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suficientemente examinado por ocaslao do julgamento das ADIMCs. n!!s 1.776, relatada pelo Ministro Sepúlveda Pertence, e 1.777, da relatoria do Ministro Sydney Sanches, ambas julgadas na Sessão de 18.03.98, cujos acórdã os ainda não foram publicados. Registro que a Súmula 339 estabelece que não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos, sob fundamento de iso nomia. 6. Ante o exposto, tendo em vista os prece dentes e acolhendo o parecer do Ministério Público Federal, julgo procedente a ação para, confirmando a liminar, declarar a inconstitu cionalidade da Resolução n!! 62, de 29 de maio de 1996, do Tribunal de Contas da União, atribuindo a esta decisão de mérito o efeito ex tunc. EXTRATO DE ATA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO- NALIDADE N!! 1.782-2 Proced.: Distrito Federal Relator: Min. Maurício Corrêa Reqte.: Procurador-Geral da República Reqdo.: Tribunal de Contas da União Decisão: O Tribunal, por unanimidade, jul- gou procedente a ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Resolução n!! 62, de 29/5/1996, do Tribunal de Contas da União. Votou o Presidente. Ausentes, justificada mente, o Senhor Ministro Celso de Mello, e, neste julgamento, o Senhor Ministro Carlos Velloso (Presidente). Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Marco Aurélio (Vice-Presi dente). Plenário, 09.9.1999. TRIBUNAL MARÍTIMO - REVISÃO JUDICIAL - VALIDADE TÉCNICA CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRIBUNAL MARÍTIMO. As de cisões do Tribunal Marítimo podem ser revistas pelo Poder Judiciário; quando fundadas em perícia técnica; todavia, elas só não subsistirão se esta for cabalmente contrariada pela prova judicial. Recurso especial conhecido e provido. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RECURSO ESPECIAL N!! 38.082 Recorrente: Iate Clube de Caioba Recorrido: Egas Penteado Izique Relator: Senhor Ministro Ari Pargendler ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TUR MA do Superior Tribunal de Justiça, na con formidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recur so especial e lhe dar provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Di reito, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Wal demar Zveiter. Brasília, 20 de maio de 1999 (data do jul gamento). 257 MINISTRO Carlos Alberto Menezes Direi to, Presidente MINISTRO Ari Pargendler, Relator RELATÓRIO O Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler Egas Penteado Izique propôs ação ordinária contra o Iate Clube de Caiobá, para vê-lo condenado a indenizar-lhe pela perda do bar co que estava sob a guarda deste (fi. 02/09). Os fatos foram assim relatados no Tribunal a quo: "Noticiam os autos que no dia 12 de feve reiro de 1985, por volta das 16:00 horas, em frente ao late Clube de Caiobá, baía de Gua ratuba Paraná, a lancha "Consull/", de pro priedade de Egas Pellfeado Izique, teve uma explosão seguida de incêndio. O acidente ocorreu logo após o garagista do late Clube, Luiz Vieira de Aguiar, ter colocado a lancha em funcionamento para recolhê-Ia à gara gem. A embarcação teve o seu casco de fibra destruído e terminou por naufragar" (fi. 261). A Egrégia 4â Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Relator o emi nente Desembargador José Meger, manteve a sentença de procedência do pedido, em acór dão assim ementado: "Ação ordinária de indenização. Explosão de barco junto ao late Clube de Caiobá. Após o incêndio a embarcação veio a naufragar. Prejuízo total. Despacho saneador. Agravo retido. Perícia e audiência realizadas. Sen tença de procedência do pedido, face a inte gral responsabilidade do Clube pela Indeni zação, com base nos arts. 159 c/c o art. 1.521, 11/, ambos do Código Civil. Apelação. Agravo retido reputado como renunciado nos termos do art. 522, § lI!. do CPC, e man tida a decisão de li!. grau, por maioria de votos. A perícia realizada não conseguiu apurar a causa determinante da explosão do barco. Entretanto, a responsabilidade civil indireta da empresa ou comitellfe pela guarda da em barcação, bem coma por ato de seus empre gados ou prepostos, ficou sobejamente com provada 110 bojo dos autos. O garagista ou 258 manobrista do barco não era habilitado. Núo padece sombra de dúvida que as pessoas que manobram embarcações são responsáveis pe los danos causados a terceiros e pelo Cll/lI primellfo dos dispositivos do Regulamento. No caso, ficou caracterizada a culpa in eli gendo por parte do late Clube de Caiobá e a culpa do preposto do mesmo na modalidade de negligência, imprudência e imperícia. Comprovado está que o late Clube fez má escolha de manobrista imperito para função. Restou, assim, clara a responsabilidade indi reta do réu, por ato de seu empregado. VER BA HONORÁRIA ADVOCATíCIA. No tocan te à verba honorária advocatícia fixada em 20% (vínte por cento) sobre o valor da con denação, não se apresenta exagerada, por isso desmerece alteração a sentença, tam bém, nesta parte. Sentença bem lançada. Agravo retido tido como renunciado. Apela ção, impro~'imento, mas por maioria de vo tos" (fi. 259/260). Ficou vencido o eminente Desembargador Wilson Reback, de cujo voto se transcreve o seguinte tópico: "No que concerne ao Tribunal Marítimo, impossível olvidar os preceitos da Lei ni!. 2.180/59, cujo art. 18 preceitua que suas de cisões referentes aos acidentes e fatos da na vegação 'têm valor probatório e se presumem certas', somente podendo ser desconstituídas por provas em processo judicial, conforme ressalva o mesmo artigo. E, 110 caso, a deci são do Tribunal Marítmo não foi desconsti tuída, fundamentando-se a dOllfa maioria - que muito respeito merece - em presunções e ilações jurídicas impertinentes à espécie. Assim, à falta de prova de culpa do preposto do apelante, e considerando inexistir, na es pécie, responsabilidade objetiva dele, a con clusão mais lógica e justa seria admitir que os prejuízos do apelado resultaram de caso fortui to" (fi. 268). Seguiram-se embargos infringentes (fI. 278/294), rejeitados, também por maioria de votos, sendo relator o eminente Desembarga dor Osiris Fontoura, nos termos do acórdão que levou a seguinte ementa: "INDENIZAÇÃO. INCÊNDIO E EXPLO SÃO DE BARCO, RESPONSABILIDADE DO CLUBE ENCARREGADO DA GUARDA DA EMBARCAÇÃO. MANOBRISTA EMPREGA DO DO CLUBE. ATO CULPOSO. Culpa do manobrista que ao retirar a lancha para re colher à garagem, não operou diligentemen te. Embargos rejeitados" (jI. 3 I7). U-se no voto vencedor: "Em virtude do evento fácil é presumir que a operação não foi diligentemente executada. Se fossem tomadas as precauções não ocor reria a explosão nem incêndio. Além do ma nobrista mencionado, outros trabalhavam no late Clube, o qual autorizava a funcionar em manobras de embarcações, pessoas não ha bilitadas, como relatam ex-empregados do embargante (jI. 84-verso e 85). Prevê o artigo 491, parágrafo único, do Requlamento para o Tráfego Marítimo: "Somellte podem mano brar embarcações de esporte ou recreio, a propulsão mecânica ou vela, as pessoas de vidamente habilitadas ". Fica assim caracte rizada a culpa in eligendo por parte do em bargante" (jI. 322). Do voto vencido do eminente Desembarga dor OUo Luiz Sponholz extraem-se estes tre chos: "A rigor consagrou o acórdão embargado a teoria da responsabilidade 'sem culpa', pois esta não foi demonstrada em momento algum. Pelo contrário, a decisão juntada às fi. 150, da qual não houve recurso, expressa mente consigna que 'ficou patente o defeito de fabricação do tanque de combustível e a sua colocação na lancha fabricada pela Car brasmar', fato que levou os juízes daquele Tribunal do Ministério da Marinha a 'excul par os representados '. Acórdão nl! 12.499, fi. /50 TJ. O voto vencedor na apelação cível, ora sustenta que o manobrista foi imprudente, negligente e imperito (sem demonstrar como chegou a tal conclusão -voto do relator) e ora sustenta que o Clube recorrente 'não pro duziu prova capaz de afastar a apontada pre sunção de culpa contratual' - sic - (fi. 275 - voto do vogal) - fi. 326. "Causa perplexidade a assertiva do acór dão embargado no afã de sustentar a respon sabilidade civil do Clube recorrente, quando proclamou: 'presume-se (sic) que a operação não foi diligentemente executada pelo funcio nário '. Pode haver presunção contra prova expressa e não refutada ? Era possível ao acórdão presumir a condwa culposa do ma nobrista? E só com tal culpa presumida do preposto, jurídica foi a conclusão da existên cia de culpa presumida do patrão?" (tl. 327). "É evidente que a existência de um julgado, propalado (sic) por Tribunal Administrativo, por mais idôneo e sério como aquele que decidiu a espécie, junto ao Ministério da Ma rinha, não elide a apreciação do fato pelo Poder Judiciário. Contudo, para desconsti tu ir as conclusões e as decisões que ele erigiu como adequadas, é necessário que se faça prova inequívoca do erro ou equívoco em que teria o Colegiado incorrido. A ausência de culpa do manobrista e do late Clube foi pro palada em decisão de mérito do Tribunal Ma rítimo" (jI. 328). Opostos embargos de declaração (fI. 336/337), foram acolhidos, para explicitar que: "Ante os termos do documento de fi. 150 tem pronta receptividade os embargos, pois este Relator laborou em equívoco ao afirmar que a decisão do Tribunal Marítimo dera o dono do barco como um dos culpados. Regis tre-se que em vez de apoiar-se na decisão do Tribunal, vali-me do documento de fi. 25. Há de se ter presente, todavia, que a argumellta ção contida no acórdão embargado, quanto a prova testemunhal e a entrega do barco pelos filhos do dono do barco sinistrado, con tinua valendo" (tl. 323/324)" - tl. 346. Daí o presente recurso especial, interposto pelo Iate Clube de Caiobá, com base no artigo 105, inciso m, letras "a" e "c", da Consti tuição Federal, por violação dos artigos 128, 264,333, I e 460 do Código de Processo Civil, dos artigos 13, 17 e 18 da Lei n!! 2.180, de 1954 e dos artigos 159, 1.521 e 1.523 do Código Civil (tl. 399/365). Originariamente não admitido (fI. 379/382), o recurso especial foi processado por força de agravo de instrumento provido pelo eminente Ministro Dias Trindade (tl. 397). VOTO O Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler 259 Os artigos 12g, 264, 333, I e 460 do Código de Processo Civil não foram prequestionados. Quanto ao mais, há uma certa dificuldade em precisar se o Tribunal a quo decidiu à base de fatos ou de questões de direito - só no último caso viável o recurso especiaL No julgamento da apelação, o Relator im putava a responsabilidade pelo acidente ao Iate Clube de Caiobá, porque" o manobrista como empregado da recorrente agia sob as ordens de sua direção, além de ser imperito como se comprova dos depoimentos das tes temunhas e isto não foi ilidido pela deman dada" (tl 265). O outro voto vencedor, do eminente Desembargador Ivan Righi, con cluiu que, em caso de culpa contratual, o ônus da prova se inverte, e que "Iate Clube não produ::.iu prova capa::. de afastar a apontada presunção de culpa contratuar' ... "não pôde comprovar que o funcionário encarregado de recolher a lancha (apesar de inabilitado) se guira o procedimento adequado para esse fim" (11. 276). Finalmente, o voto vencido do eminente Desembargador Wilson Reback, sustentou que, "fundamentada a ação no art. 159 do Código Civil, cumpria ao autor a pro va, segura, indubitável e convincente de que o prejuí::.o que sofreu decorrera de ação ou omissão voluntária, negligência, ou imperí cia do preposto da ré. E isso, a meu ver, não ficou provado" (11. 267). Quer dizer, o acór dão teve, à luz dos votos vencedores, um du plo fundamento: prova da culpa do preposto do Iate Clube de Caiobá (matéria de fato, insuscetível de reexame em recurso especial) e imputação da responsabilidade ao Iate Clu be de Caiobá porque não se desincumbiu do ônus de provar que o preposto seguira o pro cedimento adequado (questão de direito, su jeita a exame no recurso especial). A ementa do acórdão proferido nos embar gos infringentes, aparentemente, supera essa dificuldade, a saber: "INDENIZAÇÃO. IN CÊNDIO E EXPLOSÃO DE BARCO, RES PONSILBILlDADE DO CLUBE ENCARRE GADO DA GUARDA DA EMBARCAÇÃO. MANOBRISTA EMPREGADO DO CLUBE. ATO CULPOSO. Culpa do manobrista que ao retirar a lancha para recolher à garagem, não operou diligentemente. Embargos rejei- 260 tados" (jl. 3/7). Diz-se. aparentemente. por que não há no julgado qualquer referência à prova de que o preposto agiu com culpa. Pelo contrário, os embargos infringentes foram de cididos à base de um só dos fundamentos adotados, no julgamento da apelação, para manter a sentença, in verbis: "Assumiu o em bargante a obrigação de tirar o barco d'água e recolhê-lo na garagen. Para tanto, era ne cessário acionar o motor da lancha, assumin do o embargante o encargo de tomar todas as precauções necessárias para evitar o aci dente, incluindo-se a tarefa de abrir escoti lhas, verificar vazamentos. Note-se que o ma nobrista ao ser ouvido perante o Tribunal Marítimo, referiu que não pode perceber se havia cheiro de gasolina, devido o forte vento reinante (j7, 24). Ao ser ouvido em juí::.o não referiu ao vento, ligando a chave de ignição (j7. 185). Em virtude do evento,fácil é presu mir que a operação não foi diligentemente executada. Se fossem tomadas as precauções não ocorreria a explosão nem incêndio. Além do manobrista mencionado, outros trabalha vam no late Clube, o qual autorizava a fun cionar em manobras de embarcaçães, pes soas não habilitadas, como relatam ex-em pregados do embargante (j7. 84-verso e 85), Prevê o artigo 991, parágrafo único, do Re gulamento para o Tráfego Marítimo: 'Somen te podem manobrar embarcações de esporte ou recreio, a propulsão mecânica ou vela, as pessoas devidameme habilitadas', Fica assim caracterizada a culpa in eligendo por parte do embargante" (11. 3211322). À luz do que foi transcrito, o Tribunal a quo não explicitou qualquer juízo de fato que pre judique o recurso especiaL É certo que, nos embargos de declaração, ficou registrado que: "Há de se ter presente, todavia, que a argumentação contida no acórdão embargado, quanto a prova testemu nhal e a entrega do barco pelos filhos do dono do barco sinistrado, continua valendo (fl. 323/324)" - 11. 346. Mas às aludidas folhas 323 e 324 foi dito apenas que: "Com efeito, após os filhos do embargado terem saído no domingo para pes car, o barco ficou até 3U feira, quando foi recolhido (fl. 185 e 186). Testemunha arrola- dll pelo embargante, afirma que del1Jomrull1 1/111 pouco pa ra recolhe r a emba rcarâo (//. 184). Note-se que Luiz Vieira de Alencar re cebeu ordem para recolher a embarcação no dia do evento (fi. 185)" - fi. 323. A matéria, portanto, pode. sim, ser exami nada neste recurso especial. Os autos dão conta de que a ação foi ins truida com relatório da Capitania dos Portos de Paranaguá. cuja parte dispositiva tem o seguinte teor: "De tudo quanto contêm os presentes autos, cone/ui-se: I - que o acidente foi devido a explosão de gasolina. sem se poder precisar a causa que proporcionou a explosão. conforme se vê às fls. 21; 2 - que. e:n conseqüência houve dano to tal do casco da embarcação e grandes danos nos motores, conforme consta das fls. 17, fls. I7v e fls. 25; 3 - são possíveis responsáveis: a) diretamente. Luiz Vieira de Aguiar. por não ser habilitado. não conhecer a embarca ção e tê-Ia manobrado sem as precauções de segurança; e b) indiretamente. o late Clube de Caiobá. por manter pessoal não qualificado para ma nobrar embarcações e o proprietário da em barcação por entregar a mesma a pessoa não habilitada" (jl. 25). Em meio à instrução da causa. sobreveio acórdão do Tribunal Marítimo. COI11 o seguin te dispositivo: "Acordamos Juízes do Tribunal Marítimo. por unanimidade: a) quanto à naU/reza e ex tensão do acidente: explosão; incêndio; nau frágio de lancha com motor Volvo Penta à gasolina. fabricada pela Carbrasmar; b) quanto à causa determinante: não apurada; c) decisão: julgar improcedente a repre sentaçâo, exculpando os representados e ar quivando-se o processo" (fi. 150). De acordo com o artigo 18 da Lei nl! 2.180. de 1954: .. Ar\. 18 - As decisões do Tribunal Marí timo quanto à matéria técnica referente aos acidentes e fatos da navegação têm valor pro batório e se presumem certas. sendo suscetí veis de reexame pelo Poder Judiciário somen- te quando forem contrárias a texto expresso de lei. prova evidente dos autos. ou lesarem direito individual." Nesse contexto. o acórdão do Tribunal Ma rítimo poderia ser revisto, mas, apenas, se fosse contrário a texto expresso de lei, prova evidente dos autos. ou lesasse direito indivi dual. Na espécie. ao invés disso, o Tribunal a quo se fundou em prova superada, representada pelo Relatório da Capitania dos Portos de Pa ranaguá, que o Tribunal Administrativo não acolheu, in verbis: "Ante os termos do docu mento de fi. 150 tem pronta receptividade os embargos. pois este Relator laborou em equí voco ao afirmar que a decisão do Tribunal Marítimo dera o dono do barco como um dos culpados. Registre-se que em vez de apoiar-se na decisão do Tribunal, vali-me do documen to de fi. 25" (fi. 346). O documento de fi. 25 é parte do Relatório da Capitania dos Portos de Paranaguá (fi. 24/25). Daí a conclusão de que o acórdão recorrido contrariou o artigo 18 da Lei nl! 2.180, de 1954, porque desconsiderou a decisão do Tri bunal Marítimo sem aludir às circunstâncias que admitiriam esse procedimento, como se jam, a demonstração de que contrariou texto expresso de lei e a prova evidente dos autos ou de que lesou direito individual. Assim, sem a prova de culpa do preposto, que o Tribunal Marítimo não reconheceu (ex culpar significa tirar a culpa de), o acórdão recorrido também contrariou os artigos 159 e 1.521 do Códígo Civil. Voto. por isso. no sentido de conhecer do recurso e de dar-lhe provimento para julgar improcedente a ação, condenando Egas Pen teado Izique ao pagamento das custas e dos honorários de advogado à base 20% (vinte por cento) do valor da causa. VOTO O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Senhores Ministros. estou de acordo com o 261 Senhor Ministro-Relator. l"ão há presunção de culpa nessa matéria. ESCLARECIMENTOS o SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Sr. Ministro Ari Pargendler, o Tribuual, para firmar a culpa do preposto do recorrente, ba seou-se, disse V. Exa., num relatório da Ca pitania dos Portos. Esse relatório propicia ele mentos suficientes para se concluir por essa culpa? O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (RELATOR): Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, baseou-se no relatório de fls. 25. O relatório é o ato preparatório, é o que leva ao conheci mento ... O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Sr. Ministro Ari Pargendler, que dados o Tri bunal de Alçada apontou para dele extrair que houve culpa? O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, suprimi a lei tura de parte do meu voto, no qual começo dizendo assim: (lê) "Há uma série de dificuldades em precisar se o Tribunal a quo decidiu à base de fato ou de questões de direito. Só no último caso, viável o recurso especial . .. Fiquei com essa dúvida até dar-me conta de que a questão nem era propriamente de direi to, era de erro. O Relator dos embargos in fringentes foi surpreendido por esta contradi ção: em que ele se baseou para dizer tudo isso? Ele afirmou que foi no relatório de fls. 25. Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, considero que esse relatório, que não tem efeitos deci sórios, ficou prejudicado pela decisão do Tri bunal administrativo. O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Peço vênia para discordar. Como de pacífico entendimento, o Tribunal Marítimo é órgão simplesmente administrativo. Não integra o Poder Judiciário e não exerce função jurisdi cional. As decisões que profere tem eficácia no âmbito administrativo, mas de nenhum modo podem condicionar as que venham a ser 262 proferidas pelo Judiciário. Qualquer norma legal que dispusesse em contrário seria in constitucional, pois importaria subtrair a esse Poder a apreciação de lesão a direito. E im plicaria isso determinar que a decisão de ór gão administrativo a propósito da culpa em evento de que resultou dano, não se exporia a reexame. Ocorre que a lei teve isso em conta e não pretendeu cercear atividade jurisdicional. Por isso estabeleceu que uma das hipóteses em que possível contrariar decisão do Tribunal Marítimo é quando se cogitar de lesão de direito. Aliás, após o julgamento de que se cuida, o texto legal foi modificado para esta belecer simplesmente que aquelas decisões podem se revistas pelo Judiciário. Possível, pois, no âmbito da Jurisdição, rea valiar os elementos e concluir de modo diver so daquele por que se inclinou aquele Tribu nal. O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (PRESIDENTE): O advogado, da tribuna e o Sr. Ministro Ari Pargendler, quando votou, não deram por fun damento exclusivamente a existência de pro va consolidada no Tribunal Marítimo, mas, também, que o tribunal de origem teria recha çado essa prova com base em uma presunção. Se ele rechaçou com base em presunção e o eminente advogado, Dr. Gordilho, leu, da tri buna, o texto em que o acórdão, expressamen te, faz referência a isso, é evidente que não é possível impor a responsabilidade. Pareceu me tanto mais grave esse fato porque apenas nos embargos de declaração é que o acórdão faz menção ao documento de fls. 25. Quando questionado qual o fundamento para decidir daquela forma, se não uma presunção, ele indicou, então, esse relatório. Mas. do voto, no acórdão principal, não consta nenhuma fundamentação de reapreciação da prova do Tribunal Marítimo; ao contrário, ele afirma que houve uma presunção. E esse é motivo suficiente para lastrear a exclusão da respon sabilidade, por isso registrei no meu voto. O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (RELATOR): O tribunal a quo ficou muito impressionado com a circunstância de que o preposto não tinha habilitação, daí ele con- c1uiu que ele não seguiu os procedimentos adequados e não há como saber. O SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: V. Exa. me perdoe, o trecho lido, da tribuna, do acórdão é exata mente esse: o acórdão recorrido teria afirma do que presume-se a culpa porque não teria o manobrista competência ou formação sufi ciente para fazer a operação que fez. Ora, evidentemente, isso é admitir que se poderia impor a responsabilidade por presunção. Esse é o fundantento do meu voto, que fiz questão de salientar. O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: O que exatamente estou indagando é se o acórdão apresentou alguma base fática para daí extrair a conclusão quanto à culpa ou se ficou só nessas considerações, fundadas em presunções que, evidentemente, não têm am paro em nosso ordenamento. O SR. MINISTRO ARI PARGENDLER: Se V. Exa. me permite, então, vou ler a parte do voto vencedor que não li no relatório, mas que consta do voto. O voto vencedor, nos embargos infringentes, na parte que me pare ceu mais importante, diz assim: (lê) .. Em virtude do evento ....... por parte do embargante. " A culpa in eligendo pode ter ocorrido, mas primeiro era preciso que se comprovasse a culpa do preposto. É importante, e está muito bem articulado, o voto vencido do Desembargador Otho Luiz, embora não sendo sob os fundamentos cita dos. Ele diz: (lê) .. A rigor, consagrou ................... exculpar os representados." E diz, ainda: "Causa perplexidade a ....... presumida do patrão?" Essa é a questão. O SR. MINISTRO EDUARDO RIBEIRO: Reiterando pedido de vênia ao eminente Re lator. afasto o fundamento apontado. Não se verificouviolação à Lei 2.180, mas ao artigo 159 do Código Civil. Resulta desse dispositi vo que existe obrigação de reparar o dano quando esse for causado culposamente. Ora, admitir culpa presumida corresponde a dis pensá-la. o que só é possível nas hipóteses previstas em lei. O fato de alguém não se achar legalmente habilitado não significa se tenha comportado com culpa em determinada circunstância. Mister indicar em que teria consistido o comportamento culposo e isso o acórdão não fez. Com essas observações, acompanho a con clusão do voto do Relator. VOTO O SR. MINISTRO W ALDEMAR ZVEI TER: Sr. Presidente, voto de acordo com o proposto pelo Sr. Ministro Eduardo Ribeiro. CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Nl! Registro: 93/0023708-0 P A UT A: 20/05/1999 Relator Exmo. Sr. Min. ARI PARGENDLER Pre sidente da Sessão Exmo. Sr. Min. CARLOS ALBERTO ME NEZES DIREITO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAIS ALHO Secretário (a) SOLANGE ROSA DOS SANTOS AUTUAÇÃO Recte.: Iate Clube de Cai oba Advogado.: Pedro Augusto de Freitas Gor lho e Outros Recdo.: Egas Penteado Izique Advogado.: Hugo Mosca e Outros SUSTENTAÇÃO ORAL. Sustentou oralmente, o Dr. Pedro Augusto de Freitas Gordilho. pelo recorrente. 26~ CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TUR MA ao apreciar o processo em epígrafe. em sessão realizada nesta data, proferiu a seguin te decisão: ,. A Turma. por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento." Participaram do julgamento os Srs. Minis tros Menezes Direito, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 20 de maio de 1999 SECRET ÁRIO(A) SOLANGE ROSA DOS SANTOS (COMENTÁRIO) SUGESTÕES PARA INDEXAÇÃO: TRIBUNAL MARÍTIMO. SUAS DECISÕES TÊM VALOR PROBATÓRIO E SE PRESUMEM CERTAS. PROVA: TRIBUNAL MARÍTIMO I. O feito chegou ao STJ dando supe rioridade à tese de que não prevalece decisão do Tribunal Marítimo sobre conjunto proba tório, com base no qual restou definida a res ponsabilidade civil do recorrente, por ato de seu proposto. 2. Mas o acórdão recorrido fez por consig nar sua decisão com base na pura presunção, como se vê do seguinte trecho culminante: "(. .. ) em virtude do evento,jácil é presumir que a operação não foi diligentemente execu tada (Fls. 321)." 3. Ora, lei federal não permite presunção contra decisão certa em contrário do Tribunal Maríti mo, nos termos do art. 18 da L. 2.180/54, que prescreve: "Art. 18. As decisões do Tribunal Marítimo quanto à nnatéria técnica referente aos aci dentes e fatos da navegação tem valor proba tório e se presumem certas, sendo suscetíveis de reexame pelo Poder Judiciário, somente quando forem contrárias a texto expresso de lei, prom e1'idente dos autos, ou lesarem di reito indil'idual." 264 4. E para se chegar à conclusão de que o acórdão recorrido ofendeu a lei federal e di vergiu da jurisprudência não havia necessida de de reexaminar-se a prova, como assinalou o julgado comentado. 5. O acórdão recorrido alegou presunção, adotando presunção contra decisão certa do Tribunal Marítimo. Havia, portanto, violação do ordenamento federal que merecia ser coi bida, porque, em face do dispositivo dado como ofendido, não se admite presunção con tra decisão do Tribunal Marítimo, fundamen to especialmente destacado no voto do Minis tro Carlos Alberto Menezes Direito. 6. Em momento algum duvidou-se da pro va. O recurso questionou o acórdão, dado que o mesmo infringiu decisão final e certa do Tribunal Marítimo, sem amparo em prova produzida nos autos judiciais. 7. E mais: decidiu-se sem amparo em prova judicial porque nos autos não se produziu pro va alguma diversa daquela examinada pelo Tribunal Marítimo. Adotou-se a prova do pro cedimento administrativo, produzida no âm bito do Tribunal Marítimo, decidindo-se, con trariamente, a ela. 8. Com efeito, a decisão do órgão especia lizado foi juntada pela própria perícia judi cial. Fora a matéria da culpa, para a qual se louvou na decisão do Tribunal Marítimo, a perícia judicial somente examinou e quantifi cou os danos (o que não se discutiu). Não houve juntada de outros documentos ou de poimentos de testemunhas, diferentes daque las ouvidas no processo do Tribunal Maríti mo. 9. Ora, cotejar as peças processuais incon troversas para se chegar a esta conclusão não configura reexame da prova. Não se impunha examinar elementos da prova para aferir-se da culpabilidade da parte, mas as peças do caderno processual. para saber se o texto da lei federal foi. ou não, violado. Ou seja, se havia ou não elemento novo nos autos, não considerado pelo Tribunal Marítimo. I O. Este exame é necessário e admitido pela jurisprudência notória. que permite a qualifi cação do negócio jurídico, através do exame de sua existência e natureza. 11. Nada mais visou o recurso senão fazer boa afirmação da lei federal de que, sem prova em contrário nos autos judiciais (o que se constatou compulsando-se as peças do pro cesso. sem necessidade de examinar a matéria de fato), superpõe-se a decisão certa do Tri bunal Marítimo no tocante aos fatos da nave- gação. matéria de sua especialidade. Este o escopo do recurso especial, que o acórdão comentado deu provimento, fiel ao diploma dado como negado. Pedro Gordilho CONCESSÃO DE OBRA PÚBLICA - TARIFA - ALTERAÇÃO MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO OBRA PÚBLICA. JUL GAMENTO PELA MELHOR OFERTA. PREÇO FIXADO NO EDITAL. POS SIBILIDADE, OU NÃO, DE MODIFICAÇÃO UNILATERAL DA TARIFA. AUSÊNCIA DE FATO SUPERVENIENTE. DEFICIÊNCIA DE PROCEDI MENTO REGULAR. Se a alteração definida pela Administração afeta a própria base do contrato de concessão, pois modifica o resultado do que se teve, à época, por expressão do equilíbrio econômico-financeiro, inviável que se a efetive de modo unilateral. Assim não fora, porém, juridicamente insustentável que o faça à revelia de procedimento direcionado à decisão, com possibilidade efetiva de parti cipação do concessionário, não bastando que aquela seja fundamentada. No Estado Democrático de Direito, a motivação da decisão administra tiva não basta, impondo-se o recolhimento cOllsentâneo, se não da vontade, inafastavelmente da colaboração do interessado, pois a ação é legitimada pelo procedimento. SEGURANÇA CONCEDIDA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Mandado de Segurança n11 599222957 Tribunal Pleno Porto Alegre CONVIAS S/A - CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS. Impetrantes: Sulvias S/A - Concessionária de Rodovias e Metrovias S/A - Concessionária de Rodovias. Coatores: Exmo. Sr. Governador do Estado, Exmo. Sr. Secretário de Estado dos Transportes, Diretor-Geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem - DAER e Diretor de Concessões do Dep. Autônomo de Estradas de Rodagem - DAER ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam. em Órgão Especial do Tribunal de Justiça. conceder a segurança, por maioria. vencidos os Desembargadores Tupinambá e 265