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<p>ANÁLISE SOBRE O PRINCÍPIO DA POPULAÇÃO DE THOMAS MALTHUS</p><p>Prova de Análise e Argumentação</p><p>Ricardo Goron Cidade Cartão UFRGS: 587888</p><p>Da mesma forma que para constatar que o homem se tornou um avestruz é</p><p>preciso mostrar que ocorreu uma série de mudanças fisiológicas ao longo do tempo,</p><p>é necessário também trazer à luz fatores imutáveis para avaliar a perfectibilidade da</p><p>humanidade com base nos conhecimentos para a existência do homem. É através</p><p>disso que Malthus introduz suas primeiras premissas para chegar a sua conclusão</p><p>de que essa perfectibilidade da humanidade não é possível de se obter, ou seja,</p><p>citando o autor: “há uma impossibilidade de vivermos todos tranquilos, felizes e em</p><p>ócio relativo, sem ansiedade quanto a prover os meios de subsistência para si</p><p>mesmos e para suas famílias”. Passa-se também por escritos sobre a veracidade e</p><p>necessidade dos postulados iniciais, chega-se ao desenvolvimento do argumento e</p><p>de que forma a impossibilidade da perfectibilidade da sociedade humana se</p><p>estrutura. Inicialmente encontramos com facilidade a premissa de que; “os</p><p>alimentos são necessários para a existência do homem” e que “a paixão entre os</p><p>sexos é necessária e continuará perdurando em seu estado atual mais ou menos</p><p>inalterado”. Assim sendo, devemos aceitar tais premissas( postulados nas palavras</p><p>de Malthus) como sendo facilmente perceptíveis e evidentes. Postulado pode ser</p><p>definido como uma hipótese que tem consideráveis corroborações e ausência de</p><p>contradição, passando a ser aceita como verdade; um alicerce sobre o qual será</p><p>construída a argumentação do autor.</p><p>Confirmando a veracidade dos postulados que dão início ao argumento,</p><p>podemos nos organizar da seguintes formas: Se os alimentos são necessários para</p><p>a existência do homem, então para continuar vivo o ser humano precisa comer, logo</p><p>se há alimento, há permanência da vida. Tem-se também que a paixão entre os</p><p>sexos é necessária para o desenvolvimento da humanidade, em outras palavras, se</p><p>há reprodução, então o ser humano continuará vindo à vida. Trazendo um fator</p><p>importante para a lógica do argumento temos que a paixão entre os sexos</p><p>continuará perdurando em seu estado atual mais ou menos inalterado (previsão).</p><p>Através de nossas informações sobre o estado atual das coisas, podemos ainda</p><p>acrescentar que o estado atual da paixão entre os sexos é que ela está presente</p><p>quase universalmente na humanidade.</p><p>Devemos postular o que obtemos assim: Se a paixão entre os sexos</p><p>continuará perdurando em seu estado atual mais ou menos inalterado e atualmente</p><p>ela está presente na sociedade universalmente. Como necessitamos que o ser</p><p>humano se mantenha vivo para compor uma sociedade e buscar a sua evolução é</p><p>necessário aumentar a quantidade de informações presentes na estrutura</p><p>argumentativa para que as premissas se relacionem. Exercendo essa atividade</p><p>chegamos em: Se o ser humano alimenta-se e se reproduz, então ele garante o</p><p>crescimento da humanidade e a longinquidade da existência individual. É a partir</p><p>dessa introdução dos dois postulados para a subsistência do ser humano que o</p><p>problema de Malthus sobre o desenvolvimento populacional geográfico se dá,</p><p>baseando-se nestes fatores de subsistência e espaço físico e o elemento provedor</p><p>que fornece o local para abrigar a quantidade de humanos novos, e alimento, para</p><p>manter vivo todos os seres humanos, relacionando tais necessidades humanas para</p><p>formar os postulados essenciais do argumento.</p><p>Trazendo esta relação ao texto, o autor constata que a capacidade de</p><p>produção alimentícia e espaço físico habitável do planeta Terra, o único elemento</p><p>provedor de alimentos conhecido a muito tempo e que fornece também espaço</p><p>físico habitável, são limitados, enquanto o poder populacional, a capacidade de</p><p>consumo alimentício e físico-espacial, do ser humano é infinito, salvo quando em</p><p>um controle de crescimento populacional. Pondo em uma balança, parece iminente</p><p>que se a população crescer em progressão geométrica e caso outros meios de</p><p>prover alimento e espaço não sejam encontrados ou controles populacionais sejam</p><p>feitos sobre seres humanos, os recursos do planeta irão se esgotar. Thomas</p><p>Malthus, porém, não segue esta linha argumentativa: ele postula o crescimento</p><p>geométrico da população e aritmético de alimentos, para concluir que a capacidade</p><p>de suprir essa relação desigual de produção gerará um conflito na capacidade de</p><p>autorregulação do planeta.</p><p>Argumentando até este ponto, é possível retirar do texto a relação lógica</p><p>consistente mostrada entre os elementos dessa dinâmica da imperfectibilidade da</p><p>humanidade, sendo eles a subsistência humana e o consumo de recursos que isto</p><p>executa, a produção e disponibilização destes recursos por um terceiro e a</p><p>regulação dessa relação de produção-consumo feita por uma lei natural. Em tal</p><p>ponto temos uma referência aos argumentos biológicos de sobrevivência humana e</p><p>suas necessidades, destacando que a lei natural não tem misericórdia com relação</p><p>aos seres humanos, assim como para com os animais.</p><p>Citando o próprio autor temos que:</p><p>“Os germes da existência contidos nesta porção de terra,</p><p>tendo comida e espaço em abundância para se expandir,</p><p>preencheram milhões de mundos ao longo de alguns milhares</p><p>de anos. A necessidade, essa imperiosa e sempre presente lei</p><p>da natureza, restringe-os dentro dos limites prescritos. A raça</p><p>das plantas e a raça dos animais recuam diante dessa grande e</p><p>restritiva lei. E a raça dos homens não pode,</p><p>independentemente dos esforços da razão, escapar dela. Entre</p><p>as plantas e os animais, seus efeitos são a perda de sementes,</p><p>a doença e a morte prematura. Entre os seres humanos, a</p><p>miséria e o vício.”</p><p>Podemos reconstruir o argumento da seguinte forma: Se os humanos,</p><p>animais ou plantas têm comida e espaço em abundância para se expandir, então</p><p>preencheram muito mais do que apenas um planeta. Se há uma lei presente para</p><p>controlar a expansão das espécies, então a lei natural ainda perdurará. Se há algo</p><p>que limite a expansão das espécies, então efeitos negativos serão notados. O autor</p><p>nos diz que há uma lei imperiosa e sempre presente na natureza para executar</p><p>esse controle expansivo e que não há como controlar esse efeito natural.</p><p>O efeito que é gerado pela lei da natureza está diretamente ligado à</p><p>impossibilidade de atingir a perfetibilidade social da humanidade. Esse efeito gerado</p><p>é, necessariamente, a miséria e, possivelmente, o vício, que por sua vez implicam</p><p>em uma preocupação com os meios de subsistência; como sustentar uma prole e a</p><p>si mesmo.</p><p>É possível compreender de que forma a imperiosa lei natural se estabelece,</p><p>de acordo com Malthus, através dos efeitos sentidos por grande parte da</p><p>população. Vários grupos sociais passam pela miséria, tanto alimentícia quanto</p><p>físico-espacial, devido à falta de recursos, advindos a ações naturais do Planeta ou</p><p>até mesmo do vício de outros, que se utilizam demasiadamente de recursos</p><p>acarretando na falta deles em algum momento para determinadas situações. Da</p><p>mesma forma, podemos dizer dessa lei que ela pode ser dito como evidentemente</p><p>observável e constatada em diferentes espécies.</p><p>Assim, sendo um fator fora do controle da humanidade, os efeitos causados</p><p>por ela são incontroláveis e inevitáveis . A miséria, principalmente, é um fator social</p><p>da humanidade que não advém dela própria; parece que sempre que buscamos a</p><p>origem da pobreza humana poderemos descender ao ponto de nossos ancestrais,</p><p>os quais tinham de lutar por sua própria sobrevivência e sustentação de sua prole.</p><p>Já ao final de minha análise do argumento, gostaria de evocar as premissas</p><p>escrita por Malthus: “A população, se não for controlada, cresce em progressão</p><p>geométrica”, “Os meios de subsistência crescem apenas em progressão aritmética”</p><p>e “ Nenhuma igualdade imaginada, nenhuma regulamentação agrícola, por maior</p><p>que fosse seu alcance, conseguiria cancelar a pressão dela, ainda que por apenas</p><p>um século.” A população crescerá rapidamente, sendo assim, ela vai crescer</p><p>em</p><p>progressão geométrica, mantendo a miséria e criando dificuldades de sobrevivência</p><p>intrínsecos ao crescimento e evolução humanos, isso considerando o crescimento</p><p>aritmético dos alimentos. Destacando que há motivo para haver uma lei reguladora:</p><p>a desigualdade de poder de produção com o poder de consumo da maior parte do</p><p>povo de uma nação, exprimido no trecho do próprio Malthus: “os efeitos desses dois</p><p>poderes desiguais precisam ser mantidos em equilíbrio”. Isso posto, podemos</p><p>concluir que, dentro da análise malthusiana , que a perfectibilidade da humanidade</p><p>é impossível, sendo essa a conclusão definitiva do autor; baseado na previsão do</p><p>crescimento geométrico da população e aritmético de alimentos e disparidade</p><p>matemática entre tais curvas gráficas.</p><p>Para realizar uma apreciação crítica do argumento de Malthus, buscarei</p><p>elucidar a validade do argumento, através da sua forma lógica, como também</p><p>buscarei realizar críticas com relação a falsidade das premissas e, portanto, a não</p><p>solidez do argumento. Tem-se como postulados de malthus, que os alimentos são</p><p>necessários para existência do homem e que a paixão entre os sexos perdurará</p><p>mais ou menos inalterada. Aceitando os postulados como verdadeiros, passamos</p><p>para suas premissas: a produção de alimentos cresce em progressão aritmética e a</p><p>população, considerando a paixão entre os sexos, crescerá em progressão</p><p>geométrica criando uma disparidade matemática entre a quantidade de seres</p><p>humanos e a oferta de alimentos; destacando ainda a desigualdade de poder de</p><p>compra da maioria da população. A falta de alimentos e subsistência levaria a duas</p><p>alternativas diferentes, a saber: miséria e vício. Logo, nota-se a conclusão lógica</p><p>das premissas de Malthus de que a perfectibilidade da humanidade é impossível.</p><p>Assim posto, vale destacar que a disponibilidade de alimentos é uma condição</p><p>necessária para a perfectibilidade da humanidade, portanto se não há possibilidade</p><p>de haver recursos alimentícios para todos, a impossibilidade da perfectibilidade da</p><p>humanidade surge como conclusão lógica. Ainda pode-se dizer que a</p><p>disponibilidade de alimentos não é uma condição suficiente para perfectibilidade da</p><p>humanidade, havendo outros fatores envolvidos (menor desigualdade, por</p><p>exemplo), mas sim uma condição necessária, o que, como Malthus destaca,</p><p>significa dizer que sem o fator “Alimentos para todos” não pode haver</p><p>perfectibilidade da humanidade, mesmo com a presença de outros fatores, sejam</p><p>eles quais forem. Tal explanação valida a forma lógica da argumentação de Malthus.</p><p>Após analisar criticamente o argumento, tem-se que uma das premissas</p><p>máximas de Thomas Malthus está incorreta, ou seja, é falsa. A saber: “A produção</p><p>de alimentos cresce em progressão aritmética”. Nota-se que a produção de</p><p>alimentos cresceu praticamente na mesma proporção que a população,</p><p>principalmente onde houve rápido desenvolvimento industrial. Considera-se que a</p><p>premissa é imaginável para tentar sustentar o argumento, visto que Malthus escreve</p><p>de um tempo onde seu postulado não seria facilmente duvidável. No século XVIII,</p><p>onde o desenvolvimento industrial não era pleno, mas iniciava uma caminhada lenta</p><p>e gradativa a caminho de uma maior produção de alimentos, poucos acreditavam no</p><p>nível de produção em larga escala dos dias de hoje. Entretanto, vale destacar que</p><p>existe um elemento importante no argumento de Malthus sobre a humanidade: ele</p><p>busca ser uma previsão. Portanto, o argumento não é sólido e tem problemas de</p><p>sustentação; falhando em se sustentar como uma previsão ao longo do tempo.</p><p>Destaco ainda a não solidez do argumento de se concluir que a humanidade</p><p>jamais poderia alcançar a plenitude de produção alimentícia e para subsistência,</p><p>embora possamos admitir a validade lógica do argumento. Thomas Malthus não</p><p>teria como saber ou prever o desenvolvimento dos meios de produção da época até</p><p>a atualidade. Deve-se acrescentar que, ainda que possamos tomar como verdadeira</p><p>a conclusão de que a humanidade é imperfeita e que a miséria é, ao cabo, seu</p><p>estado natural; também as premissas sobre o espaço geográfico limitado e a</p><p>dificuldade de sustentação de uma grande prole, não precisamos tomar como</p><p>verdadeiras a premissa de Malthus sobre o desenvolvimento aritmético dos</p><p>alimentos, mesmo que se constate a miséria de boa parte do mundo atual—</p><p>semelhante à época de Malthus — devemos admitir que a população cresceu muito</p><p>nos últimos anos, mais do que em qualquer época na história, porém refutar a</p><p>imperfectibilidade da humanidade ainda não parece provável.</p>