Prévia do material em texto
<p>CA</p><p>PÍ</p><p>TU</p><p>LO</p><p>9</p><p>» Competências e</p><p>habilidades</p><p>CGEB1, CGEB4, CGEB7,</p><p>CGEB8, CGEB9 e CGEB10.</p><p>CECHSA1: EM13CHS102 e</p><p>EM13CHS106.</p><p>CECHSA5: EM13CHS502 e</p><p>EM13CHS503.</p><p>CECHSA6: EM13CHS601.</p><p>CECNT2: EM13CNT207.</p><p>CECNT3: EM13CNT305.</p><p>DESIGUALDADE</p><p>E VIOLÊNCIA</p><p>Detalhe da instalação</p><p>Aracnes, de Rosana</p><p>Paulino, 1996. Imagens</p><p>transferidas sobre</p><p>tecido e fio de poliéster.</p><p>No capítulo anterior, você estudou a estrutura da desigualdade social e com-</p><p>preendeu as formas de estratificação social e como as hierarquias produzem</p><p>condições de vida desiguais. Agora, vai analisar a relação das desigualdades com</p><p>a violência.</p><p>Observe a imagem abaixo, que mostra um detalhe da instalação artística rea-</p><p>lizada pela artista brasileira Rosana Paulino (1967- ). Na obra, intitulada Aracnes,</p><p>imagens de mulheres foram costuradas sobre linhas entrelaçadas fazendo alu-</p><p>são a teias de aranhas. As obras de Rosana Paulino propõem reflexões sobre</p><p>questões sociais, étnicas e de gênero e chamam a atenção para a violência que</p><p>atinge sobretudo as mulheres.</p><p>1. Em sua opinião, que mensagem a obra transmite? Que sensações ela des-</p><p>perta em você?</p><p>2. Que tipos de desigualdade e de violência são denunciados nessa obra? Como</p><p>esse tipo de violência se conecta com a estrutura social em que vive a socie-</p><p>dade brasileira? Que elementos fazem com que essa situação persista?</p><p>3. Você conhece ações que incidem no sentido contrário, procurando superar</p><p>essas desigualdades e violências? Converse com os colegas.</p><p>R</p><p>os</p><p>an</p><p>a</p><p>Pa</p><p>ul</p><p>in</p><p>o/</p><p>A</p><p>ce</p><p>rv</p><p>o</p><p>da</p><p>a</p><p>rt</p><p>is</p><p>ta</p><p>101</p><p>VIOLÊNCIA E PERPETUAÇÃO DE DESIGUALDADES</p><p>Uma diferença se transforma em desigualdade quan-</p><p>do um dos polos da relação de diferença desfruta de</p><p>privilégios em relação ao outro. Quando consideramos a</p><p>desigualdade social, por exemplo, é possível observar que</p><p>construções culturais específicas, como as noções de he-</p><p>rança e de propriedade privada, criam diferentes condições</p><p>sociais. Assim, uma pessoa que nasce em uma família com</p><p>recursos financeiros geralmente é valorizada socialmente</p><p>e tem acesso à saúde e à educação de qualidade.</p><p>Nesse sentido, o conceito de ideologia, já estudado</p><p>na unidade 1, pode contribuir para a compreensão sobre</p><p>como as desigualdades podem ser legitimadas social-</p><p>mente. A meritocracia como um valor ideológico faz com</p><p>que as questões sociais que originam a desigualdade,</p><p>muitas vezes, não sejam consideradas, e as situações</p><p>mais ou menos adversas vivenciadas pelas pessoas</p><p>sejam lidas meramente como uma questão de esforço</p><p>pessoal ou sorte. Assim, as concepções hegemônicas que definem o sucesso coin-</p><p>cidem com os interesses das classes dominantes, o que contribui para a manu-</p><p>tenção das desigualdades. Além disso, as desigualdades frequentemente deter-</p><p>minam relações de opressão, violência e exploração.</p><p>Tipos de violência</p><p>O sociólogo brasileiro Sérgio Adorno elenca, em seus estudos, quatro moda-</p><p>lidades de violência: a violência associada aos crimes de delinquência, em sua</p><p>grande maioria crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa; a violência rela-</p><p>cionada ao crime organizado, o que inclui o tráfico de drogas, o tráfico de órgãos</p><p>e de pessoas e as atividades que os financiam; as violações aos direitos huma-</p><p>nos; e os conflitos interpessoais, como as brigas familiares e as brigas de rua.</p><p>Segundo o autor, essas modalidades são influenciadas pelo que se convencio-</p><p>nou chamar de sociabilidade violenta. Esse padrão de sociabilidade, atravessa-</p><p>do por agressões e violações, é evidenciado na espetacularização da mídia em</p><p>relação à cobertura de episódios violentos e também na reprodução de modelos</p><p>de relação pautados na violência, com origens profundas no passado colonial</p><p>e que podem ser notados atualmente.</p><p>Ao refletir sobre a violência, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002)</p><p>elaborou o conceito de violência simbólica. Essa noção surgiu durante seu estudo</p><p>sobre o papel dos símbolos nos processos de distinção e de efetivação de poderes.</p><p>Ele notou que existe um tipo de violência que não envolve coação física, mas que,</p><p>no entanto, possui intensos desdobramentos morais e psicológicos. Sua contribui-</p><p>ção foi essencial para a visibilidade das formas de violência não reconhecidas como</p><p>tais, praticadas tanto na esfera estatal como nas relações pessoais cotidianas.</p><p>Um exemplo de violência simbólica são os relacionamentos abusivos, caracte-</p><p>rizados por comportamentos depreciativos do abusador em relação à vítima, cau-</p><p>sando insegurança, medo e diminuição de sua autoestima. Os relacionamentos</p><p>abusivos podem envolver insultos, pressões psicológicas e ameaças em relações</p><p>de amizade, namoro, trabalho e parentesco. Como nem sempre esse tipo de re-</p><p>lacionamento envolve violência física, muitas vezes, eles não são reconhecidos</p><p>pela sociedade ou mesmo pela própria vítima. Por isso, é importante estar atento</p><p>a esses indicativos em pessoas próximas e, se necessário, fornecer a elas apoio</p><p>e encaminhamento psicológico.</p><p>As diferentes formas de violência contribuem para a manutenção das desi-</p><p>gualdades sociais, pois, como veremos a seguir, atingem principalmente grupos</p><p>mais suscetíveis a relações pautadas na opressão e na exploração.</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» O riso dos outros. Direção:</p><p>Pedro Arantes. Brasil, 2012</p><p>(52 min).</p><p>O documentário, produzido</p><p>em parceria com a TV Câmara,</p><p>aborda o sucesso dos festivais</p><p>de stand up comedy e dos</p><p>quadrinhos para problemati-</p><p>zar os preconceitos que po-</p><p>dem surgir em piadas e em</p><p>cenas de humor.</p><p>A diferença entre uma pessoa que</p><p>pode se mover caminhando com os</p><p>próprios pés e outra que necessita de</p><p>próteses ou cadeira de rodas é</p><p>transformada em desigualdade</p><p>quando os equipamentos públicos</p><p>são estruturados com base em um</p><p>padrão social, desconsiderando as</p><p>pessoas que não se enquadram</p><p>nesse padrão. Na foto, tirada em São</p><p>Paulo (SP), em 2017, a situação da</p><p>calçada impossibilita a locomoção de</p><p>pessoas em cadeiras de rodas.</p><p>A</p><p>lo</p><p>is</p><p>io</p><p>M</p><p>au</p><p>ric</p><p>io</p><p>/F</p><p>ot</p><p>oa</p><p>re</p><p>na</p><p>102 Não escreva no livro.</p><p>DISCRIMINAÇÃO E DESIGUALDADE</p><p>A desigualdade não está apenas no acesso diferencia-</p><p>do de grupos sociais a bens de consumo e a boas condi-</p><p>ções de vida. Ela também se manifesta com base nas di-</p><p>ferenças existentes entre as pessoas. É o caso, por</p><p>exemplo, da população LGBTQI+, que, devido à discrimi-</p><p>nação e à violência a que é submetida, encontra-se em</p><p>situação desigual em relação a outros grupos sociais.</p><p>A seguir, você vai estudar alguns aspetos de discrimi-</p><p>nação e violência contra esse e outros grupos sociais que</p><p>os mantêm em situação de desigualdade.</p><p>LGBTfobia</p><p>LGBTfobia consiste no ato ou na manifestação de ódio</p><p>ou rejeição a homossexuais, lésbicas, bissexuais, traves-</p><p>tis e transexuais, entre outras identidades. Esses atos de</p><p>violência física ou simbólica ocorrem em diferentes espa-</p><p>ços na sociedade, o que impossibilita a população LGB-</p><p>TQI+ de circular livremente e manter sua saúde física e</p><p>emocional.</p><p>Segundo uma pesquisa da Faculdade Latino-Ameri-</p><p>cana de Ciências Sociais (Flacso), em 2012, 19,3% dos</p><p>alunos de escola pública não gostariam de ter um colega</p><p>de classe LGBQTI+; já uma pesquisa de 2016 desenvol-</p><p>vida pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bisse-</p><p>xuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) concluiu que 73%</p><p>dos estudantes que se declararam LGBTQI+ foram agre-</p><p>didos verbalmente, e outros 36%, agredidos fisicamente.</p><p>Essa realidade colabora para que a evasão escolar da</p><p>população LGBTQI+ seja bem maior do que a do restan-</p><p>te da população. Entre os diversos motivos de insegu-</p><p>rança no ambiente escolar, a orientação sexual e a ex-</p><p>pressão de gênero são os principais. Assim, algumas das</p><p>principais consequências da violência contra a população LGBTQI+ são sua baixa</p><p>escolarização e a dificuldade de inserção no mercado de trabalho, impactando pro-</p><p>fundamente as perspectivas de futuro desses indivíduos (ver gráficos da página).</p><p>Em 2019, a LGBTfobia passou a ser criminalizada no Brasil. Embora essa medi-</p><p>da forneça subsídios para combater a violência, nesse mesmo ano, uma pessoa</p><p>morreu a cada 23 horas vítima da LGBTfobia, sendo o Brasil o país em que houve</p><p>mais mortes de transexuais e travestis no mundo, segundo dados da Associação</p><p>Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).</p><p>O respeito à diversidade de identidades colabora para a construção de uma so-</p><p>ciedade justa, democrática e inclusiva, em que todos tenham acesso às mesmas</p><p>oportunidades. A ocorrência sistemática de discursos de ódio contra essa popula-</p><p>ção constitui uma violação dos direitos humanos, e a impossibilita de se sentir aco-</p><p>lhida em espaços de estudo e lazer, cruciais para o desenvolvimento e o bem-estar</p><p>de todos os cidadãos.</p><p>Emprego formal</p><p>Informal</p><p>Prostituição</p><p>90%</p><p>4%</p><p>6%</p><p>BRASIL: CLASSE E CONTEXTO</p><p>SOCIAL DAS POPULAÇÕES</p><p>TRANSEXUAL E TRAVESTI (2020)</p><p>Fonte de pesquisa: Benevides, Bruna G.;</p><p>nogueira, Sayonara N. B. (org.). Dossiê dos</p><p>assassinatos e da violência contra</p><p>travestis e transexuais brasileiras em</p><p>2019. São Paulo: Expressão Popular:</p><p>Antra: IBTE, 2020. p. 31.</p><p>60% 70%50%40%30%20%10%0</p><p>Sua religião</p><p>Seu gênero/identidade</p><p>de gênero</p><p>Sua capacidade acadêmica</p><p>ou como ela é vista</p><p>A renda ou a situação</p><p>econômica de sua família</p><p>A forma como fala</p><p>português</p><p>Uma deficiência sua</p><p>É estrangeiro(a), sem</p><p>cidadania brasileira</p><p>Sua raça ou etnia</p><p>Outra razão</p><p>Sua orientação sexual 60,2</p><p>42,8</p><p>29,4</p><p>19,3</p><p>14,6</p><p>14,2</p><p>11,6</p><p>9,6</p><p>7,9</p><p>3,9</p><p>3,6</p><p>0,5</p><p>6,3</p><p>A forma como</p><p>expressa seu gênero</p><p>Seu peso ou tamanho</p><p>do seu corpo</p><p>Não se sente inseguro(a)</p><p>na institução educacional</p><p>BRASIL: ESTUDANTES QUE SE SENTEM INSEGUROS NA</p><p>INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM DECORRÊNCIA DE UMA</p><p>CARACTERÍSTICA PESSOAL (2016)</p><p>Fonte de pesquisa: associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,</p><p>Travestis e Transexuais (ABGLT). Pesquisa Nacional sobre o Ambiente</p><p>Educacional no Brasil 2016: as experiências de adolescentes e jovens</p><p>lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes</p><p>educacionais. Curitiba: ABGLT, 2016. p. 28. Disponível em: https://static.</p><p>congressoemfoco.uol.com.br/2016/08/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf. Acesso</p><p>em: 16 jun. 2020.</p><p>1. Sem o recurso formal dos diplomas nem a aceitação das presenças tran-</p><p>sexual e travesti no mercado de trabalho, nove em cada dez pessoas</p><p>desse grupo acabam trabalhando com a prostituição, atividade não regu-</p><p>lamentada e que envolve grande risco e exploração. Como essas informa-</p><p>ções evidenciam a desigualdade de oportunidades da população LGBTQI+?</p><p>Como esse problema pode ser superado?</p><p>IN</p><p>TE</p><p>RA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>Emprego formal</p><p>Informal</p><p>Prostituição</p><p>90%</p><p>4%</p><p>6%</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>103Não escreva no livro.</p><p>SP_CHSA5_PNLD21_U3C9_101A112_LA.indd 103 4/15/21 11:11</p><p>https://static.congressoemfoco.uol.com.br/2016/08/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf</p><p>De acordo com o infográfico, as mulheres trabalham mais que os homens, con-</p><p>tam com um nível educacional mais alto e, ainda assim, ganham, em média, 76,5%</p><p>do rendimento masculino. Além disso, as mulheres também são sub-representadas</p><p>na política e nos cargos gerenciais.</p><p>Historicamente, o patriarcado – sistema que reserva aos homens autoridade e maior</p><p>poder de decisão em relação às mulheres – tem se articulado ao capitalismo</p><p>e estabelecido uma hierarquia estrutural e persistente, que condena muitas mulheres</p><p>a mais trabalho, menos reconhecimento e vida pública mais restrita que a dos homens.</p><p>Além disso, estereótipos sexistas, como os de que as mulheres devem ser res-</p><p>ponsáveis pelo cuidado com a casa e homens não podem expressar sentimentos,</p><p>alimentam uma cultura machista e que reitera a predominância dos homens em</p><p>espaços públicos e das mulheres nos espaços domésticos, assim como naturali-</p><p>zam a repressão sentimental masculina.</p><p>Essa repressão, por sua vez, se expressa na associação entre virilidade e violên-</p><p>cia e repercute na violência contra a mulher, nas mais diversas formas de violência</p><p>doméstica e em assédios sexuais e estupros. Outro problema grave é o feminicídio,</p><p>crime que envolve o assassinato de mulheres no contexto de violência de gênero.</p><p>Em 2019, houve 1 314 mortes classificadas como feminicídio no Brasil.</p><p>A violência de gênero se manifesta tanto de formas explícitas quanto de for-</p><p>mas veladas e sutis. As violências visíveis e explícitas, como agressões físicas,</p><p>ameaças, abusos físicos e psicológicos, violência sexual e feminicídio, são sus-</p><p>tentadas por formas sutis, como a humilhação e a culpabilização da vítima, o ma-</p><p>chismo nos diversas produtos midiáticos que são consumidos diariamente e a</p><p>invisibilização das mulheres.</p><p>Desigualdade de gênero</p><p>Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)</p><p>Contínua realizada em 2018 pelo IBGE, a população brasileira é composta de</p><p>51,7% de mulheres e 48,3% de homens. Mesmo sendo maioria, as mulheres en-</p><p>frentam condições desiguais de tratamento na sociedade.</p><p>Analise o infográfico a seguir, elaborado com base em dados do boletim</p><p>Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do IBGE.</p><p>10,5%</p><p>dos assentos da Câmara</p><p>dos Deputados são</p><p>ocupados por mulheres</p><p>60,9%</p><p>ocupados por</p><p>homens</p><p>No mundo, as mulheres</p><p>ocupavam 23,6% dos assentos</p><p>39,1%</p><p>ocupados por</p><p>mulheres R$ 1 764</p><p>R$ 2 306</p><p>Cargos gerenciais</p><p>(2016)</p><p>Representação política</p><p>(2017)</p><p>Frequência escolar</p><p>líquida de homens e</p><p>mulheres no Ensino</p><p>Médio (2016)</p><p>Diferença de</p><p>rendimentos entre</p><p>homens e mulheres</p><p>(2018)</p><p>Diferença de participação na vida pública e nas tomadas de</p><p>decisão entre homens e mulheres (2018)</p><p>63,2%</p><p>73,5%</p><p>BRASIL: DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES</p><p>Fonte de pesquisa: IBGE. Estatísticas de</p><p>gênero: indicadores sociais das mulheres</p><p>no Brasil. Disponível em: https://</p><p>biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/</p><p>liv101551_informativo.pdf. Acesso em: 16</p><p>jun. 2020.</p><p>1. Em grupos, elenquem cinco elementos presentes nas relações sociais que</p><p>fundamentam a desigualdade de gênero. Na sequência, elenquem cinco</p><p>ações que precisam ser mais difundidas para que essas violências deixem</p><p>de acontecer. Depois, compartilhe suas reflexões com a turma.IN</p><p>TE</p><p>RA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>104 Não escreva no livro.</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Cumbe, de Marcelo D'Salete. São Paulo: Veneta, 2018.</p><p>Essa história em quadrinhos aborda a resistência negra</p><p>contra a escravidão no Brasil.</p><p>Racismo</p><p>Como o racismo está presente há séculos no país e</p><p>fundamenta um conjunto de costumes e práticas que se</p><p>reproduzem consciente e inconscientemente, ele é con-</p><p>siderado estrutural. Até hoje, no Brasil, em decorrência</p><p>de processos históricos caracterizados pelo racismo con-</p><p>tra a população que foi escravizada, a população negra</p><p>sofre com a desigualdade social e é vítima de violências</p><p>física e simbólica.</p><p>Em termos legais, o racismo é crime no Brasil. A Lei</p><p>n. 7 716/1989, criada há mais de 30 anos, estipula os</p><p>crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Há</p><p>também a injúria racial, especificada no Artigo 140 do</p><p>Código Penal, que se refere à ofensa em decorrência de</p><p>“elementos referentes à raça, cor, etnia, religião e ori-</p><p>gem”. Essas leis são fundamentais para o combate a</p><p>atos racistas e correlatos. No entanto, elas são apenas</p><p>um instrumento entre vários que precisam ser colocados</p><p>em prática para que a diferença racial não se converta</p><p>em desigualdade.</p><p>Embora seja penalizado, o racismo ainda se reproduz</p><p>nas relações sociais, o que dificulta o acesso das pes-</p><p>soas negras à educação, à renda digna e à segurança.</p><p>As manifestações culturais e religiosas de origem afri-</p><p>cana também são alvos frequentes de preconceito e in-</p><p>tolerância, o que impossibilita as pessoas de expressar</p><p>sua identidade cultural.</p><p>No Brasil, foram elaboradas algumas políticas públi-</p><p>cas que buscam reverter essa desigualdade histórica,</p><p>como a aprovação das cotas raciais nas universidades</p><p>e a obrigatoriedade do ensino de história da África nas</p><p>escolas. No entanto, ainda há um longo caminho a ser</p><p>percorrido.</p><p>A desproporcional distribuição de</p><p>homicídios entre negros e não negros</p><p>Observe o gráfico ao lado. Os dados,</p><p>de 2017, mostram</p><p>que quase 40 negros,</p><p>em uma proporção de 100 mil, foram as-</p><p>sassinados, enquanto 15 a cada 100 mil</p><p>não negros foram vítimas de homicídio.</p><p>A leitura do gráfico também permite</p><p>verificar que, enquanto a taxa de homicí-</p><p>dios de não negros permaneceu estável,</p><p>a de negros cresceu substancialmente no</p><p>período entre 2007 e 2017.</p><p>1. Pesquise que elementos influenciam</p><p>a maior vulnerabilidade da população</p><p>negra em relação a homicídios. Inves-</p><p>tigue dados sobre renda, escolarização,</p><p>região de moradia, idade e sexo. Em</p><p>seguida, converse com os colegas so-</p><p>bre os resultados obtidos na pesquisa,</p><p>e realizem um debate para discutir</p><p>suas conclusões sobre o tema.</p><p>RE</p><p>FL</p><p>EX</p><p>Ã</p><p>O</p><p>Manifestação contra o racismo em Minnesota, Estados Unidos.</p><p>Na máscara usada pelo manifestante, pode-se ler, em inglês, “Nós</p><p>ainda não conseguimos respirar”. A frase faz referência ao pedido</p><p>de ajuda de George Floyd, morto por um policial nos Estados</p><p>Unidos em 25 de maio de 2020, que foi o estopim para uma</p><p>grande onda de manifestações antirracismo no país. Foto de 2020.</p><p>O número de negros foi obtido somando pardos e pretos, enquanto o de não negros</p><p>se deu pela soma dos brancos, amarelos e indígenas.</p><p>Fonte de pesquisa: InstItuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Fórum Brasileiro</p><p>de Segurança Pública (FBSP). Atlas da violência 2019. Brasília; Rio de Janeiro; São</p><p>Paulo: Ipea: FBSP, 2019. p. 49. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/</p><p>atlasviolencia/arquivos/downloads/6537-atlas2019.pdf. Acesso em: 17 jun. 2020.</p><p>0</p><p>5</p><p>10</p><p>15</p><p>20</p><p>25</p><p>30</p><p>35</p><p>40</p><p>45</p><p>50</p><p>2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017</p><p>Negros</p><p>Não negros</p><p>BRASIL: HOMICÍDIOS DE NEGROS E DE NÃO NEGROS</p><p>A CADA 100 MIL HABITANTES (2007-2017)</p><p>C</p><p>ha</p><p>nd</p><p>an</p><p>K</p><p>ha</p><p>nn</p><p>a/</p><p>A</p><p>FP</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>105Não escreva no livro.</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Corações sujos. Direção: Vi-</p><p>cente Amorim. Brasil, 2012</p><p>(90 min).</p><p>O filme trata da divisão que</p><p>houve, após a Segunda Guer-</p><p>ra Mundial, entre os imigran-</p><p>tes japoneses que viviam no</p><p>Brasil. Havia o grupo que acre-</p><p>ditava que a guerra havia aca-</p><p>bado, com derrota japonesa</p><p>(chamados de “corações su-</p><p>jos”), e o que acreditava na vi-</p><p>tória do Japão. O filme também</p><p>explora as relações entre bra-</p><p>sileiros e imigrantes.</p><p>Imigrantes venezuelanas trabalham</p><p>em setor alimentício em Iconha (ES).</p><p>Foto de 2019.</p><p>Xenofobia</p><p>A xenofobia caracteriza-se pela discriminação e pela intolerância contra pes-</p><p>soas oriundas de outros países e culturas e está relacionada ao receio, à aver-</p><p>são, ao ódio e à hostilidade em relação a elas. A xenofobia pode combinar a</p><p>aversão ao estrangeiro com preconceitos históricos em relação a culturas, et-</p><p>nias, cor da pele, crenças religiosas, entre outras características identitárias. É</p><p>comum, por exemplo, ela ocorrer nos estádios de futebol europeus, onde vários</p><p>jogadores são atacados por serem estrangeiros, negros e, não raro, islâmicos.</p><p>Além disso, a xenofobia é marcada pelo preconceito econômico: com frequên-</p><p>cia, imigrantes e refugiados são barrados em postos de fronteira ou em aeropor-</p><p>tos porque, no imaginário coletivo do país de destino, eles vão se apropriar de</p><p>postos de trabalho da população local. No entanto, esse imaginário não condiz</p><p>com a realidade, pois, em muitos casos, os recém-chegados exercem tarefas es-</p><p>senciais que são recusadas pelos locais.</p><p>Os sentimentos pautados pelo racismo, pela intolerância e pelo preconceito</p><p>estão arraigados nas sociedades e nas culturas desde tempos remotos. Mas eles</p><p>têm se revelado de forma mais intensa com a maior mobilidade espacial verifica-</p><p>da nas últimas décadas, que coloca diferentes povos e culturas em contato direto.</p><p>No Brasil, manifestações de xenofobia têm ocorrido com frequência. Nos últi-</p><p>mos anos, haitianos e africanos de diferentes nacionalidades passaram a vir ao</p><p>Brasil, por ser considerado por essas populações um país com melhores condi-</p><p>ções de vida.</p><p>Existem tratados internacionais que estabelecem condutas em relação aos re-</p><p>fugiados, como a Convenção de Genebra, da ONU, de 1951, e a Declaração de</p><p>Cartagena, de 1984. Para o Estado brasileiro, refugiado é aquele foi obrigado a</p><p>se deslocar em decorrência de “graves e generalizadas violações de direitos hu-</p><p>manos”. O Estatuto dos Refugiados, formulado em 1997, e a Lei n. 9 459/1997</p><p>preveem a punição a crimes resultantes de discriminação de raça, cor, etnia, reli-</p><p>gião ou procedência nacional e tipificam a xenofobia como crime.</p><p>Em 2017, entrou em vigor no Brasil a Lei n. 13 445/2017, ou Lei de Migração,</p><p>em substituição ao Estatuto do Estrangeiro, de 1980. Essa lei considera a migra-</p><p>ção um fenômeno humano frequente e seu foco é priorizar a proteção e a inte-</p><p>gração dos imigrantes. Por isso, foi criado o visto humanitário, dedicado a deman-</p><p>das de pessoas específicas, como refugiados e apátridas.</p><p>Para combater a intolerância, o racismo e a xenofobia, existem diferentes vias,</p><p>além do caminho judicial. Uma dela é a realização de debates e seminários com</p><p>ampla divulgação para que os brasileiros reconheçam outras culturas e reflitam</p><p>sobre temas como cultura de paz, relações entre justiça e opressão política e di-</p><p>versidade cultural. Conhecer o patrimônio cultural e inte-</p><p>lectual dos refugiados também pode evitar estigmatiza-</p><p>ção e estereótipos. Existem, no Brasil, diversos programas</p><p>dirigidos a esses grupos, envolvendo diferentes esferas</p><p>governamentais e da sociedade civil. Há, por exemplo,</p><p>promoção de cursos de língua portuguesa, gastronomia,</p><p>alimentação e informática para estrangeiros; auxílio para</p><p>traduzir e regularizar documentos; arrecadação de alimen-</p><p>tos, roupas e bens de higiene pessoal; auxílio-moradia e</p><p>ajuda para se inserir no mercado de trabalho, etc.</p><p>Lu</p><p>ci</p><p>an</p><p>a</p><p>W</p><p>hi</p><p>ta</p><p>ke</p><p>r/</p><p>Pu</p><p>ls</p><p>ar</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>106 Não escreva no livro.</p><p>O tempo e as condições de</p><p>deslocamento dos</p><p>trabalhadores da periferia são</p><p>sinais da segregação</p><p>socioespacial. Na foto, de</p><p>2020, grande quantidade de</p><p>pessoas esperam para</p><p>embarcar em transporte</p><p>público em São Paulo (SP).</p><p>SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL</p><p>A geógrafa brasileira Maria Encarnação Sposito considera que a segregação</p><p>socioespacial se revela quando as diferenças sociais são refletidas na produção</p><p>do espaço geográfico, criando regiões segregadas em relação ao seu entorno.</p><p>Nesses espaços, a segregação aparta, separa, mas também reforça desigualdades</p><p>de acesso aos bens e aos recursos que caberiam por direito a cada cidadão.</p><p>Segundo a autora, o adjetivo socioespacial enfatiza a dupla condição da segrega-</p><p>ção: no plano social (acesso desigual a habitação, serviços, etc.) e no plano espacial</p><p>(vantagens locacionais para os que vivem em áreas mais bem situadas).</p><p>Existem no mundo exemplos extremos de segregação socioespacial, como o</p><p>regime do apartheid, na África do Sul (que vigorou até meados dos anos 1990),</p><p>em que foram criadas as townships – distritos urbanos reservados à população</p><p>negra, marcados por moradias precárias, ruas de terra, ausência de redes de es-</p><p>goto, etc. A separação entre negros e brancos prevaleceu nos Estados Unidos até</p><p>a década de 1960, quando surgiram as marchas pelos direitos civis. No Brasil</p><p>atual, ainda persistem o racismo e a discriminação, que impedem o livre acesso</p><p>da maioria da população às riquezas produzidas.</p><p>Entretanto, as realidades urbanas parecem ter sido um elemento impulsiona-</p><p>dor para o surgimento ou o reforço da segregação socioespacial. Talvez por essa</p><p>razão exista uma profusão de estudos e levantamentos feitos por sociólogos,</p><p>geógrafos, urbanistas e outros pesquisadores sobre o tema.</p><p>São exemplos as abordagens do francês Henri Lefebvre (1901–1991),</p><p>do espanhol Manuel Castells (1942- ) e do britânico David Harvey (1935- ), que</p><p>buscaram analisar a cidade e o urbano considerando os intensos processos de</p><p>urbanização mundial e as estruturas econômicas e sociais. Para esses autores,</p><p>a segregação socioespacial é resultado da divisão social do trabalho, que impri-</p><p>me sua marca no território. Assim, a valorização dos centros econômicos no con-</p><p>texto global reforça</p><p>as desigualdades locais, que também funcionam com base</p><p>nas necessidades do capitalismo.</p><p>A urbanização acelerada das últimas décadas do século XX tende a “empur-</p><p>rar” trabalhadores menos favorecidos para periferias. Nas cidades, é comum a</p><p>desigualdade no acesso aos equipamentos de saúde, educação, saneamento,</p><p>cultura, lazer e mobilidade, o que influencia diretamente na deterioração das</p><p>condições de vida dos grupos marginalizados.</p><p>W</p><p>ill</p><p>ia</p><p>n</p><p>M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/F</p><p>ut</p><p>ur</p><p>a</p><p>Pr</p><p>es</p><p>s</p><p>107Não escreva no livro.</p><p>Prédios de luxo em Barueri (SP).</p><p>Foto de 2017.</p><p>Barraca de pessoa em situação de rua em São Paulo (SP). Foto</p><p>de 2019.</p><p>População em situação de rua</p><p>Crises econômicas recentes reduziram a oferta de em-</p><p>pregos e os investimentos públicos no Brasil. Sem ab-</p><p>sorção de excedentes de força de trabalho, houve forte</p><p>aumento da população em situação de rua a partir de</p><p>2012 no país. Em São Paulo, por exemplo, um estudo</p><p>realizado pela prefeitura do município mostrou que, em</p><p>2015, 15 mil pessoas viviam em situação de rua. Em ja-</p><p>neiro de 2020, esse número tinha saltado para 24 mil.</p><p>1. Como são tratadas as pessoas em situação de rua na</p><p>região onde você mora? Como elas vivem?</p><p>2. Em grupos, discutam o papel do poder público para a</p><p>mitigação desse problema e as medidas que a socie-</p><p>dade civil pode tomar para contribuir para a resolução</p><p>dessa questão.</p><p>AÇÃO E CIDADANIA</p><p>Outras faces da segregação socioespacial</p><p>As classes sociais e os espaços que elas habitam nas cidades são importantes</p><p>objetos de estudo das Ciências Humanas e Sociais, assim como a ação do Estado</p><p>nesse contexto. Destacam-se, por exemplo, o papel das políticas públicas de ha-</p><p>bitação, diante da valorização diferencial das terras urbanas, e a atuação dos</p><p>agentes imobiliários. Nesse sentido, as teorias sobre renda fundiária buscaram</p><p>explicar desigualdades de acesso à cidade. A localização é um dos componentes</p><p>essenciais do mercado de terras urbanas. Ao se construir edificações, o preço es-</p><p>tabelecido garante a extração de renda fundiária urbana – beneficiando proprie-</p><p>tários e agentes imobiliários.</p><p>Mas nem sempre as camadas mais ricas se estabele-</p><p>cem em terrenos mais valorizados. Por isso, é preciso le-</p><p>var em conta outro componente da segregação socioes-</p><p>pacial: a construção de condomínios residenciais fechados</p><p>direcionados a pessoas de alta renda em áreas conside-</p><p>radas periféricas ou “suburbanas”. Seguindo o padrão de</p><p>suburbanização instalado nos Estados Unidos, as franjas</p><p>urbanas, no Brasil, começaram a ser tomadas por “ilhas”</p><p>residenciais autônomas, que pouco se relacionam com</p><p>seu entorno – ocupando terrenos a princípio mais baratos,</p><p>fora do núcleo denso da cidade. Para morar, os segmen-</p><p>tos das classes média e alta demandam garantias de mo-</p><p>bilidade, como a construção de vias expressas para se</p><p>deslocar em seus carros com rapidez.</p><p>A socióloga Teresa Caldeira (1954- ), na obra Cidade de muros: crime, segrega-</p><p>ção e cidadania em São Paulo, chamou esses núcleos residenciais de enclaves</p><p>fortificados. Dotadas de muros, cercas e sistemas de forte vigilância, a expansão</p><p>de moradias com essas características relaciona-se ao aumento da insegurança</p><p>das classes médias. Dentro das moradias, estão os privilegiados; e, no entorno, es-</p><p>tão os menos favorecidos, que entram nos condomínios para trabalhar.</p><p>Tais empreendimentos são comuns nas grandes cidades, em áreas mais afasta-</p><p>das do centro e também em cidades de médio porte. Para Maria Encarnação Sposito,</p><p>diante desse quadro, é necessário revisar os esquemas explicativos centro-periferia.</p><p>Se, por um lado, os ricos passaram a residir em áreas mais afastadas do centro, por</p><p>outro, a segregação socioespacial se reproduz nos anéis centrais das cidades.</p><p>Segundo a autora, é importante destacar, ainda, a “inclusão perversa” e “precária” da</p><p>população em situação de rua no centro das grandes cidades.</p><p>A</p><p>lb</p><p>er</p><p>to</p><p>R</p><p>oc</p><p>ha</p><p>/F</p><p>ol</p><p>ha</p><p>pr</p><p>es</p><p>s</p><p>R</p><p>on</p><p>al</p><p>do</p><p>S</p><p>ilv</p><p>a/</p><p>Fu</p><p>tu</p><p>ra</p><p>P</p><p>re</p><p>ss</p><p>108 Não escreva no livro.</p><p>Manifestação de</p><p>movimentos sociais</p><p>em defesa dos</p><p>direitos de moradia,</p><p>em São Paulo (SP).</p><p>Foto de 2018.</p><p>VULNERABILIDADE SOCIAL</p><p>Vulnerabilidade é outro conceito-chave para compreen-</p><p>der a dinâmica das desigualdades, pois agrega às análi-</p><p>ses a noção da desigualdade de acesso a locais, bens e</p><p>serviços públicos.</p><p>O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por</p><p>exemplo, criou um índice de vulnerabilidade social com o</p><p>intuito de superar a correlação entre pobreza e insuficiên-</p><p>cia de recursos monetários. Nesse sentido, esse índice</p><p>mapeia acesso, ausência e insuficiência de serviços que,</p><p>de acordo com a Constituição de 1988, deveriam estar à</p><p>disposição de todos os cidadãos. As variáveis infraestru-</p><p>tura urbana, capital humano, renda e trabalho também</p><p>são utilizadas para compor a análise.</p><p>Considera-se população vulnerável aquela que,</p><p>por não se situar no polo da diferença, associado aos pri-</p><p>vilégios, não tem acesso a direitos básicos, que lhes pro-</p><p>tegeriam. Um exemplo são as pessoas que vivem em si-</p><p>tuação de rua. Há casos de pessoas que passam a viver</p><p>nas ruas em decorrência da dependência química, mas</p><p>muitas abandonam os lares por frequentes maus-tratos</p><p>e discriminação, principalmente a população LGBTQI+.</p><p>Geralmente, esses grupos se concentram nas regiões</p><p>centrais da cidade, por causa da maior oferta de trabalhos</p><p>por meio dos quais obtêm sua sobrevivência e da presen-</p><p>ça de instituições de apoio que oferecem abrigo e alimen-</p><p>tação. Porém, embora exista uma concentração na área</p><p>central, atualmente essas pessoas estão espalhadas por</p><p>todo o tecido urbano.</p><p>Muitas dessas pessoas dormem nas calçadas, nos ban-</p><p>cos de praças ou sob marquises e degraus de prédios, e</p><p>desenvolvem sua sociabilidade em trechos do território ur-</p><p>bano, pedindo dinheiro nos semáforos ou coletando ma-</p><p>teriais recicláveis.</p><p>No caso do município de São Paulo, o Censo da Popu-</p><p>lação de Rua, de 2020, mostra que a esses contingentes</p><p>somaram-se levas de imigrantes que chegaram ao país</p><p>nos últimos anos. Parcelas desses grupos ganham a vida</p><p>por meio do comércio e da prestação de serviços, mas</p><p>também na indústria. Embora, muitas vezes, tenham di-</p><p>ploma universitário e sejam fluentes em vários idiomas,</p><p>os imigrantes são hostilizados com frequência e vistos</p><p>como incapazes. Assim, não raro eles são vistos sem mo-</p><p>radia ou ocupando prédios abandonados, com os demais</p><p>sem-teto.</p><p>Pensando no espaço urbano do Rio de Janeiro, o geó-</p><p>grafo brasileiro Rogério Haesbaert destaca a existência</p><p>do que chamou de aglomerados de exclusão, constelação</p><p>de territórios e redes que formam um “emaranhado de</p><p>disputas territoriais”. Nesses territórios, ocasionalmente</p><p>coexistem grupos vulneráveis, igrejas, crime organizado,</p><p>forças de segurança, grupos de funk e outros. A violência</p><p>é cotidiana e cria mais segregação em espaços já segre-</p><p>gados. As principais vítimas desse contexto são os jovens</p><p>negros e menos favorecidos.</p><p>Para Haesbaert, as políticas de acolhimento devem</p><p>considerar a ação contraditória das forças de segurança</p><p>pública em relação a esses grupos, ter mais abrigos ade-</p><p>quados, dispor imóveis com funções sociais no centro e</p><p>nas periferias, reverter interesses hegemônicos dos agen-</p><p>tes imobiliários (que estimulam a expulsão e o desloca-</p><p>mento das pessoas que vivem na rua) e buscar o envol-</p><p>vimento cidadão da população local.</p><p>M</p><p>ar</p><p>le</p><p>n</p><p>e</p><p>B</p><p>er</p><p>ga</p><p>m</p><p>o</p><p>/F</p><p>o</p><p>lh</p><p>ap</p><p>re</p><p>ss</p><p>109</p><p>ATIVIDADES</p><p>a) Levando em consideração que as desigualdades sociais articulam-se com as desigualdades de</p><p>gênero e com base no que foi estudado neste capítulo, levante hipóteses sobre os motivos pelos</p><p>quais uma desigualdade interfere na outra.</p><p>b) No relatório da ONG Oxfam, são apresentadas seis propostas para reverter o cenário de desigual-</p><p>dades relacionadas ao cuidado. São elas: (1) investir em sistemas nacionais de prestação de cui-</p><p>dados para solucionar a questão da responsabilidade desproporcional pelo trabalho de cuidado</p><p>realizado por mulheres e meninas; (2) acabar com a riqueza extrema</p><p>para erradicar a pobreza</p><p>extrema; (3) legislar para proteger os direitos de cuidadoras e cuidadores e garantir salários dignos;</p><p>(4) garantir que cuidadoras e cuidadores tenham influência em processos decisórios; (5) desafiar</p><p>normas prejudiciais e crenças sexistas; (6) valorizar o cuidado em políticas e práticas empresariais.</p><p>Em grupos, pesquisem ao menos uma política pública ou ação de entidades não governamentais</p><p>que atenda a cada uma dessas seis propostas. Depois, compartilhem os resultados com a turma.</p><p>2 (Enem)</p><p>1 Leia o texto e analise o infográfico a seguir. Depois, responda às questões.</p><p>A desigualdade econômica está fora de controle. Em 2019, os bilionários do mundo, que somam apenas</p><p>2 153 indivíduos, detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas. […] Esse grande fosso baseia-se em</p><p>um sistema econômico sexista e falho, que valoriza mais a riqueza de um grupo de poucos privilegiados,</p><p>na sua maioria homens, do que bilhões de horas dedicadas ao trabalho mais essencial – o do cuidado não</p><p>remunerado e mal pago, prestado principalmente por mulheres e meninas em todo o mundo. As tarefas diá-</p><p>rias de cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, buscar água e lenha são essenciais para o bem-estar das</p><p>sociedades, comunidades e para o funcionamento da economia. A pesada e desigual responsabilidade por</p><p>esse trabalho de cuidado perpetua as desigualdades de gênero e econômica.</p><p>Oxfam. Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade. [S. l.]:</p><p>Oxfam, 2020. p. 2. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum-economico-de-davos/</p><p>tempo-de-cuidar/. Acesso em: 19 jun. 2020.</p><p>Fonte de pesquisa: Oxfam. Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade.</p><p>[S. l.]: Oxfam, 2020. p. 4. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum-economico-de-davos/</p><p>tempo-de-cuidar/. Acesso em: 19 jun. 2020.</p><p>2 153 pessoas</p><p>detinham mais riqueza que</p><p>4,6 bilhões</p><p>de pessoas</p><p>(dados de 2019)</p><p>O trabalho de cuidado não</p><p>remunerado prestado por</p><p>mulheres a partir dos 15 anos</p><p>somou um valor monetário de</p><p>US$ 10,8</p><p>trilhões</p><p>(no ano de 2019) – três</p><p>vezes mais que o setor</p><p>de tecnologia do mundo.</p><p>Uma tributação adicional de 0,5% sobre</p><p>a riqueza do 1% mais rico nos próximos</p><p>10 anos equivale aos investimentos</p><p>necessários para se criar</p><p>117 milhões</p><p>de empregos</p><p>em setores como educação,</p><p>saúde e assistência a idosos e eliminar</p><p>déficits na prestação de cuidados.</p><p>A cidade</p><p>E a situação sempre mais ou menos,</p><p>Sempre uns com mais e outros com menos.</p><p>A cidade não para, a cidade só cresce</p><p>O de cima sobe e o de baixo desce.</p><p>A cidade. Intérprete: Chico Science e Nação Zumbi. Compositores: Chico Science e Nação Zumbi. In: Da lama ao caos.</p><p>Intérprete: Chico Science e Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Chaos; Sony Music, 1994 (fragmento).</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>110 Não escreva no livro.</p><p>Círculo Polar Ártico</p><p>180°135°L90°L45°L0°45°O90°O135°O180°</p><p>45°N</p><p>0°</p><p>45°S</p><p>OCEANO</p><p>ATLÂNTICO</p><p>OCEANO</p><p>PACÍFICO</p><p>OCEANO</p><p>PACÍFICO</p><p>OCEANO</p><p>ÍNDICO</p><p>OCEANO GLACIAL ÁRTICO</p><p>OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO</p><p>Círculo Polar Ártico</p><p>Círculo Polar Antártico</p><p>Trópico de Câncer</p><p>Trópico de Capricórnio</p><p>Equador</p><p>M</p><p>er</p><p>id</p><p>ia</p><p>n</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>G</p><p>re</p><p>en</p><p>w</p><p>ic</p><p>h</p><p>Proteção no trabalho</p><p>Proteção limitada</p><p>Proteção constitucional</p><p>Proteção contra discriminação</p><p>por orientação sexual</p><p>Proteção ampliada</p><p>Sem proteção</p><p>Entre 10 anos até prisão perpétua</p><p>Pena de morte</p><p>Criminalização de fato</p><p>Criminalização de relações</p><p>homoafetivas</p><p>Até 8 anos de prisão</p><p>0 3080 km</p><p>Fonte de pesquisa: alfageme, Ana. Morrer por ser gay: o mapa-múndi da homofobia. El País, 22 mar. 2019. Disponível em:</p><p>https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/19/internacional/1553026147_774690.html. Acesso em: 19 jun. 2020.</p><p>MUNDO: LEGISLAÇÃO RELACIONADA À ORIENTAÇÃO SEXUAL (2019)</p><p>a) Que tipo de desigualdade gera</p><p>a situação mostrada na charge?</p><p>b) Elabore um texto argumentati-</p><p>vo que trate das raízes da desi-</p><p>gualdade mostrada e cite exem-</p><p>plos de violências simbólicas</p><p>que podem nascer desse tipo</p><p>de desigualdade.</p><p>De acordo com os dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e da Transgen-</p><p>der Europe, o Brasil é o país com o maior registro de homicídios de pessoas transgêneras no mundo.</p><p>No entanto, de acordo com o mapa, o Brasil é um país que apresenta proteção ampliada contra</p><p>discriminação por orientação sexual. Como é possível explicar essa aparente contradição de dados?</p><p>Charge de</p><p>Jean Galvão.</p><p>Je</p><p>an</p><p>G</p><p>al</p><p>vã</p><p>o/</p><p>A</p><p>ce</p><p>rv</p><p>o</p><p>do</p><p>c</p><p>ar</p><p>tu</p><p>ni</p><p>st</p><p>a</p><p>A letra dessa canção, que data do início dos anos 1990, destaca uma questão presente nos centros</p><p>urbanos brasileiros que se refere ao(à):</p><p>a) déficit de transporte público.</p><p>b) estagnação do setor terciário.</p><p>c) controle das taxas de natalidade.</p><p>d) elevação dos índices de criminalidade.</p><p>e) desigualdade na distribuição de renda.</p><p>3 Analise a charge a seguir e, depois, responda às questões.</p><p>4 Analise o mapa a seguir e, depois, faça o que se pede.</p><p>Jo</p><p>ão</p><p>M</p><p>ig</p><p>ue</p><p>l A</p><p>. M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>111Não escreva no livro.</p><p>.</p>