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TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
DEFINIÇÃO 2
NATUREZA JURÍDICA 2
DIREITOS HUMANOS 2
TITULARIDADE 3
CASOS DE DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS 4
CASOS DE DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS QUE ESTÃO OU NÃO NO GOZO DOS DIREITOS POLÍTICOS 4
CASOS DE DISTINÇÃO FEITA PELO GÊNERO 4
CASOS DE DISTINÇÃO QUANTO À CAPACIDADE ECONÔMICA 5
DIREITO FUNDAMENTAL APENAS DE ESTRANGEIRO 5
DIREITOS QUE OS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES PODEM USUFRUIR 6
ESTRANGEIROS EM TRÂNSITO PELO TERRITÓRIO NACIONAL 6
CORRENTES FILOSÓFICAS JUSTIFICADORAS 7
CARACTERÍSTICAS 7
PERSPECTIVAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 11
FUNÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM SUA DIMENSÃO OBJETIVA 11
PLANOS DE EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 11
POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS A RESPEITO DA APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS RELAÇÕES
PRIVADAS 12
CONTEÚDO ESSENCIAL 13
QUANTO AO OBJETO DA PROTEÇÃO: ENFOQUES OBJETIVO E SUBJETIVO 13
QUANTO À NATUREZA DA PROTEÇÃO: CONTEÚDO ESSENCIAL ABSOLUTO E RELATIVO 14
TEORIA DOS 4 STATUS OU SITUAÇÕES JURÍDICAS 14
ESPÉCIES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS 15
DIREITO DE DEFESA OU DE RESISTÊNCIA (NEGATIVO) 15
DIREITOS A PRESTAÇÕES (POSITIVO) 15
DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO (ATIVO) 16
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 16
Quanto ao conteúdo 16
Classificação de Ruy Barbosa 16
Classificação formal da CF/88 16
GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 16
ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL 18
LIMITAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 19
TEORIA DO LIMITE DOS LIMITES (Schranken-Schranken) 21
1
http://www.a-pdf.com/?tr-demo
TEORIAS SOBRE O NÚCLEO ESSENCIAL (NÚCLEO DURO) DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 21
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DO NÚCLEO ESSENCIAL 22
DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE 22
DIREITO À VIDA 22
DIREITO À PRIVACIDADE 26
DIREITO À LIBERDADE 28
DIREITO À IGUALDADE 31
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 34
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS – pontos importantes 35
DIREITO DE NACIONALIDADE 45
NACIONALIDADE PRIMÁRIA 47
NACIONALIDADE SECUNDÁRIA 48
PERDA DA NACIONALIDADE 50
DIREITOS POLÍTICOS 57
 DEFINIÇÃO
A expressão direitos fundamentais (droits fondamentaux) surgiu na França, em 1770, no movimento político e
cultural que deu origem à Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.
Conforme Guilherme Peña (2000, p. 11), os direitos fundamentais são conceituados como direitos subjetivos,
assentes no direito objetivo, positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das
pessoas com o Estado ou na sociedade (grifos do autor)
NATUREZA JURÍDICA
Conforme o Tribunal Constitucional Federal Alemão, os direitos fundamentais possuem natureza dúplice /
bifrontal. Assim, são uma categoria especial de direito subjetivo. Somente direitos ligados à condição de pessoa
recebem o adjetivo de “fundamentais”. Além disso, são partes integrantes do direito objetivo, pois são possuem
natureza principiológica, ou seja, são princípios.
Portanto, perceba a qualidade dúplice dos direitos fundamentais: natureza subjetiva e natureza objetiva.
No direito alemão, o valor da dignidade tem duplo aspecto/dimensão:
Dimensão protetiva: dever imposto ao Estado de proteger a pessoa, inclusive contra si própria.
Dimensão autonômica: respeitar a vontade que se manifesta de modo autônomo.
O Tribunal Alemão afirma que se houver colisão entre as duas dimensões, prevalece a dimensão autonômica,
RESSALVADOS os casos em que não há conhecimento técnico da pessoa. Assim, se houver deficiência técnica,
inverte-se a lógica, prevalecendo a dimensão protetiva.
DIREITOS HUMANOS
2
Enquanto os direitos humanos se encontram consagrados nos tratados e convenções internacionais (plano
internacional), os direitos fundamentais são os direitos humanos consagrados e positivados na Constituição de
cada país (plano interno), podendo o seu conteúdo e conformação variar de Estado para Estado. A Constituição
brasileira de 1988 adota a expressão direitos fundamentais em referência aos direitos nela positivados (Título II –
Dos direitos e garantias fundamentais) e direitos humanos para designar os consagrados em tratados e
convenções internacionais (art. 4º, II; art. 5º, § 3º, e art. 109, V-A e § 5º, todos da CF).
TITULARIDADE
O titular é pessoa.
Animais são titulares de direitos fundamentais?
Não. No Brasil, os animais são bens semoventes, sendo objetos de direito real. A jurisprudência brasileira é bem
conservadora nesse sentido. Em sede de doutrina, autores tendem a estender ALGUNS direitos fundamentais aos
animais (exemplos: nome, integridade física).
Fora do Brasil, há uma maior discussão sobre isso. Em 2020 tivemos uma corte constitucional reconhecendo
direitos aos animais (caso Kaavan – Paquistão).
Em Direito positivo, tivemos, por exemplo, a Constituição do Equador, no art. 10 (2008), que reconhece que um
ecossistema pode ser sujeito de direito.
É possível estender direitos fundamentais às Pessoas Jurídicas?
Sob o ponto de vista material (relacionado à dignidade da pessoa humana), não é possível. Todavia, há no art. 5º da
CF/88 direitos formalmente fundamentais de pessoas jurídicas privadas a exemplo do art. 5º, XXIX:
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
Quanto às pessoas jurídicas de Direito Público, a concepção clássica diz que os direitos fundamentais são dirigidos
contra o Estado e isso não se alinharia com a ideia de a pessoa jurídica de direito público ser titular de direito
fundamental.
Do ponto de vista formal, entende-se que em certas circunstâncias é possível usufruírem de direitos fundamental,
especialmente os direitos procedimentais como o contraditório.
Quanto à titularidade, o caput do art. 5º, dispõe:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
No texto temos 2 destinatários expressos dos direitos e garantias fundamentais:
- Brasileiros;
3
- Estrangeiros residentes no país.
Todos os brasileiros usufruem igualmente de todos os direitos fundamentais ou existem direitos fundamentais
que são dirigidos a apenas uma parcela dos brasileiros?
A Constituição Federal aponta em alguns dispositivos que existem direitos que só podem ser usufruídos por
determinados grupos de brasileiros. Vejamos:
CASOS DE DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS
Somente no caso das distinções feitas pela própria Constituição. Temos as seguintes diferenças no texto
constitucional:
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
Art. 12, §3º: São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa
Quantos aos cargos reservados apenas a brasileiros natos, temos ainda os seguintes: Presidente do CNJ (art.
103-B); Presidente e vice do TSE;
Art. 89, VII (Conselho da república):
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois
nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Art. 222, § 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da
programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de
dez anos, em qualquer meio de comunicação social.
CASOS DE DISTINÇÃO ENTREBRASILEIROS QUE ESTÃO OU NÃO NO GOZO DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
4
o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência
(somente brasileiros que se encontram no gozo dos direitos políticos).
CASOS DE DISTINÇÃO FEITA PELO GÊNERO
Já no art. 5º, I temos o seguinte:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;
Art. 7º, XX: proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos,
nos termos da lei;
O STF já se pronunciou sobre essas diferenças:
“2. O princípio da igualdade não é absoluto, sendo mister a verificação da correlação
lógica entre a situação de discriminação apresentada e a razão do tratamento desigual.
3. A Constituição Federal de 1988 utilizou-se de alguns critérios para um tratamento
diferenciado entre homens e mulheres:
i) em primeiro lugar, levou em consideração a histórica exclusão da mulher do
mercado regular de trabalho e impôs ao Estado a obrigação de implantar políticas
públicas, administrativas e/ou legislativas de natureza protetora no âmbito do direito
do trabalho;
ii) considerou existir um componente orgânico a justificar o tratamento
diferenciado, em virtude da menor resistência física da mulher; e
iii) observou um componente social, pelo fato de ser comum o acúmulo pela mulher
de atividades no lar e no ambiente de trabalho – o que é uma realidade e, portanto,
deve ser levado em consideração na interpretação da norma.
4. Esses parâmetros constitucionais são legitimadores de um tratamento diferenciado
desde que esse sirva, como na hipótese, para ampliar os direitos fundamentais sociais e
que se observe a proporcionalidade na compensação das diferenças. (...)” (RE 658312, Rel.
Min. DIAS TOF-FOLI, Pleno, j. em 27/11/2014).
CASOS DE DISTINÇÃO QUANTO À CAPACIDADE ECONÔMICA
Art. 5º, LXXIV: o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
DIREITO FUNDAMENTAL APENAS DE ESTRANGEIRO
5
Art. 5º, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
Quanto aos estrangeiros residentes no país, temos que também são titulares dos direitos fundamentais.
Todavia, nem todos podem ser usufruídos pelos estrangeiros (a exemplo dos direitos exclusivos dos brasileiros
natos e os direitos políticos em sua plenitude).
Quanto aos portugueses residentes, são considerados quase-nacionais.
Na jurisprudência sobre os estrangeiros (inclusive os não residentes), temos:
“ASSISTÊNCIA SOCIAL – ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS – ARTIGO 203, INCISO V, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE. A assistência social prevista no artigo 203, inciso V,
da Constituição Federal beneficia brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros
residentes no País, atendidos os requisitos constitucionais e legais. ” (STF, RE 587970,
Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, j. em 20/04/2017)
“A Constituição de 1988 não estabeleceu qualquer regra jurídica que interdite a distinção
entre brasileiro e estrangeiro, ao contrário do que acontece com a situação do brasileiro
nato e do naturalizado, para a qual há explícita reserva constitucional acerca das
hipóteses de tratamento diferenciado (CRFB, art. 12, §2º). Destarte, é juridicamente
possível ao legislador ordinário fixar regimes distintos, desde que, em respeito ao
princípio geral da igualdade (CRFB, art. 5º, caput), revele fundamento constitucional
suficiente para a discriminação, bem como demonstre a pertinência entre o tratamento
diferenciado e a causa jurídica distintiva. ” (STF, ADIs 4679, 4747, 4756 e 4923, Rel. Luiz
Fux, Pleno, j. em 08/11/2017)
“(...) Ao estrangeiro, residente no exterior, também é assegurado o direito de
impetrar mandado de segurança, como decorre da interpretação sistemática dos
artigos 153, caput, da Emenda Constitucional de 1969 e do 5º, LIX (Há erro material na
redação da ementa, o inciso correto é o LXIX) da Constituição atual.” (STF, RE 215267/SP, j.
em 24/04/2001)
“(...) ESTRANGEIRO NÃO DOMICILIADO NO BRASIL - IRRELEVÂNCIA - CONDIÇÃO JURÍDICA
QUE NÃO O DESQUALIFICA COMO SUJEITO DE DIREITOS E TITULAR DE GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS E LEGAIS – (...)7 O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no
Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do ‘habeas
corpus’ (...). A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu
estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal
acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. Precedentes. (...)”
(STF, HC 94404, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, j. em 18/11/2008)
DIREITOS QUE OS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES PODEM USUFRUIR
6
Art. 5°, XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Art. 5°, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
ESTRANGEIROS EM TRÂNSITO PELO TERRITÓRIO NACIONAL
O STF tem entendido, usando de interpretação sistemático-teleológica, que os estrangeiros não residentes
também são protegidos pelos direitos fundamentais (RE 215267/SP).
Por fim, assevera Guilherme Peña1:
A titularidade dos direitos fundamentais não é reduzida aos brasileiros, natos ou
naturalizados, e portugueses com residência permanente no País, na medida em que os
demais estrangeiros e os apátridas em trânsito pelo território nacional são
detentores de direitos fundamentais, com exceção das hipóteses prescritas na
Constituição, como, por exemplo, a prevista no art. 222, caput e §§ 1º e 2º, com a redação
decorrente da Emenda Constitucional nº 36/02.
Demais disso, o exercício dos direitos fundamentais não é restringido às pessoas
naturais, uma vez que pessoas jurídicas de direito privado ou direito público podem
desfrutar de direitos fundamentais, com exclusão dos que pressupõem uma
referência humana, como, por exemplo, a liberdade de consciência, religião e crença, nos
termos dos arts. 5º, inc. VI, 19, inc. I, e 210, § 1º, da CRFB e do art. 33 da Lei nº 9.394/96,
com a redação derivada da Lei nº 9.475/97.
 CORRENTES FILOSÓFICAS JUSTIFICADORAS
Podemos sistematizar as correntes que buscam justificar a existência dos direitos fundamentais da seguinte forma:
 Jusnaturalismo: Decorrem do Direito Natural;
 Juspositivismo: São direitos subjetivos positivados;
 Realismo: Resultado real de lutas na história;
 Idealismo: Princípios abstratos e ideais;
 Contratualismo: Previstos no contrato social;
 Moralismo: Fundamento na consciência moral do povo.
Malgrado todas essas correntes doutrinárias, autores como Norberto Bobbio criticam a busca de fundamentação e
afirma que o ideal é protegê-los.
Outra parcela da doutrina entende que o fundamento para tais direitos é a dignidade da pessoa humana. Nesses
termos:
1 PEÑA, 2018, p. 166.
7
Só pode ser a consciência ética coletiva, a convicção, longa e largamente estabelecida na comunidade, de que a
dignidade da condição humana exige o respeito a certos bens ou valores em qualquer circunstância, ainda que não
reconhecidos no ordenamento estatal, ou em documentos normativos internacionais (COMPARATO, 2010).
 CARACTERÍSTICAS
A doutrina aponta atualmente as seguintes características:
 HISTORICIDADE: existem duas visões sobre esta característica:
- Significa que há certos direitos comuns à história de diversas sociedades;
- Sentido Evolucionista: no curso da história, os direitos fundamentais clássicos são
aperfeiçoados e novos direitos surgem.
Não são oferecidos pela natureza, mas construídos pelo homem, são um fruto cultural.
O correr da história revela novasameaças à dignidade humana e novas necessidades de preservá-la.
Exemplo: o reconhecimento do direito fundamental ao acesso à internet (Finlândia e Estônia).
 INDISPONIBILIDADE: são intransferíveis.
São coisas fora do comércio, pois desprovidos de conteúdo econômico. O fundamento para isso é a
própria dignidade da pessoa humana. Assim, o consentimento do titular não basta para dispor do Direito
Fundamental.
O art. 199, §4º da CF/88 nos mostra um exemplo dentro do texto constitucional dessa característica:
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos,
tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado
todo tipo de comercialização.
A indisponibilidade não é absoluta.
Alguns autores entendem que apenas os direitos fundamentais que visam resguardar diretamente a
potencialidade do ser humano e da sua autodeterminação é que deveriam ser considerados
indisponíveis. Exemplos: Vida, Saúde, Liberdade.
Entende-se que a inalienabilidade deve ser aferida caso a caso, à luz da dignidade. Seria possível aceitar
negócios que afetem, não de maneira substancial, os direitos fundamentais. Como exemplo, a
propaganda com a imagem.
Não se pode confundir a indisponibilidade de um direito com a disponibilidade do bem sobre o qual
recai o direito. Exemplo: Direito de propriedade, a casa é disponível.
 PERSONALIDADE: os direitos fundamentais são personalíssimos, se extinguem com a morte. Exemplo:
Herda-se coisa e não direito fundamental.
8
 IMPRESCRITIBILIDADE: não se perdem pelo decurso do tempo. A prescrição atinge a exigibilidade de
direitos patrimoniais comuns e não de direitos fundamentais personalíssimos.
 IRRENUNCIABILIDADE: pode-se não exercer o direito fundamental por uma autolimitação voluntária, que
é revogável a qualquer tempo, ou permitir o tangenciamento do direito fundamental, mas isso não se
confunde com renúncia.
 CONSTITUCIONALIZAÇÃO: os direitos fundamentais devem ser positivados no plano constitucional,
tornando-se, então, fundamentais. Todos os dispositivos relativos aos direitos humanos são normas
materialmente constitucionais.
Constitucionalização: é a previsão do direito na Constituição Formal.
Fundamentalização: é a qualificação de um direito como sendo fundamental. Compreendê-lo
como fundamental, mesmo que não escrito.
 INVIOLABILIDADE: não podem ser violados por ninguém e devem ser observados por todos, não só pelas
pessoas, órgãos etc. mas também pelas NORMAS que o Estado produz.
 VINCULAÇÃO DOS PODERES: os atos dos poderes devem observância aos direitos fundamentais, sob
pena de invalidação, pois são parâmetros superiores de atuação.
 APLICABILIDADE IMEDIATA: devem ter a máxima aplicabilidade possível. Nesses termos, o art. 5º, §1º:
Art. 5º. (...) § 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
O dispositivo estatui uma presunção relativa de aplicabilidade imediata, pois só será assim quando
possível.
Excepcionalmente, poderá ter natureza programática.
 LIMITABILIDADE / RELATIVIDADE: não são absolutos.
O STF já decidiu dessa forma. Vejamos:
OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER ABSOLUTO. Não há, no
sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter
absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas
do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a
adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas
individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria
Constituição (...) pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da
ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros” (STF, MS
23.452/RJ, 16/09/1999)
9
Parte da doutrina entende que o direito de não ser submetido a tortura e o direito de não ser escravizado são
absolutos. Conforme Bobbio2:
Entendo por ‘‘valor absoluto’’ o estatuto que cabe a pouquíssimos direitos do Homem,
válidos em todas as situações e para todos os Homens sem distinção. Trata-se de um
estatuto privilegiado, que depende de uma situação que se verifica muito raramente: é a
situação na qual existem direitos fundamentais que não estão em concorrência com
outros direitos igualmente fundamentais. É preciso partir da afirmação óbvia de que não
se pode instituir um direito em favor de uma categoria de pessoas sem suprimir um
direito de outras categorias de pessoas. O direito a não ser escravizado implica a
eliminação do direito de possuir escravos, assim como o direito de não ser torturado
implica a eliminação do direito de torturar. Esses dois direitos podem ser considerados
absolutos, já que a ação que é considerada ilícita em consequência de sua instituição e
proteção [o direito de possuir escravos e o direito de torturar] é universalmente
condenada
 INDIVISIBILIDADE: são interdependentes entre si. Não há divisibilidade entre direitos civis e políticos e
econômicos e sociais. É justamente por isso que se critica a expressão “gerações de direitos fundamentais”.
 NÃO TAXATIVIDADE: os direitos fundamentais expressos não excluem os implícitos. O catálogo dos
direitos fundamentais positivados é aberto. Tem-se a chamada cláusula de inesgotabilidade, pois o rol
não esgota todos os direitos. Verificamos isso no art. 5º, §2º da CF/88:
Art. 5º.
§ 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte.
O catálogo de direitos fundamentais não é estático, mas dinâmico, sendo ditado pela evolução dos
costumes e da moral, desde que abarcados para o campo do jurídico. Premiam-se aqueles interesses que
se mostram mais relevantes com anota de fundamentalidade. Para evitar a auto-ruptura da ordem
constitucional, tributária de um engessamento constitucional que inviabilize a incorporação de novas
reivindicações, o constituinte procurou municiar o texto magno com mecanismos que possibilitem a sua
flexibilização aos interesses contingentes, e dotem os poderes constituídos de instrumentos para acolhes
e efetivar essas conquistas.3
Nesse sentido, o STF reconheceu o “direito à busca da felicidade” no RE 477554/MG. Vejamos:
“Tenho por fundamental, ainda, (...) o reconhecimento de que assiste, a todos, sem
qualquer exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado
constitucional implícito, que se qualifica como expressão de uma ideia-força que deriva
3 SILVA, Cristiano Amorim Tavares da. A amplitude e o significado prático da cláusula de abertura do art. 5°, § 2°, da Constituição. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 12, n. 1296, 18 jan. 2007. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/9393.
2 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, p. 42.
10
https://jus.com.br/artigos/9393/a-amplitude-e-o-significado-pratico-da-clausula-de-abertura-do-art-5-2-da-constituicao
https://jus.com.br/revista/edicoes/2007
https://jus.com.br/revista/edicoes/2007/1/18
https://jus.com.br/revista/edicoes/2007/1/18
https://jus.com.br/revista/edicoes/2007/1
https://jus.com.br/revista/edicoes/2007
do princípio da essencial dignidade da pessoa humana. (...)” (STF, RE 477554/MG, Rel. Min.
Celso de Mello, 01/07/2011, DJe de 3.8.2011).
 PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL (efeito cliquet): como os direitos fundamentais são resultados de
um processo evolutivo de lutas e conquistas, uma vez reconhecidos não podem ser suprimidos.
Segundo Canotilho, o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas
legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer
medidas que, sem a criação de outros esquemas alternativos e compensatórios, se traduzam na
prática numa “anulação”, “revogação” pura e simples. Não tem aceitação totalna doutrina. Acentua-se
que mesmo os que acolhem a tese da proibição do retrocesso entendem que o princípio da
proporcionalidade pode inspirar uma nova regulação do direito fundamental que não destrua
totalmente, sem alternativas, o direito antes positivado.
 CONCORRÊNCIA: determinada situação ou conduta pode ser subsumida no âmbito de proteção de
diversos direitos fundamentais e não de apenas um.
 UNIVERSALIDADE: é possível identificar a universalidade em quatro planos:
1. Plano da Titularidade (amplitude subjetiva): todos os seres humanos são titulares dos
direitos humanos;
2. Plano Temporal (amplitude atemporal): estão presentes em todas as épocas da história;
3. Plano Cultural: estão em todas as culturas; e
4. Plano da Vinculação: obrigam a todos.
Para os relativistas culturais, os direitos fundamentais não podem ser universais porque devem ser reconhecidos
na medida da cultura de cada sociedade.
Segundo o STF:
Direito ao recurso da sentença condenatória criminal. Universalização de seu
reconhecimento como um direito humano ainda em andamento. Duvidoso que, na
atual quadra da história, possa se exigir que o Estado requerente preveja o direito ao
recurso como uma condição da extradição. (STF, Ext 1461, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Segunda Turma, j. em 04/10/2016)
 PERSPECTIVAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 DIMENSÃO SUBJETIVA: são verdadeiros direitos subjetivos, configurando uma relação jurídica e
garantindo a faculta agendi de exigir do Estado uma ação ou omissão.
 DIMENSÃO OBJETIVA: não exclui a dimensão subjetiva, mas se agrega a ela. Além de constituir um direito
subjetivo, os direitos fundamentais também são VALORES, finalidades dirigidas ao poder público e têm
relação com a eficácia dirigente da constituição para concretização dos Direitos Fundamentais. Também
são valores dirigidos aos particulares, tendo relação com os deveres fundamentais. Implica a existência
11
de um ordenamento axiológico objetivo, ou seja, uma ordem de valores encontradas numa sociedade. É
possível que a dimensão objetiva exista sem a subjetiva, ou seja, um valor sem se poder exigir
judicialmente.
FUNÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS EM SUA DIMENSÃO OBJETIVA
 Vetor Interpretativo: mesmo que sem dimensão subjetiva, servirá de interpretação do sistema
jurídico, especialmente no controle de constitucionalidade.
 Diretriz obrigatória para o poder público e particulares: eficácia dirigente e deveres
fundamentais. Não só o Estado, mas também os particulares devem observar os direitos
fundamentais.
 PLANOS DE EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 PLANO VERTICAL: trata da relação entre Estado e particular. A relação é de verticalidade.
 PLANO HORIZONTAL (externa ou privada): relacionado com a igualdade de condições. Relação entre
particulares. Isso dá ensejo aos chamados DEVERES FUNDAMENTAIS4.
Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis fazem referência a seis grupos de deveres contemplados na
Constituição de 1988:
a) Dever de efetivação dos direitos fundamentais e de garantia das instituições (públicas e
privadas): exige-se do Estado, principal destinatário, a adoção de medidas adequadas de proteção (caráter
positivo).
b) Deveres específicos do Estado em face dos indivíduos: a exemplo da assistência jurídica gratuita e a
indenização por erro judiciário (art. 5º, LXXIV e LXXV, CF).
c) Imperativos ou deveres de criminalização do Estado: a Constituição determina a tipificação e punição
criminal de determinadas condutas pelo Poder Legislativo (art. 5º, XLI, XLII, XLIII e XLIV, CF), consistindo nos
chamados mandados constitucionais de criminalização.
d) Deveres dos cidadãos e da sociedade: a exemplo do alistamento eleitoral e do voto obrigatório (art.
14, § 1º, I, CF) e da educação, dever do Estado e da família (art. 205, CF).
e) Deveres decorrentes do exercício dos direitos: para a garantia de determinados direitos a
Constituição exige, em contrapartida, o exercício solidário e em harmonia com os interesses da sociedade,
tal como ocorre com o direito de propriedade que deve ser exercido conforme sua a função social (art. 5º,
XXII e XXIII, CF).
f) Deveres implícitos decorrentes dos direitos explicitamente declarados: parte-se da premissa de que
a todo direito corresponde um dever que o assegura, os quais, conforme a sua natureza, podem consistir
em uma ação ou omissão por parte do Estado ou de outros particulares.
4 Dispositivos constitucionais sobre os deveres fundamentais: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão. (Redação da EC 65/2010)
12
POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS A RESPEITO DA APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS RELAÇÕES
PRIVADAS
1. Teoria da ineficácia horizontal (doutrina da state action): direitos fundamentais não se aplicam
às relações privadas, sendo exigíveis apenas do Estado;
2. Teoria da eficácia horizontal indireta (ou mediata): direitos fundamentais aplicam-se às
relações privadas indiretamente, através do legislador e da lei comum;
3. Teoria da eficácia horizontal direta: direitos fundamentais aplicam-se às relações privadas
diretamente.
Conforme o professor Daniel Sarmento5:
(...) é possível concluir que, mesmo sem entrar na discussão das teses jurídicas sobre a
forma de vinculação dos particulares aos direitos fundamentais, a jurisprudência
brasileira vem aplicando diretamente os direitos individuais consagrados na
Constituição na resolução de litígios privados.
Jurisprudência do STF:
“O Supremo Tribunal Federal já possui histórico identificável de uma jurisdição
constitucional voltada para a aplicação desses direitos às relações privadas. ” (STF, Min.
Gilmar Mendes, RE 201.819/RJ)
I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a
direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o
Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito
privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam
diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados também à
proteção dos particulares em face dos poderes privados. (RE nº 201.819/RJ).
 EFICÁCIA DIAGONAL: ocorre entre particulares sendo eu estes não estão em relação de igualdade
(assimetria). Há, na relação, um hipossuficiente. Exemplo: relação de consumo e de trabalho.
 EFICÁCIA VERTICAL COM REPERCUSSÃO LATERAL6: Eficácia em relação aos particulares decorrente da
incidência do direito fundamental à tutela jurisdicional. O direito fundamental será efetivado mediante a
atuação judicial (o juiz tutela um direito não protegido pelo legislador).
RESUMINDO:
6 https://focanoresumo.files.wordpress.com/2015/07/foca-no-resumo-direitos-humanos1.pdf
5 SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2004, p. 297.
13
EFICÁCIA VERTICAL
Refere-se à aplicação dos direitos fundamentais na
relação entre o Estado e os particulares.
Estado
x
Particular
EFICÁCIA HORIZONTAL
Refere-se à aplicação dos direitos fundamentais na
relação entre os particulares.
Particular
x
Particular
EFICÁCIA DIAGONAL
Refere-se à aplicação dos direitos fundamentais na
relação entre os particulares, sendo que, tais
particularesestão em nível de desigualdade, havendo
uma parte mais vulnerável.
Particular
x
Particular Vulnerável
EFICÁCIA VERTICAL COM
REPERCUSSÃO LATERAL
Eficácia em relação aos particulares decorrente da incidência do direito
fundamental à tutela jurisdicional. O direito fundamental será efetivado
mediante a atuação judicial (o juiz tutela um direito não protegido pelo
legislador).
CONTEÚDO ESSENCIAL
 QUANTO AO OBJETO DA PROTEÇÃO: ENFOQUES OBJETIVO E SUBJETIVO
 Teoria objetiva: a proteção do conteúdo essencial de um direito fundamental impede restrições que o
tornem sem significado para todos os indivíduos ou para a maior parte deles ou, ainda, para a vida social.
A finalidade do conteúdo essencial seria assegurar a proteção do direito fundamental em sua globalidade.
O objeto protegido é a garantia geral e abstrata prevista na norma (direito fundamental objetivo), e não a
posição jurídica concreta do particular (direito fundamental subjetivo).
 Teoria subjetiva: a análise da violação do conteúdo essencial do direito deve ser feita em cada situação
individualmente considerada. A garantia do conteúdo essencial teria por finalidade proteger os direitos
individuais de cada sujeito jurídico, de modo a evitar que o seu exercício legítimo seja frustrado,
pretendendo-se impedir que um direito subjetivo seja sacrificado a ponto de deixar de ter qualquer
significado para o seu titular.
 QUANTO À NATUREZA DA PROTEÇÃO: CONTEÚDO ESSENCIAL ABSOLUTO E RELATIVO
 Teoria absoluta: sustenta a existência de um núcleo no âmbito de proteção de cada direito fundamental,
cujos limites são intransponíveis, ainda que eventualmente existam outros fatores que justifiquem sua
restrição. O conteúdo essencial representa uma parte do conteúdo total do direito fundamental (núcleo
duro). Refere-se a um espaço de maior intensidade valorativa, o qual não poderia ser atingido, sob pena de
extinção do próprio direito. Este núcleo duro, fixado em abstrato, seria intocável.
 Teoria relativa: a definição daquilo que deve ser protegido irá depender das circunstâncias do caso
concreto (possibilidade fática) e das demais normas envolvidas (possibilidade jurídica). Nesta concepção, o
conteúdo essencial de um direito será variável, por depender do resultado da ponderação. A legitimidade
da restrição irá depender de sua imprescindibilidade na realização de bens jurídicos considerados de
maior valia. Nesse prisma, o conteúdo essencial de um direito seria afetado na medida em que sua
14
restrição não fosse exigível ou ocorresse além do necessário. A garantia do conteúdo essencial determina,
portanto, um limite fraco consistente apenas na necessidade de justificar as restrições mediante o recurso
ao postulado da proporcionalidade. ATENÇÃO: É a única teoria compatível com a teoria dos princípios
proposta por Alexy.
 A teoria combinada de Peter Häberle: para Peter Häberle, as duas teorias, que geralmente são
contrapostas de forma irreconciliável, na opinião do autor desenvolvem pontos de vista que não se
excluem, mas que frequentemente permitem chegar a um ponto de conciliação. Para o autor, todos os
direitos fundamentais estão protegidos de modo absoluto, independentemente de haver previsão
expressa nesse sentido. Contudo, ele utiliza a ponderação de bens como critério-guia para determinar o
conteúdo essencial dos direitos fundamentais. Este conteúdo, a ser determinado com referência a cada
direito, não é considerado uma medida fixa que deve ser deduzida em si, independentemente da
totalidade da Constituição. Em sua determinação, realizada por meio da ponderação de bens, deve ser
levado em conta o conteúdo essencial dos outros bens jurídico-constitucionais.
 
 
 TEORIA DOS 4 STATUS OU SITUAÇÕES JURÍDICAS
Desenvolvida por Georg Jellinek.
 Status Passivo (status subjectionis): o indivíduo pode ser encontrar em uma situação de subordinação em
relação ao poder público. O Estado pode impor obrigações aos cidadãos. Exemplo: Serviço militar
obrigatório.
 Status Ativo (status activus): o indivíduo pode participar ativamente das decisões políticas. Exemplo: Voto.
 Status Negativo (status libertatis): esfera de liberdade do indivíduo frente ao Estado. Tem-se o direito de
defesa contra o Estado.
 Status positivo (status civitatis): o indivíduo exige do Estado determinadas prestações.
TEORIA DOS STATUS (Georg Jellinek)
STATUS PASSIVO
(ou status subjectionis)
O indivíduo é detentor de deveres perante o Estado. O indivíduo não está em
uma posição de ter direitos exigíveis perante o Estado, mas pelo contrário, está
em uma posição de subordinação perante ele (por exemplo, alistamento
eleitoral e voto).
Trata-se de um status de sujeição do indivíduo perante o Estado.
STATUS NEGATIVO
(ou status libertatis)
O indivíduo goza de um espaço de liberdade diante das ingerências do Estado.
Não pode haver influência estatal na liberdade do indivíduo.
Estão localizados principalmente no art. 5º da Constituição.
15
STATUS POSITIVO
(ou status civitatis)
O indivíduo tem o direito de exigir do Estado determinadas prestações
materiais ou jurídicas.
STATUS ATIVO
(ou status da cidadania
ativa)
O indivíduo possui competências para influenciar a formação da vontade
estatal.
Status em que o indivíduo tem de participar, influenciar nas escolhas políticas
do Estado incluindo, sobretudo, os direitos políticos.
 ESPÉCIES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
 DIREITO DE DEFESA OU DE RESISTÊNCIA (NEGATIVO)
 Caracterizam-se por exigir do Estado, preponderantemente, um dever de abstenção, impedindo sua
ingerência na autonomia dos indivíduos. São direitos que limitam o poder estatal com o intuito de
preservar as liberdades individuais (status negativo ou status libertatis), impondo ao Estado o dever de não
interferir, não se intrometer, não reprimir e não censurar.
Robert Alexy classifica os direitos de defesa em três grupos:
a) Direito ao não embaraço de ações do titular do direito fundamental: a exemplo do direito ao
não embaraço da escolha de uma profissão.
b) Direito à não afetação de características e situações: a exemplo do direito à não afetação da
esfera privada física.
c) Direito à não eliminação de posições jurídicas de direito ordinário: a exemplo dos direitos à não
eliminação de determinadas posições jurídicas como proprietário. Ex: direitos individuais como a
inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, CF), o direito à privacidade (art. 5º, X, CF) e as liberdades de
manifestação do pensamento (art. 5º, IV, CF), de consciência, de crença e de culto (art. 5º, VI, CF), de
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação (art. 5º, IX, CF), de locomoção
(art. 5º, XV, CF), etc.
 DIREITOS A PRESTAÇÕES (POSITIVO)
 Impõem um dever de agir ao Estado. Objetivam a realização de condutas ativas por parte dos poderes
públicos (status positivo ou status civitatis), seja para a proteção de certos bens jurídicos contra terceiros,
seja para a promoção ou garantia das condições de fruição desses bens.
As prestações estatais (dimensão objetiva) podem ser de duas espécies:
a) Prestações materiais: oferecimento de bens ou serviços a pessoas que não podem adquiri-los no
mercado (ex: alimentação, educação, saúde) ou no oferecimento universal de serviços monopolizados
pelo Estado (ex: segurança pública).
b) Prestações normativas (ou jurídicas): criação de normas jurídicas para tutelar interesses individuais,
como a regulamentação das relações de trabalho.
 DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO (ATIVO)
 Possuem um caráter negativo/positivo e têm por função garantir a participação individual na formação da
vontade política da comunidade (status ativo ou status da cidadania ativa). Ex: direitos políticos (art. 14, CF),
por exigirem dos poderes públicos, simultaneamente, um dever de abstenção – no sentido de não
16
interferir na liberdade de escolha do povo – e um dever de agir – como a realização de eleições periódicas,
plebiscitos e referendos.
 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 Quanto ao conteúdo:
Meramente formais: Apenas escritos na Constituição,mas sem vinculação à dignidade da pessoa
humana;
Materiais: Escritos ou não na Constituição, vinculados à dignidade da pessoa humana.
 Classificação de Ruy Barbosa:
Direitos: Disposições declaratórias. Bens que a Constituição decidiu defender;
Garantias: Disposições assecuratórias. Mecanismos. Como exemplo: Habeas Corpus.
 Classificação formal da CF/88:
Direitos individuais - art. 5º;
Direitos coletivos - art. 5º;
Direitos sociais - arts. 6º, 193 e ss.;
Direitos de nacionalidade - art. 12; e
Direitos políticos - arts. 14 a 17.
 GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Análise desenvolvida por Karel Vasak em um texto publicado em 1977 e palestra “Pelos Direitos Humanos da
Terceira Geração: os Direitos de Solidariedade” (Instituto Internacional dos Direitos do Homem, em Estrasburgo,
1979).
◦ 1ª GERAÇÃO/DIMENSÃO: têm como titular o indivíduo e são oponíveis, sobretudo, ao Estado,
impondo-lhe diretamente um dever de abstenção (caráter negativo). Estão ligados ao valor liberdade, os
chamados direitos civis e políticos.
◦ 2ª GERAÇÃO/DIMENSÃO: ligados à igualdade material, pertencem à segunda dimensão os direitos
sociais, econômicos e culturais.
◦ 3ª GERAÇÃO/DIMENSÃO: o surgimento de direitos ligados à fraternidade (ou solidariedade) teve como
causa a constatação da necessidade de atenuar as diferenças entre as nações desenvolvidas e
subdesenvolvidas, por meio da colaboração de países ricos com os países pobres. Dentre os direitos
integrantes desta dimensão, Paulo Bonavides destaca os relacionados ao desenvolvimento (ou
progresso), ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como o direito de propriedade sobre
o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. Os direitos de terceira dimensão são
direitos transindividuais destinados à proteção do gênero humano. Nas palavras de Celso de Mello,
“materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais.”
17
◦ 4ª GERAÇÃO/DIMENSÃO: direitos à democracia, informação e pluralismo, introduzidos no âmbito
jurídico em razão da globalização política. Paulo Bonavides observa que esses direitos compendiam o
futuro da cidadania e correspondem à derradeira fase da institucionalização do Estado social, sendo
imprescindíveis para a realização e legitimidade da globalização política.
Variações doutrinárias acerca do conteúdo da 4ª Dimensão de Direitos fundamentais:
a) Direito à democracia, direito à informação e direito ao pluralismo, que são direitos decorrentes da
globalização política (Paulo Bonavides);
b) Direitos das minorias;
c) Direitos referentes aos “efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá
manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo” (Norberto Bobbio); e
d) Direitos intergeracionais, especialmente a uma vida saudável.
◦ 5ª GERAÇÃO/DIMENSÃO:
a) Paulo Bonavides: direito à paz mundial (migrou da 3ª para a 5ª);
b) Outros autores: direitos ligados à internet; etc.
◦ 6 ª GERAÇÃO/DIMENSÃO7: Para uma parcela dos doutrinadores que encampam a existência dos direitos
fundamentais de sexta geração, vê-se que estes correspondem à democracia, à liberdade de informação,
ao direito de informação e ao pluralismo político. Outra parcela afirma que tal dimensão de direitos é
composto pela busca da felicidade, e, ainda, pelo acesso à água potável
◦ 7ª GERAÇÃO/DIMENSÃO7:
- DIREITO À IMPUNIDADE: Tal conceito se norteia pelo fato de considerar que a insuficiência numérica e
logística do sistema de defesa e controle social, os parcos recursos humanos, a morosidade na prestação
jurisdicional, a fragilidade legislativa, o grande rol de benefícios processuais aos acusados em geral
(liberdade provisória, transação penal, conciliação penal, sursis, suspensão processual, livramento
processual, saída temporária, delação premiada, detração penal, remição penal, indulto, anistia, perdão
judicial, prisão como extrema ratio da ultima ratio), tudo isso em detrimento social, a ausência de espírito
comunitário de grande parte dos agentes públicos e o comportamento extremista de pseudo-operadores
do direito levam a concretização do direito à impunidade. Os defensores dessa corrente alegam que a
lentidão do Judiciário e a aplicação de penas brandas são causas justificadoras para uma geração de
direitos. É a geração do direito à impunidade.
- DIREITO FUNDAMENTAL À PROBIDADE E À BOA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A probidade
administrativa constitui-se em direito fundamental da pessoa humana e da sociedade, que integra o
direito fundamental à boa administração pública e decorre dos direitos implícitos, do regime democrático
e dos princípios adotados pela Constituição Federal, revestindo-se da mesma força jurídica dos direitos
fundamentais do catálogo expresso da Constituição, possuindo um caráter vinculante à administração e
de plena e imediata aplicação. Essa conclusão ganha clareza solar nos dias correntes, onde os agentes
públicos atuam com espeque no interesse particular, prejudicando todo o sistema dos direitos
fundamentais, fazendo com que o cidadão fique a mercê dos mais variados problemas em todos setores
7 https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2017/2/2017_02_0289_0315.pdf
18
administrado pelo Poder Público. Assim, salvaguarda da moralidade, da probidade e do direito à boa
administração visa assegurar a proteção de todos os demais direitos fundamentais dos cidadãos, cuja
violação coloca em fere os pilares da democracia e da república.
 ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL8
O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando....
• verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais,
• causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar tal
conjuntura;
• de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de
autoridades podem modificar a situação inconstitucional.
 Origem: a ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país
pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a
chamada "Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão. Depois disso, a
técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte. Existe também notícia de
utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru.
 Pressupostos: Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para
reconhecer o estado de coisas inconstitucional, exige-se que estejam presentes as seguintes condições:
a) vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de
pessoas;
b) prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e
promoção dos direitos;
c) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma
pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de
recursos públicos, correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas,
dentre outras medidas; e
d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos
violados acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.
Na jurisprudência do STF, podemos mencionar:
“(...) ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO. Presente quadro de
violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais
e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de
natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional
ser caraterizado como ‘estado de coisas inconstitucional’. (...)” (ADPF 347 MC, Rel. Min.
MARCO AURÉLIO, Pleno, j. em 09/09/2015).
8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Estado de Coisas Inconstitucionala. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4e732ced3463d06de0ca9a15b6153677>
19
“Ante excepcionalidade,verificada pelas instâncias ordinárias a partir do exame de quadro
fático, é possível a intervenção do Judiciário na implantação de políticas públicas
direcionadas à concretização de direitos fundamentais, especialmente considerado o
estado de coisas inconstitucional do sistema de custódia brasileiro.” (ARE 1192016 AgR,
Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, j. em 17/09/2019).
 COVID e ESTADOS DAS COISAS INCONSTITUCIONAL: O Ministro Marco Auréio, na ADPF 822, pontuou
que: “declaração do estado de coisas inconstitucional na condução das políticas públicas destinadas
à realização dos direitos à vida e à saúde, considerada a pandemia covid-19. No campo da saúde, há
defeitos estruturais sérios. Nada obstante o apelo democrático do tema, faltam vontade política e
liberação massiva de recursos financeiros a fim de superar a crise. A saúde pública sofre com déficits de
eficiência, impugnados judicialmente por meio de um semnúmero de ações individuais, correndo iminente
risco de colapso em razão da ignorância política ou do desprezo social. A intervenção judicial no sentido da
proclamação do estado de coisas inconstitucional é buscada ante a incapacidade demonstrada pelas
instituições legislativas e administrativas. Assiste-se à omissão reiterada da União na implementação de
política uniforme, articulada com Estados, Distrito Federal e Municípios, no enfrentamento da pandemia. O
quadro inconstitucional de violação generalizada e contínua dos direitos fundamentais durante a
crise sanitária é agravado em razão de falhas estruturais, sobressaindo inércia e incapacidade para
vencê-lo. A conclusão é única: ocorre violação generalizada de direitos fundamentais em relação à
dignidade, à vida, à saúde, à integridade física e psíquica dos cidadãos brasileiros, considerada a
condução da saúde pública durante a pandemia covid-19. Ha falência estrutural”.
 LIMITAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Há diferença entre:
1) Delimitação do âmbito de proteção de um direito fundamental; e
2) Limitação (restrição) de um direito fundamental.
O âmbito de proteção de um direito fundamental pode ser delimitado:
1) Pela própria constituição; ou
2) Pelo Legislador ordinário, por delegação do constituinte (atividade de “conformação”, ou de “regulação”).
No que tange às restrições aos direitos fundamentais, temos 2 teorias:
 Teoria interna - os limites aos direitos fundamentais são “imanentes” aos mesmos, ou seja, os direitos
fundamentais já nascem com essas limitações, são limites “desde sempre” ou “desde dentro”;
 Teoria externa – os limites aos direitos fundamentais são externos a eles.
Assim, podemos ter limitações aos direitos fundamentais operadas:
 Pela própria Constituição
a) Por outros direitos fundamentais (colisão);
b) Por situações excepcionais (estado de defesa, estado de sítio);
c) Pela própria norma definidora do direito fundamental:
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- Restrição imediata (direta): a Constituição prevê a restrição de forma expressa e direta:
Art. 5º, IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”;
Art. 5º, XV: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz (…)
Art. 5º, XVI: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”.
- Restrição mediata (indireta, por meio de reserva legal restritiva): a Constituição autoriza que a
legislação ordinária restrinja o alcance de um direito fundamental, estabelecendo uma reserva de lei
restritiva, que pode ser de duas espécies:
Reserva (ou restrição) legal simples:
Art. 5º, VII: “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de internação coletiva”; e
Art. 5º, XXVII: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.
Reserva legal qualificada:
Art. 5º, XII: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal”; e
Art. 5º, XIII: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
 Pelo legislador ordinário (autorizado pela Constituição, na forma de reserva legal restritiva):
podemos aqui mencionar as hipóteses do Estado de Defesa e do Estado de Sítio:
Restrição diante do estado de defesa:
Art. 136. (...) § 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei,
as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b)
sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; (…)
Restrição diante do estado de sítio:
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua
execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o
Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas
abrangidas.
21
Mesmo não havendo uma previsão expressa na Constituição, admite-se a possibilidade de existência de
uma autorização constitucional implícita autorizando a restrição pelo legislador. Isso através de uma
cláusula de reserva legal subsidiária (art. 5º, II).
Art. 5º, II, da CF/88: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”
Qualquer restrição feita pelo legislador, principalmente quando o faz sem autorização expressa, deve
ter argumento numa norma constitucional.
 TEORIA DO LIMITE DOS LIMITES (Schranken-Schranken)9
Essa tese surge na Alemanha, na Constituição de 1949.
Os limites dos limites decorrem da própria Constituição Federal que o faz:
 Protegendo o núcleo essencial (núcleo duro) do direito fundamental;
 Impõe que as restrições sejam claras, determinadas, gerais e proporcionais.
TEORIAS SOBRE O NÚCLEO ESSENCIAL (NÚCLEO DURO) DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 Teoria absoluta – Segundo Gilmar Mendes, os absolutistas entendem “o núcleo essencial dos direitos
fundamentais (Wesensgehalt) como unidade substancial autônoma (substantieüerWesenskern) que,
independentemente de qualquer situação concreta, estaria a salvo de eventual decisão legislativa. Essa
concepção adota uma interpretação material segundo a qual existe um espaço interior livre de qualquer
intervenção estatal. Em outras palavras, haveria um espaço que seria suscetível de limitação por parte do
legislador; outro seria insuscetível de limitação. Neste caso, além da exigência de justificação,
imprescindível em qualquer hipótese, ter-se-ia um "limite do limite" para a própria ação legislativa,
consistente na identificação de um espaço insuscetível de regulação”.
Crítica: ao acolher uma noção material do núcleo essencial, insuscetível de redução por parte do
legislador, pode converter-se, em muitos casos, numa fórmula vazia, dada a dificuldade ou até mesmo a
impossibilidade de se demonstrar ou caracterizar in abstracto a existência desse mínimo essencial.
 Teoria relativa – Os sectários da chamada teoria relativa (relativeTheorie) entendem que o núcleo
essencial há de ser definido para cada caso, tendo em vista o objetivo perseguido pela norma de caráter
restritivo. O núcleo essencial seria aferido mediante a utilização de um processo de ponderação entre
meios e fins (Zvueck-Mittel-Prüfung), com base no princípio da proporcionalidade. O núcleo essencial seria
aquele mínimo insuscetível de restrição ou redução com base nesse processo de ponderação. Segundo
essa concepção, a proteção do núcleo essencial teria significado marcadamente declaratório.”
Crítica: não se sabe a priori quais os limitesde cada direito fundamental, sendo auferível caso a caso,
como se poderia saber com algum grau de certeza que o núcleo essencial do direito efetivamente não foi
atingido?
9 BASTOS, Bruno Medeiros. Teoria do Limite dos Limites (Schranken-Schranken) na jurisprudência do STF Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 22 ago
2021. Disponivel em:
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/42337/teoria-do-limite-dos-limites-schranken-schranken-na-jurisprudencia-do-stf.
22
Segundo Gilmar Mendes, “propõe Hesse uma fórmula conciliadora, que reconhece no princípio da
proporcionalidade uma proteção contra as limitações arbitrárias ou desarrazoadas (teoria relativa), mas
também contra a lesão ao núcleo essencial dos direitos fundamentais. É que, observa Hesse, a
proporcionalidade não há de ser interpretada em sentido meramente econômico, de adequação da medida
limitadora ao fim perseguido, devendo também cuidar da harmonização dessa finalidade com o direito afetado
pela medida.”
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DO NÚCLEO ESSENCIAL
Destina-se a evitar o esvaziamento do conteúdo do direito fundamental decorrente de restrições
descabidas, desmesuradas ou desproporcionais. Hesse reconhece o princípio da proporcionalidade como meio
adequado a combater uma limitação arbitrária e desarrazoada do núcleo essencial dos direitos fundamentais.
Aplicando o princípio da proteção do núcleo essencial, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da lei de
crimes hediondos, no artigo que impõe o regime integralmente fechado para cumprimento da condenação,
por violação ao núcleo essencial do direito fundamental à individualização da pena. O regime integralmente
fechado para todos é incompatível com a ideia de individualização, pois não permite que se levem em conta as
particularidades de cada indivíduo, a sua capacidade de reintegração social.
Na ADC 29, o STF pontuou que “O princípio da proporcionalidade constitui um critério de aferição da
constitucionalidade das restrições a direitos fundamentais. Trata- se de um parâmetro de identificação dos
denominados limites dos limites (Schranken-Schranken) aos direitos fundamentais; um postulado de proteção de
um núcleo essencial do direito, cujo conteúdo o legislador não pode atingir. Assegura-se uma margem de ação ao
legislador, cujos limites, porém, não podem ser ultrapassados. O princípio da proporcionalidade permite aferir se
tais limites foram transgredidos pelo legislador.”
DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE
PONTOS IMPORTANTES
 DIREITO À VIDA
 DIREITO À EXISTÊNCIA: o Direito à existência consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de
defender a própria vida, de permanecer vivo. Ou seja, de cumprir o ciclo vital em direção a uma morte
natural.
Correntes doutrinárias sobre o nascituro:
 Teoria natalista: a personalidade tem início a partir do nascimento com vida. Não há direitos sem
sujeito, e o nascituro não é um ser humano já formado;
 Teoria da personalidade condicional: o nascituro tem personalidade, sob a condição de que nasça
com vida;
 Teoria concepcionista: desde a vida intrauterina o nascituro é pessoa, sendo titular de direitos:
a) Desde que haja vida viável, a partir da nidação; ou
b) Desde a fertilização pura e simples.
Decisões relevantes
 CÉLULAS-TRONCO
23
“III - A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À VIDA E OS DIREITOS
INFRACONSTITUCIONAIS DO EM-BRIÃO PRÉ-IMPLANTO. O Magno Texto Federal
não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela
começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva
(teoria ‘natalista’, em contraposição às teorias ‘concepcionista’ ou da ‘personalidade
condicional’). E quando se reporta a ‘direitos da pessoa humana’ e até dos ‘direitos e
garantias individuais’ como cláusula pétrea está falando de direitos e garantias do
indivíduo-pessoa, que se faz destinatário dos direitos fundamentais ‘à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade’, entre outros direitos e
garantias igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade (como direito
à saúde e ao planejamento familiar). Os momentos da vida humana anteriores ao
nascimento devem ser objeto de proteção pelo direito comum. O embrião
pré-implanto é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no sentido
biográfico a que se refere a Constituição. IV - AS PESQUISAS COM
CÉLULAS-TRONCO NÃO CARACTERIZAM ABORTO. (...) Para que ao embrião ‘in vitro’
fosse reconhecido o pleno direito à vida, necessário seria reconhecer a ele o direito a
um útero. Proposição não autorizada pela Constituição”. (ADI 3510, Rel. Min. Ayres
Britto, Pleno, j. em 29/05/2008)
 ABORTO DO FETO ANENCÉFALO
É inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto
anencéfalo seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, I e II do CP. A interrupção da
gravidez de feto anencéfalo é atípica. STF. Plenário. ADPF 54/DF, rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 11 e 12/4/2012.
 ABORTO NO PRIMEIRO TRIMESTRE
A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria
gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime. É preciso conferir
interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal – que
tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção
voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese,
viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da
proporcionalidade. STF. 1ª Turma. HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016 (Info 849).
marco final do direito à existência: a morte. Considera-se morte a ausência de atividade cerebral. A Lei
9.434/97 pontua, em seu art. 3º:
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados
a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte
encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de
remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos
por resolução do Conselho Federal de Medicina.
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PENA DE MORTE: admitida de forma excepcional na Constituição, no caso de guerra declarada. Executada
mediante fuzilamento (art. 56, Código Penal Militar)
 VIDA DIGNA: a dignidade é um valor que dita também o direito à vida. Portanto, o direito à vida é na
verdade o direito a uma vida digna.
Dignidade na Declaração Universal dos Direitos do Homem:
“Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo, (…)
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade. ”
Dignidade na Constituição Federal:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...)
Art. 226. (...) § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao
Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdadee à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação da EC
65/2010).
DIGNIDADE NA JURISPRUDÊNCIA:
“O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o ‘direito à incitação ao
racismo’, dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de
condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios
da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. ” (HC 82424, Rel. p/ Acórdão:
Min. Maurício Corrêa, Pleno, j. em 17/09/2003 – “Caso Ellwanger”)
25
“O fato de o paciente estar condenado por delito tipificado como hediondo não enseja,
por si só, uma proibição objetiva incondicional à concessão de prisão domiciliar, pois a
dignidade da pessoa humana, especialmente a dos idosos, sempre será preponderante,
dada a sua condição de princípio fundamental da República (art. 1º, inciso III, da CF/88).
Por outro lado, incontroverso que essa mesma dignidade se encontrará ameaçada nas
hipóteses excepcionalíssimas em que o apenado idoso estiver acometido de doença
grave que exija cuidados especiais, os quais não podem ser fornecidos no local da
custódia ou em estabelecimento hospitalar adequado.” (HC 83358, Rel. Min. Carlos Britto,
1ª Turma, j. em 04/05/2004)
“(...) 1. O Supremo Tribunal Federal já decidiu ser lícito ao Judiciário impor à
Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na
execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais, tendo em conta a
supremacia da dignidade da pessoa humana (RE 592.581-RG, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski) (...)” (RE 930454 AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, 1ª Turma, j. em
26/08/2016).
“(...) Acesso de paciente à internação pelo sistema único de saúde (SUS) com a
possibilidade de melhoria do tipo de acomodação recebida e de atendimento por médico
de sua confiança mediante o pagamento da diferença entre os valores correspondentes.
Inconstitucionalidade. (...) O procedimento da “diferença de classes”, tal qual o
atendimento médico diferenciado, quando praticados no âmbito da rede pública, não
apenas subverte a lógica que rege o sistema de seguridade social brasileiro, como
também afronta o acesso equânime e universal às ações e serviços para promoção,
proteção e recuperação da saúde, violando, ainda, os princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana.” (RE 581488, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Pleno, j. em
03/12/2015)
 INTEGRIDADE FÍSICA: projeta-se à integridade física (o ordenamento determina a proibição de lesões),
psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento). Ademais, com base nesse Direito, a CF veda a
prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas
pra fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º). O absoluto respeito ao corpo humano, além
de bem jurídico tutelado de forma individual, é um imperativo de ordem estatal. Trata-se de bem fora de
comércio por expressa previsão constitucional. Contudo, a doação de sangue, ou de órgãos em vida ou
post mortem, para fins de transplante ou tratamento é válida.
Proteção à integridade física e moral do preso na CF/88:
a) ninguém será submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante (5°, III);
b) a lei considerará a tortura crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, e por ela responderão
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-la, se omitirem (5°, XLIII);
c) não haverá penas cruéis (5°, XLVII, e);
d) é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral (5°, XLIX);
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e) a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (5°, LXII);
f) o preso será informado dos seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado (5°, LXIII);
g) o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial
(5°, LXIV);
h) a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária (5°, LXV); e
i) ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança (5°, LXVI).
A tortura é vedada pelo sistema internacional de proteção aos direitos humanos:
 Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes
(Resolução 39/46, da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1984);
 Convenção Interamericana Para Prevenir e Punir a Tortura (Cartagena das Índias, Colômbia, em 9 de
Dezembro de 1985).
A tortura é vedada pela CF/88:
Art. 5°, III – “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
Art. 5°, XLIII – “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;
A integridade moral é protegida pela Constituição:
Art. 5°, V – “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
Art. 5°, X – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
Art. 5°, XLIX – “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
 DIREITO À PRIVACIDADE
Tem seu núcleo no inciso X, do art. 5º da CF. O direito à privacidade está dividido em quatro dimensões:
 Intimidade – é o direito de estar só; é a garantia da solidão.
 Vida privada – é o direito que o indivíduo tem de ser de uma determinada forma, sem a intervenção de
outrem.
 Honra – está ligada à honra objetiva (visão da sociedade) e honra subjetiva (visão da própria pessoa).
 Imagem das pessoas – é a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias e outros. É um
direito que deve também ser revisto sob o viés da proporcionalidade.
O direito à privacidade na CF/88:
27
Art. 5°, XI - “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial (reserva de jurisdição)”;
Art. 5°, XII - “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal”.
Decisões importantes
“O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois
realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade
contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo
da esfera bancária para a fiscal” (RE 601314, j. em 24/02/2016 com repercussão geral. No
mesmo dia as ADIs 2390, 2386, 2397 e 2859, todas sobre a LC 105, foram julgadas
improcedentes).
SIGILO BANCÁRIO10
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
MP
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas
de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio
público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ. 5ª Turma. HC
308.493-CE, j. em 20/10/2015).
TCU
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/2012).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de
recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF. MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
RECEITA FEDERAL
SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001.O repasse das informações dos bancos para o
Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário".
FISCO ESTADUAL,
DISTRITAL,
MUNICIPAL
SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art. 6º da
LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001.
10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os
contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b>
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https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b
CPI
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001).
Prevalece que CPI municipal não pode.
A administração do presídio, com fundamento em razões de segurança pública, de
disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre
excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único,
da LEP, interceptar a correspondência que seria dirigida ao preso.
STF. 1ª Turma. HC 70814, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/03/1994.
“O sigilo bancário, o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que incide sobre os
dados/registros telefônicos e que não se identifica com a inviolabilidade das
comunicações telefônicas) - ainda que representem projeções específicas do direito à
intimidade, fundado no art. 5º, X, da Carta Política - não se revelam oponíveis, em
nosso sistema jurídico, às Comissões Parlamentares de Inquérito, eis que o ato que
lhes decreta a quebra traduz natural derivação dos poderes de investigação que foram
conferidos, pela própria Constituição da República, aos órgãos de investigação
parlamentar.” (STF, MS-23452/RJ)
“(...) TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. IMPOSSIBILIDADE.
(...) O Tribunal de Contas da União, a despeito da relevância das suas funções, não
está autorizado a requisitar informações que importem a quebra de sigilo bancário,
por não figurar dentre aqueles a quem o legislador conferiu essa possibilidade, nos
termos do art. 38 da Lei 4.595/1964, revogado pela Lei Complementar 105/2001. Não há
como admitir-se interpretação extensiva, por tal implicar restrição a direito fundamental
positivado no art. 5º, X, da Constituição. Precedente do Pleno (MS 22801, Rel. Min.
Menezes Direito, DJe-047 de 14.03.2008.) Ordem concedida. (MS 22934, Rel. Min.
JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, j. em 17/04/2012).
“Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério Público, informações sobre
nomes de beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos
subsidiados pelo erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de
requisição de informações e documentos para instruir procedimento administrativo
instaurado em defesa do patrimônio público. Princípio da publicidade, ut art. 37 da
Constituição. (...)” (MS 21729, Rel. p/Acórdão: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Pleno, j. em
05/10/1995).
“(...) 4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas
pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001, visto que as
operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública
insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa
constitucional do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a operações
financiadas com recursos públicos. (...) 7. O Tribunal de Contas da União não está
autorizado a, manu militari, decretar a quebra de sigilo bancário e empresarial de
terceiros, medida cautelar condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em
29
situações pontuais, do Poder Legislativo. Precedente: MS 22.801 (...). 8. In casu, contudo,
o TCU deve ter livre acesso às operações financeiras realizadas pelas impetrantes,
entidades de direito privado da Administração Indireta submetidas ao seu controle
financeiro, mormente porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de
origem pública. Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está
diante de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão decorrente do
dever de atuação transparente dos administradores públicos em um Estado Democrático
de Direito. (...)” (MS 33340, Rel. Min. LUIZ FUX, 1ª Turma, j. em 26/05/2015) No mesmo
sentido: RHC 133118, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 2ª Turma, j. em 26/09/2017.
 DIREITO À LIBERDADE
As liberdades são proclamadas partindo-se da perspectiva da pessoa humana como ser em busca da
autorrealização, responsável pela escolha dos meios aptos para realizar as suas potencialidades. A efetividade
dessas liberdades presta serviço ao regime democrático, na medida em que viabiliza a participação mais intensa
de todos os interessados nas decisões políticas fundamentais.
A Liberdade está relacionada à autonomia do ser humano e forma o próprio conceito de “pessoa”. Assim, o Estado
deve se abster de interferir de forma demasiada na liberdade. Todavia, a liberdade não é ilimitada, pois se assim
fosse teríamos uma verdadeira negação do Direito.
Conforme Montesquieu, em “O Espírito das Leis”, Liberdade é o poder de fazer tudo o que a lei autoriza, pois se o
Homem pudesse fazer o que ela proíbe, ele já não teria liberdade, porque os outros também teriam esse poder.
Quando o legislador limita a liberdade, entretanto, está submetido ao limite dos limites, observando sempre a
proporcionalidade.
Exemplos de liberdades previstas na CF/88
- Liberdade de consciência e crença (Art. 5°. VI, VII e VIII);
- Liberdade de manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato (art. 5°, IV) e assegurado o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem (inciso V);
- Vedação à censura (art. 220, caput e §§);
- Liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença (art. 5°, inciso IX);
- Liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer (art. 5°, inciso XIII).
- Liberdade em relação às orientações da intimidade e da vida privada, que são invioláveis (art. 5°,
inciso X);
- Liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5°, incisos XVII, XVIII,
XIX, XX e XXI);
- Liberdade de reunião, assegurando que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente (art. 5°, inciso XVI);
30
- Liberdade de voto, protegendo-se o eleitor contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (art. 14, § 9°, CF/88);
- Liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos (art. 17, incisos I a IV da
CF/88); e
- Liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz (art. 5°, inciso XV: “é livre a
locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”), inclusive com a garantia constitucional do habeas
corpus (Art. 5º, LXVIII – “conceder-se-á ‘habeas-corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder”).
Pontos relevantes
 DIREITO AO ESQUECIMENTO OU “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de estar só”11
É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento,
assim entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a
divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados
em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos
ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação devem seranalisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente
os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade
em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.
STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021
(Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).
O que é o direito ao esquecimento? O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa
possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de
sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.
Para o STF, o que é o direito ao esquecimento? Direito ao esquecimento é a pretensão apta a
impedir a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos, mas que, em razão da
passagem do tempo, teriam se tornado descontextualizados ou destituídos de interesse público
relevante.
O direito ao esquecimento aplica-se apenas a fatos ocorridos no campo penal?
NÃO. A discussão quanto ao direito ao esquecimento surgiu, de fato, para o caso de ex-condenados
que, após determinado período, desejavam que esses antecedentes criminais não mais fossem
expostos, uma vez que lhes causavam inúmeros prejuízos. No entanto, esse debate foi se ampliando
e, atualmente, envolve outros aspectos da vida da pessoa que ela almeja que sejam esquecidos.
É o caso, por exemplo, da apresentadora Xuxa, que, no passado, atuou em determinado filme (“Amor
Estranho Amor”) do qual se arrepende e que não mais deseja que seja exibido ou rememorado por
lhe causar prejuízos profissionais e transtornos pessoais. Pode-se mencionar ainda que o indivíduo
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O ordenamento jurídico brasileiro não consagra o denominado direito ao esquecimentoo. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/10fb6cfa4c990d2bad5ddef4f70e8ba2>.
31
deseje simplesmente ser esquecido, deixado em paz. Nesse sentido, podemos imaginar o exemplo
de uma pessoa que era famosa (um artista, esportista, político etc.) que, em determinado momento
de sua vida, decide voltar a ser um anônimo e não mais ser incomodado com reportagens,
entrevistas ou qualquer outra forma de exposição pública. Em certa medida, isso aconteceu na
década de 90 com a ex-atriz Lídia Brondi e, mais recentemente, com Ana Paula Arósio que, mesmo
tendo carreiras de muito sucesso na televisão, optaram por voltar ao anonimato. Essa é, portanto,
uma das expressões do direito ao esquecimento, que deve ser juridicamente assegurado. Assim, se
um veículo de comunicação tiver a infeliz ideia de fazer um especial mostrando a vida atual dessas
ex-atrizes, com câmeras acompanhando seu dia-a-dia, entrevistando pessoas que as conheciam na
época, mostrando lugares que atualmente frequentam etc., poderão elas requerer ao Poder
Judiciário medidas que impeçam essa violação ao seu direito ao esquecimento.
A previsão ou aplicação de um “direito ao esquecimento” afrontaria a liberdade de expressão.
O “direito ao esquecimento” caracteriza restrição excessiva e peremptória às liberdades de
expressão e de manifestação de pensamento e ao direito que todo cidadão tem de se manter
informado a respeito de fatos relevantes da história social, bem como equivale a atribuir, de forma
absoluta e em abstrato, maior peso aos direitos à imagem e à vida privada, em detrimento da
liberdade de expressão, compreensão que não se compatibiliza com a ideia de unidade da
Constituição.
 Liberdade de expressão12: engloba não somente o direito de se exprimir, como o também de não se
expressar, de calar e de não se informar.
Liberdade (direito) de informação é o mesmo que liberdade de expressão?
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) trata ambas conjuntamente. No entanto,
no Brasil, alguns autores estabelecem distinções:
· liberdade de informação: diz respeito ao direito individual de comunicar livremente fatos e ao
direito difuso de ser deles informado;
· liberdade de expressão: destina-se a tutelar o direito de externar ideias, opiniões, juízos de
valor, em suma, qualquer manifestação do pensamento humano.
É possível extrair um ponto relevante de distinção entre liberdade de informação e liberdade de
expressão: no exercício do direito de informação não é possível prescindir-se da verdade.
(BARROSO, Luis Roberto. Colisão entre liberdade de expressão e direitos da personalidade.
Critérios de ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do Código Civil e da Lei
de Imprensa).
Os direitos à informação e à livre a manifestação do pensamento não possuem caráter
absoluto, encontrando limites na legislação infraconstitucional e nas garantias
constitucionais essenciais à concretização da dignidade da pessoa humana. STJ. 3ª Turma.
REsp 1567988/PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/11/2018.
Liberdade de imprensa (ou liberdade de informação jornalística)
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não gera direito à indenização a publicação de artigos de caráter informativo e opinativo que, apesar de
serem extremamente ácidos e irônicos, não desbordaram os limites do exercício regular da liberdade de expressão. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/feb93033a7ab04ea442b08103ec019a4>.
32
A liberdade de imprensa constitui modalidade qualificada das liberdades de informação e de expressão;
por meio dela, assegura-se a transmissão das informações e dos juízos de valor pelos jornalistas ou
profissionais integrantes dos veículos de comunicação social de massa, notadamente emissoras de rádio
e de televisão, editoras de jornais e provedores de notícias na internet.
Para o STJ, a liberdade de imprensa subdivide-se em:
a) o “direito de informar” e o “direito de buscar a informação” (ambos decorrentes da liberdade de
informação que, como pontuado, tem compromisso com a verdade ainda que subjetiva); e
b) o “direito de opinar” e o “direito de criticar”, que refletem a liberdade de expressão em sentido estrito.
Por mais que seja livre a divulgação de informações, conhecimento ou ideias, esse direito não é
absoluto ou ilimitado, sendo possível a responsabilização pelo abuso constatado quando, a pretexto
de se expressar o pensamento, são afrontados os direitos da personalidade, com lesão à dignidade de
outras pessoas. Nesses casos, o ordenamento jurídico prevê a responsabilização cível e criminal pelo
conteúdo difundido, além do direito de resposta.
 
 DIREITO À IGUALDADE
Consiste em afirmar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, caput). Não se
admite discriminação de qualquer natureza em relação aos seres humanos.
Igualdade consiste em tratar igualmente os iguais, com os mesmos direitos e obrigações, e desigualmente os
desiguais.
 Espécies de desigualdades (Rousseau):
1. Desigualdades naturais (físicas) – têm origem na natureza;
2. Desigualdades morais (políticas) – têm origem em convenções humanas.
 Espécies de igualdade13:
1. Igualdade formal (perante a lei): consagra que todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza.
2. Igualdade material (perante os bens da vida, substancial, real ou fática): preconiza que as
desigualdades fáticas existentes entre as pessoas devem ser reduzidas por meio da promoção de
políticas públicas e privadas
Justiça distributiva13
A transformação do direito à isonomia em igualdade de possibilidades, sobretudo no tocante a uma
participação equitativa nos bens sociais, apenas é alcançado, segundo John Rawls, por meio da aplicação
da denominada “justiça distributiva”.
A “justiça distributiva” permite a superação das desigualdades no mundo dos fatos por meio de
intervenção estatal que realoque bens e oportunidades existentes na sociedade em benefício de
todos. O modelo constitucional pátrio incorporara diversos mecanismos institucionais para corrigir
distorções resultantes da incidência meramente formal do princípio da igualdade.No caso concreto, a
13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Constitucionalidade do sistema de cotas em universidades para alunos de escolas públicas. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/eccbc87e4b5ce2fe28308fd9f2a7baf3>
33
aplicação desse preceito consiste em técnica de distribuição de justiça, com o objetivo de promover
a inclusão social de grupos excluídos, especialmente daqueles que, historicamente, teriam sido
compelidos a viver na periferia da sociedade.
Conceito de ações afirmativas13
Ações afirmativas são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a
proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício
dos direitos do homem e das liberdades fundamentais. (art. 2°, II, da Convenção para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial, da Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Brasil em
1968).
Modalidades de ações afirmativas
a) Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que caracterizem grupos
minoritários para promover sua integração social;
b) Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de categorias
socialmente dominantes em determinados ambientes profissionais;
c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes distritos eleitorais;
e
d) Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.
Ações afirmativas na CF/88
Art. 5°, LXXIV – “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos”;
Art. 5°, LXXVI – “são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
(...)
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei;
Art. 37, VIII – “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; ”
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
34
(…)
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Ações afirmativas na jurisprudência
O STF decidiu que a Lei nº 11.340/06 (“Lei Maria da Penha”) é constitucional. Não há
violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei nº 11.340/06 ser voltada
apenas à proteção das mulheres. STF. Plenário. ADI 4424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 9/2/2012.
O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é
CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial
possuem natureza transitória. STF. Plenário. ADPF 186/DF, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 25 e 26/4/2012 (Info 663).
É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas.
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/5/2012
(repercussão geral) (Info 665).
A peculiaridade de que o veículo seja conduzido por terceira pessoa não constitui óbice
razoável ao gozo da isenção fiscal, de sorte que, preponderando o princípio da proteção
aos deficientes (físicos ou mentais), ante os desfavores sociais de que tais pessoas são
vítimas, deve ser superado o alcance da norma em prol das ações afirmativas, já que
incumbe ao Estado soberano assegurar por si ou por seus delegatários o cumprimento
do postulado do acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. STJ. 1ª Turma.
AgRg no AREsp 137112/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/05/2019.
Teoria do Impacto Desproporcional: significa toda e qualquer prática empresarial, política
governamental ou semigovernamental, de cunho legislativo ou administrativo, ainda que não apresente
intenção alguma discriminatória no momento de sua concepção, deve ser invalidada por violação do
princípio constitucional da igualdade material se, em consequência de sua aplicação, resultarem
efeitos nocivos de incidência especialmente desproporcional sobre certas categorias de pessoas.14
O mais célebre caso de aplicação da Teoria do Impacto Desproporcional no direito brasileiro correspondeu
à apreciação da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade n. º 1946-DF. Neste caso considerou-se que a
extensão do teto dos benefícios previdenciários ao salário-maternidade transferiria ao empregador a
responsabilidade pelo pagamento da diferença, durante o período da sobredita licença, entre o salário
efetivamente recebido pela gestante e o teto em questão. Entendeu-se, pela aplicação da Teoria do
Impacto Desproporcional, que o limite dos benefícios não poderia ser aplicado ao salário-maternidade,
sob pena de inconstitucionalidade, porque teria o efeito concreto de incrementar a discriminação contra a
14 (Ação afirmativa e princípio constitucional da igualdade. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 24).
35
mulher no mercado de trabalho, em absoluta afronta à igualdade de gêneros insculpida como cláusula
pétrea, nos termos do quanto disposto no art. 5ª, inciso I, bem como no art. 60, §4ª, inciso IV, ambos da
Constituição Federal Brasileira.
E é justamente aqui, na Teoria do Impacto Desproporcional, que se abre campo para a aplicação do Direito
à Adaptação Razoável. Embora inicialmente a norma possa não acarretar, em abstrato, discriminações de
fato ou indiretas, sua aplicação pode implicar efeitos nocivos de incidência especialmente
desproporcionais sobre certas categorias de pessoas; no caso, as com deficiência.
Cumpre anotar, então, que o Direito à Adaptação Razoável consiste na prerrogativa das pessoas com
deficiência em buscar modificações e ajustes, necessários e adequados, que não acarretem ônus
desproporcional ou indevido, que sejam imprescindíveis, em cada caso, para que possam gozar ou
exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais. Então, podemos afirmar que a não realização da adaptação em testilha,
quando possível e razoável, seguramente pode gerar discriminações negativas em desfavor das pessoas
com deficiência, em absoluta afronta ao núcleo existencial mínimo imprescindível à manutenção da
dignidade da pessoa humana afeta a categoria de pessoas notadamente prejudicadas em seus direitos e
garantias individuais.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Reconhece-se ao legislador o poder de conformação dentro dos limites estabelecidos pela Constituição. No
entanto, o excesso de poder no âmbito da discricionariedade legislativa pode ensejar a censura judicial.
A utilização do princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso envolve a apreciação da necessidade e
adequação da providência legislativa. O meio é adequado se, com sua utilização, o evento pretendido puder ser
alcançado; é necessário, se o legislador não dispõe de outro meio eficaz e menos restritivo aos direitos
fundamentais.
O princípio da proporcionalidade não pode compreender apenas a proibição do excesso. Diante do plexo de
direitos e garantias explicitados na Constituição, tem o legislador (e o juiz) também a obrigação de proteger os
bens jurídicos de forma suficiente. Em outras palavras: é tão indesejado o excesso quanto a insuficiência da
resposta do Estado punitivo. Nesse sentido, o STF15:
“Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas como proibições de
intervenção (Eingriffsverbote), expressando também um postulado de proteção
(Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma
proibição do excesso (Übermassverbote), como também podem ser traduzidos como
proibições de proteção insuficienteou imperativos de tutela (Untermassverbote). […]
O Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição confere ao legislador amplas
margens de ação para eleger os bens jurídicos penais e avaliar as medidas adequadas e
necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém, uma vez que se ateste que as
medidas legislativas adotadas transbordam os limites impostos pela Constituição – o que
poderá ser verificado com base no princípio da proporcionalidade como proibição de
excesso (Übermassverbot) e como proibição de proteção deficiente (Untermassverbot)”
(STF – Segunda Turma – HC 104410 – Rel. Min. Gilmar Mendes – DJe 27/03/2012).
15
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/03/04/certo-ou-errado-uma-das-vertentes-principio-da-proporcionalidade-e-proibi
cao-de-protecao-deficiente/
36
Portanto, ao lado da proibição do excesso tem-se o PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE,
segundo o qual o Estado deve tomar medidas protetivas adequadas e eficazes à defesa dos direitos fundamentais.
RESUMINDO16
PROIBIÇÃO DO EXCESSO PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE
Übermassverbot Untermassverbot
É a vedação da atividade legislativa que ao legislar
acaba por ir além do necessário, em excesso, afetando
direitos fundamentais como a liberdade de expressão,
liberdade de locomoção, a honra, a dignidade, entre
outros. Corrobora a mestre Fernanda Mambrini: É o que
se denomina princípio da proibição de excesso de
proibição (übermassverbot) – o Estado não pode ir além do
necessário e adequado (...)
É o revés da proibição do excesso, quando o estado não
legisla acerca de um determinado direito fundamental
desprotegendo-o. Segundo Andre Estefan:A proibição
deficiente consiste em não se permitir uma deficiência na
prestação legislativa, de modo a desproteger bens jurídicos
fundamentais. Nessa medida, seria patentemente
inconstitucional, por afronta à proporcionalidade, lei que
pretendesse descriminalizar o aborto
DUPLO CONTROLE DE PROPORCIONALIDADE – Em relação ao princípio da proporcionalidade, o duplo controle
seria aquele que, em primeiro lugar, haveria uma análise do princípio da proporcionalidade para se saber se a lei,
em abstrato, feriu direitos fundamentais e, depois de verificada a constitucionalidade, precisaria passar por uma
segunda etapa, para verificar se, no caso concreto, este princípio foi ferido.
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS – pontos importantes
 Habeas corpus: Foi a primeira garantia de direitos fundamentais, concedida por João Sem Terra, monarca
inglês, na Magna Carta, em 1215, e formalizada, posteriormente, pelo Habeas Corpus Act, em 1679.
No Brasil, a primeira manifestação do instituto deu-se em 1821, por meio de um alvará emitido por Dom
Pedro I, pelo qual se assegurava a liberdade de locomoção.
A terminologia habeas corpus só apareceria em 1830, no Código Criminal.
Foi garantido constitucionalmente a partir de 1891, permanecendo nas Constituições subsequentes,
inclusive na de 1988.
Foi inicialmente utilizado como remédio para garantir não só a liberdade física, como também os demais
direitos que tinham por pressuposto básico a locomoção. Tratava-se da chamada "teoria brasileira do
habeas corpus'', que perdurou até o advento da Reforma Constitucional de 1926, impondo o exercício da
garantia somente para os casos de lesão ou ameaça de lesão à liberdade de ir e vir.
Espécies
 Preventivo: quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (a restrição à locomoção ainda não se consumou). Nessa
situação, poder-se-á obter um salvo-conduto para garantir o livre trânsito de ir e vir.
16
https://jeancarlodias.jusbrasil.com.br/artigos/429256367/a-proibicao-do-excesso-ubermassverbot-e-a-proibicao-de-protecao-deficiente-un
termassverbot-no-direito-penal
37
 Liberatório ou repressivo: quando a constrição ao direito de locomoção já se consumou, para cessar a
violência ou coação.
Punições disciplinares militares: O art. 142, § 2º, CF estabelece não caber habeas corpus em relação a
punições disciplinares militares. Trata-se da impossibilidade de se analisar o mérito de referidas punições,
não abrangendo, contudo, os pressupostos de legalidade (hierarquia, poder disciplinar, ato ligado à função
e pena suscetível de ser aplicada disciplinarmente – STF, HC 70.648 e RE 338.840).
Habeas corpus impetrado em face de ato da Turma Recursal: a competência para julgar HC impetrado
contra ato da Turma Recursal é do Tribunal de Justiça (se for turma recursal estadual) ou do Tribunal
Regional Federal (se a turma recursal for do JEF).17
Decisão importante18
Uma vez conhecido o habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na iminência
de sê-lo, presentes as seguintes condições:
(1) violação à jurisprudência consolidada do STF;
(2) violação clara à Constituição; ou
(3) teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico.
STF. 1ª Turma. AgRg no HC 200.055, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/06/2021.
Habeas corpus não é o instrumento adequado para pleitear trancamento de processo de impeachment.
STF. Plenário. HC 134315 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/6/2016 (Info 830).19
 Mandado de segurança: proteção de um direito líquido e certo, violado ou ameaçado por algum agente
público no exercício de suas funções.
Abrangência: Excluindo a proteção de direitos inerentes à liberdade de locomoção (habeas corpus) e ao
acesso ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos
de dados de entidades governamentais ou de caráter público (habeas data), por meio do mandado de
segurança busca-se a invalidação de atos de autoridade ou a supressão dos efeitos da omissão
administrativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de poder.
Ilegalidade ou abuso de poder: O mandado de segurança é conferido aos indivíduos para que eles se
defendam de atos ilegais ou praticados com abuso de poder. Portanto, tanto os atos vinculados quanto os
atos discricionários são atacáveis por mandado de segurança, porque a Constituição Federal e a lei
ordinária, ao aludirem à ilegalidade, estão se referindo ao ato vinculado, e ao se referirem a abuso de
poder, estão se reportando ao ato discricionário.
Prazo para Impetração: 120 dias, contado da ciência, pelo interessado, do ato a ser impugnado, tendo
natureza decadencial.
Natureza Jurídica do Prazo: Decadencial (pode ser suspenso ou interrompido)
19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não cabimento de HC para trancar impeachment. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/60792d855cd8a912a97711f91a1f155c>
18 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Condições para a concessão de Habeas Corpusu. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8d1de7457fa769ece8d93a13a59c8552>
17 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 690-STF. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b6d67a24906e8a8541291882f81d31ca>
38
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/60792d855cd8a912a97711f91a1f155c
STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS terminar em sábado, domingo ou feriado,
deverá haver prorrogação para o primeiro dia útil seguinte. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção.
MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/09/2010.20
Como é contado o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir
determinada vantagem paga ao servidor? 19
ATO QUE SUPRIME
VANTAGEM
ATO QUE REDUZ VANTAGEM
ATO QUE REAJUSTA
BENEFÍCIO EM VALOR
INFERIOR AO DEVIDO
Ato único. Prestação de trato sucessivo. Prestação de trato sucessivo.
O prazo para o MS é contado
da data em que o prejudicado
toma ciência do ato.
O prazo para o MS renova-se
mês a mês (periodicamente).
O prazo para o MS renova-se
mês a mês (periodicamente).
Considerando a teoria deKarel Vasak, em qual geração/dimensão o mandado de segurança pertence?21
Primeira geração/dimensão, pois uma de suas principais funções é a de proteger o cidadão contra
eventuais abusos e desvios do Estado.
REQUISITOS19:
1º) Ato comissivo ou omissivo da autoridade pública ou agente jurídico no exercício de atribuições
públicas;
2º) Ilegalidade ou abuso do poder;
3º) Lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e certo.
4º) O ato dotado de ilegalidade ou abuso de poder que lesiona direito líquido e certo não pode ser
amparado por habeas corpus ou habeas data.
TEORIA DA ENCAMPAÇÃO22: A teoria da encampação é o ingresso da autoridade coatora correta ou da
pessoa jurídica a que ela pertença no feito para suprimir o vício e, em decorrência permite o
julgamento do mandado de segurança. Nesse caso, deve o juiz determinar a emenda da inicial ou, na
hipótese de erro escusável, corrigi-lo de ofício, e não extinguir o processo sem julgamento do mérito,
apesar da autoridade coatora ser incorreta poderia prosseguir pela pessoa jurídica. Para aplicar tal teoria
necessita preencher alguns requisitos:
A) entre encampante e encampado ocorra vínculo hierárquico.
B) que o ingresso do encampante não modifique a competência para o julgamento do mandado de
segurança.
C) as informações prestadas pela autoridade encampada tenham esclarecido a questão.
22 Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos:
a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e
c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal
21 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/48f7d3043bc03e6c48a6f0ebc0f258a8?lei=21
20 https://www.dizerodireito.com.br/2016/04/prazo-decadencial-para-impetrar-ms.html
39
NÃO SE CONCEDERÁ MANDADO DE SEGURANÇA QUANDO SE TRATAR
 de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução;
 de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
 de decisão judicial transitada em julgado;
 não cabe mandado de segurança contra lei em tese (Súmula 266/STF);
 não cabe mandado de segurança contra matéria interna corporis das Casas Legislativas;
 mandado de segurança não substitui a ação popular (Súmula 101/STF);
 não cabe MS em face de decisões interlocutórias da Lei 9.099/95, conforme jurisprudência do STF (RE
576.874);
 não possui lesividade que justifique MS o ato do STF que determine o retorno dos autos à origem para
aplicação da sistemática de repercussão geral (STF, MS 32485);
Cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado?
O que diz a Lei 12.016/09 O que diz a súmula O que diz o STJ
Art. 5º Não se concederá
mandado de segurança
quando se tratar:
(...)
II - de decisão judicial da qual
caiba recurso com efeito
suspensivo;
Sumula 267-STF: Não cabe
mandado de segurança contra
ato judicial passível de recurso
ou correição.
Em regra, não cabe mandado
de segurança contra decisão
judicial da qual caiba recurso.
Isso porque o MS não pode ser
utilizado como sucedâneo
recursal (ou seja, como
substituto de recurso).
 
Exceção: será cabível MS
contra decisão judicial
manifestamente eivada de
ilegalidade, teratologia ou
abuso de poder.
 Mandado de segurança coletivo: difere do MS individual quanto ao objeto e à legitimação ativa.
Objeto: proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data (campo
residual), contra atos ou omissões ilegais ou com abuso de poder de autoridade, buscando a preservação
(preventivo) ou reparação (repressivo) de interesses transindividuais, sejam os individuais homogêneos,
sejam coletivos.
Direitos Coletivos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou
categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica.
Direitos Individuais Homogêneos: os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação
específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante. 
Legitimidade ativa
Partido político com representação no Congresso Nacional: bastará a existência de um único
parlamentar na Câmara ou Senado, filiado ao partido. Conforme estabelece o art. 21, Lei
40
12.016/2009, o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária.
Organização sindical, entidades de classe e associações: devem estar legalmente constituídas e
atuar na defesa dos interesses dos seus membros ou associados.
IMPORTANTE
O requisito de estarem em funcionamento há pelo menos 1 ano é exclusivo das associações, não
sendo exigida referida pré-constituição ânua para os partidos políticos, organizações sindicais e
entidades de classe.
Segundo o STF, não há necessidade de autorização específica dos membros ou associados, desde
que haja previsão expressa no estatuto social. Súmula 629-STF: A impetração de mandado de
segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização
destes.
Ao se referir à defesa dos interesses dos membros ou associados, a Constituição determinou a
necessária existência de pertinência temática do objeto da ação coletiva com os objetivos
institucionais do sindicato, entidade de classe ou associação. Nesse caso, cuida-se de verdadeira
substituição processual (legitimação extraordinária) das entidades representando direitos alheios
de seus associados.
O mandado de segurança coletivo configura hipótese de substituição processual, por meio da qual
o impetrante, no caso a associação, atua em nome próprio defendendo direito alheio, pertencente
aos associados ou parte deles, sendo desnecessária, para a impetração do mandamus,
apresentação de autorização dos substituídos ou mesmo lista nominal. Por tal razão, os efeitos da
decisão proferida em mandado de segurança coletivo beneficiam todos os associados, ou parte
deles cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo irrelevante se a filiação
ocorreu após a impetração do writ. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1841604-RJ, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 22/04/2020 (Info 670)23.
Execução individual de sentença de procedência oriunda de ação coletiva proposta pela
associação: será possível executar individualmente, mesmo se não for associado, se a
sentença coletiva que estiver sendo executada for mandado de segurança coletivo. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/6/2015 (Info 565).24
 Mandado de injunção: Segundo Bernardes e Ferreira (p. 230), “é instrumento processual instituído
especialmente para fiscalizar e corrigir, concretamente, as omissões do Poder Público em editar as normas
24 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à associação.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d16509f6eaca1022bd8f28d6bc582cae>
23 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A decisão em mandado de segurança coletivo impetrado por associação beneficia todos os
associados, sendo irrelevante a filiação ter ocorrido após a sua impetração. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/07d5938693cc3903b261e1a3844590ed>.
41
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d16509f6eaca1022bd8f28d6bc582cae
necessárias para tornar efetivos direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, da Constituição)”25.
Requisitos constitucionais:
a) Norma constitucional de eficácia limitada, prescrevendo direitos, liberdades constitucionais e
prerrogativas inerentes à nacionalidade,à soberania e à cidadania.
Para o STF, qualquer direito constitucional violado, se estiver em norma de eficácia limitada, pode
fundamentar mandado de injunção.
Segundo o STF (MI nº 766), não caberá mandado de injunção em relação à falta de complemento
(inexistência de regulamentação) de norma infraconstitucional.26
b) Falta de norma regulamentadora, tornando inviável o exercício dos direitos, liberdades e
prerrogativas acima mencionados (omissão do Poder Público).
ADO e MI
ADO MI
FUNDAMENTO Art. 103, § 2º, CF e Lei 9.868/99. Art. 5º, LXXI, CF.
OBJETIVO Defesa objetiva da Constituição. Tutela de direitos subjetivos.
NATUREZA JURÍDICA
Ação constitucional de garantia da
Constituição.
Ação constitucional de garantia
individual.
VIA UTILIZADA Concentrada e abstrata. Difusa e concreta.
COMPETÊNCIA PARA
JULGAMENTO
STF ou TJ.
Todo o Poder Judiciário, dependendo
de quem se omite.
LEGITIMADOS Art. 103, CF.
Qualquer pessoa que se diga titular
de direito constitucional.
CABIMENTO
Quanto a qualquer norma
constitucional de eficácia limitada
de princípio institutivo.
Ex: IGF.
Somente para as normas
constitucionais que preveem direitos
e que estão pendentes de
regulamentação.
Ex: direito de greve dos servidores
públicos.
EFEITOS
Previstos na lei:
a) Se a omissão é do Legislativo, o
Judiciário apenas comunica.
b) Se a omissão é do Executivo, o
Previstos na jurisprudência:
a) Não concretista (MI 107): mesmos
efeitos da ADO.
b) Concretista (atual): a decisão no MI
26 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/71e63ef5b7249cfc60852f0e0f5bf4c8?lei=20
25 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/71e63ef5b7249cfc60852f0e0f5bf4c8?lei=20
42
Judiciário manda fazer o ato em
trinta dias ou em outro prazo.
produz efeitos concretos, tutelando
o direito da parte impetrante, já
tendo o STF proferido decisão com
efeito individual (direito da parte
impetrante – MI 758) ou geral (MI 708
e 712).
SEMELHANÇA Atacam a síndrome de inefetividade das normas constitucionais.
síndrome da inefetividade das normas constitucionais27: ausência de regulamentação adequada de
normas de eficácia limitada (que dependem de elaboração normativa infraconstitucional), o que impede o
efetivo exercício de direitos previstos na Constituição.
LEGITIMADOS – PONTOS IMPORTANTES
 Pessoa jurídica de direito público pode impetrar MI?
No julgamento do MI 725, o STF reconheceu aa legitimação ativa da pessoa jurídica de direito público para
a impetração do MI.
 Órgãos ou entidades privadas que estiverem sendo beneficiados pela falta de regulamentação podem ser
legitimados passivos? 28
NÃO! Pois eles não legislam (não emanam provimento normativo) e nem tampouco podem atuar como
litisconsorte passivo necessário ou facultativo – STJ, MI 288-6.
 O Presidente da República pode ser legitimado passivo? 26
SIM. Devido à sua iniciativa reservada (privativa), conforme art. 61, § 1º, da CF, é possível impetrar
mandado de injunção quando configurada a omissão do Presidente da República. Aqui, o MI não será
em face do Congresso Nacional.4
 A Defensoria Pública tem legitimidade ativa para impetrar mandado de injunção coletivo (art. 12, IV)?26
SIM! É importante lembrar que no ordenamento jurídico o instituto do mandado de segurança
coletivo não prevê expressamente a Defensoria Pública como um dos legitimados. Além disso, a
jurisprudência – pelo menos até o momento – nega essa legitimidade ativa.
EFICÁCIA OBJETIVA DA DECISÃO27
 CORRENTE NÃO CONCRETISTA: O Poder Judiciário, ao julgar procedente o mandado de injunção,
deverá apenas comunicar o Poder, órgão, entidade ou autoridade que está sendo omisso. Foi adotada
pelo STF (MI 107/DF) até por volta do ano de 2007.
28 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/71e63ef5b7249cfc60852f0e0f5bf4c8?lei=20
27 https://www.cpiuris.com.br/blog/2019/07/11/sindrome-da-inefetividade-das-normas-constitucionais-como-combate-la_39/
43
 CORRENTE CONCRETISTA: O Poder Judiciário, ao julgar procedente o mandado de injunção e
reconhecer que existe a omissão do Poder Público, deverá editar a norma que está faltando ou
determinar que seja aplicada, ao caso concreto, uma já existente para outras situações
análogas.
I – Quanto à necessidade ou não de concessão de prazo para o impetrado, a posição concretista
pode ser dividida em:
a) Corrente concretista DIRETA: o Judiciário deverá implementar uma solução para viabilizar o
direito do autor e isso deverá ocorrer imediatamente (diretamente), não sendo necessária
nenhuma outra providência, a não ser a publicação do dispositivo da decisão.
b) Corrente concretista INTERMEDIÁRIA: ao julgar procedente o mandado de injunção, o
Judiciário, antes de viabilizar o direito, deverá dar uma oportunidade ao órgão omisso para que
este possa elaborar a norma regulamentadora. Assim, a decisão judicial fixa um prazo para que
o Poder, órgão, entidade ou autoridade edite a norma que está faltando.
II – Quanto às pessoas atingidas pela decisão, a corrente concretista pode ser dividida em:
a) Corrente concretista INDIVIDUAL: a solução "criada" pelo Poder Judiciário para sanar a
omissão estatal valerá apenas para o autor do MI.
b) Corrente concretista GERAL: a decisão que o Poder Judiciário der no mandado de injunção
terá efeitos erga omnes e valerá para todas as demais pessoas que estiverem na mesma
situação.
EFEITOS DA DECISÃO FINAL CONCESSIVA27
 TEORIA DA SUBSIDIARIEDADE: O Poder Judiciário somente declara a mora legislativa, nos moldes da
ação direta de inconstitucionalidade por omissão (Manoel Gonçalves Ferreira Filho).
 TEORIA DA INDEPENDÊNCIA JURISDICIONAL: A sentença de MI possui caráter constitutivo erga omnes.
Cabe ao Poder Judiciário editar a norma geral, estendendo de forma abstrata a todos, inclusive os que
não pleitearam a tutela.
 TEORIA DA RESOLUTIVIDADE: A sentença de MI produz a norma para o caso concreto com natureza
constitutiva inter partes. É a posição majoritária da doutrina: José Carlos Barbosa Moreira, Luís Roberto
Barroso, José Afonso da Silva, Calmos de Passos.
 Habeas data: Segundo Márcio Cavalcante29, é ação constitucional de caráter personalíssimo, de
natureza civil e procedimento especial, que visa viabilizar o conhecimento, retificação ou a
anotação (ou explicação em dado exato) de informações da pessoa do impetrante, constantes em
bancos de dados públicos ou bancos de dados privados de caráter público.
 Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público: segundo a doutrina, o conceito
de banco de dados para fins de habeas data deve ser entendido em sentido amplo, abrangendo tudo que
diga respeito ao interessado, seja de modo direto ou indireto, causando-lhe dano ao seu direito de
privacidade.
29 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/c64a9829fa4638ff5de86330dd227e35?lei=22
44
Segundo o STF (RE 673.707, repercussão geral, Info 790), o habeas data é a garantia constitucional adequada para a
obtenção dos dados concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas
informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.
 Para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo.
Habeas data não se confunde com o direito de obter certidões (art. 5º, XXXIV, "b", CF), ou informações de interesse
particular, coletivo ou geral (art. 5º, XXXIII, CF).
Havendo recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimento de situações de
interesse pessoal, próprio ou de terceiros) ou informações de terceiros, será cabível o mandado de segurança, e
não o habeas data.
OBSERVAÇÕES30
 Em regra, não cabe HD em favor de terceiro. EXCEÇÃO: causas relativas à transmissão de direitos causa
mortis.
2. É parte legítima para impetrar habeas data o cônjuge sobrevivente na defesa
de interesse do falecido. HD 147/DF, Rel. Ministro ARNALDOESTEVES LIMA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2007, DJ 28/02/2008, p. 69
 É possível aplicar a teoria da encampação no procedimento do habeas data? SIM.
1. A teoria da encampação aplica-se ao habeas data, mutatis mutandis, quando o
impetrado é autoridade hierarquicamente superior aos responsáveis pelas
informações pessoais referentes ao impetrante e, além disso, responde na via
administrativa ao pedido de acesso aos documentos. (HD 84/DF, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/09/2006, DJ
30/10/2006, p. 236)
 Não existe previsão legal de reexame necessário no procedimento do habeas data.
 Habeas data é gratuito (isento de custas e despesas judiciais), seja no procedimento administrativo, seja
no âmbito judicial, inclusive na fase recursal, conforme art. 5º, LXXII, da CF.
 HD não é meio idôneo para se obter vista de processo administrativo (STF, HD 90 AgR, j. 18-2-2010).
 Ação popular: “Assim como o voto, a iniciativa popular, o plebiscito e o referendo, a ação popular,
corroborando o preceituado no art. 1º, parágrafo único, CF, constitui importante instrumento da
democracia direta e participação política. Busca-se a proteção da res publica, ou, utilizando uma
nomenclatura mais atualizada, tem por escopo a proteção dos interesses difusos”.31
31 LENZA (2020), PÁG. 862.
30 https://www.buscadordizerodireito.com.br/juscom/artigo/c64a9829fa4638ff5de86330dd227e35?lei=22
45
Requisitos31
Deve haver lesividade:
a) Ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe: entenda-se entidades da administração
direta, indireta, incluindo portanto as entidades paraestatais, como as empresas públicas, sociedades de
economia mista, bem como toda pessoa jurídica subvencionada com dinheiro público.
b) À moralidade administrativa.
c) Ao meio ambiente.
d) Ao patrimônio histórico e cultural.
Por lesividade deve-se entender também ilegalidade, pois como assinalou Temer, "embora o texto
constitucional não aluda à ilegalidade, ela está sempre presente nos casos de lesividade ao patrimônio
público.”
Apesar dessa constatação no que tange ao patrimônio público, resta indagar se o binômio
lesividade/ilegalidade deve sempre estar presente como requisito para a propositura da ação popular. A
resposta é negativa, ainda mais quando se observa que a Constituição erigiu a moralidade administrativa a
fundamento autônomo para a propositura da ação popular.
Pontos importantes
 Legitimidade ativa: cidadão, assim considerado o brasileiro nato ou naturalizado, desde que esteja no
pleno gozo de seus direitos políticos, provada tal situação (e como requisito essencial da inicial) pelo título
de eleitor, ou documento que a ele corresponda (art. 1º, § 3º, Lei 4.717/65). Assim, excluem-se do polo ativo
os estrangeiros, os apátridas, as pessoas jurídicas e mesmo os brasileiros que estiverem com os seus
direitos políticos suspensos ou perdidos (art. 15, CF).
 Súmula 365-STF: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
 Súmula 101-STF: O mandado de segurança não substitui a ação popular.
 
 A condição de eleitor não é condição de legitimidade ativa, mas apenas e tão-só meio de prova
documental da cidadania, daí porque pouco importa qual o domicílio eleitoral do autor da ação popular.
Aliás, trata-se de uma exceção à regra da liberdade probatória (sob a lógica tanto da atipicidade como da
não-taxatividade dos meios de provas). Aquele que não é eleitor em certa circunscrição eleitoral não
necessariamente deixa de ser eleitor, podendo apenas exercer sua cidadania em outra circunscrição. Se
for eleitor, é cidadão para fins de ajuizamento de ação popular. O indivíduo não é cidadão de tal ou
qual Município, é “apenas” cidadão, bastando, para tanto, ser eleitor. O instituto do “domicílio eleitoral” não
guarda tanta sintonia com o exercício da cidadania, e sim com a necessidade de organização e fiscalização
eleitorais. STJ. 2ª Turma. REsp 1242800/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 07/06/2011.32
 
 No âmbito da Ação Popular, em que se pleiteia "a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio" público (art. 1º da Lei 4.717/1965), não se pode condenar o réu ao pagamento de
ressarcimento ao Erário se não se configurar o dano. STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1497559/PA, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/10/2020.33
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. No âmbito da Ação Popular, em que se pleiteia a anulação ou a declaração de nulidade de atos
lesivos ao patrimônio público, não se pode condenar o réu ao pagamento de ressarcimento ao Erário se não se configurar o dano. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5c572eca050594c7bc3c36e7e8ab9550>
32 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A ação popular pode ser ajuizada por qualquer cidadão, não importando que o autor seja eleitor
em local diferente de onde os fatos ocorreram. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a894b83c9b7a00dba6c52cecf7a31fbb>
46
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a894b83c9b7a00dba6c52cecf7a31fbb
 
 Não é condição para o cabimento da ação popular a demonstração de prejuízo material aos cofres
públicos, dado que o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal estabelece que qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular e impugnar, ainda que separadamente, ato lesivo ao patrimônio
material, moral, cultural ou histórico do Estado ou de entidade de que ele participe. STF. Plenário. ARE
824781 RG, Rel. Dias Toffoli, julgado em 27/08/2015.34
 
 É possível a declaração incidental de inconstitucionalidade em Ação Popular, desde que a
controvérsia constitucional não figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou
simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal, em torno da tutela do interesse
público. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1352498/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 05/06/2018.35
 
 O STJ possui firme orientação de que um dos pressupostos da Ação Popular é a lesão ao patrimônio
público. Ocorre que a Lei nº 4.717/65 deve ser interpretada de forma a possibilitar, por meio de Ação
Popular, a mais ampla proteção aos bens e direitos associados ao patrimônio público, em suas várias
dimensões (cofres públicos, meio ambiente, moralidade administrativa, patrimônio artístico, estético,
histórico e turístico). Para o cabimento da Ação Popular, basta a ilegalidade do ato administrativo por
ofensa a normas específicas ou desvios dos princípios da Administração Pública, dispensando-se a
demonstração de prejuízo material. STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 949.377/MG, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 09/03/2017.36
 
 Em regra, o STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que
ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República. A competência para julgar ação popular
contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º
grau. STF. Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).37
 
EXCEÇÕES: compete ao STF julgar:
1. ação popular que envolva conflito federativo entre a União e os Estados, a União e o Distrito
Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (art.
102, I, “f”, da CF/88);
2. ação popular em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam
impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88);
3. ação popular proposta contra o Conselho Nacional de Justiça ou contra o Conselho
Nacional do Ministério Público (art. 102, I, “r”, da CF/88).
4. ação popular cujo pedido seja próprio de mandado de segurança coletivo contra ato de
Presidente da República, por força do art. 102, I, “d”, da CF/88 (STF. Plenário.Pet 8104 AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 06/12/2019).
37 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. STF não possui competência originária para julgar ação populara. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f45a1078feb35de77d26b3f7a52ef502>
36 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível ação popular mesmo sem demonstração de prejuízo material. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/91ba4a4478a66bee9812b0804b6f9d1b>
35 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Declaração incidental de inconstitucionalidade em ação populara. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/50c1f44e426560f3f2cdcb3e19e39903>
34 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É dispensável a demonstração de prejuízo material ao erário para o ajuizamento da ação popular,
sendo suficiente a verificação da ilegalidade do ato administrativo por ofensa a normas específicas ou desvios dos princípios da Administração
Pública. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d47bf0af618a3523a226ed7cada85ce3>
47
 A coisa julgada se opera secundum eventum litis, ou seja, se a ação for julgada procedente ou improcedente
por ser infundada, produzirá efeito de coisa julgada oponível erga omnes. No entanto, se a improcedência
se der por deficiência de provas, haverá apenas a coisa julgada formal, podendo qualquer cidadão intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 18, Lei 4.717/65), já que não terá sido
analisado o mérito.
 
 Julgada improcedente a ação (pelo art. 267 ou 269, CPC), só produzirá efeitos depois de passar pelo duplo
grau obrigatório de jurisdição. Julgada procedente, a apelação será recebida no seu duplo efeito:
devolutivo e suspensivo (art. 19, Lei 4.717/65).
 DIREITO DE NACIONALIDADE
 Vínculo jurídico-político que liga o indivíduo ao Estado, fazendo com que esse indivíduo se torne um componente
do povo, capacitando-o a exigir sua proteção; em contrapartida, o sujeita a cumprir os deveres impostos pelo
Estado a todos (STF, (RMS 27.840).
Segundo Yussef Said Cahali: “Em sentido estrito, conceitua-se a nacionalidade como liame político-jurídico que
vincula uma pessoa a uma nação determinada; é um vínculo público e pessoal, que liga o indivíduo a determinado
país, sua pátria de origem ou de adoção, tornando-o parte integrante do povo desse país, e submetendo-o à
autoridade e proteção da soberania, que nele impera”.38
Trata-se de Direito fundamental do homem. Conforme a declaração universal dos Direitos do Homem:
Artigo 15.
1) Todo Homem tem direito a uma nacionalidade.
2) Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar
de nacionalidade.
Segundo o STF, A nacionalidade é também princípio geral de direito das gentes, pois a regra expressa no art. 15
da Declaração Universal dos Direitos do Homem (RMS 27.840).
Cada Estado tem a liberdade de decidir quem será o seu nacional, mas as pessoas devem ter uma nacionalidade,
pois é um direito fundamental seu.
CONCEITOS RELEVANTES
 Nacionalidade: vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que
esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de direitos e
submeta-se a obrigações. Para Pontes de Miranda, a nacionalidade faz da pessoa um dos elementos
componentes da dimensão pessoal do Estado.
Segundo o STF (RMS 27.840), a nacionalidade tem a natureza de direito fundamental da pessoa humana de
primeira dimensão.
 Povo: conjunto de pessoas que fazem parte do Estado (elemento humano), unidas a este pelo vínculo
jurídico-político da nacionalidade.
38 Estatuto do estrangeiro. Saraiva: São Paulo, 1983, p. 3,
48
 População: conjunto de residentes no território, sejam eles nacionais ou estrangeiros, bem como os
apátridas (ou heimatlos, expressão de origem alemã). Trata-se de um conceito demográfico.
 Nação: conjunto de pessoas nascidas em um território, ladeadas pela mesma língua, cultura, costumes,
tradições, adquirindo uma mesma identidade sociocultural. São os nacionais, distintos dos estrangeiros.
São os brasileiros natos ou naturalizados.
 Cidadania: tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania), caracterizando-se
como a titularidade dos direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão, portanto, nada mais é que o
nacional (brasileiro nato ou naturalizado) que goza de direitos políticos.
Espécies de nacionalidade
Conforme o art. 12 da CF, temos 2 espécies de nacionalidade:
 Primária, de origem, originária, nata (art. 12, I, da CF):
a) Por critérios de origem sanguínea (jus sanguinis), ou de descendência: É considerado nacional
aquele que é filho de pessoas nacionais do Estado.
b) Por critérios de origem territorial (jus solis): É nacional aquele que nasce no território de um
determinado Estado.
c) Por critérios mistos.
 Secundária, adquirida, derivada, voluntária (art. 12, II, da CF): Resulta de fato voluntário posterior ao
nascimento e depende de declaração de vontade da pessoa.
No caso de haver cumulação de nacionalidade, teremos o polipátrida, configurando um conflito positivo. Mas,
pode ocorrer o contrário, dando origem ao chamado apátrida. Essas pessoas possuem proteção especial no art. XV
da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que assegura a toda pessoa o direito a uma nacionalidade,
proibindo que seja arbitrariamente dela privada, ou impedida de mudá-la, e na Lei de Imigração.
 NACIONALIDADE PRIMÁRIA
Conforme o art. 12 da CF/88:
Art. 12. São brasileiros:
I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde
que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira;
49
 Critério do jus solis - art. 12, I, "a", CF: Qualquer pessoa que nascer no território brasileiro (República
Federativa do Brasil), mesmo que seja filho de pais estrangeiros. Os pais estrangeiros, no entanto, não
podem estar a serviço de seu país. Se estiverem, o indivíduo que nasceu em território brasileiro não será
brasileiro nato.
 Critério do jus sanguinis + serviço do Brasil - art. 12, I, "b", CF: Qualquer pessoa que, mesmo tendo
nascido no estrangeiro, seja filho de pai ou mãe brasileiros e qualquer deles (o pai, a mãe, ou ambos)
esteja a serviço da República Federativa do Brasil (administração direta ou indireta).
 Critério do jus sanguinis + registro - art. 12, I, "c", CF: Qualquer pessoa que não nascer no território
brasileiro, mas seja filho de pai ou de mãe brasileira (natos ou naturalizados), que não estiverem a serviço
do país, adquire a nacionalidade brasileira originária pelo simples ato de registro em repartição brasileira
competente.
 Critério do ius sanguinis + opção confirmativa - art. 12, I, "c", segunda parte, CF: Qualquer pessoa que,
mesmo tendo nascido no estrangeiro e seja filho de pai ou mãe brasileiros que não estejam a serviço do
Brasil, venha a residir no país e opte, a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira. Trata-se da chamada nacionalidade potestativa, uma vez que a aquisição depende
da exclusiva vontade do indivíduo.
O ato de opção pela nacionalidade brasileira não gera a própria nacionalidade, que é anterior, mas sim a
definitividade da condição de brasileiro nato, confirmando-a. No caso, a opção funciona como uma
condição suspensiva e sua manifestação expressa o pleno gozo da condição de nacional.
Segundo o STF (Ext 778 QO /AT – ARGENTINA), uma vez manifestada a opção de nacionalidade prevista
nos termos do art. 12, I, “c”, segunda parte, CF, resta inviabilizada a concessão de extradição, em razão da
caracterização da condição de brasileiro nato.
 NACIONALIDADE SECUNDÁRIA
 Ordinária
Art. 12. São brasileiros: (...)
II – naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários
de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral;
 Estrangeiros não originários de países de língua portuguesa e apátridas (art. 12, II, "a", primeira
parte, CF): devem preencher as regras do art. 112, Estatuto do Estrangeiro. Dentre outros critérios,
destaca-se a residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos,
50
imediatamente anteriores ao pedido de naturalização, podendo ser reduzido ou dispensado nos
termos da lei.
 Estrangeiros originários de países de língua portuguesa (art. 12, II, "a", segunda parte, CF):
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.
 Extraordinária: Será concedida ao estrangeiro de qualquer nacionalidade que resida no Brasil há
mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requisitem a nacionalidade
brasileira.
Art. 12. São brasileiros: (...)
II – naturalizados: (...)
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do
Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.
Direito Subjetivo à naturalização?
A maior parte da doutrina entende que há discricionariedade por parte do Estado. Todavia, havendo
critérios previamente estabelecidos na Constituição, teríamos limites à discricionariedade. Assim, no caso,
por exemplo, dos originários dos países de língua portuguesa e dos residentes há mais de 15 anos etc.
temos uma tendência de se reconhecer um direito subjetivo à naturalização. Conforme o STF:
“(...) CONCURSO PÚBLICO. ESTRANGEIRO. NATURALIZAÇÃO. REQUERIMENTO
FORMALIZADO ANTES DA POSSE NO CARGO EXITOSAMENTE DISPUTADO MEDIANTE
CONCURSO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À ALÍNEA ‘B’ DO INCISO II DO ARTIGO 12
DA MAGNA CARTA. O requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira, previsto na
alínea ‘b’ do inciso II do art. 12 da Carta de Outubro, é suficiente para viabilizar a posse
no cargo triunfalmente disputado mediante concurso público. Isto quando a pessoa
requerente contar com quinze anos ininterruptos de residência fixa no Brasil, sem
condenação penal. A Portaria de formal reconhecimento da naturalização, expedida
pelo Ministro de Estado da Justiça, é de caráter meramente declaratório. Pelo que seus
efeitos hão de retroagir à data do requerimento do interessado. (...).” (RE 264848, Rel.
Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, j. em 29/06/2005)
A naturalização não implica a nacionalidade automática do cônjuge ou dos filhos. Nesse sentido, o STF:
“(...) O CASAMENTO CIVIL NÃO SE QUALIFICA, NO SISTEMA JURÍDICO VIGENTE NO BRASIL,
COMO CAUSA DE AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA. - Não se revela possível,
em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da nacionalidade brasileira ‘jure
matrimonii’, vale dizer, como efeito direto e imediato resultante do casamento civil.
Magistério da doutrina. (...).” (Ext 1121, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, j. em
18/12/2009)
51
 Naturalização especial39: poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes
situações (art. 68 da Lei n. 13.445/2017):
a) ser cônjuge ou companheiro, há mais de 5 anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em
atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou
b) ser ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10
anos ininterruptos.
Requisitos para que possa ser concedida a naturalização especial (art. 69 da Lei n. 13.445/2017):
■ ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
■ comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
■ não possuir condenação penal ou estar reabilitado, nos termos da lei.
 Naturalização Provisória39: poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado
residência em território nacional antes de completar 10 anos de idade e deverá ser requerida por
intermédio de seu representante legal, sendo convertida em definitiva se o naturalizando
expressamente assim o requerer no prazo de 2 anos após atingir a maioridade (art. 70 da Lei n.
13.445/2017). Essa hipótese, denominada pela doutrina “radicação precoce”, era expressamente prevista
no art. 140, II, “b”, 1, da Constituição de 1967 e no art. 145, II, “b”, 2, da EC n. 1/69, além de estar também
descrita no art. 115, § 2.º, I, do revogado Estatuto dos Estrangeiros (Lei n. 6.815/80). A única diferença era
que a idade de radicação no Brasil era 5 e não 10 anos, como na nova lei.
OBSERVAÇÕES
 Conclusão de curso superior: não mais encontra fundamento legal e, com o advento da Lei de Migração,
deixou de existir.
 Casamento e naturalização: O ordenamento jurídico pátrio não permite a naturalização em razão pura e
simplesmente do casamento. Porém, havendo casamento ou mesmo união estável de estrangeiro com
brasileiro, nato ou naturalizado, com a satisfação dos demais requisitos legais previstos no Estatuto do
Estrangeiro, é possível uma naturalização especial. Nesse sentido:
Art. 114, I, Estatuto do Estrangeiro: Dispensar-se-á o requisito da residência,
exigindo-se apenas a estada no Brasil por trinta dias, quando se tratar:
I - de cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro
em atividade;
 Opção pela naturalização e posse em concurso público: O STF (RE 264.848) entende que o pedido de
naturalização extraordinária é suficiente para que seja possível a posse do indivíduo em cargo público, em
especial considerando a natureza meramente declaratória da nacionalidade da portaria do Ministério da
Justiça:
39 LENZA (2020), pág. 890.
52
“O requerimento de aquisição da nacionalidade brasileira, previsto na alínea b do inciso II
do art. 12 da Carta de Outubro, é suficiente para viabilizar a posse no cargo triunfalmente
disputado mediante concurso público. Isto quando a pessoa requerente contar com
quinze anos ininterruptos de residência fixa no Brasil, sem condenação penal. A Portaria
de formal reconhecimento da naturalização, expedida pelo Ministro de Estado da Justiça,
é de caráter meramente declaratório. Pelo que seus efeitos hão de retroagir à data do
requerimento do interessado.”
 Momento em que a naturalização se efetiva: “a entrega do certificado de naturalização ao
estrangeiro que pretende naturalizar-se brasileiro constitui o momento de efetiva aquisição da
nacionalidade brasileira. Este certificado deve ser entregue pelo magistrado competente. Enquanto não
ocorrer tal entrega, o estrangeiro ainda não é brasileiro, podendo, inclusive, ser excluído do território
nacional” (HC 62.795/SP, Relator o Ministro Rafael Mayer, DJ de 22/3/85).
 
 PERDA DA NACIONALIDADE
Art. 12. (...)
§ 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade
nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis;
Conforme o STF:
“A perda da nacionalidade brasileira somente pode ocorrer nas hipóteses
taxativamente definidas na Constituição da República, não se revelando lícito, ao
Estado brasileiro, seja mediante simples regramento legislativo, seja mediante tratados
ou convenções internacionais, inovar nesse tema, quer para ampliar, quer para restringir,
quer, ainda, para modificar os casos justificadores da privação da condição
político-jurídica de nacional do Brasil.” (RTJ179/493-496, 495 , Rel. Min. CELSO DE MELLO -
RTJ 180/569-570 , Rel. Min. CELSO DE MELLO, v . g.)” (Relator o Ministro Celso de Mello, DJ
de 29/08/03)
Em relação ao cancelamento da naturalização “por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional”, o STF pontuou que “essa é a única medida excludente da nacionalidade do brasileiro naturalizado”
(RECURSO ORD. E M MANDADO DE SEGURANÇA 27.840 DISTRITO FEDERAL)
A perda da nacionalidade em decorrência da aquisição de outra dar-se-á após procedimento administrativo, em
que seja assegurada a ampla defesa, por decreto do Presidente da República (art. 23, Lei 818/49).
53
Há duas hipóteses em que a aquisição de outra nacionalidade (dupla nacionalidade) não implicará a perda da
brasileira:
a) Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira: trata-se do reconhecimento da
nacionalidade originária, ou seja, aquela adquirida com o nascimento (primária).
b) Imposição de naturalização pela norma estrangeira: o brasileiro residente em Estado estrangeiro e,
como condição para sua permanência naquele país (por motivo de trabalho, exercício profissional), ou
para o exercício de direitos civis (herança, por exemplo), tiver, por imposição da norma estrangeira, de
se naturalizar, não perderá a nacionalidade brasileira.
IMPORTANTE
Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a nacionalidade norte-americana,
ele irá perder a nacionalidade brasileira. Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção
prevista na alínea “b” do inciso II do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia
necessidade de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para permanência ou para o
exercício de direitos civis. O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA. Dessa
forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e espontânea vontade. Vale ressaltar
que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes ao brasileiro nato. Assim, se cometer
um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da
CF/88. STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 19/4/2016 (Info 822). STF. 1ª Turma. Ext
1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/3/2017 (Info 859).40
No caso de perda da nacionalizada brasileira, é possível readquirir a nacionalidade nos seguintes termos:
Lei nº 13.445/2017:
Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da
Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá
readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão
competente do Poder Executivo.
RESUMINDO40
SERÁ DECLARADA A PERDA DA NACIONALIDADE DO BRASILEIRO QUE:
I – PRATICAR ATIVIDADE NOCIVA AO INTERESSE
NACIONAL
II - ADQUIRIR OUTRA NACIONALIDADE
A doutrina denomina de “perda-punição”. A doutrina denomina de “perda-mudança”.
Se um brasileiro naturalizado praticar atividade nociva
ao interesse nacional, terá cancelada a sua
naturalização.
Se um brasileiro, nato ou naturalizado, adquirir
voluntariamente uma nacionalidade estrangeira, perderá,
então, a brasileira.
40 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Brasileiro, titular de green card, que adquire nacionalidade norte-americana, perde a nacionalidade
brasileira e pode ser extraditado pelo Brasil. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c133fb1bb634af68c5088f3438848bfd>
54
Essa perda ocorre por meio de um processo judicial,
assegurado contraditório e ampla defesa, que tramita
na Justiça Federal (art. 109, X, da CF/88).
A lei não descreve o que seja atividade nociva ao
interesse nacional.
Esta perda ocorre por meio de um processo
administrativo, assegurado contraditório e ampla defesa,
que tramita no Ministério da Justiça.
Este processo poderá ser instaurado de ofício ou
mediante requerimento (art. 23 da Lei nº 818/49).
Após a tramitação do processo, a perda efetiva-se por
meio de sentença.
A sentença só produzirá efeitos após o trânsito em
julgado.
Após a tramitação do processo, a perda efetiva-se por
meio de ato do Ministro de Estado da Justiça.
Os efeitos da sentença serão ex nunc. Os efeitos do Decreto serão ex nunc.
Esta hipótese de perda somente atinge o brasileiro
naturalizado.
Assim, o brasileiro nato não pode perder a sua
nacionalidade, mesmo que pratique atividade nociva
ao interesse nacional.
Esta hipótese de perda atinge tanto o brasileiro nato
como o naturalizado.
 
Havendo a perda da nacionalidade por este motivo, a
sua reaquisição somente poderá ocorrer caso a
sentença que a decretou seja rescindida por meio de
ação rescisória.
Desse modo, não é permitido que a pessoa que
perdeu a nacionalidade por esta hipótese a obtenha
novamente por meio de novo procedimento de
naturalização.
 
Existem duas formas de reverter essa perda:
1) Reaquisição. O interessado poderá pedir ao Ministro
da Justiça para readquirir a nacionalidade brasileira
demonstrando que cessou a causa que gerou a perda.  A
cessação da causa da perda da nacionalidade brasileira
poderá ser demonstrada por meio de ato do interessado
que represente pedido de renúncia da nacionalidade
então adquirida.
2) Revogação do ato. O Ministro da Justiça poderá
revogar o ato que declarou a perda da nacionalidade
caso seja constatado que estava presente uma das
exceções previstas nas alíneas “a” e “b” do inciso II do § 4º
do art. 12 da Constituição.
O deferimento do requerimento de reaquisição ou a
revogação da perda importará no restabelecimento da
nacionalidade originária brasileira (art. 254, § 7º, do
Decreto 9.199/2017).
Exceções
A CF traz duas hipóteses em que a pessoa não perderá a
nacionalidade brasileira, mesmo tendo adquirido outra
nacionalidade.
Assim, será declarada a perda da nacionalidade do
brasileiro que adquirir outra nacionalidade, salvo no
casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
estrangeira;
55
Ex: a Itália reconhece aos filhos de seus nacionais a
cidadania italiana. Os brasileiros descendentes de
italianos que adquirem aquela nacionalidade não
perderão a brasileira, uma vez que se trata de mero
reconhecimento de nacionalidade originária italiana em
virtude do vínculo sanguíneo. Logo, serão pessoas com
dupla nacionalidade.
 
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira,
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis;
Aqui, o objetivo da exceção é preservar a nacionalidade
brasileira daquele que, por motivos de trabalho, acesso
aos serviços públicos, moradia etc., praticamente se vê
obrigado a adquirir a nacionalidade estrangeira, mas que,
na realidade, jamais teve a intenção ou vontade de
abdicar da nacionalidade brasileira.
Distinções entre brasileiros natos e naturalizados
Conforme art. 12, § 2º, CF, não há possibilidade de se estabelecer por lei distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, ressalvados os casos previstos pela própria Constituição.
 Hipóteses taxativas de exceção à regra geral40
EXTRADIÇÃO
Somente o naturalizado pode ser extraditado (o nato nunca!).
O naturalizado pode ser extraditado por crime cometido antes da naturalização
ou então mesmo depois da naturalização se o crime cometido foi o tráfico ilícito
de entorpecentes.
CARGOS PRIVATIVOS
Há alguns cargos privativos de brasileiro nato. São eles:
I - Presidente e Vice-Presidente da República;
II - Presidente da Câmara dos Deputados;
III - Presidente do Senado Federal;
IV - Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - de carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
ATIVIDADE NOCIVA AO
INTERESSE NACIONAL
Somente o brasileiro naturalizado poderá perder a nacionalidade em virtude da
prática de atividade nociva ao interesse nacional(art. 12, § 4º, I, da CF/88).
56
CONSELHO DA
REPÚBLICA
Participam do Conselho da República, além de outros membros, seis cidadãos
brasileiros natos, segundo o art. 89 da CF/88.
EMPRESA
JORNALÍSTICA E DE
RADIODIFUSÃO
Para que o brasileiro naturalizado seja proprietário de empresa jornalística e de
radiodifusão no Brasil, é necessário que tenha se naturalizado há mais de 10
anos.
PONTOS IMPORTANTES SOBRE EXTRADIÇÃO
 Extradição ativa: aquela em que o Estado brasileiro solicita a Estado estrangeiro a entrega de indivíduo.
Segundo o STJ (RHC 45.569, Info 566), a pessoa que foi extraditada somente pode ser julgada ou cumprir
pena no Brasil pelo(s) crime(s) contido(s) no pedido de extradição. Se o extraditando havia cometido outros
crimes antes do pedido de extradição, em regra, ele não poderá responder por tais delitos se não
constaram expressamente no pedido de extradição. A isso se dá o nome de princípio da especialidade.
Extradição supletiva ou suplementar: visa a submissão do extraditando ao julgamento pelos crimes
praticados antes do pedido de extradição. (STF. Ext 1.052 extensão — Reino dos Países Baixos, DJe
5/12/2008). Se os crimes forem posteriores ao pedido de extradição, não há necessidade de nenhuma
solicitação ou providência adicional junto ao país que autorizou a extradição, pois a necessidade da
extradição supletiva existe apenas para os fatos anteriores ao pedido de extradição e que não constaram
neste requerimento.
 Extradição passiva: o requerimento de entrega é formalizado pelo Estado estrangeiro ao Estado
brasileiro. Frise-se que o brasileiro nato nunca poderá ser extraditado.
Súmula 421-STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter
filho brasileiro.
Contudo, o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em duas situações:
- Crime comum: somente se praticou o crime comum antes da naturalização.
- Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins: no caso de comprovado envolvimento em tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei, o brasileiro naturalizado poderá ser extraditado, não
importando o momento da prática do fato típico, seja antes, seja depois da naturalização. Assim, não
basta a concorrência dos requisitos formais de toda extradição (dúplice incriminação do fato
imputado e o juízo estrangeiro sobre a seriedade da suspeita).
O estrangeiro só não poderá ser extraditado por crime político ou de opinião (art. 5º, LII, CF).
DECISÕES IMPORTANTES
 Se o estrangeiro está respondendo a ação penal por crime tributário no exterior, ele poderá ser
extraditado mesmo que ainda não tenha havido a constituição do crédito tributário no país requerente. O
que se exige, para o reconhecimento do pedido, é que o fato seja típico em ambos os países, não sendo
necessário que o Estado requerente siga as mesmas regras fazendárias existentes no Brasil. Para
que haja a extradição não se exige que comprove a constituição definitiva do crédito tributário STF. 2ª
57
Turma. Ext 1222/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/8/2013 (Info
716).41
 O fato de o STF ter deferido a extradição a um Estado estrangeiro não prejudica o novo pedido de
extradição feito por outro Estado, com base em fatos diversos. O que vai acontecer é que o primeiro
Estado requerente terá preferência na entrega do extraditando. Assim, se o Brasil autorizar o segundo
pedido, o estrangeiro irá inicialmente para o primeiro Estado que requereu a extradição, lá cumprirá pena
e depois será reextraditado para a Itália. STF. 2ª Turma. Ext 1276/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
25/3/2014 (Info 740).42
 
 Eestando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar o requisito da dupla
punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro) (atual art. 82, VI, da Lei de Migração). STF. 2ª Turma. Ext
1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).43
 
 A pessoa pode ser extraditada mesmo que o tratado de extradição firmado entre o Estado estrangeiro e o
Brasil seja posterior ao crime cometido naquele país, mas desde que o tratado preveja expressamente que
as suas disposições também serão aplicadas aos delitos praticados antes de sua vigência. STF. Decisão
monocrática. PPE 769, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/02/2016 (Info 816).44
 
 O Código Penal, a Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) e a nova Lei de Migração não preveem a
apresentação do pedido de extradição como causa interruptiva da prescrição. Da mesma forma, isso não
está previsto no tratado de extradição. Logo, criar um marco interruptivo em desfavor do extraditando
viola o princípio da legalidade estrita. STF. 2ª Turma. Ext 1.346 ED/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/9/2016 (Info 838).45
 
 Mesmo em caso de extradição executória (ou seja, extradição para que o condenado cumpra pena no
exterior), a prisão preventiva dele aqui no Brasil possui natureza cautelar. É uma prisão realizada como
condição de procedibilidade para o processo de extradição, destinada, em sua precípua função
instrumental, a assegurar a execução de eventual ordem de extradição. Não se trata do início do
cumprimento da pena. STF. 2ª Turma. Ext 1.346 ED/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016 (Info
838).45
 
 O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de
lesa-humanidade não torna tais crimes imprescritíveis no Brasil. Isso porque:
1) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes
contra a Humanidade, nem aderiu a ela;
45 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A data do protocolo do pedido de extradição e a data do cumprimento da prisão preventiva para fins de
extradição não são considerados marcos interruptivos da prescrição. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e3b0ab92511ce1f46960bed57f65f532>
44 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Legitimidade para requerer, duração da prisão, âmbito de análise do STF e retroatividade do tratado.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/590494d54ebe8eda5858c48f34e12b51>
43 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é possível conceder a extradição se o crime está prescrito no Brasil. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/872dd316eb8a432cbc63f141e2d68ded>.
42 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Novo pedido de extradição após já ter sido deferido um anteriormente a outro estado estrangeiro.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ef35613fc5fa4c4c512d552533f5e6f2>
41 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Crime tributário, ausência de constituição definitiva e extradição. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/44b422a6d1df1d47db5d50a8d0aaca5d>
58
2) apenas a lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade de crimes no Brasil. STF.
Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/11/2016 (Info
846).46
 Mesmo que o Estado requerente não junte cópia dos textos legais dos crimes que teriam sido praticados
pelo indivíduo, ainda assim é possível conceder a extradição caso a defesa não impugne o
descumprimento dessa formalidade e o extraditando manifeste concordância em ser prontamente
extraditado. STF. 2ª Turma. Ext 1512/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/10/2017 (Info 883).47
 
 Em caso de reingresso de extraditando foragido, não é necessária nova decisão jurisdicional acerca da
entrega, basta a emissão de ordem judicial. STF. 2ª Turma.Ext 1225/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 21/11/2017 (Info 885).48
 
 É possível o pedido de extensão ou de ampliação nas hipóteses em que já deferida a extradição, desde que
observadas as formalidades em respeito ao direito dosúdito estrangeiro (dupla tipicidade, dupla
punibilidade e demais requisitos). STF. 1ª Turma. Ext 1363 Extn/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 4/12/2018 (Info 926).49
 
 Brasil deve negar a extradição se houver possibilidade concreta de o Estado requerente condenar o
extraditando a prisão perpétua ou a pena de morte, sanções que são expressamente proibidas pela
Constituição brasileira (art. 5º, XLVII). Além disso, é possível negar a extradição se houver uma excessiva
abertura dos tipos penais no Estado requerente, o que viola o princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX, da
CF/88). As hipóteses previstas na lei nas quais a extradição é proibida podem ser expandidas pela
jurisprudência para atender ao respeito a outros direitos fundamentais do extraditando. STF. 2ª Turma. Ext
1428/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/5/2019 (Info 939).50
 
 Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade
política, tendo ocorrido a demissão de juízes e a prisão de opositores do governo. Isso porque, neste caso,
haveria o risco de o extraditando ser submetido a um tribunal ou juízo de exceção (art. 82, VIII, da Lei nº
13.445/2017). STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).51
 
51 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade
política. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0baf163c24ed14b515aaf57a9de5501c>
50 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Brasil deve negar a extradição se houver possibilidade concreta de o Estado requerente condenar o
extraditando a prisão perpétua ou a pena de morte. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cfa45151ccad6bf11ea146ed563f2119>
49 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cabe pedido de extensão da extradição caso se descubra outro delito que tenha sido praticado pelo
extraditando antes da extradição e que não tenha sido mencionado no pedido original. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c80d9ba4852b67046bee487bcd9802c0>.
48 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Desnecessidade de novo processo de extradição em caso de reingresso de extraditando foragido.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cf5530d9e441e0d78574353214373569>
47 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Extradição concedida mesmo com pedido instruído de forma deficiente. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/59de0175dc17bcf0f4fb5ae6ae3f444f>
46 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos do extraditando como de lesa-humanidade não
torna tais crimes imprescritíveis no Brasil. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dd03de08bfdff4d8ab01117276564cc7>
59
 Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que
pretendia tomar o poder caracteriza-se como crime político, tendo em vista a vedação prevista no art. 5º,
LII, da CF/88. STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).52
 
 Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era
punida como crime no Brasil, ainda que, no momento do pedido de extradição, já exista lei tipificando
como infração penal. Isso porque seria uma ofensa à irretroatividade da lei penal brasileira. Ex:
extraditando financiou grupo terrorista em 2013; ocorre que a Lei de Terrorismo somente foi editada em
2016 (Lei nº 13.260/2016). STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info
946).53
NÃO CONFUNDA54
EXPULSÃO EXTRADIÇÃO
A expulsão consiste em medida administrativa de
retirada compulsória de migrante ou visitante do
território nacional, conjugada com o impedimento de
reingresso por prazo determinado.
O Estado entrega a outro país um indivíduo que
cometeu um crime que é punido segundo as leis
daquele país (e também do Brasil) a fim de que lá ele
seja processado ou cumpra a pena por esse ilícito.
Ex.: o estrangeiro praticou um crime aqui no Brasil. Ex.: um cidadão dos EUA lá cometeu um crime e fugiu
para o Brasil.
É ato de ofício do Brasil. Depende de pedido formulado pelo outro país.
O brasileiro naturalizado não pode ser expulso do
território nacional.
 
O brasileiro naturalizado pode ser extraditado por crime
cometido antes da naturalização ou então mesmo
depois da naturalização se o crime cometido foi o
tráfico ilícito de entorpecentes.
É ato de competência do Presidente da República,
podendo ser delegado ao Ministro da Justiça.
A Lei de Migração afirma que “caberá à autoridade
competente resolver sobre a expulsão” (art. 54, § 2º).
O Decreto Presidencial nº 9.199/2017 atribui ao Ministro
da Justiça a competência para a expulsão.
O pedido de extradição feito por Estado estrangeiro é
examinado pelo STF. Autorizado o pleito extradicional
pelo STF, cabe ao Presidente da República decidir, de
forma discricionária, sobre a entrega, ou não, do
extraditando ao governo requerente.
O expulso é mandado para o país de sua nacionalidade
ou procedência, ou para outro que aceite recebê-lo.
A pessoa extraditada é mandada para o país que
requereu a extradição.
No revogado Estatuto do Estrangeiro, a pessoa expulsa
só poderia retornar ao Brasil caso o decreto de
Segundo o entendimento do Ministério da Justiça, nada
impede o retorno ao Brasil de estrangeiro já
54 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou
dependência econômica ou socioafetiva, mesmo que isso tenha ocorrido após o fato ensejador do ato expulsório. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/838f14a84363d9a7ac1b06ad63fc6fb5>
53 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era
punida como crime no Brasil. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8ce8b102d40392a688f8c04b3cd6cae0>
52 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que
pretendia tomar o poder caracteriza-se como crime político. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1398d2c9b3610251169157332225c49>
60
expulsão fosse revogado pelo Presidente da República.
A situação mudou com a Lei de Migração (Lei nº
13.445/2017) e agora o impedimento de reingresso do
estrangeiro é feito com prazo determinado:
Art. 54 (...) § 4º O prazo de vigência da medida de
impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será
proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca
será superior ao dobro de seu tempo.
extraditado, após o cumprimento da pendência com a
Justiça do país requerente, desde que não haja também
sido expulso do território nacional.
 DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito;
II – referendo;
III – iniciativa popular.
Os direitos políticos são instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania popular, atribuindo
poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta, seja indiretamente.
De modo geral podemos classificar os regimes democráticos em três espécies:
a) Democracia direta: o povo exerce por si o poder, sem intermediários, sem representantes.
b) Democracia representativa: o povo, soberano,elege representantes, outorgando-lhes poderes,
para que, em nome deles e para o povo, governem o país.
c) Democracia semidireta ou participativa: "sistema híbrido", pois possibilita a participação direta,
concreta do cidadão e o controle popular sobre os atos estatais. Foi assimilada pela CF (arts. 1º,
parágrafo único e 14).
 Instrumentos de soberania popular
 Plebiscito: a consulta é prévia, sendo convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo,
cabendo ao povo, por meio do voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido à apreciação. O
governante fica condicionado ao que for deliberado pelo povo.
 
 Referendo: primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do
povo, que o ratifica (confirma) ou o rejeita (afasta).
 
 Iniciativa popular: no âmbito federal, consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos
Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por, pelo menos, 5 Estados,
com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles (art. 61, § 2º, CF). No âmbito municipal o projeto
deve ser subscrito por pelo menos 5% de assinaturas do eleitorado do Município (art. 29, XIII, CF).
 
61
 Recall: mecanismo de revogação popular do mandato eletivo, por exemplo, em razão de não cumprimento
de promessas de campanha. É um instituto semelhante ao impeachment, sendo que é realizado
diretamente pelo povo e não por seus representantes.
 
 Veto popular: instrumento pelo qual o povo poderia vetar projetos de lei, podendo arquivá-los, mesmo
contra a vontade do Parlamento.
 Conceitos básicos55
 Soberania popular: qualidade máxima do poder extraída da soma dos atributos de cada membro da
sociedade estatal, encarregado de escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio
universal e do voto direto, secreto e igualitário.
 
 Cidadania: tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania), caracterizando-se
como a titularidade de direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão, portanto, nada mais é que o
nacional que goza de direitos políticos.
 
 Sufrágio: capacidade eleitoral ativa (direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) e capacidade
eleitoral passiva (direito de ser votado, elegibilidade).
- Sufrágio universal: existe quando o direito político se reconhece a todos os nacionais do País,
independentemente da pertinência a dado grupo ou classe, ou da apresentação de certa qualificação.
- Sufrágio censitário: concede-se o direito de voto apenas a quem disponha de certa condição ou
qualificação econômica.
- Sufrágio capacitário: refere-se a critérios concernentes à qualificação ou à capacidade do eleitor,
especialmente no que diz respeito ao preparo ou à habilidade intelectual.
 
 Voto: é o ato por meio do qual se exercita o sufrágio, ou seja, o direito de votar e ser votado.
 
 Escrutínio: é o modo, a maneira, a forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto).
DIREITO POLÍTICO POSITIVO (DIREITO DE SUFRÁGIO)55
 Capacidade eleitoral ativa: O exercício do sufrágio ativo dá-se pelo voto, que pressupõe:
a) Alistamento eleitoral na forma da lei (título eleitoral).
Alistamento e voto obrigatórios: maiores de 18 e menores de 70 anos.
Alistamento e voto facultativos: maiores de 16 e menores de 18 anos, analfabetos e maiores de
70 anos.
b) Nacionalidade brasileira: não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros, conforme art. 14, §
2º, CF.
c) Idade mínima de 16 anos (art. 14, § 1º, II, "c", CF).
d) Não ser conscrito durante o serviço militar obrigatório.
55 LENZA (2020), pág. 913
62
 Características do voto
 Direto: o cidadão vota diretamente no candidato, sem intermediário.
Observação: É possível a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, quando vagarem os cargos
de Presidente e Vice-Presidente da República nos últimos 2 anos do mandato (art. 81, § 1º, CF).
 Secreto: não se dá publicidade à opção do eleitor, mantendo-a em sigilo absoluto.
 Universal: o exercício do voto não está ligado a nenhuma condição discriminatória.
 Periódico: a democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado.
 Livre: o eleitor pode escolher um candidato, votar branco ou nulo, pois a obrigatoriedade é
apenas de comparecimento às urnas.
 Personalíssimo: é vetada a votação por procurador.
 Com valor igual para todos: um homem, um voto.
São cláusulas pétreas o voto direto, secreto, universal e periódico, conforme art. 60, § 4º, II, CF.
Desse modo, é plenamente viável que o voto no Brasil deixe de ser obrigatório por meio de
Emenda Constitucional.
 Capacidade eleitoral passiva: É a possibilidade de ser votado. Contudo, só se torna absoluto tal direito
quando o eventual candidato preencher todas as condições de elegibilidade para o cargo ao qual se
candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos constitucionalmente previstos, quais sejam,
os direitos políticos negativos.
 Condições de elegibilidade – art. 14, § 3º, CF
 Nacionalidade brasileira: Presidente e Vice-Presidente da República precisam ser brasileiros
natos.
 Pleno exercício dos direitos políticos.
 Alistamento eleitoral.
 Domicílio eleitoral na circunscrição e filiação partidária: 6 meses antes do pleito.
 Idade mínima:
- 18 anos: Vereador.
- 21 anos: Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de
paz.
- 30 anos: Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal.
- 35 anos: Presidente, Vice-Presidente da República e Senador.
A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada
tendo por referência a data da posse (art. 11, § 2º, Lei 9.504/97, alterado pela Lei 13.165/15), e
não da diplomação, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida na
data-limite para o pedido de registro.
63
DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS55
Individualizam-se ao definirem formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades
político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como impedindo-o de eleger
um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou de ser eleito (capacidade eleitoral passiva).
 Inelegibilidades: São as circunstâncias, constitucionais ou previstas em lei complementar, que impedem o
cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva, ou seja, da capacidade de eleger-se.
 Inelegibilidades absolutas – art. 14, § 4º, CF
a) Inalistáveis: estrangeiros e, durante o serviço militar obrigatório, os conscritos. Não podem
votar nem ser votados.
b) Analfabetos: são alistáveis, mas não podem ser votados.
 Inelegibilidades relativas
a) Em razão da função exercida para um terceiro mandato sucessivo (art. 14, § 5º, CF): o
Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos não poderão ser reeleitos para um
terceiro mandato sucessivo.
O vice, tendo ou não sido reeleito, se sucedeu o titular, poderá candidatar-se à reeleição por um
período subsequente. No entanto, para candidatar-se a cargo diverso, deverá observar as regras
de desincompatibilização (STF, RE 366.488).
Prefeito itinerante (ou prefeito profissional): É aquele que, reeleito em um mesmo Município,
na medida em que inelegível para o terceiro mandato consecutivo, transfere o seu domicílio
eleitoral para município diverso buscando afastar a inelegibilidade estabelecida no art. 14, § 5º, da
CF. Não é admitida pelo STF desde 2012 (modulação dos efeitos, por representar “viragem
jurisprudencial”), mesmo na hipótese de municípios distintos (RE 637.485).
b) Em razão da função para concorrer a outros cargos (art. 14, § 6º, CF): para concorrer a
outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito
(desincompatibilização).
A regra da desincompatibilização não incide em relação aos vices, na medida em que nãosão
mencionados no art. 14, § 6º, CF, a não ser que tenham, nos 6 meses anteriores ao pleito,
sucedido ou substituído os titulares.
c) Em razão do parentesco (art. 14, § 7º, CF): são inelegíveis, no território da circunscrição do
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, Governador de Estado, Território ou Distrito Federal, Prefeito ou quem os
64
haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e
candidato à reeleição.
Súmula Vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do
mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.
A inelegibilidade do art. 14, § 7º, da Constituição NÃO ALCANÇA o cônjuge supérstite
(sobrevivente, viúvo) quando o falecimento tiver ocorrido no primeiro mandato, com regular
sucessão do vice-prefeito, e tendo em conta a construção de novo núcleo familiar. A Súmula
Vinculante 18 do STF não se aplica aos casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um
dos cônjuges. STF. Plenário. RE 758461/PB, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 22/5/2014
(repercussão geral) (Info 747). 56
d) Militar (art. 14, § 8º, CF): o militar alistável é elegível. Para tanto, deverá atender às seguintes
condições:
- Menos de 10 anos de serviço: deverá afastar-se da atividade.
Segundo o STF (RE 279.469), o afastamento é definitivo, de modo que, ao se candidatar a
cargo eletivo, o militar com menos de 10 anos será excluído do serviço ativo mediante
demissão ou licenciamento ex officio e o consequente desligamento da organização a que
estiver vinculado.
- Mais de 10 anos de serviço: será agregado (afastado temporariamente) pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
e) Outras inelegibilidades (art. 14, § 9º, CF): lei complementar estabelecerá outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de que sejam protegidos os preceitos da:
probidade administrativa, moralidade para o exercício de mandato, considerada a vida pregressa
do candidato, normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou
o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS
 Perda dos direitos políticos - arts. 15, I e IV; e 12, § 4º, II, CF
 Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado: em decorrência do
cancelamento da naturalização, o indivíduo voltará à condição de estrangeiro, não mais podendo se
alistar como eleitor (art. 14, § 2º, CF) nem se eleger, uma vez que deixa de ostentar a nacionalidade
brasileira (art. 14, § 3º, I, CF).
 Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa: o art. 5º, VIII, CF estabelece,
como regra, que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política. No entanto, se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta (ex:
serviço militar obrigatório - art. 143, CF) e recusar-se a cumprir a prestação alternativa, fixada em lei, terá
como sanção a declaração da perda de seus direitos políticos.
56 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula vinculante 18-STF. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4625d8e31dad7d1c4c83399a6eb62f0c>
65
 Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra: embora não conste dos incisos
do art. 15, CF, mediante interpretação sistemática pode-se elencar o descrito no art. 12, § 4º, II, CF como
mais uma hipótese constitucionalmente prevista de perda dos direitos políticos. Isso porque a
nacionalidade brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos. Perdendo a nacionalidade
brasileira e adquirindo outra, o ex-brasileiro passa a ser estrangeiro e estes, bem como os conscritos,
durante o serviço militar obrigatório, são inalistáveis (quem não pode ser eleitor não pode eleger-se).
 Suspensão dos direitos políticos - arts. 15, II, III e V; e 55, II, e § 1º, CF; art. 17.3 do Decreto 3.927/2001
c/c o art. 1º, I, "b", LC 64/90
 Incapacidade civil absoluta: como só se pode suspender aquilo que já existia, deve-se partir do
pressuposto de que o indivíduo tinha direitos políticos e estes foram suspensos. Então, somente nos
casos de interdição é que se poderia falar em suspensão de direitos políticos.
 Condenação criminal transitada em julgado: os direitos políticos ficam suspensos enquanto
durarem os efeitos da condenação.
No caso de regime aberto, ainda assim o condenado terá seus direitos suspensos? SIM! A
condição única aqui é que exista uma condenação definitiva gerando efeitos.
O retorno aos direitos políticos é automático com o cumprimento da pena ou é necessário
algum tipo de declaração judicial? Entende o STF que o retorno aos direitos é automático com
o térmico de cumprimento da pena, sem necessidade de declaração judicial.
Como fica o caso do mandato do parlamentar quando do trânsito em julgado da condenação?
O STF, na AP 470, entendeu que ocorre a perda do mandato (que seria meramente declarada
pela casa). Todavia, na AP 565, o STF entendeu que com o trânsito em julgado a perda do
mandato deveria ser DECIDIDA pela casa (art. 15 e 55, §2º da CF). O STF chamou atenção ao fato
de que se deve observar a quantidade de pena, pois se um parlamentar é preso e a pena a ele
imposta é maior do que a duração de seu mandato, caso a Casa não decida pela perda do
mandato, isso acabaria, de qualquer forma, inviabilizando o exercício desse mandato. Diante
disso, o STF fixou o seguinte entendimento: no caso de condenação transitada em julgado,
primeiramente, a perda do mandato será definida pela Casa. No entanto, a depender do
contexto, se a condenação imposta inviabilizar o exercício do mandato, então haverá a perda.
 Improbidade administrativa (art. 37, § 4º, CF): os atos de improbidade administrativa, portanto,
importarão a suspensão dos direitos políticos, bem como a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei.
 Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12, § 1º, CF): conforme art. 17.3 do
Decreto 3.927/01 (Promulga o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, entre a República
Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado em Porto Seguro em 22 de abril de 2000), o
gozo dos direitos políticos em Portugal (por brasileiro) importará na suspensão do exercício dos
mesmos direitos no Brasil.
66
 Art. 55, II, e § 1º, c/c o art. 1º, I, "b", LC 64/90: Deputado ou Senador declarado incompatível com o
decoro parlamentar será considerado inelegível por 8 anos (art. 1º, I, "b", LC 64/90).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE DIREITOS POLÍTICOS
 O Brasil não admite candidatura avulsa, nem mesmo o denominado candidato nato, aquele cidadão que já
é ocupante e detentor de mandato eletivo e que está buscando a reeleição.
 
 A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, aplica-se no caso de
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. Havendo condenação criminal
transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus direitos políticos suspensos tanto no caso de
pena privativa de liberdade como na hipótese de substituição por pena restritiva de direitos. Veja o
dispositivo constitucional: Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se
dará nos casos de: III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; STF.
Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939).57
 
 A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se
também na hipótese em que tenha havido a convocação do segundo colocado nas eleições para o
exercício de mandato-tampão.STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
23/10/2018 (Info 921).58
 
 As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de seis meses,
são aplicáveis às eleições suplementares. STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
7/10/2015 (repercussão geral) (Info 802).59
 
 RESUMINDO A INELEGIBILIDADE:
INELEGIBILIDADE
ABSOLUTA
Inalistáve
is
Estrangeiros
Conscritos
Analfabetos
INELEGIBILIDADE
RELATIVA
CF
Por motivos funcionai
Para o mesmo cargo (reeleição)
Para outros cargos (desincompatibilização)
Cônjuge ou parentesco Inelegibilidade reflexa
59 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c16a5320fa475530d9583c34fd356ef5>.
58 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na
hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a4df48d0b71376788fee0b92746fd7d5>
57 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da CF, aplica-se tanto para condenados a penas
privativas de liberdade como também a penas restritivas de direitos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b7da66eb5bb0e80c82e88fd2bfde5ce>
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Militares
Menos de 10 anos de serviço.
Mais de 10 anos de serviço.
LC
LC 64/90,
modificada pela LC 135/2010 (lei da ficha limpa).
PRESIDENTE, GOVERNADOR E
PREFEITO (e seus vices)
DEPUTADO, SENADOR E
VEREADOR
POSSIBILIDADE DE REELEIÇÃO Somente uma vez para o período
subsequente.
Não há limitações. Podem ser
reeleitos quantas vezes
quiserem/conseguirem
PARA CONCORRER A CARGO
DIVERSO
Deverá renunciar ao mandato até
6 meses antes do pleito. É a
chamada desincompatibilização.
Não há necessidade de se afastar
do cargo.
PARA CONCORRER AO MESMO
CARGO
Não há necessidade de se
afastar.
Não há necessidade de se afastar
do cargo.
RESTRIÇÕES À CANDIDATURA DE
PARENTES NA MESMA BASE
TERRITORIAL
Cônjuge, companheiro e os
parentes consanguíneos ou afins,
até o 2º grau, inclusive por
adoção, são inelegíveis, salvo se
já titulares de mandato eletivo e
candidatos à reeleição. E a
chamada inelegibilidade reflexa.
Não há proibição de parentes
concorrerem.
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