Prévia do material em texto
<p>2019</p><p>Tópicos EspEciais Em</p><p>LicEnciaTura - Libras</p><p>Profª. Julianne de Deus Corrêa Pietzak</p><p>Profª. Adriana Prado Santana Santos</p><p>Profª. Lilyan Aparecida Vieira de Souza</p><p>Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa</p><p>1a Edição</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2019</p><p>Elaboração:</p><p>Profª. Julianne de Deus Corrêa Pietzak</p><p>Profª. Adriana Prado Santana Santos</p><p>Profª. Lilyan Aparecida Vieira de Souza</p><p>Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>Impresso por:</p><p>P626t</p><p>Pietzak, Julianne de Deus Corrêa</p><p>Tópicos especiais em licenciatura - libras. / Julianne de Deus</p><p>Corrêa Pietzak; Adriana Prado Santana Santos; Lilyan Aparecida Vieira de Souza;</p><p>Ana Clarisse Alencar Barbosa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.</p><p>192 p.; il.</p><p>ISBN 978-85-515-0323-2</p><p>1. Língua de sinais. – Brasil. I. Pietzak, Julianne de Deus Corrêa. II.</p><p>Santos, Adriana Prado Santana. III. Souza, Lilyan Aparecida Vieira de. IV.</p><p>Barbosa, Ana Clarisse Alencar. V. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.</p><p>CDD 419</p><p>III</p><p>aprEsEnTação</p><p>Prezado acadêmico! Com este livro didático, estamos iniciando uma</p><p>nova caminhada intitulada Tópicos Especiais em Licenciatura – Libras. O</p><p>livro está dividido em três unidades e tem o intuito de apresentar e reforçar</p><p>temáticas referentes a sua formação geral e específica. Cada unidade</p><p>apresenta um tema principal voltado às temáticas propostas, trazendo</p><p>conteúdos gerais para que você se prepare bem para o ENADE e possíveis</p><p>concursos, principalmente para sua prática profissional diária. As temáticas</p><p>abordadas nessa disciplina são gerais, atuais, oportunas, amplas e realmente</p><p>fazem parte da nossa prática profissional. Vamos começar?</p><p>Na primeira unidade, vamos tratar da educação de surdos, do</p><p>processo de aquisição de língua de sinais para surdo como L1 (primeira</p><p>língua), bem como da aquisição da língua portuguesa para surdo como L2</p><p>(segunda língua). Para finalizar esta unidade, abordaremos e refletiremos</p><p>sobre o currículo e a didática na educação de surdos.</p><p>Na segunda unidade, abordaremos a estrutura gramatical da</p><p>Língua de Sinais (LS) e suas particularidades linguísticas em comparação</p><p>com a Língua Portuguesa (LP). Apresentaremos aspectos relacionados aos</p><p>estudos de tradução e interpretação em LP e em LS, bem como o papel do</p><p>profissional Tradutor Intérprete de Línguas de Sinais e Língua Portuguesa</p><p>(TILSP). Refletiremos ainda sobre a área da tecnologia e sua importância</p><p>para a comunidade surda e ouvinte.</p><p>Finalizando, na terceira unidade seguiremos dialogando sobre a</p><p>escrita da LS, destacando o sistema de SignWriting e seus desdobramentos</p><p>relacionado a Libras. Passaremos ainda por contextualizações sobre a</p><p>surdocegueira e suas implicações. Além disso, conheceremos o universo da</p><p>literatura visual, suas produções e pesquisas relacionadas.</p><p>Em todas as unidades constam muitas sugestões de vídeos, leituras</p><p>de livros e artigos para complementar seus estudos. Incentivamos você</p><p>a participar ativamente no seu processo de aprendizagem ao longo dessa</p><p>disciplina, realizando a leitura integral do livro didático e as atividades</p><p>propostas nele. Acadêmico, não deixe de acompanhar o seu Ambiente Virtual</p><p>de Aprendizagem – AVA –, pois é por meio dele que você acessará os vídeos</p><p>referentes às aulas da disciplina, além de mais sugestões de leitura. Tal</p><p>postura ativa no processo de aprendizagem dará a você maior profundidade</p><p>à área da Educação de Surdos.</p><p>IV</p><p>Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para</p><p>você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há</p><p>novidades em nosso material.</p><p>Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é</p><p>o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um</p><p>formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.</p><p>O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova</p><p>diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também</p><p>contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.</p><p>Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,</p><p>apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade</p><p>de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.</p><p>Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para</p><p>apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto</p><p>em questão.</p><p>Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas</p><p>institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa</p><p>continuar seus estudos com um material de qualidade.</p><p>Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de</p><p>Desempenho de Estudantes – ENADE.</p><p>Bons estudos!</p><p>NOTA</p><p>Esperamos que você se conscientize acerca da importância de nossa</p><p>luta em prol da comunidade surda e do nosso papel enquanto docentes ou</p><p>bacharéis atuantes nesse contexto. Almejamos que os estudos abordados</p><p>aqui contribuam de forma significativa para a sua formação profissional,</p><p>tornando-o capaz de tomada de decisões e atitudes positivas dessa</p><p>comunidade singular inserida na sociedade.</p><p>Desejamos excelentes estudos!</p><p>Profª. Julianne de Deus Corrêa Pietzak</p><p>Profª. Adriana Prado Santana Santos</p><p>Profª. Lilyan Aparecida Vieira de Souza</p><p>Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa</p><p>V</p><p>Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos</p><p>materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais</p><p>os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais</p><p>que possuem o código QR Code, que é um código</p><p>que permite que você acesse um conteúdo interativo</p><p>relacionado ao tema que você está estudando. Para</p><p>utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos</p><p>e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar</p><p>mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!</p><p>UNI</p><p>VI</p><p>VII</p><p>UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO DE SURDOS .......................................................................................1</p><p>TÓPICO 1 – AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1 ..................3</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3</p><p>2 A EDUCAÇÃO DE SURDOS E SUAS FILOSOFIAS EDUCACIONAIS AO</p><p>LONGO DA HISTÓRIA....................................................................................................................3</p><p>2.1 ORALISMO .....................................................................................................................................3</p><p>2.2 COMUNICAÇÃO TOTAL............................................................................................................5</p><p>2.3 BILINGUISMO ...............................................................................................................................7</p><p>3 PEDAGOGIA VISUAL E PEDAGOGIA SURDA ........................................................................10</p><p>3.1 PEDAGOGIA VISUAL ..................................................................................................................10</p><p>3.2 PEDAGOGIA SURDA ...................................................................................................................10</p><p>4 L1 E L 2: CONCEITOS .......................................................................................................................11</p><p>5 LÍNGUA E LINGUAGEM ................................................................................................................12</p><p>5.1 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM .................................................................................................12</p><p>5.1.1 Abordagem Comportamentalista ......................................................................................13</p><p>como este sujeito</p><p>recorta e percebe o mundo e a si próprio. Ao mesmo tempo, linguagem e pensamento estão</p><p>indissoluvelmente unidos na prática social sob a forma de pensamento verbal.</p><p>Poder-se-ia argumentar também, como aspecto relevante, que a língua(gem) é</p><p>fundamentalmente constituída pelo contexto social, que se dá entre indivíduos reais em</p><p>momentos singulares e históricos, trazendo marcas e significações. É importante destacar</p><p>que é por meio das interações desses indivíduos que a língua se desenvolve, evolui ou até</p><p>mesmo morre.</p><p>Em relação às práticas pedagógicas e ao ensino apenas com o concreto, ou mesmo com a</p><p>terapia de fala a que o surdo vem sendo exposto, essas ações pedagógicas tendem a reforçar</p><p>a “deficiência” do sujeito surdo. Nas diversas instituições pedagógicas encontram-se situações</p><p>que evidenciam isso. Um modelo exemplar desse fato é o que evidencia relações concretas</p><p>com objetos do mundo físico, em práticas escolares em que, para escrever ou falar do objeto,</p><p>é necessário ter uma experiência sensível com ele. É o que ocorre em sala de ouvintes. As</p><p>crianças ensaiam, escrevem o nome dos objetos, depois a professora apresenta o objeto.</p><p>A maneira como a professora conduz o trabalho impede a conversão desse momento em</p><p>atividade interacional de experiências partilhadas, não permitindo ao aluno lançar hipótese</p><p>sobre o objeto linguístico. A preocupação da docente é de “facilitar” o aprendizado, servindo-</p><p>se do objeto físico para o aluno compreender o significado da palavra escrita. Ao assumir o</p><p>trabalho dessa maneira, a docente não oportuniza a construção de significação do aprendizado</p><p>que leva em conta a relação do sujeito com o mundo e com o outro.</p><p>Assim, neste último aspecto, podemos concluir com Franchi (1988), que a linguagem</p><p>caracteriza-se por seus três momentos constitutivos: os que dizem respeito à construção da</p><p>significação, quer pela remissão ao próprio sistema linguístico (atividade metalinguística), quer</p><p>pelo fato de a linguagem ser um exercício pessoal e intersubjetivo (atividades epilinguísticas</p><p>e linguísticas). Neste texto, Franchi sugere que as atividades escolares nas séries iniciais</p><p>deveriam ser voltadas às atividades linguísticas e epilinguísticas, mas na verdade o que se</p><p>observa são os exercícios voltados para a metalinguagem (conceitos, regras, exceções).</p><p>De fato, há uma grande controvérsia: as informações sobre a linguagem acabam se</p><p>confundindo com a própria linguagem. Otimizando uma variedade culta (sempre), ensina-se</p><p>primeiramente uma metalinguagem dessa variedade, com exercícios de descrição gramatical</p><p>ou estudo de regras. As instituições escolares dedicam os primeiros anos de vida escolar à</p><p>atividade de metalinguagem, em detrimento das duas outras, descaracterizando o momento</p><p>NOTA</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>30</p><p>propício até para o exercício metalinguístico.</p><p>A partir de uma visão crítica desse tipo de prática pedagógica, o ensino da língua (escrita)</p><p>para surdos não deveria estar desvinculado do uso da linguagem. Os exercícios de</p><p>linguagem (gramática, textos, formação de frases) poderiam constituir-se em um momento</p><p>de produção e significação, tornando o sujeito imbuído do fenômeno social da interação.</p><p>Nessa lógica, estariam presentes as condições de produção e significação, de representação</p><p>do interlocutor e o valor social da linguagem.</p><p>Como afirma Souza (1998 p. 47), “a linguagem pode ser expressa através da escrita, através</p><p>da fala, através dos gestos. Então existem línguas orais e gestuais. Muitas línguas orais, talvez</p><p>a maioria, como não ocorre com as gestuais, possuem uma escrita própria. Nesses casos,</p><p>o surdo pode se valer da escrita do país em que fixe residência”. Prossegue ainda a autora:</p><p>[...] a escrita da pessoa surda reflete, em certa medida, os</p><p>conhecimentos que possui, ou não, da comunidade ouvinte. Ou, o</p><p>quanto a escrita tem função em sua vida, ou ainda reflete o próprio</p><p>processo de alfabetização a que foi submetida. Nesse contexto,</p><p>o ensino da Língua Portuguesa é frequentemente levado a termo</p><p>como uma língua morta, pois ao ensinar apenas substantivos,</p><p>adjetivos, advérbios na produção de textos, esquece-se de se</p><p>considerar uma premissa básica: o intercâmbio entre o papel do</p><p>autor e do leitor para esse aprendizado (SOUZA, 1998, p. 147).</p><p>Isto se torna ainda mais relevante no caso da surdez, pois esses sujeitos são detentores de</p><p>uma linguagem visuogestual, que se apresenta com possibilidades limitadas de se constituir</p><p>na linguagem oral. Ao me posicionar frente a estas questões, levo em consideração o</p><p>objetivo dessa pesquisa, que consiste em refletir sobre as produções de escrita “atípicas” do</p><p>sujeito surdo, abordando como são construídas as relações de sentido e discutindo aspectos</p><p>da coesão textual desses sujeitos.</p><p>FONTE: <https://goo.gl/ADkrmh>. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>No excerto apresentado anteriormente, percebemos a importância de um</p><p>ensino de L2 realmente significativo e contextualizado à realidade do aluno. O</p><p>processo ensino-aprendizagem da L2 deve ir além de conceitos e regras. Assim</p><p>como qualquer outro aluno, o surdo precisa ver sentido e significado no que está</p><p>aprendendo.</p><p>DICAS</p><p>Dica de Leitura</p><p>Acadêmico, durante a leitura deste tópico, você deve ter percebido que citamos várias vezes</p><p>a autora Marília da Piedade Marinho Silva, não é mesmo? Por isso recomendamos a leitura</p><p>integral de sua dissertação de mestrado em educação, intitulada A construção de sentidos</p><p>na escrita do sujeito surdo, de 1999, disponível no seguinte endereço: https://goo.gl/sqdtF3.</p><p>TÓPICO 2 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2</p><p>31</p><p>Silva (1999, p. 63) ainda defende que os professores, ao examinarem os textos</p><p>dos surdos, não podem estar atentos a modelos prontos e fechados. As condições de</p><p>produção, recepção e interlocução do aluno precisam ser levadas em consideração.</p><p>Por exemplo, no que diz respeito à coesão textual, percebemos que os surdos escrevem</p><p>de forma diferenciada. É comum termos dificuldade de entender o texto do surdo</p><p>devido à falta ou má utilização dos conectores. Para muitos, a produção textual do</p><p>surdo mais parece um “[...] amontoado de palavras soltas e ausência de conectores</p><p>tanto do tipo lógico quanto do tipo discursivo” (SILVA, 1999, p. 63).</p><p>Os surdos têm uma língua(gem) de sinais, e em se tratando de aprendizes,</p><p>seus textos escritos não apresentam as mesmas características de um</p><p>falante do português, mas sim de um sujeito falante de uma segunda</p><p>língua. O fato de dar ênfase novamente a estas questões vem ao encontro</p><p>da seguinte observação: como olhar um texto com características</p><p>distintas, em relação ao ensino de uma segunda língua, ou seja, como</p><p>dar sentido a esse texto? (SILVA, 1999, p. 92).</p><p>Então, é preciso atentar ao processo ensino-aprendizagem do aluno surdo,</p><p>mas o olhar final do docente sobre a produção textual do surdo também precisa ser</p><p>revisto. Aqui, cabe uma pergunta para reflexão: É justo que o texto do surdo seja</p><p>avaliado da mesma forma que o aluno ouvinte? É contraproducente avaliarmos a</p><p>produção de texto de duas pessoas em uma determinada língua, sendo que para</p><p>uma delas a língua utilizada é a sua língua materna, a L1, e para o outro é a L2.</p><p>Para Silva (1999, p. 93):</p><p>[...] é importante perceber, nos textos dos surdos, elementos que permitam</p><p>reconhecer a textualidade e os sentidos no processo de construção de</p><p>escrita, pois as dificuldades que o surdo encontra na escrita do português</p><p>não são da mesma ordem, natural, da Língua Brasileira de Sinais. Cabe ao</p><p>professor perceber que, apesar de todos os problemas e das dificuldades</p><p>assinaladas, é possível entender/compreender e reconstruir o sentido</p><p>dentro dos enunciados dos textos. As dificuldades encontradas na escrita</p><p>dos surdos, ao contrário de constituírem-se como empecilho, podem ser a</p><p>referência pedagógica para o trabalho com a segunda língua.</p><p>Novamente ressaltamos aqui a importância do olhar do professor sobre</p><p>a produção textual do surdo. O olhar atento do docente</p><p>orientará sua prática</p><p>pedagógica no ensino da L2. Silva (1999, p. 94) ainda justifica que a aquisição</p><p>da L2 na modalidade escrita de forma coesa “[...] faz-se necessária no processo</p><p>educacional, de modo a possibilitar a esses sujeitos (re)significar as condições de</p><p>indivíduos singulares e sujeitos plurais no convívio social”.</p><p>Quadros e Schmiedt (2006, p. 41) sugerem trabalhar com palavras-chave,</p><p>discutindo com os alunos as palavras que aparecem no texto, “estimulando-os a</p><p>buscar o seu significado”. As autoras ainda propõem atividades que envolvam</p><p>o uso do dicionário. É muito comum encontrarmos surdos que já concluíram os</p><p>estudos na educação básica que não sabem manusear um dicionário. Percebemos</p><p>aí uma lacuna educacional a ser preenchida.</p><p>Quadros e Schmiedt (2006, p. 42-43) expõem os seis níveis de leitura do</p><p>aluno surdo:</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>32</p><p>1) Concreto – sinal: ler o sinal que refere coisas concretas, diretamente</p><p>relacionadas com a criança.</p><p>2) Desenho – sinal: ler o sinal associado com o desenho que pode</p><p>representar o objeto em si ou a forma da ação representada por</p><p>meio do sinal.</p><p>3) Desenho – palavra escrita: ler a palavra representada por meio</p><p>do desenho relacionada com o objeto em si ou a forma da ação</p><p>representado por meio do desenho na palavra.</p><p>4) Alfabeto manual – sinal: estabelecer a relação entre o sinal e a</p><p>palavra no português soletrada por meio do alfabeto manual.</p><p>5) Alfabeto manual – palavra escrita: associar a palavra escrita com o</p><p>alfabeto manual.</p><p>6) Palavra escrita no texto: ler a palavra no texto.</p><p>De acordo com os níveis de leitura do aluno surdo exposto pelas</p><p>autoras, percebemos que o surdo vai avançando sua leitura do nível concreto</p><p>para uma leitura proficiente. Cada nível demanda atividades contextualizadas</p><p>e significativas específicas para o aluno. Outro aspecto que precisamos destacar</p><p>é que “na medida em que o aluno compreende o texto, ele começa a produzir</p><p>textos. Ele começa a escrever textos” (QUADROS; SCHMIEDT, 2006, p. 43).</p><p>Então, a leitura deve preceder a produção textual em si.</p><p>DICAS</p><p>Dicas de Leitura</p><p>Ideias para se ensinar português para alunos surdos é um material riquíssimo que aborda as</p><p>línguas envolvidas no contexto educacional dos surdos e contribui com muitas sugestões de</p><p>atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos. Tal material está disponibilizado</p><p>gratuitamente no seguinte endereço: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port_</p><p>surdos.pdf</p><p>No Capítulo 2 deste livro, as autoras Ronice Müller de Quadros e Magali L. P. Schmiedt</p><p>sugerem atividades para o ensino da língua portuguesa para surdos, dentre elas: Trabalhando</p><p>com o “saco das novidades”, Trabalhando com o “saco surpresa”, Trabalhando com “mesas</p><p>diversificadas”, Trabalhando com “vivências”, Trabalhando com “leitura e vocabulário” e</p><p>Trabalhando com “produção escrita”.</p><p>Ficou curioso? Acadêmico, não deixe de conhecer este material. Você, enquanto profissional</p><p>da área de Libras, deve conhecê-lo. Temos certeza de que ele contribuirá significativamente</p><p>na construção do seu conhecimento. Então, acadêmico, desejamos a você uma ótima leitura.</p><p>3 ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DE L2</p><p>Quadros e Schmiedt (2006, p. 32-33) defendem que o processo de aquisição</p><p>de L2 no caso dos surdos apresenta aspectos importantes. Dentre eles:</p><p>TÓPICO 2 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2</p><p>33</p><p>• predomínio de construções de frasais sintéticas;</p><p>• estrutura gramatical de frase muito semelhante à língua de sinais brasileira (L1),</p><p>apresentando poucas características do português (L2);</p><p>• aparecimento de construções de frases na ordem SVO, mas maior quantidade de</p><p>construções tipo tópico-comentário;</p><p>• predomínio de palavras de conteúdo (substantivos, adjetivos, verbos);</p><p>• falta ou inadequação de elementos funcionais (artigos, preposição, conjunção);</p><p>• uso de verbos, preferencialmente, no infinitivo;</p><p>• emprego raro de verbos de ligação (ser, estar, ficar), e, às vezes, incorretamente;</p><p>• uso de construções de frase tipo tópico-comentário, em quantidade,</p><p>proporcionalmente maior, no estágio inicial da apropriação da L2;</p><p>• falta de flexão dos nomes em gênero, número e grau;</p><p>• pouca flexão verbal em pessoa, tempo e modo;</p><p>• falta de marcas morfológicas;</p><p>• uso de artigos, às vezes, sem adequação;</p><p>• pouco emprego de preposição e/ou de forma inadequada;</p><p>• pouco uso de conjunção e sem consistência;</p><p>• semanticamente, ser possível estabelecer sentido para o texto.</p><p>(a) o processamento cognitivo espacial especializado dos surdos;</p><p>(b) o potencial das relações visuais estabelecidas pelos surdos;</p><p>(c) a possibilidade de transferência da língua de sinais para o português;</p><p>(d) as diferenças nas modalidades das línguas no processo educacional;</p><p>(e) as diferenças dos papéis sociais e acadêmicos cumpridos por cada</p><p>língua;</p><p>(f) as diferenças entre as relações que a comunidade surda estabelece</p><p>com a escrita tendo em vista sua cultura;</p><p>(g) um sistema de escrita alfabética diferente do sistema de escrita das</p><p>línguas de sinais;</p><p>(h) a existência do alfabeto manual que representa uma relação visual</p><p>com as letras usadas na escrita do português.</p><p>Relembrando que o processo de aquisição da língua portuguesa para as</p><p>crianças surdas é mais delicado, pois este sistema não representa sua primeira</p><p>língua. Os aspectos mencionados anteriormente devem ser considerados pelo</p><p>professor ao planejar sua aula.</p><p>Aprofundando agora nossos estudos nos estágios de aquisição de L2,</p><p>Quadros e Schmiedt (2006), com base em Brochado (2003), propõem três estágios</p><p>de interlíngua em crianças surdas. Vamos, a partir de agora, analisar cada um deles.</p><p>3.1 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL1)</p><p>No estágio interlíngua (IL1) percebemos que o surdo utiliza algumas</p><p>estratégias de transferências da língua de sinais (L1) para a escrita da língua portuguesa</p><p>(L2). Acompanhe no quadro a seguir algumas características deste estágio:</p><p>QUADRO 1 – ESTÁGIO DE INTERLÍNGUA (IL1)</p><p>FONTE: Adaptado de Brochado (2003 apud QUADROS; SCHMIEDT, 2006, p. 34-35)</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>34</p><p>• justaposição intensa de elementos da L1 e da L2;</p><p>• estrutura da frase ora com características da língua de sinais brasileira, ora com</p><p>características gramaticais da frase do português;</p><p>• frases e palavras justapostas confusas, não resultam em efeito de sentido comunicativo;</p><p>• emprego de verbos no infinitivo e também flexionados;</p><p>• emprego de palavras de conteúdo (substantivos, adjetivos e verbos);</p><p>• às vezes, emprego de verbos de ligação com correção;</p><p>• emprego de elementos funcionais, predominantemente, de modo inadequado;</p><p>• emprego de artigos, algumas vezes concordando com os nomes que acompanham;</p><p>• uso de algumas preposições, nem sempre adequado;</p><p>• uso de conjunções, quase sempre inadequado;</p><p>• inserção de muitos elementos do português, numa sintaxe indefinida;</p><p>• muitas vezes, não se consegue apreender o sentido do texto, parcialmente ou totalmente,</p><p>• sem o apoio do conhecimento anterior da história ou do fato narrado.</p><p>FONTE: Adaptado de Brochado (2003 apud QUADROS; SCHMIEDT, 2006, p. 35-36)</p><p>3.3 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL3)</p><p>No estágio IL3, os alunos demonstram conhecimento da gramática</p><p>da língua portuguesa, por isso as frases são mais estruturadas e complexas.</p><p>Acompanhe no quadro a seguir algumas das características do estágio IL3:</p><p>QUADRO 3 – ESTÁGIO DE INTERLÍNGUA (IL3)</p><p>• estruturas frasais na ordem direta do português;</p><p>• predomínio de estruturas frasais SVO;</p><p>• aparecimento maior de estruturas complexas;</p><p>• emprego maior de palavras funcionais (artigos, preposição, conjunção);</p><p>• categorias funcionais empregadas, predominantemente, com adequação;</p><p>• uso consistente de artigos definidos e, algumas vezes, do indefinido;</p><p>• uso de preposições com mais acertos;</p><p>• uso de algumas conjunções coordenativas aditiva (e), alternativa (ou), adversativa</p><p>(mas), além das subordinativas condicional (se), causal e explicativa (porque),</p><p>pronome relativo (que) e integrante (que);</p><p>• flexão dos nomes, com consistência;</p><p>• flexão verbal, com maior</p><p>adequação;</p><p>• marcas morfológicas de desinências nominais de gênero e de número;</p><p>• desinências verbais de pessoa (1ª e 3ª pessoas), de número (1ª e 3ª pessoas do singular</p><p>e 1ª pessoa do plural) e de tempo (presente e pretérito perfeito), com consistência;</p><p>• emprego de verbos de ligação ser, estar e ficar com maior frequência e correção.</p><p>FONTE: Adaptado de Brochado (2003 apud QUADROS; SCHMIEDT, 2006)</p><p>3.2 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL2)</p><p>Neste estágio, alguns alunos mesclam as estruturas linguísticas da língua de</p><p>sinais com a língua portuguesa, mas ainda utilizam os constituintes das duas línguas</p><p>de forma desorganizada. Veja no quadro a seguir algumas características do estágio IL2:</p><p>QUADRO 2 – ESTÁGIO DE INTERLÍNGUA (IL2)</p><p>TÓPICO 2 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2</p><p>35</p><p>DICAS</p><p>Dica de Leitura</p><p>Ensino de Língua Portuguesa para surdos: percepções de professores sobre adaptação</p><p>curricular em escolas inclusivas (2013), da autora Veridiane Pinto Ribeiro. Neste livro, a autora</p><p>relata que os professores que ensinam para turmas mistas, com ouvintes e surdos, precisam</p><p>de auxílio e orientações.</p><p>Percebemos que a cada estágio o aluno surdo evolui no que tange ao</p><p>emprego e à utilização gramaticalmente correta da língua portuguesa. Lembramos</p><p>novamente que o processo de aquisição da L2 não é natural para o surdo. Portanto,</p><p>para que o aluno surdo evolua de um estágio a outro, é necessário selecionar</p><p>estratégias de ensino individualizadas e eficientes para cada aluno.</p><p>FONTE: <https://goo.gl/ZpfwdD>. Acesso em: 18 nov. 2018.</p><p>Acadêmico, finalizamos aqui este tópico. Obviamente, o universo literário</p><p>vigente sobre a aquisição da língua portuguesa para surdos como L2 é muito</p><p>maior do que o explanado aqui. Por este motivo, incentivamos você a continuar</p><p>ampliando seus conhecimentos, mantendo-se informado sobre as novas</p><p>pesquisas nesta temática. No Tópico 3, finalizando a Unidade 1 desta disciplina,</p><p>refletiremos sobre a importância de um currículo e uma didática cultural no</p><p>contexto educacional dos alunos surdos.</p><p>36</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A leitura de textos na língua portuguesa é muito importante para a inserção do</p><p>surdo na comunidade ouvinte.</p><p>• A L2, no caso do surdo brasileiro, a língua portuguesa, não é o dispositivo</p><p>natural de aquisição da linguagem.</p><p>• Quando a aquisição de L2 não ocorre, a capacidade de comunicação na</p><p>sociedade fica limitada e a criatividade linguística severamente restringida.</p><p>• O surdo alfabetizado na língua portuguesa amplia seu leque de possibilidades</p><p>comunicativas e aumenta a sua participação na sociedade.</p><p>• A metodologia utilizada no ensino da L2 deve levar em consideração a surdez</p><p>como diferença. O professor deve selecionar materiais e criar metodologias</p><p>que possibilitem ao aluno surdo um melhor aprendizado, que conduza o aluno</p><p>à reflexão e assimilação da realidade.</p><p>• O processo ensino-aprendizagem da L2 deve ir além de conceitos e regras.</p><p>Assim como qualquer outro aluno, o surdo precisa ver sentido e significado no</p><p>que está aprendendo.</p><p>• O olhar final do docente sobre a produção textual do surdo também preciso ser</p><p>revisto.</p><p>• O surdo vai avançando sua leitura do nível concreto para uma leitura</p><p>proficiente. Cada nível demanda atividades contextualizadas e significativas</p><p>específicas para o aluno.</p><p>• A leitura deve preceder a produção textual em si.</p><p>• A aquisição da L2 perpassa três estágios: os estágios interlíngua: IL1, IL2 e IL3.</p><p>• No estágio IL1, o surdo utiliza algumas estratégias de transferências da língua</p><p>de sinais (L1) para a escrita da língua portuguesa (L2).</p><p>• No estágio IL2, alguns alunos mesclam as estruturas linguísticas da língua de</p><p>sinais com a língua portuguesa.</p><p>• No estágio IL3, os alunos demonstram conhecimento da gramática da língua</p><p>portuguesa, por isso as frases são mais estruturadas e complexas.</p><p>• Para que o aluno surdo evolua de um estágio a outro, é necessário selecionar</p><p>estratégias de ensino individualizadas e eficientes para cada aluno.</p><p>37</p><p>1 Sabemos que o sujeito surdo tem a língua de sinais como sua língua</p><p>materna, isto é, sua primeira língua (L1), e que ele adquire a língua</p><p>portuguesa como segunda língua (L2). São inúmeros os desafios</p><p>para o ensino de uma língua oral/auditiva para alguém que tem a</p><p>aquisição da primeira língua sendo visual-espacial. Quanto à metodologia de</p><p>ensino da língua portuguesa como L2, assinale a alternativa correta:</p><p>a) ( ) O surdo somente aprende a língua portuguesa através da exposição à leitura.</p><p>b) ( ) A língua portuguesa deve ser ensinada ao surdo como L2 utilizando</p><p>somente o oralismo.</p><p>c) ( ) É necessário exemplificar, contextualizar e utilizar diferentes gêneros</p><p>textuais para ensinar língua portuguesa ao sujeito surdo.</p><p>d) ( ) A aquisição de L2 para o surdo é um processo rápido, visto que podemos</p><p>utilizar toda a metodologia já usada para ensino de língua portuguesa</p><p>ao aluno ouvinte.</p><p>e) ( ) Não há necessidade de ensinar língua portuguesa ao sujeito surdo,</p><p>pois somente com a Libras ele tem acesso a todas as informações que</p><p>necessita na sociedade.</p><p>2 Aprofundando nossos estudos no processo de ensino de L2,</p><p>vimos que as autoras Quadros e Schmiedt (2006), com base em</p><p>Brochado (2003), propõem três estágios de interlíngua em crianças</p><p>surdas. Elenque os estágios de acordo com as características:</p><p>I- Estágio de Interlíngua IL1</p><p>II- Estágio de Interlíngua IL2</p><p>III- Estágio de Interlíngua IL3</p><p>( ) Frases com estrutura gramatical muito semelhante à Língua de Sinais</p><p>Brasileira, com falta ou inadequação de elementos funcionais (artigos,</p><p>preposições, conjunções).</p><p>( ) Há maior emprego de palavras funcionais (artigos, preposições, conjunções),</p><p>flexão dos nomes com consistência e predomínio de estruturas frasais SVO.</p><p>( ) A estrutura das frases é mesclada ora com características da Libras e ora</p><p>com características do português, uso de algumas preposições, porém nem</p><p>sempre adequado, e emprego de verbos no infinitivo e também flexionados.</p><p>Agora, de acordo com a ordem, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) I, III e II.</p><p>b) ( ) III, II, e I.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>38</p><p>c) ( ) III, I e II.</p><p>d) ( ) II, I, e III.</p><p>e) ( ) I, II, e III.</p><p>3 Silva (1999, p. 62) defende que “a escrita é um meio importante</p><p>do qual o surdo não pode prescindir, posto que, sem ela, o surdo</p><p>não terá chance de competição e de comunicação com o mundo</p><p>ouvinte”. Por isso se dá a importância e necessidade de o surdo</p><p>aprender a língua portuguesa na modalidade escrita. De acordo com as</p><p>metodologias de ensino para aquisição de L2, vimos que é imprescindível que:</p><p>a) ( ) A escola permita que a criança surda tenha liberdade de expressão,</p><p>neste sentido, ela não deve impor limites de comportamento, pois pode</p><p>ser a melhor maneira deste aluno se expressar.</p><p>b) ( ) O professor deve adotar a comunicação total em sala, pois ela propõe</p><p>abordagens alternativas permitindo ao surdo se expressar, combinando</p><p>língua de sinais, gestos, mímicas e leitura labial, facilitando a aquisição de L2.</p><p>c) ( ) A escola assine um atestado liberando o aluno desta aquisição, pois se</p><p>após anos de acesso à educação escolar o aluno surdo não se alfabetizou</p><p>em L2, é porque realmente ele não consegue.</p><p>d) ( ) O olhar diferenciado do professor para o aluno surdo, entendendo que</p><p>o aluno surdo aprenderá também de forma singular, sendo necessário</p><p>adaptar metodologias e avaliações de acordo com as necessidades que o</p><p>professor perceba para este aluno.</p><p>e) ( ) O professor adote uma postura oralista, pois somente desta forma é que</p><p>o aluno surdo atingirá um nível satisfatório de aquisição de L2.</p><p>39</p><p>TÓPICO 3</p><p>CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO</p><p>DE SURDOS</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Caro acadêmico! Até aqui relembramos conceitos importantes inerentes à</p><p>educação de surdos. Estudamos a importância da aquisição da língua de sinais</p><p>para o surdo como L1 para afirmação de sua identidade e cultura.</p><p>Refletimos também sobre a importância de o surdo adquirir a língua</p><p>portuguesa</p><p>como L2. Tal retrospectiva nos propicia mais entendimento acerca</p><p>da importância de um currículo e uma didática cultural no contexto educacional</p><p>dos alunos surdos.</p><p>Neste tópico, relembraremos o conceito de cultura surda e como este deve</p><p>influenciar o currículo e a didática na educação de surdos. Bons estudos!</p><p>2 CULTURA SURDA</p><p>Ao longo de sua caminhada acadêmica, o conceito de cultura surda surgiu</p><p>em várias disciplinas. Sabemos que cultura surda tem tudo a ver com identidade</p><p>do surdo. Este conceito é implícito a todo e qualquer estudo referente à educação</p><p>de surdos e, por isso, deve influenciar a sua prática profissional, seja você docente</p><p>ou bacharel.</p><p>Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de</p><p>modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com</p><p>as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das</p><p>identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto</p><p>significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os</p><p>hábitos do povo surdo (STROBEL, 2008, p. 24).</p><p>Os artefatos (objetos, materiais, modo de ver e sentir) da cultura surda são</p><p>muitos. Os artefatos culturais presentes na cultura surda, segundo Strobel (2008),</p><p>são: a experiência visual, o linguístico, o familiar, a literatura surda, a vida social</p><p>e esportiva, as artes visuais, a política e os materiais.</p><p>Sabemos que ao longo de sua trajetória acadêmica até aqui, você já estudou</p><p>e analisou com senso crítico cada um deles. Tal estudo nos ajuda a compreender</p><p>ainda mais as singularidades desta cultura tão rica.</p><p>40</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>DICAS</p><p>Dica de Leitura</p><p>FIGURA – AS IMAGENS DO OUTRO SOBRE A CULTURA SURDA</p><p>FONTE: <https://goo.gl/h6rpqq>. Acesso em: 2 nov. 2018.</p><p>O livro As imagens do outro sobre a cultura surda, da autora surda Karin Strobel (2008),</p><p>traz uma série de questionamentos e reflexões acerca da forma como a sociedade vê os</p><p>indivíduos surdos.</p><p>Reconhecer e valorizar a cultura surda, no contexto educacional, possibilita</p><p>ao aluno surdo construir sua identidade com senso de pertencimento a um grupo</p><p>social com interesses e objetivos em comum. A partir de agora, estudaremos como</p><p>o currículo e a didática devem ocorrer na educação de surdos, contemplando um</p><p>processo ensino-aprendizagem de real significado para eles. Vamos lá!?</p><p>3 CURRÍCULO CULTURAL</p><p>Barbosa e Pietzak (2018) apontam que, apesar dos avanços, o processo</p><p>ensino-aprendizagem dos alunos surdos tem se mostrado ineficaz. A educação</p><p>de surdos ainda não cumpre com sua função social de forma efetiva.</p><p>As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização</p><p>das pessoas com surdez. Torna-se urgente repensar essas práticas</p><p>para que os alunos com surdez não acreditem que suas dificuldades</p><p>para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que a</p><p>surdez lhes impõe, mas principalmente pelas metodologias adotadas</p><p>para ensiná-los (DAMÁSIO, 2007, p. 21).</p><p>Neste ínterim, Barbosa e Pietzak (2018) ainda afirmam que muitos</p><p>destes alunos surdos são rotulados pelos professores como alunos com atrasos</p><p>intelectuais, quando na verdade a dificuldade de aprendizagem que apresentam</p><p>não necessariamente está relacionada à sua capacidade cognitiva ou intelectual. As</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>41</p><p>autoras ainda explanam acerca da importância de analisarmos o processo ensino-</p><p>aprendizagem dos alunos surdos, focando mais o ensino do que a aprendizagem,</p><p>“pois a aprendizagem dificilmente ocorrerá quando o ensino apresenta falhas</p><p>significativas” (BARBOSA; PIETZAK, 2018, p. 122).</p><p>Diante do panorama atual, faz-se necessário discutirmos a importância do</p><p>currículo na educação de surdos.</p><p>FIGURA 9 – CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>FONTE: <https://goo.gl/V6PbvU>. Acesso em: 18 nov. 2018.</p><p>Silveira (2006) afirma que o ensino da língua de sinais contribui de várias</p><p>formas, dentre elas podemos destacar o auxílio no desenvolvimento da identidade</p><p>e língua dos surdos, ampliando o seu vocabulário na língua de sinais e apoiando</p><p>o desenvolvimento da L2.</p><p>Desta forma, percebemos que a estrutura do currículo pode ou não</p><p>empoderar os surdos. A partir de agora, analisaremos a importância e as principais</p><p>contribuições do currículo cultural na educação de surdos.</p><p>4 CONTRIBUIÇÕES DO CURRÍCULO CULTURAL</p><p>A autora surda Flaviane Reis (2013, p. 65) defende a criação de um novo</p><p>currículo, mais específico e com real sentido aos surdos, e afirma que “[...] a</p><p>estrutura do currículo de Língua de Sinais foi pensada na intenção de tornar</p><p>visível esta articulação, relacionando objetivos gerais e específicos, conteúdos e</p><p>orientações didáticas, envolvendo a identidade dentro do currículo [...]”. Então,</p><p>o currículo de língua de sinais não tem por objetivo alterar tudo do currículo</p><p>convencional. A proposta é que a identidade surda se faça presente dentro do</p><p>currículo, se articulando e se relacionando com os objetivos elencados.</p><p>Reis (2013) confirma que o currículo cultural possui uma proposta</p><p>pedagógica diferenciada, necessariamente bilíngue e, por isso, auxilia na</p><p>construção da identidade surda. Cabe aqui ressaltar que a educação de surdos</p><p>42</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>demanda a incorporação de aspectos específicos, obrigatórios e imperativos, este</p><p>é o caso dos aspectos culturais. “Usar e adaptar o currículo à cultura surda – sua</p><p>experiência visual, sua língua materna [...] é de fundamental importância para</p><p>que possamos ofertar um processo ensino-aprendizagem de efetiva qualidade</p><p>aos alunos surdos” (BARBOSA; PIETZAK, 2018, p. 127).</p><p>Silveira (2006) ainda defende a inclusão de conteúdos relacionados à</p><p>identidade e cultura surda, como é o caso de Literatura Surda, Poesia, Arte Surda,</p><p>Variedades Regionais e Autoestima. Estes conteúdos ampliam o repertório</p><p>linguístico e cultural do aluno surdo, além de favorecer a construção do processo</p><p>identitário do mesmo. Porém, Quadros (1997, p. 32) nos alerta quando afirma</p><p>que o currículo em uma escola bilíngue deve incluir os conteúdos de uma escola</p><p>comum. “A escola deve ser especial para surdos, mas deve ser, ao mesmo tempo,</p><p>uma escola regular de ensino”.</p><p>Sá (2010, p. 98) afirma que na educação de surdos, o currículo:</p><p>[...] precisa responder às culturas e às histórias deste que também é um</p><p>segmento legítimo da sociedade. Esta seria uma forma de contradizer</p><p>a hegemonia da maioria [ouvinte]; no entanto, o conhecimento</p><p>corporificado no currículo das escolas de surdos carrega as marcas de</p><p>relações e poder – o currículo reproduz as relações sociais.</p><p>Então, não vem ao caso invalidar todos os conteúdos da escola comum,</p><p>mas reavaliarmos quais conteúdos correspondem às particularidades linguísticas</p><p>e culturais do aluno surdo.</p><p>DICAS</p><p>Dica de Leitura</p><p>FIGURA – SÉRIE PESQUISAS ESTUDOS SURDOS</p><p>FONTE: <https://goo.gl/ziwy7s>. Acesso em: 19 nov. 2018.</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>43</p><p>A coleção Estudos Surdos proporciona acesso a pesquisas relacionadas à educação de</p><p>surdos. Esta coleção pode ser acessada de forma gratuita na internet no seguinte endereço:</p><p>http://editora-arara-azul.com.br/site/e-books</p><p>Acadêmico, aproveite a oportunidade. Boa leitura!</p><p>Após dissertarmos acerca da cultura surda e do currículo cultural,</p><p>aprofundaremos agora nossos conhecimentos no que tange à didática, além de</p><p>discutirmos a importância da didática cultural e do planejamento na educação</p><p>de surdos.</p><p>5 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA DIDÁTICA</p><p>Barbosa e Pietzak (2018) expõem que os diferentes saberes dos professores</p><p>se articulam de variadas formas no trabalho docente, ou seja, o professor tem um</p><p>contexto social e histórico que influencia na sua metodologia de trabalho.</p><p>A didática em si exige tomada de decisões e planejamento de ensino.</p><p>Barbosa e Pietzak (2018) relatam que é durante a fase do planejamento que o</p><p>professor decide o que se pode fazer para o futuro diante das condições existentes,</p><p>definindo o que se deseja construir. Para Luckesi (2010, p. 164), “planejar implica</p><p>conhecer</p><p>para ordenar e entregar-se a um desejo para dar-lhe vida. O planejamento</p><p>sem conhecimento será uma fantasia; sem entrega, uma peça morta, útil para</p><p>rechear arquivos”.</p><p>O planejamento escolar envolve a reflexão, a tomada de decisões sobre</p><p>a organização, influenciando significativamente o funcionamento e a proposta</p><p>pedagógica da instituição, ou seja, "é um processo de racionalização, organização</p><p>e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática</p><p>do contexto social" (LIBÂNEO, 1992, p. 221).</p><p>Como deve ocorrer o processo ensino-aprendizagem de alunos surdos?</p><p>Eis a grande questão. De qualquer forma, percebemos que a educação de surdos</p><p>demanda necessariamente de profissionais com embasamento teórico, pois a</p><p>teoria aliada à prática tem como resultado uma práxis pedagógica eficiente.</p><p>5.1 DIDÁTICA CULTURAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>O termo didática cultural não é algo novo. “Então é necessária uma</p><p>didática cultural e ela existe e não se trata de novidade. A atividade didática</p><p>cultural tem que ser planejada, mas planejada de tal forma que não esqueça o</p><p>elemento cultural. [...] A Didática Cultural dos Surdos existe desde que o surdo</p><p>encontrou o surdo” (PERLIN; REZENDE, 2011, p. 27-28).</p><p>44</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>Desde a época de Huet, conseguimos perceber a diferença na atuação de</p><p>um professor didaticamente correto. Perlin e Rezende (2011) relatam que Huet</p><p>interagia com os alunos, introduzindo-os no conhecimento, oportunizando ao</p><p>surdo maior autonomia.</p><p>Barbosa e Pietzak (2018, p. 139) afirmam que “a didática cultural rompe</p><p>com o modelo ouvinte de educação, questiona as práticas normalizadoras</p><p>ouvintes, questiona quem é o sujeito surdo, quem deve elaborar o currículo e a</p><p>didática dos surdos”.</p><p>“[...] a Didática Cultural dos Surdos sempre questiona sobre o que é</p><p>próprio dos surdos e também questiona sobre como alguém se constitui superior</p><p>aos surdos. Isto é, questiona as práticas normalizadoras dos ouvintes sobre os</p><p>surdos” (PERLIN; REZENDE, 2011, p. 28). As autoras ainda relatam que o padrão</p><p>de normalização da teoria tradicional é retirado sob a perspectiva cultural.</p><p>Apesar de sabermos que a didática cultural é a melhor opção metodológica,</p><p>é muito comum presenciarmos didáticas que se apoiam no aproveitamento de</p><p>restos auditivos e do oralismo, ou ainda, que reduzem o status linguístico da</p><p>língua de sinais, como se o ouvinte estivesse em um nível superior ao surdo</p><p>(PERLIN; REZENDE, 2011).</p><p>A didática cultural oportuniza “possibilidades teóricas e práticas de</p><p>questionar, indagar, discutir: o que aplicar em nossas atividades” (PERLIN;</p><p>REZENDE, 2011, p. 8). A transgressão pedagógica ocorre quando o planejamento</p><p>da aula para alunos surdos ocorre de forma diferente.</p><p>“Esta desconstrução no entender do professor surdo é o jeito de ensinar</p><p>que melhor aproxima o conhecimento do sujeito surdo e que faz dele um sujeito</p><p>que desenvolve atitudes próprias diante da vida e independência do ouvinte. É a</p><p>didática na forma cultural própria” (PERLIN; REZENDE, 2011, p. 34).</p><p>A didática cultural enxerga no surdo um sujeito multifacetado, um sujeito</p><p>capaz de construir sua própria história. Por isso, o currículo e a didática cultural</p><p>devem favorecer o fortalecimento da identidade e cultura surda. A didática na</p><p>educação de surdos deve ter como principal característica a aceitação da língua</p><p>de sinais como L1, possibilitando ao aluno surdo a capacidade de expressar-</p><p>se, trabalhando literatura, artes, política, entre outros temas tão importantes,</p><p>possibilitando avanço aos surdos.</p><p>A didática cultural exige do professor uma atitude proativa, que este se</p><p>incomode com o que realiza. Neste aspecto, o professor na educação de surdos,</p><p>que tem uma disposição de mudança, deve “[...] usar o planejamento de ensino</p><p>como uma estratégia e contestação para as nossas lutas pela cultura surda.”</p><p>(PERLIN; REZENDE, 2011, p. 35). Ou seja, o planejamento tem uma função</p><p>primordial na didática cultural.</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>45</p><p>O planejamento, na didática cultural, deve revelar:</p><p>[...] o que se coloca em movimento na atividade do professor, mas</p><p>também oferece posições, seja problematizando ou reproblematizando,</p><p>e ainda levantando questionamentos sobre como o ensino vai motivar</p><p>a questão cultural e política do sujeito da educação. [...] o professor</p><p>tende a levar o sujeito ao encontro do conhecimento, sempre o</p><p>situando na importância de buscar e motivar o conhecimento (PERLIN;</p><p>REZENDE, 2011, p. 7-8).</p><p>Na didática cultural, a identificação política e cultural é fator relevante no</p><p>processo ensino-aprendizagem, buscando o reconhecimento e a valorização da</p><p>Libras, rompendo com o tradicionalismo.</p><p>DICAS</p><p>Comumente, os profissionais na área da educação reclamam da falta de</p><p>materiais em Libras ou adaptados. Neste aspecto, recomendamos a você, acadêmico, que</p><p>participe do grupo no Facebook: ATIVIDADES PEDAGÓGICOS [sic] EM LÍNGUA DE SINAIS:</p><p>DESENHOS, ARTES E ARTESANATOS.</p><p>Este grupo tem como objetivo compartilhar, distribuir e trocar materiais didáticos em Libras.</p><p>Neste grupo você poderá acessar várias fotos de desenhos, artes, artesanatos em Libras,</p><p>além de atividades, jogos e apostilas em Libras para download gratuito.</p><p>Estas ideias ajudarão você, professor de Libras, e também as escolas de surdos/bilíngues/</p><p>inclusivas. Karin Strobel e Israel Cardoso são os administradores do grupo, ambos com vasta</p><p>experiência na educação de surdos. Trata-se de um material muito rico. Acesse!</p><p>Link para acesso ao grupo: https://www.facebook.com/groups/1467493686865352/</p><p>Planejar a educação de surdos, na perspectiva da didática cultural, está</p><p>diretamente relacionado ao professor selecionar temas que valorizem a cultura</p><p>surda, que coloquem o sujeito surdo como protagonista.</p><p>[...] a prática de planejar é poder estar em constante aprimoramento,</p><p>em que o professor é pesquisador, é questionador, é preocupado</p><p>com o aprendizado de seus alunos; quando nos deparamos com as</p><p>dificuldades de alunos, nos questionamos onde havia o erro didático,</p><p>o nosso planejar; claro que não podemos nos deter em aperfeiçoar</p><p>o nosso planejamento com o intuito de deixar tudo em ordem, em</p><p>sistematizar as aulas, devemos deixar em foco os planejamentos sob</p><p>suspeita, ou seja, planejar no ritmo da sala de aula, do aluno, com as</p><p>suas reais necessidades, com os seus questionares na sala de aula, isto</p><p>é, os professores, nesta situação, devem ser apenas mediadores do</p><p>ensino e não meros transmissores de conteúdos (PERLIN; REZENDE,</p><p>2011, p. 42).</p><p>46</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>Neste aspecto, Barbosa e Pietzak (2018) ainda contribuem quando nos</p><p>alertam sobre não estagnarmos, aplicando o mesmo plano de ensino ano após</p><p>ano. Os alunos carregam consigo um histórico familiar e social particular, o</p><p>que demanda de nós, profissionais da educação, um constante ir e vir no nosso</p><p>planejamento. Desta forma, percebemos que o planejamento flexível atende às</p><p>reais necessidades dos nossos alunos.</p><p>Perlin e Rezende (2011) apresentam outras temáticas utilizadas na didática</p><p>cultural com influência dos Estudos Culturais, tais como: Literatura Surda,</p><p>Políticas Educacionais de Surdos, História Cultural de Surdos, Dia do Surdo e</p><p>Crianças Surdas. Estas temáticas propiciam a construção de identidade do aluno</p><p>surdo, além de favorecer sua participação na comunidade surda.</p><p>A comunidade surda defende uma flexibilidade curricular adaptada à</p><p>real necessidade dos alunos surdos, respeitando a cultura surda e seus artefatos.</p><p>Desta forma, o currículo e a didática cultural contribuem significativamente, pois</p><p>respeitam os aspectos culturais e sociais dos surdos. Acreditamos que relembrar</p><p>e aprofundar tais conhecimentos embasarão solidamente sua atuação enquanto</p><p>professor de Libras.</p><p>Caro acadêmico, incentivamos você a continuar sua busca e aquisição de</p><p>conhecimento na educação de surdos. De forma alguma o conteúdo se encerra</p><p>aqui. Quanto maior o seu embasamento teórico, melhor e mais</p><p>tranquila será sua</p><p>trajetória acadêmica e profissional. Vamos adiante? Na Unidade 2, analisaremos</p><p>os aspectos políticos e a legislação vigente.</p><p>Caro acadêmico, sugerimos a leitura do capítulo IV do artigo Currículo e</p><p>educação de surdos, de Daniele de Paula Formozo (2008). Neste capítulo, a autora</p><p>disserta acerca da importância da implementação do currículo surdo.</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>47</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>[...]</p><p>IV CURRÍCULO SURDO</p><p>[...] todo currículo “quer” modificar alguma coisa em alguém, o que</p><p>supõe, por sua vez, alguma concepção do que é esse “alguém” que deve ser</p><p>modificado. [...] Ou seja, todo currículo carrega, implicitamente, alguma</p><p>noção de subjetivação e de sujeito: “quem nós queremos que eles e elas se</p><p>tornem?”; “o que eles e elas são?” (SILVA, 2003, p. 38).</p><p>A escola sempre pretende imprimir nos alunos determinados</p><p>comportamentos, sejam esses alunos surdos ou ouvintes. A organização do</p><p>espaço e do tempo é planejada para construir comportamentos pretendidos. Os</p><p>conhecimentos considerados como importantes, válidos, verdadeiros e científicos</p><p>são distribuídos em disciplinas através das séries. Toda essa organização compõe</p><p>o currículo, que é um território de saber-poder. Historicamente o currículo dos</p><p>surdos foi definido pelos ouvintes, que em sua maioria consideram o surdo</p><p>incapaz de decidir o que é melhor para si. Os professores entrevistados relataram</p><p>que os currículos, tanto nas escolas de surdos como nas escolas de inclusão,</p><p>são construídos por ouvintes, não sendo consideradas nos conteúdos questões</p><p>referentes à cultura e às identidades surdas.</p><p>Os Estudos Culturais contribuíram para alargar a noção do currículo, que</p><p>passou a ser problematizado. Assim, o currículo envolve outros sentidos além da</p><p>simples seleção de conteúdos e da metodologia para transmitir esses conteúdos.</p><p>A merenda, os livros didáticos, a seriação, os programas de formação continuada,</p><p>o controle do trabalho docente e a avaliação não são práticas naturais, que sempre</p><p>estiveram aí. Elas estão a serviço das estratégias de disciplinamento que tentam</p><p>formar determinados tipos de identidade que são resultado de disputas culturais</p><p>em torno da significação. Os Estudos Culturais têm problematizado essas e</p><p>outras práticas através da ótica cultural, visualizando uma disputa de poder</p><p>entre diferentes culturas que tentam se legitimar como referências culturais que</p><p>devem ser aprendidas como verdadeiras.</p><p>Na teorização introduzida pelos Estudos Culturais, sobretudo naquela</p><p>inspirada no pós-estruturalismo, a cultura é teorizada como campo</p><p>de luta entre os diferentes grupos sociais em torno da significação. A</p><p>educação e o currículo são vistos como campos de conflito em torno</p><p>de duas dimensões centrais da cultura: o conhecimento e a identidade</p><p>(SILVA, 2000, p. 32).</p><p>A partir das concepções pós-estruturalistas que norteiam este trabalho,</p><p>o conceito de currículo possui vários sentidos além da seleção de conteúdos</p><p>programáticos e da metodologia para transmitir esses conteúdos. Ele se faz</p><p>presente em todos os espaços escolares e tem importância fundamental na</p><p>construção das identidades, pois pretende inculcar determinados valores de</p><p>acordo com os interesses culturais de quem produz os textos curriculares.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>48</p><p>O currículo não é um artefato técnico, se não um dispositivo cultural e</p><p>social, um território político, um objeto de permanentes manipulações</p><p>e moldado de acordo com interesses específicos, pedagógicos ou não.</p><p>De fato, o currículo é um campo privilegiado no qual se manifesta o</p><p>conflito cultural e se reflete o debate sobre as desigualdades sociais</p><p>existentes (LUNARDI; SKLIAR, 2000, p. 12).</p><p>O currículo é construído através de relações de poder sobre quais</p><p>conhecimentos são (ou não) válidos na escola. As disputas de poder definem</p><p>os conhecimentos que são considerados legítimos. Diferentes grupos sociais</p><p>disputam entre si e tentam estabelecer sua hegemonia, tentando fazer valer seus</p><p>significados. O currículo está envolvido em processos de subjetivação. Através</p><p>dele a escola molda o aluno que pretende formar. Ou transformar. No caso dos</p><p>surdos, o currículo é um campo de disputa entre os interesses de poucos surdos</p><p>e de uma maioria ouvinte.</p><p>A supremacia dos professores ouvintes é o resultado de uma</p><p>política, historicamente determinada, de naturalização pedagógica</p><p>e de estabelecimento de uma normativa ouvinte no processo de</p><p>aprendizagem dos surdos (LUNARDI; SKLIAR, 2000, p. 13).</p><p>Os ouvintes narravam o surdo como alguém a quem faltava a audição</p><p>e era passível de ser curado, corrigido. Essas verdades foram construídas para</p><p>justificar o discurso oralista, que pretendia apagar as marcas da cultura surda,</p><p>baseada nos sinais. Segundo Lulkin (1998, p. 2):</p><p>[...] a ciência moderna e a busca das essências universais, tanto na</p><p>medicina como na filosofia, contribuíram para a quase hegemonia do</p><p>discurso da deficiência, descapacitando o sujeito surdo e subordinando</p><p>sua língua e sua cultura.</p><p>Não eram questionadas as relações de poder que construíram esse outro,</p><p>anormal, a partir de um mesmo, normal, o ouvinte, a quem é delegado o poder</p><p>de nomear e narrar o surdo e, inclusive, o poder de normalizá-lo. O ouvintismo</p><p>foi naturalizado. Como diz Veiga-Neto (2001, p. 113), “ao parecer uma operação</p><p>puramente epistemológica, a dicotomia esconde seu compromisso com a relação</p><p>de poder que estava na sua origem”. [...]</p><p>O currículo não produz apenas as identidades dos alunos, mas também</p><p>a dos professores. O currículo está embebido nas disputas de significados e na</p><p>produção de regimes de verdades. Foucault nos ensinou que existem micropoderes</p><p>descentrados, horizontais, organizados em rede, em um estado permanente</p><p>de luta entre diferentes concepções educativas. O mundo é constituído pela</p><p>linguagem, que compõe os discursos que produzem identidades, diferenças</p><p>e múltiplas realidades. Os discursos, ao se repetirem, instituem verdades</p><p>historicamente produzidas. Assim, o currículo se constitui como um sistema de</p><p>controle e regulação moral, sendo produto de disputas de poder que constroem</p><p>as identidades sociais, entre elas, as identidades surdas.</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>49</p><p>Em relação ao currículo, a questão não é saber se algo é verdadeiro,</p><p>mas sim saber por que esse algo se tornou verdadeiro. Na escola existem as</p><p>disciplinas, existem os programas para cada série. Os programas são organizados</p><p>pelas disputas de poder que definem parâmetros curriculares nacionais, através</p><p>dos quais são escritos os livros didáticos que balizam o trabalho dos professores.</p><p>A seleção de conteúdos é feita por pessoas que decidem o que é válido para a</p><p>educação do outro. Dificilmente é questionado o porquê de determinado conteúdo</p><p>ser considerado importante em detrimento de outros.</p><p>Na educação de surdos, particularmente, há uma tendência à simplificação</p><p>dos conteúdos, pois os alunos sempre estão “atrasados” em relação aos ouvintes.</p><p>Mas, ao fazer essa seleção, o professor pensa no tipo de aluno surdo que deseja</p><p>formar? Ou apenas pensa em simplificar tudo, por julgar que o surdo não tem</p><p>condições de aprender? No documento dos surdos (FENEIS, 1999) é contestada</p><p>essa prática de simplificação, reivindicando um currículo que atenda à necessidade</p><p>de formação dos alunos surdos.</p><p>15. Em educação, assegurar ao surdo o direito de receber os mesmos</p><p>conteúdos que os ouvintes, mas através de comunicação visual.</p><p>Formas conhecidas, em comunicação visual importantes para o ensino</p><p>do surdo são: línguas de sinais, língua portuguesa, e outras línguas no</p><p>que tange à leitura e escrita (FENEIS, 1999).</p><p>Na educação de surdos há pouca discussão curricular. As mudanças,</p><p>quando acontecem, são sugeridas pelos ouvintes a partir de adaptações de</p><p>currículos desenvolvidos nas escolas regulares.</p><p>Ainda há pouco questionamento acerca dos conteúdos listados nas</p><p>diferentes disciplinas, nem sob a forma como são transmitidos,</p><p>considerando-se</p><p>que o surdo possui uma modalidade de linguagem visuo-espacial e uma cultura</p><p>própria. A maioria dos professores pensa que basta utilizar-se do trabalho do</p><p>ILS para garantir que o aluno surdo acompanhe a aula. Assim, o currículo surdo</p><p>torna-se a adaptação de um currículo ouvinte. [...]</p><p>O currículo dos surdos é pensado a partir de práticas reducionistas: “a</p><p>escolha de alguns conteúdos em detrimento de outros e a utilização de textos</p><p>simplificados são alguns exemplos dessas práticas” (LOCKMANN, 2006, p. 67).</p><p>Essa infantilização dos conteúdos curriculares reflete a forma como o surdo é</p><p>narrado pelo ouvinte, como uma criança incapaz de compreender com alguma</p><p>profundidade as disciplinas da escola regular. De acordo com entrevistado 4:</p><p>“Currículo surdo, para mim, é o currículo ouvinte ensinado em Libras. O maior</p><p>cuidado seria não “destruir” a cultura surda. [...] Eu nem gosto de adaptação de</p><p>currículo, estão sempre adaptando, adaptando coisas”.</p><p>Muitos professores, apesar de dizerem que aceitam a Libras, a utilizam</p><p>apenas como uma ferramenta para o ensino da língua portuguesa, e “nunca</p><p>como instrumento mediador – semiótico e cultural – na construção do processo</p><p>educativo” (SKLIAR, 1997a, p. 40). Por várias razões, o professor dificilmente</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>50</p><p>domina a língua dos alunos, utilizando-se do trabalho do intérprete ou, quando</p><p>não há a presença desse profissional, utilizando alguns poucos sinais que mais</p><p>confundem do que auxiliam os surdos.</p><p>Os tópicos do currículo geralmente são expressos como questões de</p><p>tradução – como certos elementos podem ser apresentados na língua</p><p>da minoria. Nunca houve um exame das necessidades e habilidades</p><p>da minoria como uma base para a definição do currículo. É provável</p><p>que as crianças surdas continuem a fracassar nesse currículo – mesmo</p><p>se a língua de sinais for usada (KYLE, 1999, p. 20).</p><p>Como já referido anteriormente, um dos grandes problemas apontados na</p><p>educação de surdos é a pouca disposição dos professores ouvintes em aprender</p><p>Libras. Por diversas razões, principalmente pela sobrecarga de trabalho, em geral</p><p>eles não aprendem essa língua em um nível que lhes permita estabelecer uma</p><p>comunicação fluente que os levem a dispensar o intérprete. A falta de tempo</p><p>impede que eles participem da comunidade surda para atualizar-se na língua. Os</p><p>surdos, de forma geral, reclamam que seus professores não são fluentes em Libras</p><p>e acabam por desenvolver uma comunicação baseada no português sinalizado. A</p><p>falta de uma comunicação entre alunos surdos e professores ouvintes muitas vezes</p><p>inviabiliza os processos de aprendizagem. Em todas as entrevistas, os sujeitos</p><p>salientaram a importância de o professor ouvinte que trabalha com surdos ser</p><p>fluente em Libras, mesmo que haja a presença de intérpretes na sala de aula.</p><p>Neste sentido, ressalto as afirmações dos meus sujeitos: “Sobre a fluência</p><p>em Libras falta pesquisa, falta interesse, falta preocupação por parte dos</p><p>professores ouvintes” (Entrevista 2). Outro respondente também se manifesta</p><p>sobre a importância de o professor ouvinte saber Libras a fim de ser respeitado</p><p>pelo aluno surdo.</p><p>O professor precisa aprender Libras para se comunicar e também para</p><p>impor respeito aos alunos. O professor pode escolher em trabalhar</p><p>com ou sem intérprete na sala de aula, mas aprender Libras é muito</p><p>importante (Entrevistado 1).</p><p>Mas não é apenas a apropriação da Libras pelo professor ouvinte ou a</p><p>utilização do trabalho de um intérprete que qualificará a educação dos surdos</p><p>dentro da perspectiva bilíngue. É preciso reconhecer a Libras como primeira língua</p><p>do surdo e o Português escrito como segunda língua, e construir estratégias para</p><p>que o surdo possa se apropriar do Português escrito. E, principalmente, respeitar</p><p>a escrita do surdo, que muito dificilmente é semelhante à escrita ouvinte, pois</p><p>geralmente o surdo escreve com a estrutura da Libras, bem diferente da estrutura</p><p>utilizada no Português. Uma das respondentes fez uma observação importante a</p><p>respeito de a escola reconhecer o texto escrito por surdos e trabalhar a partir dele,</p><p>qualificando o ensino da língua portuguesa (L2):</p><p>Acho interessante trabalhar com textos escritos por surdos. Mas é</p><p>importante trabalhar com texto de ouvintes, porque o mundo é cheio</p><p>de textos de ouvintes. O surdo precisa se apropriar do Português,</p><p>precisa forçar e dominar o Português, é importante (Entrevistado 2).</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>51</p><p>Também é interessante analisar que os surdos consideram a oficialização</p><p>da Libras um passo importante, porém têm consciência de que esse é apenas</p><p>o início de uma longa luta no sentido de construir uma metodologia para a</p><p>educação de surdos.</p><p>Hoje, sobre a educação dos surdos, precisa uma metodologia própria</p><p>para surdos, precisa. Mas está ainda em construção, ainda falta muita</p><p>coisa para a educação dos surdos, por exemplo, Libras já é uma língua</p><p>oficial no Brasil, mas ainda está em construção porque falta mostrar a</p><p>realidade (Entrevistado 4).</p><p>É interessante ressaltar no depoimento do entrevistado 4 a consciência de</p><p>que a oficialização da Libras não resolveu nem resolverá sozinha os problemas da</p><p>educação dos surdos, pois não é somente essa marca surda – a língua de sinais –</p><p>que traduz a diferença surda. [...]</p><p>A possibilidade de elaboração de um currículo na educação dos surdos</p><p>precisa ser construída a partir da ideia de diferença como uma construção cultural e</p><p>histórica, que não tenta normalizar o surdo, mas sim problematizar essa diferença,</p><p>que é permeada por relações de poder. A cultura e a história dos surdos devem</p><p>fazer parte do currículo, como explicita o documento (FENEIS, 1999).</p><p>74. Fazer com que a escola de surdos insira no currículo as manifestações</p><p>da/s cultura/s surda/s: pintura, escultura, poesia, narrativas de história,</p><p>teatro, piadas, humor, cinema, história em quadrinhos, dança e artes</p><p>visuais, em sinais. A implantação de laboratórios de cultura surda se</p><p>faz necessária. 81. Conhecer a história surda e seu patrimônio, os quais</p><p>proporcionam o estabelecimento de sua identidade surda.</p><p>De acordo com o respondente 2, é necessário que o professor ouvinte</p><p>conheça a cultura surda.</p><p>Os ouvintes ensinam com a didática própria de ouvintes, é pouco,</p><p>só os ouvintes que ensinam para o surdo. É preciso que o professor</p><p>conheça a cultura surda e a história dos surdos, e ensine isso para os</p><p>alunos (Entrevistado 2).</p><p>Se entendemos que “todo o currículo quer modificar alguma coisa em</p><p>alguém” (SILVA, 2003, p. 37), não devemos olhar os surdos como alguém que</p><p>não precisa ser exigido, como alguém que pode aprender apenas aquilo que é</p><p>minimamente necessário para sua passagem de ano escolar, como alguém que</p><p>precise saber bem a língua de sinais, mas que não precisa aprender a ler e a</p><p>escrever (LOPES, 2006b, p. 10).</p><p>No entanto, muitas vezes os alunos concluem o Ensino Fundamental e</p><p>o Ensino Médio com grandes déficits nas habilidades de leitura e escrita. Ler</p><p>e compreender uma notícia no jornal local constitui-se em tarefa para poucos.</p><p>A escola não capacita os surdos a serem fluentes na língua portuguesa escrita.</p><p>Muitas vezes a aprovação acontece a partir de um ato de tolerância por parte do</p><p>professor, que se compadece do aluno surdo e o aprova, mesmo que esse aluno</p><p>não apresente as competências mínimas de leitura e interpretação. [...]</p><p>52</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>Em relação às dificuldades básicas na língua portuguesa escrita, bem</p><p>como às dificuldades básicas das demais disciplinas – que muitas vezes são</p><p>decorrentes da falta de competência em língua portuguesa escrita – é necessário</p><p>que se faça uma discussão curricular com a participação dos surdos a fim de</p><p>construir “princípios orientadores para a construção do que estão chamando de</p><p>currículo surdo” (LOPES, 2006a, p. 2).</p><p>No currículo dos surdos, o problema não é mais a suposta incapacidade</p><p>da pessoa surda, mas sim o discurso que foi construído a respeito</p><p>da surdez</p><p>(SILVA, 1997). A possibilidade de elaboração de um currículo na educação dos</p><p>surdos precisa ser construída a partir da ideia de diferença como uma construção</p><p>cultural e histórica, permeada por relações de poder (LUNARDI, 1998). O</p><p>currículo dos surdos deve ser discutido pelos surdos, a fim de que a disputa em</p><p>torno dos significados seja mais democrática e não parta somente da perspectiva</p><p>ouvinte. É necessário pensar a educação dos surdos a partir do conceito da</p><p>diferença, que não tenta capturar o surdo, que não tenta trazê-lo para os padrões</p><p>da norma ouvinte, mas oportuniza diferentes situações para que ele possa estar</p><p>em constante crescimento e transformação. Trata-se de trabalhar com a ideia de</p><p>que a diferença deve ser permanentemente problematizada. [...]</p><p>Sinto que a maioria dos alunos surdos que passa pelas escolas, sejam</p><p>elas especiais ou regulares, são aprovados apenas pela boa vontade de seus</p><p>professores. No CMP costumamos comentar que os alunos vêm da escola especial</p><p>sem apresentar pré-requisitos para ingressar no Ensino Médio. Porém, acabamos</p><p>por repetir o erro que tanto criticamos, pois muitos de nossos alunos também</p><p>concluem o Ensino Médio sem o mínimo de pré-requisitos necessários.</p><p>Penso que os professores ouvintes não acreditam no potencial do aluno</p><p>surdo, simplificando em demasia os conteúdos curriculares e exigindo pouco</p><p>dos alunos. Esse paternalismo ouvinte (LANE, 1992) prejudica a educação dos</p><p>surdos, e deve ser discutido juntamente com a questão curricular da qual trata</p><p>este trabalho. É necessário descolonizar esse currículo ouvintista que foi reduzido</p><p>com a intenção de facilitar a educação de surdos. Esse olhar ouvintizado aparece</p><p>tanto nos ouvintes como nos surdos, que muitas vezes se colocam na situação de</p><p>vítimas. É preciso que haja uma ruptura epistemológica e cultural para garantir a</p><p>educação solicitada pelos surdos nos documentos aqui citados. É preciso romper</p><p>as concepções ouvintistas e construir uma nova maneira de olhar para o aluno</p><p>surdo.</p><p>Não basta ter a garantia de um espaço surdo com professores</p><p>surdos, é preciso que a escola seja construída sobre outras bases e</p><p>outras concepções epistemológicas que possibilitem olhar os surdos</p><p>como sujeitos representantes de um grupo étnico-cultural específico</p><p>(LOPES, 2006a, p. 31).</p><p>Penso que é mais do que necessário estabelecer uma discussão baseada</p><p>em três eixos: currículo, educação de surdos e escola ouvinte. E essa discussão</p><p>deve ser feita com professores surdos e ouvintes. Os respondentes desta pesquisa</p><p>TÓPICO 3 | CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>53</p><p>falaram que a metodologia surda está sendo construída no curso de Letras–Libras,</p><p>que se constitui em um importante fórum de discussões entre surdos.</p><p>Mas vai demorar, porque não está nada pronto, tem que esperar.</p><p>Por enquanto ainda vai ter que continuar porque não existe uma</p><p>metodologia própria, mas a gente está indo nesse curso para se</p><p>apropriar dessas coisas. […] Os livros não são para surdos, o MEC não</p><p>tem nada pronto para surdos. Em 2010, aí sim vai ter, quando a gente</p><p>se formar sim, aí vai ter tudo isso. E a gente tem que continuar lutando</p><p>(Entrevista 3).</p><p>[...]</p><p>Os depoimentos dos surdos, sujeitos dessa pesquisa, mostram o desejo</p><p>por escolas que se diferenciem das escolas especiais que existem. Eles querem</p><p>uma escola de surdos pensada e construída por surdos. Eles querem uma escola</p><p>de surdos, com metodologia discutida para surdos, com respeito à língua de</p><p>sinais e às demais marcas surdas, com um currículo organizado por e para surdos,</p><p>uma escola que prepare os alunos para o mundo ouvinte, em que o surdo tenha</p><p>sua diferença e sua cultura respeitada para além do discurso da tolerância e da</p><p>benevolência. O currículo está sendo construído e reconstruído em muitas salas</p><p>de aula de alunos surdos cotidianamente, através da experiência que atravessa os</p><p>surdos alunos e professores, que forma e transforma esses sujeitos, que propõe</p><p>outras relações, outras práticas, práticas outrora impensadas que possibilitam</p><p>que a surdez seja narrada a partir do olhar surdo (LOPES, 2007). A resistência</p><p>da comunidade surda e o apoio de pesquisadores, educadores e ouvintes, assim</p><p>como de ILS pode configurar mudanças importantes na discussão curricular da</p><p>educação de surdos. [...]</p><p>FONTE: <https://goo.gl/YZj2j4>. Acesso em: 19 nov. 2018.</p><p>54</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• “Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-</p><p>lo, a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções</p><p>visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas”</p><p>das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as</p><p>crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo” (STROBEL, 2008, p. 24).</p><p>• Reconhecer e valorizar a cultura surda, no contexto educacional, possibilita ao</p><p>aluno surdo construir sua identidade com senso de pertencimento a um grupo</p><p>social com interesses e objetivos em comum.</p><p>• A estrutura do currículo pode ou não empoderar os surdos. O currículo cultural</p><p>possui uma proposta pedagógica diferenciada, necessariamente bilíngue e, por</p><p>isso, auxilia na construção da identidade surda.</p><p>• Quadros (1997, p. 32) nos alerta quando afirma que o currículo em uma escola</p><p>bilíngue deve incluir os conteúdos de uma escola comum. “A escola deve ser</p><p>especial para surdos, mas deve ser, ao mesmo tempo, uma escola regular de</p><p>ensino”.</p><p>• Barbosa e Pietzak (2018, p. 139) afirmam que “a didática cultural rompe com o</p><p>modelo ouvinte de educação, questiona as práticas normalizadoras ouvintes,</p><p>questiona quem é o sujeito surdo, quem deve elaborar o currículo e a didática</p><p>dos surdos”.</p><p>• A didática cultural enxerga no surdo um sujeito multifacetado, um sujeito</p><p>capaz de construir sua própria história. Por isso, o currículo e a didática cultural</p><p>devem favorecer o fortalecimento da identidade e cultura surda. A didática na</p><p>educação de surdos deve ter como principal característica a aceitação da língua</p><p>de sinais como L1, possibilitando ao aluno surdo a capacidade de expressar-</p><p>se, trabalhando literatura, artes, política, entre outros temas tão importantes,</p><p>possibilitando avanço aos surdos.</p><p>• Na didática cultural, a identificação política e cultural é fator relevante no</p><p>processo ensino-aprendizagem, buscando o reconhecimento e a valorização da</p><p>Libras, rompendo com o tradicionalismo.</p><p>55</p><p>1 Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de</p><p>modificá-lo, a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o</p><p>com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição</p><p>das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas.</p><p>Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os</p><p>hábitos do povo surdo (STROBEL, 2008, p. 24). De acordo com a citação da</p><p>autora surda, escreva quais são os artefatos que fazem parte da cultura surda.</p><p>2 Vimos a importância do planejamento tanto na educação de surdos</p><p>quanto de ouvintes, pois, sem orientação, o professor não consegue</p><p>saber onde pretende chegar. De acordo com os itens a seguir,</p><p>assinale aquele que não está envolvido no planejamento escolar:</p><p>a) ( ) Reflexão.</p><p>b) ( ) Tomada de decisões.</p><p>c) ( ) Avaliações objetivas.</p><p>d) ( ) Proposta pedagógica.</p><p>e) ( ) Nenhuma das alternativas.</p><p>3 A didática cultural enxerga no surdo um sujeito multifacetado,</p><p>um sujeito capaz de construir sua própria história. Por isso, o</p><p>currículo e a didática cultural devem favorecer o fortalecimento</p><p>da identidade e cultura surda. Com base nesta informação,</p><p>assinale a alternativa que contempla a característica indispensável referente</p><p>à didática na educação de surdos:</p><p>a) ( ) Aceitar a educação bilíngue a partir das séries finais, levando em conta</p><p>a maturidade do aluno surdo.</p><p>b) ( ) Incluir o aluno surdo em todas as atividades extraclasse frequentadas</p><p>pelos ouvintes, pois ele precisa estar integrado à cultura majoritária.</p><p>c) ( ) Levar em consideração que o aluno</p><p>surdo terá a língua portuguesa</p><p>como sua língua materna, isto é, L1.</p><p>d) ( ) Entender que o aluno surdo provém de uma família ouvinte, portanto</p><p>terá Libras como sua segunda língua, no caso, L2.</p><p>e) ( ) A aceitação da língua de sinais como L1, possibilitando ao aluno surdo</p><p>a capacidade de expressar-se, trabalhando literatura, artes, política,</p><p>dentre outros temas tão importantes, possibilitando avanço aos surdos.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>56</p><p>57</p><p>UNIDADE 2</p><p>LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS</p><p>– ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS</p><p>DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO –</p><p>TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• compreender conceitos sobre linguagem e fala;</p><p>• assimilar a estrutura gramatical das línguas orais e de sinais;</p><p>• mostrar conceitos de tradução e interpretação das línguas orais e de sinais;</p><p>• analisar algumas problemáticas no contexto de tradução e interpretação;</p><p>• identificar os espaços de atividades do Tradutor Intérprete de Libras e</p><p>Língua Portuguesa –TILSP;</p><p>• apontar o uso de tecnologias assistivas para a comunidade surda e</p><p>ouvinte.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você</p><p>encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA</p><p>EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>TÓPICO 2 – LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE</p><p>CONTEXTO: TEÓRICO, COGNITIVO E PRÁTICO</p><p>TÓPICO 3 – LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS</p><p>À COMUNIDADE SURDA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>58</p><p>59</p><p>TÓPICO 1</p><p>ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS:</p><p>GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA</p><p>ORGANIZAÇÃO</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Na Unidade 1, refletimos sobre a aquisição de Libras como L1 e língua</p><p>portuguesa como L2 para os surdos. Estudamos sobre a importância de um</p><p>currículo e uma didática voltada para o ensino-aprendizagem dos surdos.</p><p>Neste tópico iremos retomar, para sua melhor compreensão, as gramáticas</p><p>da LO e LS como um ramo da linguística fundamental para o estudo das línguas</p><p>e seus diversos fenômenos. Tendo em mente que os conceitos sobre a língua e a</p><p>linguagem vêm de diferentes teorias estudadas, todos destacam a importância de</p><p>entender suas regras gramaticais.</p><p>FIGURA 1 – GRAMÁTICA</p><p>[...] A língua de sinais é um aspecto fundamental da cultura</p><p>surda. No entanto, incluem-se também os gestos denominados</p><p>“sinais emergentes” ou “sinais caseiros” dos sujeitos surdos</p><p>[...]. Strobel (2018, p. 52).</p><p>FONTE: <https://ojornaldebatatais.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Gramatica.jpg>.</p><p>Acesso em: 7 dez. 2018.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>60</p><p>Veja uma definição conforme o Dicionário Brasileiro Globo: “Gramática é</p><p>sistematização, dos fatos de uma língua. Sistematização dos usos da linguagem considerada</p><p>padrão”.</p><p>FONTE: Dicionário Brasileiro Globo/Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft, F. Marques</p><p>Guimarães. 44. Ed. São Paulo: Globo, 1996. p. 322.</p><p>NOTA</p><p>2 TIPOS DE LINGUAGEM</p><p>Embora a gramática determine as condições de uso da língua no sentido de</p><p>respeitar suas regras, seja ela oral ou visual, ela não procura estabelecer o “certo”</p><p>e o “errado” nas práticas discursivas, pois tal visão apenas abarcaria somente a</p><p>análise da norma culta, aquela que segue a gramática normativa, engessada, sem</p><p>considerar erros na linguagem, fala e, principalmente, na escrita.</p><p>Portanto, a gramática está relacionada diretamente com a linguagem</p><p>como um atributo do ser humano. A linguagem passa por várias definições,</p><p>articulada ou não ao uso da palavra, escrita ou símbolo, como meio de expressão</p><p>e de comunicação entre as pessoas.</p><p>Assim, entendemos por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos</p><p>empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e</p><p>sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. Além disso, envolve escolhas</p><p>lexicais segundo a gramática de cada língua, conforme a autora Quadros, Pizzio e</p><p>Rezende (2009, p. 4) nos diz: “A habilidade da linguagem, por exemplo, tem vários</p><p>componentes (fonológicos, morfológicos, sintáticos, entoacionais, discursivos)”.</p><p>Portanto, se a linguagem é constituída por um conjunto de componentes,</p><p>sujeito a regras, concluímos que é necessária a percepção dos nossos sentidos,</p><p>independentemente de sermos ouvintes e/ou surdos, cujo resultado é efetivar</p><p>uma comunicação na modalidade em que a língua se apresenta. Descrito o</p><p>processo da linguagem, passemos para os tipos de linguagem:</p><p>• Linguagem verbal: a linguagem verbal é aquela que faz uso das palavras para</p><p>comunicar algo.</p><p>• Linguagem não verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação,</p><p>que não são as palavras. Dentre eles estão as placas e sinais de trânsito, a</p><p>linguagem corporal, figura, um gesto, uma mímica, línguas de sinais etc.</p><p>• Linguagem híbrida: quando se usa a linguagem verbal e a não verbal (símbolos)</p><p>concomitantemente.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>61</p><p>FIGURA 2 – LINGUAGEM VERBAL, NÃO VERBAL E HÍBRIDA</p><p>FONTE: <http://www.coladaweb.com/files/linguagem-nao-verbal.jpg>.</p><p>Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>FIGURA 3 – LINGUAGEM NÃO VERBAL</p><p>FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/librasjulia-160605015947/95/apostila-com-</p><p>atividades-de-libras-6-638.jpg?cb=1494590947>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>São inúmeras as áreas das linguagens, se considerarmos as esferas de</p><p>comunicação da humanidade, um exemplo de seu alcance é a língua artificial,</p><p>muito usada na tecnologia. Assim, a linguagem abrange todos os campos em que</p><p>o ser humano está inserido, pois está ligada diretamente aos nossos pensamentos,</p><p>nossas emoções e ações.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>62</p><p>ATENCAO</p><p>O que é língua artificial? Segundo o Dicionário de Termos Linguísticos,</p><p>o conceito de língua artificial opõe-se ao de língua natural. Uma língua artificial é uma</p><p>linguagem que corresponde a um constructo teórico que é utilizado em vários domínios</p><p>científicos e tecnológicos.</p><p>FONTE: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/lingua-artificial/21194>. Acesso</p><p>em: 7 dez. 2018.</p><p>3 FALA</p><p>A fala está convencionada aos meios que temos para usar a língua e a</p><p>linguagem. Percebemos que a linguística moderna, na maioria prioriza a língua</p><p>falada em relação à língua escrita, e um dos motivos é o fato de que todas as</p><p>sociedades humanas que conhecemos possuem a capacidade da fala.</p><p>Assim, optamos pela definição de Saussure (1969, p. 22), o grande mestre</p><p>em linguística, que descreve bem este processo, cabendo a qualquer sujeito</p><p>de qualquer comunidade linguística: “a fala é um ato individual de vontade e</p><p>inteligência no qual convém distinguir: 1º as combinações pelas quais o falante</p><p>realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 2º o</p><p>mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações”.</p><p>Como você pôde notar, caro acadêmico, a fala faz parte de qualquer ser</p><p>humano, uma vez que exterioriza as combinações do código de sua língua. Os</p><p>nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato) são fundamentais para desenvolver</p><p>a linguagem e produzir a fala. Assim, quando convencionamos a fala, a língua e</p><p>a linguagem, acontece também uma escrita, seja por letras, símbolos ou gestos.</p><p>FIGURA 4 – FALA: LÍNGUAS ORAIS/SINALIZADAS</p><p>FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRFaLMjfx9KODuXO8-</p><p>YeYEdKKGVQvu7-iM8Ihbw2MFjZ3AeSqc-vg>. Acesso em: 7 dez. 2018.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>63</p><p>Comunidades surdas participam de comunidades ouvintes que usam</p><p>a fala como o processo mecânico de comunicação. Dito desta maneira, a fala</p><p>faz parte da língua de sinais, talvez não no sentido de um processo mecânico</p><p>fonoarticulatório como os ouvintes falantes, mas como falantes de uma</p><p>linguagem</p><p>não verbal característica das línguas sinalizadas. Por isso, vamos relembrar as</p><p>categorias/modalidades das línguas orais e de sinais brevemente. Vamos lá?</p><p>4 CATEGORIAS DAS LÍNGUAS</p><p>A linguística é amparada pelas suas teorias, que têm dentre as suas</p><p>finalidades identificar o que é comum entre as línguas sinalizadas e as línguas</p><p>orais, se preocupando em provar se aquela língua é ou não natural. Após</p><p>referenciais já estudados, sabemos que, enquanto as línguas orais apresentam-se</p><p>na modalidade oral-auditiva, as línguas de sinais são produzidas na modalidade</p><p>espaço-visual.</p><p>Esse entendimento se deu principalmente desde o trabalho de Stokoe</p><p>(1960), em que se tem a certeza do status linguístico das Línguas de Sinais – LS</p><p>– e da existência de uma gramática com seus níveis linguísticos (morfológico,</p><p>fonológico, sintático, semântico e pragmático) bem estruturados. Mais tarde</p><p>descobriu-se que as línguas sinalizadas não são ágrafas, mas possuem uma escrita.</p><p>Em âmbito mundial, os estudos nas línguas orais e línguas sinalizadas</p><p>têm revelado similaridades em vários campos, bem como algumas diferenças.</p><p>ATENCAO</p><p>O que é Língua? Segundo Saussure (1969, p. 27), “uma soma de sinais</p><p>depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos</p><p>idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos”.</p><p>4.1 GRAMÁTICA DA LP COMO L2 –</p><p>BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>Considerando que tanto o surdo como os ouvintes participam de</p><p>comunidades semelhantes, no sentido de dividirem os mesmos espaços, seja</p><p>ele pedagógico ou social, a comunidade Surda é sabedora da importância da LP</p><p>escrita como instrumento de linguagem em nosso país. Assim, não teríamos como</p><p>descrever a gramática da Libras sem contextualizar a gramática da LP. Vamos lá?</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>64</p><p>Iniciamos descrevendo o alfabeto em LP como o conjunto ordenado de</p><p>símbolos/letras usados para formar as palavras. No nosso país se faz uso do</p><p>alfabeto latino, composto por 26 (vinte e seis) letras. Algumas letras têm origem</p><p>estrangeira, são elas: K, W, Y, que foram incorporadas ao alfabeto da LP devido à</p><p>utilização delas na nossa linguagem.</p><p>Vamos continuar subdividindo as caraterísticas gramaticais em LP com</p><p>estudos sucintos em níveis ou planos, segundo a concepção das autoras Tafner e</p><p>Oliveira (2016), professoras de conteúdos EAD.</p><p>• A fonologia: estuda o comportamento e a organização dos sons da fala.</p><p>Acompanhe a explicação segundo Tafner e Oliveira (2016, p. 18), em seus</p><p>termos:</p><p>Nesse plano estão incluídos e devem ser levados em consideração:</p><p>fonema e grafema e suas relações; consoantes; vogais e semivogais;</p><p>formação de sílabas e palavras; encontros consonantais; dígrafos; as</p><p>aliterações e mesmo as rimas, porque elas constituem um aspecto</p><p>fônico bastante importante na escrita poética.</p><p>Entendemos, assim, que é a partir da compreensão e habilidade dos sons</p><p>que se produz uma consciência fonológica, tão importante para o nosso ensino-</p><p>aprendizagem relacionado à língua e sua escrita. Do ponto de vista etimológico,</p><p>fonologia e fonética fundem-se, já que para ambas compete o “estudo dos sons”.</p><p>Conforme descrito por Silva (1999, p. 126), “um dos objetivos de uma</p><p>análise fonêmica é definir quais são os sons de uma língua que têm valor distintivo</p><p>(servem para distinguir palavras), sons que estejam em oposição – por exemplo [f]</p><p>e [v] em “faca” e “vaca” – são caracterizados como unidades fonêmicas distintas</p><p>e são denominados fonemas.</p><p>• A morfologia estuda as palavras isoladamente, bem como a sua estrutura e</p><p>formação. É nessa parte da gramática que conhecemos as dez classes gramaticais:</p><p>substantivo, verbo, adjetivo, pronome, artigo, numeral, preposição, conjunção,</p><p>interjeição e advérbio. Tafner e Oliveira (2016, p. 19) seguem: “A unidade de</p><p>estudo deste nível é o morfema, considerado o menor signo da língua, porque</p><p>é uma unidade mínima significativa”.</p><p>As autoras Tafner e Oliveira (2016, p. 20) complementam dizendo que os</p><p>morfemas podem ser divididos em:</p><p>[...] morfemas gramaticais e os morfemas lexicais. Os primeiros têm</p><p>um significado que se restringe ao campo linguístico. As flexões</p><p>de gênero, número, grau, pessoas etc. são exemplos de morfemas</p><p>gramaticais. Já o segundo diz respeito aos morfemas que extrapolam o</p><p>campo linguístico, possuindo um significado extralinguístico [...].</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>65</p><p>FIGURA 5 – CLASSES DE PALAVRAS NA LP</p><p>FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-AJwardzj64Y/WSjG3jzMV_I/AAAAAAAAAGk/Z-yRoGDoKnghY</p><p>Kyvra39FS15mK69b2uKQCLcB/s1600/Sem%2Bt%25C3%25ADtulo.png>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>• A sintaxe estuda as palavras e sua função nas orações/frases. É o que Tafner e</p><p>Oliveira (2016, p. 23) afirmam:</p><p>Ele é o responsável pela organização das frases e discursos.</p><p>Quando observamos este nível, devemos considerar a relação entre</p><p>determinantes, substantivos e adjetivos; a organização do período</p><p>simples; a organização do período composto; a organização do</p><p>parágrafo; a coesão gramatical [...].</p><p>• A semântica estuda os sentidos das palavras de uma língua. Na língua</p><p>portuguesa, durante o texto, espera-se que haja uma harmonia que permita</p><p>a atribuição de significados, de sentidos, ao todo. Conforme Tafner e Oliveira</p><p>(2016, p. 25):</p><p>Destacam-se três propriedades: sinonímia (palavras que apresentam</p><p>mesma significação); antonímia (palavras que apresentam significações</p><p>distintas ou opostas); polissemia (palavras que possuem múltiplos</p><p>significados, ou seja, podem variar de significado de acordo com o</p><p>contexto comunicativo.</p><p>• A pragmática refere-se ao uso da linguagem nas situações comunicativas.</p><p>Sobre este nível, as autoras Tafner e Oliveira (2016, p. 26) explicam:</p><p>[...] quem fala/escreve; para quem; sobre o quê; quando; como; onde.</p><p>A pragmática dedica-se a estudar o significado que as palavras</p><p>adquirem no contexto comunicacional em que são proferidas,</p><p>levando em consideração os diversos aspectos da cadeia comunicativa</p><p>(enunciador, enunciatário, mensagem, intenção, contexto etc.).</p><p>Outro aspecto a se considerar sobre as línguas naturais são suas variações</p><p>linguísticas. Na LP as mais conhecidas são:</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>66</p><p>• Variantes diafásicas: variantes que ocorrem em virtude do contexto</p><p>comunicativo.</p><p>• Variante histórica: a língua, assim como a sociedade, vai sofrendo</p><p>modificações ao longo do tempo, adequando-se às exigências</p><p>sociais. As mudanças de grafia das palavras, as abreviações etc.</p><p>• Variante diatópica ou regional: cada região apresenta uma forma de</p><p>falar diferente (os sotaques) e vocabulários próprios.</p><p>• Variações diastráticas: variantes ocorridas em virtude dos grupos sociais.</p><p>Enquadram-se neste grupo os jargões técnicos, as gírias, a linguagem</p><p>popular (caipira) etc. (TAFNER; OLIVEIRA, 2016, p. 31-33).</p><p>Observe um exemplo de variação diatópica ou regional na LP:</p><p>FIGURA 6 – VARIAÇÃO PALAVRA: PÃO</p><p>Carequinha</p><p>REGIÃO NORTE</p><p>Cacetinho</p><p>RIO GRANDE DO SUL</p><p>Pão aguado</p><p>INTERIOR DO NORDESTE</p><p>Pão de sal</p><p>RIO DE JANEIRO</p><p>Carioquinha</p><p>CEARÁ</p><p>Carcaça ou Cacete</p><p>PORTUGAL</p><p>FONTE: <http://salesianorn.com.br/dombosco/wp-content/uploads/2017/03/Varia__o_Lingu_</p><p>stica.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>Descritas brevemente as subdivisões gramaticais da língua portuguesa</p><p>como L2 escrita para surdos, e como L1 falada e escrita para ouvintes, adentraremos</p><p>agora na gramática da Libras como L1 para surdos e L2 para ouvintes.</p><p>4.2 GRAMÁTICA EM LIBRAS – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>A experiência tem mostrado que quem mais tem procurado aprender</p><p>Libras são: profissionais surdos/ouvintes ligados à área da surdez; pessoas que</p><p>se relacionam com surdos e querem atuar como TILSP e, em seguida, familiares</p><p>de surdos interessados em efetivar uma comunicação com qualidade.</p><p>Concordamos que o conhecimento</p><p>5.1.2 Abordagem Linguística .......................................................................................................13</p><p>5.1.3 Abordagem Interacionista ..................................................................................................13</p><p>6 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM EM CRIANÇAS SURDAS .....................................................14</p><p>6.1 ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM .....................................................................14</p><p>6.1.1 Período Pré-Linguístico ......................................................................................................14</p><p>6.1.2 Estágio de um Sinal .............................................................................................................15</p><p>6.1.3 Estágio das Primeiras Combinações .................................................................................16</p><p>6.1.4 Estágio das Múltiplas Combinações .................................................................................16</p><p>7 TEORIAS SOBRE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ...................................................................18</p><p>7.1 PIAGET ...........................................................................................................................................18</p><p>7.2 VYGOTSKY .....................................................................................................................................18</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................22</p><p>TÓPICO 2 – AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2 ..........25</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................25</p><p>2 AQUISIÇÃO DE L2 ............................................................................................................................26</p><p>2.1 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA</p><p>PARA SURDOS ..............................................................................................................................27</p><p>3 ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DE L2 ...............................................................................................32</p><p>3.1 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL1) ..................................................................................................33</p><p>3.2 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL2) ..................................................................................................34</p><p>3.3 ESTÁGIO INTERLÍNGUA (IL3) ..................................................................................................34</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................36</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................37</p><p>sumário</p><p>VIII</p><p>TÓPICO 3 – CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS ...............................39</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................39</p><p>2 CULTURA SURDA .............................................................................................................................39</p><p>3 CURRÍCULO CULTURAL ................................................................................................................40</p><p>4 CONTRIBUIÇÕES DO CURRÍCULO CULTURAL ....................................................................41</p><p>5 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA DIDÁTICA .........................................................43</p><p>5.1 DIDÁTICA CULTURAL NA EDUCAÇÃO DE SURDOS .......................................................43</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................47</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................54</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................55</p><p>UNIDADE 2 – LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS –</p><p>ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E</p><p>INTERPRETAÇÃO – TECNOLOGIA ASSISTIVA .............................................57</p><p>TÓPICO 1 – ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA</p><p>EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO ..............................................................59</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................59</p><p>2 TIPOS DE LINGUAGEM ...............................................................................................................60</p><p>3 FALA .....................................................................................................................................................62</p><p>4 CATEGORIAS DAS LÍNGUAS ......................................................................................................63</p><p>4.1 GRAMÁTICA DA LP COMO L2 – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO .................................63</p><p>4.2 GRAMÁTICA EM LIBRAS – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................66</p><p>5 PARÂMETROS DAS LÍNGUAS DE SINAIS ...............................................................................69</p><p>5.1 ORGANIZAÇÕES FONOLÓGICAS EM LIBRAS ...................................................................72</p><p>5.2 SISTEMA MORFOLÓGICO EM LIBRAS ..................................................................................73</p><p>5.3 ASPECTOS SINTÁTICOS EM LIBRAS .....................................................................................75</p><p>5.4 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS EM LIBRAS .................................................76</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................80</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................82</p><p>TÓPICO 2 – LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO:</p><p>TEÓRICO, COGNITIVO E PRÁTICO .......................................................................85</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................85</p><p>2 OS ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO E SEUS CONCEITOS .....................85</p><p>3 MODELOS DE INTERPRETAÇÃO/TRADUÇÃO APLICADA ÀS LÍNGUAS ORAIS ......88</p><p>4 TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS – CONCEITO E FORMAÇÃO ...........................91</p><p>5 TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO APLICADA AS LÍNGUAS DE SINAIS ........................96</p><p>6 ASPECTOS GERAIS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO .................................................99</p><p>6.1 ESTRATÉGIAS/DESAFIOS/EXPECTATIVAS ...........................................................................100</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................102</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103</p><p>TÓPICO 3 – LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À</p><p>COMUNIDADE SURDA ..............................................................................................105</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105</p><p>2 AMBIENTES DE ATUAÇÃO DO TILSP ......................................................................................105</p><p>2.1 CONTEXTO EDUCACIONAL ....................................................................................................105</p><p>se constrói durante o processo de</p><p>aprendizagem, não é mesmo? Por isso, convido você a retomar seus estudos na</p><p>gramática em Libras, não objetivando estudá-la novamente em todos os seus</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>67</p><p>aspectos, mas no sentido de rever suas principais características gramaticais e</p><p>aumentar seus conhecimentos.</p><p>Dessa forma, destacamos uma das grandes precursoras dos estudos</p><p>linguísticos de Libras, a autora Lucinda Ferreira Brito (1995). Ela discorre sobre</p><p>sua estrutura descrevendo-a como uma língua tão natural como as línguas orais,</p><p>veja: “As línguas de sinais são línguas naturais porque, como as línguas orais,</p><p>surgiram espontaneamente da interação entre pessoas [...]” (BRITO, 1995, p. 19).</p><p>Desmistificamos então um dos mitos envolvendo as línguas de sinais, que</p><p>são somente um conjunto de gestos que interpreta as línguas orais. Refletimos</p><p>anteriormente sobre o alfabeto na LO. Agora veremos sobre o “alfabeto</p><p>datilológico ou manual”, próprio de línguas sinalizadas, que diferente da LP,</p><p>tem 27(vinte e sete) letras, com a inclusão da letra (Ç).</p><p>O alfabeto datilológico ou manual é usado para escrita de palavras que</p><p>não possuem o sinal, descrever nomes próprios de pessoas ou lugares, símbolos,</p><p>siglas, ou mesmo como recurso para quem está iniciando seu aprendizado em</p><p>Libras.</p><p>FIGURA 7 – ALFABETO DATILOLÓGICO OU MANUAL</p><p>FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/apurezadosilncio-100731100749-phpapp02/95/a-</p><p>pureza-do-silncio-34-728.jpg?cb=1280571840>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>68</p><p>E como toda língua, as línguas de sinais vão aumentando seu vocabulário,</p><p>com novos sinais/palavras introduzidos pelas comunidades surdas em resposta</p><p>às mudanças culturais e tecnológicas, assim, a cada necessidade surge um novo</p><p>sinal criado pela comunidade surda.</p><p>Outrossim, como fazendo parte da gramática de Libras temos também os</p><p>numerais, assim como nas línguas orais, é como se fosse uma palavra com função</p><p>de número. Estão divididos em: ordinais, cardinais, quantitativos e monetários.</p><p>FIGURA 8 – NUMERAIS EM LIBRAS</p><p>FONTE: <http://www.cursodelibras.org/wp-content/uploads/2017/07/numeros-em-libras.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o documento a seguir: Sistema de numeração em Libras, e se aprofunde nos</p><p>numerais em Libras: http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/13252728042015Lingua_</p><p>Brasileira_de_Sinais_Libras_Aula_9.pdf</p><p>O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-</p><p>auditivas é denominado sinais nas línguas sinalizadas. Por isso compartilhamos</p><p>o pensamento das autoras Felipe e Monteiro (2006, p. 21):</p><p>Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das</p><p>mãos com um determinado formato em um determinado lugar,</p><p>podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente</p><p>ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos</p><p>fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros [...].</p><p>CARDINAIS</p><p>QUANTIDADE</p><p>ORDINAIS</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>69</p><p>FIGURA 9 – PALAVRA/SINAL</p><p>FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-ZYEPAEhJ-xQ/VTRwpxI1U3I/AAAAAAAAADE/8j8177wleGM/</p><p>s1600/hj.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Caro acadêmico, então chegamos mais uma vez aos estudos que mostram</p><p>a estruturação em Libras para utilização de um sistema de comunicação. Isso se dá</p><p>por meio de um conjunto de unidades que são compostas pelas configurações de</p><p>mãos (CM), pelas locações (L) e pelos movimentos (M), Expressões não manuais</p><p>(ENM) ou expressões corporais e faciais e orientação (O) e direção (D). Vamos lá?</p><p>5 PARÂMETROS DAS LÍNGUAS DE SINAIS</p><p>FIGURA 10 – PARÂMETROS EM LIBRAS</p><p>FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-xWd9Ii6uZt-bxEWZLwk8</p><p>y8pMqR0bjDqgKPQhTHaS1LESvdju4w>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Compreenda esses parâmetros ou conjunto de unidades primários em</p><p>Libras:</p><p>• Configuração da(s) mão(s) é a forma da(s) mão(s) presente no sinal. Na Libras,</p><p>hoje, já existem mais de 64 configurações (CM). Elas são feitas pela mão</p><p>dominante (mão direita para os destros) ou pelas duas mãos, dependendo do</p><p>sinal.</p><p>• Ponto de articulação/locação é o lugar onde incide a mão predominante</p><p>configurada, pode ou não tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço</p><p>neutro vertical (do meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do</p><p>emissor).</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>70</p><p>• Movimento é o deslocamento da mão no espaço durante a execução dos sinais,</p><p>alguns sinais não têm movimento, são estáticos/parados. Um ponto a destacar</p><p>sobre esse parâmetro são as formas ao fazer um deslocamento ou movimento,</p><p>ele segue um padrão criado para aquele sinal, conforme mostra a figura a</p><p>seguir:</p><p>Além desses três parâmetros primários, temos os parâmetros secundários,</p><p>que são importantes para dar significação ao sinal.</p><p>• Orientação/direcionalidade: os sinais podem ter uma orientação e direção,</p><p>mas uma inversão desta direção e orientação pode significar oposição em</p><p>relação àquele sinal. Veja a seguir o exemplo de incorporação do movimento</p><p>do mesmo sinal, porém, invertido:</p><p>FIGURA 11 – SINAIS: OPOSIÇÃO ORIENTAÇÃO/DIREÇÃO</p><p>GOSTAR NÃO GOSTAR</p><p>FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/cursodelibras1aula-090920210221-phpapp01/95/</p><p>curso-de-libras-1-aula-7-728.jpg?cb=1253480607>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>• Expressão facial e/ou corporal: esse parâmetro é um traço diferenciador na</p><p>realização do sinal, podendo expressar sensações, emoções etc., como os</p><p>exemplos de sinais: ALEGRE e TRISTE. Há ainda sinais em que os sons se</p><p>completam com as expressões faciais e corporais, como os sinais HELICÓPTERO</p><p>e MOTO ao inflar a bochecha.</p><p>FIGURA 12 – EXPRESSÕES NÃO MANUAIS</p><p>FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-AIYe8UuHjFQ/WShvARqYs7I/AAAAAAAAJH4/0hehyMO-</p><p>4OMMOTi3giey3FutgUpB9QpNwCLcB/s1600/22.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>71</p><p>FIGURA 13 – HELICÓPTERO</p><p>FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-xc7nAccum6c/U0w2BWtvyjI/AAAAAAAAFek/TgDZf2DI2Co/</p><p>s1600/Slide58.JPG>. Acesso em: 10 dez. 2018</p><p>O que são Parâmetros? É o mesmo que: regras, paradigmas, critérios, modelos,</p><p>normas, padrões.</p><p>FONTE: <https://www.dicio.com.br/parametros/>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Após combinar todos esses parâmetros e formar o sinal/palavra,</p><p>resgataremos alguns pontos importantes incluídos na gramática em Libras,</p><p>dentre eles, que os sinais podem “se opor” em relação aos parâmetros iniciais.</p><p>Veja os exemplos segundo as autoras Quadros e Karnopp (2004):</p><p>• Sinais que se opõem quanto à CM: (Pedra/Queijo).</p><p>• Sinais que se opõem quanto ao Movimento: (Trabalhar/Videocassete).</p><p>• Sinais que se opõem quanto à locação: (Aprender/sábado).</p><p>Visto que os sinais seguem toda uma estrutura linguística e física, isso nos</p><p>leva a outro ponto importante: a “restrição do sinal”. Ele não pode ser feito de</p><p>qualquer maneira ou em qualquer lugar. Diante desses aspectos, ainda temos os</p><p>seguintes tipos de sinais:</p><p>• Quanto à forma: a) Sinais icônicos: são os sinais que se parecem com o objeto</p><p>ou lugar referido/imagens que se assemelham a algo concreto; b) Sinais</p><p>arbitrários: são aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da</p><p>realidade que representam.</p><p>• Quanto à composição: a) Simples: quando formados por um único sinal; b)</p><p>Compostos: formados por dois ou mais sinais.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>72</p><p>DICAS</p><p>Assista ao vídeo acessando o link a seguir, o qual apresenta uma aula</p><p>explicando os parâmetros fonológicos em Libras. Disponível em: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=lc9FlIdptio</p><p>Sem muita delonga, os estudos deixam claro</p><p>que as mãos não são o único</p><p>veículo utilizado para produzir a comunicação em Libras. Temos as expressões não</p><p>manuais, que quando usadas podem dar significados aos sinais, porém devemos</p><p>saber combinar bem todos esses parâmetros para produzir corretamente o sinal.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>Acadêmico, após estudos sobre a estrutura gramatical na LP e</p><p>na Libras, dê sua opinião escrevendo brevemente a diferença entre elas.</p><p>5.1 ORGANIZAÇÕES FONOLÓGICAS EM LIBRAS</p><p>Nas línguas orais, conforme já vimos, a fonologia é a parte da gramática</p><p>que estuda os fonemas, ou seja, os sons, como uma unidade mínima acústica das</p><p>palavras. Mas, afinal, como saber onde aparecem os fonemas na Libras, sendo ela</p><p>uma língua não verbal? Como produzir uma consciência fonológica em Libras?</p><p>Os linguistas do campo de pesquisa das línguas de sinais utilizam o</p><p>termo fonologia para se referirem ao estudo de como os sinais são “estruturados</p><p>e organizados”. Assim, passando por uma análise fonológica em Libras, é bem</p><p>provável que os processos fonológicos sejam evidenciados.</p><p>Compartilhamos a fala da pesquisadora e autora em Libras, Karnopp</p><p>(1999), que diz: “Fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que</p><p>objetiva identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos,</p><p>propondo descrição e explicação” (KARNOPP, 1999, p. 29).</p><p>Então, segundo a autora, cabe à fonologia da língua de sinais determinar quais</p><p>são os elementos (linguísticos), que estabelecem padrões possíveis de combinação</p><p>dos parâmetros fonológicos, que podem ser produzidos simultaneamente para</p><p>realização de um sinal, pois se um parâmetro é usado isoladamente, o sinal perde</p><p>o significado (KARNOPP, 1999). Observe o exemplo a seguir:</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>73</p><p>FIGURA 14 – TELEVISÃO</p><p>FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-CubIxs1qF8M/TY9kBQPPFxI/AAAAAAAAAVo/fWSA0_dbe24/s1600/</p><p>meio%252Bcomunica%2525C3%2525A7%2525C3%2525A3o%252B14.JPG>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>Note que o sinal de “televisão” envolve, simultaneamente, configuração</p><p>de mão, ponto de articulação, movimento e a orientação. Se houver alguma mudança</p><p>de um desses parâmetros, irá alterar o significado do sinal/palavra, pois eles</p><p>terão traços diferentes. Concluímos, então, que a fonologia em Libras estuda seus</p><p>parâmetros como unidades mínimas para formação dos sinais.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o link e assista ao vídeo a seguir, que apresenta uma aula em fonologia</p><p>de Libras. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lc9FlIdptio</p><p>5.2 SISTEMA MORFOLÓGICO EM LIBRAS</p><p>Os morfemas, tanto nas línguas orais como na língua de sinais, estão</p><p>interligados com o sistema fonológico das línguas. A morfologia estuda as classes</p><p>gramaticais, como as palavras são formadas a partir da combinação dos morfemas.</p><p>São responsáveis pela formação das palavras e suas ideias, sejam básicas ou</p><p>complexas, envolvendo suas classes gramaticais.</p><p>Karnopp (1999) traz uma discussão sobre esse tema, utilizando os estudos</p><p>de Hulst (1993), em que dá indícios de que o morfema em língua de sinais é</p><p>formado pelas unidades mínimas de fonemas, que neste caso é representado pelas</p><p>unidades mínimas ou conjunto de parâmetros primários, veja: “[...] ( = morfema,</p><p>[ ] = um fonema ou conjunto de especificações representando uma determinada</p><p>CM, M ou L” (HULST 1993, p. 210).</p><p>Dessa forma, a autora esclarece que o morfema em Libras é um conjunto</p><p>de especificações comparado a pedaços (partículas) de palavras formados a</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>74</p><p>partir de um fonema ou parâmetros primários em LS. Parece confuso, não é?</p><p>Trouxemos exemplos simples na LP e Libras para seu melhor entendimento, em</p><p>que se formam palavras a partir de morfemas. Observe e tente a seguir:</p><p>• Língua Portuguesa – LP</p><p>QUADRO 1 – DERIVAÇÃO PREFIXAL E SUFIXAL DE MORFEMAS NA LP</p><p>Na derivação prefixal e sufixal de morfemas podemos citar as palavras</p><p>abaixo:</p><p>• infelicidade: infeliz, felicidade, feliz;</p><p>• deslealdade: desleal, lealdade, leal;</p><p>• injustiça: injusto, justiça, justo.</p><p>FONTE: <https://linkconcursos.com.br/diferenca-entre-derivacao-prefixal-e-sufixal-e-a-</p><p>derivacao-parassintetica-parassintese/>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>• Língua de Sinais – Libras</p><p>FIGURA 15 – EXEMPLO DE MORFEMAS EM LIBRAS</p><p>FONTE: <http://www.cidadaopg.sp.gov.br/cursonline/files/material_apoio/2-libras-lingua-</p><p>brasileira-de-sinais/Apostila_Libras_Curso_Online_Seduc_PG.pdf>. Acesso em: 10. dez. 2018.</p><p>Portanto, a morfologia em LS é o estudo da estrutura interna das palavras</p><p>ou dos sinais e dos processos de formação de novas palavras/sinais.</p><p>DICAS</p><p>Acesse e baixe o documento a seguir para suas pesquisas: https://www.</p><p>revistas.ufg.br/revsinal/article/view/43933/22087, e saiba mais sobre morfologia em LS.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>75</p><p>5.3 ASPECTOS SINTÁTICOS EM LIBRAS</p><p>É uma disciplina dentro da gramática que pretende observar como as</p><p>frases são compostas e quais são as regras que os usuários da língua irão utilizar</p><p>para formar as frases. Para o desenvolvimento deste estudo, utilizamos a acepção</p><p>de sintaxe defendida por Quadros e Karnopp (2004, p. 20): é a “parte da linguística</p><p>que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre suas partes”.</p><p>Em sua descrição, as autoras continuam destacando a importância das</p><p>marcações não manuais para o estudo sintático em LS, com a descrição de</p><p>Quadros e Karnopp (2004, p. 6): “No nível da sintaxe, as marcações não manuais</p><p>são responsáveis por indicar determinados tipos de construções, como sentenças</p><p>negativas, interrogativas, afirmativas, condicionais, relativas, construções com</p><p>tópico e com foco”.</p><p>Neste contexto, chamamos sua atenção para o uso do parâmetro do ponto</p><p>de articulação/espaço como sendo bastante importante nos estudos sintáticos em</p><p>LS, pois, diferente da língua portuguesa, a sintaxe em Libras é estudada a partir</p><p>da organização dos sinais no espaço.</p><p>Essas sentenças seguem as ordens básicas, conforme já destacado na</p><p>Unidade 1 do seu livro didático. Trazemos os estudos de Greenberg (1966), ao</p><p>observar combinações possíveis na formação de sentenças em LS, explanado</p><p>pelas autoras Quadros e Perlin (2007, p. 133), são eles: “sujeito (S), objeto (O) e</p><p>verbo (V)”. Essas combinações pode ser SOV, SVO ou VSO. Com essa explicação,</p><p>ele concluiu que uma língua verbal oral pode formar a sentença tendo o objeto</p><p>após a preposição, enquanto uma língua sinalizada terá a ordem oposta, objeto e,</p><p>então, preposição. Veja os exemplos a seguir:</p><p>QUADRO 2 – EXEMPLO EM GLOSA</p><p>JOÃO GOSTA MARIA</p><p>MARIA GOSTA JOÃO</p><p>JOÃO COMPRA CARRO</p><p>CARRO COMPRAR JOÃO</p><p>FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2008, p. 16)</p><p>Em todas as sentenças deste quadro observamos as combinações em SVO.</p><p>Agora observe no exemplo de Liddell (1980, p. 89-91) uma sentença em SOV:</p><p>MULHER TORTA COLOCAR-NO-FORNO</p><p>Em todos os casos percebemos a ausência de preposições, artigos e</p><p>conjunções tão presentes na LP, mas em LS, mesmo sem esses conectivos, não</p><p>houve perdas de significado das mensagens.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>76</p><p>Relembre os significados das siglas:</p><p>• SVO: Sujeito-verbo-objeto.</p><p>• OSV: Objeto-sujeito-verbo.</p><p>• SOV: Sujeito-objeto-verbo.</p><p>• VOS: Verbo-objeto-sujeito.</p><p>NOTA</p><p>Sobre a topicalização na Libras, ela se dá de maneira que a ordem da</p><p>sentença resulte em OSV, é o que nos diz Leite (2008, p. 29): “[...] os sujeitos e</p><p>os objetos poderiam ser omitidos da oração principal quando já se mostrassem</p><p>proeminentes no discurso precedente; e a oração como um todo poderia ser</p><p>antecedida por tópicos”.</p><p>QUADRO 3 – EXEMPLOS DE SENTENÇAS EM TOPICALIZAÇÃO</p><p>*Construções com tópico – É uma forma diferente de organizar o discurso. O</p><p>tópico retoma o assunto sobre o qual</p><p>se desenvolverá o discurso. Por exemplo:</p><p>FRUTAS, EU GOSTO DE BANANA. Então, o tópico é FRUTAS, sobre o qual</p><p>será definida aquela de preferência do falante/sinalizante.</p><p>FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2008, p. 6)</p><p>DICAS</p><p>Coloque seu conhecimento em ação, acessando o minidicionário a seguir, e</p><p>forme sentenças obedecendo à ordem sintática em Libras. Ele está subdividido em ordem</p><p>alfabética. Vá em frente! Disponível em: http://www.faders.rs.gov.br/uploads/Dicionario_</p><p>Libras_CAS_FADERS1.pdf.</p><p>5.4 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS EM LIBRAS</p><p>Nos estudos anteriores, você deve ter notado que a semântica e a</p><p>pragmática talvez sejam uma das disciplinas mais abstratas de entender na</p><p>gramática de uma língua. Isso se deve ao fato de seus estudos serem em torno</p><p>de significados e significantes, ou seja, dos conceitos que construímos em nossa</p><p>mente, a partir do que já conhecemos.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>77</p><p>No caso da semântica, ela prioriza o estudo do significado linguístico das</p><p>palavras. De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 21-22), “[...] é a parte da</p><p>linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras e do</p><p>agrupamento das palavras nas sentenças [...]”, pode incluir o literal e o não literal</p><p>das expressões (casos de ironia e metáforas, por exemplo).</p><p>A pragmática, em geral, é assumida como o uso linguístico que nos dá</p><p>a habilidade de interpretar e produzir significados em contextos reais. Assim,</p><p>ela é o estudo do significado construído pelo uso linguístico. De acordo com</p><p>Quadros e Karnopp (2004, p. 23): “[...] são as coisas que estão subentendidas nas</p><p>entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito explicitamente e dos aspectos</p><p>da estrutura conversacional (a estrutura das conversas entre duas ou mais pessoas</p><p>e a organização da tomada de turnos durante a conversação).</p><p>A seguir, entenda a relação destes dois aspectos em LS com um dos</p><p>exemplos das autoras McCleary e Viotti (2009, p .5):</p><p>[...] sabemos que o conceito associado a palavras como „calvo‟ e</p><p>„careca‟, nas sentenças (1) e (2), são iguais: (1) O João começou a ficar</p><p>calvo aos 30 anos. (2) O João começou a ficar careca aos 30 anos. Ou</p><p>seja, tanto o uso da palavra „calvo‟, quanto o uso da palavra „careca‟,</p><p>nas sentenças acima, nos levam ao conceito relativo à propriedade que</p><p>alguém tem de não ter cabelo.</p><p>FIGURA 16 – SEMÂNTICA/PRAGMÁTICA</p><p>FONTE: https://st4.depositphotos.com/1572523/20537/v/1600/depositphotos_205376668-</p><p>stock-illustration-vector-hand-drawn-cartoon-illustration.jpg>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>Um aspecto a considerar também em Libras são as muitas variações de</p><p>sinais não só no aspecto lexical, mas também morfológico e semântico. Essas</p><p>variações não podem ser ignoradas, senão deixaremos de reconhecer as muitas</p><p>diferenças no vocabulário e expressões idiomáticas, gírias que contêm as línguas</p><p>sinalizadas, igualmente às LO.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>78</p><p>Veja as variações mais consideradas em pesquisas na Libras:</p><p>• Variação Linguística: se refere à variedade de LS. Ex.: Língua de Sinais</p><p>Americana – ASL –, Língua de sinais Francesa – LSF – etc.</p><p>• Variação Regional: se refere às variações de sinais de uma região para outra.</p><p>Veja exemplo abaixo do sinal “religião”.</p><p>• Variação Social: se refere à variação de CM ou M, mas o sentido do sinal não</p><p>muda. É o caso do exemplo do sinal “ajuda/ajudar”. Observe a mudança na CM:</p><p>FIGURA 17 – VARIAÇÃO DO SINAL DE AJUDAR</p><p>FONTE: <http://danianepereira.blogspot.com/2012/04/emprestimos-linguisticos-e-variacao.</p><p>html>. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>Neste momento, como estudantes da LS, vamos fazer uma reflexão acerca</p><p>das variações regionais e sociais. Seria errada a geração de surdos e ouvintes que</p><p>conhecia os sinais anteriores usá-los? Não, dada a circunstância de que muitos</p><p>surdos e ouvintes já estavam acostumados a usá-los, contudo também irão se</p><p>adaptar ao novo sinal ou novo modo de fazer o sinal.</p><p>Percebeu como a LS é flexível, dinâmica e capaz de sofrer mudanças,</p><p>assim como a LO? Alertamos para o fato de que modificar ou dar novos sinais</p><p>compete à comunidade surda.</p><p>DICAS</p><p>Hora da pesquisa! O Inventário Nacional da Diversidade Linguística da Libras</p><p>é um projeto sobre HISTÓRIA DO SINAL – Entrevistas com surdos de referências e diversos</p><p>materiais em Libras. Acesse e absorva mais conhecimento. Disponível em: http://www.</p><p>corpuslibras.ufsc.br/informacoesdoprojeto?lang=ptbr.</p><p>Para complementar esse tópico, acompanhe mais algumas características</p><p>importantes da gramática de Libras por meio do documento elaborado pelo MEC</p><p>(1998). Ao final, você poderá baixá-lo como um clássico da gramática em Libras e</p><p>tê-lo completo em sua biblioteca particular.</p><p>TÓPICO 1 | ESTUDOS CLÁSSICOS DAS LÍNGUAS: GRAMÁTICA EM LP E LIBRAS E SUA ORGANIZAÇÃO</p><p>79</p><p>Série Deficiência Auditiva – Fascículo 7</p><p>INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA DA LIBRAS</p><p>Tanya A. Felipe – Professora Titular da UPE Coordenadora do grupo</p><p>de pesquisa da FENEIS (p. 91, 92).</p><p>5. As Categorias Gramaticais na Libras</p><p>5.1 Verbo na Libras: Basicamente na Libras, há dois tipos de verbo: a) verbos que</p><p>não possuem marca de concordância, embora possam ter flexão para aspecto</p><p>verbal; b) verbos que possuem marca de concordância. Quando se faz uma frase</p><p>com verbos do primeiro grupo, é como se eles ficassem no infinitivo, por exemplo:</p><p>(1) EU TRABALHAR FENEIS “eu trabalho na FENEIS”;</p><p>(2) EL@ TRABALHAR FENEIS “ele/a trabalha na FENEIS”;</p><p>(3) EL@ TRABALHAR FENEIS “eles/as trabalham na FENEIS.</p><p>Os verbos do segundo grupo podem ser subdivididos em: 1. Verbos</p><p>que possuem concordância número-pessoal: a orientação marca as pessoas do</p><p>discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto. Exemplos:</p><p>(4) 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”;</p><p>(5) 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”.</p><p>2. Verbos que possuem concordância de gênero: são verbos classificadores</p><p>porque a eles está incorporada, através da configuração de mão, uma</p><p>concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL ou COISA. Exemplos:</p><p>(6) pessoaANDAR (configuração da mão em G);</p><p>(7) veículoANDAR/MOVER (configuração da mão em 5 ou B, palma para</p><p>baixo);</p><p>(8) animalANDAR (configuração da mão em 5 ou 5, palma para baixo).</p><p>3. Verbos que possuem concordância com a localização: são verbos que</p><p>começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de</p><p>uma pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado</p><p>etc. Portanto o ponto de articulação marca a localização. Exemplos:</p><p>(9) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;</p><p>(10) CABEÇAk ATIRARk.</p><p>FONTE: MEC – Secretaria de Educação Especial. Língua Brasileira de Sinais / organizado por</p><p>Lucinda F. Brito et al. Brasília: SEESP, 1998. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/</p><p>me002297.pdf. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>80</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• São tipos de linguagem existentes: Linguagem verbal: aquela que faz uso das</p><p>palavras para comunicar algo. Linguagem não verbal: aquela que utiliza</p><p>outros métodos de comunicação, que não são as palavras. Como: placas e</p><p>sinais de trânsito, a linguagem corporal, figura, um gesto, uma mímica, línguas</p><p>de sinais etc. E a Linguagem híbrida: usa a linguagem verbal e a não verbal</p><p>(símbolos) concomitantemente.</p><p>• Em âmbito mundial, os estudos nas LO e LS têm revelado similaridades em</p><p>vários campos, bem como algumas diferenças.</p><p>• Em estudos gramaticais da gramática da LP e Libras, consideramos seus</p><p>aspectos morfológicos, fonológicos, semânticos e pragmáticos.</p><p>• Configuração da(s) mão(s) é a forma da(s) mão(s) presente no sinal.</p><p>• Ponto de articulação/locação é o lugar onde incide a mão predominante,</p><p>podendo ou não tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro.</p><p>• Movimento é o deslocamento da mão no espaço durante a execução dos sinais.</p><p>• A LS também tem os parâmetros secundários, que são importantes para dar</p><p>significação</p><p>ao sinal. São eles:</p><p>o Orientação/direcionalidade: os sinais podem ter uma orientação e direção,</p><p>mas uma inversão desta direção e orientação pode significar oposição em</p><p>relação àquele sinal.</p><p>o Expressão facial e/ou corporal: é um traço diferenciador na realização do</p><p>sinal, podendo expressar sensações, emoções.</p><p>• Quanto à forma dos sinais que podem ser:</p><p>o icônicos: que se parecem com o objeto ou lugar referido/imagens que se</p><p>assemelham a algo concreto;</p><p>o arbitrários: aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da</p><p>realidade que representam.</p><p>• Quanto à composição dos sinais:</p><p>o Simples: quando formados por um único sinal;</p><p>o Compostos: formados por dois ou mais sinais.</p><p>81</p><p>• Os estudos sintáticos em LS colaboram para as construções de frases em:</p><p>sentenças negativas, interrogativas, afirmativas, condicionais, relativas,</p><p>construções com tópico e com foco. O que resulta em sentenças SVO: Sujeito-</p><p>verbo-objeto; OSV: Objeto-sujeito-verbo; SOV: Sujeito-objeto-verbo; e VOS:</p><p>Verbo-objeto-sujeito.</p><p>• Assim como as línguas orais, observamos as variações linguísticas em LS no seu</p><p>aspecto lexical, mas também morfológico e semântico. As variações linguísticas</p><p>se referem à:</p><p>o Variedade de LS. Ex.: Língua de Sinais Americana – ASL –, Língua de sinais</p><p>Francesa – LSF;</p><p>o Variação Regional: se refere às variações de sinais de uma região para outra;</p><p>o Variação Social: se refere à variação de CM ou M, mas o sentido do sinal não</p><p>muda.</p><p>82</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Sobre os conceitos de linguagem e fala, observe a imagem a</p><p>seguir e analise as sentenças:</p><p>FIGURA – LINGUAGEM</p><p>FONTE: <https://apps.univesp.br/a-lingua-das-maos>. Acesso em: 20 dez. 2018.</p><p>I- A linguagem faz parte de nossas identidades, ela está em nós, e a fala é toda</p><p>a forma que o ser humano tem de se expressar.</p><p>II- A linguagem tem um conceito muito amplo, de forma que ela está</p><p>relacionada a fenômenos comunicativos, ou seja, onde há comunicação, há</p><p>linguagem, há fala e o exercício da língua (idioma).</p><p>III- A fala também faz parte da língua de sinais, não no sentido do processo</p><p>mecânico da anatomia da voz, mas como falantes em transmitir emoções</p><p>por meio de uma linguagem não verbal.</p><p>Assinale a alternativa correta:</p><p>a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.</p><p>b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.</p><p>c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.</p><p>d) ( ) Apenas a sentença I está correta.</p><p>e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.</p><p>2 Sabemos que os fonemas são a unidade mínima a ser</p><p>estudada em uma língua oral e que a partir do momento que</p><p>adquirimos a compreensão e habilidade dos sons, conseguimos</p><p>desenvolver nossa consciência fonológica tão importante para</p><p>83</p><p>o desenvolvimento da língua. Da mesma forma, precisamos saber como</p><p>adquirir a compreensão e habilidades necessárias para produzir consciência</p><p>fonológica em Libras. Assinale a alternativa que contemple as unidades</p><p>mínimas a serem estudadas nas línguas de sinais:</p><p>a) ( ) Consciência fonológica sinalizada.</p><p>b) ( ) Parâmetros e combinações.</p><p>c) ( ) Iconicidade e arbitrariedade.</p><p>d) ( ) Dêitica e diafórica.</p><p>e) ( ) Semântica e pragmática.</p><p>84</p><p>85</p><p>TÓPICO 2</p><p>LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO –</p><p>BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>COGNITIVO E PRÁTICO</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Durante a história, diferentes grupos convencionaram sistemas mútuos</p><p>de comunicação, dentre estes está à língua de sinais pertencente à comunidade</p><p>surda. Assim, iniciamos a Unidade 2 expondo brevemente a questão gramatical</p><p>das Línguas Orais (LO) e Língua de Sinais (LS) com seus símbolos linguísticos,</p><p>originando a linguagem verbal e não verbal.</p><p>Este tópico irá resgatar alguns aspectos importantes sobre as teorias</p><p>ligadas à prática da tradução e interpretação envolvendo as duas línguas: Língua</p><p>Orais (LO) e Língua de Sinais (LS).</p><p>Também lembraremos de algumas estratégias e desafios advindos das</p><p>atividades do profissional Tradutor Intérprete de Libras e Língua Portuguesa –</p><p>TILSP, como o profissional responsável em fazer a mediação comunicativa entre</p><p>a comunidade ouvinte e comunidade surda.</p><p>Então, vamos iniciar?</p><p>2 OS ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>E SEUS CONCEITOS</p><p>Acadêmico, no sentido amplo podemos entender a tradução como</p><p>uma interpretação? Visto que a ação de interpretar pressupõe a exposição de</p><p>um pensamento, uma obra, dando sentido ou significado à língua que está</p><p>sendo traduzida? Bem, diante de muitos estudos que você já realizou sobre</p><p>línguas e linguagem, deve ter notado que a tradução está ligada à interpretação</p><p>independentemente da língua que está sendo utilizada. Podemos afirmar que</p><p>não há atividade linguística sem tradução e sem interpretação.</p><p>Esta afirmação está de acordo com a fala de Quadros (2004, p. 9): “Vale</p><p>destacar que o termo tradutor é usado de forma mais generalizada e inclui o termo</p><p>“[...] os intérpretes devem entender sua identidade, sua representação e</p><p>buscar sua formação para que aconteça uma melhor tradução”</p><p>(ROSA, 2008, p. 6.)</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>86</p><p>interpretação”. Assim, pode-se admitir que o aprendizado de qualquer língua passa</p><p>necessariamente pela tradução e interpretação, envolvendo a teoria e a prática.</p><p>Primeiramente retomaremos o significado de tradução no sentido geral das</p><p>LO e LS. Optamos pelos autores Guerini e Costa (2006, p. 4), em que argumentam a</p><p>tradução no sentido de “passar de uma língua a outra”, bem como compartilhamos</p><p>o pensamento dos autores Santos e Queriquelli (2018, p. 4) sobre a palavra “traduzir”:</p><p>“revelar, explicar, manifestar, explanar”, “representar, simbolizar”</p><p>Os autores continuam nos dizendo que “os demais sentidos atribuídos</p><p>a traduzir e a tradução são gerados a partir de extensão metafórica, isto é, em</p><p>todos eles, pressupõe-se o ato de transferir, de passar algo de um lado a outro”</p><p>(SANTOS; QUERIQUELLI, 2018, p. 4).</p><p>Perceba que os dois autores concordam que durante o ato de traduzir acontece</p><p>um processo de transferência linguística, ou seja, no momento da atividade acontece</p><p>a passagem de uma língua para outra, acontecendo de fato a tradução.</p><p>Além disso, os estudos têm mostrado que, em geral, na tradução sempre</p><p>irá envolver uma língua escrita. A autora Quadros (2004, p. 11) pactua esse</p><p>mesmo pensamento quando denomina o termo Tradutor em Línguas: “Pessoa que</p><p>traduz de uma língua para outra. Tecnicamente, tradução refere-se ao processo</p><p>envolvendo pelo menos uma língua escrita. Assim, tradutor é aquele que traduz</p><p>um texto escrito de uma língua para outra”.</p><p>Assim, o profissional deve ter um amplo conhecimento, fazendo pesquisas</p><p>de certos termos e expressões, o que irá lhe auxiliar a fazer uma tradução de forma</p><p>correta, a saber, tanto a língua materna (LM), que seria sua língua de origem,</p><p>como a língua estrangeira (LE), a qual irá transferir a mensagem.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o documento a seguir, intitulado Tecnologias de tradução:</p><p>implicações éticas para a prática tradutória, o qual faz explanações a respeito do profissional</p><p>tradutor de línguas escritas. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/tradterm/article/</p><p>download/47346/51083/</p><p>A interpretação é uma atividade mais global/genérica, é um campo de</p><p>trabalho muito solicitado em todas as línguas naturais. Esse profissional também</p><p>precisa saber muito sobre os dois idiomas com os quais vai trabalhar. Muitas</p><p>vezes o intérprete é chamado de ator, pois precisa despir-se da escrita para atuar.</p><p>Se você já trabalha na área como TILSP, já se sentiu assim durante suas atividades?</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>87</p><p>FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-qfxe77vgTBA/WLlSevNFExI/AAAAAAAAXVE/</p><p>SySBxrIjBt8yYfldXIMjaQtjtSx40flgQCLcB/s1600/Six-v-Nine-720x835.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Seguindo esta linha de raciocínio, Guerini e Costa (2006, p. 30) fazem a</p><p>seguinte observação:</p><p>Nos tempos modernos, com a chamada globalização, ocorre um</p><p>verdadeiro</p><p>florescimento da interpretação com a multiplicação</p><p>de colóquios e congressos internacionais. [...]. Até o século XI,</p><p>aproximadamente, era chamado intérprete quem fazia tradução,</p><p>tanto oral quanto escrita. A partir do século XII, começa-se a falar de</p><p>intérprete como aquele que faz tradução oral, ou seja, interpretação, e</p><p>de tradutor, como aquele que faz tradução escrita.</p><p>Assim, a atividade de intérprete tem se desenvolvido de acordo com</p><p>as demandas da sociedade. Conforme citação dos autores, a globalização foi a</p><p>grande responsável pelo destaque dado ao profissional intérprete. Mais uma</p><p>vez, percebemos que a interpretação e tradução são difundidas pelo mesmo</p><p>profissional, porém de maneira mais específica.</p><p>Notamos que quando se fala de tradução e interpretação nas LO, esses</p><p>processos estão bem especificados. Entretanto, no caso de LS, esses processos se</p><p>confundem, acontecendo uma ausência de clareza sobre os dois termos. Quadros</p><p>(2004, p. 11) designam o mesmo profissional para as duas ações, quando diz:</p><p>“Tradutor-intérprete – Pessoa que traduz e interpreta o que foi dito e/ou escrito”.</p><p>A partir de agora, vamos entender melhor sobre os termos usados para</p><p>descrever esse profissional em suas atividades. Inicialmente descreveremos esses</p><p>modelos nas línguas orais e, posteriormente, nas línguas sinalizadas.</p><p>FIGURA 18 – INTERPRETAÇÃO</p><p>DICAS</p><p>Acesse o documento a seguir e faça mais pesquisas sobre este assunto nas</p><p>línguas orais. Interpretação e Tradução: abordagem teórica e pedagógica. Disponível em:</p><p>http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_122.pdf.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>88</p><p>3 MODELOS DE INTERPRETAÇÃO/TRADUÇÃO</p><p>APLICADA ÀS LÍNGUAS ORAIS</p><p>Já vimos que a prática tradutória e interpretativa está presente em todas as</p><p>comunidades linguísticas. Diante do exposto, foram surgindo diversos modelos</p><p>envolvendo a tradução/interpretação, principalmente nas línguas orais. Para</p><p>tanto, relembramos a fala do autor Jakobson (1969, p. 63), quando diz que “o</p><p>significado de um signo linguístico não é mais que sua tradução por um outro</p><p>signo correspondente”.</p><p>Continuamos os estudos com a descrição do autor, lembrando que por</p><p>enquanto o nosso foco está nas línguas orais. Jakobson (1969) distingue as três</p><p>maneiras de interpretar um signo verbal que já conhecemos, como:</p><p>1- ser traduzido em outros signos da mesma língua;</p><p>2- em outra língua;</p><p>3- ou em outro sistema de símbolos não verbais.</p><p>Dessa forma, Jakobson (1969) define as interpretações citadas em três</p><p>tipos de tradução:</p><p>1- A tradução intralingual ou reformulação consiste na interpretação dos signos verbais</p><p>por meio de outros signos da mesma língua. Envolve os fenômenos da sinonímia/</p><p>sinônimo e da paráfrase/comentário. Conforme Jakobson (1969), “a tradução</p><p>intralingual de uma palavra utiliza outra palavra, mais ou menos sinônima, ou</p><p>recorre a um circunlóquio ou repetição daquela palavra, por outro contexto”</p><p>(JAKOBSON, 1969, p. 65).</p><p>Veja o exemplo:</p><p>Palavra e/ou signo a ser traduzido:</p><p>Calor</p><p>Palavra e/ou signo traduzido em</p><p>outro contexto: quentura</p><p>2- A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação</p><p>dos signos verbais por meio de alguma outra língua. Envolve dois códigos: a</p><p>língua de partida e a língua de chegada, também chamadas de língua-fonte e</p><p>língua-alvo. Ao conceituar esse tipo de operação, Jakobson (1969, p. 64) observa</p><p>que “no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa</p><p>entre as unidades de código”. Por isso, ao traduzir de uma língua para outra, o</p><p>foco da atividade recai sobre a mensagem e não sobre suas partes constituintes.</p><p>Esse tipo de tradução é o mais usado quando se trata das línguas de sinais.</p><p>3- A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos</p><p>verbais por meio de sistemas de signos não verbais. Jakobson (1969) entende a</p><p>tradução intersemiótica como “a transmutação de uma obra de um sistema de</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>89</p><p>signos a outro”. Veja que o autor destaca principalmente a tradução de uma obra.</p><p>Observe o exemplo a seguir:</p><p>FIGURA 19 – DA LITERATURA PARA O TEATRO</p><p>FONTE: <https://i.ytimg.com/vi/4BzukWk72qg/maxresdefault.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Embora as traduções descritas anteriormente sejam voltadas principalmente</p><p>quando nos referimos às línguas escritas, a tradução intersemiótica envolvendo o</p><p>teatro tem sido usada amplamente pela comunidade surda ao interpretar contos</p><p>infantis e literaturas em LS.</p><p>A partir de agora abordaremos as atividades tradutórias/interpretativas</p><p>mais utilizadas pelos profissionais em LO. Vamos prosseguir?</p><p>a) Tradução/interpretação oral simultânea: é a atividade de tradução</p><p>desenvolvida em tempo real, de modo contínuo e natural, pode-se dizer que</p><p>é a mais antiga na história. Um exemplo: eventos em contextos políticos e</p><p>culturais com diplomatas, embaixadores etc.</p><p>FIGURA 20 – TRADUÇÃO ORAL/SIMULTÂNEA – LO</p><p>FONTE: <https://static1.squarespace.com/static/56f1ef9045bf21ad0eb861d0/t/5a720ba6419202</p><p>8a4d58319d/1517423539476/traducao-simultanea-rodrigo-guedes1.jpg?format=750w>. Acesso</p><p>em: 8 dez. 2018.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>90</p><p>FONTE: <https://jbchost.com.br/ht/wp-content/uploads/2014/11/7D1_1558-800x533.jpg>.</p><p>Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>Tanto na tradução/interpretação simultânea quanto na consecutiva,</p><p>na LO é aconselhável que o profissional receba o texto antecipadamente. Cabe</p><p>ressaltar, no entanto, que muitas vezes o orador improvisa sua fala, o que pode</p><p>afastar do texto entregue ao tradutor/intérprete, demandando mais habilidade</p><p>do profissional.</p><p>c) Tradução/interpretação oral sussurrada: trata-se de uma variante entre a</p><p>simultânea e a consecutiva, executada por um tradutor/intérprete que transmite</p><p>a informação sussurrada ao ouvido do cliente.</p><p>FIGURA 22 – TRADUÇÃO SUSSURRADA</p><p>FONTE: <https://www.calliope-interpreters.org/sites/all/files/upload/whispered.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>b) Tradução/interpretação oral consecutiva: é a tradução usada geralmente em</p><p>reuniões formais, encontros com autoridades, cerimoniais, entre outros. Nesse</p><p>modelo, o orador pode interromper sua fala para que o profissional tome notas</p><p>e continue sua atividade.</p><p>FIGURA 21 – TRADUÇÃO ORAL/CONSECUTIVA – LO</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>91</p><p>DICAS</p><p>Existe o Decreto n° 13.609, de 21 de outubro de 1943, que estabelece um</p><p>regulamento para o ofício de Tradutor Público e Intérprete Comercial em todo o território</p><p>nacional. Quer conhecer? Acesse http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/</p><p>D13609.htm</p><p>4 TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS –</p><p>CONCEITO E FORMAÇÃO</p><p>Se você já atua na área, seja como professor de Libras ou como TILSP,</p><p>com certeza já acompanhou o caminho percorrido para regulamentar a profissão</p><p>de TILSP aqui no Brasil. Ela andou de mãos dadas com o desenvolvimento e</p><p>conquistas do povo surdo brasileiro.</p><p>A comunidade surda brasileira, durante muito tempo, caracterizou-se pela</p><p>falta de acessibilidade comunicacional. Donos de uma cultura e língua próprias,</p><p>merecem todo o respeito e o direito a entender o mundo à sua volta. Foi com a</p><p>regulamentação da Libras como língua, com a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002,</p><p>que esse profissional passou a ser notado pela sociedade. É o que afirma Nascimento</p><p>(2012, p. 2), quando diz que “como resultado desses movimentos, os surdos têm</p><p>assumido seu lugar enquanto cidadãos participando socialmente de decisões que</p><p>englobam aspectos relacionados à inclusão social de pessoas surdas [...]”.</p><p>Dada a necessidade comunicacional para a comunidade surda que tem</p><p>assumido cada vez mais o seu papel na sociedade, o profissional TILSP também</p><p>foi sendo requisitado. Por isso, nesse momento,</p><p>compartilhamos o conceito de</p><p>Quadros (2004, p. 11):</p><p>Intérprete de língua de sinais – Pessoa que interpreta de uma dada</p><p>língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma</p><p>determinada língua de sinais. Tradutor-intérprete de língua de sinais –</p><p>Pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e</p><p>vice-versa em quaisquer modalidades que se apresentar (oral ou escrita).</p><p>Acadêmico, compartilhamos com você os modelos de tradução e</p><p>interpretação em LO mais conhecidos e utilizados mundialmente. Percebemos,</p><p>mais uma vez, a figura do intérprete ligada à do tradutor.</p><p>Sabendo que há muito o que estudar, tanto nas atividades de tradução/</p><p>interpretação em LO como em LS, prosseguiremos com os modelos de tradução/</p><p>interpretação agora em LS. Mas antes, veremos o conceito e sua formação.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>92</p><p>Notamos que Quadros (2004) denomina os termos especificando cada uma</p><p>das atividades, sendo que na atividade do tradutor-intérprete em específico envolve</p><p>a tradução de uma língua falada que pode ser na modalidade (oral/escrita).</p><p>Por isso, antes de descrevermos as traduções/interpretações mais</p><p>utilizadas pelos profissionais TILSP, trazemos a sua atenção às semelhanças e</p><p>diferenças das atividades, com a intenção de agregar mais saberes. Observe:</p><p>QUADRO 4 – DIFERENÇAS ENTRE AS ATIVIDADES DE TRADUTORES E INTÉRPRETES</p><p>TRADUTORES INTÉRPRETES</p><p>Possuem uma quantidade maior de tempo:</p><p>podem recorrer ao texto-base na língua-fonte</p><p>quantas vezes for necessário; podem revisar</p><p>o trabalho de tradução, retomando partes</p><p>já traduzidas em qualquer momento, pois</p><p>normalmente o texto a ser traduzido está na</p><p>modalidade escrita ou em algum outro suporte</p><p>que possibilita a retomada de determinadas</p><p>partes ou do texto completo; podem adiantar a</p><p>tradução, antecipando partes mais complexas,</p><p>a fim de posteriormente resolver problemas</p><p>tradutórios ou adiantar a leitura do texto visando</p><p>compreender o objetivo do autor; podem recorrer</p><p>a materiais de apoio diversos, como dicionários,</p><p>enciclopédias, texto paralelo, especialista e até</p><p>mesmo outros colegas tradutores.</p><p>Necessitam tomar muitas decisões imediatas</p><p>em relação ao sentido do texto e às escolhas</p><p>lexicais; normalmente estão próximos ao locutor</p><p>do discurso, pois os intérpretes trabalham com a</p><p>oralidade: a primeira produção dos intérpretes</p><p>normalmente é a produção final; dificilmente</p><p>conseguem fazer as correções que não sejam</p><p>percebidas pelo público-alvo: normalmente</p><p>não recorrem ao uso de materiais de apoio</p><p>durante a interpretação; frequentemente, existe</p><p>um período de preparação antes do ato da</p><p>interpretação.</p><p>FONTE: Nogueira (2016, p. 37)</p><p>Bem, esses profissionais já existiam e exerciam suas atividades, porém</p><p>precisavam ser legalizados ou oficializados.</p><p>Na conceituação e formação do TILSP se encontram as leis. Não</p><p>descreveremos cada uma de forma completa, mas fizemos um resgate das</p><p>principais leis que garantem a formação e competência para atuação deste</p><p>profissional bilíngue. Acompanhe:</p><p>QUADRO 5 – LEIS FORMAÇÃO TILSP</p><p>LEI N° 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002</p><p>Art. 1º. É reconhecida como meio legal de</p><p>comunicação e expressão a Língua Brasileira de</p><p>Sinais – Libras e outros recursos de expressão a</p><p>ela associados.</p><p>DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE</p><p>DEZEMBRO DE 2005</p><p>Capítulo v: Da formação do tradutor e intérprete</p><p>de Libras – Língua Portuguesa.</p><p>Art. 17. A formação do tradutor e intérprete</p><p>de Libras – Língua Portuguesa deve efetivar-</p><p>se por meio de curso superior de Tradução</p><p>e Interpretação, com habilitação em Libras –</p><p>Língua Portuguesa.</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>93</p><p>LEI N° 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete</p><p>da Língua Brasileira de Sinais – Libras.</p><p>LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015</p><p>Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa</p><p>com Deficiência (Estatuto da Pessoa com</p><p>Deficiência).</p><p>Art. 28. XI- formação e disponibilização de</p><p>professores para o atendimento educacional</p><p>especializado, de tradutores e intérpretes da</p><p>Libras, de guias intérpretes e de profissionais</p><p>de apoio.</p><p>FONTE: Brasil (2002, 2005, 2010, 2015, s.p.)</p><p>A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, não fala diretamente do profissional</p><p>TILSP, mas a partir do momento em que garante a difusão de Libras em todo o</p><p>território nacional como língua da comunidade surda, expõe esse profissional a</p><p>novos desafios.</p><p>Já o Decreto Federal nº 5.626, de 22 dezembro de 2005, normatiza a</p><p>formação desse profissional por meio da educação superior, mas também dá</p><p>orientação sobre o profissional em nível médio, conforme segue o capítulo V:</p><p>QUADRO 6 – LEIS FORMAÇÃO TILSP</p><p>Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e</p><p>intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de:</p><p>I - cursos de educação profissional;</p><p>II - cursos de extensão universitária; e</p><p>III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições</p><p>credenciadas por secretarias de educação.</p><p>FONTE: Brasil (2005, s.p.)</p><p>Nesse contexto é importante ressaltar algumas particularidades que com</p><p>certeza acontecem em todo o território brasileiro e que você provavelmente já</p><p>sabe disso.</p><p>• Este perfil mínimo nem sempre é atendido por aqueles que estão atuando.</p><p>• Há um número reduzido de profissionais com formação adequada.</p><p>Certificação não coincide com Formação.</p><p>Porém o decreto determina um prazo definido de dez anos para atuar sem</p><p>nível superior, com a criação do exame PROLIBRAS, conforme o Art. 20:</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>94</p><p>QUADRO 7 – LEIS FORMAÇÃO TILSP</p><p>Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da Educação ou</p><p>instituições de ensino superior por ele credenciada para essa finalidade promoverão, anualmente,</p><p>exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa.</p><p>FONTE: Brasil (2005, s.p.)</p><p>É interessante notar que, incluso no decreto está também o intérprete</p><p>surdo. Observe:</p><p>QUADRO 8 – FORMAÇÃO TILSP</p><p>Artigo 19 Nos próximos dez anos, caso não haja pessoas com a titulação exigida, os profissionais,</p><p>para atuarem em instituições de ensino, devem ter o seguinte perfil:</p><p>I. Ouvinte, formação em nível superior (não específica), com competência e fluência em Libras</p><p>e com a provação em exame de proficiência (PROLIBRAS) promovido pelo MEC (atuação no</p><p>Ensino Médio e Ensino Superior);</p><p>II. Ouvinte, formação em nível médio (não específica), com competência e fluência em Libras e</p><p>com aprovação em exame de proficiência (PROLIBRAS) promovido pelo MEC (atuação no</p><p>Ensino Fundamental);</p><p>III. Surdo com competência para interpretação de LS de outros países para Libras (atuação em</p><p>cursos e eventos).</p><p>FONTE: Brasil (2005, s.p.)</p><p>Volte ao seu Livro Didático de Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de</p><p>Sinais, na leitura complementar da Unidade 3, e relembre sobre o Tradutor/intérprete Surdo:</p><p>um profissional em ascensão.</p><p>NOTA</p><p>A Lei Federal nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, chamada a Lei TILSP,</p><p>que regulamentou a profissão de Tradutor e Intérprete em Libras e Língua</p><p>Portuguesa, momento tão esperado pelos profissionais que já atuavam na área,</p><p>vem com uma nova perspectiva para os novos profissionais, mas define bem suas</p><p>competências. Destacamos a seguir a principal:</p><p>QUADRO 9 – COMPETÊNCIA TILSP</p><p>Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas</p><p>de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da</p><p>Língua Portuguesa.</p><p>FONTE: Brasil (2010, s.p.)</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>95</p><p>Mais recentemente temos a Lei nº 13.146, de 6</p><p>de julho de 2015, a Lei</p><p>Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com</p><p>Deficiência. Ela é um verdadeiro complemento às outras leis com respeito à</p><p>inclusão. Especificamente sobre a formação do profissional TILSP, reza no seu</p><p>art. 28:</p><p>QUADRO 10 – ARTIGO FORMAÇÃO TILSP</p><p>Art. 28 Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do</p><p>caput deste artigo, deve-se observar o seguinte:</p><p>I- os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir</p><p>Ensino Médio completo e certificado de proficiência na Libras;</p><p>II- os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de</p><p>aula dos cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação,</p><p>prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras.</p><p>FONTE: Brasil (2015, s.p.)</p><p>Notamos aqui que a formação e atuação desse profissional fica bem</p><p>delineada em contextos específicos, como educação básica e superior. Mas,</p><p>independentemente do contexto em que irão atuar, destacamos que não ficam</p><p>isentos de cumprir com as competências e responsabilidades igualmente. Assim,</p><p>acompanhe suas atribuições segundo a Lei Federal n° 12.319/2010, no artigo 6º</p><p>que regulamenta a profissão.</p><p>QUADRO 11 – ATRIBUIÇÕES DO TRADUTOR E INTÉRPRETE</p><p>Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências:</p><p>I- efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-</p><p>cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa;</p><p>II- interpretar, em Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa, as atividades didático-</p><p>pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental,</p><p>médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;</p><p>III- atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos;</p><p>IV- atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e</p><p>repartições públicas;</p><p>V- prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais.</p><p>Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela</p><p>inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial:</p><p>I- pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida;</p><p>II- pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação</p><p>sexual ou gênero;</p><p>III- pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;</p><p>IV- pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício</p><p>profissional;</p><p>V- pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social,</p><p>independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem;</p><p>VI- pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.</p><p>FONTE: Brasil (2010, s.p.)</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>96</p><p>DICAS</p><p>Baixe as leis citadas anteriormente. Para ler na íntegra, acesse o site: http://</p><p>www.libras.com.br/lei-de-libras</p><p>Enfatizamos, porém, que, ao assumir um trabalho em instituições, sejam</p><p>elas privadas ou não, esse profissional deverá ficar atento aos documentos</p><p>norteadores criados por essa instituição para formalizar suas atividades. Sem</p><p>dúvida, aqui no Brasil, nos últimos anos, tivemos grandes avanços no que diz</p><p>respeito à formação e à regulamentação deste profissional tão importante para a</p><p>mediação comunicacional da comunidade surda.</p><p>Expostos brevemente teorias e conceitos sobre tradução/interpretação,</p><p>formação do TILSP, e a regulamentação da profissão, transitemos agora pelos</p><p>modelos de tradução e interpretação aplicadas à LS.</p><p>ESTUDOS FU</p><p>TUROS</p><p>Todas as leis e documentos são aplicados também ao Guia Intérprete para</p><p>surdocegos. Falaremos mais deste profissional na Unidade 3. Fique atento!</p><p>5 TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO APLICADA</p><p>AS LÍNGUAS DE SINAIS</p><p>Até aqui entendemos que requer um grande domínio linguístico e técnico,</p><p>conhecimento histórico, cultural e social das línguas envolvidas para atuar com</p><p>interpretação/tradução, indiferente das línguas envolvidas. É digno de nota que</p><p>o fato de o intérprete estar mais presente fisicamente no ato em que ocorre a sua</p><p>atividade resulta em uma certa “urgência” em sua performance e transmissão de</p><p>mensagens.</p><p>Caracterizaremos agora os modelos de tradução/interpretação em LS</p><p>mais conhecidos, são eles: simultânea e consecutiva, cujos processos são descritos</p><p>por Quadros (2004, p. 11):</p><p>Tradução-interpretação simultânea – É o processo de tradução-</p><p>interpretação de uma língua para outra que acontece simultaneamente,</p><p>ou seja, ao mesmo tempo. Isso significa que o tradutor-intérprete</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>97</p><p>precisa ouvir/ver a enunciação em uma língua (língua-fonte), processá-</p><p>la e passar para a outra língua (língua-alvo) no tempo da enunciação.</p><p>Tradução-interpretação consecutiva – É o processo de tradução-</p><p>interpretação de uma língua para outra que acontece de forma</p><p>consecutiva, ou seja, o tradutor-intérprete ouve/vê o enunciado em</p><p>uma língua (língua-fonte), processa a informação e, posteriormente,</p><p>faz a passagem para a outra língua (língua-alvo).</p><p>Mas podemos fazer um desdobramento das duas atividades para entender</p><p>melhor como se dá o processo em cada uma delas. Faremos isso de acordo com a</p><p>exposição da professora e estudiosa em tradução e interpretação em LS, Andréa</p><p>da Silva Rosa (2008, p. 115):</p><p>Na interpretação consecutiva, o intérprete senta-se junto à pessoa,</p><p>ouve uma longa parte do discurso e, depois, verte-o para uma outra</p><p>língua, geralmente com a ajuda de notas. [...] Todavia, o mais comum</p><p>é o ILS fazer uso da interpretação simultânea, ou seja, sinaliza a fala</p><p>do ouvinte em tempo real, acompanhando, em frações de segundos, o</p><p>discurso produzido em Português.</p><p>a) Interpretação simultânea em LS: em geral é a mais solicitada, pois envolve</p><p>interpretar desde um simples diálogo até discursos mais complexos em tempo</p><p>real e em vários ambientes em que este profissional for solicitado. Por exemplo,</p><p>espaços educacionais, religiosos, saúde, jurídicos e no cotidiano.</p><p>b) Interpretação consecutiva em LS: neste caso, a possibilidade de o profissional</p><p>ter o texto original a ser interpretado previamente é maior. Um exemplo</p><p>são textos de conteúdos educacionais, em geral o profissional tem acesso ao</p><p>material que será estudado pelo aluno antecipadamente, podendo consultar</p><p>dicionário e referências (culturais, regionais), a fim de estar melhor preparado.</p><p>Já entendemos que na interpretação geralmente o grau de dificuldade é</p><p>maior que na tradução, pois o profissional tem pouco tempo para executar sua</p><p>função e fazer suas escolhas lexicais quase que imediato. Mas é certo que, conforme</p><p>Gesser (2011, p. 26), “em quaisquer processos de interpretação e tradução, seja</p><p>nas línguas orais ou de sinais, incluem fatores tais como: memória curta e a longo</p><p>prazo, tomada de decisões, categorização e estratégias de interpretação [...]”.</p><p>Aqui retomamos brevemente os princípios de alguns modelos envolvendo</p><p>a tradução e interpretação em LS, conforme apresentado por Quadros (2004, p.</p><p>75-78):</p><p>• Modelo cognitivo: o intérprete tem que pensar nos seguintes passos:</p><p>1) entendimento da mensagem na língua-fonte;</p><p>2) capacidade de internalizar o significado na língua-alvo;</p><p>3) capacidade de expressar a mensagem na língua-alvo sem comprometer a</p><p>mensagem que chega na língua-fonte.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>98</p><p>• Modelo interativo: aponta os componentes que afetam a interpretação. São eles:</p><p>a) participantes: iniciador; receptor e o intérprete;</p><p>b) mensagem;</p><p>c) ambiente (contexto físico</p><p>ou psicológico);</p><p>d) interações (os efeitos de cada categoria dependem demais).</p><p>• Modelo interpretativo: o foco está exclusivamente no sentido da mensagem; o</p><p>intérprete deve entender as palavras e sinais para expressar seus significados</p><p>corretamente na língua-alvo. Interpretar é passar o SENTIDO da mensagem da</p><p>língua-fonte para a língua-alvo.</p><p>• Modelo comunicativo: o objetivo está para a transmissão da mensagem</p><p>enquanto codificação entre línguas. O intérprete é visto como transmissor de</p><p>informações.</p><p>• Modelo sociolinguístico: baseia-se nas interações entre os participantes.</p><p>O intérprete deve reconhecer o contexto, os participantes, os objetivos e a</p><p>mensagem.</p><p>• Modelo bilíngue e bicultural: a postura e o comportamento do intérprete</p><p>em relação às línguas e culturas envolvidas passam a ser um elemento a se</p><p>considerar; isto é, a necessidade de contato e convívio com a comunidade</p><p>surda com o objetivo de se conhecer o grupo com o qual trabalha.</p><p>Por fim, Quadros (2004, p. 78) faz algumas considerações com base nos</p><p>modelos apresentados, mostrando que em todos eles há requisitos a cumprir:</p><p>1) ênfase no significado e não nas palavras;</p><p>2) cultura e contexto apresentam um papel importante em qualquer</p><p>mensagem;</p><p>3) tempo é considerado o problema crítico (a atividade é exercida em</p><p>tempo real, envolvendo processos mentais de curto e longo prazo);</p><p>4) interpretação adequada é definida em termos de como a mensagem</p><p>original é retida e passada para a língua-alvo considerando-se</p><p>também a reação da plateia.</p><p>Cada um dos modelos supracitados exige habilidades e técnicas distintas</p><p>dos profissionais no momento de sua atuação. A estes cabe o gerenciamento das</p><p>informações e dos conhecimentos de modo que possam conduzir seu trabalho da</p><p>melhor maneira.</p><p>DICAS</p><p>Quer saber mais? Acesse o link a seguir e conheça o livro sobre pesquisas</p><p>desenvolvidas no Brasil e na Europa, sobre a área da Tradução e Interpretação em LS, pela</p><p>autora Dra. Ronice Müller de Quadros (2004), em parceria com o MEC. Disponível em:</p><p>http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf.</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>99</p><p>6 ASPECTOS GERAIS NA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>Culminamos em um ponto em que é importante pensar o que é relevante</p><p>ou não, entre uma atividade e outra para o profissional TILSP. No caso da</p><p>atividade de interpretação, o fato de o intérprete interagir em eventos sociais</p><p>e demandar uma capacidade de improviso, podemos nos questionar se esse</p><p>improviso resultará em um bom trabalho ou não.</p><p>No início deste tópico norteamos as competências do profissional TILSP,</p><p>segundo a legislação. Mas sabemos que traduzir/interpretar de uma língua para</p><p>outra exige algumas habilidades que proporcionam uma boa execução dos seus</p><p>trabalhos. Robertz (apud QUADROS, 2004, p. 73-74) apresenta seis delas:</p><p>• Competência linguística – habilidade de entender o objeto da linguagem</p><p>usada em todas as suas nuances e expressá-la correta, fluente e claramente</p><p>a mesma informação na língua-alvo, ter habilidade para distinguir as ideias</p><p>secundárias e determinar os elos que determinam a coesão do discurso.</p><p>• Competência para transferência – essa competência envolve habilidade</p><p>para compreender a articulação do significado no discurso da língua-fonte,</p><p>habilidade para interpretar o significado da língua-fonte para a língua-alvo,</p><p>sem distorções, adições ou omissão, sem influência da língua-fonte para a</p><p>língua-alvo.</p><p>• Competência metodológica – habilidade em usar diferentes modos de</p><p>interpretação para encontrar o item lexical e a terminologia adequada</p><p>avaliando e usando-os com bom senso e para recordar itens lexicais e</p><p>terminologias.</p><p>• Competência na área – conhecimento requerido para compreender o</p><p>conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada.</p><p>• Competência bicultural – conhecimento das crenças, valores, experiências e</p><p>comportamentos dos utentes da língua-fonte e da língua-alvo.</p><p>• Competência técnica – habilidade para posicionar-se apropriadamente para</p><p>traduzir/interpretar.</p><p>Se por um lado o bom profissional busca fazer seu trabalho com qualidade,</p><p>entendemos que pode haver uma sobrecarga de atividades que prejudicará sua</p><p>capacidade de processar as informações de forma correta, podendo causar erros/</p><p>omissões. Neste sentido, Gesser (2011, p. 29) concorda que:</p><p>Se o intérprete se empenha demais para fazer uma reformulação em</p><p>um determinado momento do discurso, há uma sobrecarga tamanha</p><p>que a sua capacidade de processamento fica comprometida. Isto</p><p>significa que os esforços utilizados não poderiam exceder os limites de</p><p>capacidade de processamento – o que é um complicador, pois sabemos</p><p>que mesmo com estas estratégias o intérprete trabalha muito perto do</p><p>nível de sobrecarga de informação.</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>100</p><p>6.1 ESTRATÉGIAS/DESAFIOS/EXPECTATIVAS</p><p>O profissional TILSP, sem dúvida, tem sido um valioso instrumento nas</p><p>interações entre surdos e ouvintes. Assim, tendo em mente que cada profissional</p><p>TILSP passa por realidades e contextos diferentes durante sua atuação, a partir de</p><p>agora pontuaremos algumas situações, a fim fomentar seu conhecimento.</p><p>Certamente, se você já atua na área, algumas circunstâncias talvez lhe</p><p>sejam familiares, enquanto outras poderão ser novidade, podendo ser aplicadas</p><p>durante suas atividades no futuro. Mas não entenda como regras/diretrizes, e sim</p><p>como sugestões e compartilhamentos de experiências que poderão ser exercitadas</p><p>e evoluídas.</p><p>Destacamos que alguns destes itens também poderão ser aplicados tanto</p><p>ao TILSP como ao professor de Libras, se assim sentir-se comtemplado com as</p><p>situações elencadas aqui.</p><p>QUADRO 12 – ESTRATÉGIAS</p><p>ESTRATÉGIAS</p><p>• Memória: (relembrar os sinais). Encontre uma maneira própria de relembrar os sinais;</p><p>• Anotações: (organização). Tenha sempre um bloco para anotar novos sinais, e aspectos que</p><p>julgar relevantes para melhorar seu desempenho.</p><p>• Percepção: (auxilia na tomada de decisão). Seja rápido em se adaptar no momento de suas</p><p>atividades.</p><p>• Posição: (sentado ou em pé). Escolha o melhor ângulo para fazer seu trabalho.</p><p>• Escolhas lexicais: (melhor sinal/palavra que se adpta ao discurso).</p><p>• Uso de classificadores: (saber quando utilizar).</p><p>• Uso de datilologia: (termo que não tem sinal).</p><p>• Uso de perguntas para prosseguir: (interlocutor. Ex.: está entendendo?).</p><p>• Uso de comunicação total: (no auxílio para efetivar comunicação).</p><p>• Conteúdo/público: (pesquise e atue em contextos conhecidos por você).</p><p>• Equipe de apoio: (colegas TILSP/profesor de Libras). Valorize e respeite o conhecimento que</p><p>seus colegas possuem.</p><p>• Tecnologias: (aplicativos, sites, grupos de apoio etc.). Faça bom uso delas, entre nos grupos,</p><p>pesquise.</p><p>DESAFIOS</p><p>• Formação: (encontrar bons cursos).</p><p>• Memória: (treinar para relembrar os sinais).</p><p>• Esgotamento: (longas horas de trabalho).</p><p>• Escolhas lexicais: (conseguir o melhor sinal/palavra que se adpta ao discurso).</p><p>• Uso de classificadores: (uso indiscriminado).</p><p>• Relação de temas: (dar continuidade sem perder o conteúdo).</p><p>• Fala rápida: (acompanhar o discursante).</p><p>• Variações regionais/sociais: (encontrar o sinal correspondente).</p><p>• Conteúdo/público: (atuar em contextos desconhecidos).</p><p>• Humildade: (reconhecer que precisa de apoio de outro profissional, seja surdo/ouvinte).</p><p>• Produção vocal: (fazer voz do surdo).</p><p>• Contextualizar: (cuidado! Esperar finalização das frases para contextualizar pode ser perigoso).</p><p>TÓPICO 2 | LIBRAS: TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO – BREVE CONTEXTO: TEÓRICO,</p><p>101</p><p>EXPECTATIVAS</p><p>• Se tornar um profissional habilitado.</p><p>• Aprender novos sinais.</p><p>• Satisfazer os requisitos dos contratantes: (srudo/ouvinte).</p><p>• Trabalho em equipe: (surdo/ouvinte).</p><p>FONTE: As autoras</p><p>Ao relacionarmos os itens apresentados neste quadro, tanto o professor</p><p>de Libras como o profissional TILSP perceberão que antigas expectativas serão</p><p>supridas à</p><p>medida que você for sendo desafiado e novas expectativas surgirão ao</p><p>passo que criar novas estratégias e passar por novos desafios.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>Escreva mais algumas estratégias e desafios que não comparti-</p><p>lhamos aqui.</p><p>DICAS</p><p>Acesse os periódicos de tradução da UFSC. Lá você encontrará vários artigos</p><p>direcionados aos estudos de tradução e interpretação em Libras. Disponível em: https://</p><p>periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/.</p><p>102</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• É muito importante compreendermos o significado de tradução/interpretação</p><p>tanto na LO como na LS, no sentido de “passar de uma língua a outra”. Na</p><p>tradução, em geral, envolve uma língua escrita. Já a interpretação envolve o ato</p><p>de “interpretar de uma língua (língua-fonte) para outra (língua-alvo) o que foi</p><p>dito”.</p><p>• O tempo que o tradutor tem para pensar e encontrar a adaptação correta para</p><p>aquele texto é muito mais longo que o do intérprete. O intérprete, na maioria</p><p>das vezes, trabalha sob pressão, tendo que tomar decisões a todo o momento.</p><p>• Existem alguns modelos de tradução, como: intralingual, que consiste na</p><p>interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua;</p><p>interlingual, que consiste na interpretação dos signos verbais por meio de</p><p>alguma outra língua; e temos também a intersemiótica, que consiste na</p><p>interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.</p><p>• Resgatamos algumas leis referentes à formação e atuação do profissional TILSP,</p><p>como: Lei nº 10.436, de 24 de abril de 200, que deu visibilidade ao profissional</p><p>TILSP; Decreto Federal nº 5.626, de 22 dezembro de 2005, que normatiza</p><p>a formação do Intérprete; Lei Federal nº 12.319, de 1º de setembro de 2010,</p><p>que regulamenta a profissão e define a sua atuação. Finalizamos com a Lei nº</p><p>13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa</p><p>com Deficiência.</p><p>• O conceito de interpretação simultânea em LS, em geral, é o mais solicitado,</p><p>pois envolve interpretar desde um simples diálogo até discursos mais</p><p>complexos. Interpretação consecutiva em LS se dá quando o texto original a</p><p>ser interpretado poderá ser examinado previamente.</p><p>• Os modelos de traduções em LS citados pela autora Quadros (2004) são: Modelo</p><p>Cognitivo, Modelo Interativo, Modelo Interpretativo, Modelo Comunicativo,</p><p>Modelo Sociolinguístico, Modelo Comunicativo, Modelo Bilíngue e Bicultural.</p><p>• Existem e foram destacadas algumas estratégias e desafios, bem como algumas</p><p>expectativas para o desenvolvimento profissional do TILSP e professor de</p><p>Libras.</p><p>103</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 A autora Ronice Müller de Quadros (2004) traz algumas</p><p>considerações importantes com base nos modelos apresentados</p><p>por ela, mostrando, por exemplo, que em todos os modelos</p><p>o profissional precisa dar ênfase ao significado e não às</p><p>palavras, e menciona que uma interpretação adequada depende do quanto</p><p>a mensagem original é retida e passada para a língua-alvo. Diante disso,</p><p>assinale a alternativa que apresenta os modelos propostos pela autora:</p><p>a) ( ) Cognitivo – Interativo – Participativo – Comunicativo – Sociolinguístico</p><p>– Bilíngue e Bicultural.</p><p>b) ( ) Cognitivo – Interlocutor – Interpretativo – Comunicativo – Sinonímio –</p><p>Bilíngue e Bicultural.</p><p>c) ( ) Cognitivo – Interativo – Interpretativo – Comunicativo – Sociolinguístico</p><p>– Bilíngue e Bicultural.</p><p>d) ( ) Correlacional – Interacional – Psicointerpretativo – Comunicacional –</p><p>Linguístico Social – Trilíngue e Bicultural.</p><p>2 Sabemos que existem habilidades e técnicas distintas dos</p><p>profissionais no momento da atuação nas modalidades tanto</p><p>de interpretação quanto de tradução. Aos profissionais cabe o</p><p>gerenciamento das informações e do conhecimento necessário,</p><p>de modo que possam conduzir seu trabalho da melhor maneira. Levando</p><p>em conta os modelos de interpretação propostos por Quadros (2004),</p><p>seguindo o modelo cognitivo, assinale a alternativa que mostra quais passos</p><p>o intérprete deve seguir:</p><p>a) ( ) Entendimento da mensagem na língua-fonte – capacidade de internalizar</p><p>o significado na língua-fonte – capacidade de expressar a mensagem na</p><p>língua-fonte.</p><p>b) ( ) Entendimento da mensagem na língua-alvo – capacidade de internalizar</p><p>o significado nas duas línguas – capacidade de expressar a mensagem</p><p>de acordo com o significado que o profissional subentender.</p><p>c) ( ) Entendimento da mensagem – capacidade de internalizar o significado</p><p>de acordo com a sua prática – capacidade de expressar a sua própria</p><p>opinião na língua-fonte.</p><p>d) ( ) Entendimento da mensagem na língua-fonte – capacidade de internalizar</p><p>o significado na língua-alvo – capacidade de expressar a mensagem na</p><p>língua-alvo sem comprometer a mensagem que chega na língua-fonte.</p><p>104</p><p>105</p><p>TÓPICO 3</p><p>LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS</p><p>APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A comunidade surda tem seus direitos de acessibilidade comunicacional</p><p>garantidos por lei, porém necessita de ferramentas específicas para se apropriar</p><p>dessa acessibilidade.</p><p>Nesse contexto, as Tecnologias Assistivas – TA – têm sido constantemente</p><p>atualizadas e inseridas nas relações humanas, visando a uma melhor integração</p><p>entre os grupos.</p><p>Neste tópico, iremos nos concentrar em ambientes em que o profissional</p><p>TILSP tem desenvolvido suas atividades como mediador na comunicação, o que</p><p>inclui áreas educacionais, religiosas, jurídicas, de saúde, empresas, entre outras,</p><p>além de brevemente descrever as Tecnologias da Informação e Comunicação –</p><p>TIC –, destacando as Tecnologias Assistivas – TA, como agente transformador na</p><p>vida da comunidade surda.</p><p>2 AMBIENTES DE ATUAÇÃO DO TILSP</p><p>O profissional TILSP se movimenta por muitos ambientes ao mesmo</p><p>tempo. Como já visto, a visibilidade deste profissional está muito associada à</p><p>acessibilidade de um povo minoritário dentro de seu próprio país. As áreas de</p><p>atuação vão muito além da área educacional. Atualmente, os ambientes onde eles</p><p>podem atuar incluem: instituições públicas e privadas, bancos, hotéis, emissoras</p><p>de TV, igrejas, empresas, consultórios médicos, cartórios, delegacias, fóruns etc.</p><p>A partir de agora, iremos mencionar algumas dessas áreas onde esses</p><p>profissionais têm atuado, entendendo que muitas áreas novas têm surgido.</p><p>2.1 CONTEXTO EDUCACIONAL</p><p>Sem dúvida, o contexto educacional é a área que mais tem solicitado o</p><p>profissional TILSP. Como resultado, ele tem se desenvolvido grandemente, pois</p><p>envolve se apropriar de várias disciplinas e temáticas que os alunos farão uso</p><p>para o resto de suas vidas, e que muitas vezes decidirão por uma profissão.</p><p>106</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>No contexto inclusivo na área educacional se destacam alguns</p><p>personagens, assim, embora o professor regente e o instrutor de Libras participem</p><p>ativamente na escolarização do aluno surdo, por exemplo, é certo que o intérprete</p><p>educacional tem uma participação primordial, ele é o responsável por mediar a</p><p>comunicação entre todos esses personagens a fim de efetivar a aprendizagem</p><p>desse aluno, exceto em escolas bilíngues, onde em geral não há necessidade de</p><p>mediar essa comunicação.</p><p>Essa inclusão na área educacional começou bem antes dos cursos de</p><p>licenciatura/bacharelado, mas ganhou forma e força de acordo com o Decreto nº</p><p>5.626/2005. Mas será que as habilidades e atribuições do TILSP na área educacional</p><p>são as mesmas cobradas em outros contextos? Vejamos o que nos diz Quadros</p><p>(2004, p. 54):</p><p>O intérprete especialista para atuar na área da Educação deverá ter</p><p>um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos,</p><p>bem como entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. [...]. Muitas</p><p>vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido</p><p>com o papel do professor. [...] O próprio professor delega ao intérprete</p><p>a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos</p><p>na sala. [...] ele que está passando</p><p>a informação é apenas o intérprete,</p><p>é aquele que está apenas intermediando a relação [...].</p><p>Vamos fragmentar esta citação. Iniciemos com o óbvio, sendo ele o</p><p>responsável/conexão por passar as informações entre os professores e alunos,</p><p>bem como para toda a instituição, ou seja, ele tem que estar presente quando</p><p>houver palestras, feiras, confraternizações etc.</p><p>Outra situação aplicada anteriormente é a delimitação entre a função</p><p>do professor e função TILSP, quando Quadros (2004, p. 52) diz que “o papel</p><p>do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor”. Isso</p><p>acontece, muitas vezes, sem mesmo o professor e o profissional TILSP se darem</p><p>conta.</p><p>E não é assim mesmo? Você que já trabalha na área educacional como</p><p>professor de Libras ou TILSP, sem dúvida já passou por inúmeras situações</p><p>parecidas e, em todas elas, buscou a melhor solução para o aprendizado do aluno</p><p>surdo, não é mesmo? O profissional que está iniciando agora deve ficar atento a</p><p>estas situações.</p><p>Mas em todos os casos, tenha em mente que apenas a presença do TILSP</p><p>em sala de aula não assegura que todas as questões sejam contempladas e que</p><p>esse aluno seja realmente incluído. A autora continua nos dando um alerta:</p><p>“Muitas vezes, a presença do intérprete acaba por mascarar uma inclusão que</p><p>exclui” (QUADROS, 2004, p. 54).</p><p>Dessa forma, independentemente de sua formação e atuação, e se já está</p><p>há muito tempo ou não na área educacional, faça sempre o seu melhor, sabendo</p><p>que você fará toda a diferença na vida desse aluno. Agora, de forma breve, vamos</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>107</p><p>explorar outras áreas em que tanto o profissional surdo como o profissional TILSP</p><p>estão envolvidos.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o documento a seguir sobre a postura do TILSP na área educacional.</p><p>Disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/cintedi/trabalhos/Modalidade_1datahora</p><p>_13_10_2014_22_54_22_idinscrito_1644_00674e8c74cd352440f80fc2bbf90112.pdf.</p><p>2.2 ÁREA RELIGIOSA – PROFESSOR DE LIBRAS E TILSP</p><p>Por necessidade ou desejo de ajudar a comunidade surda a se apropriar</p><p>dos desígnios de Deus, atualmente, o cenário dos surdos em ambientes religiosos</p><p>tem sofrido mudanças, porém não se tem somente o profissional TILSP como</p><p>mediador de assuntos religiosos, mas observamos surdos nas posições de:</p><p>pastores, padres, missionários e professores de ensino religioso.</p><p>A partir desse modelo, entendemos que para incluir a pessoa com surdez</p><p>no ambiente religioso não basta apenas disponibilizar um intérprete de LS no</p><p>palco e reservar cadeiras preferenciais, para que os surdos simplesmente assistam</p><p>aos rituais religiosos realizados pelos ouvintes. No modelo atual, algumas</p><p>comunidades surdas têm escrito com suas próprias mãos o seu entendimento</p><p>sobre sua espiritualidade.</p><p>FIGURA 23 – SINAL/PALAVRA DE IGREJA</p><p>FONTE: <http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAAgJ88AB-23.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Visto que a área religiosa tem sido bastante explorada pelos profissionais</p><p>TILSP e professores surdos, é certo que o vocabulário nesta área tem se expandido.</p><p>Conforme Peixoto (2012, p. 1), em seu artigo Reflexos da identidade religiosa da pessoa</p><p>surda na variação linguística em Libras e suas implicações na tradução/interpretação: “O</p><p>léxico utilizado pelo sinalizador revela sua crença, fato este comum em algumas</p><p>108</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>línguas orais, onde um fiel de determinada religião não pronuncia o léxico da</p><p>mesma maneira que um fiel de outra religião”.</p><p>Com isto, a definição dos sinais religiosos dada pela comunidade surda</p><p>de determinada região é de extrema relevância para a qualidade da tradução nos</p><p>ambientes religiosos, visto que ideias opostas podem ser transmitidas de forma</p><p>equivocada, por falta de conhecimento das reais crenças deste povo, prejudicando</p><p>a qualidade da mensagem.</p><p>DICAS</p><p>Quer conhecer mais termos religiosos em Libras? Acesse o dicionário</p><p>Religiosos-Libra Geral e encontrará muitos sinais bíblicos. Disponível em: http://www.</p><p>librasgerais.com.br/dicionarios/religioso.phpp.</p><p>2.3 ASSISTÊNCIA AO SURDO NA ÁREA DE SAÚDE</p><p>COMO FATOR DE INCLUSÃO SOCIAL</p><p>Já vimos, por meio da legislação, que é direito da comunidade surda ter</p><p>acesso à comunicação, através de um atendimento por profissionais capacitados</p><p>em Libras nas redes de serviços públicos, o que inclui hospitais e postos de saúde e</p><p>consultórios médicos. Essa ainda é uma área pouco explorada pelos profissionais</p><p>TILSP na questão de pesquisas, mas muito efetivada no cotidiano.</p><p>Quando conversamos com as comunidades surdas sobre a questão da</p><p>saúde, são muitos os medos e desconfianças acometidos por falta de informações</p><p>no momento em que serão atendidos em um consultório médico. É normal</p><p>observarmos relatos de surdos que levam um familiar ou amigo que saiba Libras,</p><p>para se fazerem entender e serem entendidos.</p><p>A acessibilidade para os surdos tem que acontecer desde o início de seu</p><p>atendimento até a sua saída com a receita ou as medicações em mãos. Neste</p><p>sentido, os próprios profissionais da área de saúde, como médicos, enfermeiros,</p><p>recepcionistas etc., têm buscado fazer cursos de Libras com o objetivo de incluir a</p><p>comunidade surda como seus clientes, efetivando a inclusão.</p><p>Hoje, em alguns estados já existem municípios que, em respeito às leis de</p><p>acessibilidade, criaram centrais de TILSP, e quando a comunidade surda daquele</p><p>local necessita de uma consulta médica, entre outras situações, entra em contato</p><p>com o órgão responsável e o profissional vai até o local atendê-lo.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>109</p><p>DICAS</p><p>A Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) dispõe de uma central</p><p>de intérpretes. Acesse o link e conheça mais. Disponível em: http://www.fcee.sc.gov.br/</p><p>index.php/informacoes/servicos-fcee/central-de-interpretacao-de-libras.</p><p>2.4 TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO JURÍDICA</p><p>No cenário atual, as vivências jurídicas abarcam várias situações que,</p><p>quando envolvem um surdo, requerem a demanda dos serviços de interpretação.</p><p>Santos (2016, p. 118) apresenta alguns possíveis contextos de atuação desse</p><p>profissional: “Para fazer um boletim de ocorrência, requerer assistência social, ir a</p><p>um fórum local, iniciar algum processo civil em órgãos públicos, participar como</p><p>testemunha, júri ou réu em um tribunal, entre outras situações, o surdo precisa de</p><p>um tradutor ou intérprete que realize a mediação”.</p><p>A autora continua dizendo que “mesmo antes do processo judicial em si,</p><p>os profissionais podem ser convocados” (SANTOS, 2016, p. 118). Sim, isso pode</p><p>acontecer por meio da família ou mesmo a convocação pelo órgão competente.</p><p>Veja alguns desdobramentos de contextos em tradução e interpretação jurídica:</p><p>• Audiências.</p><p>• Julgamentos.</p><p>• Juizados.</p><p>• Delegacias.</p><p>• Conciliações.</p><p>• Consulta a advogados.</p><p>• Ministério Público.</p><p>• Casamentos.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o vídeo a seguir e assista a uma audiência no Tribunal de Justiça da</p><p>Bahia com a mediação de um TILSP. Disponível em: http://esuperacao.com.br/uso-de-libras-</p><p>no-poder-judiciario-avanca-no-pais/.</p><p>110</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>2.5 TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO NA ÁREA TELEVISIVA</p><p>Outra área onde o TILSP tem sido muito requisitado é a área televisiva,</p><p>uma bem conhecida por nós é a Janela de Libras, nas sessões do Congresso</p><p>Nacional, além de propagandas, entrevistas, debates eleitorais, entre outros,</p><p>onde esse profissional é exposto em rede nacional. Isso está de acordo o art. 19 da</p><p>Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000:</p><p>QUADRO 13 – ARTIGO 19 DA LEI Nº 10.098/2000</p><p>Art. 19 Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano de medidas técnicas</p><p>com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o</p><p>direito de acesso à informação às pessoas</p><p>2.2 ÁREA RELIGIOSA – PROFESSOR DE LIBRAS E TILSP ........................................................107</p><p>2.3 ASSISTÊNCIA AO SURDO NA ÁREA DE SAÚDE COMO FATOR DE</p><p>INCLUSÃO SOCIAL ....................................................................................................................108</p><p>IX</p><p>2.4 TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ...........................................................................109</p><p>2.5 TRADUÇÃO/INTERPRETAÇÃO NA ÁREA TELEVISIVA ....................................................110</p><p>3 QUESTÃO DE ÉTICA ........................................................................................................................111</p><p>4 CONCEITUANDO TECNOLOGIA E TECNOLOGIA ASSISTIVA ......................................112</p><p>4.1 APARELHO DE AMPLIFICAÇÃO SONORA – AASI .............................................................114</p><p>4.2 USO DE APLICATIVOS TRADUTORES....................................................................................115</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................119</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................122</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123</p><p>UNIDADE 3 – LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA</p><p>E LITERATURA VISUAL ..........................................................................................125</p><p>TÓPICO 1 – SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS ...........127</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127</p><p>2 SISTEMA DE ESCRITA – CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................127</p><p>3 CONSTRUÇÃO DO SISTEMA SIGNWRITING E SUA REPRESENTAÇÃO ......................129</p><p>3.1 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA ESCRITA DE SINAIS ..................................................131</p><p>4 SINGWRITING – BREVE HISTÓRICO NO BRASIL ................................................................136</p><p>5 CONHECENDO ALGUNS SISTEMAS DE ESCRITA NAS LÍNGUAS DE SINAIS</p><p>PELO MUNDO ....................................................................................................................................136</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................144</p><p>TÓPICO 2 – SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES ............................................145</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145</p><p>2 CONCEITUANDO SURDOCEGUEIRA E SURDOCEGO ........................................................145</p><p>2.1 BREVE DISCUSSÃO SOBRE SURDOCEGUEIR E A LEGISLAÇÃO ....................................148</p><p>3 SURDOCEGUEIRA – DIFERENTES NÍVEIS E COMUNICAÇÃO .........................................150</p><p>3.1 COMUNIDADE SURDOCEGA – METODOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO ....................151</p><p>4 O PROFISSIONAL GUIA-INTÉRPRETE COMO MEDIADOR ...............................................156</p><p>4.1 AUXILIANDO NA ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE DO SURDOCEGO ............................158</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................162</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164</p><p>TÓPICO 3 – LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES ......................................165</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165</p><p>2 LITERATURA – BREVE CONCEITO .............................................................................................165</p><p>3 LITERATURA COMO COMPONENTE DA CULTURA E IDENTIDADE SURDA .............169</p><p>4 LITERATURA VISUAL/SURDA .....................................................................................................172</p><p>4.1 LITERATURA VISUAL/SURDA: GÊNEROS LITERÁRIOS ...................................................174</p><p>4.2 LITERATURA VISUAL/SURDA – AUTORES E ATORES ......................................................175</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................178</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................180</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182</p><p>REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................183</p><p>X</p><p>1</p><p>UNIDADE 1</p><p>EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• conceituar as filosofias educacionais na educação dos surdos;</p><p>• conceituar L1 e L2, língua e linguagem;</p><p>• identificar as fases de aquisição de linguagem na criança surda;</p><p>• analisar as diferentes teorias sobre aquisição da linguagem;</p><p>• refletir criticamente acerca dos desafios inerentes ao processo de aquisição</p><p>de L2;</p><p>• relembrar a relação intrínseca entre cultura surda e currículo/didática na</p><p>educação de surdos;</p><p>• conhecer os estágios de aquisição de L2;</p><p>• reconhecer as implicações curriculares e didáticas inerentes à educação</p><p>de surdos;</p><p>• refletir sobre a luta em prol de práxis pedagógica condizente com a</p><p>educação de surdos.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você</p><p>encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.</p><p>TÓPICO 1 – AQUISIÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS PARA</p><p>SURDOS COMO L1</p><p>TÓPICO 2 – AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA</p><p>PARA SURDOS COMO L2</p><p>TÓPICO 3 – CURRÍCULO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>2</p><p>3</p><p>TÓPICO 1</p><p>UNIDADE 1</p><p>AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA</p><p>SURDOS COMO L1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Caro acadêmico, o processo de aquisição da Língua de Sinais para surdo</p><p>como L1 é um estudo profundo, mas é realmente muito cativante e instigador.</p><p>Quando nos aprofundamos em estudar para saber como o processo deve</p><p>ocorrer de forma natural, percebemos os prejuízos significativos que a maioria</p><p>dos alunos surdos vem sofrendo no seu processo de escolarização.</p><p>Nesta unidade, aprofundaremos com mais afinco e especificidade a</p><p>Educação de Surdos. Inicialmente, destacaremos como o surdo adquire a Língua</p><p>de Sinais como L1 (primeira língua). Em seguida, adentraremos no processo de</p><p>aquisição da Língua Portuguesa para Surdo como L2 (segunda língua) e, por</p><p>último, mas não menos importante, refletiremos acerca de um currículo e didática</p><p>adaptados à cultura surda, contribuindo de forma efetiva para um processo de</p><p>ensino-aprendizagem de real qualidade. Bons estudos!</p><p>2 A EDUCAÇÃO DE SURDOS E SUAS FILOSOFIAS</p><p>EDUCACIONAIS AO LONGO DA HISTÓRIA</p><p>A educação de surdos ao longo da história foi influenciada pelas filosofias</p><p>educacionais do período histórico vivido naquele momento e, por isso, perpassou</p><p>grandes transformações. Por este motivo, analisaremos a partir de agora o</p><p>oralismo, a comunicação total com o bimodalismo e o bilinguismo. Vamos</p><p>adiante!?</p><p>2.1 ORALISMO</p><p>Quadros (1997) afirma que o objetivo primário do oralismo é recuperar,</p><p>reabilitar a pessoa surda. Esta reabilitação estava diretamente relacionada à ênfase</p><p>na fala. “O oralismo enfatiza a língua oral em termos terapêuticos” (QUADROS,</p><p>1997, p. 22).</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>4</p><p>FIGURA 1 – O SURDO TEM QUE FALAR</p><p>FONTE: <https://goo.gl/mpEDSV>.</p><p>portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo</p><p>previstos em regulamento.</p><p>FONTE: Brasil (2000, s.p.)</p><p>Essa lei garante o direito ao acesso e informação nos meios de comunicação</p><p>para a comunidade surda brasileira. Observe que essa lei veio antes da Lei nº</p><p>10. 436/2002, que reconhece a Libras como meio de comunicação e expressão da</p><p>comunidade surda. Essa relação é muito bem descrita por Pagura (2003, p. 185):</p><p>“Mais uma semelhança entre o tradutor e o intérprete é que ambos os profissionais</p><p>devem ser pessoas capazes de compreender e expressar ideias relacionadas às</p><p>mais diferentes áreas de conhecimento humano, sem ser especialistas nessa área</p><p>[...]”.</p><p>Como mencionado por Pagura (2003), são muitas as áreas de conhecimento</p><p>em que o TILSP está envolvido. Assim, além de todos estes contextos mencionados</p><p>anteriormente, a procura por profissionais para atuarem em empresas tem sido</p><p>significativa. São solicitados para mediar as integrações, reuniões, palestras,</p><p>encerramentos de final de ano etc.</p><p>Sabemos que esse assunto não se encerra por aqui, pois a comunidade</p><p>surda vem ocupando contextos diversos nos últimos anos. Portanto, como</p><p>profissional TILSP e professor de Libras, fique atento a esses novos contextos que</p><p>estão surgindo (e irão surgir) e antecipe seus conhecimentos, incluindo as regras</p><p>de moral e ética envolvidas durante as atividades dos mesmos.</p><p>DICAS</p><p>Documentos para conhecimento: Atuação do tradutor, intérprete e guia-</p><p>intérprete de Libras e língua portuguesa em materiais audiovisuais televisivos e virtuais.</p><p>Disponível em: http://febrapils.org.br/wp-content/uploads/2017/07/nota-tcnica-febrapils-</p><p>feneis-materiais-audiovisuais.pdf.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>111</p><p>Acesse a Tabela de referência para pagamento de honorários na contratação de tradutores,</p><p>intérpretes e guias-intérpretes de Língua Brasileira de Sinais – Libras (2017). Disponível em:</p><p>http://febrapils.org.br/tabela-de-honorarios/.</p><p>3 QUESTÃO DE ÉTICA</p><p>FIGURA 24 – ÉTICA</p><p>FONTE: <https://circulocubico.files.wordpress.com/2008/04/etica-thumb.jpg?w=244&h=157>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Se porventura o professor de Libras ou TILSP iniciar seu trabalho mesmo</p><p>sem uma formação acadêmica, isso não pode ser uma justificativa para má</p><p>conduta ou falta de ética, não importa o tipo e o tempo do vínculo que tenha, há</p><p>deveres e regras morais e éticas a serem seguidos.</p><p>Cada curso que realizamos, ou formação continuada, é como se fizéssemos</p><p>um juramento nos comprometendo com a nossa categoria profissional. Assim,</p><p>seja como professor ou TILSP, pergunte-se: Como sabemos se estamos sendo</p><p>éticos durante nossas atividades? Esta não é uma pergunta fácil de responder.</p><p>É certo que situações variadas vão exigir atitudes específicas, porém,</p><p>indiferente da profissão que exercemos, destacamos algumas qualidades que</p><p>são universais para todo ser humano, como generosidade, espírito de cooperação e</p><p>respeito. Mas, em se tratando do profissional TILSP, podemos verificar algumas</p><p>qualidades relacionadas aos preceitos éticos citadas por Quadros (2004, p. 28):</p><p>a) confiabilidade (sigilo profissional);</p><p>b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com</p><p>opiniões próprias);</p><p>c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento</p><p>durante a atuação);</p><p>d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal</p><p>são separados);</p><p>e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar</p><p>a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum</p><p>assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito).</p><p>Nessa perspectiva, não há problemas em pensarmos ou termos ideias</p><p>diferentes. O pensar diferente não deverá impedir que caminhemos e estudemos</p><p>juntos ou sejamos coletivos.</p><p>112</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>Sem dúvida, os intérpretes de Libras estão aprendendo a se organizar</p><p>enquanto grupo profissional, e como já dissemos, a caminhada ainda é longa.</p><p>Além disso, o Brasil é grande e as realidades são diversas, demandando do</p><p>profissional e do coletivo uma postura de empatia e comprometimento.</p><p>DICAS</p><p>Assim, consulte alguns documentos sobre a ética nesta profissão a partir</p><p>das organizações citadas a seguir. São organizações que delineiam o código de ética dos</p><p>profissionais tradutores e intérpretes do Brasil, tanto em LO como em LS:</p><p>• ABRATES – Associação Brasileira de Tradutores e o SINTRA – Sindicato dos Tradutores:</p><p>https://www.sintra.org.br/</p><p>• FEBRAPILS – Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes</p><p>e Guias-Intérpretes de Língua de Sinais: http://febrapils.org.br/category/febrapils/</p><p>• Código de ética FENEIS: http://www.crescabrasil.com.br/pessoas/5244/material/</p><p>C%C3%B3digo%20de%20%C3%89tica.pdf</p><p>• Acesse também o Código de Ética da Feneis em LS: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=A3xfYOnCj44</p><p>Acadêmico, devemos ter em mente que, enquanto profissionais,</p><p>devemos primar pelo estudo, preparação e pelo trabalho em equipe com ética e</p><p>responsabilidade. Lembrando a você, que será protagonista como professor no</p><p>ensino e aprendizagem de Libras como L1 e L2, tenha o profissional TILSP como</p><p>seu aliado, a fim de efetivar um bom trabalho. A partir de agora, brevemente</p><p>vamos pesquisar sobre a acessibilidade para a comunidade surda por meio das</p><p>Tecnologias Assistivas –TA.</p><p>4 CONCEITUANDO TECNOLOGIA E</p><p>TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>O movimento da era digital se deu inicialmente na vida das pessoas</p><p>sem deficiência, se estendendo para pessoas com alguma deficiência, ou melhor</p><p>dizendo, muitas tecnologias foram criadas justamente para esse público, e as leis</p><p>têm colaborado muito para essa acessibilidade digital.</p><p>Nosso foco neste momento não é estudar as tecnologias em si, pois é</p><p>um tema que pode resultar em diversos desdobramentos. Entendemos que as</p><p>tecnologias ganharam um espaço sem volta na sociedade, porém existe uma</p><p>diferença entre a tecnologia propriamente dita e a Tecnologia Assistiva – TA.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>113</p><p>Sobre tecnologia, Kenski (2008) apresenta que:</p><p>[...] para todas as atividades que realizamos, precisamos de produtos</p><p>e equipamentos resultantes de estudos, planejamentos e construções</p><p>específicas, na busca de melhores formas de viver. Ao conjunto de</p><p>conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento,</p><p>à construção e à utilização de um equipamento em um determinado</p><p>tipo de atividade nós chamamos de tecnologia (KENSKI, 2008, p. 18).</p><p>Portanto, em sua fala a tecnologia pode ser compreendida como algo</p><p>presente no nosso cotidiano de tal forma que muitas das vezes já não nos damos</p><p>conta da sua existência. Neste sentido concorda-se, ainda, com a autora Bueno</p><p>(1999) quando diz que a tecnologia é:</p><p>[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda,</p><p>modifica e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante</p><p>necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir</p><p>com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais primitivos</p><p>até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico</p><p>para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos</p><p>oriundos do processo de interação deste com a natureza e com os</p><p>demais seres humanos (BUENO, 1999, p. 87).</p><p>Dessa forma, como notamos, vivemos no momento de “evolução</p><p>tecnológica, e não se restringe apenas aos novos usos de determinados</p><p>equipamentos e produtos, vai muito mais além. Assim, passemos para o conceito</p><p>de “tecnologia assistiva”, de acordo com o MEC (2006) e empregado nos estudos</p><p>de BERSCH (2006): “[...] é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal</p><p>de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades</p><p>funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida</p><p>independente e inclusão” (BERSCH, 2006, p. 89).</p><p>Ainda temos o conceito</p><p>dado pelo Artigo 2º da Lei nº 13.146, de 2015,</p><p>articula os dois conceitos quando expressa no inciso III: “tecnologia assistiva ou</p><p>ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,</p><p>estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade,</p><p>relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com</p><p>mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de</p><p>vida e inclusão social” (BRASIL, 2015, s.p.).</p><p>A lei continua pontuando a importância e direito para esse público:</p><p>114</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>QUADRO 14 – CAPÍTULO III: DA TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>Art. 74 É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos,</p><p>estratégias, práticas, processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que</p><p>maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida.</p><p>Art. 75 O poder público desenvolverá plano específico de medidas, a ser</p><p>renovado em cada período de 4 (quatro) anos, com a finalidade de:</p><p>I- facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com oferta de linhas de</p><p>crédito subsidiadas, específicas para aquisição de tecnologia assistiva;</p><p>II- agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de importação de tecnologia</p><p>assistiva, especialmente as questões atinentes a procedimentos alfandegários</p><p>e sanitários;</p><p>III- criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção nacional de tecnologia</p><p>assistiva, inclusive por meio de concessão de linhas de crédito subsidiado e de</p><p>parcerias com institutos de pesquisa oficiais;</p><p>IV- eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e de importação de</p><p>tecnologia assistiva;</p><p>V- facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos recursos de tecnologia</p><p>assistiva no rol de produtos distribuídos no âmbito do SUS e por outros órgãos</p><p>governamentais.</p><p>Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os procedimentos</p><p>constantes do plano específico de medidas deverão ser avaliados, pelo menos,</p><p>a cada 2 (dois) anos.</p><p>FONTE: Brasil (2015, s.p.)</p><p>Atualmente, a gama de recursos tecnológicos é muito variada, eles não</p><p>ficam mais restritos à recursos como TDD, que é a sigla em inglês para Telephone</p><p>Device for Deaf (aparelho de telefone para surdos) e campainhas luminosas. Do</p><p>ponto de vista dos surdos, uma das grandes modificações foi o uso do computador,</p><p>da internet e do celular, inaugurando uma nova era para possibilidades de</p><p>comunicação, pois são tecnologias acessíveis por meio de uma linguagem visual.</p><p>Assim, vamos ver brevemente algumas delas.</p><p>4.1 APARELHO DE AMPLIFICAÇÃO SONORA – AASI</p><p>Talvez seja o produto de tecnologia assistiva (TA) mais antigo para os</p><p>surdos, se pensarmos sob o ponto de vista médico. Seu formato vem sendo</p><p>modificado desde então. Além disso, hoje já contamos com o implante coclear, ou</p><p>o que alguns chamam de ouvido biônico.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>115</p><p>FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DO AASI</p><p>FONTE: <http://ceong.com.br/wp-content/uploads/bernafon-evolucao.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>FIGURA 26 – IMPLANTE COCLEAR</p><p>FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTXSLBV-</p><p>eNDWkG5xhRZb270subMqXjIt_cNGY688x468ME_YHhQ>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>4.2 USO DE APLICATIVOS TRADUTORES</p><p>Hoje são muitos os aplicativos disponíveis para acessibilidade na</p><p>comunicação das comunidades surdas e ouvintes. Citaremos os mais conhecidos</p><p>e usados até o momento.</p><p>FIGURA 27 – APLICATIVOS</p><p>FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-w-Hvru1VtznYSj_F8-</p><p>g7NTRLiSrj0y9rp0EHDE1el-MbA5mS>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>116</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>• No HandTalk</p><p>Temos o personagem virtual/intérprete chamado Hugo, ele apresenta</p><p>uma barra de funções com o histórico de palavras e frases que foram acessadas</p><p>recentemente. Você também pode ajustar a velocidade dos sinais deixando-a</p><p>mais rápida ou lenta, é só clicar em "ajustes", de acordo com a particularidade da</p><p>aprendizagem de cada um.</p><p>• Rybená</p><p>Funciona de forma compatível com os principais navegadores, seja para</p><p>computadores ou dispositivos móveis. Completamente nacional, é capaz de traduzir</p><p>textos do português para Libras e de converter o português escrito para voz.</p><p>• O VLibras</p><p>Lançado pelo Ministério do Planejamento, de uso gratuito, é uma/um suíte/</p><p>conjunto de páginas da internet de ferramentas utilizadas na tradução automática</p><p>do Português para a Língua Brasileira de Sinais. É possível utilizar essas ferramentas</p><p>tanto no computador Desktop quanto em smartphones e tablets.</p><p>FIGURA 28 – VLIBRAS</p><p>FONTE: <https://unintersantoandre.files.wordpress.com/2017/09/trabalho2.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>• Viável Brasil</p><p>É um sistema pago, que permite a comunicação em vídeo entre surdos e</p><p>deficientes de fala. O equipamento VPAD poderá ser usado para comunicação</p><p>entre surdo e surdo, ou surdo e ouvinte. Contém viva voz, funciona com WiFi e</p><p>bateria, poderá ser levado para qualquer lugar.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>117</p><p>DICAS</p><p>Assista ao vídeo que explica como funciona o Viável Brasil. Disponível em:</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=LodDsbtqTwU.</p><p>• Aplicativos de mensagens/vídeos:</p><p>o Glide – Vídeo Chat Messenger: aplicativo de mensagens que possibilita</p><p>videochamada em tempo real de até cinco minutos de duração. Ele possui</p><p>elementos como conversas em grupos, sendo possível fazer upload de vídeos</p><p>para redes sociais e muito mais.</p><p>o Skipe: um software que permite a comunicação em tempo real com o mundo</p><p>todo. É possível realizar chamadas de vídeo e de voz, enviar mensagens</p><p>através do chat, bem como compartilhar arquivos. É totalmente gratuito.</p><p>o WhatsApp Messenger: é um aplicativo de mensagens multiplataforma que</p><p>permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS. Hoje em dia já é</p><p>possível também fazer videochamada.</p><p>o Facebook: pode-se dizer que é a maior rede social do mundo. É possível criar</p><p>e configurar campanhas publicitárias, além de enviar e receber mensagens.</p><p>o Imo: é possível utilizá-lo para mensagens ou vídeos para as conversas. O serviço</p><p>está disponível tanto na versão web como nas plataformas Android e iOS.</p><p>Além destas tecnologias citadas, podemos ainda relacionar com a</p><p>comunidade surda mais algumas: relógio celular e telefones para fazer videoconferências;</p><p>Closed Caption (CC) ou legenda oculta; Revista de videorregistro; Cursos de Libras</p><p>a Distância; Glossários eletrônicos; programas da TV Ines e canais de youtube com</p><p>professores surdos ensinando Libras.</p><p>FIGURA 29 – RELÓGIO PARA VIDEOCONFERÊNCIA</p><p>FONTE: <http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/foto/0,,16224036-FMM,00.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>118</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>FIGURA 30 – TELEFONE FIXO PARA VIDEOCONFERÊNCIA</p><p>FONTE: <https://www.casasbahia-imagens.com.br/TelefoneseCelulares/TelefoniaFixa/</p><p>Telefonescomfio/11758672/904351311/telefone-com-fio-yealink-sip-vp-t49g-chamadas-por-</p><p>videoconferencia-11758672.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>Vale lembrar que os tradutores virtuais podem ser usados por qualquer</p><p>público surdo/ouvinte, desde aquele que não tem conhecimento algum da LS até</p><p>aqueles interessados em aprimorar sua comunicação em Libras.</p><p>Ressaltamos que algumas dessas tecnologias são gratuitas, além disso,</p><p>experiências têm mostrado que ao fazer mediações pedagógicas através dessas</p><p>tecnologias isso tem contribuído grandemente para o processo de ensino-</p><p>aprendizagem de alunos surdos, bem como para o profissional TILSP. Assim,</p><p>acadêmico, faça uso dessas tecnologias no seu dia a dia e explore essa temática.</p><p>É claro que existem muitas tecnologias não abordadas no seu livro</p><p>didático e outras estão sendo criadas neste momento, mas com estas informações</p><p>você pode</p><p>ter uma noção de como está o caminho da tecnologia e da informação</p><p>e acessibilidade em relação à comunidade surda.</p><p>DICAS</p><p>Sobre a TV INES – Acessibilidade, qualidade e inovação: TV INES integra</p><p>públicos surdo e ouvinte. 2016. Disponível em: http://tvines.org.br/?page_id=33.</p><p>Você já deve ter ouvido falar do símbolo indicativo de acessibilidade</p><p>em Libras encontrado em muitos sites e espaços frequentados pela comunidade</p><p>surda, como aeroportos, entre outros. Você sabe como ele foi criado? O que</p><p>significa? Entenda melhor por meio da leitura complementar.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>119</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>SÍMBOLO ACESSÍVEL EM LIBRAS</p><p>O símbolo Acessível em Libras foi criado pelo Centro de Comunicação</p><p>(Cedecom) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), órgão responsável</p><p>pela produção e divulgação de informações a respeito da instituição. Idealizado</p><p>em 2012 pelo Núcleo de Comunicação e Acessibilidades (NCA) do Cedecom –</p><p>na época denominado Núcleo de Comunicação Bilíngue: Libras e Português, o</p><p>símbolo objetiva suprir a carência de um ícone que identifique, visualmente, os</p><p>conteúdos e serviços disponíveis na Língua Brasileira de Sinais (Libras).</p><p>O conceito do símbolo envolve a identificação da língua de sinais utilizada</p><p>no Brasil, que tem os surdos como seus principais usuários. Eles configuram a</p><p>cultura surda, que alicerça essa língua.</p><p>Entende-se comunidade surda, enquanto minoria linguística e cultural; e,</p><p>surdo, enquanto cidadão que se comunica pela Libras – língua oficial no nosso</p><p>país. Dessa forma, a surdez não é tida como deficiência, e, sim, como diferença</p><p>cultural pautada no uso de uma língua sinalizada.</p><p>O SÍMBOLO</p><p>Língua Brasileira de Sinais</p><p>Com o foco na acessibilidade linguística por meio da Libras, o símbolo é</p><p>utilizado para identificar o conteúdo originalmente produzido na língua ou com</p><p>tradução/interpretação para Libras, a partir da Língua Portuguesa, por exemplo.</p><p>No caso de tradução/interpretação, o conteúdo pode refletir transposição do</p><p>Português para a Libras e vice-versa. O símbolo, ao indicar um discurso em</p><p>Libras, pode representar a presença de um interlocutor surdo, um ouvinte com</p><p>fluência na língua ou um tradutor e intérprete de Libras.</p><p>A imagem do símbolo foi inspirada no próprio sinal da Libras – item</p><p>linguístico utilizado para nomeá-la. Portanto, a imagem apresenta iconicamente</p><p>este sinal, a partir de uma representação gráfica, composta por duas mãos</p><p>120</p><p>UNIDADE 2 | LIBRAS E LP: ASPECTOS GRAMATICAIS – ELEMENTOS TEÓRICOS, PRÁTICOS DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO</p><p>– TECNOLOGIA ASSISTIVA</p><p>espalmadas e pela presença de duas aspas, que indicam movimento. Por meio do</p><p>desenho de uma gola, o símbolo representa, também, o interlocutor que faz uso</p><p>dessa língua. A cor azul foi escolhida para gerar identificação com os símbolos</p><p>universais de acessibilidade, além de representar a cor dos movimentos sociais</p><p>dos surdos.</p><p>O símbolo Acessível em Libras se diferencia do símbolo que identifica a</p><p>surdez e a deficiência auditiva, pois remete à presença de conteúdo em Libras.</p><p>Peças de identificação Botton e camisa: identifica a pessoa com fluência em Libras,</p><p>que está promovendo a acessibilidade nesta língua.</p><p>Camisa do tradutor e intérprete de Libras: identifica o profissional tradutor e</p><p>intérprete de Libras. O serviço disponibilizado envolve de um lado a Libras e,</p><p>do outro, qualquer outra língua, sendo ela oral, sinalizada ou ainda a escrita de</p><p>sinais.</p><p>Banner: utilizado para sinalizar locais com acessibilidade em Libras.</p><p>TÓPICO 3 | LIBRAS: TECNOLOGIAS ASSISTIVAS APLICADAS À COMUNIDADE SURDA</p><p>121</p><p>Variações de assinatura</p><p>Aplicações especiais</p><p>Assinatura Parcial: Uso recomendado quando o público já conhece</p><p>a sigla Libras.</p><p>*largura mínima: 1,5cm.</p><p>Sem assinatura: Esta aplicação é recomendada quando direcionada</p><p>a públicos que já tenham familiaridade com o símbolo.</p><p>*largura mínima: 1 cm.</p><p>• Como ícones para tela (72dpi)</p><p>• Aplicações repetitivas e/ou espaços reduzidos</p><p>*Usado na mesma altura do caractere maiúsculo.</p><p>Assinatura Completa: É recomendada para informar ao público</p><p>que desconhece significado da siga Libras.</p><p>*largura mínima para impressão: 2cm.</p><p>FONTE: Símbolo acessível em Libras – UFMG. Cedecom, NCA Disponível em: https://www.ufmg.</p><p>br/marca/libras/images/MANUAL_acessivel_em_libras_.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>122</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• É essencial a presença do TILSP e o professor de Libras em instituições</p><p>educacionais como participantes ativos na escolarização do aluno surdo.</p><p>• Também ocorrem as atividades do TILSP em ambientes religiosos, destacando</p><p>o papel dos surdos como mediadores nas posições de: pastores, padres,</p><p>missionários, professores de ensino religioso.</p><p>• O profissional TILSP atuante na área da saúde tem contribuído</p><p>significativamente para o acesso à informação do sujeito surdo.</p><p>• O profissional TILSP tem sido requisitado para traduzir e interpretar na área</p><p>jurídica, o que exige grande parcela de ética, bem como em empresas e redes</p><p>televisivas.</p><p>• Há algumas Tecnologias Assistivas – TA – relacionadas à comunidade surda,</p><p>como TDD, celular, campainhas luminosas, aparelho de amplificação sonora –</p><p>AASI –, implante coclear.</p><p>• Existem aplicativos tradutores, como: HandTalk, ProDeaf, Rybená, VLibras e</p><p>aplicativos de mensagens, entre eles o Glide – Vídeo Chat Messenger, Imo,</p><p>Skipe e WhatsApp, além do Facebook e o Viável Brasil, que é um equipamento</p><p>VPAD. Todos são usados para comunicação entre surdo e surdo ou surdo e</p><p>ouvinte.</p><p>• O Centro de Comunicação (Cedecom) da Universidade Federal de Minas</p><p>Gerais (UFMG) criou o símbolo de acessibilidade em Libras, o qual envolve</p><p>a identificação dos espaços que utilizam a língua de sinais com tradução/</p><p>interpretação para Libras a partir da Língua Portuguesa.</p><p>123</p><p>1 Sabemos que cada ambiente onde o TILSP realiza suas atividades</p><p>requer atribuições específicas. O espaço escolar, sem dúvida, é</p><p>onde se concentra o maior número desses profissionais. Quadros</p><p>(2004) menciona algumas dessas atribuições objetivando uma</p><p>escola inclusiva. Neste contexto, analise as sentenças a seguir:</p><p>I- O intérprete especialista para atuar na área da Educação deverá ter um</p><p>perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem</p><p>como entre os colegas surdos e os colegas ouvintes.</p><p>II- É o único responsável por passar as datas de atividades, avaliações, prazos,</p><p>considerando que poucas informações circulam na língua de sinais em sala</p><p>de aula.</p><p>III- Ele está ali para passar a informação, é apenas o intérprete, é aquele que faz</p><p>a intermediação entre o professor e o aluno surdo e a escola.</p><p>IV- Participar de algumas reuniões de conselho de classe, a fim de dar um</p><p>parecer sobre o processo de ensino-aprendizagem de seu aluno surdo.</p><p>Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:</p><p>a) ( ) Somente os itens I e III estão corretos.</p><p>b) ( ) Somente os itens I e IV estão corretos.</p><p>c) ( ) Somente os itens I, II e IV estão corretos.</p><p>d) ( ) Somente os itens I, II e III estão corretos.</p><p>2 De modo geral, a tecnologia para surdos e deficientes auditivos</p><p>trouxe muitos benefícios. Além de permitirem a inclusão,</p><p>eles contribuem grandemente para a sua comunicação e</p><p>desenvolvimento em qualquer lugar, com qualquer pessoa, seja</p><p>surda ou ouvinte. Nesse contexto, relacione as sentenças com seguintes itens:</p><p>I- TDD e campainhas luminosas. Aparelho de amplificação sonora – AASI.</p><p>II- Viável Brasil – Contém viva voz, funciona com WiFi e bateria.</p><p>III- HandTalk, Prodeaf, Rybená e VLibras, que usam um personagem virtual/</p><p>intérprete.</p><p>IV- Imo, Skipe e WhatsApp. Podem fazer chamadas de vídeo.</p><p>a) ( ) Tecnologias mais antigas para a comunidade surda.</p><p>b) ( ) Aplicativos de comunicação de tradutores.</p><p>c) ( ) Indicados para serem usados na comunicação entre surdo e surdo, ou</p><p>surdo e ouvinte.</p><p>d) ( ) É um sistema que</p><p>permite a comunicação em vídeo entre surdos e</p><p>deficiente de fala.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>124</p><p>125</p><p>UNIDADE 3</p><p>LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA</p><p>SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E</p><p>LITERATURA VISUAL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:</p><p>• conhecer sistemas de escrita da língua de sinais pelo mundo;</p><p>• compreender a estrutura da SignWriting como escrita da Libras;</p><p>• contribuir para pesquisas sobre a SignWriting;</p><p>• analisar contextos sobre surdocegueira;</p><p>• identificar espaços frequentados pelo indivíduo surdocego;</p><p>• conhecer e compreender diferentes linguagens para surdocegos;</p><p>• assimilar a construção de uma literatura visual;</p><p>• relacionar a literatura surda com a cultura surda.</p><p>Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você</p><p>encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.</p><p>TOPICO 1 – SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE</p><p>ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>TÓPICO 2 – A SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>TÓPICO 3 – A LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>126</p><p>127</p><p>TÓPICO 1</p><p>SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA</p><p>DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A importância de uma escrita para grafar os pensamentos de uma língua</p><p>faz parte de qualquer comunidade linguística, pois a escrita é um código de</p><p>comunicação secundário em relação à linguagem articulada, seja ela oral ou em</p><p>sinais.</p><p>Para a comunidade surda de todo o mundo, o impedimento auditivo</p><p>replica em um aprendizado de uma segunda língua escrita. No Brasil, esse</p><p>processo acontece por meio da língua portuguesa (LP), a língua oficial do país.</p><p>Sendo a língua de sinais (LS) a língua oficial dos surdos, podemos concluir que o</p><p>fato dela ser uma língua gestual-visual impede a grafia de seus pensamentos? Já</p><p>sabemos que não é assim, a LS não é ágrafa, ela possui uma escrita.</p><p>Neste tópico abordaremos brevemente os sistemas de escrita na LS, de</p><p>diversos países, de que se tem conhecimento, principalmente o sistema de escrita</p><p>SignWriting usado aqui no Brasil como metodologia da escrita em Libras, tendo</p><p>em mente que novas pesquisas vêm sendo desenvolvidas.</p><p>2 SISTEMA DE ESCRITA – CONTEXTUALIZAÇÃO</p><p>A evolução da escrita sempre esteve relacionada ao processo de civilização,</p><p>assim, os sistemas de escrita procuram representar as diferentes línguas humanas</p><p>ou artificiais. Nesse sentido, por muitos motivos as comunidades surdas tiveram</p><p>o processo da criação de uma escrita interrompida por muito tempo.</p><p>“Para a criança surda, aprender a escrever seu nome em escrita de</p><p>língua de sinais tem um significado importante para sua autoestima</p><p>e possibilita sentir-se um sujeito surdo com identidade surda”</p><p>(STUMPF, 2005, p. 78).</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>128</p><p>FIGURA 1 – FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA</p><p>jornais</p><p>cartas</p><p>cartazes</p><p>convites</p><p>COMUNICAÇÃOORGANIZAÇÃO</p><p>rótulos</p><p>crachás</p><p>setorização</p><p>placas</p><p>agendas</p><p>receitas</p><p>listas de</p><p>compras</p><p>livros</p><p>REGISTRO</p><p>literatura</p><p>histórias em</p><p>quadrinhos</p><p>revistas</p><p>LAZER</p><p>FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA</p><p>(escrita utilizada na sociedade)</p><p>FONTE: <https://sites.google.com/site/ensinandoaescrever/_/rsrc/1468751827720/o-que-</p><p>significa-trabalhar-a-escrita-com-funcao-social-/img0.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>Para Vygotsky (apud OLIVEIRA, 2010, p. 70), “[...] como a escrita é</p><p>uma função culturalmente mediada, a criança que se desenvolve numa cultura</p><p>letrada está exposta aos diferentes usos da linguagem escrita e a seu formato,</p><p>tendo diferentes concepções a respeito desse objeto cultural ao longo de seu</p><p>desenvolvimento.</p><p>Assim, como professores de Libras e profissionais TILSP, você irá</p><p>estimular e participar do conhecimento em Libras em todas as modalidades de</p><p>ensino, o que inclui o ensino e aprendizagem da escrita de sinais, colaborando</p><p>para desenvolver mais pesquisas nesse campo.</p><p>Dessa forma, você estará produzindo sujeitos “biculturais”, ou seja,</p><p>eles participarão de duas culturas que se adaptam uma à outra, por isso as</p><p>comunidades surdas e ouvintes atuantes nela defendem o direito de a criança</p><p>surda ser bicultural e bilíngue desde a Educação Infantil.</p><p>Todos esses movimentos ampliarão as formas de comunicação e expressão</p><p>utilizadas pela comunidade surda, além disso, ao conhecer a metodologia de</p><p>escrita de sinais, você participará de um processo inovador. Mas tenhamos</p><p>em mente que todos esses recursos só serão possíveis se houver um esforço em</p><p>conjunto, tanto da família, do sistema educacional e políticas públicas.</p><p>Entretanto, quando pensamos na possibilidade de escrever em língua de</p><p>sinais, devemos lembrar que “até então, a única forma de registro das línguas de</p><p>sinais era o registro em vídeo [...], registro que continua sendo uma forma valiosa</p><p>para a comunidade surda” (QUADROS, 1999, p. 1).</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>129</p><p>Neste contexto, sabemos que, segundo Gesser (2009, p. 42), “até bem</p><p>pouco tempo, a língua de sinais era considerada uma língua sem escrita”, mas</p><p>você deve se lembrar de que na Unidade 2 falamos brevemente sobre sistemas de</p><p>linguagens verbal e não verbal, e a LS está entre as linguagens não verbais. Por</p><p>isso, como língua natural de uma linguagem não verbal, a Libras se apropriou de</p><p>uma escrita para registrar seus pensamentos.</p><p>Assim, a escrita de sinais assume um papel extremamente significativo</p><p>para o povo surdo, não como substituto da língua portuguesa escrita, mas como</p><p>expressão de sua cultura, é um sistema rico e fascinante que mostra o feitio das</p><p>línguas de sinais de uma forma visual escrita, já sendo usada como ferramenta</p><p>auxiliadora na alfabetização de surdos. Passemos, então, para pesquisas sobre a</p><p>construção do sistema SW.</p><p>3 CONSTRUÇÃO DO SISTEMA SIGNWRITING</p><p>E SUA REPRESENTAÇÃO</p><p>Quando pensamos na função de qualquer escrita, entendemos que é muito</p><p>mais fácil escrever na língua que o falante pensa. Dessa forma, é importante saber</p><p>o histórico daquela escrita. Assim, iremos fazer um breve relato sobre a história</p><p>da SignWriting. Iniciamos com a citação a seguir: “O sistema SignWriting foi</p><p>desenvolvido pela norte-americana Valerie Sutton, por volta da década de 70,</p><p>quando estava na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, grafando</p><p>balés tradicionais através de um sistema criado por ela para esta finalidade,</p><p>o DanceWriting [...]” (DALLAN; MASCIA, 2010, p. 4). A seguir, podemos observar</p><p>um exemplo do sistema inicial DanceWriting:</p><p>FIGURA 2 – DANCEWRITING</p><p>FONTE: <http://www.escritadesinais.com.br/aula_2_15.html>. Acesso em: 5 jan. 2019.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>130</p><p>ATENCAO</p><p>A SignWriting é internacional e pode ser usada para escrever em qualquer língua</p><p>de sinais do mundo. A palavra em inglês “SignWriting” significa “Escrita de Sinais” no Brasil.</p><p>Ao criar esse sistema de dança, a coreógrafa não imaginou que ele fosse o</p><p>grande precursor da escrita de sinais mais utilizado hoje pelo mundo. Assim, esse</p><p>sistema baseado na “DanceWriting” criou registros que foram adaptados por</p><p>meio de um programa de computador, possibilitando o que veio a ser chamado</p><p>mais tarde de SignWriting (SW).</p><p>Portanto, foi na Dinamarca que apareceram os primeiros registros de</p><p>uma longa caminhada do sistema SW, que pode ser usado por qualquer LS em</p><p>qualquer país. Stumpf (2005, p. 266) dá indícios de como a SignWriting passou a</p><p>ser conhecida mundialmente. Veja:</p><p>Na década de 1980, Sutton apresentou um trabalho no Simpósio</p><p>Nacional em Pesquisa e Ensino da Língua de Sinais, intitulado Uma</p><p>Forma de Analisar a ASL e Qualquer Outra Língua Gestual Sem Passar</p><p>Pela Tradução da Língua Falada. Depois disso, SignWriting começou</p><p>a desenvolver-se cada vez mais. De um sistema escrito à mão livre</p><p>passou-se a um sistema possível de ser escrito no computador.</p><p>Hoje o sistema evoluiu muito, há muitos projetos envolvendo a</p><p>SignWriting que têm se desenvolvido com muita rapidez. Tais projetos envolvem</p><p>principalmente</p><p>escolas americanas, porém, há alguns anos chegou ao Brasil como</p><p>uma metodologia de alfabetização e escrita para a comunidade surda.</p><p>Bem, contextualizada a história de como tudo iniciou, vamos entender</p><p>melhor a estrutura desse sistema?</p><p>DICAS</p><p>Participe das discussões em SW junto a Valerie Sutonn e outros pesquisadores.</p><p>Inscreva-se na Lista de SignWriting. Disponível em: http://www.signwriting.org/forums/swlist/\.</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>131</p><p>3.1 ENTENDENDO A ESTRUTURA DA ESCRITA DE SINAIS</p><p>É certo que qualquer sistema de escrita, para se oficializar, envolve</p><p>pesquisas, erros e acertos. Com a escrita de sinais não foi diferente, portanto,</p><p>para sabermos escrever, primeiro precisamos entender como ele é estruturado.</p><p>Para que as pessoas iniciem o aprendizado da LS é aconselhável primeiro</p><p>aprender o alfabeto manual, certo? Costumamos dizer que ao treinar o alfabeto</p><p>manual o aprendiz em LS ganhará mais destreza para aprender os sinais. Da</p><p>mesma forma, para que se aprenda a escrita de sinais, é importante aprender</p><p>inicialmente como se escreve o seu alfabeto, por meio de uma representação visual</p><p>escrita. O alfabeto da escrita de sinais da Língua Brasileira de Sinais – Libras – foi</p><p>desenvolvido a partir de suas configurações de mãos (CM), originando as formas</p><p>de mãos que veremos mais adiante. Enfatizamos que ele não é feito de qualquer</p><p>maneira, mas segue uma organização, a diferença é que sua escrita é visual. É nesse</p><p>sentido que Capovilla e Raphael (2006, p. 55) nos dizem que “ele pode ser usado</p><p>como uma espécie de alfabeto fonético (ou quirêmico)”. Observe a seguinte figura:</p><p>FIGURA 3 – ALFABETO E NUMERAIS EM SW</p><p>FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-UDUrLDyn4Eg/UAWO8RiKPnI/AAAAAAAAAFY/</p><p>HxBLHMjPo1s/s1600/alfabeto+manual+libras+escrita.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>Apresentado o alfabeto em escrita de sinais, a partir de agora apresentamos</p><p>estudos baseados em alguns materiais já publicados para entender como funciona</p><p>a estrutura da escrita de sinais. Iniciamos com Capovilla e Sutton (2009, p. 73), que</p><p>esclarecem: “SignWriting permite uma descrição detalhada dos quiremas (i.e., do</p><p>grego quiros, mão) de uma Língua de Sinais e um registro preciso dos sinais que</p><p>resultam de sua combinação [...]”.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>132</p><p>Observamos na citação que os “quiremas”, que em língua de sinais se</p><p>referem ao parâmetro de configuração de mãos (CM), são vistos como o principal</p><p>registro para representar sua escrita, mas veremos que outros parâmetros também</p><p>fazem parte dessa estrutura. Acompanhe a seguinte figura:</p><p>FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DOS ELEMENTOS</p><p>FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/</p><p>images?q=tbn:ANd9GcSUVvogdaYHhghnMonafy7cXN1cD2HDeXjAPmlzRzO7kRiY1m6k>.</p><p>Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>Para compor a sua estrutura, a escrita de sinais parte dos seguintes</p><p>elementos:</p><p>• o círculo representa a cabeça;</p><p>• o semicírculo representa a região da cabeça onde a mão vai tocar ao fazer o</p><p>sinal;</p><p>• os asteriscos significam o ponto de contato ao sinalizar;</p><p>• desenho de configuração de mãos: a parte branca representa a palma da mão,</p><p>a parte escura representa o dorso das mãos.</p><p>Além desses elementos principais, seguiremos para mais características</p><p>importantes para formação dos registros da escrita dos sinais. É o que nos mostra</p><p>Stumpf (2008, p. 3), quando diz que “a estrutura é composta de informações</p><p>referentes às mãos, movimento, expressão facial e corpo”.</p><p>Vamos destacar brevemente alguns pontos desses parâmetros, iniciando</p><p>com as formas das mãos que são baseadas nas configurações da Libras. Veja:</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>133</p><p>FIGURA 5 – FORMAS DAS MÃOS BÁSICAS</p><p>Punho</p><p>fechado de</p><p>frente</p><p>Punho aberto</p><p>de perfil</p><p>Mão plana</p><p>de frente</p><p>Mão curvada</p><p>de perfil</p><p>Punho</p><p>fechado,</p><p>indicador</p><p>estendido de</p><p>frente</p><p>Punho</p><p>fechado,</p><p>indicador</p><p>estendido de</p><p>perfil</p><p>Mão plana</p><p>aberta -</p><p>forma com 5</p><p>de frente</p><p>Mão curvada</p><p>de perfil</p><p>FONTE: Capovilla e Raphael (2006, p. 61)</p><p>ATENCAO</p><p>É importante enfatizar que a forma das mãos segue as configurações de mãos</p><p>em Libras, assim, quando surgem novas configurações, surge também uma forma de registro</p><p>de mão nova.</p><p>Outro ponto importante a considerar é que, ao grafar manualmente ou</p><p>desenhar no computador, os sinais são escritos sempre na vertical, de cima para</p><p>baixo, motivo pelo qual a SignWriting parte sempre da perspectiva do emissor,</p><p>ou seja, em como o emissor vê suas próprias mãos quando sinaliza. Conforme</p><p>explicação dos autores:</p><p>[...] Quando a mão está na vertical, ela é escrita em branco quando a</p><p>palma está voltada para trás, (i.e., para o sinalizador), em preto quando</p><p>a palma está voltada para a frente, e em metade branca e metade preta</p><p>quando ela está voltada para o lado. Quando a mão está na horizontal,</p><p>ela é escrita em branco quando a palma está voltada para cima, em</p><p>preto quando a palma está voltada para baixo, e em branco e preto</p><p>quando a palma está voltada para o lado. As mãos na horizontal são</p><p>escritas com uma quebra ou falha horizontal. As mãos na vertical são</p><p>escritas sem quebra (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2006, p. 62).</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>134</p><p>Observe a seguir como funciona:</p><p>FIGURA 6 – ORIENTAÇÕES E POSIÇÕES DE MÃOS</p><p>FONTE: Capovilla e Raphael (2006, p. 62)</p><p>Como já indicado por Stumpf (2008), no desenho da escrita também é</p><p>possível transcrever os sentimentos e as expressões dos olhos, sobrancelhas, boca,</p><p>dente e bochecha.</p><p>DICAS</p><p>Dessa forma, vá até o site oficial SW http://www.signwriting.org, lá você</p><p>encontrará um software de editor de textos SW-Edit baseado no sistema de escrita SignWriting.</p><p>Ele foi desenvolvido por professores da Universidade Católica de Pelotas, os professores e</p><p>pesquisadores Rafael Piccin Torchelsen e Antônio Carlos da Rocha Costa.</p><p>Que tal agora você praticar? Entre no site http://www.signwriting.org/</p><p>e tente grafar o sinal do objeto barbeador, conforme a figura:</p><p>• Próximo passo, clique na ferramenta ao lado: SignPudulle:</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>135</p><p>• Clique na bandeira do seu país.</p><p>• Clique no dicionário:</p><p>• Na barra ao lado, clique na ferramenta no sinal criador e pronto!</p><p>Comece a escrever o sinal de barbeador. Atente para que fique similar ao</p><p>que está na imagem a seguir:</p><p>FIGURA – SINAL DE BARBEADOR</p><p>FONTE: Capovilla e Raphael (2006, p. 275)</p><p>Tendo essas informações em mente, não temos dúvida de que o surgimento</p><p>da escrita de sinais significou, para a comunidade surda, uma alternativa de</p><p>registrar seus pensamentos, ideias, sentimentos, enfim, expressar suas palavras</p><p>escritas de forma visual. Isso porque “[...] o SignWriting pode registrar qualquer</p><p>língua de sinais do mundo sem passar pela tradução da língua falada. [...]</p><p>Cada língua de sinais vai adaptá-lo à sua própria ortografia. Para escrever em</p><p>SignWriting é preciso saber uma língua de sinais” (STUMPF, 2008, p. 30).</p><p>A proposta de grafia da Libras no sistema SignWriting vem completar</p><p>o processo educacional do aluno surdo, em uma proposta que visa à ampliação</p><p>de seu conhecimento do mundo, possibilitando o uso de materiais escritos</p><p>disponibilizados como complemento, por exemplo, no Atendimento Educacional</p><p>Especializado em Libras e para o ensino de Libras.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o documento Geração Automática da Escrita dos Sinais da Libras em</p><p>SignWriting e saiba como funciona cada ferramenta que está no site. Disponível em: http://</p><p>www.inf.ufpr.br/alexd/metodologia/slides/ap_2_Rafael_Carlos.pdf.></p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>136</p><p>4 SINGWRITING – BREVE HISTÓRICO NO BRASIL</p><p>Agora que já contextualizamos a história do sistema de escrita de sinais no</p><p>mundo, vamos saber como o Brasil veio a conhecer e praticar esse sistema. Tudo</p><p>começou no Estado do Rio Grande do Sul (RS), na PUC, através do Dr. Antônio</p><p>Carlos da Rocha Costa, professor de Informática que descobriu o SignWriting</p><p>enquanto sistema escrito de sinais usado por intermédio do computador.</p><p>A professora surda Marianne Stumpf, e a professora Márcia Borba foram</p><p>convidadas pelo professor Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa a participarem</p><p>ativamente neste trabalho. A partir disso, o SignWriting começou a tomar forma</p><p>no Brasil. Hoje, o trabalho da professora Dra. Marianne tem se destacado no</p><p>Brasil, além de mais recentemente, outros pesquisadores, como Madson e Raquel</p><p>Barreto, fundadores da Universidade da Libras.</p><p>Assim, tendo por base a escrita de sinais, o aluno surdo contará com mais</p><p>uma ferramenta para auxiliar o seu intelecto a enfrentar o desafio de aprender</p><p>uma língua escrita, por exemplo, a língua portuguesa (LP). Aconselhamos que</p><p>para o aprendizado da escrita de sinais é necessário que os alunos surdos/ouvintes</p><p>adquiriram primeiro a língua de sinais, para posteriormente serem conduzidos</p><p>ao aprendizado da forma escrita.</p><p>No entanto, um cuidado deve ser tomado: misturar o ensino de SignWriting</p><p>com palavras em língua portuguesa é uma confusão teórica que deve ser evitada. A</p><p>proposta de escrita da Libras visa à ampliação e reflexão sobre a própria língua da</p><p>comunidade surda, e não uma substituição do aprendizado da língua escrita (LP).</p><p>DICAS</p><p>Assista ao vídeo da professora Dra. Marianne (em Libras). Ela explica sobre esse</p><p>sistema de escrita. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IMaAp6fvbTA.</p><p>5 CONHECENDO ALGUNS SISTEMAS DE ESCRITA NAS</p><p>LÍNGUAS DE SINAIS PELO MUNDO</p><p>A autora Stumpf (2005, p. 47) compartilhou, em sua tese do Doutorado</p><p>– Curso de Informática, alguns exemplos de notação criados para registrar as</p><p>línguas de sinais pelo mundo. Veremos agora alguns desses exemplos. Iniciamos</p><p>com:</p><p>• Notação Mimographie: publicado no ano de 1822 pelo educador francês Roch</p><p>Ambroise Auguste Bébian, esse sistema é composto por 190 símbolos e é o</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>137</p><p>primeiro sistema de escrita de sinais de que se tem registro. O sistema sempre é</p><p>escrito na ordem (Forma e Orientação da Mão, Movimento, Lugar e Expressão</p><p>Facial). Veja o quadro a seguir:</p><p>QUADRO 1 – ORDEM DE ESCRITA DA MIMOGRAPHIE DE BÉBIAN</p><p>Formação e</p><p>Orientação da mão</p><p>Movimento ExpressãoLugar de ação</p><p>FONTE: Adaptado de Aguiar e Chaibue (2015)</p><p>• Notação de William C. Stokoe: sistema de notação para Língua de sinais</p><p>americana – ASL –1 publicado pelo linguista e pesquisador americano Willian</p><p>C. Stokoe em 1965:</p><p>[...] um sistema de notação para a ASL que parte de cinco elementos:</p><p>(i) lugar de realização do sinal, com 12 elementos; (ii) as Configurações</p><p>de Mãos, com 10 elementos; (iii) os movimentos indicando ação, com</p><p>22 símbolos; (iv) a orientação, com quatro elementos e (v) sinais</p><p>diacríticos com duas possibilidades.</p><p>FIGURA 7 – CONFIGURAÇÕES DE MÃOS NO SISTEMA DE NOTAÇÃO DE WILLIAM C. STOKOE</p><p>FONTE: Stumpf (2005, p. 47)</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>138</p><p>De início, “O sistema criado por Stokoe não tinha o objetivo de servir para</p><p>o uso comum dos surdos, mas sim de atender a uma necessidade particular dele,</p><p>que era estudar as línguas de sinais, nesse aspecto seus estudos são referenciais</p><p>para alguns pesquisadores das línguas de sinais” (STUMPF, 2008, p. 24).</p><p>• Hamburg Notation System (HamNosys): o HamNosys é outro sistema de</p><p>transcrição fonética, também baseado na proposta de Stokoe. Tem em média</p><p>200 símbolos e foi concebido para uso internacional. Sobre esse sistema, Stumpf</p><p>(2005, p. 50) nos diz:</p><p>Inventado na Universidade de Hamburgo, Alemanha, por Prillwtz,</p><p>Vollhaber e seus colaboradores. Esse sistema foi objeto de diversas</p><p>versões para a informática. Distingue principalmente: As configurações</p><p>de mãos; As orientações de dedos e da palma; As localizações sobre a</p><p>cabeça e o tronco; Os tipos de movimentos; A pontuação.</p><p>• Sistema S’Sign: criado por Paul Jouison, em 1990, e recuperado após sua morte</p><p>pela Dra. Brigitte Garcia. Stumpf (2005, p. 50) mostra que “a representação</p><p>escrita proposta por ele não é uma simples notação isolada, mas visa a ser uma</p><p>autêntica escrita”.</p><p>• Notação de François Neve: criado pelo pesquisador belga François Xavier</p><p>Neve, no ano de 1996, também baseado no sistema de Stokoe. Derivada da</p><p>proposta de Stokoe, a notação de François Xavier Neve foi publicada em 1996</p><p>com o intuito de possibilitar uma numeração e uma elaboração de sinais para</p><p>a informática. “Ela utiliza códigos que tornam possível uma numeração e um</p><p>tratamento informático dos signos. A escritura é feita em colunas verticalmente</p><p>de cima para baixo, em uma só coluna quando a mão dominante sinaliza”</p><p>(STUMPF, 2005, p. 48).</p><p>DICAS</p><p>Quer entender melhor os sistemas de escrita citados? Acesse o documento</p><p>a seguir: http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/3%C2%BA%20</p><p>Artigo%20para%20REVISTA%2015%20de%20THIAGO%20AGUIAR%20e%20KARIME%20</p><p>CHAIBUE.pdf.</p><p>• Sistema de Escrita das Línguas de Sinais (ELiS): assim como a SW, é sistema</p><p>gráfico que foi desenvolvido para ser escrito em teclado comum de qualquer</p><p>computador. A história da ELiS pode ser dividida em três fases: a criação,</p><p>concluída em 1998; a verificação teórica e prática da proposta, finalizada em</p><p>2008; e o uso e a implantação/divulgação, fase atual. Sobre esse sistema, a</p><p>autora e criadora, Dra. Mariângela Estelita Barros, nos diz que “[...] contou com</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>139</p><p>a participação de vários surdos adultos, fluentes em Libras, alunos do curso de</p><p>Letras/Libras” (BARROS, 2016, p. 1).</p><p>O sistema de escrita ELiS é composto por 95 visografemas, os quais</p><p>são distribuídos em quatro grupos, que formam sua estrutura básica:</p><p>Configuração de Dedos (CD), com 10 visografemas; Orientação</p><p>da Palma (OP), com seis visografemas; Ponto de Articulação (PA),</p><p>com 35 visografemas; e Movimento (M), com 44 visografemas. Os</p><p>visografemas de Configuração de Dedos representam posições dos</p><p>dedos e são combinados entre si para compor um Formato de Mão</p><p>(BARROS, 2016, p. 2).</p><p>FIGURA 8 – SISTEMA ELIS</p><p>FONTE: Stumpf (2005, p. 20)</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>140</p><p>Visografemas: a VisoGrafia é um sistema que congrega elementos que</p><p>representam abstrata e graficamente os parâmetros visuais e parêmicos que são constitutivos</p><p>da língua de sinais. É a ligação do grafema, que é a menor unidade gráfica que faz parte de</p><p>um sistema de qualquer escrita com o visual.</p><p>FIGURA – SISTEMA ELIS</p><p>NOTA</p><p>FONTE: <https://www.extra-imagens.com.br/livros/EducacaoAprendizagem/</p><p>livrosEducacao/5327766/160808114/Livro-ELiS-Sistema-Brasileiro-de-Escrita-das-Linguas-</p><p>de-Sinais-Mariangela-Estelita-Barros-5327766.jpg>. Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>Conheça algumas referências relacionadas à escrita de sinais:</p><p>FIGURA 9 – ESCRITA DE SINAIS SEM MISTÉRIOS</p><p>FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-cxPstVs8prI/Urh7RwyO6KI/AAAAAAAAAFA/M1VVUHX3G_M/</p><p>s1600/Escrita+de+Sinais+sem+misterios.png>. Acesso em: 8 jan.2019.</p><p>TÓPICO 1 | SIGNWRITING: UMA METODOLOGIA DE ESCRITA PARA LIBRAS</p><p>141</p><p>FIGURA 10 – DEIT-LIBRAS</p><p>FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-m_LjQIH1Fc4/Urh78aUbJ4I/AAAAAAAAAFI/6XeYtt1VzJg/</p><p>s1600/deit-libras.jpg.> Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>FIGURA 11 – LIVRO ESCRITA DE SINAIS NA EDUCAÇÃO DO ALUNO SURDO</p><p>FONTE: <https://images-americanas.b2w.io/produtos/01/00/sku/43483/3/43483385_1GG.jpg>.</p><p>Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>142</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A escrita de sinais assume um papel extremamente significativo para o povo</p><p>Surdo, não como substituto da língua portuguesa escrita, mas como expressão</p><p>de sua cultura.</p><p>• O sistema SignWriting foi desenvolvido pela norte-americana Valerie</p><p>Sutton, por volta da década de 70; enquanto dançava balé, criou um sistema</p><p>denominado DanceWriting. Esse sistema criou registros possibilitando o que</p><p>veio a ser chamado mais tarde de SignWriting</p><p>(SW), ao ser adaptado por meio</p><p>do computador para as línguas de sinais.</p><p>• Para que se aprenda a escrita de sinais é importante aprender inicialmente</p><p>como se escreve o seu alfabeto, desenvolvido a partir de suas configurações de</p><p>mãos (CM).</p><p>• Citamos a composição da estrutura da escrita (SW), a saber: o círculo representa</p><p>a cabeça; O semicírculo representa a região da cabeça onde a mão vai tocar ao</p><p>fazer o sinal; Os asteriscos significam o ponto de contato ao sinalizar; Desenho</p><p>de configuração de mãos: A parte branca representa a palma da mão, a parte</p><p>escura representa o dorso das mãos.</p><p>• Quando se grafar ou se desenhar manualmente no computador, os sinais são</p><p>escritos sempre na vertical, de cima para baixo, motivo pelo qual a SignWriting</p><p>parte sempre da perspectiva do emissor, ou seja, em como o emissor vê suas</p><p>próprias mãos quando sinaliza.</p><p>• Existem alguns sistemas de escrita na língua de sinais pelo mundo, dentre eles:</p><p>o Notação de William C. Stokoe: segundo Stumpf (2005, p. 47), [...] “um sistema</p><p>de notação para a ASL que parte de cinco elementos: (i) lugar de realização</p><p>do sinal, com 12 elementos; (ii) as Configurações de Mãos, com 10 elementos;</p><p>(iii) os movimentos indicando ação, com 22 símbolos; (iv) a orientação, com</p><p>quatro elementos e (v) sinais diacríticos com duas possibilidades”.</p><p>o Hamburg Notation System (HamNosys): sistema de transcrição fonética,</p><p>também baseado na proposta de Stokoe. Tem em média 200 símbolos e foi</p><p>concebido para uso internacional.</p><p>o Sistema S’Sign: criado por Paul Jouison, em 1990, e recuperado após sua</p><p>morte pela Dra. Brigitte Garcia.</p><p>o Notação de François Neve: criado pelo pesquisador belga François Xavier</p><p>Neve, no ano de 1996, também baseado no sistema de Stokoe, publicado</p><p>em 1996 com o intuito de possibilitar uma numeração e uma elaboração de</p><p>sinais para a informática.</p><p>143</p><p>o Notação Mimographie: publicado no ano de 1822 pelo educador francês</p><p>Roch Ambroise Auguste Bébian. Esse sistema é composto por 190 símbolos</p><p>e é o primeiro sistema de escrita de sinais de que se tem registro.</p><p>o Sistema de Escrita das Línguas de Sinais (ELiS): assim como a SW, é sistema</p><p>gráfico que foi desenvolvido para ser escrito em teclado comum de qualquer</p><p>computador.</p><p>144</p><p>1 Vimos que a comunidade surda necessitava de uma escrita que</p><p>representasse a sua língua. Sabemos que os registros em escrita</p><p>de sinais não são feitos de qualquer maneira, eles seguem uma</p><p>organização, a diferença é que sua escrita é visual. Para compor a</p><p>sua estrutura, a escrita de sinais parte de alguns elementos principais, são eles:</p><p>I- O círculo representa a cabeça.</p><p>II- O semicírculo representa a região da cabeça onde a mão vai tocar ao fazer</p><p>o sinal.</p><p>III- Os asteriscos significam o ponto de contato ao sinalizar.</p><p>IV- Desenho de configuração de mãos: a parte branca representa a palma da</p><p>mão, a parte escura representa o dorso das mãos.</p><p>De acordo com estas informações, assinale a alternativa correta:</p><p>a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.</p><p>b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.</p><p>c) ( ) As sentenças II e IV estão incorretas.</p><p>d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.</p><p>e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.</p><p>2 Leia com atenção as sentenças a seguir e assinale V para a ver-</p><p>dadeira e F para a falsa:</p><p>a) ( ) Segundo a professora Doutora Marianne Stumpf (2008, p.</p><p>3), “a estrutura é composta de informações referentes às mãos, movi-</p><p>mento, expressão facial e corpo”.</p><p>b) ( ) Surgiu na Itália o primeiro movimento para grafar as línguas de sinais.</p><p>c) ( ) No desenho da escrita de sinais jamais será possível transcrever o mo-</p><p>vimento, os sentimentos envolvidos e ainda as expressões dos olhos,</p><p>sobrancelhas, boca e bochecha.</p><p>d) ( ) A SignWriting é internacional e pode ser usada para escrever em qual-</p><p>quer língua de sinais do mundo. A palavra em inglês “SignWriting”</p><p>significa “Escrita de Sinais” aqui no Brasil.</p><p>e) ( ) O sistema SignWriting foi desenvolvido pela norte-americana Valerie Sut-</p><p>ton, por volta da década de 70, com o objetivo de grafar balé tradicional.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>145</p><p>TÓPICO 2</p><p>SURDOCEGUEIRA E SUAS</p><p>PARTICULARIDADES</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Durante nossos estudos, notamos que se comunicar com os outros não</p><p>é um processo tão simples de se fazer. É preciso estar em uma relação de troca</p><p>comunicativa, seja por meio de um canal de comunicação visual ou verbal.</p><p>Nesse sentido, há uma comunidade surgindo no cenário mundial, que</p><p>assim como a comunidade surda, demanda uma comunicação diferenciada e</p><p>com profissionais habilitados para tal.</p><p>Estamos falando da comunidade surdocega, que apresenta deficiência</p><p>visual e auditiva e que podem ou não estar associadas a outras condições. Neste</p><p>tópico, iremos falar mais sobre este indivíduo e os contextos que o envolvem,</p><p>bem como as peculiaridades de se comunicar em sociedade.</p><p>FIGURA 12 – SURDOCEGO</p><p>FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-UHymzDacZLE/UMR-b4xatTI/</p><p>AAAAAAAAAuw/2xWmUAAPR0k/s1600/surdocego_news.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>2 CONCEITUANDO SURDOCEGUEIRA E SURDOCEGO</p><p>Pesquisas mostram que a surdocegueira começou a ser reconhecida por</p><p>volta do ano de 1880, nos EUA, com a educação da mais famosa surdocega até o</p><p>momento, a escritora Helen Keller. Sua educação, feita pela experiente professora</p><p>Anne Sulivan, é discursada por todo o mundo.</p><p>Quando falamos sobre surdocegueira, talvez venha à nossa mente a</p><p>somatória de duas deficiências em um só indivíduo, ou mesmo confundir surdo</p><p>com cego ou cego com surdo, mas será que é assim mesmo? Vamos entender</p><p>melhor, segundo a perspectiva de estudiosos na área.</p><p>146</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>A definição de surdocegueira é bastante discutida pelos profissionais</p><p>que atuam nesta área, como também pelos órgãos que definem as políticas</p><p>de atendimento. Alguns a consideram como deficiência múltipla sensorial,</p><p>por se tratar de órgãos sensórios do nosso corpo, além de muitas vezes estar</p><p>acompanhada com outras deficiências, por exemplo, intelectual ou física, nesse</p><p>sentido ela se torna múltipla. Conforme o Ministério da Educação (MEC), “são</p><p>consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que ‘têm mais de uma</p><p>deficiência associada’ [...]" (BRASIL, 2002, s.p.).</p><p>Porém, ponderamos que alguns conceitos são importantes – tanto do</p><p>ponto de vista analítico/crítico quanto sintético/artificial – para seu aprendizado.</p><p>Inicialmente, citando estudos: “A surdez-cegueira, na sua forma extrema, significa</p><p>simplesmente que uma pessoa não pode ver, não pode ouvir, e deve depender</p><p>total e completamente do tato para se comunicar com os outros” (QUADROS,</p><p>2004, p. 10).</p><p>Essa citação parece um tanto intensa, não é? Mas se olharmos pelo viés</p><p>clínico, é assim que o indivíduo com surdocegueira é visto. Além disso, segundo</p><p>o que mostra Kinney (1977, p. 21-22), na 1º Conferência Mundial Helen Keller</p><p>sobre Serviços para os Surdocegos Jovens e Adultos, na cidade de Nova York, no</p><p>dia 16 de setembro de 1977, foi adotada por unanimidade a seguinte conceituação:</p><p>Surdocegos são os indivíduos que têm uma perda substancial de</p><p>audição e visão, de tal modo que a combinação das suas deficiências</p><p>causa extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais,</p><p>vocacionais, de lazer e social.</p><p>Uma pessoa com perda substancial de visão pode, ainda assim, escutar</p><p>e ouvir. Outra pessoa com substancial perda de audição pode, ainda</p><p>assim, ver e observar. Mas uma pessoa com perdas substanciais em</p><p>ambos os sentidos experimenta uma gama de privacidade que pode</p><p>causar extremas dificuldades.</p><p>Portanto, através dessa definição, podemos identificar o quão significativa</p><p>a palavra “combinação das suas deficiências” é para os indivíduos com essa</p><p>deficiência, pois não é somente cego ou somente surdo, mas as duas deficiências</p><p>combinadas, com suas particularidades. Observe os aspectos relacionados às</p><p>terminologias.</p><p>ATENCAO</p><p>Segundo o Dicionário Brasileiro Globo, a palavra SUBSTANCIAL significa:</p><p>“[...] Aquilo que é considerado mais importante; o essencial; o fundamental, básico [...]”</p><p>(FERNANDES; LUFT; GUIMARÃES, 1996, p. 583).</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>147</p><p>Uma das discussões que norteou essas pesquisas sobre a terminologia</p><p>“Surdocegueira” – sem hífen e com hífen – veio através da proposta de Salvatore</p><p>Lagati, do Serviço de "Consulenza" Pedagógica em Trento, Itália. Ele sugeriu a</p><p>grafia “surdocego” em substituição do termo hifenizado “surdo-cego”. Conforme</p><p>Lagati (1995, p. 306 apud Brasil, 2010, s.p.), a:</p><p>Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além</p><p>daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado</p><p>indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da</p><p>cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição</p><p>única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo [...].</p><p>Assim, Salvatore Lagati começou uma batalha para o reconhecimento</p><p>da surdocegueira como uma deficiência única em 1992, que culminou na</p><p>IX Conferência Mundial de Orebro (Suécia), no ano de 1995, onde o termo</p><p>surdocegueira sem hífen foi defendido e atualmente é o mais aceito pelos</p><p>especialistas da área em todo o mundo.</p><p>FIGURA 13 – SURDOCEGUEIRA</p><p>FONTE: <https://www.facebook.com/pg/surdocegueirabr/posts/>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>Dessa forma, o termo surdocegueira não hifenizado propõe uma</p><p>deficiência única e “singular” que apresenta a perda da audição e da visão</p><p>concomitantemente, e em diferentes graus, e não como uma deficiência múltipla.</p><p>Seguindo essa mesma linha de raciocínio, outros autores também compartilham</p><p>o mesmo pensamento. Veja:</p><p>Apesar da presença de comprometimento em duas vias sensoriais, a</p><p>surdocegueira não é entendida como uma deficiência múltipla. Pelo</p><p>contrário, é considerada como um tipo específico de deficiência que</p><p>não se refere obrigatoriamente ao somatório das duas deficiências,</p><p>visual e auditiva, mas a uma condição singular que demanda um</p><p>atendimento diferenciado do prestado, seja ao deficiente visual ou ao</p><p>deficiente auditivo (GALVÃO, 2010, p. 14).</p><p>Podemos citar, como exemplo, o fato de que há surdocegos que enxergam</p><p>pouco e não ouvem quase nada, há ainda aqueles que ouvem um pouco e não</p><p>148</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>enxergam nada. Mas há quem não pode ouvir, nem ver completamente nada.</p><p>Vamos entender melhor, mais adiante, as classificações que levam a pessoa com</p><p>surdocegueira a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e</p><p>interagir em sociedade.</p><p>Por ora é importante relembrar brevemente algumas leis importantes</p><p>envolvendo a pessoa com surdocegueira.</p><p>DICAS</p><p>Conheça a história de Hellen Keller. Assista a um vídeo em inglês em que</p><p>ela própria conta sua história, disponível em: https://www.updateordie.com/2013/08/19/a-</p><p>incrivel-historia-de-hellen-keller-e-anne-sulivan/.</p><p>2.1 BREVE DISCUSSÃO SOBRE SURDOCEGUEIR</p><p>E A LEGISLAÇÃO</p><p>Aspectos envolvendo as pessoas com deficiência de todo o mundo</p><p>sempre tiveram algum tipo de atenção e foram sendo discutidos ano após ano.</p><p>No Brasil temos a Constituição Federal do ano de 1988, em vigor até hoje, a</p><p>chamada “Constituição Cidadã”, porque garantiu direitos a grupos sociais até</p><p>então marginalizados, como as pessoas com deficiência, que na época também</p><p>participaram ativamente de sua elaboração.</p><p>O significado da palavra “inclusão” teve um grande impacto em todo o</p><p>mundo a partir de 1994, com a “Declaração de Salamanca”, que preconizou a</p><p>educação inclusiva, assim, desde lá dizemos que nos encontramos em processo</p><p>da inclusão e, não, integração.</p><p>Algumas leis referentes à inclusão do indivíduo com surdocegueira no</p><p>Brasil merecem nosso destaque, é o caso da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro</p><p>de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção</p><p>da acessibilidade das pessoas, na época ainda denominadas “portadoras de</p><p>deficiência” – lembrando que hoje a terminologia adequada é “pessoas com</p><p>deficiência”.</p><p>Notem que a lei já dava o direito a pessoas com deficiência sensorial a ter</p><p>o acompanhamento de profissionais guias-intérpretes. Veja:</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>149</p><p>QUADRO 2 – CAPÍTULO VII - DA ACESSIBILIDADE NOS SISTEMAS DE</p><p>COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO</p><p>Art. 18. O poder público implementará a formação de profissionais intérpretes</p><p>de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar</p><p>qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência</p><p>sensorial e com dificuldade de comunicação.</p><p>FONTE: BRASIL (2000, s.p.)</p><p>Neste mesmo ano, temos a Resolução CNE/CEB nº 2000, que institui</p><p>Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica:</p><p>QUADRO 3 – RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2000</p><p>Art. 11º IV. Utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e</p><p>linguagens apropriados às situações específicas de aprendizagem, que incluam:</p><p>a) no caso de surdez – capacitação em Língua Portuguesa e em Língua de</p><p>Sinais;</p><p>b) no caso de cegueira – capacitação no uso do código braile;</p><p>c) no caso de surdo-cegueira – capacitação para o uso de Língua de Sinais</p><p>digital, tadoma...</p><p>FONTE: BRASIL (2000, s.p.)</p><p>Observe que esta resolução usa a nomenclatura com hífen “surdo-</p><p>cegueira”, neste caso considerando-a deficiência múltipla, ou seja, uma condição</p><p>que somaria.</p><p>Ainda temos a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei</p><p>Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Estatuto da Pessoa com</p><p>Deficiência, que estabelece a formação e disponibilidade do profissional guia-</p><p>intérprete para atender ao público surdocego.</p><p>QUADRO 4 – CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO</p><p>XI- formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional</p><p>especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de</p><p>profissionais de apoio;</p><p>FONTE: BRASIL (2015, s.p.)</p><p>É notório o movimento do poder público para a inclusão dessa comunidade,</p><p>e em cumprimento da legislação, as instituições escolares vão se ajustando.</p><p>Reiteramos que hoje, diferente do público com deficiência visual e surdos, em</p><p>150</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>que as leis já são mais concretizadas, há muitos projetos de leis tramitando para</p><p>buscar mais de perto a inclusão das pessoas com surdocegueira.</p><p>3 SURDOCEGUEIRA – DIFERENTES NÍVEIS E COMUNICAÇÃO</p><p>Logo após a argumentação conceitual e suas terminologias, além de</p><p>contextualizarmos as leis vigentes, surge a necessidade de classificar os graus/</p><p>níveis de características produzidas por um indivíduo surdocego, principalmente</p><p>sob a ótica funcional, ou seja, mais comportamental do que técnica.</p><p>FIGURA 14 – NOMENCLATURA FENEIS</p><p>FONTE: <http://www.maosemmovimento.com.br/wp-content/uploads/2016/01/</p><p>surdocego-e1469728839911.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>Para criar um programa ou método educacional que será utilizado para</p><p>o sujeito surdocego, é importante classificar a surdocegueira. Nesse sentido, o</p><p>tipo e a intensidade das perdas não se torna tão relevante, mas a funcionalidade</p><p>e o período correspondente ao surgimento da deficiência. Agora acompanhe a</p><p>descrição desses dois grupos:</p><p>• A surdocegueira congênita ou surdocego pré-linguístico: pessoa que nasce</p><p>com a surdocegueira ou a adquire logo quando bebê, antes da aquisição de uma</p><p>língua. Nesta perspectiva, os profissionais que trabalharão com este público</p><p>deverão atentar para algumas características na comunicação. Observe:</p><p>A progressão do sistema de comunicação geralmente parte do</p><p>concreto para o abstrato, abrangendo uma gama muito variada de</p><p>comportamentos, como movimentos respiratórios e corporais, contato</p><p>físico, vocalizações, olhar, entre outros. Considerando essa progressão,</p><p>serão descritas algumas formas de comunicação usadas pelas crianças,</p><p>iniciando-se por aquelas que funcionam em níveis mais básicos de</p><p>comunicação (BRASIL, 2006, p. 33).</p><p>Ou seja, nessa condição de surdocegueira congênita</p><p>tudo parte do</p><p>zero, desde as estimulações precoces em família, com exercícios cinestésicos</p><p>envolvendo todo o corpo do indivíduo, passando pelas fases escolares onde</p><p>diferentes métodos poderão ser utilizados para seu ensino-aprendizagem, até</p><p>criar sua autonomia de fato, como um cidadão.</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>151</p><p>• A surdocegueira adquirida ou surdocego pós-linguístico: pessoa que adquiriu</p><p>a surdocegueira após ter assimilado um sistema/estruturação de linguagem.</p><p>Nesta perspectiva é necessário considerar uma abordagem educacional diferente</p><p>e conhecer o sistema de linguagem já adquirida, “conhecer as peculiaridades</p><p>do sistema de comunicação já adquirido ajudará os profissionais na definição</p><p>dos estímulos mais adequados à sua expansão ou à sua associação a outras</p><p>formas de comunicação” (BRASIL, 2006, p. 38).</p><p>Porém é certo que “em ambos os casos, há o desafio de comunicação</p><p>resultando em isolamento do sujeito surdocego. Para que isso não ocorra,</p><p>é importante que haja intervenção adequada levando em consideração as</p><p>especificidades da surdocegueira” (BRASIL, 2017, s.p.).</p><p>Sem dúvida, para pais e profissionais educadores se torna um desafio</p><p>encontrar a melhor forma de passar a informação para esse público, objetivando</p><p>potencializar seu aprendizado e vida social. Eles precisam ser encorajados a</p><p>desenvolver um estilo próprio de aprendizagem para compensar suas dificuldades</p><p>visuais e auditivas e estabelecer – e manter – relações interpessoais.</p><p>Não nos cabe no momento especificar o que causa essa deficiência, nosso</p><p>foco é outro, portanto, a partir de agora, abordaremos diferentes formas de</p><p>comunicação para variados níveis de surdocegueira.</p><p>DICAS</p><p>Para conhecer mais sobre o documento do MEC/2006, que trata sobre as</p><p>especificações de surdocegueira, baixe-o por meio do link a seguir: http://portal.mec.gov.</p><p>br/seesp/arquivos/pdf/surdosegueira.pdf</p><p>3.1 COMUNIDADE SURDOCEGA – METODOLOGIAS</p><p>DE COMUNICAÇÃO</p><p>Assim como existem classificações e graus diferentes na surdocegueira,</p><p>há também características comunicacionais diferentes. Por exemplo, a pessoa</p><p>152</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>com surdocegueira, que antes era só surda e por algum motivo apresenta baixa</p><p>visão ou campo visual restrito, necessita de algumas adaptações mais específicas,</p><p>diferentes daquelas que são totalmente surdocegas. Sobre estas, cabe a seguinte</p><p>citação: “Há relativamente poucas pessoas que são totalmente surdocegas</p><p>e, destas, somente uma pequena fração não possui audição e visão desde o</p><p>nascimento” (WATERHOUSE, 1977, p. 27).</p><p>Com a comunidade surda, usuária de Libras, a forma de comunicação</p><p>já está bem delineada e oficializada, mas, e quanto à comunidade surdocega?</p><p>Uma agente ativista a favor da comunidade surdocega brasileira tem sido a</p><p>professora Rosani Suzin Santos, acometida pela Síndrome de Usher, atualmente</p><p>ela é coordenadora nacional dos surdocegos pela FENEIS e é usuária de língua de</p><p>sinais em campo visual reduzido.</p><p>A seguir exemplificaremos formas de comunicação concomitantes com</p><p>Libras, usadas para essa comunidade tão distinta, em harmonia com os estudos</p><p>da autora Godoy (2011). Conheça:</p><p>• Língua de sinais em campo visual reduzido: este sistema de comunicação não</p><p>alfabético possibilita que a pessoa surdocega, com perda de visão periférica</p><p>advinda principalmente da Síndrome de Usher, interaja com os demais por</p><p>meio de sinais. Sendo, no entanto, necessária uma adaptação ao campo visual</p><p>do surdocego. “A comunicação ocorre utilizando-se um quadrante (região</p><p>compreendida entre a cabeça até a altura do quadril), restringindo o campo</p><p>visual-espacial perceptível pelo surdocego na realização da recepção do sinal”</p><p>(GODOY, 2011, p. 14).</p><p>FIGURA 15 – EXEMPLO DE CAMPO VISUAL REDUZIDO</p><p>FONTE: <http://s2.glbimg.com/ZmpxIVtx7xKxLa_1FuV9hJxgQEs=/1200x630/s.glbimg.com/jo/</p><p>g1/f/original/2017/05/19/figura_1.jpeg>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>DICAS</p><p>Que tal assistir ao vídeo da professora Rosani Suzin Santos, em que ela</p><p>conta em Libras a sua experiência como surdocega? Acesse: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=VOPVSyAqDCo</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>153</p><p>• Língua de sinais tátil/Tátil Libras:</p><p>[...] a língua de sinais tradicionalmente usada pelas pessoas surdas, ao ser</p><p>utilizada pelas pessoas surdocegas, é adaptada ao tato. Essa adaptação</p><p>consiste na realização dos sinais em uma ou ambas as mãos da pessoa</p><p>surdocega, segundo opção dela. Geralmente, a posição, orientação e</p><p>configuração das mãos para realização dos sinais permanecem as mesmas,</p><p>mudando apenas o espaço de sinalização e a forma de recepção. O objetivo</p><p>da utilização dos sinais adaptados é o de viabilizar a compreensão de</p><p>toda informação pela pessoa surdocega (GODOY, 2011, p. 15).</p><p>FIGURA 16 – MÉTODO LIBRAS TÁTIL E/OU TÁTIL LIBRAS</p><p>FONTE: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_</p><p>pde/2010/2010_uel_edespecial_pdp_shirley_alves_godoy.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>• Alfabeto manual tátil – dactilologia: “este sistema de comunicação alfabético</p><p>utilizado pelas pessoas surdas é adaptado para as pessoas com surdocegueira.</p><p>Consiste em realizar o alfabeto manual (dactilologia) na palma da mão da</p><p>pessoa com surdocegueira” (GODOY, 2011, p. 16).</p><p>FIGURA 17 – ALFABETO TÁTIL</p><p>FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-W63uTn2oP4g/T5MrxzfERlI/AAAAAAAAAok/Q5QASW15cEE/</p><p>s1600/456.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>A autora continua nos dando uma informação importante sobre a</p><p>comunicação de pessoas que antes eram só cegas, neste caso existem duas</p><p>adaptações do sistema braile utilizadas pelas pessoas com surdocegueira. A</p><p>seguir exemplificaremos essas formas de comunicação:</p><p>154</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>• Braile tátil (1): “É um sistema de comunicação alfabético. Consiste em</p><p>utilizar o sistema braile, usado pelas pessoas cegas para a leitura e escrita,</p><p>adaptando-o nos dedos indicador e médio de uma das mãos da pessoa</p><p>surdocega. A pessoa com surdocegueira levanta os dois dedos supracitados</p><p>e abaixa os outros de uma de suas mãos, formando com os dedos uma</p><p>cela braile e as falanges representam o espaço destinado à marcação dos</p><p>pontos; por sua vez, o guia-intérprete, através de toques nas falanges,</p><p>vai transmitindo a mensagem para a pessoa surdocega como se estivesse</p><p>escrevendo em braile. Desta forma, a pessoa surdocega poderá se comunicar</p><p>com as pessoas que dominam o Sistema Braille marcando nos dedos cada</p><p>letra que compõe uma palavra. Por exemplo: a letra “a” representada pelo</p><p>ponto número 1, é realizada a marcação deste ponto na primeira falange</p><p>do dedo indicador, a letra “b” representada pelos pontos 1 e 2, a marcação</p><p>se dará na primeira e na segunda falange do dedo indicador, e assim por</p><p>diante” (GODOY, 2011, p. 19).</p><p>FIGURA 18 – BRAILE TÁTIL</p><p>Braile tátil:</p><p>FONTE: <https://cdn-images-1.medium.com/max/2600/1*FBnRuOugUc6gP7l8KjigxA.png>.</p><p>Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>• Braile tátil (2): “a segunda maneira consiste em utilizar o Sistema Braille</p><p>adaptando-o nos dedos indicador, anular e médio de ambas as mãos da</p><p>pessoa surdocega, posicionando os dedos na mesma posição das teclas</p><p>da máquina de datilografia braile, no qual o dedo indicador esquerdo</p><p>corresponde ao ponto um, o dedo médio ao ponto dois, o dedo anular ao</p><p>ponto três e o mesmo com a outra mão, para o dedo indicador o ponto quatro,</p><p>o dedo médio, o ponto cinco e o anular o ponto seis. O guia-intérprete,</p><p>através de toques nos dedos, vai transmitindo a mensagem para a pessoa</p><p>surdocega como se estivesse acionando as teclas da máquina de datilografia</p><p>braile e assim vai escrevendo a informação” (GODOY, 2011, p. 19).</p><p>• Tadoma: “é um dos recursos utilizados por pessoas surdocegas pós-</p><p>linguísticas, que adquiriram a surdocegueira após terem sido alfabetizadas</p><p>e seus guias-intérpretes para se comunicar. Ao recorrer ao Tadoma, a pessoa</p><p>surdocega coloca sua mão no rosto do locutor</p><p>de tal forma que o polegar</p><p>toque suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente</p><p>a bochecha, a mandíbula e as cordas vocais. Este procedimento possibilita o</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>155</p><p>acesso da pessoa surdocega à produção da fala interpretando a emissão dos</p><p>sons através do movimento dos lábios e da vibração das cordas vocais de</p><p>seus interlocutores” (GODOY, 2011, p. 20).</p><p>FIGURA 19 – TADOMA</p><p>FONTE: http://2.bp.blogspot.com/_DZTi86SNxsM/ScxIpJIPB3I/AAAAAAAAAT8/_tF17yUWtDA/</p><p>s1600/tadoma.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>O método Tadoma foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1926,</p><p>quando Sophia Alcorn conseguiu comunicar-se com os surdocegos Tad e Oma, nomes que</p><p>deram origem à palavra Tadoma.</p><p>NOTA</p><p>Se a pessoa com surdocegueira possui resíduo auditivo funcional, pode-</p><p>se utilizar as seguintes formas de comunicação:</p><p>• Língua oral ampliada: “a língua oral amplificada ou fala ampliada consiste</p><p>na recepção da mensagem expressa pelo interlocutor por meio da língua</p><p>oral, mediante o uso, por parte da pessoa com surdocegueira, de aparelho</p><p>de amplificação sonora (AASI)/aparelho auditivo. No caso do uso do AASI,</p><p>é fundamental que o guia-intérprete ou instrutor mediador se coloque a uma</p><p>distância adequada, de acordo com a perda auditiva da pessoa surdocega,</p><p>e do lado em que apresente melhores condições de percepção do som</p><p>(resíduo auditivo). Assim, o professor de apoio (Instrutor Mediador/Guia-</p><p>Intérprete) faz a fala ampliada como recurso de comunicação do aluno no</p><p>âmbito escolar, principalmente na sala de aula, transmitindo os conteúdos</p><p>referentes à disciplina abordada em tempo real” (GODOY, 2011, p. 22).</p><p>• Língua oral ampliada com aparelho Loops: “a língua oral amplificada ou</p><p>fala ampliada ocorre também quando a pessoa surdocega faz uso de aparelho</p><p>156</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>de amplificação sonora com fones e microfone (loops), neste caso o guia-</p><p>intérprete se posiciona bem próximo do melhor ouvido da pessoa surdocega</p><p>e repete a mensagem expressa pelo interlocutor por meio da língua oral no</p><p>microfone do aparelho. Em sala de aula, o loops pode ser utilizado pelo guia-</p><p>intérprete ou instrutor mediador para fazer a leitura dos livros, principalmente</p><p>quando há textos muito longos” (GODOY, 2011, p. 23).</p><p>Descritas algumas metodologias de comunicação para a comunidade</p><p>surdocega, compreendendo que cada nível de deficiência exige uma comunicação</p><p>diferenciada por parte do profissional guia-intérprete, abordaremos aspectos</p><p>relevantes ao profissional guia-intérprete.</p><p>DICAS</p><p>Quer saber mais detalhes sobre as metodologias de</p><p>comunicação descritas para surdocegos? Baixe o documento com</p><p>as informações em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/</p><p>cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2010_uel_edespecial_</p><p>pdp_shirley_alves_godoy.pdf</p><p>4 O PROFISSIONAL GUIA-INTÉRPRETE COMO MEDIADOR</p><p>Em geral, o mesmo profissional ouvinte TILSP, que atende à comunidade</p><p>surda, se especializa em guia-interpretação, mas alguns professores surdos têm</p><p>se desenvolvido nesta área, já que Libras é sua LM, se tornando muito mais fácil</p><p>e rápido o aprendizado para exercer a profissão de guia-intérprete. Inclusive a</p><p>mesma ética profissional do tradutor-intérprete de Libras é agregada ao guia-</p><p>intérprete para surdo-cego.</p><p>O guia-intérprete é o profissional que domina diversas formas de</p><p>comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira, podendo fazer</p><p>interpretação ou transliteração. Veja a definição desse profissional pela Federação</p><p>Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-</p><p>Intérpretes de Língua de Sinais – FEBRAPILS –, na nota técnica nº 01/2017:</p><p>[...] O profissional Guia-intérprete de Libras e Língua Portuguesa atua</p><p>na mediação da comunicação de pessoas surdocegas. A formação</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>157</p><p>específica para esta profissão deve ser realizada por entidades civis</p><p>representativas da comunidade surdocega com ampla carga horária</p><p>de conteúdo teórico-prático e de estágio [...] (FEBRAPILS, 2017, p. 3).</p><p>Na mesma nota, esclarece como deve ser a atuação desse profissional:</p><p>Entende-se por guia-interpretação a mobilização de textos produzidos</p><p>de forma oral ou sinalizada para pessoas que possuem surdocegueira.</p><p>Neste caso, o profissional interpreta de acordo com as modalidades</p><p>de comunicação específicas utilizadas pela pessoa surdocega (Língua</p><p>Oral Amplificada, Escrita na Palma da Mão, Alfabeto Manual Tátil,</p><p>Língua de Sinais Tátil, Sistema Braile Tátil ou Manual, Língua de</p><p>Sinais em Campo Reduzido, dentre outras), facilitando sua mobilidade</p><p>e descrevendo o que ocorre nas situações de comunicação em que está</p><p>atuando (FEBRAPILS, 2017, p. 2).</p><p>ATENCAO</p><p>Transliteração é quando o guia-intérprete recebe a mensagem em uma</p><p>determinada língua e transmite à pessoa surdocega na mesma língua, porém usa uma forma</p><p>de comunicação diferente acessível ao surdocego.</p><p>FONTE: <https://drive.google.com/file/d/0B3eZNKrWC6hcWS1HUl9rU0tOT1k/view>. Acesso</p><p>em: 10 jan. 21019.</p><p>Assim, ao ouvir a mensagem em LP ou LS, ele transmite por meio tátil</p><p>ou audiovisual, em um modelo de comunicação receptiva quando o indivíduo</p><p>surdocego possui um resíduo auditivo, permitindo interagir com a fala junto às</p><p>mãos.</p><p>Neste sentido, o mediador guia-intérprete será aquela pessoa capaz</p><p>de conhecer o meio de comunicação mais apropriado para aquele indivíduo</p><p>surdocego, conforme já abordado e segundo o nível de deficiência, colaborando</p><p>com a interação prática. Dessa forma, o profissional extrai o sentido através</p><p>do conteúdo linguístico, contextualizando o sentido na língua de destino para</p><p>língua-fonte.</p><p>O profissional guia-intérprete não será somente responsável por</p><p>passar o conteúdo línguístico, de acordo com a nota da FEBRAPILS, sua</p><p>responsabilidade envolve também descrever o que ocorre em torno de toda a</p><p>situação comunicacional, bem como facilitar o deslocamento e a mobilidade do</p><p>surdocego.</p><p>O profissional guia-intérprete não deverá presumir que o surdocego não</p><p>possua capacidade para fazer julgamentos, tomar decisões, fazer escolhas, mas à</p><p>158</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>medida que for atuando, poderá fazer intervenções, respeitando seus níveis de</p><p>independência dentro de um programa organizado.</p><p>Algo a se considerar na atuação do guia-intérprete é a antecipação, ou seja,</p><p>sempre adiantar o que irá acontecer, pois muito embora a maioria costuma ser</p><p>muito independente, em geral a mobilidade dos surdocegos acontece de forma</p><p>mais lenta, se comparada a outras pessoas com deficiência visual, por exemplo.</p><p>Isso acontece devido ao canal comunicativo ter características proximais e não</p><p>de distância, ou seja, os deficientes visuais podem ouvir e receber a antecipação</p><p>através da fala, e os surdocegos recebem essa antecipação através de modelos de</p><p>comunicação táteis por mínima distância.</p><p>DICAS</p><p>Acesse o site Bengala Legal e leia a matéria O que é a Surdez-cegueira</p><p>(surdocegueira). Os Surdocegos mais conhecidos (2006). Disponível em: http://www.</p><p>bengalalegal.com/surdez-ceg</p><p>4.1 AUXILIANDO NA ORIENTAÇÃO E</p><p>MOBILIDADE DO SURDOCEGO</p><p>Os desafios enfrentados pelas pessoas cegas ou com baixa visão não</p><p>passam somente pela dificuldade de enxergar, mas a falta de informação sobre os</p><p>equipamentos e materiais utilizados por elas, gerando alguns constrangimentos.</p><p>Assim, acompanhe a seguir como diferenciar a deficiência visual através das</p><p>cores da bengala e tenha mais informações para auxiliar esses sujeitos:</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>159</p><p>FIGURA 20 – CORES DAS BENGALAS</p><p>FONTE: <http://twixar.me/9Ckn>. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>1. Ao aproximar-se de um surdocego, deixe que ele perceba sua presença</p><p>com um simples toque.</p><p>2. Qualquer que seja o meio de comunicação adotado, faça-o gentilmente.</p><p>3. Combine com ele um sinal para que ele o identifique.</p><p>Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>O oralismo entende a surdez como deficiência, há uma visão clínica,</p><p>médica. Desta filosofia, herdamos a nomenclatura “deficiente auditivo”. Entre</p><p>as premissas do oralismo está a proibição do uso da língua de sinais tanto no</p><p>contexto educacional como familiar.</p><p>FIGURA 2 – O ORALISMO E A PROIBIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS</p><p>FONTE: <https://goo.gl/qTuyxV>. Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>Haja vista que a cultura e a comunidade surda são desconsideradas</p><p>no oralismo, podemos afirmar que o desenvolvimento da linguagem e da</p><p>comunidade surda é extremamente prejudicado nesta filosofia. Os surdos</p><p>sofreram um retrocesso educacional significativo (QUADROS, 1997). O oralismo</p><p>impõe a língua oral de uma maioria (os ouvintes) linguística sobre uma minoria,</p><p>no caso, a comunidade surda.</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>5</p><p>FIGURA 3 – IMPOSIÇÃO DA LÍNGUA ORAL</p><p>FONTE: <https://goo.gl/jXvM8R>. Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>O principal marco nesta filosofia foi o Congresso de Milão, na Itália, no</p><p>ano de 1880. Formozo (2008, p. 31) afirma que neste congresso presenciamos uma</p><p>contradição gritante – discutiu-se sobre educação de surdos sem a participação</p><p>dos sujeitos protagonistas, os próprios surdos. Os ouvintes decidiram que a</p><p>melhor decisão era banir a língua de sinais da educação de surdos, “[...] que</p><p>deveriam aprender a falar e, se fosse possível, a ouvir – isso com o auxílio das</p><p>tecnologias que foram avançando ao longo dos anos, desde as próteses auditivas</p><p>até os implantes cocleares”.</p><p>2.2 COMUNICAÇÃO TOTAL</p><p>Giroletti (2017) explana que o fracasso do oralismo impulsionou uma nova</p><p>forma de comunicação entre surdos e ouvintes. Com isso, “[...] a comunicação</p><p>total teve início por volta de 1960, mas no Brasil chega em meados dos anos</p><p>setenta e tem seu auge nos anos oitenta a noventa” (GIROLETTI, 2017, p. 15).</p><p>O objetivo principal da comunicação total era fazer acontecer a</p><p>comunicação entre surdos e ouvintes de forma mais efetiva. Propõe abordagens</p><p>alternativas permitindo ao surdo se expressar, combinando língua de sinais,</p><p>gestos, mímicas e leitura labial.</p><p>Penha (2018, p. 121) afirma que:</p><p>[...] por mais que a comunicação total mescle recursos linguísticos</p><p>e pedagógicos visando proporcionar aos alunos surdos melhores</p><p>condições de ensino, tal perspectiva não irá conseguir minimizar as</p><p>dificuldades apresentadas pelos estudantes surdos em sala de aula, a</p><p>principal delas é a defasagem na leitura e escrita, além do conhecimento</p><p>dos demais conteúdos ministrados em sala de aula.</p><p>Apesar de teoricamente avançarmos do oralismo para a comunicação</p><p>total, na prática não houve evolução real. Isso porque o uso da fala e da língua de</p><p>sinais de forma simultânea dificulta o processo de comunicação e aprendizagem</p><p>dos surdos.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>6</p><p>Penha (2018, p. 121) contribui para refletirmos criticamente acerca do</p><p>bimodalismo quando afirma que:</p><p>[...] no bimodalismo existe o uso simultâneo da língua de sinais e do</p><p>português, essa mescla feita pela comunicação bimodal evidencia que</p><p>os estudantes surdos não adquirem nem uma língua nem outra. O</p><p>bimodalismo está atrelado ao fato de que a maioria dos surdos nasce em</p><p>família de ouvinte, e que mesmo após seus filhos serem diagnosticados</p><p>com um déficit auditivo é comum que, em um instinto de proteção,</p><p>os pais tendam a educar seus filhos surdos como se fossem ouvintes.</p><p>Podemos pensar a prática bimodal como mais uma das possibilidades</p><p>de comunicação e de educação para surdos. Contudo, não podemos</p><p>acreditar que essa é a melhor opção de abordagem educacional para</p><p>surdo, uma vez que ela ainda é feita e pensada por e para ouvintes.</p><p>Quadros (1997) explica que a língua de sinais e a língua portuguesa têm</p><p>estruturas gramaticais essencialmente diferentes, o que torna impraticável a</p><p>simultaneidade. Brito (1993) e Westphal (1995) defendem que quando as duas</p><p>línguas são utilizadas de forma simultânea na educação de surdos, as estruturas</p><p>linguísticas das duas línguas não são preservadas. Quadros (1997) argumenta</p><p>que as línguas envolvidas no processo podem até possuir alguns parâmetros em</p><p>comum, mas com certeza as diferenças são maiores que as semelhanças. Afinal,</p><p>não são a mesma língua, são duas línguas distintas – não se esqueça disso. Quadros</p><p>(1997, p. 25, grifo da autora) ainda cita os estudos de Duffy (1987) mostrando que</p><p>“[...] somente 10% das expressões em sinais são exatamente iguais às que foram</p><p>faladas quando do uso do inglês sinalizado (no caso do português sinalizado)”.</p><p>Quadros (1997, p. 26) é categórica quando cita Duffy (1987) e Brito (1990)</p><p>afirmando que:</p><p>[...] o bimodalismo é um sistema artificial considerado inadequado,</p><p>tendo em vista que desconsidera a língua de sinais e sua riqueza</p><p>estrutural e acaba por desestruturar também o português. Esse</p><p>sistema vem demonstrando não ser eficiente para o ensino da língua</p><p>portuguesa, pois tem-se verificado que as crianças surdas continuam</p><p>com defasagem tanto na leitura como na escrita, como no conhecimento</p><p>dos conteúdos escolares.</p><p>Então, acadêmico, licenciado ou bacharelado, esperamos que, diante do</p><p>exposto até aqui, você se conscientize de que apesar de a prática bimodal ser</p><p>comum e ainda muito difundida, ela não pode e nem deve ser encarada como</p><p>opção metodológica na educação de surdos.</p><p>Cabe aqui destacar e defender a opinião de Penha (2018), quando afirma</p><p>que apesar do fracasso do oralismo e da comunicação total, precisamos entender</p><p>que estas filosofias são o resultado do contexto histórico, político, cultural e social</p><p>da época em questão. Atualmente, temos um arcabouço teórico denso que nos</p><p>possibilita emitir juízos de valor diante de tais perspectivas. O mais interessante é</p><p>que estudar e entender tais filosofias nos possibilita aprimorarmos nossa prática</p><p>pedagógica atual.</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>7</p><p>2.3 BILINGUISMO</p><p>Diante do fracasso do oralismo, da comunicação total com o bimodalismo,</p><p>surge uma nova proposta educacional, uma nova filosofia para a educação de</p><p>surdos. Estamos nos referindo ao bilinguismo. Até o momento histórico vivido,</p><p>esta é a proposta que tem se mostrado mais viável na educação de surdos.</p><p>FIGURA 4 – BILINGUISMO</p><p>FONTE: <https://goo.gl/1Sfrqh>. Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>O bilinguismo possibilita ao surdo acessar duas línguas no contexto</p><p>escolar. Quadros (1997) defende que o bilinguismo é a proposta “[...] mais</p><p>adequada, porque considera a língua de sinais como língua natural e parte desse</p><p>pressuposto para o ensino da língua escrita”. Ou seja, o bilinguismo considera a</p><p>primeira língua do surdo (L1, a língua natural) como sendo a língua de sinais, e</p><p>a L2 (segunda língua), a língua escrita do país. No bilinguismo há uma mudança</p><p>de postura, as particularidades do sujeito surdo são respeitadas e o surdo assume</p><p>a surdez.</p><p>Essa proposta está em consonância com a Declaração dos Direitos</p><p>Humanos Linguísticos (1996). No artigo 26, esta declaração preconiza que:</p><p>Todas as comunidades linguísticas têm direito a um ensino que</p><p>permita a todos os seus membros adquirirem o perfeito conhecimento</p><p>da sua própria língua, com as diversas capacidades relativas a</p><p>todos os domínios de uso da língua habituais, bem como o melhor</p><p>conhecimento possível de qualquer outra língua que desejem aprender</p><p>(P.E.N. CLUBE PORTUGUÊS, 1996, s.p.).</p><p>O artigo 28 desta mesma declaração ainda complementa afirmando que:</p><p>Todas as comunidades linguísticas têm direito a um ensino que</p><p>permita aos seus membros adquirirem um conhecimento profundo</p><p>do seu patrimônio cultural (história e geografia, literatura e outras</p><p>manifestações da própria cultura), assim como o melhor conhecimento</p><p>possível de qualquer outra cultura que desejem conhecer (P.E.N.</p><p>CLUBE PORTUGUÊS, 1996, s.p.).</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>8</p><p>Percebemos, assim, que a língua e a cultura estão intrinsecamente</p><p>relacionadas. O artigo 41 desta mesma declaração afirma que “Todas as comunidades</p><p>linguísticas têm direito</p><p>4. Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba.</p><p>Se houver um método, conheça-o, mesmo que elementar.</p><p>5. Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a</p><p>aprender.</p><p>6. Tenha a certeza de que ele o percebe, e que você também o está percebendo.</p><p>7. Encoraje-o a usar a fala se conseguir, mesmo que ele saiba apenas algumas</p><p>palavras, para os que têm resíduos auditivos.</p><p>8. Se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para</p><p>ele falar.</p><p>9. Avise-o sempre do que o rodeia.</p><p>10. Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um curto</p><p>espaço de tempo. Assegure-se de que ficará confortável e em segurança.</p><p>Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência.</p><p>Coloque a mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho num</p><p>ambiente que não lhe seja familiar.</p><p>11. Mantenha-se próximo dele para que ele perceba a sua presença.</p><p>12. Ao andar, deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre à sua frente.</p><p>13. Utilize sinais simples para avisá-lo da presença de escadas, uma porta ou</p><p>um carro.</p><p>14. Um surdocego que esteja se apoiando no seu braço perceberá qualquer</p><p>mudança do seu andar.</p><p>160</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>15. Seja cordial, exerça sua consideração e senso comum.</p><p>16. Escreva na palma da mão do surdocego.</p><p>a. Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas pode fazê-lo na mão</p><p>do indivíduo surdocego, além de traços, setas, números, para indicar a</p><p>direção, e do número de pancadas na mão, que podem indicar quantidades.</p><p>b. Escreva só na área da palma da mão e não tente juntar as letras. Quando</p><p>quiser passar a escrever números, faça um ponto, com o indicador, na base</p><p>da palma de sua mão, isso lhe indicará que dali em diante virá um número.</p><p>Algumas características dos alunos surdocegos:</p><p>• Podem apresentar movimentos estereotipados;</p><p>• Não demonstram saber as funções dos objetos ou brinquedos;</p><p>• Podem rir e chorar sem causa aparente;</p><p>• Podem apresentar resistência ao contato físico;</p><p>• Movimentam os dedos e as mãos em frente aos olhos;</p><p>• Não se comunicam de maneira convencional;</p><p>• Tropeçam muito e batem nos móveis, objetos etc.;</p><p>• Gostam de ficar em locais com luminosidade;</p><p>• Podem não reagir aos sons.</p><p>Algumas orientações para professores:</p><p>• Evite o toque de muitas mãos;</p><p>• Planeje atividades funcionais para o aluno;</p><p>• Não infantilize, considere sua idade cronológica;</p><p>• Criar uma rotina previsível, com uma possível comunicação;</p><p>• Estabelecer uma relação de confiança;</p><p>• Respeitar o tempo de aceitação;</p><p>• Desenvolver um diálogo não verbal, utilizando os movimentos da criança;</p><p>• Utilizar as habilidades que o aluno apresentar;</p><p>• Enfocar o processo de aprendizagem e não resultados;</p><p>• Perceber suas intenções comunicativas;</p><p>• Dar novo significado a objetos e pessoas.</p><p>• Respeitar o tempo do aluno e não ser invasivo.</p><p>FONTE: VIEIRA, B. N. Surdocego. Comunicando-se com um Surdocego. Língua Brasileira de</p><p>Sinais. 2012. Disponível em: http://guarulibras.blogspot.com/p/comunicando-se-com-um-</p><p>surdocego.html. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>TÓPICO 2 | SURDOCEGUEIRA E SUAS PARTICULARIDADES</p><p>161</p><p>DICAS</p><p>Exemplos de Instituições que atendam aos surdocegos no Brasil:</p><p>ADEFAV – Centro de Recursos em Deficiência Múltipla, Surdocegueira e Deficiência Visual</p><p>Disponível em: http://www.adefav.org.br/portal/</p><p>Endereço: Rua Clemente Pereira, 286 – Ipiranga, São Paulo-SP.</p><p>Telefone: (11) 3571-9511</p><p>AHIMSA – Associação Educacional para Múltipla Deficiência</p><p>Disponível em: http://www.ahimsa.org.br/</p><p>Endereço: Rua Baltazar Lisboa, 212 – Vila Mariana, São Paulo-SP.</p><p>Telefone: (11) 5579-5438</p><p>AGAPASM – Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes</p><p>Disponível em: http://www.agapasm.com.br/</p><p>Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto, 2771 – Centro, São Luiz Gonzaga-RS.</p><p>Telefone: (55) 3352-1519</p><p>Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial</p><p>Disponível em: http://www.grupobrasil.org.br/</p><p>Endereço: Rua Baltazar Lisboa, 212 – Vila Mariana, São Paulo-SP.</p><p>Telefone: (11) 5579-5438</p><p>162</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A definição de surdocegueira é bastante discutida pelos profissionais e órgãos</p><p>públicos, mas com as pesquisas entendemos que ela não é a somatória de duas</p><p>deficiências em um só indivíduo, tampouco uma deficiência múltipla sensorial,</p><p>por se tratar de órgãos sensórios do nosso corpo.</p><p>• Um conceito sobre Surdocegos vem da 1º Conferência Mundial Helen Keller, de</p><p>Nova York, no dia 16 de setembro de 1977: “Surdocegos são os indivíduos que</p><p>têm uma perda substancial de audição e visão, de tal modo que a combinação</p><p>das suas deficiências causa extrema dificuldade na conquista de habilidades</p><p>educacionais, vocacionais, de lazer e social” (KINNEY, 1977, p. 21-22).</p><p>• Outra definição vem da autora Quadros (2004, p. 10), quando ela diz que [...]</p><p>“a surdez-cegueira, na sua forma extrema, significa simplesmente que uma</p><p>pessoa não pode ver, não pode ouvir, e deve depender total e completamente</p><p>do tato para se comunicar com os outros”.</p><p>• O significado das nomenclaturas “surdo-cegueira” com hífen considera</p><p>a deficiência múltipla, e surdocegueira sem hífen considera uma única</p><p>deficiência, sendo a mais utilizada pelos estudiosos.</p><p>• No site do MEC (BRASIL, 2006) encontramos a classificação segundo os dois</p><p>grandes grupos:</p><p>o A Surdocegueira congênita ou surdocego pré-linguístico: a pessoa nasce com a</p><p>surdocegueira ou a adquire logo quando bebê, antes da aquisição de uma língua.</p><p>o A surdocegueira adquirida ou surdocego pós-linguístico: que adquiriu a</p><p>surdocegueira após ter assimilado um sistema/estruturação de linguagem.</p><p>• Existem alguns sistemas de linguagem para os indivíduos Surdocegos:</p><p>o Língua de sinais em campo visual reduzido: possibilita que a pessoa</p><p>surdocega, com perda de visão periférica advinda principalmente da</p><p>Síndrome de Usher, interaja com os demais por meio de sinais.</p><p>o Língua de sinais tátil/Tátil Libras: a língua de sinais tradicionalmente usada</p><p>pelas pessoas surdas, ao ser utilizada pelas pessoas surdocegas, é adaptada</p><p>ao tato.</p><p>o Alfabeto manual tátil – dactilologia: consiste em realizar o alfabeto manual</p><p>(dactilologia) na palma da mão da pessoa com surdocegueira.</p><p>o Braile tátil (1) e Braile tátil (2): ambos os sistemas consistem em utilizar o</p><p>sistema braile usado pelas pessoas cegas para a leitura e escrita, adaptando-o</p><p>nos dedos indicador e médio de uma só mão, e o anular e médio de ambas</p><p>as mãos da pessoa surdocega.</p><p>163</p><p>• Tadoma é um dos recursos utilizados por pessoas surdocegas pós-linguísticas,</p><p>o surdocego coloca sua mão no rosto do locutor de tal forma que o polegar</p><p>toque suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente a</p><p>bochecha, a mandíbula e as cordas vocais, e ele passa a entender a comunicação.</p><p>• Podemos ter algumas ações se não soubermos nenhum desses sistemas citados</p><p>anteriormente, como: ao se aproximar do surdocego, deixar que ele perceba a</p><p>sua presença, encorajando-o a usar a fala, avisar sempre o que o rodeia etc.</p><p>164</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Depois de anos de pesquisas e discussão a respeito da termino-</p><p>logia adequada, na IX Conferência Mundial de Orebro (Suécia),</p><p>no ano de 1995, o termo surdocegueira sem hífen foi defendido e</p><p>desde então é o mais aceito pelos especialistas da área em todo o</p><p>mundo. Que explicação foi dada para que a terminologia sem hífen fosse aceita?</p><p>2 Vimos que a surdocegueira está dividida em dois grandes</p><p>grupos: o grupo que nasce com a surdocegueira ou a adquire logo</p><p>quando bebê, antes da aquisição de uma língua, e outro grupo</p><p>que adquiriu a surdocegueira após ter assimilado um sistema/</p><p>estruturação de linguagem. De acordo com os nossos estudos, assinale a</p><p>alternativa que comtemple as terminologias referentes a esses grupos:</p><p>a) ( ) Hifenizada e sem hífen.</p><p>b) ( ) Quirema e tadoma.</p><p>c) ( ) Usa bengala e não usa bengala.</p><p>d) ( ) Congênita e adquirida.</p><p>e) ( ) Natural e acidental.</p><p>165</p><p>TÓPICO 3</p><p>LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS</p><p>PRODUÇÕES</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A educação bilíngue é concedida à comunidade surda brasileira pelo</p><p>Decreto nº 5.626/05 no sentido social e acadêmico. Essa relação que abrange a</p><p>Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Língua Portuguesa (LP) vem também com</p><p>os aspectos culturais determinantes e determinados por cada língua trilhando um</p><p>caminho de um ambiente bicultural, conforme já estudado neste livro didático.</p><p>E é neste cenário que a Literatura Visual/Surda se torna relevante para a</p><p>formação do professor de Libras e profissional TILSP.</p><p>Entendemos que a socialização desses esclarecimentos seja de suma</p><p>importância, principalmente no sentido de esclarecer e de encorajar professores</p><p>a desenvolverem um ensino bilíngue aos surdos e ouvintes a partir do realce de</p><p>obras literárias inerentes às realidades da comunidade surda.</p><p>2 LITERATURA – BREVE CONCEITO</p><p>Acredita-se que o conceito sobre literatura tenha surgido antes de</p><p>Cristo, na Grécia antiga, quando também surgiram as primeiras manifestações</p><p>poéticas da cultura ocidental. Pelo que parece, herdamos da cultura grega o que</p><p>permanece até hoje em todas as culturas do mundo, mas com o tempo ela passou</p><p>a ter conceitos diferentes, além de diferentes concepções teóricas que marcaram</p><p>épocas.</p><p>O que hoje conhecemos por literatura não era o mesmo, por exemplo, há</p><p>200 anos. A literatura foi evoluindo, aceitando novos gêneros e presenciando a</p><p>criação de novos meios de veiculação, como jornais e livros físicos, até a chegada</p><p>da internet. Todos esses fatores acabaram por “dissolver” a definição clássica</p><p>de “literatura”, gerando novas atribuições ao longo de seu desenvolvimento e</p><p>recepção.</p><p>Um desses conceitos atuais é dado por Lajolo (1995, p. 17), segundo a</p><p>autora, vários critérios são utilizados para conceituar e identificar literatura,</p><p>como “o tipo de linguagem, os textos, e até mesmo a identificação do autor</p><p>sobre a obra”. Para ela, “a literatura iguala-se a qualquer produto produzido e</p><p>consumido em moldes capitalistas”.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>166</p><p>Com essa fala entendemos que uma obra, para ser considerada literatura,</p><p>é preciso que tenha uma certa tradição cultural e social movida pelo capital de</p><p>uma sociedade pertencente a uma comunidade linguística, com a avaliação clara</p><p>dos especialistas em literatura. É essa relação que a figura a seguir faz:</p><p>FIGURA 21 – RELAÇÃO LÍNGUA E LITERATURA</p><p>Língua</p><p>Linguagem</p><p>Comunicação</p><p>Literatura</p><p>Leitura</p><p>Sociedade</p><p>Leitor</p><p>Educação</p><p>Alunado</p><p>FONTE: <https://goo.gl/cdPdHf>. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>O Dicionário Online de Português define literatura, dentre outros conceitos,</p><p>como:</p><p>• Arte de escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso.</p><p>• Conjunto das produções literárias de um país, de uma época.</p><p>• Profissão de homem de letras: dedicar-se à literatura.</p><p>• Conjunto de obras sobre um determinado assunto.</p><p>• Literatura de cordel, literatura popular, de pouco ou nenhum valor literário, geralmente em</p><p>brochuras ou folhetos pendurados em cordel de bancas de jornaleiros ou vendidos em</p><p>feiras do Nordeste.</p><p>• Literatura de ficção, o romance, a novela, o conto.</p><p>FONTE: <https://www.dicio.com.br/literatura/>. Acesso em: 20 jan. 2019.</p><p>NOTA</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>167</p><p>Notamos como o conceito da palavra literatura é amplo, porém ao mesmo</p><p>tempo conseguimos visualizar a literatura não sendo apenas transmissora</p><p>de informações, mas ligada também à interpretação em dar sentido às coisas,</p><p>personagens, épocas.</p><p>A literatura faz parte de manifestações sociais e culturais, mas, diferente de</p><p>outras obras no mundo ouvinte, sua matéria-prima é a “palavra”, que transforma</p><p>a linguagem utilizada e seus meios de expressão. Porém, não se pode pensar</p><p>que literatura é somente um “texto” publicado em um “livro”, em um jornal,</p><p>revista ou mesmo os chamados “ebooks” ou livros eletrônicos, porque sabemos</p><p>que nem todo texto ou livro publicados são de caráter literário. Por exemplo,</p><p>livros didáticos, documentos em geral, receitas e manuais de instruções não são</p><p>considerados textos literários. Para ser literário é necessário ter uma linguagem</p><p>de cunho pessoal do autor, carregar emoções em suas palavras, ter uma visão</p><p>poética da vida, das pessoas ou de determinadas situações.</p><p>O Dicionário Aurélio diz que nele há dez conceitos sobre literatura. “Talvez por</p><p>isso pensamos ser literatura tudo o que se escreve, pois segundo Aurélio, ela deriva do latim:</p><p>littera, que significa letra” (AURÉLIO, 2002, p. 28).</p><p>FONTE: AURÉLIO. O minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. revista e ampliada do</p><p>minidicionário Aurélio. Rio de janeiro, 2002.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Já que a palavra transfigura letra, e letra significa leitura, o ato de ler envolve</p><p>uma série de estratégias que permitem ao indivíduo compreender o que lê.</p><p>Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz</p><p>de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles</p><p>que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar</p><p>estratégias de leitura adequadas para abordá-los de forma a atender a</p><p>essa necessidade (MARTINS, 1994, p. 180).</p><p>A escola, sem dúvida, é um setor importante, pois há séculos vem sendo</p><p>avalista dos livros que circulam por aí, isso porque analisam e indicam a leitura</p><p>desses livros aos alunos. Mas essa responsabilidade não deve ser atribuída e</p><p>cobrada somente da escola. A arte literária deveria fazer parte do ambiente</p><p>familiar desde os primeiros meses de vida.</p><p>Entretanto, percebe-se que a desigualdade econômica e social muitas</p><p>vezes dificulta a criação de um ambiente de leitura, mostrando que as práticas</p><p>culturais devem ser pensadas de formas indissociáveis. A leitura deve ser um</p><p>momento crítico da construção do saber, um processo de interação verbal entre</p><p>os leitores e o texto.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>168</p><p>Especificamente aqui no Brasil, podemos dizer que temos uma gama de</p><p>obras literárias conhecidas no mundo todo. Ela perpassa pela poesia da nossa</p><p>rica música popular e de cordéis, os livros de famosos escritores brasileiros com</p><p>suas histórias que viraram telenovelas ou filmes. Sem dúvida, o nosso país é um</p><p>acervo literário.</p><p>FIGURA 24 – LITERATURA BRASILEIRA</p><p>FONTE: <https://http2.mlstatic.com/S_14387-MLB4241689707_052013-O.jpg>.</p><p>Acesso em: 15 de fev. 2019.</p><p>Descrevendo rapidamente os gêneros literários, o site Brasil Escola nos</p><p>informa que os critérios “semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais”</p><p>são importantes para defini-los, e esses gêneros reúnem um conjunto de obras</p><p>que apresenta características análogas de forma e conteúdo, dividindo-se em três</p><p>categorias básicas: épico/narrativo, lírico e dramático.</p><p>a) Gênero épico ou narrativo: no gênero épico ou narrativo há a presença de</p><p>um narrador, responsável por contar uma história na qual as personagens</p><p>atuam em um determinado espaço e tempo. Pertencem a esse gênero as</p><p>seguintes modalidades:</p><p>Épico Fábula Epopeia Novela Conto Crônica Ensaio Romance</p><p>Elegia Ode Écloga Soneto</p><p>b) Gênero lírico: os textos do gênero lírico, que expressam sentimentos e</p><p>emoções, são permeados pela função poética da linguagem. Neles há a</p><p>predominância de pronomes e verbos na 1ª pessoa, além da exploração da</p><p>musicalidade das palavras. Estão entre as principais estruturas utilizadas</p><p>para a composição do poema:</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>169</p><p>Auto Comédia Tragédia Tragicométida Farsa</p><p>c) Gênero dramático: de acordo com a definição de Aristóteles em sua Arte</p><p>Poética, os textos dramáticos são próprios para a representação e apreendem</p><p>a obra literária em verso ou prosa passíveis de encenação teatral. A voz</p><p>narrativa está entregue às personagens, atores que contam uma história</p><p>por meio de diálogos ou monólogos. Pertencem ao gênero dramático os</p><p>seguintes textos:</p><p>FONTE: Brasil Escola.</p><p>Literatura – Gêneros Literários. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.</p><p>br/literatura/generos-literarios.htm. Acesso em: 25 jan. 2019.</p><p>Diante destes diferentes gêneros textuais, dizemos que a literatura forma</p><p>diferentes leitores, e neste aspecto, quando o leitor consegue atribuir sentido a</p><p>um diversificado número de textos, mostra que está familiarizado com a escrita e</p><p>leitura, conseguindo diferenciar os tipos de gêneros literários e não literários e os</p><p>motivos que o levam a escolher aquela leitura em detrimento de outra.</p><p>Conceituamos a literatura de forma geral, porém breve e voltada</p><p>principalmente para o público ouvinte, compreendemos que, independentemente</p><p>da sociedade, ela é vista como um componente importante para a cultura de um</p><p>povo. Nessa perspectiva, temos a literatura visual produzida para um público em</p><p>específico: a comunidade surda. É o que veremos a partir de agora.</p><p>O site Farofa Filosófica traz os maiores autores brasileiros e livros que você</p><p>poderá baixar em PDF. Aproveite! Disponível em: https://farofafilosofica.com/category/</p><p>livros-e-bibliografias/literatura-livros-em-pdf/</p><p>IMPORTANTE</p><p>3 LITERATURA COMO COMPONENTE DA</p><p>CULTURA E IDENTIDADE SURDA</p><p>Notamos até agora que a literatura é uma produção importante para</p><p>uma sociedade participativa com interesses políticos, culturais, educacionais e</p><p>familiares. A respeito da comunidade surda, embora sempre houvesse narrativas</p><p>relacionadas à história e experiências, não se tinha uma tradição de registrar essas</p><p>narrativas, o que resultou em muitas perdas. Porém, o interesse por literatura por</p><p>parte da comunidade surda tem sido visível nos últimos anos, sendo usado como</p><p>um dos componentes de ensino para surdos e ouvintes.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>170</p><p>A literatura surda tem se evidenciado por meio das histórias de suas</p><p>dificuldades, vitórias e militâncias contadas por meio de livros, valorizando sua</p><p>cultura tão importante como minoria linguística que deseja afirmar suas tradições</p><p>culturais e recuperar suas histórias reprimidas. Assim, como definir a literatura</p><p>dentro de uma cultura surda? Bem, Literatura Surda refere-se:</p><p>[...] às experiências que o povo surdo passa, suas dificuldades e/ou</p><p>vitórias das explorações e tiranias dos ouvintes, como reagem diante</p><p>dessas situações; mostra também as ações de grandes militares e</p><p>líderes surdos e valoriza suas identidades surdas (STROBEL, 2009a,</p><p>p. 62).</p><p>Hoje, felizmente presenciamos diversas obras originais da cultura surda,</p><p>essa evolução projeta um futuro literário de valorização da língua e da cultura</p><p>surda, pois o leitor, seja surdo ou ouvinte, terá um olhar sob a perspectiva da</p><p>identidade cultural da comunidade surda, e em resultado fortalecerá a construção</p><p>e desenvolvimento de uma tradição literária surda.</p><p>A apropriação de uma literatura para os surdos é diferente em vários</p><p>aspectos da de ouvinte, ela é composta por “histórias, contos, lendas, fábulas,</p><p>anedotas, poesia, jogos, piadas e caricaturas”, sendo alguns deles pensados</p><p>exclusivamente para serem representados através da língua de sinais e não de</p><p>maneira escrita, já que corre o risco de, através da tradução, perder o valor da</p><p>mensagem fiel (BAHAN et al., 1996 apud MORGADO, 2011, p. 24).</p><p>O uso da letra S maiúscula na palavra “Surdo” utilizado nos nossos estudos</p><p>delimita uma visão política sobre a surdez, compreendendo o Surdo como sujeito de direitos</p><p>linguísticos, sociais, educacionais, culturais diferente dos ouvintes.</p><p>IMPORTANTE</p><p>As figuras (1) e (2) abaixo demonstram alguns exemplos dessa literatura</p><p>produzida nos últimos anos, chamando atenção para histórias produzidas dentro</p><p>das comunidades Surdas com personagens surdos/ouvintes, envolvendo piadas,</p><p>romances, histórias infantis, fábulas encantadas, entre outros, sendo feitas</p><p>adaptações para vários públicos.</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>171</p><p>FIGURA 23 – EXEMPLOS DE LITERATURA SURDA</p><p>FONTE: <https://www.fasdapsicanalise.com.br/content/uploads/2016/04/cinderela-surda1.jpg>.</p><p>Acesso em: 15 fev. 2019.</p><p>Uma vez que os surdos se organizam em comunidades, buscando o</p><p>fortalecimento da língua de sinais, da identidade e cultura surda, a literatura surda</p><p>adquire também o papel de difusão cultural, dando visibilidade às expressões</p><p>linguísticas e artísticas advindas da experiência visual. Assim, saber como ela é</p><p>produzida, com certeza enriquecerá seu conhecimento a respeito.</p><p>Surdos reúnem-se frequentemente para contar histórias e, entre as</p><p>preferidas, estão as histórias de vida, as piadas e aquelas que incluem</p><p>elementos da cultura surda, com personagens surdos, com tramas que,</p><p>em geral, envolvem as diferenças entre o mundo surdo e o ouvinte</p><p>(KARNOPP, 2008, p. 6).</p><p>Assim, com o objetivo de entender essas obras literárias, descreveremos</p><p>brevemente os conceitos de cultura e identidade surda. A definição de cultura surda</p><p>vem como sendo o “jeito de o sujeito Surdo entender o mundo e de modificá-lo a</p><p>fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções visuais,</p><p>que contribuem para a definição das identidades!” (STROBEL, 2008, p. 24).</p><p>Quanto ao conceito de identidade, a autora Perlin (2004) referencia</p><p>aqueles indivíduos que estão inseridos em um grupo que participam das mesmas</p><p>experiências, no caso dos surdos fazendo uso de uma experiência visual que é</p><p>específica a esse grupo de pessoas, sendo esta experiência desenvolvida a partir</p><p>dos encontros surdo-surdo. Desta forma, ela nos diz que:</p><p>[...] as identidades surdas são construídas dentro das representações</p><p>possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com a maior</p><p>ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro</p><p>dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou</p><p>consciência oposicional pela qual o indivíduo representa a si mesmo,</p><p>se defende da homogeneização, dos aspectos que tomam corpo menos</p><p>habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes,</p><p>de menos valia social (PERLIN, 2004, p. 77-78).</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>172</p><p>Salientamos outro aspecto a se levar em consideração em literatura visual/</p><p>surda. Assim como em qualquer língua, ao passar por momento de transfiguração</p><p>e translação, ou seja, uma tradução de uma língua para outra, podem acontecer</p><p>algumas mudanças específicas, e já que a cultura e identidade surda é tão</p><p>presente em suas literaturas, os personagens das mesmas histórias ou fábulas,</p><p>como os ouvintes conhecem, poderão ser adaptados, é o caso de “Cinderela” e</p><p>“Rapunzel”, que se tornam personagens surdas na literatura visual/Surda.</p><p>Dessa forma, a aquisição da escrita e leitura se torna de suma importância</p><p>para exprimir a cultura e a identidade do povo Surdo, que se entrelaçam e</p><p>predominam. E a literatura faz parte dessa expressão e linguagem que se</p><p>utiliza de vários recursos. Mas, afinal, o que é literatura visual/surda? Será que</p><p>a comunidade surda segue todos os gêneros literários? Convidamos você a</p><p>mergulhar no mundo literário visual dos surdos. Vamos lá?</p><p>DICAS</p><p>Ficou curioso para saber mais sobre literatura visual/surda? Assista ao vídeo</p><p>Literatura Surda – Tradução e interpretação. Autoras: Carolina Hessel Silveira e Lodenir</p><p>Becker Karnopp. História da Cinderela surda. Disponível em: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=Zhgwf424faM</p><p>4 LITERATURA VISUAL/SURDA</p><p>Refletir acerca da literatura visual/surda é pensar em uma modalidade que surgiu</p><p>no momento em que essa comunidade se apropriou do saber sobre o poder de uma</p><p>produção imagética de sua língua materna, pois sabemos que o sentido do qual o Surdo</p><p>mais se utiliza para obter informação é a visão.</p><p>Assim, muito embora a comunidade surda se utilize em suas obras</p><p>literárias da escrita em LP, o que predominará serão as imagens e a LS. Conforme</p><p>a fala das autoras Porto e Peixoto (2011, p. 166), “pensar em literatura visual é pensar</p><p>em uma modalidade de produção literária</p><p>que utiliza a visão como principal fonte de</p><p>captação da informação”.</p><p>A importância dada às imagens nas produções literárias surdas nos leva para o</p><p>que as autoras agrupam em três aspectos:</p><p>1) O primeiro encerra os textos literários escritos, traduzidos da</p><p>língua portuguesa para a língua de sinais;</p><p>2) o segundo pertence às adaptações dos textos clássicos à realidade</p><p>dos surdos.</p><p>3) e o terceiro engloba as produções textuais dos surdos. Sendo esta</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>173</p><p>última categoria de maior importância, a qual encerra o pensar</p><p>do sujeito Surdo, expresso em suas produções textuais (PORTO;</p><p>PEIXOTO, 2011, p. 168).</p><p>Atualmente existe uma variedade de livros visuais que não usam escrita,</p><p>são os designados livro-imagem, que cumprem seu objetivo principalmente para</p><p>o público infantil, não envolvido ainda diretamente com a escrita e leitura. Um</p><p>deles, bem conhecido entre nós brasileiros, é o da autora Eva Furnari (A Bruxinha</p><p>atrapalhada):</p><p>Dessa forma, igualmente como a criança ouvinte viaja no mundo das</p><p>palavras, para o público Surdo – exigente visualmente – essas imagens têm</p><p>significado, eles absorvem o mundo por meio das imagens.</p><p>O desenho é importante para crianças terem o visual e maior facilidade</p><p>em perceber o conteúdo do livro. Além disso, desenhos de sinais</p><p>expressam e marcam a cultura surda. Possuem a possibilidade de</p><p>leitura, pois dentro tem a escrita de língua de sinais. [...] E, por último,</p><p>a leitura do português, que também é importante para aprender a lê-</p><p>lo. O objetivo desses itens é ajudar a compreender a cultura surda. [...]</p><p>Além de material impresso, a mídia (CD/DVD) é muito importante</p><p>para surdos, pois apresenta visual para todos do Brasil e é um meio</p><p>mais fácil para entender o livro (ROSA, 2006, p. 62-63).</p><p>Observamos, assim, que os recursos utilizados na literatura visual para</p><p>surdos fazem toda a diferença para um aprendizado significativo, contribuindo</p><p>para o letramento deles. Outro recurso muito utilizado nas obras literárias surdas</p><p>é a escrita dos sinais (SignWriting), junto à escrita em LP e LS, é o que chamam de</p><p>“Tripé” (SW, imagens e LP). Foi uma inovação com o livro Uma menina Chamada</p><p>Kauana, da escritora Karin Lilian Strobel, que sucedeu outras.</p><p>FIGURA 24 – UMA MENINA CHAMADA KAUANA</p><p>FONTE: <https://goo.gl/qU4qFU>. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>174</p><p>Além disso, hoje a união da mídia e da literatura tem criado condições</p><p>para um acesso rápido a histórias de variados gêneros literários, com legendas na</p><p>LP concomitantes com a tradução em LS, fazendo com que haja um fortalecimento</p><p>da identidade, cultura e de conhecimento da surdez.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>Que tal exercitar sua LS? Acesse o link a seguir: https://www.youtube.</p><p>com/watch?v=Rdqf-czXLYw e responda em Libras, registrando em vídeo as</p><p>seguintes questões: Qual o tema da história? Quem são os personagens da</p><p>história e quantos são? Que fato ocorreu?</p><p>4.1 LITERATURA VISUAL/SURDA: GÊNEROS LITERÁRIOS</p><p>A literatura surda, assim como a de ouvinte, é capaz de produzir qualquer</p><p>gênero literário. Claro que, como observado anteriormente, as histórias surdas</p><p>vivenciadas em seus meios grupais acabam tendo destaque nestas produções,</p><p>bem como as fábulas literárias brasileiras conhecidas por nós. Mas, como nunca</p><p>antes visto, têm surgido muitos poetas surdos com suas “poesias”, já que elas</p><p>refletem sua identidade e espelham seus sentimentos. Ainda temos na literatura</p><p>surda a “tirinha”, que “é uma das formas literárias preferidas pela comunidade</p><p>surda, sobretudo devido ao seu caráter visual e menor recurso à língua escrita”</p><p>(MORGADO, 2011, p. 22).</p><p>Outra característica muito forte na literatura surda é o “humor ou a</p><p>piada”. Destacamos que nessa modalidade de obra literária é necessário ser</p><p>fluente na língua de sinais para conseguir compreender algumas de suas sutilezas</p><p>linguísticas. Segundo Morgado (2011, p. 54), é possível distinguir cinco diferentes</p><p>formas de humor na literatura surda, são elas:</p><p>1- Imitação de filmes, de pessoas, de animais, de objetos que possam</p><p>ser incorporados e retratados a partir de expressões corporais e</p><p>faciais.</p><p>2- Brincadeiras com configurações do alfabeto ou dos números, em</p><p>que o contador pode criar uma história a partir delas.</p><p>3- Brincadeiras com o movimento.</p><p>4- Brincadeiras com temas tabus.</p><p>5- Anedotas que vão passando de mão em mão e de país para país,</p><p>entre os surdos.</p><p>Nesta acepção, existem muitos autores e atores surdos que têm se</p><p>destacado em contação de piadas, imitação etc. Iremos narrar sobre alguns</p><p>escritores surdos, sabendo que muitos outros estão surgindo.</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>175</p><p>DICAS</p><p>Aprofunde seus conhecimentos pesquisando sobre piadas produzidas pelos</p><p>Surdos em sua cidade ou na internet. Entreviste Surdos que gostam de contar piadas e</p><p>busque informações sobre os elementos da língua realçados para a construção das piadas.</p><p>4.2 LITERATURA VISUAL/SURDA – AUTORES E ATORES</p><p>Quando observamos as imagens/ilustrações nas literaturas, estamos</p><p>colocando em prática um processo de leitura, de análise, de decomposição da</p><p>totalidade, de observação de detalhes e formação de ideias, de opiniões, de</p><p>julgamentos. A construção de ideias que se sucedem, configurando uma narrativa,</p><p>uma história.</p><p>É assim que os escritores surdos constroem suas histórias por meio de</p><p>recursos visuais, atentos aos tons, cores, formas, linhas, enfim, ao enquadramento,</p><p>seja da imagem ou foto, proporcionando elementos para a interpretação/</p><p>compreensão/tradução das imagens. São recursos que possibilitam algumas</p><p>interpretações e excluem outras.</p><p>Uma das escritoras surdas famosas pelas suas poesias em LS é Doroth</p><p>Miles (1931-1993). Ela é tratada por Sutton-Spence (2003, p. 1) como a maior</p><p>compositora na linguagem gestual, sendo uma fonte de inspiração para a poesia</p><p>contemporânea. No Brasil, a obra Até onde vai o surdo, do surdo Jorge Sérgio L.</p><p>Guimarães, em 1961, constituiu-se como um grande divisor de águas no que diz</p><p>respeito à literatura surda. Ele inaugura uma literatura que afirma que o Surdo</p><p>possui uma identidade própria, incentivando a construção e publicação de várias</p><p>obras literárias concentradas na Libras, identidade e na cultura surda brasileira.</p><p>FIGURA 25 – LITERATURA: ATÉ ONDE VAI O SURDO</p><p>FONTE: <https://goo.gl/ypKRTN>. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>176</p><p>Esse é apenas um dos exemplos de livros de autores surdos que ajudaram os</p><p>ouvintes a conhecer a cultura e a sua identidade surda. Ainda podemos citar: Karin</p><p>Lilian Strobel, Adriano de Oliveira Gianotto, Lodenir Becker Karnopp, Carolina</p><p>Hessel Silveira, Paula Pfeifer, que entre seus livros mais conhecidos está Crônicas da</p><p>Surdez. Além de Nelson Pimenta, Rimar Ramalho Segala e sua irmã, Sueli Ramalho</p><p>Segala, que se dedicam a histórias contadas em vídeos e teatro em LS.</p><p>Fazem parte de autorias de produções literárias visual/surda tanto surdo como</p><p>ouvinte, é o caso da literatura A cigarra Surda e as formigas, escrita por duas autoras, uma</p><p>surda e a outra ouvinte, porém a prevalência é de autores surdos.</p><p>NOTA</p><p>Conheça alguns desses autores/atores:</p><p>FIGURA 26 – NELSON PIMENTA</p><p>FONTE: <https://goo.gl/moFBjW>. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>Nelson Pimenta nasceu em Brasília, em 1963. Primeiro ator surdo a se</p><p>profissionalizar no Brasil, estudou no NTD (National Theatre of the Deaf), de</p><p>Nova York.</p><p>DICAS</p><p>Acompanhe algumas produções de sua autoria, acesse os links e aprenda</p><p>mais sobre a literatura surda em vídeo:</p><p>• Nelson Pimenta – Poesia Cinco Sentido em LIBRAS</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xmOnY1B2jEI&t=23s</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>177</p><p>• Pinóquio em Língua de Sinais – Legendado Português</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=C7UegznsZ_w&t=2s</p><p>• O homem que queria ser cachorro</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UvQnMwF6-gM</p><p>• Acervo de histórias infantis – TV INES</p><p>Disponível em: http://tvines.org.br/?p=5760.</p><p>• Acompanhe também o programa “Café com Pimenta”, da TV INES, apresentado por</p><p>Nelson Pimenta, em que ele entrevista vários integrantes da comunidade surda brasileira.</p><p>Disponível em: http://tvines.org.br/?page_id=1387</p><p>Outro ator Surdo conhecido por suas atuações brilhantes em teatro é</p><p>Rimar Ramalho Segala, com experiência na área de Letras, tradução, educação,</p><p>arte e literatura com ênfase em Língua Brasileira de Sinais.</p><p>DICAS</p><p>Observe alguns dos conhecidos acervos de Rimar Ramalho Segala:</p><p>• Bolinha de ping-pong – Rimar R. Segala</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VhGCEznqljo</p><p>• Ovelha – Rimar R. Segala e Sueli Ramalho</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tOzvLpOceEI&list=PL3DB52722ACAE5F</p><p>88&index=6</p><p>• O outro lado da moeda – Rimar R. Segala</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Rd6OS3M-1Hs&list=PL3DB52722ACAE</p><p>5F88&index=7</p><p>• Fazenda: Gavião – Rimar R. Segala e Sueli Ramalho</p><p>Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cf1dYmw02e0&index=9&list=PL3DB52</p><p>722ACAE5F88</p><p>Dessa maneira, quando se trata de propagar o jeito de ser Surdo e as</p><p>características da sua cultura, o contato dos ouvintes com as histórias da literatura</p><p>surda é de grande valia para que eles se apropriem desses conhecimentos surdos.</p><p>Como profissional da área de Educação em LS, pedagogicamente você está em</p><p>uma condição na efetivação do ensino e na aquisição da aprendizagem bilíngue,</p><p>por isso adquira todo conhecimento que puder sobre as LS, comunidade e</p><p>identidade Surda.</p><p>UNIDADE 3 | LIBRAS: SISTEMA DE ESCRITA SIGNWRITING – SURDOCEGUEIRA E LITERATURA VISUAL</p><p>178</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>TRADUÇÕES DE TEXTO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LIBRAS</p><p>Alguns dos materiais existentes são os que traduzem os textos clássicos</p><p>da literatura universal e/ou brasileira para a Libras. A editora “Arara Azul”</p><p>disponibiliza a coleção “Clássicos da Literatura em CD-R em Libras/Português”,</p><p>em que uma equipe de tradutores faz a tradução da língua portuguesa para a</p><p>Libras. Os clássicos traduzidos são para crianças: Alice no País das Maravilhas</p><p>(Lewis Carroll, 2002), As aventuras de Pinóquio (Carlo Collodi, 2003), A história de</p><p>Aladim e a lâmpada maravilhosa (Autor desconhecido, 2004). Há também obras para</p><p>jovens e adultos das literaturas de língua portuguesa: Iracema (José de Alencar,</p><p>2002), O velho da horta (Gil Vicente, 2004), O Alienista (Machado de Assis, 2004), O</p><p>Caso da Vara (Machado de Assis, 2005), A Missa do Galo (Machado de Assis, 2005),</p><p>A cartomante (Machado de Assis 2005), O Relógio de Ouro (Machado de Assis,</p><p>2005). Disponível em: http://www.editora-araraazul.com.br/</p><p>LIVROS DE LITERATURA INFANTIL</p><p>Quanto à análise de livros impressos, é possível encontrar alguns livros</p><p>cuja temática é sobre surdez, a língua de sinais e/ou surdos. Os livros publicados</p><p>a partir de 2000, que foram analisados, são os seguintes: Tibi e Joca (Bisol, 2001),</p><p>A cigarra e as formigas (Oliveira; Boldo, 2003), Kit Libras é Legal (2003), O Som do</p><p>Silêncio (Cotes, 2004), Cinderela Surda (Hessel; Rosa; Karnopp, 2003), Rapunzel</p><p>Surda (Silveira; Rosa; Karnopp, 2003), Adão e Eva (Rosa; Karnopp, 2005), Patinho</p><p>Surdo (Rosa; Karnopp, 2005).</p><p>O livro Tibi e Joca – uma história de dois mundos (BISOL, 2001) conta com a</p><p>participação especial de um surdo, Tibiriçá Maineri. Na apresentação lemos:</p><p>Esta história de um menino surdo é parecida com a de muitas outras</p><p>crianças que nasceram ou ficaram surdas. Dúvidas, desespero, culpa,</p><p>acusações, sofrem os pais. Solidão, um imenso sem-sentido, um</p><p>mundo que teima em não se organizar, sobre a criança. O que fazer?</p><p>(BISOL, 2001, apresentação).</p><p>No desenvolvimento da história, observamos que o personagem é um</p><p>menino surdo que nasceu em uma família com pais ouvintes. Todos passaram</p><p>por momentos difíceis até que começam a usar a língua de sinais. O texto é rico</p><p>em ilustrações e, além da história registrada na língua portuguesa, há um boneco</p><p>tradutor que sinaliza as palavras-chave de cada página, que permitem ao usuário</p><p>da Libras acompanhar a história.</p><p>Um outro conjunto de livros impressos de literatura infantil é possível</p><p>encontrar no KIT LIBRAS É LEGAL. Há cinco livros que cumprem uma função</p><p>prioritariamente didática. Os livros são ilustrados, apresentam a sinalização da</p><p>TÓPICO 3 | LITERATURA VISUAL/SURDA E SUAS PRODUÇÕES</p><p>179</p><p>Libras em desenhos, a escrita da língua de sinais e o português. Observe a descrição</p><p>de cada um dos livros: VIVA AS DIFERENÇAS é um livrinho que fala, de forma</p><p>simples, sobre a diversidade do ser humano. Discutir as diferenças em sala de aula</p><p>é uma oportunidade de semear valores como o respeito e a solidariedade entre</p><p>as crianças, indispensáveis à sua convivência em grupo. CACHOS DOURADOS</p><p>é um clássico da literatura infantil que faz parte do universo de muitas crianças</p><p>ouvintes. Agora as crianças surdas podem conhecer essas histórias contadas por</p><p>seus pais e professores através do registro em Libras. IVO é uma oportunidade</p><p>de trabalhar algumas noções de cidadania com os alunos, pois os documentos</p><p>pessoais são uma maneira de nos inserirmos na sociedade atual e dela participar.</p><p>A história infantil oferece inúmeras possibilidades de trabalhar diversos conceitos</p><p>a ela relacionados, tais como família, saúde, trabalho, educação, política, entre</p><p>outros. HISTÓRIA DA ÁRVORE é uma piada muito conhecida na comunidade</p><p>surda, que vem sendo contada e recontada. Com humor, ela traz uma mensagem</p><p>muito interessante de respeito às diferenças individuais. Acesse: http://www.</p><p>libraselegal.com.br/index1.php</p><p>A história A cigarra surda e as formigas – escrita por duas professoras</p><p>de surdos, Carmem Oliveira e Jaqueline Boldo, uma ouvinte e a outra surda,</p><p>respectivamente – apresenta como tema a importância da amizade entre surdos</p><p>e ouvintes e faz um apelo ao final da história: “Amiguinhos, precisamos respeitar</p><p>as diferenças” (Oliveira; Boldo, s.d.). Na apresentação do livro, uma das autoras</p><p>enfatiza que essa história foi fruto do trabalho realizado em sala de aula, onde</p><p>houve uma apresentação teatral por crianças surdas, em Libras, e também a</p><p>produção do texto em SignWriting e na língua portuguesa. O livro foi produzido</p><p>manualmente e as ilustrações foram realizadas por um aluno. Apresenta – nas</p><p>páginas em terminação numérica par – três possibilidades de leitura: a) através</p><p>da língua portuguesa, b) através do desenho do sinal, c) através da escrita do sinal</p><p>(SW). Percebemos que, no livro, não está totalmente legível a escrita dos sinais,</p><p>provavelmente por ter sido produzido manualmente. Além disso, nas páginas</p><p>ímpares, há ilustrações que remetem ao desenvolvimento da história.</p><p>FONTE: KARNOPP, L. Literatura Surda. Florianópolis-SC, 2008. Disponível em: https://goo.gl/</p><p>PUuUnZ. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>180</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O conceito sobre literatura surgiu antes de Cristo, na Grécia antiga, quando</p><p>também surgiram as primeiras manifestações poéticas da cultura ocidental.</p><p>Além disso, seu conceito foi evoluindo com o passar dos anos.</p><p>• A definição de literatura pela autora Lajolo (1995) destaca que a literatura</p><p>iguala-se a qualquer produto produzido e consumido em moldes capitalistas.</p><p>O Dicionário Online de Português define literatura, entre outros conceitos,</p><p>como: Arte de escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso; Conjunto das</p><p>produções literárias de um país, de uma época; Literatura de cordel, literatura</p><p>popular, literatura de ficção, o romance, a novela, o conto.</p><p>• Para a obra ser literária ela precisa ter uma linguagem de cunho pessoal do</p><p>autor, carregar emoções em suas palavras, ter uma visão poética da vida, das</p><p>pessoas ou de determinadas situações etc. Livros didáticos, documentos em</p><p>geral, receitas e manuais de instruções não são considerados textos literários.</p><p>• A responsabilidade de formar leitores não deve ser atribuída e cobrada somente</p><p>da escola. A arte literária deveria fazer parte do ambiente familiar desde os</p><p>primeiros meses de vida.</p><p>• Vimos que os gêneros literários são:</p><p>o Gênero épico ou narrativo: há a presença de um narrador, responsável por</p><p>contar uma história na qual as personagens atuam em um determinado</p><p>espaço e tempo, como novela, conto, crônica, romance etc.</p><p>o Gênero lírico: expressam sentimentos e emoções, são permeados pela função</p><p>poética da linguagem. Neles há a predominância de pronomes e verbos na 1ª</p><p>pessoa, além da exploração da musicalidade das palavras. Entre as principais</p><p>estruturas utilizadas para a composição do poema estão a Elegia, a Ode, a</p><p>Écloga e o Soneto.</p><p>o Gênero dramático: são próprios para a representação e apreendem a obra</p><p>literária em verso ou prosa passíveis de encenação teatral. A voz narrativa</p><p>está entregue às personagens, atores que contam uma história por meio de</p><p>diálogos ou monólogos. Pertencem ao gênero dramático os seguintes textos:</p><p>Comédia, Tragédia, Farsa etc.</p><p>• A literatura visual/surda tem se evidenciado por meio das histórias de suas</p><p>dificuldades, vitórias e militâncias contadas por meio de livros, valorizando</p><p>sua cultura tão importante como minoria linguística que deseja afirmar suas</p><p>tradições culturais e recuperar suas histórias reprimidas.</p><p>181</p><p>• A importância dada às imagens/ilustrações nas produções literárias surdas</p><p>como um dos componentes primários, visto que a comunidade surda é</p><p>imagética. Os recursos utilizados nas obras literárias surdas são a escrita de</p><p>sinais (SignWriting), junto à escrita em LP e LS. É o que chamam de “Tripé”</p><p>(SW, imagens e LP).</p><p>• Os gêneros literários utilizados normalmente pelas comunidades surdas são</p><p>poesias, “tirinha”, “humor ou a piada”. Destacamos que nessa modalidade</p><p>de obra literária é necessário ser fluente na língua de sinais para conseguir</p><p>compreender algumas de suas sutilezas linguísticas.</p><p>• Existem diversos acervos pessoais de literaturas em DVD, de atores como Nelson</p><p>Pimenta e Rimar Ramalho Segala. Além disso, em sua leitura complementar,</p><p>tivemos mais obras literárias relacionadas à comunidade surda.</p><p>182</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Os surdos se organizam em comunidades, buscando o fortale-</p><p>cimento da língua de sinais, da identidade e da cultura surda.</p><p>Com isso, a literatura surda adquire também o papel de difusão</p><p>cultural, dando visibilidade às expressões linguísticas e artísticas</p><p>advindas da experiência visual. Dessa forma, explique como ela é produzida.</p><p>2 Observe a imagem do livro A Bruxinha atrapalhada, de Eva</p><p>Furnari:</p><p>FIGURA – IMAGEM DO LIVRO A BRUXINHA ATRAPALHADA</p><p>FONTE: <https://goo.gl/dvE1i5>. Acesso em: 15 mar. 2019.</p><p>De acordo com os nossos estudos, entendemos que na literatura o</p><p>ouvinte viaja no mundo das palavras e isso não necessariamente acontece</p><p>com o surdo. Por esse motivo, existe um tipo de livro que conquista os dois</p><p>públicos. Reflita e responda: Que tipo de livro é esse e por que ele conquista os</p><p>dois públicos?</p><p>183</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AGUIAR, T. C.; CHAIBUE K. Histórico das Escritas de Línguas de Sinais. Centro</p><p>virtual de cultura surda. Revista virtual de cultura surda, n. 15, mar. 2015.</p><p>Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/</p><p>files/3%C2%BA%20Artigo%20para%20REVISTA%2015%20de%20THIAGO%20</p><p>AGUIAR%20e%20KARIME%20CHAIBUE.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>ALVES, D. O. Sala de Recursos Multifuncionais. Espaço para o atendimento</p><p>educacional especializado. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria de</p><p>Educação Especial, 2006.</p><p>AURÉLIO. O minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. Revista e ampliada do</p><p>minidicionário Aurélio. Rio de janeiro, 2002.</p><p>BARBOSA, A. C. A.; PIETZAK, J. de D. C. Currículo e didática na educação de</p><p>surdos. Indaial: Uniasselvi, 2018.</p><p>BARRETO, M.; BARRETO, R. Escrita de Sinais sem mistérios. 2. ed. V. 1.</p><p>Salvador: Libras Escrita, 2012.</p><p>BARROS, M. E. Princípios básicos da ELIS: escrita das línguas de sinais. Revista</p><p>Sinalizar, v. 1, n. 2, p. 204-210, jul./dez. 2016. Disponível em:</p><p>https://www.revistas.ufg.br/revsinal/article/download/38881/22322/. Acesso em:</p><p>10 jan. 2019.</p><p>BARROS, M. E. ELiS – Escrita das Línguas de Sinais: proposta teórica e</p><p>verificação prática. 2008. 199 f. Tese (Doutorado) – Curso de Linguística, Centro</p><p>de Documentação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa</p><p>Catarina, 2008.</p><p>BASSO, I. M. de S.; STROBEL, K. L.; MASUTTI, M. Metodologia de</p><p>ensino de Libras: L1. Florianópolis: UFSC, 2009. Disponível em: http://</p><p>www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoPedagogico/</p><p>metodologiaDeEnsinoEmLibrasComoL1/assets/631/TEXTO-BASE_SEM_AS_</p><p>IMAGENS_.pdf. Acesso em: 16 nov. 2018.</p><p>BERSCH, R. Tecnologia assistiva e educação inclusiva. In: Ensaios Pedagógicos.</p><p>Brasília: SEESP/MEC, p. 89-94, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Instituto</p><p>Benjamin Constant. Conceituando a Surdo Cegueira. 2017. Disponível em: http://</p><p>www.ibc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=308:conceitu</p><p>ando-a-surdocegueira&catid=124&Itemid=367. Acesso em:10 jan. 2019.</p><p>184</p><p>BRASIL. Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão</p><p>da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível</p><p>em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm.</p><p>Acesso em: 6 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº 12.319, de 1 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de</p><p>Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm.</p><p>Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>BRASIL. Surdocegueira e Deficiência Múltipla. Coleção A Educação Especial na</p><p>Perspectiva da Inclusão Escolar. MEC/Brasília, 2010.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Saberes e Práticas da Inclusão.</p><p>Dificuldades de comunicação e sinalização: Surdocegueira / múltipla deficiência</p><p>sensorial Secretaria de Educação Especial – Brasília: MEC/SEESP – 2006.</p><p>Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/alunoscegos.pdf.</p><p>Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n°</p><p>10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -</p><p>Libras, e o art. 18 da Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm.</p><p>Acesso em: 10. dez. 2018.</p><p>BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua</p><p>Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 10. dez. 2018.</p><p>BRASIL. MEC – Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.</p><p>Educação Infantil. Estratégias e orientações pedagógicas para a educação de</p><p>crianças com necessidades educacionais especiais: Dificuldades Acentuadas de</p><p>Aprendizagem. Deficiência Múltipla. Brasília: MEC/SEESP, 2002.</p><p>BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.</p><p>Projeto de Resolução CNE/CEB nº 17/2001. Brasília, julho, 2001.</p><p>BRASIL. Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e</p><p>critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de</p><p>deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis /110098.</p><p>htm. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>BRASIL – MEC. Secretaria de Educação Especial. Língua Brasileira de Sinais /</p><p>organizado por Lucinda F. Brito et al. Brasília: SEESP, 1998. Disponível em: http://</p><p>www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002297.pdf> Acesso em: 8 dez.</p><p>2018.</p><p>185</p><p>BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas</p><p>especiais. 2. ed. Brasília, DF: Corde, 1997.</p><p>BRITO, L. F. Língua brasileira de sinais. Por uma gramática de Língua de Sinais.</p><p>Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.</p><p>BRITO, L. F. Integração social e educação de surdos. Rio de Janeiro: Babel</p><p>Editora, 1993.</p><p>CAMPELLO, A. R. Pedagogia Visual/Sinal na Educação dos Surdos. In: PERLIN,</p><p>G.; QUADROS, R. M. de. (Org.). Estudos</p><p>Surdos II. Petropólis: Arara Azul, 2007,</p><p>Cap. IV, p. 130-132.</p><p>CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Novo deit-libras: dicionário enciclopédico</p><p>ilustrado trilíngue da língua de sinais brasileira baseado em linguística e</p><p>neurociências cognitivas. Volumes 1 e 2. São Paulo, SP: EDUSP, 2009.</p><p>CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue</p><p>da língua de sinais brasileira. V. 1: Sinais de A a L (2. ed., v. 1, p. 1-832). São Paulo:</p><p>Edusp e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.</p><p>CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado</p><p>Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume II: Sinais de M a Z (v. 2, p.</p><p>835-1620). São Paulo, SP: Edusp, Fapesp, Fundação Vitae, Feneis, Brasil Telecom,</p><p>2001.</p><p>CAPOVILLA, F. C.; SUTTON, V. Como ler e escrever sinais de Libras no sistema</p><p>de escrita visual direta de sinais SignWriting. In: CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL,</p><p>W. D.; MAURICIO, A. C. L. (Orgs.). Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue</p><p>da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009.</p><p>CHOMSKY, N. Novas perspectivas linguísticas. Petrópolis: Vozes, 1971.</p><p>CHOMSKY, N. Bare phrase structure. In: WEBELHUTH, G. Government and</p><p>binding and the minimalist program. Blackwell. Oxford & Cambridge USA.</p><p>1957. p. 383-440.</p><p>DALLAN, M. S. S.; MASCIA, M. A. A. A escrita de Libras (SignWriting): um</p><p>novo olhar para o desenvolvimento linguístico do aluno surdo e para a formação</p><p>do professor de línguas. In: Congresso Latino-Americano de Formação de</p><p>Professores de Línguas, 3, 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: Universidade de</p><p>Taubaté, 2010, p. 1-15. Disponível em: http://escritades.dominiotemporario.com/</p><p>doc/III_CLAFPL.pdf . Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>DAMÁSIO, M. F. M. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial.</p><p>Atendimento Educacional Especializado: pessoa com surdez. Brasília: MEC/</p><p>SEESP, 2007.</p><p>186</p><p>FEBRAPILS – Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores</p><p>e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais. 2017. Disponível em:</p><p>http://febrapils.org.br/wp-content/uploads/2017/07/nota-tcnica-febrapils-feneis-</p><p>materiais-audiovisuais.pdf. Acesso em: 10 jun. 2018.</p><p>FELIPE, A. T.; MONTEIRO, S. M. Libras em Contexto: Curso Básico: Livro do</p><p>Professor. 6. ed. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial,</p><p>2006. 448 p.</p><p>FERNANDES, F.; LUFT, P. C.; GUIMARÃES, M. F. Minidicionário da Língua</p><p>Portuguesa. 44. ed. São Paulo: Globo, 1996.</p><p>FORMOZO, D. de S. Currículo e a educação de surdos. 2008. Dissertação (Mestrado</p><p>em Educação) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2008. Disponível em:</p><p>https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/188280/FORMOZO%20</p><p>Daniele%20de%20Paula%202008%20%28disserta%C3%A7%C3%A3o%29%20</p><p>UFPel.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 19 nov. 2018.</p><p>GALVÃO, N. de C. S. S. A comunicação do aluno surdocego no cotidiano da</p><p>escola inclusiva. 2010. 213 f. Tese (doutorado em Educação) – Universidade</p><p>Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2010.</p><p>GESSER, A. Tradução e Interpretação de Libras II. Santa Catarina: Florianópolis,</p><p>2011. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/1</p><p>eixoFormacaoEspecifica/traducaoEInterpretacaoDaLinguaDeSinais/assets/767/</p><p>Texto_base_TIL_II_2008.pdf. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>GIROLETTI, M. F. P. Aquisição da Língua de Sinais para surdo como L1. Indaial:</p><p>Uniasselvi, 2017.</p><p>GODOY, S. A. Convivendo e aprendendo com o surdocego: manual de</p><p>orientações para professores. Material Didático: PDE- SEED, 2011.</p><p>GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva</p><p>sociointeracionista. 2. ed. São Paulo: Plexus, 2002.</p><p>GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva</p><p>sociointeracionista. São Paulo: Plexus, 1997.</p><p>GREENBERG, J. H. (Ed.). Universals of Language. Cambridge: Mass The Mit</p><p>Press, 1966.</p><p>GRUPO BRASIL E ABRASC. O que pensamos sobre a pessoa surdacega e o que</p><p>elas fazem para viver? São Paulo: Liotti Del Arco Design Editorial, 2003a.</p><p>GUERINI, A.; COSTA, W. Introdução aos Estudos de Tradução. Florianópolis:</p><p>CCE/UFSC, 2006.</p><p>187</p><p>GUIMARÃES, M. F.; LUFT, P. C.; FERNANDES, F. Gramática é sistematização,</p><p>dos fatos de uma língua. Sistematização dos usos da linguagem considerada</p><p>padrão. Dicionário Brasileiro Globo. 44. ed. São Paulo: Globo, 1996.</p><p>HULST, H. V. D. Units in the analysis of signs. Phonology, n. 10, p. 209-241, 1993.</p><p>JAKOBSON, R. Aspectos linguísticos da tradução. In: Linguística e</p><p>comunicação. Trad. Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Editora</p><p>Cultrix, 1969. p. 62-73.</p><p>KARNOPP, L. Literatura surda. Florianópolis: UFSC, 2008. Disponível em:</p><p>http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/</p><p>literaturaVisual/assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf. Acesso em: 10 jan.</p><p>2019.</p><p>KARNOPP, L. Aquisição fonológica na língua brasileira de sinais: estudo</p><p>longitudinal de uma criança surda. Tese (Doutorado). Pontifícia Universidade</p><p>Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. Disponível em: http://www.</p><p>libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoBasica/foneticaEFonologia/scos/</p><p>cap15009/8.html. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>KINNEY, R. A Definição, Responsabilidades e Direitos dos Surdocegos. In:</p><p>Anais... I Seminário Brasileiro de Educação do deficiente Audiovisual – ABEDEV.</p><p>São Paulo, 1977.</p><p>LACERDA, F. B. C. de. Tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais:</p><p>formação e atuação nos espaços educacionais inclusivos. Disponível em: https://</p><p>periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/viewFile/1604/1487. Acesso</p><p>em: 10 dez. 2018.</p><p>LAGATI, S. Deaf-blind or deafblind international perspectives on terminology.</p><p>1995. Tradução: Laura L. M. Anccilotto. São Paulo: Projeto Ahimsa/Hilton Perkins,</p><p>2002.</p><p>LAJOLO, M. O Que é Literatura. 17. ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1995.</p><p>LEITE, T. A. A segmentação da língua de sinais brasileira (libras): um estudo</p><p>linguístico descritivo a partir da conversação espontânea entre surdos. Tese</p><p>(Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,</p><p>Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.</p><p>LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.</p><p>LIDDELL, S. American sign language syntax. The Hague: Mouton, 1980.</p><p>LUCKESI, C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 21. ed. São Paulo: Cortez</p><p>Editora, 2010</p><p>188</p><p>MARQUES, G.; LUFT, P. C.; FERNANDES, F. Dicionário Brasileiro Globo. 44. ed.</p><p>São Paulo: Globo, 1996.</p><p>MARTINS, M. H. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção:</p><p>Primeiros Passos: 74).</p><p>MCCLEARY, L.; VIOTTI, E. Semântica e Pragmática. Licenciatura e</p><p>Bacharelado em Letras-Libras na Modalidade a Distância. UFSC. Florianópolis,</p><p>2009. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/</p><p>eixoFormacaoBasica/semanticaEPragmatica/assets/722/Texto_base_Semantica-</p><p>Final_2_dez_2008.pdf. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>MORGADO, M. Literatura das Línguas Gestuais. Lisboa: Universidade Católica</p><p>Editora, 2011.</p><p>MOUNIN, G. Os problemas teóricos da tradução. Tradução de Heloysa</p><p>de Lima Dantas. São Paulo: Cultrix, 1965.</p><p>NASCIMENTO, V. Interpretação da Libras para o português na modalidade oral:</p><p>considerações dialógicas. Tradução & Comunicação, v. 24, p. 79-94, set. 2012.</p><p>Disponível em: http://www.pgss kroton.com.br /seer/index.php /traducom/</p><p>article/ view /1 756/1675. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>NOGUEIRA, C. T. Intérpretes de Libras-Português no contexto de conferência:</p><p>uma descrição do trabalho em equipe e as formas de apoio na cabine. 2016. Disponível</p><p>em:https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/167619/341090.</p><p>pdf?sequence=1. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>NORDIN, J. Interpretação forense: ética e padronização profissional. 1. ed. São</p><p>Paulo, 2013.</p><p>OLIVEIRA, M. K. de. A evolução da escrita na criança. In: Vygotsky L.:</p><p>Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. 5.ed. São Paulo:</p><p>Scipione, 2010.</p><p>OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo</p><p>sócio-histórico. São Paulo: Scipone, 2008.</p><p>OLIVEIRA, M. K. Vygotsky:</p><p>aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-</p><p>histórico. 1. ed. São Paulo: Scipione, 1997.</p><p>PAGURA, R. Tradução e interpretação. 2003. Disponível em: http://books.scielo.</p><p>org/id/6vkk8/pdf/amorim-9788568334614-09.pdf. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>PEIXOTO, A. J. Reflexos da identidade religiosa da pessoa surda na variação</p><p>linguística em Libras e suas implicações na tradução/interpretação. 2012.</p><p>Disponível em: http://www.congressotils.com.br/anais/anais/tils2012_traducao_</p><p>questao_peixotopeixoto.pdf. Acesso em: 10 dez. 2018.</p><p>189</p><p>PEIXOTO, A. J.; VIEIRA, R. M. Artefatos culturais do povo surdo: discussões e</p><p>reflexões. Paraíba: Ramos Vieira Sal da terra, 2018.</p><p>P.E.N. CLUBE PORTUGUÊS. Declaração Universal dos direitos linguísticos.</p><p>Barcelona. 1996. Disponível em: http://www.penclubeportugues.org/comites/</p><p>declaracao-universal-dos-direitos-linguisticos/. Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>PENHA, N. M. da. Parâmetros de ensino em Língua Brasileira de Sinais como</p><p>L1. Indaial: Uniasselvi, 2018.</p><p>PERINI, M. A. Sobre língua, linguagem e Linguística: uma entrevista com Mário</p><p>A. Perini. ReVEL, v. 8, n. 14, 2010. Disponível em: http://www.revel.inf.br/files/</p><p>entrevistas/revel_14_entrevista_perini.pdf. Acesso em: 7 dez. 2018.</p><p>PERLIN, G. O lugar da cultura surda. In: THOMA, A. da S.; LOPES, M. C. (Orgs.).</p><p>A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da</p><p>educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.</p><p>PERLIN, G. T. T.; STROBEL, K. Fundamentos da educação de surdos. Florianópolis:</p><p>UFSC, 2006. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/</p><p>eixoFormacaoEspecifica/fundamentosDaEducacaoDeSurdos/assets/279/TEXTO_</p><p>BASE-Fundamentos_Educ_Surdos.pdf. Acesso em: 16 nov. 2018.</p><p>PERLIN, G. T.; REZENDE, P. L. F. Didática e educação de surdos. Florianópolis:</p><p>UFSC, 2011. Disponível em: https://goo.gl/8GvNDD. Acesso em: 8 jan. 2019.</p><p>PIAGET, J. Linguagem e pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de</p><p>Cultura, 1990.</p><p>PORTO, S.; PEIXOTO. J. Literatura visual. Florianópolis: UFSC, 2011. Disponível</p><p>em:file:///C:/Users/Marley/Documents/Downloads/LITERATURA%20</p><p>VISUAL%20LETRAS%20LIBRAS%20165.pdf. Acesso em: 10 fev. 2019.</p><p>QUADROS, R. M. Efeitos de modalidade de Língua: as línguas de sinais. ETD:</p><p>Educação Temática Digital, Campinas, v. 7, n. 2, p. 168-178, 2006. Disponível</p><p>em:http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=9&idart=127.</p><p>Acesso em: 6. dez. 2018.</p><p>QUADROS, R. M. O Tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua</p><p>portuguesa. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC;</p><p>SEESP, 2004.</p><p>QUADROS, M. R. Um capítulo da história do SignWriting. 1999. A History</p><p>of SignWriting written in Brazilian Portuguese. Disponível em: http://www.</p><p>signwriting.org/library/history/hist010.html. Acesso em: 5 jan. 2019.</p><p>QUADROS, R. M. de. Educação de Surdos: a aquisição de linguagem. Porto</p><p>Alegre: Artes Médicas, 1997.</p><p>190</p><p>QUADROS, R. M. de; PERLIN, G. Estudos Surdos. Ed. Eletrônica. Ed. Arara</p><p>Azul, 2007.</p><p>QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L.; REZENDE, P. L. F. Língua Brasileira de</p><p>Sinais I. Material didático do curso de Letras LIBRAS a distância. Florianópolis:</p><p>UFSC, 2009a. Disponível em: http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/</p><p>eixoFormacaoEspecifica/linguaBrasileiraDeSinaisI/assets/459/Texto_base.pdf.</p><p>Acesso em: 7 dez. 2018.</p><p>QUADROS, R. M. de; PIZZIO, A. L.; REZENDE, P. L. F. Língua Brasileira</p><p>de Sinais II. Material didático do curso de Letras LIBRAS a distância.</p><p>Florianópolis: UFSC, 2009b.</p><p>QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos</p><p>linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.</p><p>QUADROS, R. M. de; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para</p><p>alunos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.</p><p>br/seesp/arquivos/pdf/port_surdos.pdf. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>REIS, F. Didática e educação de surdos. Indaial: UNIASSELVI , 2013.</p><p>ROSA, A. da S. Entre a visibilidade da tradução de sinais e a</p><p>invisibilidade da tarefa do intérprete. Campinas, SP: Parábola Editorial, 2008.</p><p>ROSA, F. S. Literatura Surda: criação e produção de imagens e textos. Educação</p><p>Temática Digital, Campinas, v. 7, n. 2, p. 58-64, jun. 2006.</p><p>SÁ, E. D. de. Banco de escola: educação para todos. Projeto Horizonte AHIMSA</p><p>– Hilton Perkins, 2002. Surdocego ou Surdo-Cego – hífen na terminologia.</p><p>Disponível em: http://www.bancodeescola.com/surdocego.htm. Acesso em: 10</p><p>jan. 2019.</p><p>SÁ, N. R. L. de. Cultura, poder e educação de surdos. 2. ed. São Paulo: Paulinas,</p><p>2010.</p><p>SALLES, H. M. M. L. et al. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos</p><p>para a prática pedagógica. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos.</p><p>V. 1. Brasília, 2004.</p><p>SANTOS, P. A.; QUERIQUELLI, M. H. L. Estudos da Tradução e Interpretação</p><p>em Língua de Sinais. Indaial: UNIASSELVI , 2018.</p><p>SANTOS, S. A. dos. Questões emergentes sobre a interpretação de libras português</p><p>na esfera jurídica. In: Belas Infiéis, v. 5, n. 1, p. 117-129, 2016.</p><p>191</p><p>SASSAKI, R. K. Como chamar as pessoas que têm deficiência? Revista da</p><p>Sociedade Brasileira de Ostomizados, ano 1, n. 1, 1° sem. 2003, p. 8-11. [Texto</p><p>atualizado em 2009].</p><p>SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1987.</p><p>SILVA, M. da P. M. A construção de sentidos na escrita do sujeito surdo. 1999.</p><p>Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas,</p><p>Campinas, 1999. Disponível em: https://espacocolaborativo.files.wordpress.</p><p>com/2014/12/construcao-de-sentido-na-escrita-surda.pdf. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>SILVEIRA, C. H. O currículo de Língua de Sinais na Educação de Surdos. 2006.</p><p>Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina,</p><p>Florianópolis, 2006. Disponível em: https://goo.gl/EFcdWA. Acesso em: 3 jan.</p><p>2019.</p><p>SKINNER, B. F. Verbal Behavior. New York: Applenton-Century-Crofts, 1957.</p><p>SOUZA, R. B. de. Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS II. Indaial: UNIASSELVI ,</p><p>2018.</p><p>SPINASSÉ, P. K. Os conceitos Língua Materna, Segunda Língua e Língua</p><p>Estrangeira e os falantes de línguas alóctones minoritárias no Sul do Brasil.</p><p>Revista Contingentia, 2006, v. 1, novembro 2006. Disponível em:</p><p>https://seer.ufrgs.br/contingentia/article/viewFile/3837/2144. Acesso em: 4 nov.</p><p>2018.</p><p>STOKOE, W. Sign and Culture: A Reader for Students of American Sign Language.</p><p>Listok Press, Silver Spring, MD. 1960.</p><p>STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: UFSC,</p><p>2018.</p><p>STROBEL, K. História de Educação de Surdos. Florianópolis: Ed. UFSC, 2009a.</p><p>STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. 1. ed. Florianópolis:</p><p>UFSC, 2008.</p><p>STUMPF, M. R. Escrita de Língua Brasileira de Sinais. Indaial: Ed. Grupo</p><p>UNIASSELVI , 2011.</p><p>STUMPF, M. R. Educação de surdos e novas tecnologias. Florianópolis: UFSC,</p><p>2009.</p><p>STUMPF, M. R. Escrita de Sinais I. Texto-base do Curso de Licenciatura e</p><p>Bacharelado em Letras-Libras na Modalidade a Distância. Florianópolis: UFSC,</p><p>2008.</p><p>192</p><p>STUMPF, M. R. Aprendizagem de Escrita de Língua de Sinais pelo Sistema</p><p>SignWriting: Línguas de sinais no papel e no computador. 2005. 330 f. Tese</p><p>(Doutorado) – Curso de Informática na Educação, Faculdade de Educação,</p><p>Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2005.</p><p>SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. Trad. de A. Chelini, José</p><p>P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix; USP, 1969.</p><p>SILVA, A. M. da. Análise da participação dos alunos Surdos no discurso de sala</p><p>de aula do mestrado na UFSC mediada por intérprete. Dissertação (Mestrado em</p><p>Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. Disponível</p><p>em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/107054. Acesso em: 8 dez. 2018.</p><p>SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto, 1999.</p><p>SUTTON-SPENCE, R. Dorothy Miles. Chapter 4 Dorothy’s Life Experiences, 12</p><p>dez. 2003. Disponível em: http://sign-lang.ruhosting.nl/echo/docs/Dorothy%20</p><p>Miles.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.</p><p>TAFNER, E. P.; OLIVEIRA, I. Letras em foco. Indaial: Ed. Grupo UNIASSELVI ,</p><p>2016.</p><p>WATERHOUSE,</p><p>E. J. Definições, Responsabilidades e Direitos dos Surdocegos.</p><p>In: Anais... I Seminário Brasileiro de Educação do Deficiente Audiovisual –</p><p>ABEDEV. São Paulo, 1977.</p><p>WESTPHAL, G. F. La Enseñanza de Lenguas y el Enfoque natural. In: II Seminário</p><p>de Linguística e Ensino das Língua Modernas. Setembro de 1995. Departamento</p><p>de Letras. PUCRS, 1995.</p><p>a usar a sua língua e a mantê-la e promovê-la em todas as</p><p>formas de expressão cultural” (P.E.N. CLUBE PORTUGUÊS, 1996, s.p.).</p><p>Por isso, Quadros (1997) defende que o bilinguismo deve obrigatoriamente</p><p>ser também bicultural, pois desta forma a criança surda se reconhecerá como</p><p>pertencente à comunidade surda, mas também acessará de forma mais rápida a</p><p>comunidade ouvinte.</p><p>O sucesso do bilinguismo está diretamente relacionado ao preparo da</p><p>escola, à sua adequação e harmonia com o aluno e sua família. Quadros (1997, p.</p><p>29) atenta para alguns aspectos importantes neste processo, quando relata que:</p><p>[...] a família deve conhecer detalhadamente a proposta para engajar-se</p><p>adequadamente. Os profissionais que assumem a função de passarem</p><p>as informações necessárias aos pais devem estar preparados para</p><p>explicar que existe uma comunicação visual (a língua de sinais) que</p><p>é adequada à criança surda, que essa língua permite à criança ter um</p><p>desenvolvimento da linguagem análogo ao de crianças que ouvem,</p><p>que essa criança pode ver, sentir, tocar e descobrir o mundo à sua volta</p><p>sem problemas, que existem comunidades de surdos; enfim, devem</p><p>estar preparados para explicar aos pais que eles não estão diante de</p><p>uma tragédia, mas diante de uma outra forma de comunicar que</p><p>envolve uma cultura e uma língua visual-espacial. Deve-se garantir</p><p>à família a oportunidade de aprender sobre a comunidade surda e a</p><p>língua de sinais.</p><p>Os aspectos elencados pela autora parecem simples, mas são muito</p><p>importantes no processo de orientação dos pais da criança surda. Muitos ficam</p><p>desnorteados diante do diagnóstico da surdez, e sem orientação perita é comum</p><p>tomarem decisões impensadas e irrefletidas sobre a educação de seus filhos,</p><p>decisões estas que influenciarão toda a história de vida desta criança. Portanto,</p><p>você, profissional atuante na educação de surdos, tem sim um papel muito</p><p>importante de orientação à família e, consequentemente, na evolução do surdo.</p><p>Quadros (1997, p. 30) apresenta duas formas de bilinguismo existentes na</p><p>educação de surdos. “[...] uma delas envolve o ensino da segunda língua quase de</p><p>forma concomitante à aquisição da primeira língua e a outra caracteriza-se pelo</p><p>ensino da segunda língua somente após a aquisição da primeira língua”.</p><p>A comunidade surda, de forma geral, defende e incentiva a segunda forma</p><p>de bilinguismo citada, ou seja, acredita-se que a criança surda primeiro deve</p><p>adquirir sua língua materna para posteriormente ser alfabetizada na segunda</p><p>língua, no caso, a língua portuguesa.</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>9</p><p>FIGURA 5 – A EVOLUÇÃO DO SURDO</p><p>FONTE: <https://goo.gl/XL4aoP>. Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>DICAS</p><p>Sobre o bilinguismo no contexto da surdez, indicamos a leitura do livro Surdez</p><p>e Bilinguismo (2010), da Editora Mediação, que tem Eulalia Fernandes como organizadora.</p><p>FIGURA – CAPA DO LIVRO SURDEZ E BILINGUISMO</p><p>FONTE: <https://goo.gl/Hpbr5P> Acesso em: 15 nov. 2018.</p><p>Este livro reúne discussões de vários teóricos referenciais nesta área. Através de pesquisas</p><p>e vivências diárias, os autores dão materialidade ao bilinguismo na educação dos surdos.</p><p>Desejamos a você, acadêmico, uma excelente leitura.</p><p>Depois de estudarmos as filosofias educacionais que influenciaram a</p><p>educação de surdos ao longo da história, nos aprofundaremos agora em duas</p><p>novas propostas educacionais para alunos surdos.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>10</p><p>3 PEDAGOGIA VISUAL E PEDAGOGIA SURDA</p><p>Estudamos até aqui o oralismo, a comunicação total com o bimodalismo e</p><p>o bilinguismo enquanto correntes filosóficas na educação de surdos. Percebemos</p><p>que, destas, o bilinguismo é a mais coerente com a educação de surdos atualmente,</p><p>porém na práxis diária percebemos que o bilinguismo por si só não abarca todas</p><p>as transformações que a educação de surdos necessita, e é neste contexto que</p><p>surgem duas novas propostas: a Pedagogia Visual e a Pedagogia Surda.</p><p>3.1 PEDAGOGIA VISUAL</p><p>Souza (2018) relata que a educação de surdos nos impulsiona</p><p>obrigatoriamente a analisarmos algumas especificidades. Neste viés, surge a</p><p>proposta da pedagogia visual. Basso, Strobel e Masutti (2009) defendem que a</p><p>pedagogia visual encara a prática pedagógica e o processo ensino-aprendizagem</p><p>de uma forma diferente, sim, a perspectiva ou concepção surda é o que modela</p><p>esta proposta.</p><p>Campello (2007) afirma que através da língua de sinais, os surdos podem</p><p>desenvolver normalmente suas inteligências, levando vidas produtivas com uma</p><p>autoimagem positiva. Outro aspecto defendido pela autora é que as características</p><p>visuo-espaciais da Libras dão ao aspecto da visualidade muita importância, afinal</p><p>a Libras encontra na imagem uma grande aliada junto às propostas educacionais</p><p>e às práticas sociais. Campello (2007 apud BARBOSA; PIETZAK, 2018) postula</p><p>que a pedagogia visual beneficia a todos, pois garante a participação de todos.</p><p>É fato comprovado que nada do que é feito para incluir um aluno, exclui outro.</p><p>DICAS</p><p>A Coleção Estudos Surdos já foi indicada em outras disciplinas do seu curso,</p><p>mas queremos aqui destacar a leitura do artigo Pedagogia Visual/Sinal na Educação dos</p><p>Surdos, de Ana Regina Campello, pesquisadora surda reconhecida internacionalmente e</p><p>muito respeitada. O artigo está disponível no endereço http://editora-arara-azul.com.br/</p><p>estudos2.pdf , no Capítulo IV – páginas 100-132 da coleção Estudos Surdos II.</p><p>3.2 PEDAGOGIA SURDA</p><p>A pedagogia surda surge como uma nova proposta educacional a partir</p><p>da década de 1970. Tal proposta prevê ao surdo a possibilidade de acessar duas</p><p>línguas, mas com suas particularidades linguísticas e culturais respeitadas.</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>11</p><p>As demandas emergentes dos movimentos sociais do povo surdo fizeram</p><p>surgir a pedagogia surda. Perlin e Strobel (2006) defendem ferrenhamente a</p><p>pedagogia surda, pois acreditam que esta é a melhor opção metodológica para o</p><p>ensino e aprendizagem dos surdos. “Ela mostra que a transgressão pedagógica</p><p>precisa de fato estar presente para romper com a metodologia de ouvintes</p><p>aplicada às crianças surdas [...]” (GIROLETTI, 2017, p. 138).</p><p>Na pedagogia surda, a língua, a cultura e a identidade surda são</p><p>reconhecidas e valorizadas. Perlin e Strobel (2006) consideram que atualmente</p><p>a pedagogia surda pode ser considerada uma ruptura, uma transgressão</p><p>pedagógica, no sentido de romper com a pedagogia tradicional ouvinte.</p><p>Penha (2018) ainda nos recorda que a pedagogia surda considera as</p><p>singularidades do surdo, incluindo os aspectos culturais. A pedagogia surda</p><p>surge com o objetivo de indicar novos caminhos para a educação dos surdos.</p><p>Na Pedagogia surda se valoriza o saber do povo surdo, em que entram</p><p>a arte, a história de vida, a comunidade surda, a cultura, a identidade</p><p>e, consequentemente, a Língua inserida neste contexto como primeira</p><p>Língua, por isso, o ensino preferencialmente com professores surdos,</p><p>principalmente a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino</p><p>Fundamental (GIROLETTI, 2017, p. 138).</p><p>Perlin e Strobel (2006) consideram também defende que na pedagogia</p><p>surda, o professor surdo deve estar presente nas salas. A figura do professor</p><p>surdo possibilita a mediação intercultural e respeita as questões identitárias</p><p>pertencentes ao povo surdo.</p><p>4 L1 E L2: CONCEITOS</p><p>Giroletti (2017, p. 111) mostra que os conceitos sobre L1 “[..] nos remetem</p><p>à ideia de que a língua materna também é chamada de língua nativa e língua</p><p>popular, isto devido à compreensão de ser a língua falada, usada e/ou de fluência</p><p>numa comunidade específica”.</p><p>Spinassé (2006) também conceitua L1 como a língua materna, ou seja, a</p><p>primeira língua a ser usada no contexto comunicacional.</p><p>Seguindo esta sequência lógica, inferimos que a L2 é a língua que se</p><p>aprende posteriormente à aquisição de sua língua materna. No Brasil, a L2 dos</p><p>surdos é a língua oficial do país, a Língua Portuguesa.</p><p>De forma bastante sucinta, vamos aqui conceituar L1 e L2 no caso do surdo</p><p>brasileiro. Para</p><p>o surdo brasileiro, a L1, sua primeira língua, é a Libras – Língua</p><p>Brasileira de Sinais – e a L2, segunda língua, é a língua portuguesa na modalidade</p><p>escrita. Apesar de simples, estes conceitos ainda são muito confundidos, e quando</p><p>conceitos basilares não são entendidos de forma clara, toda a práxis pedagógica</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>12</p><p>é colocada em xeque. A partir de agora, vamos diferenciar língua de linguagem</p><p>e entraremos no universo incrível que é o estudo do processo de aquisição da</p><p>linguagem. Vamos lá?</p><p>5 LÍNGUA E LINGUAGEM</p><p>Estudar o processo de aquisição da língua de sinais implica necessariamente</p><p>entendermos conceitos implícitos neste processo. As terminologias língua e</p><p>linguagem são difundidas como sinônimos, mas são essencialmente diferentes.</p><p>Goldfeld (1997) afirma que a linguagem envolve significação, que tem</p><p>valor semiótico, e é na linguagem que se constitui o pensamento do sujeito. Penha</p><p>(2018) complementa afirmando que a linguagem é uma presença constante no</p><p>sujeito, mesmo quando não se tem a intencionalidade de se comunicar com os</p><p>outros. Sim, o nosso corpo fala, os nossos olhos falam e por isso podemos afirmar</p><p>que somos constituídos enquanto sujeitos para nós mesmos e para os outros. Ou</p><p>seja, por meio da linguagem, nossa identidade é construída.</p><p>Saussure (1987 apud GOLDFELD, 2002, p. 17) é considerado o pai da</p><p>linguística. Segundo ele, a linguagem é formada pela língua e fala. Ele conceitua</p><p>língua como “[...] um sistema de regras abstratas composto por elementos</p><p>significativos inter-relacionados. [...] a Língua, para Saussure, é o aspecto social</p><p>da linguagem, já que é compartilhada por todos os falantes da comunidade</p><p>linguística [...]”.</p><p>Saussure (1987) defende que a língua é um produto social da faculdade de</p><p>linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social</p><p>para possibilitar o exercício dessa faculdade nos indivíduos.</p><p>Em linhas gerais, podemos denominar como linguagem a capacidade</p><p>que os seres humanos têm para produzir, desenvolver e compreender a língua</p><p>e outras manifestações, como é o caso da pintura, da música e da dança. Já a</p><p>língua é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a</p><p>comunicação. Ela surge em sociedade e todos os grupos humanos desenvolvem</p><p>sistemas com esse fim. As línguas podem se manifestar de forma oral ou gestual.</p><p>Sabemos que o fato de a criança ser surda não a impede de constituir-se</p><p>enquanto sujeito. O processo de aquisição de linguagem e língua é fortemente</p><p>influenciado e dependente das influências que esta criança terá do ambiente</p><p>linguístico, da interação com seus pares.</p><p>5.1 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM</p><p>Conhecer o desenvolvimento da linguagem é o ponto de partida de</p><p>qualquer profissional atuante na educação. Quadros (1997, p. 67) afirma que “os</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>13</p><p>estudos sobre aquisição da linguagem – AL – estão diretamente relacionados com</p><p>as diferentes abordagens sobre a aquisição”. A partir de agora, relembraremos as</p><p>três abordagens sobre a aquisição, sendo elas: a abordagem comportamentalista,</p><p>a abordagem linguística e a abordagem interacionista.</p><p>5.1.1 Abordagem Comportamentalista</p><p>Ao falar da abordagem comportamentalista, precisamos referenciar Skinner</p><p>(2002). Penha (2018, p. 12) ainda afirma que na abordagem comportamentalista:</p><p>[...] a experiência é a experimentação planejada como base do</p><p>conhecimento. Onde os modelos de ensino são desenvolvidos a</p><p>partir da análise dos processos por meio dos quais o comportamento</p><p>humano é modelado e reforçado. Assim, a aquisição da linguagem se</p><p>dá através de estímulos, reforço, condicionamento, treino e imitação.</p><p>A abordagem comportamentalista enfatiza o conhecimento, conhecimento</p><p>este operacionalizado com o objetivo de moldar o comportamento social. Ainda</p><p>nesta abordagem, o homem é produto do meio, ou seja, o comportamento social</p><p>é manipulável.</p><p>5.1.2 Abordagem Linguística</p><p>A abordagem linguística baseia-se em Chomsky (1957), que considerou</p><p>que sendo as línguas manifestações de uma condição inata, as línguas devem</p><p>guardar características universais, marcas de sua origem comum no cérebro</p><p>humano.</p><p>Penha (2018) explana que Chomsky postulou a tese de que a linguagem</p><p>humana ocorre em dois níveis. Primeiramente, uma estrutura profunda, na qual</p><p>o raciocínio ocorre sem o uso de palavras, e uma estrutura superficial, que são</p><p>as frases que dizemos, pensamos e escrevemos. Entre os dois níveis haveria um</p><p>conjunto de transformações.</p><p>5.1.3 Abordagem Interacionista</p><p>A abordagem interacionista possui duas vertentes: cognitivista e o</p><p>enfoque social. Penha (2018) disserta que a vertente cognitivista tem como base</p><p>teórica o pensamento de Piaget, investigando o que há de comum e de universal</p><p>no desenvolvimento. Já a abordagem sociointeracionista, que se baseia em</p><p>Vygotsky, enfatiza o papel do ambiente na produção da estrutura da linguagem,</p><p>em que a interpretação e as associações, bem como as regras gramaticais (signos),</p><p>estão dentro de um contexto social.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>14</p><p>Percebemos que as abordagens discordam em muitos aspectos, mas</p><p>convergem para alguns aspectos em comum. As pesquisas sobre o processo de</p><p>aquisição da linguagem buscam explicações. Após analisarmos as abordagens</p><p>sobre a aquisição da linguagem, iremos agora analisar os estágios de aquisição da</p><p>linguagem, defendidos por Quadros (1997).</p><p>6 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM EM CRIANÇAS SURDAS</p><p>As pesquisas sobre a aquisição de linguagem baseiam-se somente em</p><p>crianças surdas, filhas de pais surdos. Quadros (1997, p. 70, grifo do original)</p><p>defende que as crianças surdas filhas de pais surdos apresentam “[...] o input</p><p>linguístico adequado e garantido para possíveis análises de processo de aquisição.</p><p>Entretanto, ressalta-se que essas crianças representam apenas 5% a 10% das</p><p>crianças surdas”.</p><p>Reforçamos que o processo de aquisição de linguagem em crianças surdas</p><p>é muito semelhante ao processo das crianças ouvintes. Diante disso, analisaremos</p><p>a partir de agora os estágios de aquisição da linguagem.</p><p>6.1 ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM</p><p>Atualmente, as pesquisas sobre aquisição de língua de sinais mostram-se</p><p>muito oportunas. Tais pesquisas comprovam que a aquisição da língua de sinais é</p><p>semelhante à aquisição das línguas orais. Desta forma, crianças surdas e ouvintes</p><p>adquirem a linguagem de forma muito semelhante.</p><p>Agora, vejamos como a autora Penha (2018) abordou o processo de</p><p>aquisição da linguagem na disciplina Parâmetros de Ensino em Língua Brasileira</p><p>de Sinais como L1, relembrando os estágios de aquisição de linguagem, sendo</p><p>eles: o período pré-linguístico, o estágio de uma palavra, estágio das primeiras</p><p>combinações e o estágio das múltiplas combinações.</p><p>6.1.1 Período Pré-Linguístico</p><p>Segundo Penha (2018, p. 19-20):</p><p>[...] Assim, Petitto e Marantette (1991 apud QUADROS, 1997) nos</p><p>apresentam estudos realizados sobre o balbucio dos bebês, que independem.</p><p>São um fenômeno que ocorre em bebês, surdos e ouvintes, pois o balbucio é</p><p>parte da linguagem, destacando que essa capacidade inata é manifestada não</p><p>só através de sons, mas também através dos sinais, ou seja, através da língua</p><p>de sinais, porém esse balbucio é interrompido assim como ocorre com as</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>15</p><p>crianças ouvintes. Caro acadêmico, o mais interessante é que as semelhanças</p><p>encontradas em relação ao balbuciar nos apresentam que a aquisição da</p><p>linguagem independe da modalidade da língua que será usada futuramente</p><p>pelo bebê, se ela será oral-auditiva ou espaço-visual.</p><p>Portanto, no estágio pré-linguístico, a criança, em princípio, usa o choro</p><p>para se comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer</p><p>este choro ainda é indiferenciado, porque nem a mãe sabe o que ele significa,</p><p>e muitas vezes é desesperador, pois a criança chora e você, adulto, não sabe o</p><p>significado daquele choro, mas aos poucos começa a ficar cheio</p><p>de significados</p><p>e é possível, pelo menos para a mãe, ou para a pessoa mais próxima daquele</p><p>bebê, saber se o bebê está chorando de fome, de cólica, por estar se sentindo</p><p>desconfortável, por querer colo etc. É importante ressaltar que é a relação do</p><p>bebê com sua mãe, ou com a pessoa que cuida dele, que lhe dá elementos para</p><p>compreender seu choro.</p><p>O balbucio ocorre de repente, por volta dos 6-10 meses, e caracteriza-</p><p>se pela produção e repetição de sons de consoantes e vogais como “ma - ma</p><p>- ma - ma”, que, muitas vezes, é confundido com a primeira palavra do bebê.</p><p>No desenvolvimento da linguagem, os bebês começam imitando casualmente</p><p>os sons que ouvem. Por exemplo: os bebês repetem, repetidas vezes, os sons</p><p>como o “da - da - da”, ou “ma - ma - ma - ma”. Por isso as crianças que têm</p><p>problema de audição não evoluem para além do balbucio, já que não são</p><p>capazes de escutar.</p><p>6.1.2 Estágio de um Sinal</p><p>Karnopp (1994) explica que no caso dos bebês surdos com pais surdos, o</p><p>estágio de um sinal começa por volta de seis meses. Mas, de um modo geral, o</p><p>início ocorre por volta dos 12 meses.</p><p>De acordo com Penha (2018, p. 21-22):</p><p>[...] a diferença cronológica tem como base os desenvolvimentos dos</p><p>mecanismos físicos (mãos e trato vocal), porém a criança simplesmente produz</p><p>gestos que diferem dos sinais produzidos por volta dos 14 meses, analisando</p><p>essa produção gestual como parte do balbucio, período pré-linguístico.</p><p>[...] É neste estágio que ela inicia as primeiras produções, na língua</p><p>de sinais, assim como a criança ouvinte começa a pronunciar as primeiras</p><p>palavras. Para Quadros (1997), é nesse período que ocorre uma reorganização</p><p>básica, em que a criança muda o conceito da "apontação" inicialmente gestual,</p><p>pré-linguística, para visualizá-la como elemento do sistema gramatical da</p><p>língua de sinais, ou seja, o linguístico.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>16</p><p>Ou seja, o estágio de um sinal inicia por volta dos 12 meses da criança</p><p>surda e vai até por volta dos dois anos. Estudos mostram que a criança surda,</p><p>filha de pais surdos, inicia o estágio de um sinal por volta de seis meses,</p><p>enquanto que uma criança ouvinte iniciaria a linguagem oral em torno dos 12</p><p>meses; porém, sabe-se que essa produção gestual inicial é relativa ao balbucio de</p><p>crianças sem deficiência auditiva. As formas inflexionáveis são as primeiras a se</p><p>apresentarem, enquanto que as flexionáveis são utilizadas morfofonemicamente.</p><p>6.1.3 Estágio das Primeiras Combinações</p><p>Segundo Penha (2018, p. 23-25):</p><p>[...] Já no estágio das primeiras combinações, que se inicia por volta dos</p><p>dois anos de idade, começa o estabelecimento da ordem das palavras que é</p><p>utilizada nas relações gramaticais. [...] neste estágio das primeiras combinações,</p><p>a criança começa a formular frases para expressar o que ela quer, onde também</p><p>começa a usar o sistema pronominal, mas de forma inconsistente. Detecta-</p><p>se que o padrão de aquisição das crianças surdas é bastante próximo ao das</p><p>crianças ouvintes. [...]</p><p>Neste estágio, é iniciado o uso da forma pronominal, porém de forma</p><p>ainda inconsistente; há ocorrência de erros, principalmente no que diz respeito</p><p>a indicações pronominais, por exemplo, na utilização do pronome “tu” ao</p><p>invés de “eu”. Em pesquisas, foi observado que a apontação envolve o sistema</p><p>pronominal, o sistema dos determinadores e modificadores, onde objetos são</p><p>nomeados e referidos somente em situações do contexto imediato, ou seja, que</p><p>estejam presentes no espaço onde se encontra o não ouvinte.</p><p>6.1.4 Estágio das Múltiplas Combinações</p><p>Ainda segundo Penha (2018, p. 26-27):</p><p>O estágio das múltiplas combinações tem como característica uma</p><p>ampliação do vocabulário nas crianças surdas e ouvintes, que ocorre dos dois</p><p>anos e meio em diante. Karnopp (1999) explica que neste estágio a criança</p><p>surda comete os mesmos erros gramaticais na língua de sinais que a criança</p><p>ouvinte comete na língua oral [...].</p><p>Este estágio das múltiplas combinações [...] envolve as expressões</p><p>faciais, que são usadas de acordo com a estrutura produzida, isto é, as</p><p>produções não manuais das interrogativas, das topicalizações e negações</p><p>são produzidas corretamente. Além disso, o uso da direção dos olhos para</p><p>concordância com os argumentos, bem como o jogo de papéis desempenhados</p><p>através da posição do corpo ao pronunciar suas palavras, para se comunicar.</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>17</p><p>Quadros (1997, p. 74, grifo do original) explica que nesse estágio, “em</p><p>torno dos dois anos e meio a três anos, as crianças surdas apresentam a chamada</p><p>explosão de vocabulário”.</p><p>Quadros (1997, p. 76) ainda conclui que:</p><p>[...] a criança surda de nascença, com acesso a uma língua espaço-</p><p>visual proporcionada por pais surdos, desenvolverá uma linguagem</p><p>sem qualquer deficiência. Além disso, os dados apresentados sugerem</p><p>que os fundamentos da linguagem não estão baseados na forma do</p><p>sinal, mas, sim, na função linguística que o serve.</p><p>Desta forma, percebemos que a surdez em si realmente não é barreira</p><p>para a aquisição da linguagem. Muitas vezes, presenciamos crianças surdas</p><p>com atrasos neste processo, isso ocorre porque, muitas vezes, esta criança não é</p><p>exposta à língua de sinais na idade correspondente a cada estágio.</p><p>DICAS</p><p>Discutir o processo de aquisição da linguagem nas crianças surdas sem citar</p><p>a autora Ronice Quadros é simplesmente impossível. São muitas as suas contribuições</p><p>e publicações nesta área. Sobre a aquisição da linguagem, sugerimos a leitura do livro</p><p>Educação de Surdos: a aquisição de linguagem (1997), da Editora Artes Médicas.</p><p>FIGURA – CAPA DO LIVRO EDUCAÇÃO DE SURDOS: AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM</p><p>FONTE: <https://goo.gl/JqGPfR>. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>Educação de Surdos: Aquisição da linguagem é leitura obrigatória para todos os profissionais</p><p>atuantes na educação de surdos. Entender o processo de aquisição da linguagem da criança</p><p>surda fará toda a diferença em sua experiência profissional. O livro apresenta os princípios</p><p>do trabalho com alunos surdos, incluindo os aspectos sociais e culturais, além de aspectos</p><p>relacionados à estrutura e aquisição da língua portuguesa. Então, acadêmico, desejamos a</p><p>você uma boa leitura.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>18</p><p>7 TEORIAS SOBRE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM</p><p>Chomsky (1971) já afirmava que, independentemente da língua, a</p><p>faculdade da linguagem é algo comum entre os seres humanos. Então, a aquisição</p><p>da linguagem é um processo natural. O processo de aquisição da linguagem foi</p><p>estudado por vários teóricos. A partir de agora, analisaremos alguns deles.</p><p>7.1 PIAGET</p><p>Piaget estuda a aquisição da linguagem com o enfoque cognitivista,</p><p>“investigando o que há de comum e de universal no desenvolvimento” (PENHA,</p><p>2018, p. 13). Piaget acredita que primeiro o organismo precisa estar estruturado</p><p>para posteriormente se desenvolver.</p><p>FIGURA 6 – O IDEAL DA EDUCAÇÃO PARA PIAGET</p><p>FONTE: <https://goo.gl/hRHLJH>. Acesso em: 16 nov. 2018.</p><p>Para Piaget (1990), o ideal inicial da educação é Aprender a Aprender,</p><p>pois desencadeia todas as outras ações educacionais.</p><p>7.2 VYGOTSKY</p><p>Diferentemente de Piaget, Vygotsky defende que “[...] é o próprio</p><p>processo de aprender que gera e promove o desenvolvimento das estruturas</p><p>mentais superiores” (PENHA, 2018, p. 14). Então, para Vygotsky, aprender gera</p><p>o desenvolver. Vygotsky estuda a origem e os processos sociais humanos.</p><p>Penha (2018, p. 16) ainda explica que, para Vygotsky,</p><p>TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA SURDOS COMO L1</p><p>19</p><p>[...] o desenvolvimento histórico acontece do social para o individual,</p><p>podemos dizer assim que a aquisição da língua de sinais se estende do</p><p>social para o individual, sendo algo natural e que é fomentado no meio</p><p>social, assim como ocorre com as línguas orais.</p><p>FIGURA 7 – FRASE DE LEV VYGOTSKY</p><p>FONTE: <https://goo.gl/qDSbZe>. Acesso em: 16 nov. 2018.</p><p>Penha (2018) ainda afirma que Vygotsky enfatiza o papel do ambiente</p><p>na produção da estrutura da linguagem, ou seja, o contexto social influencia</p><p>significativamente a interpretação e as associações, bem como a assimilação das</p><p>regras gramaticais.</p><p>Acadêmico, neste primeiro tópico, nos debruçamos sobre o estudo das</p><p>filosofias que influenciaram a educação de surdos ao longo da história, revisitamos</p><p>as propostas da pedagogia visual, da pedagogia surda, relembramos conceitos</p><p>como L1 e L2, língua e linguagem, a aquisição de linguagem e suas abordagens,</p><p>o processo de aquisição de linguagem e seus estágios, além de analisarmos as</p><p>teorias sobre aquisição de linguagem. Agora é chegada a hora de refletirmos</p><p>acerca dos desafios inerentes ao processo de aquisição de L2 para surdos. Nos</p><p>encontramos no próximo tópico!</p><p>20</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A educação de surdos, ao longo da história, foi influenciada pelas filosofias</p><p>educacionais: o oralismo, a comunicação total com o bimodalismo e o</p><p>bilinguismo.</p><p>• O objetivo primário do oralismo é recuperar e reabilitar a pessoa surda. Esta</p><p>reabilitação estava diretamente relacionada à ênfase na fala. O oralismo impõe</p><p>a língua oral de uma maioria (os ouvintes) linguística sobre uma minoria, no</p><p>caso, a comunidade surda.</p><p>• O objetivo principal da comunicação total era fazer acontecer a comunicação</p><p>entre surdos e ouvintes de forma mais efetiva. Propõe abordagens alternativas,</p><p>permitindo ao surdo se expressar, combinando língua de sinais, gestos,</p><p>mímicas e leitura labial. A comunicação total propõe o bimodalismo (utilização</p><p>da língua de sinais e da língua portuguesa de forma simultânea).</p><p>• Apesar da prática bimodal ser comum e ainda muito difundida, ela não pode</p><p>nem deve ser encarada como opção metodológica na educação de surdos. As</p><p>línguas envolvidas possuem estruturas gramaticais essencialmente diferentes,</p><p>o que torna impraticável.</p><p>• O bilinguismo possibilita ao surdo acessar duas línguas no contexto escolar,</p><p>considerando a primeira língua do surdo (L1, a língua natural) como sendo</p><p>a língua de sinais, e a L2 (segunda língua), a língua escrita do país. No</p><p>bilinguismo há uma mudança de postura, as particularidades do sujeito surdo</p><p>são respeitadas e o surdo assume a surdez.</p><p>• A pedagogia visual encara a prática pedagógica e o processo ensino-</p><p>aprendizagem de uma forma diferente. A perspectiva ou concepção surda é o</p><p>que modela esta proposta.</p><p>• Na pedagogia surda, a língua, a cultura e a identidade surda são reconhecidas</p><p>e valorizadas. A pedagogia surda pode ser considerada uma ruptura, uma</p><p>transgressão pedagógica no sentido de romper com a pedagogia tradicional</p><p>ouvinte.</p><p>• Para o surdo brasileiro, a L1, sua primeira língua, é a Libras – Língua Brasileira</p><p>de Sinais – e a L2, segunda língua, é a língua portuguesa na modalidade escrita.</p><p>• Linguagem é a capacidade que os seres humanos têm para produzir,</p><p>desenvolver e compreender a língua e outras manifestações, como é o caso da</p><p>pintura, da música e da dança.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>21</p><p>• Língua é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam</p><p>a comunicação.</p><p>• A aquisição da língua de sinais é semelhante à aquisição das línguas orais.</p><p>Desta forma, crianças surdas e ouvintes adquirem a linguagem de forma muito</p><p>semelhante.</p><p>• Chomsky (1971) afirmava que os seres humanos, independentemente da</p><p>língua, têm algo em comum: a faculdade da linguagem, por isso a aquisição da</p><p>linguagem é um processo natural.</p><p>• Piaget (1990) acredita que primeiro o organismo precisa estar estruturado para</p><p>posteriormente se desenvolver.</p><p>• Segundo Penha (2018), Vygotsky acredita que o aprender gera o desenvolver,</p><p>por isso estuda a origem e os processos sociais humanos.</p><p>22</p><p>1 Ao longo da história, tivemos várias filosofias educacionais</p><p>voltadas à comunidade surda. Cada uma foi se estabelecendo de</p><p>acordo com a realidade social e as informações disponíveis na</p><p>época. Nosso papel, enquanto profissionais da área, é conhecer</p><p>e diferenciar cada uma delas. Neste contexto, analise as asserções a seguir:</p><p>I- A comunicação total faz uso da leitura labial e de textos na modalidade</p><p>escrita.</p><p>II- O oralismo concebia a surdez como deficiência e visava reabilitar o sujeito</p><p>surdo, com foco na fala.</p><p>III- O bilinguismo possibilita ao surdo acessar duas línguas: Língua Portuguesa</p><p>como L1 e Libras como L2.</p><p>IV- Na comunicação total é permitido usar a Libras e ainda fazer uso de gestos,</p><p>mímica, leitura labial, entre outros, visto que o objetivo principal era fazer</p><p>acontecer a comunicação.</p><p>V- No oralismo, a língua de sinais era aceita e permitida normalmente.</p><p>Agora, assinale a alternativa CORRETA:</p><p>a) ( ) Nenhuma das alternativas está correta.</p><p>b) ( ) I, II e III estão corretas.</p><p>c) ( ) II e IV estão corretas.</p><p>d) ( ) II, III e IV estão corretas.</p><p>e) ( ) I, II e V estão corretas.</p><p>2 Vimos que, dentre as correntes filosóficas apresentadas, o</p><p>bilinguismo é a mais coerente no que tange à educação de</p><p>surdos atualmente. Porém, na práxis diária, percebemos que</p><p>sozinho ele não contempla as transformações que a educação</p><p>de surdos necessita, e neste sentido, surgem duas novas propostas: a</p><p>pedagogia visual e a pedagogia surda. A respeito da pedagogia surda,</p><p>assinale a alternativa correta:</p><p>a) ( ) A pedagogia surda apenas adapta o conteúdo para o aluno surdo, e a</p><p>responsabilidade de ajustar os conteúdos é do intérprete.</p><p>b) ( ) A língua, a cultura e a identidade surda são reconhecidas e valorizadas</p><p>na pedagogia surda.</p><p>c) ( ) A pedagogia surda surge na década de 1920, trazendo consigo uma</p><p>nova proposta educacional.</p><p>d) ( ) É função do professor adaptar o conteúdo das aulas para o aluno surdo, porém</p><p>a pedagogia surda não permite que esta adaptação inclua todos os alunos.</p><p>e) ( ) A pedagogia surda prejudica o aluno ouvinte, pois a quantidade de</p><p>informações visuais dificulta a aprendizagem.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>23</p><p>3 As terminologias língua e linguagem são difundidas como</p><p>sinônimos, mas são essencialmente diferentes. Em linhas gerais,</p><p>podemos denominar como linguagem a capacidade que os</p><p>seres humanos têm para produzir, desenvolver e compreender</p><p>a língua e outras manifestações, como é o caso da pintura, da música e da</p><p>dança, enquanto a língua podemos denominar como:</p><p>a) ( ) Uma ciência que tem por objetivo a linguagem humana em seus aspectos</p><p>fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico.</p><p>b) ( ) Uma arte literária que usa o estético da linguagem escrita.</p><p>c) ( ) Qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos que podem</p><p>ser expressados através de poesia, da dança, do teatro, entre outros.</p><p>d) ( ) Um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam</p><p>a comunicação. Ela surge em sociedade e todos os grupos humanos</p><p>desenvolvem sistemas com esse fim, podendo se manifestar de forma</p><p>oral ou gestual.</p><p>e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.</p><p>24</p><p>25</p><p>TÓPICO 2</p><p>AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA</p><p>PARA SURDOS COMO L2</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Acadêmico, após estudarmos o processo de aquisição da língua de sinais</p><p>para surdo como L1, chega o momento de analisarmos de forma crítica e reflexiva</p><p>o processo pelo qual o surdo adquire a língua portuguesa como L2.</p><p>Tomando por base que a língua portuguesa para os surdos é a L2,</p><p>entendemos que essa precisa estar adaptada para o surdo, pois a</p><p>marca da visualidade inerente aos surdos necessita ser considerada ao</p><p>se pensar mecanismos de ensino/aprendizagem da língua portuguesa</p><p>como L2 por aprendizes surdos, pode-se observar esta característica ao</p><p>analisar a produção escrita de aprendizes surdos em diversas etapas</p><p>da escolaridade (PENHA, 2018, p. 163).</p><p>Quando reconhecemos que as modalidades da língua de sinais e da língua</p><p>portuguesa são essencialmente diferentes, percebemos que o surdo aprenderá</p><p>também de forma singular, sendo necessário adaptar, o que não é sinônimo de</p><p>simplificar. A seleção e a utilização de estratégias coerentes farão toda a diferença</p><p>em sua prática pedagógica diária.</p><p>Silva (1999, p. 62) defende que “a escrita é um meio importante do qual</p><p>o surdo não pode prescindir, posto que sem ela o</p><p>surdo não terá chance de</p><p>competição e de comunicação com o mundo ouvinte”. Por isso, a importância e</p><p>necessidade do surdo aprender a língua portuguesa na modalidade escrita.</p><p>Penha (2018) ainda nos relembra que muitas conquistas dos surdos, como</p><p>é o caso da legenda em programas de televisão, não se tornam um benefício</p><p>efetivo, porque muitos surdos possuem pouca competência leitora. Sabe-se que</p><p>o texto apresentado na legenda é fragmentado, com velocidade e ritmo mais</p><p>acelerados. Então, para acompanhar a legenda o surdo precisa ter grande leitura</p><p>seletiva e memória, ou seja, o surdo precisa ter uma boa capacidade de leitura.</p><p>Diante da citação de apenas uma situação, já conseguimos perceber que a leitura</p><p>de textos na língua portuguesa é muito importante para a inserção do surdo na</p><p>comunidade ouvinte.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>26</p><p>2 AQUISIÇÃO DE L2</p><p>Acadêmico, no tópico anterior estudamos a naturalidade envolvida no</p><p>processo de aquisição da L1, desde que a criança seja exposta à língua materna</p><p>desde a tenra infância. Agora, vamos iniciar nossas discussões sobre o processo de</p><p>aquisição de L2 com uma afirmação que talvez possa lhe assustar. “[...] o processo</p><p>de aquisição da L2 não é um processo natural para a criança surda” (QUADROS,</p><p>1995, p. 88, grifo da autora). Não queremos aqui, de forma alguma, afirmar que a</p><p>aquisição de L2 não é importante, mas indicar que o processo de aquisição da L2</p><p>não pode ser analisado sob a mesma perspectiva de aquisição da L1.</p><p>Quadros (1997, p. 27, grifo da autora) afirma que a L2, no caso do surdo</p><p>brasileiro, a língua portuguesa, não é o dispositivo natural de aquisição da</p><p>linguagem, e ainda coloca que “essa criança até poderá vir a adquirir essa língua,</p><p>mas nunca de forma natural e espontânea, como ocorre com a Libras”.</p><p>FIGURA 8 – AQUISIÇÃO DE LÍNGUA</p><p>FONTE: <https://goo.gl/tW6ywf>. Acesso em: 18 nov. 2018.</p><p>Muitos profissionais e instituições reclamam que o aluno surdo não sabe</p><p>ler e escrever. Muitas vezes, esperamos que o aluno surdo escreva, redija seu texto</p><p>exatamente como um aluno ouvinte. São línguas de modalidades diferentes, ou</p><p>seja, a estrutura, sintaxe, semântica, pragmática são de modalidades diferentes.</p><p>Ah! Mas aquele surdo escreve tão bem! É preciso cuidado para não selecionar</p><p>uma situação que é exceção e transformar em regra. Cada caso é um caso. Cada</p><p>pessoa tem um histórico de vida social diferente.</p><p>Outro detalhe sobre o qual precisamos refletir é que se o aluno surdo,</p><p>após anos de acesso à educação escolar, não se alfabetizou em L2, isso mostra</p><p>claramente uma falha no processo, em que todos no contexto educacional têm</p><p>alguma parcela de responsabilidade. As metodologias de ensino utilizadas até</p><p>então não estão sendo suficientemente eficazes.</p><p>A vivência de um modelo bilíngue para surdos requer algumas</p><p>construções específicas, tanto nas políticas públicas quanto nas práticas</p><p>pedagógicas. Em um espaço pedagógico onde transitam outros</p><p>TÓPICO 2 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2</p><p>27</p><p>modelos de pessoas surdas, crianças e adultos, fluentes em Libras, este</p><p>aprendizado torna-se mais produtivo, pois esse estudante surdo terá</p><p>outros para conversar na sua língua usual (PENHA, 2018, p. 163).</p><p>Conforme estudamos no tópico anterior, o bilinguismo considera a</p><p>primeira língua do surdo (L1, a língua natural) como sendo a língua de sinais, e a</p><p>L2 (segunda língua), a língua escrita do país.</p><p>Nunan (1991 apud QUADROS, 1997) disserta acerca da importância de o</p><p>surdo adquirir a gramática da L2, pois através dela o sujeito surdo se torna capaz</p><p>de comunicar suas ideias de forma mais elaborada e complexa. Quando a aquisição</p><p>de L2 não ocorre, a capacidade de comunicação na sociedade fica limitada e a</p><p>criatividade linguística severamente restringida. Apesar de opiniões diversas,</p><p>defendemos aqui que o surdo alfabetizado na língua portuguesa amplia seu leque</p><p>de possibilidades comunicativas e aumenta a sua participação na sociedade.</p><p>2.1 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM</p><p>DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS</p><p>Como uma língua de modalidade oral auditiva pode ser ensinada a um</p><p>sujeito que possui uma língua materna de modalidade visual-espacial? Este é o</p><p>grande desafio do processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa para surdos.</p><p>Penha (2018, p. 163) relata que o processo de aprendizagem da língua</p><p>portuguesa precisa contemplar várias situações comunicativas utilizando “[...]</p><p>atividades contextualizadas, significativas e organizadas de modo sistemático,</p><p>através de diferentes gêneros textuais [...]”.</p><p>Penha (2018) ainda afirma que não existem fórmulas prontas e mágicas</p><p>para o ensino e aprendizagem do surdo. O importante é que a metodologia</p><p>utilizada leve em consideração a surdez como diferença. O professor deve</p><p>selecionar materiais e criar metodologias que possibilitem ao aluno surdo um</p><p>melhor aprendizado. Aprendizado este que deve conduzir o aluno à reflexão e</p><p>assimilação da realidade. O professor deve conscientizar o aluno de que a escrita</p><p>é “[...] um instrumento para a comunicação tanto presencial quanto virtual, como</p><p>podemos observar através de cartas, bilhetes, dissertações, conversas via e-mail,</p><p>WhatsApp ou Messenger, formando um ciclo de interação com pessoas tanto</p><p>ouvintes quanto surdas” (PENHA, 2018, p. 165).</p><p>Mas como possibilitar ao aluno surdo fluência na leitura e escrita da língua</p><p>portuguesa? Penha (2018, p. 165) nos mostra que este processo:</p><p>[...] requer que o aluno passe por várias etapas durante a aquisição da língua</p><p>portuguesa. É um processo lento que requer dedicação e compromisso.</p><p>A leitura tem um papel importante na aquisição da linguagem, pois ela</p><p>serve para abrir horizontes intelectuais, tendo uma visão de mundo,</p><p>possibilitando ao aluno assumir uma postura crítica diante da sociedade.</p><p>UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO DE SURDOS</p><p>28</p><p>DICAS</p><p>Dicas de Leitura</p><p>Ensino da Língua Portuguesa para surdos: Caminhos para a prática pedagógica (2004) é um</p><p>material instrutivo, em dois volumes, com iniciativa do Ministério da Educação. Tal material</p><p>parte da filosofia que adota o bilinguismo, ou seja, aceita que a L1, língua materna do surdo,</p><p>é a língua de sinais, língua esta de modalidade visuo-espacial, além de colocar a língua</p><p>portuguesa como L2, segunda língua para o surdo.</p><p>O surdo possui implicações importantes no seu desenvolvimento cognitivo, na construção de sua</p><p>identidade e que o ensino da língua portuguesa para surdos necessita de estratégias específicas.</p><p>Este é o foco abordado neste material: como possibilitar aos surdos o acesso à língua portuguesa.</p><p>FIGURA – ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS:</p><p>CAMINHOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA: VOLUME 1</p><p>FONTE: <https://goo.gl/M6Lb8K>. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>FIGURA – ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS:</p><p>CAMINHOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA: VOLUME 2</p><p>FONTE: <https://goo.gl/RfP7sn>. Acesso em: 4 nov. 2018.</p><p>Tais livros podem ser acessados de forma gratuita nos seguintes endereços:</p><p>• http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lpvol1.pdf</p><p>• http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lpvol2.pdf</p><p>Boa leitura!</p><p>TÓPICO 2 | AQUISIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2</p><p>29</p><p>Adentraremos agora nas implicações entre surdez e escrita no contexto</p><p>escolar. Apresentamos aqui o excerto da dissertação de mestrado de Marília</p><p>de Piedade Marinho Silva, de 1999, com a temática principal A construção de</p><p>sentidos na escrita do sujeito surdo. Muitas questões são discutidas e refletidas</p><p>nesta dissertação. Acompanhe!</p><p>ESCRITA E SURDEZ NO CONTEXTO ESCOLAR</p><p>Tomando-se por base a noção de linguagem que se constitui na relação do homem com</p><p>o meio social, ou seja, num sentido bastante amplo, podemos concluir que a linguagem é</p><p>tudo que envolve significação, que tem valor semiótico e não se restringe apenas a uma</p><p>forma de comunicação. É por meio da linguagem que se constitui o pensamento, embora</p><p>não possa ser reduzida a ela. Assim, a linguagem está sempre presente no sujeito, mesmo</p><p>quando ele não está se comunicando, pois a mesma significa a forma</p>