastando que aquela seja fundamentada. 
No Estado Democrático de Direito, a motivação da decisão administra­
tiva não basta, impondo-se o recolhimento cOllsentâneo, se não da vontade, 
inafastavelmente da colaboração do interessado, pois a ação é legitimada 
pelo procedimento. 
SEGURANÇA CONCEDIDA 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
Mandado de Segurança n11 599222957 
Tribunal Pleno Porto Alegre 
CONVIAS S/A - CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS. 
Impetrantes: Sulvias S/A - Concessionária de Rodovias e Metrovias S/A 
- Concessionária de Rodovias. 
Coatores: Exmo. Sr. Governador do Estado, Exmo. Sr. Secretário de 
Estado dos Transportes, Diretor-Geral do Departamento 
Autônomo de Estradas de Rodagem - DAER e Diretor de 
Concessões do Dep. Autônomo de Estradas de Rodagem -
DAER 
ACÓRDÃO 
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam. em Órgão Especial do Tribunal 
de Justiça. conceder a segurança, por maioria. 
vencidos os Desembargadores Tupinambá e 
265

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