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<p>1</p><p>LITERATURA INFANTIL</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>LITERATURA INFANTIL ................................................................................. 1</p><p>NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2</p><p>1. LITERATURA INFANTIL ........................................................................ 3</p><p>1.1 O que é literatura infantil? ...................................................................... 3</p><p>2. O INÍCIO DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA ........................... 10</p><p>2.1 A criança no mundo da leitura: a literatura infantil ............................... 11</p><p>3. LITERATURA INFANTIL E PEDAGOGIA: um breve histórico ............. 17</p><p>3.1 Origem e evolução ............................................................................... 21</p><p>4. TRABALHANDO TEXTOS DE LITERATURA INFANTIL NAS SÉRIES</p><p>INICIAIS 24</p><p>4.1 O trabalho com os textos literários ....................................................... 26</p><p>5. REFERÊNCIAS: ................................................................................... 29</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de</p><p>um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de</p><p>Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz</p><p>de oferecer serviços educacionais em nível superior.</p><p>O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua</p><p>formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos,</p><p>técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e</p><p>propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras</p><p>normas de comunicação.</p><p>Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de</p><p>forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma</p><p>base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no</p><p>atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma</p><p>das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade.</p><p>3</p><p>1. LITERATURA INFANTIL</p><p>Neste tema, faremos uma reflexão sobre os elementos que tornam um texto</p><p>efetivamente literário. Veremos que a forma é valiosa para os textos literários e que,</p><p>sobretudo para a literatura infantil, o elemento imaginário é a mola propulsora. Além</p><p>disso, conheceremos os tipos de leitura e suas principais funções, além de</p><p>compreender como cada tipo de texto traz em si uma intenção do autor quanto à</p><p>mensagem que se quer transmitir ao leitor.</p><p>1.1 O que é literatura infantil?</p><p>A educação infantil é etapa importante na vida de uma criança. Nessa etapa</p><p>ela desenvolve a oralidade, autonomia, a identidade e a socialização.</p><p>Coelho (1986) argumenta que literatura é arte, é um ato criativo que, por meio</p><p>da palavra, cria um universo autônomo, realista ou fantástico, onde os seres, coisas,</p><p>fatos, tempo e espaço, mesmo que se assemelhem ao que podemos reconhecer no</p><p>mundo concreto que nos cerca, ali transformado em linguagem, assumem uma</p><p>dimensão diferente: pertencem ao universo da ficção.</p><p>A literatura infantil tem importância fundamental em vários aspectos da</p><p>educação das crianças, principalmente em relação à formação de alunos que gostam</p><p>de ler, pois ela estimula-os à leitura através do atrativo e do belo que compõe os</p><p>textos literários. Cunha (1974, p.45) afirma que:</p><p>A Literatura Infantil influi e quer influir em todos os aspectos da educação do</p><p>aluno. Assim, nas três áreas vitais do homem (atividade, inteligência e</p><p>afetividade) em que a educação deve promover mudanças de comportamento,</p><p>a Literatura Infantil tem meios de atuar.</p><p>O ser humano tem a necessidade fundamental de expressar seus</p><p>pensamentos. Para isso, ele utiliza imagens, símbolos e, principalmente, narração.</p><p>Narrar uma história é tão natural para o ser humano como o próprio instinto de</p><p>sobrevivência. As pessoas precisam se comunicar, algo tão importante quanto comer</p><p>ou dormir. Você já pensou nisso?</p><p>4</p><p>Dessa necessidade de se comunicar com o grupo, surgiram histórias que se</p><p>perpetuaram ao longo do tempo. Essas histórias são populares, foram transmitidas</p><p>por meio da oralidade desde sua origem e fazem parte da tradição e da cultura</p><p>ocidental.</p><p>Em tempos remotos, as pessoas se juntavam em grupos ao redor de fogueiras,</p><p>por exemplo, para narrar histórias que explicassem e resolvessem suas indagações;</p><p>histórias que contavam a origem do mundo e do universo – representadas por heróis</p><p>e mitos que personificavam os valores que orientavam aquela cultura. Isso tornava a</p><p>vida em sociedade mais significativa.</p><p>A humanidade foi se desenvolvendo, essas histórias foram sendo enriquecidas</p><p>e, por fim, tornaram-se arte. Surge assim a literatura:</p><p>Ela é uma construção de objetos autônomos como estrutura e significado; ela</p><p>é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo dos</p><p>indivíduos e dos grupos; ela é uma forma de conhecimento, inclusive como</p><p>incorporação difusa e inconsciente (CANDIDO, 2011, p. 178-179).</p><p>Agora, pensemos: se as sociedades mudam constantemente e as narrativas</p><p>evoluem em funções das sociedades, é certo que as narrativas também mudam,</p><p>certo? Por isso, notamos uma transformação nas histórias, que são contadas em</p><p>diferentes versões conforme o local e a época, pois “Cada sociedade cria as suas</p><p>manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos, as</p><p>crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim de fortalecer em cada um a</p><p>presença e atuação deles” (CANDIDO, 2011, p. 177). Como você já deve imaginar, a</p><p>escola (os meios pedagógicos, digamos) aos poucos se apropria da literatura. Isso</p><p>acontece porque essas histórias contribuem para a formação moral do homem. E,</p><p>agora sim, podemos compreender a importância da literatura para a formação moral</p><p>da humanidade.</p><p>Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão</p><p>presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação</p><p>dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate,</p><p>fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas</p><p>(CANDIDO, 2011, p. 177).</p><p>Mas você sabe qual é, afinal, o conceito de literatura? O termo literatura</p><p>começou a ser usado para distinguir e classificar os textos de escrita imaginativa</p><p>5</p><p>somente a partir do final do século XVIII. Foi principalmente com Madame de Stael,</p><p>em sua obra Sobre a literatura considerada em suas relações com as instituições</p><p>sociais, que teve início uma defesa do texto literário em relação às demais produções</p><p>escritas. O objetivo de Madame de Stael era distinguir os textos literários, os quais</p><p>buscavam descrever a realidade, simbolicamente, dos textos científicos, envolvidos</p><p>por forte objetividade e raciocínio lógico. Assim, ela queria mostrar que os textos</p><p>literários contemplam a imaginação e dedicam-se à construção de uma nova</p><p>realidade, ao passo que os textos científicos visam a comprovação, por meio da</p><p>lógica, da ciência e da objetividade, do que existe e do que não existe no mundo.</p><p>Ao longo dos séculos, essa distinção entre o pensamento lógico (científico) e</p><p>o imaginativo (literário) consagrou-se.</p><p>O (texto) literário traz a marca da invenção e da quebra de padrões de escrita</p><p>e de representação do mundo e do homem. Já a ciência procura na precisão,</p><p>na comprovação, nas relações necessárias entre causas e efeitos explicar o</p><p>modo como a noção de realidade se constrói nos seres humanos (COSTA,</p><p>2007. P 16).</p><p>Em razão dessa diferenciação – inicialmente simples, mas que</p><p>se tornou</p><p>complexa com o passar do tempo – foi possível chegar aos conceitos de literatura</p><p>que conhecemos hoje.</p><p>Delimitaremos a literatura infantil, em nosso estudo, como aquela que se</p><p>relaciona “direita e exclusivamente com a arte da palavra, com a estética e com</p><p>imaginário” (COSTA, 2007, p. 16). Assim, vamos nos basear na seguinte definição</p><p>para aprofundar nossos estudos:</p><p>O que é literatura infantil? Objeto cultural. São histórias ou poemas que ao</p><p>longo dos séculos cativam e seduzem as crianças. Alguns livros nem foram</p><p>escritos para elas, mas passaram a ser considerados literatura (AGUIAR,</p><p>2001, p. 16 apud COSTA, 2007, p. 16).</p><p>Para melhor elucidar esse conceito da literatura infantil, vamos refletir sobre as</p><p>palavras da professora Graça Paulino:</p><p>Os textos literários envolvem, simultaneamente, a emoção e a razão em</p><p>atividade. Sua organização provoca surpresa por fugir do padrão característico</p><p>da maioria dos textos em circulação social. E fugir ao padrão hegemônico não</p><p>quer dizer negar qualquer padrão. Os padrões literários existem e devem ser</p><p>conhecidos também pelo leitor. Trata-se, portanto, de uma leitura que exige</p><p>habilidades e conhecimentos de mundo, de língua e de textos bem específicos</p><p>de seu leitor. E no momento mesmo da leitura literária todo esse repertório vai-</p><p>6</p><p>se modificando, sendo desestabilizado por sua pluralidade e ambiguidade.</p><p>Esse seria o processo de produção do conhecimento característico da leitura</p><p>literária. (PAULINO, 1999, p. apud COSTA, 2007, p. 16).</p><p>Assim, a produção literária, tanto a voltada para o público adulto quanto para</p><p>o infantil, deve atender a determinados critérios, afinal, são eles que distinguem o</p><p>texto literário do texto não literário. Você já deve ter reparado que alguns textos</p><p>diferem de outros em muitos aspectos: uma receita de bolo não é redigida da mesma</p><p>maneira que uma notícia de jornal, assim como uma notícia de jornal também não é</p><p>escrita da mesma maneira que um poema. Então, o que caracteriza um texto como</p><p>receita de bolo, notícia de jornal ou poema? A resposta é a forma. A literatura é a arte</p><p>da palavra? Sim! A literatura também é um tipo de arte. Vamos pensar nessa arte?</p><p>Alguns textos apresentam características muito especiais. Estes são chamados</p><p>textos literários. Mas quais seriam essas características especiais? A forma como</p><p>algo é escrito faz muita diferença em seu entendimento. Um texto, por exemplo, pode</p><p>ser escrito em verso ou em prosa. Normalmente, os poemas são escritos em verso,</p><p>porém sempre há exceções; já os contos, os romances e as crônicas, em geral, são</p><p>escritos em prosa – mas também há exceções. Quando um escritor cria um texto</p><p>literário, ele se preocupa com a forma do que será escrito, e não apenas com o</p><p>conteúdo.</p><p>Na literatura infantil, sobretudo, o elemento imaginativo é fundamental. É ele</p><p>que dá vida à história. Para entendermos como funciona esse “toque’ imaginativo,</p><p>vamos ler um trecho do conto “O pássaro de ouro”, dos irmãos Grimm:</p><p>Um certo rei tinha um maravilhoso jardim, e neste jardim havia uma árvore que</p><p>dava maçãs douradas. As maçãs eram sempre contadas, e perto da época de</p><p>amadurecerem notou-se que toda noite uma delas sumia (GRIMM, 2001, p.</p><p>apud COSTA, 2007, p. 18).</p><p>Notamos, no texto, que as palavras jardim, árvore e maçã, embora se refiram</p><p>a elementos que fazem parte da realidade – todos nós conhecemos jardins, árvores</p><p>e maçãs, certo? –, no contexto da história fantasiosa assumem uma característica</p><p>também fantástica. Pensemos: “o maravilhoso jardim de um rei” não pode ser</p><p>qualquer jardim, “uma árvore que produz maçãs douradas” só pode ser uma árvore</p><p>especial. Você percebeu como essa caracterização mexe com nossa capacidade de</p><p>imaginar um universo completamente diferente, encantado e maravilhoso? Se ainda</p><p>7</p><p>não ficou claro, leia, então, o trecho a seguir: “A maçã contém quercetina, um</p><p>poderoso antioxidante que, em ratos, protege os neurônios da degeneração e pode</p><p>fazer o mesmo em seres humanos. A casca é rica em substâncias que combatem</p><p>doenças” (MAÇÃ., 2013, s/p).</p><p>Você notou as diferenças entre o primeiro e o segundo texto? No primeiro, a</p><p>maçã é um elemento misterioso, fantástico, e seus atributos químicos não são</p><p>contabilizados, pois não têm importância naquele contexto. No segundo texto, a fruta</p><p>é descrita no sentido de compreendermos seus benefícios à saúde. Assim,</p><p>percebemos que o mesmo elemento pode ter abordagens distintas, e uma dessas</p><p>abordagens pode ser literária, como é o caso do primeiro texto.</p><p>Por trás da definição de literatura está um ato de seleção e exclusão, cujo</p><p>objetivo é separar alguns textos, escritos por alguns autores, do conjunto de textos</p><p>em circulação. Os critérios de seleção, segundo boa parte dos críticos, é a</p><p>literariedade imanente aos textos, ou seja, afirma-se que os elementos que fazem de</p><p>um texto qualquer uma obra literária são internos a ele e dele inseparáveis, não tendo</p><p>qualquer relação com questões externas à obra escrita, tais como o prestígio do autor</p><p>ou da editora que o publica, por exemplo (ABREU, 2006, p. 39 apud COSTA, 2007,</p><p>p. 19-20).</p><p>Ficou claro para você que os elementos que vão definir um texto como literário</p><p>ou não são internos e inerentes a ele? A consagração de determinado texto se dá de</p><p>dentro para fora, ou seja, é o texto em si que prestigia seu autor, e não o oposto.</p><p>Tendo em vista o contexto escolar, o qual está fundamentalmente relacionado</p><p>ao uso da literatura infantil, podemos afirmar que essa distinção entre diferentes</p><p>gêneros textuais (literários e não literários) é útil ao professor no sentido de auxiliá-lo</p><p>na tarefa de trabalhar com os textos, pois o conhecimento da literatura se expande</p><p>para outras áreas, como aquelas que contemplam os saberes históricos e culturais.</p><p>O que isso quer dizer? Pensemos: se a literatura é um fenômeno cultural e histórico,</p><p>esta é passível de receber definições distintas em certo contexto social e histórico.</p><p>Logo, essa experiência muda em certas épocas e locais.</p><p>A essa altura, você deve estar se perguntando como é possível o leitor infantil,</p><p>ser despertado por esse universo imaginário se o contexto social e histórico da</p><p>literatura pode ser tão volátil. Bem, aqui entra a figura do professor, pois é ele quem</p><p>8</p><p>desperta os estudantes para os encantamentos da literatura e os conduz inicialmente</p><p>na leitura dos textos.</p><p>Ficou claro para você a importância fundamental do professor como aquele</p><p>que vai despertar o desejo da leitura em seus alunos?</p><p>O papel do professor no processo de conquistar seus alunos é por demais</p><p>relevante, de tal sorte que, caso seu desempenho demonstre</p><p>desconhecimento da natureza da literatura e da leitura, poderá criar em seus</p><p>alunos a recusa e o afastamento dos livros (COSTA, 2007, p. 20).</p><p>Tendo em vista a importância do trabalho da literatura na escola, pois é por</p><p>meio dela que podemos formar cidadãos críticos e leitores, vamos estudar quais são</p><p>as possíveis funções da leitura e da literatura na escola.</p><p>Função</p><p>De acordo com Richard Bamberger (2000, p. 41 apud COSTA, 2007, p.21), os</p><p>tipos de leitura têm funções diferentes.</p><p>Vejamos:</p><p>Leitura informativa – tem a função de informar. Deve merecer mais confiança</p><p>do que aquilo que é dito oralmente.</p><p>Leitura escapista – serve como válvula de escape, ou seja, o prazer que não</p><p>se encontra na vida, busca-se na leitura.</p><p>Leitura literária – diz respeito a uma busca que vai além da realidade. Esse</p><p>tipo de leitura procura um significado interno, um reconhecimento simbólico do que</p><p>se passa no cotidiano. Apesar de a educação literária visar esse tipo de leitor, poucas</p><p>pessoas se conservam no nível de leitores literários durante a vida.</p><p>Leitura cognitiva – esse tipo de leitura se equipara à filosofia, pois busca o</p><p>conhecimento e a compreensão do homem e do mundo.</p><p>Esses quatro tipos de leitura são igualmente importantes para a formação</p><p>do</p><p>leitor crítico, desse modo, a escola deve trabalhar textos variados.</p><p>Vejamos a seguir outra maneira de abordar essas funções da leitura,</p><p>contemplando sua aplicação no trabalho docente e suas implicações metodológicas.</p><p>9</p><p>Para começar, vamos resumir as funções da literatura a partir de três vertentes</p><p>(COSTA, 2007. P. 22):</p><p>Quanto à abrangência – individual ou social, privada ou pública.</p><p>Quanto à relação entre autor, mensagem e leitor – informar, educar,</p><p>entreter, persuadir, expressar uma opinião ou ideia.</p><p>Quanto aos objetivos da formação de leitores – experiências pessoais,</p><p>aprendizagem e conhecimento como fonte de prazer, prazer da leitura sem</p><p>compromisso, construção do leitor crítico.</p><p>Vejamos em detalhes cada uma dessas funções.</p><p>Quanto à abrangência individual ou social – inicialmente, o contato entre o</p><p>autor e o leitor, por meio da obra, é lento e silencioso. O leitor aos poucos decifra as</p><p>palavras do autor, em um processo gradativo no qual ele tateia as ideias linha a linha.</p><p>Assim, o primeiro momento é sempre individual, mas em um segundo momento é</p><p>possível tornar a leitura algo social. Como? Por meio de debates, resumos orais,</p><p>seminários. São essas situações que transpõem a leitura individual e solitária para</p><p>um ato de compartilhamento. Se pensarmos na gênese do que constitui uma</p><p>narrativa, verificaremos que a natureza da literatura é profundamente social. Lembra-</p><p>se do que falamos no início desta unidade sobre a necessidade do ser humano de</p><p>compartilhar suas ideias e seus eventos do cotidiano? Pois é exatamente isso.</p><p>Também temos de levar em conta que, além da linguagem em si (fundamental</p><p>para a constituição da literatura, como bem sabemos), a literatura aborda os temas</p><p>pertinentes ao universo da vida humana, incluindo sentimentos, medos, desejos e</p><p>experiências.</p><p>Quanto à abrangência privada ou pública – esse aspecto diz respeito ao</p><p>acesso ao livro. É fundamental que se crie o hábito da leitura e que o livro faça parte</p><p>do cotidiano das pessoas. Na esfera privada, criar uma minibiblioteca no quarto de</p><p>estudos ou de dormir e conservar livros como objetos preciosos são atitudes que</p><p>ajudam na formação e no desenvolvimento do leitor. Já no que diz respeito ao âmbito</p><p>público, às escolas cabe o papel de mantenedoras de grandes acervos em</p><p>bibliotecas, de modo a propiciar a circulação dos livros. Essa movimentação é</p><p>10</p><p>fundamental para que as ideias circulem no ambiente, o que contribui para o efeito</p><p>multiplicador do conhecimento e do comportamento crítico.</p><p>Quanto à relação entre autor, texto e leitor – para compreendermos essa</p><p>relação, vamos observar o quadro 1.</p><p>Finalidade do emissor</p><p>da mensagem</p><p>Objetivos do emissor</p><p>para prender a atenção</p><p>do público</p><p>Público a que se dirige</p><p>Informar</p><p>Comunicar algo novo ou</p><p>importante de forma clara,</p><p>exata e rápida. A</p><p>informação pode estar</p><p>relacionada a fatos,</p><p>nomes, datas, lugares etc.</p><p>Leitor médio (público</p><p>geral) que precisa de</p><p>informação prática. Leitor</p><p>especializado que</p><p>necessita de informação</p><p>especial ou técnica.</p><p>Educar</p><p>Ensinar, treinar, explicar</p><p>uma técnica ou um modo</p><p>de fazer. Por exemplo,</p><p>ensinar a construir uma</p><p>maquete etc. também é</p><p>parte do ato de educar</p><p>incrementar gradualmente</p><p>o conhecimento do leitor</p><p>sobre determinado</p><p>assunto.</p><p>Leitor que tem um</p><p>conhecimento sobre uma</p><p>técnica ou um tema</p><p>inferior ao necessário.</p><p>Quadro: 01</p><p>2. O INÍCIO DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA</p><p>De acordo com Cademartori (2010), em meados dos anos de 1986, período</p><p>em que escreveu a primeira edição de O que é literatura infantil, o gênero literário</p><p>destinado às crianças começou a ser alvo de discussões e a ser valorizado pela</p><p>comunidade acadêmica. Nesta época o Ministério da Educação distribuiu livros</p><p>literários para as crianças nas escolas e bibliotecas do país. Essa iniciativa pioneira</p><p>era denominada, Programa Salas de Leitura e era desenvolvido pela Fundação de</p><p>Assistência ao Estudante.</p><p>Conforme Frantz (2011), a história da literatura infantil brasileira começa com</p><p>Monteiro Lobato. Ele foi o primeiro autor que escreveu para as crianças brasileiras,</p><p>11</p><p>histórias com qualidade literária. Antes a literatura destinada às crianças, era a</p><p>literatura europeia clássica, tradicional, traduzida ou adaptada para o idioma</p><p>brasileiro. Em 1921 Monteiro Lobato publica a obra que inaugura a literatura infantil</p><p>brasileira, intitulada A menina do narizinho arrebitado.</p><p>2.1 A criança no mundo da leitura: a literatura infantil</p><p>Figura: 01</p><p>De acordo com Carvalho (1989) a literatura – mitos, estórias, contos, poesias,</p><p>qualquer que seja a sua forma de expressão, é uma das mais nobres conquistas da</p><p>humanidade, a conquista do próprio homem. É conhecer, transmitir e comunicar a</p><p>aventura do ser. Só esta realidade pode oferecer-lhe a sua verdadeira dimensão. Só</p><p>esta aventura pode permitir-lhe a ventura da certeza de ser.</p><p>Zilberman (1994, p.22) argumenta o que segue:</p><p>A literatura sintetiza, por meio dos recursos da ficção, uma realidade, que tem</p><p>amplos pontos de contato com o que o leitor vive cotidianamente. Assim, por</p><p>mais exacerbada que seja a fantasia do escritor ou mais distanciada e</p><p>diferente as circunstâncias de espaço e tempo dentro das quais uma obra é</p><p>concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o fato de que ela continua a se</p><p>comunicar com o destinatário atual, porque ainda fala de seu mundo, com suas</p><p>dificuldades e soluções, ajudando- o, pois, a conhecê-lo melhor.</p><p>12</p><p>É fundamental que cada criança tenha o gosto, o prazer pela leitura, pois essa</p><p>é uma dimensão essencial na vida de qualquer ser humano. Quando lemos estamos</p><p>exercitando a mente e aguçando nossa inteligência. De acordo com Moric (1974), a</p><p>literatura constitui uma arte, mas também representa um meio de educar o jovem</p><p>leitor, desenvolver sua percepção estética do mundo, refinar suas qualidades, revelar</p><p>sua inteligência, sua concepção do mundo, suas ideias, seu gosto. Nas palavras de</p><p>Góes (2010, p.47):</p><p>O desenvolvimento da leitura entre crianças resultará em um enriquecimento</p><p>progressivo no campo dos valores morais, da cultura da linguagem e no campo</p><p>racional. O hábito da leitura ajudará na formação da opinião e de um espírito crítico,</p><p>4 principalmente a leitura de livros que formam o espírito crítico, enquanto a repetição</p><p>de estereótipos empobrece.</p><p>Os textos literários são fundamentais às crianças, pois mexem com suas</p><p>fantasias, emoções e intelecto, sendo apresentados a elas com uma estética atrativa</p><p>e também por envolverem o lúdico. Bordini (1985, p. 27-28) afirma o seguinte “os</p><p>textos literários adquirem no cenário educacional, uma função única, singular: aliam</p><p>à informação o prazer do jogo, envolvem razão e emoções numa atividade integrativa,</p><p>conquistando o leitor por inteiro e não apenas na sua esfera cognitiva”.</p><p>É através das emoções, ludismo, imaginação e fantasias que a criança</p><p>apreende, ou seja, entende a realidade, dando-lhe um significado.</p><p>Diante de um mundo globalizado em que o poder da mídia é massificador, é</p><p>de extrema importância que pais e professores atuem em conjunto despertando nas</p><p>crianças desde os anos inicias, o desejo pela leitura. Desta forma, no decorrer dos</p><p>anos à medida que forem amadurecendo, poderão ser adultos capazes de fazer uma</p><p>leitura além do que lhes está exposto, ou seja, o que mundo globalizado quer</p><p>realmente expressar ou difundir nas entrelinhas.</p><p>13</p><p>Figura: 02</p><p>A literatura infantil é o caminho que leva as crianças ao mundo da leitura de</p><p>maneira divertida, pois através de seu caráter mágico e lúdico faz com que a atenção</p><p>das crianças se volte a ela. Entretanto, a escola muitas vezes não tem proporcionado</p><p>aos seus alunos esse caráter mágico e lúdico da literatura infantil. A leitura não é</p><p>apresentada à criança como algo belo e prazeroso, daí vem à má formação de nossos</p><p>leitores.</p><p>Desta forma, teremos adultos que não sentem prazer pela leitura e nem a</p><p>adotam como uma prática social indispensável. Cabe assim, aos professores essa</p><p>árdua tarefa. Eles precisam produzir atividades divertidas, desenvolver em suas aulas</p><p>metodologias diversificadas, fugindo assim de atividades rotineiras que desligam os</p><p>alunos do prazer pela leitura.</p><p>A escola tem como um dos objetivos primordiais, preparar o educando para</p><p>exercer a cidadania, em que se procura alcançar uma educação transformadora e</p><p>libertadora, mas como ela alcançará esse objetivo se não formar leitores praticantes</p><p>que sejam conscientes dos direitos e deveres que constituem a cidadania? Uma</p><p>educação humanizante tem que obrigatoriamente focar a prática da leitura. Nas</p><p>palavras de Maria (2002), a eficácia da escola pode ser medida no modo como</p><p>14</p><p>conseguiu prover o aluno de competência linguística para o exercício consciente de</p><p>sua cidadania.</p><p>Como somos conhecedores, teoria e prática não devem andar separadas ou</p><p>desvinculadas, por isso o professor que deseja despertar nos seus educandos o gosto</p><p>pela leitura, deve ser antes de tudo um constante leitor, fazendo com que suas</p><p>palavras tenham um real valor para as crianças e para si mesmo. E sendo um</p><p>mediador do diálogo entre o texto e o leitor. De acordo com Maria (2002), para</p><p>acompanhar o processo de formação do aluno-leitor é imprescindível que o professor</p><p>tenha construído ou esteja construindo, para si próprio, uma história de leitor.</p><p>Mas porque damos tanta ênfase à leitura? Através da leitura podemos ler o</p><p>mundo que nos rodeia, fazendo indagações e passando a compreender a realidade.</p><p>Segundo Manguel (1997), todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para</p><p>vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender ou para começar</p><p>a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função</p><p>essencial.</p><p>Afinal, quais as características que as obras literárias dadas às crianças devem</p><p>possuir? Frantz (2011, p. 53-60) destaca algumas características que precisam ser</p><p>evitadas para que a leitura não se torne desagradável para as crianças.</p><p>São elas:</p><p>a) Didatismo e pedagogismo: a leitura tem sido utilizada apenas como fins</p><p>didático-pedagógicos;</p><p>b) Moralismo: os livros infantis estão repletos de histórias que almejam</p><p>unicamente a transmissão de normas de comportamento que levem a criança a ser</p><p>da maneira como os adultos desejam.</p><p>c) Adultocentrismo e paternalismo: o mundo adulto com todos os seus</p><p>preconceitos e valores sobrepõem-se aos valores do mundo infantil, sufocando-os.</p><p>d) Visão fechada de mundo: alguns autores apresentam a seus leitores infantis</p><p>um mundo pronto, acabado, de valores absolutos e inquestionáveis.</p><p>e) Infantilismo: há textos que parecem se destinar a um leitor que só entende</p><p>a linguagem do “inho” e da “inha”, subestimando a criança, entendendo o ser infantil</p><p>15</p><p>como um ser menor, inferior, ao qual se deve oferecer uma literatura igualmente</p><p>inferior e de menor qualidade.</p><p>Tornam-se evidente que as obras literárias devem possuir algumas dessas</p><p>características, mas tudo de maneira equilibrada, sem inferiorizar a criança.</p><p>A literatura infantil dada nos anos iniciais não pode deixar de privilegiar a</p><p>poesia infantil, pois nos textos poéticos direcionados ao público infantil a valorização</p><p>do lúdico está muito presente, o que atrai de maneira significativa as crianças.</p><p>Segundo Frantz (2011, p.122):</p><p>A poesia convida-nos a viver a fantasia a soltar a imaginação, a sentir a</p><p>realidade de maneira especial, mágica, a ver e buscar sentidos em tudo que</p><p>nos rodeia e a expressá-los de forma simbólica, lúdica, criativa, nova,</p><p>prazerosa... poética. É quando o belo se sobrepõe ao útil.</p><p>A criança é inserida no mundo da leitura mesmo antes de saber ler, pois o</p><p>primeiro contato com a leitura se dá por meio da audição de histórias. Com tantos</p><p>avanços tecnológicos, ouvir histórias contadas parece não despertar o interesse em</p><p>ninguém, entretanto 6 muitas crianças gostam da maneira com o professor se</p><p>expressa corporalmente e verbalmente ao contar uma história.</p><p>Ao ouvir histórias a criança não é envolvida apenas no aspecto emocional, mas</p><p>também cognitivamente, pois seu pensamento é estimulado a buscar significação</p><p>para o que ela está ouvindo e elabora internamente esse universo significado.</p><p>De acordo com Barbosa (1999, p. 22):</p><p>Para a criança, ouvir histórias estimula a criatividade e formas de expressão</p><p>corporal. Sendo um momento de aprendizagem rica em estímulos sensoriais,</p><p>intelectuais, dá-lhe segurança emocional. Ouvir histórias também ajuda a</p><p>criança a entrar em contato com suas emoções, supre dúvidas e angústias</p><p>internas. Através da narrativa a criança começa a entender o mundo ao seu</p><p>redor e estabelecer relações com o outro, a socialização.</p><p>Consequentemente, são mais criativas, saem-se melhor no aprendizado e</p><p>serão adultos mais felizes.</p><p>Os contos de fadas também são essenciais. Nas palavras de Jesualdo (1993,</p><p>p.136- 137), existem pessoas contrárias a se darem contos de fadas às crianças:</p><p>16</p><p>Os homens graves e, mais que graves dotados de um espírito que não</p><p>vacilamos em qualificar de falsamente racionalista ou científico são contrários a que</p><p>se narre contos de fadas às crianças. Dizem eles que “essas bobagens somente</p><p>contribuem para falsear o espírito, gerar nas crianças o gosto pelo maravilhoso,</p><p>incliná-las à credulidade e a afogar nelas o germe de todo sentido crítico”.</p><p>Entretanto, isso não é cabível, pois à medida que a criança vai crescendo e</p><p>amadurecendo ela toma consciência do que é real, na ficando presa ao mundo da</p><p>fantasia.</p><p>Os contos de fadas são carregados de significados e não podem ser</p><p>esquecidos nas leituras que as crianças farão e as que lhes serão dadas. Bettelheim</p><p>(1980, p.14) explica:</p><p>Esta é a mensagem que os contos de fadas transmitem às crianças de forma</p><p>múltipla: uma luta contra as dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca</p><p>da existência humana; e se a pessoa não se intimida, mas se defronta de modo firme</p><p>com as pressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os</p><p>obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa.</p><p>Também em relação à composição das bibliotecas infantis, elas devem ser</p><p>repletas com bons e atrativos livros.</p><p>Conforme Meireles (1984, p. 145-146):</p><p>As bibliotecas infantis [...], têm a vantagem não só de permitirem à criança uma</p><p>enorme variedade de leituras, mas de instruírem os adultos acerca de suas</p><p>preferências. Pois, pela escolha feita, entre tantos livros postos à sua</p><p>disposição, a criança revela o seu gosto, as suas tendências, os seus</p><p>interesses.</p><p>A biblioteca é um lugar de obtenção de informações, por isso o livro deve ser</p><p>valorizado. Nas palavras de Góes (2010, p. 55):</p><p>No bombardeio visual dos dias que correm, a biblioteca tem um papel tão</p><p>essencial quanto insubstituível [...]. A biblioteca deveria, pois, ser um lugar de</p><p>intercâmbio, troca, informação, integração na comunidade [...]. É princípio das</p><p>bibliotecas proporem atividades bem diversas. Porém essas atividades só</p><p>devem existir se derivarem de uma relação com o livro.</p><p>O livro infantil deve ter o objetivo de sempre chamar a atenção da criança logo que</p><p>ela o vê. Alguns livros falham no que diz respeito ao aspecto ilustrativo.</p><p>17</p><p>Entretanto, isso não pode ocorrer nos livros infantis, pois as ilustrações trazem</p><p>informações significativas, mostrando como são os personagens. Dessa forma, dá-</p><p>se uma maior veracidade à história.</p><p>Palo e Oliveira (2006, p.15), dizem que nos livros o mais comum é o aparente</p><p>diálogo que, no fundo, esconde um tom único, monológico, privilegiando a informação</p><p>construída pelo texto verbal em detrimento daquela oriunda do visual.</p><p>3. LITERATURA INFANTIL E PEDAGOGIA: um breve</p><p>histórico</p><p>Historicamente, embora seja possível encontrar livros escritos para crianças</p><p>anteriormente</p><p>ao século XVIII, a emergência da literatura infantil, como um campo</p><p>literário, está estreitamente relacionada com a emergência da sociedade burguesa,</p><p>quando a prática da leitura literária se tornou central não apenas para crianças, mas</p><p>para toda a sociedade.</p><p>Conforme as pesquisadoras Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1998),</p><p>se é certo que leitores sempre existiram em todas as sociedades nas quais a</p><p>escrita se consolidou enquanto código, como se sabe a propósito dos gregos,</p><p>só existem o leitor, enquanto papel de materialidade histórica, e a leitura</p><p>enquanto prática coletiva, [itálicos no original] em sociedades de recorte</p><p>burguês, onde se verifica no todo ou em parte uma economia capitalista. Esta</p><p>se concretiza em empresas industriais, comerciais e financeiras, na vitalidade</p><p>do mercado consumidor e na valorização da família, do trabalho e da</p><p>educação. (p. 16).</p><p>Os primeiros livros endereçados para crianças surgiram, portanto, no contexto</p><p>da ascensão da burguesia, na Europa, e estavam repletos de intenções morais e</p><p>pedagógicas explícitas, pois eram produzidos com o intuito de constituir cidadãos</p><p>devidamente alfabetizados e alinhados com as necessidades e as visões de mundo</p><p>daquela sociedade.</p><p>Para atingir tais objetivos, alguns autores da época mesclavam histórias e</p><p>poemas a lições destinadas a ensinar leitura e escrita, incluindo abecedários, além</p><p>de regras de comportamento e moral. Essa tendência pode ser observada, entre</p><p>18</p><p>outros, já nos livros da britânica Mary Cooper, The Child’s New Play-thing, publicado</p><p>em 1742, e de John Newbery, A Little Pretty Pocket-Book, publicado originalmente</p><p>em 1744.</p><p>Vários autores daquele período ficaram conhecidos pela ênfase acentuada em</p><p>ensinamentos morais e religiosos, podendo-se destacar, nesse sentido, os livros</p><p>Simple Susan, publicado em 1798 por Maria Edgeworth, The Story of the Robins,</p><p>publicado por Sarah Trimmer em 1786, The History of the Fairchild Family, publicado</p><p>em 1818 por Mary Martha Sherwood, entre muitos outros (Russell, 2015, p. 7).</p><p>No Brasil, foi somente a partir do século XIX que surgiram livros nacionais de</p><p>literatura endereçados a crianças, embora a maior parte fosse constituída por</p><p>traduções e adaptações de obras europeias, principalmente portuguesas. Conforme</p><p>advertem Regina Zilberman e Marisa Lajolo (1993), já naquela época, a escola era “a</p><p>destinatária prevista para estes livros, que nela circulam como leitura subsidiária ou</p><p>como prêmio para os melhores alunos” (p.19).</p><p>Mais tarde, no início do século XX, autores brasileiros como Olavo Bilac,</p><p>Viriato Correa, Manuel Bonfim, Júlia Lopes de Almeida, Adelina Lopes Vieira, entre</p><p>outros, passaram a escrever obras para crianças, baseados na crença burguesa</p><p>segundo a qual a literatura, e especialmente a poesia, seria um instrumento</p><p>pedagógico eficiente para ensinar, na escola e fora dela, os valores morais, cívicos e</p><p>religiosos que a sociedade de então considerava apropriados e necessários para uma</p><p>boa formação. Nas palavras de Gregorin Filho (2011),</p><p>Educação e leitura no Brasil, do final do século XIX até o surgimento de</p><p>Monteiro Lobato, viviam alicerçadas nos paradigmas vigentes, ou seja: o</p><p>nacionalismo, o intelectualismo, o tradicionalismo cultural com seus modelos</p><p>de cultura a serem imitados e o moralismo religioso, com as exigências de</p><p>retidão de caráter, de honestidade, de solidariedade e de pureza de corpo de</p><p>alma em conformidade com os preceitos cristãos. (p.16).</p><p>Assim como na Europa, também no Brasil, portanto, a produção de livros para</p><p>crianças esteve marcada, desde seu início, por intenções morais e pedagógicas</p><p>vinculadas ao universo cultural de uma burguesia emergente, sendo o espaço escolar</p><p>o locus de consumo prioritário dessas obras.</p><p>Na Europa, é possível dizer que o rompimento com o pedagogismo da literatura</p><p>infantil teve seu início já, na era vitoriana, com a publicação de Alice no país das</p><p>19</p><p>maravilhas, por Lewis Carroll, em 1865. No Brasil, Monteiro Lobato foi pioneiro na</p><p>escrita de uma obra literária que explorava prioritariamente o lúdico e a imaginação</p><p>infantil em detrimento de ensinamentos explícitos. Contudo, somente a partir da</p><p>década de 60 do século XX, houve um crescimento realmente expressivo de obras</p><p>infantis no contexto brasileiro, especialmente de narrativas, o qual foi acompanhado</p><p>pela melhoria também da sua qualidade artístico-literária. Já a poesia, segundo</p><p>Zilberman (2005), passou por uma revitalização, em termos de quantidade e</p><p>qualidade, principalmente a partir da década de 1980, quando houve uma valorização</p><p>do gênero no Brasil, o que levou um número cada vez maior de poetas a se dedicarem</p><p>a esse tipo de produção.</p><p>Desde então, ao invés da perspectiva do adulto que pretende ensinar algo, é</p><p>possível encontrar uma quantidade muito significativa de livros que priorizam o</p><p>universo e a perspectiva infantis. No lugar de informações utilitárias, conhecimentos</p><p>escolares e valores morais explícitos, autores contemporâneos têm valorizado a</p><p>qualidade literária e o lúdico, que podem se manifestar tanto por meio das temáticas</p><p>abordadas quanto da liberdade para experimentações com o significante linguístico.</p><p>Têm se tornado cada vez mais comuns projetos intersemióticos ousados, ligando</p><p>ilustração/imagens e texto linguístico de modo tão integrado que se chega</p><p>frequentemente a uma linguagem híbrida. Além disso, questões densas e existenciais</p><p>como a morte e a velhice, entre outras, também são apresentadas na perspectiva</p><p>infantil, evitando-se respostas fáceis e enredos óbvios.</p><p>A crítica literária não permaneceu isenta diante desse novo contexto. Maria da</p><p>Glória Bordini (1986), em um estudo sobre a crítica voltada para a produção infantil</p><p>nas décadas de 70 e 80 do século XX, vislumbrou uma mudança de perspectiva</p><p>introduzida pelo trabalho de acadêmicos nas universidades, nas quais foram sendo</p><p>instituídas disciplinas específicas de literatura infantil desde então, o que, segundo a</p><p>pesquisadora, levou a “uma reviravolta do foco sobre o elemento humanístico-</p><p>formativo para o estético-ideológico” (p. 97).</p><p>A partir dessas iniciativas, as análises acadêmicas passaram a privilegiar</p><p>aspectos propriamente literários em detrimento de aspectos pedagógicos,</p><p>valorizando a autonomia artística das obras infantis e tornando ainda mais refinado o</p><p>olhar do leitor universitário para diferenciar obras cujo fim é proporcionar uma</p><p>20</p><p>experiência de fruição literária de obras produzidas como mero pretexto para o ensino</p><p>de gramática, números, informações sobre história e geografia, valores morais, etc.</p><p>Por outro lado, a escola continuou sendo o lugar privilegiado para o consumo</p><p>das obras literárias infantis e infantojuvenis. O mercado desses livros se expandiu</p><p>devido aos programas de incentivo do governo, existentes desde a década de 1960,</p><p>tais como a Fundação do Livro Escolar, a Fundação Nacional do Livro Infantil e</p><p>Juvenil, a Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, entre outros (Lajolo,</p><p>1986). Atualmente, destaca-se o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE),</p><p>instituído em 1997 e executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação</p><p>(FNDE), em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da</p><p>Educação (SEB/MEC). O principal leitor da literatura infantil contemporânea, portanto,</p><p>não é simplesmente a criança, mas a criança escolarizada.</p><p>Se a escolarização da literatura infantojuvenil, de um lado, tem sido a</p><p>responsável por sua vitalidade no Brasil, na medida em que garante grandes públicos</p><p>consumidores, de outro lado, também tem gerado práticas que obliteram sua</p><p>dimensão artística e literária.</p><p>Para Graça Paulino (2010),</p><p>o problema está na constituição antiestética ou a-estética dos cânones</p><p>escolares de leitura. Os modos escolares de ler literatura nada têm a ver com</p><p>a experiência artística, mas com objetivos práticos, que passam da morfologia</p><p>à ortografia sem qualquer mal-estar. Se for perguntado a um incauto mestre</p><p>que tipo de leitor quer formar, possivelmente a resposta passará por</p><p>idealizações distantes das práticas culturais concretas. (p.161).</p><p>A dificuldade de muitos educadores para realizar atividades significativas de</p><p>leitura literária na escola, aliada ao discurso segundo o qual seria mais apropriado</p><p>abordar textos imagéticos e outros gêneros textuais supostamente mais alinhados</p><p>com a cultura contemporânea, tem levado alguns educadores a defender, inclusive,</p><p>o fim do ensino da literatura. Segundo Rildo Cosson (2014,), “para muitos professores</p><p>e estudiosos da área das Letras, a literatura só se mantém na escola por força da</p><p>tradição e da inércia curricular, uma vez que a educação literária é um produto do</p><p>século XIX que já não tem razão de ser no século XX” (p.20)</p><p>Por outro lado, é preciso ressaltar que o universo acadêmico brasileiro não tem</p><p>permanecido indiferente a essa problemática, o que se comprova pela existência de</p><p>21</p><p>uma produção consistente de livros e artigos recentes que procuram articular o campo</p><p>pedagógico a questões de leitura literária. Nesse contexto, muitos pesquisadores têm</p><p>enfrentado o seguinte dilema: “Se hoje não faz mais sentido utilizar obras literárias</p><p>como meros pretextos para atividades didáticas e pedagógicas em sentido restrito, o</p><p>que deve ser ensinado quando se trabalha com a literatura no espaço escolar ou em</p><p>outros espaços de formação?”.</p><p>Essa pergunta vem sendo respondida a partir de diferentes perspectivas</p><p>teóricas e discursos que enfatizam o caráter formativo da literatura infantil e sua</p><p>importância no contexto escolar. Muitas dessas discussões têm sido divulgadas em</p><p>livros que, entrementes, são referência no campo e bibliografia obrigatória em cursos</p><p>de Letras e Pedagogia.</p><p>Tais discussões também se fazem presentes em eventos como as reuniões</p><p>nacionais da Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação e em Letras</p><p>(ANPED e ANPOLL), bem como em diferentes revistas e periódicos vinculados às</p><p>áreas da Educação e das Letras. Nesse sentido, pode ser citado um trabalho de</p><p>mapeamento do campo realizado por Silveira e Bonin (2013), que analisaram os</p><p>artigos apresentados nas reuniões anuais da Anped – da 23ª a 32ª (2000 a 2012) –</p><p>os quais focalizavam a literatura infantil e infantojuvenil.</p><p>3.1 Origem e evolução</p><p>A célula máter da Literatura Infantil, hoje conhecida como “clássica", encontra-</p><p>se na Novelística Popular Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que,</p><p>desde essa época, a palavra impôs-se ao homem como algo mágico, como um poder</p><p>misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou destruir.</p><p>São também de caráter mágico ou fantasioso as narrativas conhecidas hoje</p><p>como literatura primordial. Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas</p><p>orientais, que se forjaram durante séculos a.C., e se difundiram por todo o mundo,</p><p>por meio da tradição oral.</p><p>22</p><p>A Literatura Infantil constitui-se como gênero durante o século XVII, época em</p><p>que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam repercussões no âmbito</p><p>artístico.</p><p>O aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois decorre</p><p>da ascensão da família burguesa, do novo "status" concedido à infância na sociedade</p><p>e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua</p><p>associação com a Pedagogia, já que as histórias eram elaboradas para se</p><p>converterem em instrumento dela.</p><p>As Mil e Uma Noites: Coleção de contos árabes compilados provavelmente</p><p>entre os séculos XIII e XVI. São estruturados como histórias em cadeia, em que cada</p><p>conto termina com uma deixa que o liga ao seguinte. Essa estruturação força o</p><p>ouvinte curioso a retornar para continuar a história, interrompida com suspense no ar.</p><p>Foi o orientalista francês Antoine Galland o responsável por tornar o livro de</p><p>As mil e uma Noites conhecido no ocidente (1704). Não existe texto fixo para a obra,</p><p>variando seu conteúdo de manuscrito a manuscrito. Os árabes foram reunindo e</p><p>adaptando esses contos maravilhosos de várias tradições. Assim, os contos mais</p><p>antigos são provavelmente do Egito do séc. XII. A eles foram sendo agregados contos</p><p>hindus, persas, siríacos e judaicos.</p><p>O uso do número 1001 sugere que podem aparecer mais histórias, ligadas por</p><p>um fio condutor infinito. Usar 1000 talvez desse a ideia de fechamento, inteiro, que</p><p>não caracteriza a proposta da obra.</p><p>Os mais famosos contos são:</p><p>• O Mercador e o Gênio;</p><p>• Aladim ou a Lâmpada Maravilhosa;</p><p>• Ali-Babá e os Quarenta Ladrões Exterminados por uma Escrava;</p><p>• As Sete Viagens de Simbá, o Marinheiro.</p><p>A literatura infantil surgiu somente no século 17, com a descoberta da prensa.</p><p>As histórias infantis e os contos populares, no entanto, existem desde que o ser</p><p>humano adquiriu a fala. Há notícias de histórias antigas na África, na Índia, na China,</p><p>23</p><p>no Japão e no Oriente Médio — como a coleção de contos árabes As Mil e Uma</p><p>Noites.</p><p>Algumas histórias tratam de temas que fazem parte da tradição de muitos</p><p>povos e apresentam soluções para problemas universais. É o caso de “O Pequeno</p><p>Polegar”.</p><p>Figura: 03</p><p>O personagem representa o desejo de vingança do mais fraco contra o mais</p><p>forte. Os pequenos se identificam com os heróis e experimentam diversas emoções.</p><p>Que criança não fica com medo ao imaginar o Lobo Mau devorando a</p><p>Vovozinha? Ou odeia a bruxa quando ela prende Rapunzel na torre? Para a escritora</p><p>A na Maria Machado, os contos de fadas pertencem ao gênero literário mais rico do</p><p>imaginário popular. "Essas histórias funcionam como válvula de escape e permitem</p><p>que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo simbólico, saindo mais</p><p>feliz dessa experiência."</p><p>A ideia foi difundida após a divulgação dos estudos do psicólogo austríaco</p><p>Bruno Bettelheim (1903-1990). Para ele, nenhum tipo de leitura é tão enriquecedor e</p><p>satisfatório do que os contos de fadas, pois eles ensinam sobre os problemas</p><p>interiores dos seres humanos e apresentam soluções em qualquer sociedade. Ou</p><p>24</p><p>seja, a fantasia ajuda a formar a personalidade e por isso não pode faltar na</p><p>educação.</p><p>Uma obra é clássica e referência em qualquer época quando desperta as</p><p>principais emoções humanas. O que os pequenos mais temem na infância? A</p><p>separação dos pais; e esse drama existencial aparece logo no começo de muitas</p><p>histórias consideradas referências na literatura.</p><p>Para Bettelheim, a agressividade e o descontentamento com irmãos, mães e</p><p>pais são vivenciados na fantasia dos contos: o medo da rejeição é trabalhado em</p><p>João e Maria, a rivalidade entre irmãos em Cinderela e a separação entre as crianças</p><p>e os pais em Rapunzel e O Patinho Feio.</p><p>A leitura das histórias no passado tinha mais um propósito muito claro: apontar</p><p>padrões sociais para as crianças. O objetivo das moças ingênuas era encontrar um</p><p>príncipe, como mostrado em A Bela Adormecida e Cinderela. Em A Polegarzinha, de</p><p>Andersen, a recompensa final da protagonista, Dedolina também era o casamento.</p><p>Já garotas desobedientes, como Chapeuzinho Vermelho, deparavam com</p><p>situações dramáticas, como enfrentar o Lobo Mau. Essa história tinha forte caráter</p><p>moral na sociedade rural do século 17: camponesas não deviam andar sozinhas. Isso</p><p>mostra como os contos serviam para instruir mais que divertir.</p><p>4. TRABALHANDO TEXTOS DE LITERATURA</p><p>INFANTIL NAS SÉRIES INICIAIS</p><p>A partir do domínio da leitura, os sujeitos se habilitam para participar</p><p>ativamente do contexto social em que estão inseridos, transformando a realidade. Ou</p><p>seja, a leitura é essencial para o exercício pleno da cidadania. Dessa forma, a escola,</p><p>assim como a família, é responsável por criar situações de vivência e de experiência</p><p>de leitura.</p><p>A escola, portanto, desempenha o papel de oportunizar, para todos, o interesse</p><p>pela leitura. A aproximação</p><p>entre aluno e escola se dá por meio do educador,</p><p>responsável direto por realizar o intermédio entre o texto e o educando, tendo como</p><p>25</p><p>base a sua própria formação. Tal formação deve ser pautada no trabalho com o texto</p><p>e focar o desenvolvimento de sujeitos leitores. Isso se inicia nas séries iniciais e deve</p><p>ser realizado ao longo de toda a trajetória escolar. Logo, a capacitação do educador</p><p>para o trabalho com a literatura infantil nas séries iniciais é fundamental. Afinal, a</p><p>leitura deve ser uma prática estabelecida em sala de aula, e o professor é responsável</p><p>viabilizá-la.</p><p>Portanto, para a formação de leitores, é fundamental que o professor esteja</p><p>preparado. Ele servirá como exemplo para os seus alunos e será responsável por</p><p>motivar a leitura. Veja o que afirma Solé (1998, p. 116):</p><p>O processo de leitura deve garantir que o leitor compreenda os diversos textos</p><p>que se propõe a ler. É um processo inter no, porém deve ser ensinado. Uma</p><p>primeira condição para aprender é que os alunos possam ver e entender como</p><p>faz o professor para elaborar uma interpretação do texto: quais as suas</p><p>expectativas, que perguntas formula, que dúvidas surgem, como chega à</p><p>conclusão do que é fundamental para os objetivos que o guiam, que</p><p>elementos toma ou não do texto, o que aprendeu e o que ainda tem de</p><p>aprender... em suma, os alunos têm de assistir a um processo/modelo de</p><p>leitura, que lhes permita ver as “ estratégias em ação” em uma situação</p><p>significativa e funcional.</p><p>Solé (1998) explica que os alunos devem assistir a um modelo de leitura para</p><p>que entendam as dinâmicas postas em uso no processo de leitura. Há codificação,</p><p>decodificação, interpretação e ação em relação ao texto. Essas práticas podem ser</p><p>demonstradas pelo professor, que as exemplifica para que os alunos, como leitores,</p><p>compreendam os diversos textos e saibam agir conforme as solicitações de cada tipo</p><p>de texto. A formação docente deve fazer com os professores sejam multiplicadores</p><p>da consciência da importância do ato de ler. Veja o que afirma Nóvoa (1992, p. 27):</p><p>A formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no</p><p>quadro de uma autonomia contextualizada da profissão docente. Importa</p><p>valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação de professores</p><p>reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento</p><p>profissional e que participem como protagonistas na implementação das</p><p>políticas educativas.</p><p>Nesse contexto, é necessária uma formação de professores articulada com a</p><p>leitura. Ou seja, é básico que, na formação do professor, a leitura esteja presente;</p><p>mas, mais do que isso, a leitura deve ser estudada de forma atenta. Ou seja, a</p><p>perspectiva metodológica dessa atividade deve ser abordada na formação docente.</p><p>Apenas com essa reflexão é possível perceber a leitura como significativa.</p><p>26</p><p>Mas o que significa uma abordagem metodológica da leitura? Significa que,</p><p>no processo de formação docente, os indivíduos devem ser expostos à diversidade</p><p>oferecida pelas literaturas e que também devem conhecer as possibilidades de</p><p>trabalho em sala de aula com cada uma delas. Em se tratando das séries iniciais, por</p><p>exemplo, o docente em formação deve conhecer as leituras indicadas para essa</p><p>etapa e as metodologias adequadas para a formação de leitores. Conforme reforçam</p><p>Farias e Bortolanza (2012, p. 36), “[...] o professor é o agente organizador das práticas</p><p>educativas em sala de aula, é a ele que se atribui o sucesso ou o fracasso da</p><p>aprendizagem da leitura [...]”.</p><p>4.1 O trabalho com os textos literários</p><p>A escola deve possibilitar que a criança entre em contato com os textos</p><p>literários desde o início do seu ingresso nesse ambiente. Isso significa que a escola</p><p>e o professor devem oportunizar o manuseio de diferentes textos, a escuta de</p><p>diferentes histórias e a possibilidade de as crianças (re)contarem as histórias que</p><p>manipulam.</p><p>Os livros e as histórias mostram para as crianças a amplitude do mundo da</p><p>fantasia e da imaginação, algo que elas trazem para a escola, pois faz parte da etapa</p><p>do seu desenvolvimento. Logo, a escola deve ampliar o contato com esses elementos</p><p>para incentivar nos alunos o interesse pela leitura, consequentemente incentivando a</p><p>formação de sujeitos leitores.</p><p>Para trabalhar com os textos literários, é importante valorizar as situações em</p><p>que as crianças, mesmo aquelas com dificuldades para aprender a ler ou que ainda</p><p>não estejam alfabetizadas, narrem as histórias a partir da sua imaginação. As figuras</p><p>representativas nas histórias (desenhos, ilustrações, etc.) possibilitam que a criança</p><p>conte histórias infinitas para além daquela apresentada pelas palavras do autor. Essa</p><p>é uma atividade que desperta o interesse por descobrir o desconhecido, por</p><p>desvendar o que as letras podem estar contando sobre as ilustrações observadas.</p><p>Isso motiva a criança a aprender a ler para saber o que está escrito naquelas linhas.</p><p>27</p><p>Uma excelente estratégia para incentivar o desenvolvimento de sujeitos</p><p>leitores, considerando a fase pré-operacional, é selecionar determinado texto e contar</p><p>a sua história para as crianças, inclusive utilizando elementos concretos para encenar</p><p>a trama. Por exemplo, você pode contar a história de uma fazenda utilizando um</p><p>cenário rural (pode ser uma maquete produzida com material reciclado), com</p><p>representações de animais. Depois, possibilite que as crianças recontem a história</p><p>manipulando os elementos e recriando o enredo a partir da construção mental que</p><p>fizeram do que ouviram. Assim, as imagens mentais são trazidas para o concreto e a</p><p>criança faz uso da imaginação, da fantasia e da criatividade.</p><p>O professor, como intermediário entre o texto e a criança, deve considerar o</p><p>seguinte:</p><p>[...] para formar um leitor é imprescindível que entre a pessoa que lê e o texto</p><p>se estabeleça uma espécie de comunhão baseada no prazer, na identificação,</p><p>no interesse e na liberdade de interpretação. É necessário também que haja</p><p>esforço, e este se justifica e se legitima justamente através dessa comunhão</p><p>estabelecida (AZEVEDO, 2004, p. 39).</p><p>Dessa forma, o professor serve como modelo para a formação de leitores. Ele</p><p>lê e demonstra o interesse, a beleza, os elementos, a palavra, a emoção, entre outros</p><p>atrativos, a partir da leitura oral, da escrita e da contação de histórias. Considere o</p><p>seguinte:</p><p>Ao ler uma história, a criança também desenvolve todo potencial crítico. A</p><p>partir daí, ela pode pensar, dividir, perguntar, questionar [...] pode se sentir</p><p>inquieta, cutucada, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se pode</p><p>mudar de opinião [...] E isso não sendo feito uma vez ao ano [...], mas fazendo</p><p>parte da rotina escolar, sendo sistematizado, sempre presente — o que não</p><p>significa trabalhar em cima de um esquema rígido e apenas repetitivo</p><p>(ABRAMOVICH, 1999, p. 143).</p><p>Para isso, o professor deve utilizar a maior variedade possível de textos,</p><p>sempre adequados a cada uma das etapas de ensino.</p><p>A seguir, veja exemplos de textos adequados às séries iniciais.</p><p>Marcelo, Marmelo, Martelo (2011): escrito por Ruth Rocha e ilustrado por</p><p>Adalberto Cornavaca, reúne três contos que contam histórias do cotidiano a partir da</p><p>inserção de personagens infantis que enfrentam impasses de forma criativa e com</p><p>muita imaginação.</p><p>28</p><p>A Borboleta Azul (2008): escrito e ilustrado por Nicolas Van Pallandt e</p><p>traduzido por Gilda de Aquino, o livro conta a história de um urso que avista uma linda</p><p>borboleta e que a acompanha em diferentes cenários.</p><p>A Galinha que Sabia Nadar (2008): escrito e ilustrado por Paul Adshead e</p><p>traduzido por Gilda de Aquino, essa obra conta a história de uma pata que foi criada</p><p>por uma galinha. Ao longo da trajetória da personagem, ela percebe as diferenças e</p><p>busca autoconhecimento. O objetivo da história é trabalhar com temas como:</p><p>adoção,</p><p>autoconhecimento e aceitação das diferenças.</p><p>Os Três Lobinhos e o Porco Mau (2011): escrito por Eugene Trivizas,</p><p>ilustrado por Helen Oxenbury e traduzido por Gilda de Aquino, esse é um excelente</p><p>livro para trabalhar em paralelo com outro: Os Três Porquinhos (MACHADO, 2004).</p><p>O autor inverte os papéis do lobo mau e dos porquinhos: quem era caçador vira caça</p><p>e vice-versa. Contudo, é mantida a separação entre os personagens bons e maus,</p><p>bobos e espertos, mas com outro ponto de vista. É a reinvenção de uma história para</p><p>gerar muita conversa em sala de aula.</p><p>Essas são apenas algumas sugestões de leitura, pois o mundo dos textos</p><p>literários é vasto. É importante que o professor observe os seus alunos a cada ano</p><p>que receber a regência de uma turma nova. Afinal, as necessidades são diferentes</p><p>e os textos não podem ser sempre os mesmos; o trabalho com o texto não pode ser</p><p>mecânico e uniforme.</p><p>O professor deve considerar que as histórias ampliam o diálogo; portanto,</p><p>sempre que surgir alguma situação que precisa ser trabalhada em sala de aula, ele</p><p>deve recorrer a textos que ofereçam aos alunos diferentes pontos de vista, motivando</p><p>debates e promovendo a formação de leitores.</p><p>29</p><p>5. REFERÊNCIAS:</p><p>ABREU, Márcia. Cultura letrada, literatura e leitura. São Paulo: Editora Unesp,</p><p>2004.</p><p>ANDRÉ, M. E. D. A. de. Etnografia da prática escolar. Campinas, SP: Papirus,</p><p>1995.</p><p>ANDRÉ, M. E. D. A.; LUDKE, M. Pesquisa em educação: abordagens</p><p>qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.</p><p>AZEVEDO, R. Formação de leitores e razões para a literatura. In: SOUZA, R.</p><p>J. de (Org.). Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004.</p><p>BARBOSA, R. T. P. A leitura em dois pontos: ler e contar histórias. Releitura,</p><p>n. 12, 22/ 03. Belo Horizonte, 1999.</p><p>BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e</p><p>Terra, 1980.</p><p>BOGDAN, R; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma</p><p>introdução à teoria e aos métodos. Coimbra, Portugal: Porto Editora, 1994.</p><p>BORDINI, M. G. Literatura na escola de 1º e 2º graus: por um ensino não</p><p>alienante. Perspectiva – Revista do CED. Florianópolis: UFSC, 1985.</p><p>CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil. 2. ed. São Paulo: Brasiliense,</p><p>2010.</p><p>CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In _____. Vários escritos. 5. Ed. Rio</p><p>de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.</p><p>CARVALHO, B. V. de. A literatura infantil: visão histórica e crítica 6. ed. São</p><p>Paulo: Global, 1989.</p><p>COELHO, N. N. Literatura e linguagem. 4. ed. São Paulo: Quíron, 1986, p. 29-</p><p>31.</p><p>COSTA, Marta Morais da Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba:</p><p>Ibpex, 2007.</p><p>30</p><p>CUNHA, M. A. A. Como ensinar Literatura Infantil. 3. ed. São Paulo: Discubra,</p><p>1974, p. 45.</p><p>FARIAS, S. A.; BORTOLANZA, A. M. E. O papel da leitura na formação do</p><p>professor: concepções, práticas e perspectivas. Revista Poíesis Pedagógica,</p><p>Catalão, v. 10, n. 2, p. 32–46, 2012.</p><p>FRANTZ, M. H. Z. A literatura nas séries iniciais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.</p><p>GÓES, L. P. Introdução à Literatura para crianças e jovens. São Paulo:</p><p>Paulinas, 2010.</p><p>JESUALDO. A literatura infantil. 9. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1993.</p><p>MAÇÃ: quando faz bem, quando faz mal. Seleções, 1nov. 2013.</p><p>MANGUEL, A. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras,</p><p>1997.</p><p>MARIA, L. Leitura e colheita - Livros, leitura e formação de leitores. 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