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<p>CAP Í T U LO 4 1</p><p>Esôfago</p><p>Jonathan D. Spicer</p><p>Rajeev Dhupar</p><p>Jae Y. Kim</p><p>Boris Sepesi</p><p>Wayne Hofste埾�er</p><p>SUMÁRIO</p><p>Diagnóstico e Tratamento dos Distúrbios da Motilidade Esofágica</p><p>Distúrbios Diverticulares</p><p>Doença do Refluxo Gastroesofágico</p><p>Distúrbios Benignos Adquiridos do Esôfago</p><p>Neoplasias Esofágicas e Abordagens Diagnósticas ao Câncer Esofágico</p><p>Resumo</p><p>O esôfago é um órgão que ocupa o espaço entre o pescoço e o estômago, e, apesar da simplicidade de sua forma tipo tubo,</p><p>ele é, na verdade, um órgão complexo e relativamente resistente. Ele atravessa o mundo externo e passa por território</p><p>precioso no mediastino. O esôfago funciona em áreas com pressões que se alteram desde a atmosférica até o vácuo. Ainda</p><p>assim, a precisão de um esôfago normal é geralmente não reconhecida. Nós engolimos sem esforço, dor ou pensamento;</p><p>mas se houver doença no órgão, incorremos em vários graus de padecimento, alguns bastante graves e invariavelmente</p><p>crônicos. Ainda estamos à procura de soluções perfeitas para a maioria das disfunções descritas na seção que se segue, e a</p><p>substituição do esôfago nesse momento é realizada apenas por substituição de tecidos e não por renovação. Em última</p><p>análise, nenhuma das “curas” descritas funciona tão bem quanto o órgão original saudável. Isso representa para nós e para</p><p>a futura geração de especialistas em esôfago a oportunidade de inovar e melhorar. Nossa esperança é que este capítulo sirva</p><p>como uma introdução ao esôfago e às suas várias formas de função e disfunção. Seria possível literalmente se passar uma</p><p>vida enquanto se investigava cada uma destas áreas.</p><p>Diagnóstico e tratamento dos distúrbios da motilidade esofágica</p><p>Diagnóstico</p><p>Os distúrbios da motilidade esofágica são um grupo relativamente raro de doenças, cujas causas responsáveis continuam</p><p>pouco conhecidas. Os pacientes com esses distúrbios poderão apresentar‑se com uma variedade de sintomas, incluindo</p><p>disfagia, dor torácica, azia, refluxo e perda de peso. Por definição, os distúrbios da motilidade esofágica são diagnosticados</p><p>quando os achados manométricos excedem dois desvios padrão do normal. Infelizmente, a gravidade dos sintomas nem</p><p>sempre se correlaciona bem com a manometria, que é de importância crítica no planejamento de uma intervenção cirúrgica</p><p>nestes pacientes, geralmente complicados. Os distúrbios da motilidade esofágica são, provavelmente, mais bem</p><p>classificados pela classificação de Chicago, que foi criada a partir de dados obtidos por manometria de alta resolução (MAR)</p><p>com topografia das pressões esofágicas (Tabela 41‑1).1 Uma vez que esta classificação é puramente baseada na diferenciação</p><p>dos padrões dos achados manométricos, sua utilidade clínica exata ainda está em investigação. Mesmo assim, os achados</p><p>destas técnicas diagnósticas ultramodernas correlacionam‑se bem com aqueles da manometria convencional, com perfusão</p><p>de água. Do ponto de vista prático, a principal diferença entre a MAR e a manometria convencional é que na MAR os</p><p>sensores de pressão não estão mais afastados do que 1 cm, ao invés de cada 3 a 5 cm. Podem ser encontrados até 36</p><p>sensores, distribuídos radial e longitudinalmente, permitindo o desenho de um mapa de pressões tridimensional durante a</p><p>deglutição. A representação gráfica disso é referida com a topografia de pressões esofágicas.</p><p>Tabela 411</p><p>A Classificação de Chicago da Motilidade Esofágica</p><p>CRITÉRIOS</p><p>Acalasia e Obstrução da Saída da Junção Gastroesofágica</p><p>Acalasia tipo I (clássica) PRI média > 15 mmHg; peristaltismo 100% falhado (ICD 15 mmHg; peristaltismo 100% ausente, pressurização pan‑esofágica</p><p>com ≥ 20% das deglutições</p><p>Acalasia tipo III (acalasia</p><p>espástica)</p><p>PRI média > 15 mmHg; sem peristaltismo normal, contrações espásticas com ICD</p><p>>450 mmHg • s • cm com ≥ 20% das deglutições</p><p>Obstrução da saída da junção</p><p>gastroesofágica (acalasia</p><p>em evolução)</p><p>PRI média > 15 mmHg; evidência suficiente de peristaltismo para que os critérios</p><p>dos tipos I a III não sejam cumpridos</p><p>Distúrbios Maiores do Peristaltismo</p><p>Contratilidade ausente PRI média normal, peristaltismo 100% ausente</p><p>Espasmo esofágico distal PRI média normal; ≥ 20% de contrações prematuras com ICD > 450 mmHg • s • cm</p><p>Esôfago hipercontrátil</p><p>(martelo pneumático)</p><p>Pelo menos duas deglutições com ICD > 8.000 mmHg • cm • s</p><p>Distúrbios Menores do Peristaltismo</p><p>Motilidade esofágica ineficaz ≥ 50% de deglutições ineficazes</p><p>Peristaltismo fragmentado ≥ 50% de contrações fragmentadas com ICD > 450 mmHg • cm</p><p>Motilidade esofágica normal Nenhum dos critérios acima é cumprido</p><p>A pressão de relaxamento integrada (PRI) é a média dos 4 segundos de relaxamento deglutitivo máximo na janela</p><p>de 10 segundos que começa no relaxamento do esfíncter esofágico superior referenciada à pressão gástrica; a</p><p>integral contrátil distal (ICD) é a amplitude × duração × comprimento (mmHg • s • cm) da contração esofágica</p><p>distal excedendo 20 mmHg desde a zona de transição até a margem proximal do esfíncter esofágico inferior.</p><p>Dados de Roman Roman S, Gyawali CP, Xiao Y, et al: The Chicago classification of motility disorders. Gastrointest Endosc Clin N</p><p>Am 24:545–561, 2014.</p><p>Ainda que a manometria seja diagnóstica para os pacientes com distúrbios da motilidade esofágica, as queixas que</p><p>apresentam são, muitas vezes, vagas e não específicas. Por isso, é primordial uma avaliação completa para excluir</p><p>cuidadosamente outras fontes (cardíaca, respiratória, doença ulcerosa péptica e doença pancreática‑biliar) como a causa dos</p><p>sintomas. Além disso, é essencial ter atenção aos sintomas sistêmicos de doenças do tecido conjuntivo como a</p><p>esclerodermia, uma vez que o tratamento cirúrgico destes pacientes requer modificações específicas para evitar desfechos</p><p>desastrosos. Em relação à parte esofágica desta avaliação, o trânsito esofágico com bário continua sendo um mapa muito</p><p>útil para guiar investigações adicionais. Quando se julga que o esôfago é a causa dos sintomas, é necessária uma endoscopia</p><p>alta para excluir anomalias da mucosa e permitir a visualização dos defeitos em questão (estenose, hérnia, divertículo,</p><p>esofagite, massas). Uma tomografia computadorizada (TC) do tórax e abdome não é sempre necessária, mas pode ser útil</p><p>sobretudo quando existe suspeita de causas extrínsecas dos sintomas. A adição da medição do pH no contexto de um</p><p>distúrbio da motilidade esofágica documentado só é necessária quando se pensa que esse distúrbio é o resultado de uma</p><p>doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) em fase terminal, como meio de documentar esse fato.</p><p>Classicamente, os distúrbios da motilidade esofágica têm sido classificados em causas primárias e secundárias. Os</p><p>distúrbios primários dividem‑se em cinco categorias: acalasia, espasmo esofágico difuso (EED), esôfago em quebra‑nozes</p><p>(britadeira), esfíncter esofágico inferior (EEI) hipertensivo e motilidade esofágica ineficaz (MEI). Os distúrbios secundários</p><p>resultam de uma lesão progressiva induzida por uma doença do colágeno, vascular ou neuromuscular; incluem a</p><p>esclerodermia, dermatomiosite, polimiosite, lúpus eritematoso, doença de Chagas e miastenia gravis. Essa classificação tem</p><p>raiz na etiologia básica desta coleção de doenças, mas não ajuda muito na interpretação dos resultados manométricos nem é</p><p>útil como guia para o tratamento. Por essa razão, sugerimos uma abordagem anatômica para classificar os distúrbios da</p><p>motilidade esofágica com base no envolvimento do corpo esofágico ou do EEI, uma vez que essa é a base para entender a</p><p>manometria esofágica básica e frequentemente a chave para guiar o tratamento cirúrgico.</p><p>Distúrbios da Motilidade do Corpo do Esôfago</p><p>Espasmo Esofágico Difuso</p><p>O EED é um distúrbio de hipermotilidade</p><p>e endoscopia é realizada, assegurando que a broncoscopia é realizada</p><p>de modo a avaliar toda a via aérea; a traqueostomia pode ter de ser removida temporariamente durante a endoscopia. Se for</p><p>identificada uma fístula traqueoesofágica, os princípios de tratamento são (1) descontinuar o agente causal, (2) considerar a</p><p>exclusão da fístula por stent ou derivação e, finalmente, (3) reparar ou permitir a cura posterior. Em um paciente estável, a</p><p>reparação definitiva pode evitar a necessidade de exclusão temporária ou derivação. Se a fístula foi causada por um balão</p><p>de traqueostomia, será necessária uma traqueostomia mais longa ou sem cuff. Em geral, também se usam antibióticos. Pode‑</p><p>se obter o acesso enteral e descompressão gástrica com tubos de gastrostomia e jejunostomia. A reparação pode ser</p><p>realizada quando o paciente for medicamente adequado tanto por toracotomia ou abordagem cervical com ressecção da</p><p>fístula, reparação primária possível ou ressecção e interposição de tecido vascularizado. Tentativas de reparação definitiva</p><p>em um paciente comprometido não são ótimas. A cura postergada pode ocorrer se os agentes causadores forem removidos</p><p>e a derivação tiver sucesso. Stents esofágicos podem ocasionalmente ser usados neste cenário, embora tal tenha de ser</p><p>determinado caso a caso.</p><p>Um anel de SchaĀki é um espessamento fibroso, concêntrico e não maligno, e um estreitamento da JGE com epitélio</p><p>escamoso por cima e células colunares por baixo (Fig. 41‑10). A causa não é conhecida, com correlações à doença do refluxo</p><p>e hérnia de hiato que ainda são debatidas. A presença de um anel não é patológica, mas estes podem ser vistos em pacientes</p><p>que sofrem de disfagia ou obstrução. No paciente sintomático, quer o diagnóstico seja por trânsito quer por endoscopia, o</p><p>tratamento é geralmente a dilatação (bougie ou balão). A área deve sempre ser biopsiada para excluir malignidade. É muitas</p><p>vezes necessária a dilatação repetida, sendo uma maneira razoável de tratar anéis sintomáticos, já que há poucas opções</p><p>cirúrgicas. Estreitamentos persistentes devem sempre fazer suspeitar de doença maligna.</p><p>FIGURA 4110 A, Histologia de um anel de Schatzki. B, Trânsito esofágico baritado de um anel de</p><p>Schatzki. (A e B, Adaptada de Wilkins EW Jr: Rings and webs. In Pearson FG, Cooper JD, Deslauriers J, et al, editors:Esophageal</p><p>surgery, ed 2, New York, 2002, Churchill Livingstone.)</p><p>Neoplasias esofágicas e abordagens diagnósticas ao câncer</p><p>esofágico</p><p>Epidemiologia</p><p>Ocorrem aproximadamente 17.000 casos de câncer esofágico anualmente nos Estados Unidos e cerca de 480.000 casos em</p><p>todo o mundo.17 Infelizmente, este manifesta‑se normalmente em um estágio avançado, e a maioria dos pacientes acaba por</p><p>morrer desta doença. Mundialmente, o carcinoma de células escamosas (CCE) é o mais comum histologicamente, mas nos</p><p>Estados Unidos o adenocarcinoma é mais frequente. Durante os últimos 20 anos, a incidência de adenocarcinoma aumentou</p><p>drasticamente nos países ocidentais, com um declínio concomitante da incidência do CCE (Fig. 41‑11).18 Isso parece ser um</p><p>verdadeiro aumento da incidência de adenocarcinoma e não um sobrediagnóstico, uma vez que a distribuição global por</p><p>estágios não se alterou de forma significativa durante esse tempo. Outros tipos de tumores esofágicos, incluindo tumores do</p><p>mesênquima, cânceres neuroendócrinos e tumores benignos, são muito mais raros.</p><p>FIGURA 4111 Tendências na incidência dos tipos histológicos de câncer esofágico (19752001). Linha</p><p>vermelha, adenocarcinoma; linha azul, carcinoma de células escamosas; linha verde, não</p><p>especificados. (De Pohl H, Welch HG: The role of overdiagnosis and reclassification in the marked increase of esophageal</p><p>adenocarcinoma incidence. J Natl Cancer Inst 97:142–146, 2005).</p><p>O tabaco e o álcool são importantes fatores de risco para o CCE e têm um efeito sinérgico nesse risco. A doença é quatro</p><p>vezes mais prevalente nos homens, e a raça também parece ser um fator. A incidência do CCE é muito maior nos afro‑</p><p>americanos em comparação com os caucasianos, mesmo após ajuste para o estado socioeconômico e uso de álcool e tabaco.</p><p>Mundialmente, partes do Oriente Médio, Ásia Central e China têm as taxas mais altas de CCE, após ajuste para o uso de</p><p>álcool e tabaco, indicando que poderá haver alguma predisposição genética ou outros fatores ambientais. O reconhecimento</p><p>da importância do vírus do papiloma humano (HPV) na patogênese do CCE em outros órgãos criou um interesse no seu</p><p>papel no CCE esofágico. Atualmente, parece que o CCE relacionado com o HPV representa apenas um pequeno subgrupo</p><p>do CCE esofágico. Para aqueles tumores que são relacionados com o HPV, as implicações clínicas da associação ao HPV não</p><p>são claras. O CCE está associado com certos distúrbios intrínsecos do esôfago, como a síndrome de Plummer‑Vinson e</p><p>acalasia. Outras síndromes de câncer hereditário associadas ao CCE esofágico incluem a tilose e a anemia de Fanconi. Os</p><p>pacientes com história de ingestão cáustica têm risco significativamente aumentado de CCE.</p><p>Durante os últimos 30 anos, a incidência de adenocarcinoma esofágico aumentou mais depressa que qualquer outro</p><p>câncer nos Estados Unidos. É agora o tipo histológico mais comum de câncer esofágico neste país. É ainda relativamente</p><p>raro entre afro‑americanos e americanos‑asiáticos. O adenocarcinoma geralmente surge no cenário de um esôfago de</p><p>Barreീ�. Em adição à DRGE, o tabagismo e a obesidade são fatores de risco para o adenocarcinoma. Tal como no CCE, há um</p><p>predomínio de homens. Também há formas familiares de esôfago de Barreീ� que aumentam o risco de adenocarcinoma.</p><p>O CCE pode aparecer em qualquer parte do esôfago, mas na maioria dos casos acontece no esôfago proximal e médio.</p><p>Em contraste, a maioria dos adenocarcinomas surge no esôfago distal ou na JGE. De acordo com as diretrizes do American</p><p>Joint Commi埾�ee on Cancer (AJCC) e da National Comprehensive Cancer Network, os adenocarcinomas da JGE são estadiados e</p><p>classificados como cânceres esofágicos, com exceção dos tumores Siewert III (tumores com um epicentro 2 a 5 cm abaixo da</p><p>JGE).19,20</p><p>A maioria dos cânceres esofágicos é sintomática no momento do diagnóstico. A disfagia é o sintoma mais comum na</p><p>apresentação, com 74% dos pacientes reportando dificuldade na deglutição.21 Com frequência, os pacientes irão reportar</p><p>disfagia progressiva, começando com um episódio inicial após ingestão de um alimento sólido. Após o episódio inicial de</p><p>disfagia, muitos pacientes irão adaptar‑se mastigando de forma mais meticulosa, evitando comidas mais duras ou</p><p>ingerindo líquido com a deglutição. Assim, apenas depois de a disfagia se agravar significativamente procuram atenção</p><p>médica, ponto no qual a maioria tem perda de peso. Muitos pacientes com adenocarcinoma irão confirmar uma longa</p><p>história de sintomas de refluxo, incluindo azia e regurgitação. Outros achados associados podem incluir fadiga, dor</p><p>retroesternal e anemia. Os tumores localmente avançados podem se manifestar com envolvimento do nervo laríngeo,</p><p>causando rouquidão ou fístula traqueoesofágica. Deve ser realizado um exame físico cuidadoso com particular atenção a</p><p>nódulos linfáticos cervicais e supraclaviculares. Os tumores em estágios iniciais são com frequência assintomáticos e são por</p><p>vezes descobertos durante a endoscopia realizada pelo esôfago de Barreീ�.</p><p>Diagnóstico e Estadiamento</p><p>O trânsito baritado pode demonstrar estenose irregular ou ulceração (Fig. 41‑12). O defeito clássico de preenchimento em</p><p>“apple‑core” só é visto se a estenose for simétrica e circunferencial. Pelo contrário, muitas vezes há uma convexidade</p><p>assimétrica com aparência infiltrativa.</p><p>FIGURA 4112 Trânsito esofágico baritado demonstrando um carcinoma avançado com estreitamento abrupto e</p><p>irregular no esôfago distal, com dilatação mais proximal e nível hidroaéreo.</p><p>O diagnóstico de câncer esofágico</p><p>é quase sempre feito por biópsia endoscópica. A endoscopia deve ser feita em qualquer</p><p>paciente com disfagia, mesmo que o trânsito baritado seja sugestivo de um distúrbio da motilidade. Classicamente, os</p><p>cânceres esofágicos aparecem como massas friáveis e ulceradas, mas a aparência endoscópica pode ser variada. Os tumores</p><p>em fase precoce podem aparecer como ulcerações ou pequenos nódulos. Tumores mais avançados têm maior probabilidade</p><p>de serem massas friáveis, mas podem também aparecer como estenoses ou ulcerações. Em muitos casos, o endoscopista</p><p>inicial pode não reconhecer a presença de câncer e uma biópsia única pode não ser diagnóstica. Por isso, devem ser</p><p>realizadas múltiplas biópsias se há lesões suspeitas. Durante a endoscopia, deve ser anotada a localização do tumor</p><p>relativamente aos incisivos e à JGE, assim como a extensão do tumor e grau de obstrução. Devem também ser anotadas a</p><p>extensão mais proximal do tumor e a extensão circunferencial de qualquer esôfago de Barreീ�, de acordo com os critérios de</p><p>Praga. Para pequenos tumores ou nódulos, um endoscopista experiente deve realizar uma ressecção endoscópica da</p><p>mucosa (REM) para obter uma amostra que avalie com precisão a profundidade da invasão.</p><p>Assim que um diagnóstico de câncer esofágico é feito, é essencial o correto estadiamento para guiar o tratamento</p><p>apropriado e prever o prognóstico. A sétima e mais recente edição do sistema de estadiamento do AJCC reconheceu as</p><p>diferenças na biologia do adenocarcinoma e do CCE criando grupos de estadiamento separados para os dois tipos</p><p>histológicos (Tabelas 41‑5 a 41‑7). Essa edição classifica os tumores da JGE como câncer esofágico desde que o epicentro do</p><p>tumor esteja dentro de 5 cm da JGE. A localização do tumor também afeta o estadiamento para o CCE, mas não para o</p><p>adenocarcinoma (Fig. 41‑13). O esôfago cervical começa na hipofaringe e estende‑se até a abertura torácica superior, que</p><p>está ao nível da incisura jugular do esterno. Na endoscopia, isso corresponde a aproximadamente 15 a 20 cm a partir dos</p><p>incisivos. O esôfago torácico superior começa na abertura torácica e estende‑se até a veia ázigos. Isso fica a cerca de 20 a</p><p>25 cm dos incisivos. Os tumores mediotorácicos aparecem entre a margem inferior da veia ázigos e a veia pulmonar</p><p>inferior. Esta localiza‑se aproximadamente a 25 a 30 cm dos incisivos. Os tumores inferiores aparecem distalmente à</p><p>margem inferior da veia pulmonar inferior até a JGE. Isso fica geralmente a mais de 30 cm dos incisivos. O grau do tumor é</p><p>incluído no estadiamento para tumores em fases mais iniciais.</p><p>Tabela 415</p><p>Estadiamento do Carcinoma Esofágico</p><p>TUMOR PRIMÁRIO (T)</p><p>TX Tumor não pode ser avaliado</p><p>T0 Sem evidência de tumor</p><p>Tis Displasia de alto grau</p><p>T1 Tumor invade a muscular da mucosa (T1a) ou submucosa (T1b)</p><p>T2 Tumor invade até a muscular própria mas não depois desta</p><p>T3 Tumor invade a adventícia</p><p>T4a Tumor invade estruturas adjacentes que são geralmente ressecáveis (diafragma e pericárdio)</p><p>T4b Tumor invade estruturas não ressecáveis</p><p>Nódulos Linfáticos Regionais (N)</p><p>NX Nódulos linfáticos regionais não podem ser avaliados</p><p>N0 Sem metástases nos nódulos linfáticos regionais</p><p>N1 Metástases em 1 a 2 nódulos linfáticos regionais</p><p>N2 Metástases em 3 a 6 nódulos linfáticos regionais</p><p>N3 Metástases em ≥ 7 nódulos linfáticos regionais</p><p>Metástases a Distância (M)</p><p>M0 Sem metástases a distância</p><p>M1 Metástases a distância</p><p>Grau Histológico</p><p>GX Grau não pode ser avaliado – grupo de estadiamento G1</p><p>G1 Bem diferenciado</p><p>G2 Moderadamente diferenciado</p><p>G3 Mal diferenciado</p><p>G4 Não diferenciado – grupo de estadiamento G3 escamoso</p><p>Tabela 416</p><p>Grupos de Estadiamento para o Adenocarcinoma Esofágico</p><p>ESTÁGIO T N M G</p><p>0 DAG 0 0 1</p><p>IA 1 0 0 1‑2</p><p>IB 1 0 0 3</p><p>2 0 0 1‑2</p><p>IIA 2 0 0 3</p><p>IIB 3 0 0 Qualquer</p><p>1‑2 1 0 Qualquer</p><p>IIIA 1‑2 2 0 Qualquer</p><p>3 1 0 Qualquer</p><p>4a 0 0 Qualquer</p><p>IIIB 3 2 0 Qualquer</p><p>IIIC 4a 1‑2 0 Qualquer</p><p>4b Qualquer 0 Qualquer</p><p>Qualquer 3 0 Qualquer</p><p>IV Qualquer Qualquer 1 Qualquer</p><p>T, estado do tumor; N, estado dos nódulos linfáticos; M, metástases; G, grau; DAG, displasia de alto grau.</p><p>De Edge S, Byrd DR, Compton CR, et al, editors: AJCC cancer staging manual, ed 7, New York, 2010, Springer‑Verlag.</p><p>Tabela 417</p><p>Grupos de Estadiamento para o Carcinoma de Células Escamosas Esofágico</p><p>ESTÁGIO T N M G LOCALIZAÇÃO</p><p>0 DAG 0 0 1 Qualquer</p><p>IA 1 0 0 1 Qualquer</p><p>IB 1 0 0 2‑3 Qualquer</p><p>2‑3 0 0 1 Inferior</p><p>IIA 2‑3 0 0 1 Superior, média</p><p>2‑3 0 0 2‑3 Inferior</p><p>IIB 2‑3 0 0 Superior, média</p><p>1‑2 1 0 Qualquer Qualquer</p><p>IIIA 1‑2 2 0 Qualquer Qualquer</p><p>3 1 0 Qualquer Qualquer</p><p>4a 0 0 Qualquer Qualquer</p><p>IIIB 3 2 0 Qualquer Qualquer</p><p>IIIC 4a 1‑2 0 Qualquer Qualquer</p><p>4b Qualquer 0 Qualquer Qualquer</p><p>Qualquer 3 0 Qualquer Qualquer</p><p>IV Qualquer Qualquer 1 Qualquer Qualquer</p><p>T, estado do tumor; N, estado dos nódulos linfáticos; M, metástases; G, grau; DAG, displasia de alto grau.</p><p>De Edge S, Byrd DR, Compton CR, et al, editors: AJCC cancer staging manual, ed 7, New York, 2010, Springer‑Verlag.</p><p>FIGURA 4113 Regiões do esôfago. O esôfago cervical estendese do esfíncter esofágico superior até a</p><p>abertura torácica superior. O esôfago torácico superior estendese da abertura torácica superior até a veia ázigos.</p><p>O esôfago mediotorácico estendese da margem inferior da veia ázigos até a veia pulmonar inferior. O esôfago</p><p>torácico inferior estendese da margem inferior da veia pulmonar inferior até a junção gastroesofágica.</p><p>Outra alteração importante no sistema de estadiamento foi nos nódulos linfáticos. O sistema anterior classificava os</p><p>nódulos celíacos como metastáticos (M1a) para tumores do esôfago inferior, enquanto os nódulos cervicais eram</p><p>considerados M1a para tumores do esôfago torácico superior. No sistema atual, todos estes nódulos são considerados</p><p>regionais independentemente da localização do tumor primário. Além disso, o estadiamento dos nódulos é baseado no</p><p>número total de nódulos envolvidos.</p><p>A profundidade da invasão do tumor define o estágio T (Fig. 41‑14). Displasia de alto grau engloba todo o epitélio</p><p>neoplásico não invasivo que era previamente classificado como carcinoma in situ. Os tumores T1a invadem a muscular da</p><p>mucosa, enquanto os tumores T1b invadem a submucosa. Os tumores T2 invadem a muscular própria e os T3 invadem a</p><p>adventícia, mas não as estruturas circundantes. Os tumores T4a invadem estruturas adjacentes que são geralmente</p><p>ressecáveis (diafragma e pericárdio). Os T4b invadem estruturas adjacentes que são normalmente não ressecáveis (traqueia</p><p>e aorta).</p><p>FIGURA 4114 Classificação tumoral para o carcinoma esofágico definida pela profundidade de invasão. DAG,</p><p>displasia de alto grau.</p><p>Lesões superficiais e pequenas que são avaliadas por um endoscopista experiente podem ser ressecadas por REM sem</p><p>estadiamento adicional. Neste cenário, a REM fornece um estadiamento adequado da profundidade da penetração (estágio</p><p>T) e fornece informação adicional sobre o risco de metástase nodular. O ultrassom endoscópico (USE) tem menor precisão</p><p>para a doença superficial e raramente evitará a necessidade de REM.22,23 Para tumores T1a ressecados por REM, o risco de</p><p>metástases para nódulos linfáticos é muito baixo e não são necessários estudos adicionais para estadiamento.</p><p>A maioria dos tumores, no entanto, irá se manifestar como lesões maiores. Para estes, recomendamos estadiamento</p><p>adicional com TC contrastada do tórax e abdome e tomografia de emissão de pósitrons (PET)/CT para avaliar doença</p><p>metastática distante. Se não houver evidência de doença metastática a distância, deve ser realizado o USE para avaliar o</p><p>estágio T e nódulos linfáticos regionais. A obtenção de PET/CT antes do USE tem várias vantagens. A PET/CT pode</p><p>demonstrar doença metastática a distância, eliminando a necessidade</p><p>de o paciente ser submetido a USE. A PET/CT pode</p><p>também identificar um nódulo linfático suspeito, que pode ser examinado especificamente e a amostra retirada durante o</p><p>procedimento do USE (Fig. 41‑15). O USE é superior à TC ou PET tanto para avaliação de estágio T quanto para o de N. É</p><p>altamente preciso para estado nodular celíaco, com sensibilidade de 85% e especificidade de 96%.24 A precisão é levemente</p><p>inferior para outros nódulos linfáticos regionais, porque é muitas vezes impossível biopsiar nódulos peritumorais sem</p><p>atravessar o tumor. Lesões obstrutivas podem impedir a avaliação por USE. Nestes casos, a dilatação para realizar o USE</p><p>está associada a risco de perfuração. Estes riscos devem ser pesados contra os benefícios de obter informação adicional para</p><p>o estadiamento. A maioria dos tumores com estenoses assim tão apertadas é localmente avançada e deve provavelmente ser</p><p>tratada com terapia multimodal. Embora o USE forneça informação sobre a invasão de estruturas adjacentes, deve também</p><p>ser realizada broncoscopia em tumores acima da carina, de modo a avaliar invasão traqueal direta.</p><p>FIGURA 4115 Imagem de PET/TC transaxial fundida demonstrando atividade FDG aumentada em um tumor</p><p>da junção gastroesofágica e linfadenopatia celíaca.</p><p>O estadiamento apropriado é crucial para as decisões sobre o tratamento. Os tumores superficiais T1a podem geralmente</p><p>ser tratados com REM. Tumores localmente avançados (tumores T3 ou T2 com envolvimento nodular) requerem terapia</p><p>multimodal. Doença em estágio IV requer terapia sistêmica ou paliativa. Sem o estadiamento preciso, os pacientes têm</p><p>probabilidade de ser sub ou supertratados, levando a menor sobrevivência e qualidade de vida.</p><p>Tumores Benignos do Esôfago</p><p>Os tumores benignos do esôfago são menos comuns que o câncer do esôfago. Dentro das lesões benignas, os tumores da</p><p>submucosa e da muscular própria ocorrem com maior frequência do que os tumores da mucosa. A maioria destas lesões é</p><p>assintomática e identificada acidentalmente por endoscopia. O trânsito baritado demonstra caracteristicamente um defeito</p><p>regular no lúmen.</p><p>Os tumores benignos da mucosa incluem tumores de células granulares e pólipos fibrovasculares. Os tumores de células</p><p>granulares podem ser encontrados em uma variedade de locais, incluindo a pele, trato respiratório, trato gastrointestinal,</p><p>mama e língua. Dentro do trato gastrointestinal, o terço distal do esôfago é a localização mais comum. Aparecem como</p><p>protuberâncias com mucosa de aparência normal. Até 11% dos pacientes podem ter lesões múltiplas.25No USE, as lesões</p><p>têm normalmente margens regulares e surgem na primeira e segunda camadas ecográficas. Uma vez que estas lesões são</p><p>geralmente cobertas por uma camada de epitélio escamoso normal, as biópsias padrão podem não ser diagnósticas.</p><p>Biópsias profundas irão revelar grânulos eosinofílicos. Os tumores coram positivamente com S100 e foi proposto que</p><p>derivem de células de Schwann. Os tumores de células granulares são majoritariamente lesões benignas, com apenas 1% a</p><p>2% tendo sido descritas como malignas. Características atípicas no USE, tamanho grande (> 2 cm) e presença de sintomas</p><p>são indicações razoáveis para a excisão. A ressecção endoscópica é uma ferramenta útil para estas lesões quando o</p><p>diagnóstico é questionável e para lesões inferiores a 3 cm.26</p><p>Os pólipos fibrovasculares são um grupo heterogêneo de tumores de tecidos moles encontrados frequentemente no</p><p>esôfago cervical no cricofaríngeo ou perto deste. Parecem cilíndricos ou alongados, com um pedículo. Os sintomas são</p><p>raros, mas os tumores grandes podem causar disfagia e alguns podem até fazer prolapso para a hipofaringe, causando</p><p>obstrução da via aérea. Mesmo os tumores grandes podem, em geral, ser ressecados endoscopicamente após se assegurar a</p><p>via aérea.</p><p>Os papilomas escamosos ocorrem com mais regularidade no esôfago distal e estão geralmente associados a alguma</p><p>inflamação subjacente. Aparecem como projeções exofíticas sem cor. É necessária a excisão completa para excluir</p><p>carcinoma, que em geral pode ser feita endoscopicamente.27</p><p>Os tumores benignos da submucosa incluem lipomas, hemangiomas e tumores neurais. Os lipomas têm uma</p><p>característica aparência homogênea, hiperecoica e regular no USE. Os sintomas são raros mesmo com tumores grandes. A</p><p>ressecção raramente é necessária. Os hemangiomas aparecem normalmente como um nódulo roxo ou avermelhado. O USE</p><p>irá demonstrar uma massa submucosa regular e hipoecoica. A maioria é assintomática. As lesões que causam disfagia ou</p><p>hemorragia podem, em geral, ser tratadas endoscopicamente. Os tumores neurais incluindo os neurofibromas e</p><p>schwannomas são raros no esôfago. A maioria é benigna, com uma mão cheia de relatos de schwannoma esofágico</p><p>maligno.28 Os tumores sintomáticos podem geralmente ser ressecados por enucleação. Tumores grandes podem necessitar</p><p>de esofagectomia.</p><p>Os leiomiomas são os tumores benignos mais comuns do esôfago. Têm uma predominância de 2:1 no sexo masculino.</p><p>Embora sejam geralmente assintomáticos, os tumores grandes podem causar disfagia ou desconforto (Fig. 41‑16). Os</p><p>tumores aparecem na muscular própria e são geralmente encontrados no esôfago médio a distal. Como a maioria dos</p><p>outros tumores benignos do esôfago, irão demonstrar um defeito de preenchimento regular no trânsito baritado. A</p><p>aparência endoscópica é uma protrusão redonda para o lúmen do esôfago, com mucosa regular e normal. No USE, os</p><p>leiomiomas são hipoecoicos, têm margens regulares e surgem a partir da muscular da mucosa, submucosa ou muscular</p><p>própria. Lesões pequenas e assintomáticas com esta aparência podem ser observadas com segurança sem biópsia. Lesões</p><p>sintomáticas podem ser enucleadas e mesmo lesões grandes podem geralmente ser removidas com uma abordagem</p><p>minimamente invasiva.29 Deve‑se ter em mente o diagnóstico diferencial de um tumor submucoso regular maior, incluindo</p><p>leiomiossarcoma, tumor estromal gastrointestinal (GIST) e leiomioma.</p><p>FIGURA 4116 Imagem de TC de um leiomioma de 8 cm que estava causando disfagia. A lesão foi enucleada</p><p>toracoscopicamente, resolvendo a disfagia do paciente.</p><p>Outros Tumores Malignos do Esôfago</p><p>Embora o CCE e o adenocarcinoma representem a maioria dos cânceres esofágicos, pode ser encontrada uma variedade de</p><p>outros tipos histológicos malignos. O carcinoma de pequenas células do esôfago representa 0,6% dos cânceres</p><p>esofágicos.30 Estes tumores têm o mesmo fenótipo agressivo e aparência histológica de outros cânceres neuroendócrinos</p><p>mal diferenciados. Os tumores manifestam‑se normalmente em um estágio avançado, mas a sobrevida específica para cada</p><p>estágio pode ser comparável à dos carcinomas esofágicos de células não pequenas. A sobrevida em longo prazo é possível</p><p>com tumores em estágios mais precoces tratados com cirurgia. O tratamento neoadjuvante parece também melhorar a</p><p>sobrevida.</p><p>O melanoma primário do esôfago é ainda mais raro que o carcinoma de pequenas células, sendo responsável por 0,1% a</p><p>0,2% das neoplasias malignas do esôfago.31 De modo semelhante ao carcinoma de pequenas células, a maioria dos tumores</p><p>manifesta‑se em um estágio tardio e o prognóstico é geralmente ruim.</p><p>Os GIST e sarcomas do esôfago são muito menos comuns que os leiomiomas benignos. Os GIST têm aparência</p><p>semelhante aos leiomiomas, mas podem ser distinguidos histologicamente por corarem positivamente com CD117. Embora</p><p>os leiomiossarcomas bem diferenciados possam ser difíceis de distinguir dos leiomiomas, os sarcomas de maior grau</p><p>muitas vezes rompem pela mucosa e irão aparecer como uma massa ulcerada ou exofítica na endoscopia. O USE pode</p><p>mostrar margens irregulares ou uma aparência heterogênea que é incaracterística</p><p>do leiomioma. A ressecção local de</p><p>pequenos GIST pode ser razoável se puderem ser atingidas margens negativas, mas devido à propensão dos tumores de</p><p>recidivarem localmente, deve ser realizada uma esofagectomia formal nos tumores maiores.32 Deve ser considerado o</p><p>imatinibe para qualquer GIST maior que 3 cm ou com características de alto risco. O imatinibe pode também ser</p><p>considerado em um cenário neoadjuvante para tumores localmente avançados. Em geral, a esofagectomia é o tratamento de</p><p>escolha para os leiomiossarcomas. Outros sarcomas do esôfago foram reportados, mas são muito mais raros. Metástases</p><p>para os nódulos linfáticos são um evento raro nestes tumores mesenquimais.</p><p>Abordagem ao Câncer Esofágico em Estágio Inicial</p><p>Nos últimos dez anos, houve uma mudança significativa no modo como os cânceres esofágicos em fase inicial são</p><p>tratados.33 A melhoria da tecnologia endoscópica assim como um melhor entendimento da biologia dos tumores em estágio</p><p>inicial levou ao aumento do uso de terapias endoscópicas para o diagnóstico, estadiamento e tratamento dos cânceres</p><p>esofágicos em fase inicial. É provável que a cirurgia venha a desempenhar um papel menor para os cânceres superficiais à</p><p>medida que as terapias endoscópicas e ablativas continuem evoluindo e os biomarcadores de prognóstico sejam refinados.</p><p>Dada a natureza variável destes tratamentos, é essencial o cuidado multidisciplinar com cirurgiões, gastroenterologistas e</p><p>patologistas para permitir aos pacientes os melhores resultados em longo prazo.</p><p>Displasia de Alto Grau e Cânceres Superficiais</p><p>A displasia que surge no esôfago de Barreീ� caracteriza‑se por alterações citológicas malignas incluindo núcleos atípicos,</p><p>aumento das mitoses e falta de maturação da superfície. A displasia de alto grau distingue‑se da de baixo grau por</p><p>desarranjos citológicos e arquiteturais mais proeminentes. Desde que as células estejam confinadas ao epitélio sem invasão</p><p>da membrana basal, a patologia deve ser descrita como displasia independentemente do grau de anormalidade. Isso</p><p>engloba o que era previamente descrito como carcinoma in situ. Historicamente, a esofagectomia era muitas vezes</p><p>recomendada para pacientes com displasia de alto grau por uma série de razões. No passado, as biópsias endoscópicas</p><p>eram relativamente imprecisas, e até 50% dos pacientes submetidos a esofagectomia por displasia de alto grau tinham afinal</p><p>câncer invasivo na peça cirúrgica. Além disso, também não estavam disponíveis terapias para reverter ou parar a</p><p>progressão da displasia para câncer invasivo. Embora a esofagectomia tivesse taxas muito altas de cura para a displasia de</p><p>alto grau, também estava associada a morbidade significativa.</p><p>O supertratamento também foi uma preocupação. Apesar dos dados de que muitos pacientes com displasia de alto grau</p><p>acabam por ter câncer invasivo encontrado na esofagectomia, há evidência de outros grupos que reportam que apenas uma</p><p>minoria de pacientes com displasia de alto grau desenvolve câncer invasivo na endoscopia de seguimento.34 Parte do</p><p>conflito pode dever‑se à variação interobservador no diagnóstico de displasia de alto grau contra adenocarcinoma invasivo</p><p>nas amostras de biópsia e a prática de busca diligente de câncer em algumas instituições. Quaisquer peças com displasia de</p><p>alto grau ou adenocarcinoma invasivo devem ser revistas por um patologista com experiência em esôfago de Barreീ� e</p><p>câncer esofágico. Em contraste com as altas taxas de desenvolvimento de câncer em pacientes com displasia de alto grau, a</p><p>incidência de câncer no esôfago de Barreീ� não displásico parece ser baixa. O maior estudo de vigilância endoscópica em</p><p>pacientes com esôfago de Barreീ� constatou que o risco anual de desenvolvimento de câncer era de 0,39% em pacientes sem</p><p>displasia contra 0,77% em pacientes com displasia de baixo grau.35</p><p>O protocolo de biópsia de Seaീ�le é ainda amplamente aceito para mapear o esôfago de Barreീ� com displasia de alto grau.</p><p>Este envolve biópsias em quatro quadrantes em intervalos de 1 cm ao longo de todo o comprimento do esôfago de Barreീ�</p><p>em adição a biópsias dirigidas a lesões visíveis. As técnicas de imagem endoscópicas emergentes aumentam a sensibilidade</p><p>para a detecção de displasia. Muitos centros de especialidade usam rotineiramente endoscopia de alta resolução e alguma</p><p>forma de cromoendoscopia ou cromoendoscopia simulada, como a imagem de banda estreita (Olympus), para avaliar o</p><p>esôfago de Barreീ�. A imagem de banda estreita usa filtros de luz para permitir comprimentos de onda de luz mais estreitos.</p><p>Os comprimentos de onda penetram apenas superficialmente e são bem absorvidos pela hemoglobina, revelando melhor os</p><p>padrões vasculares irregulares da mucosa (Fig. 41‑17). Tecnologias adicionais incluem endoscopia com autofluorescência,</p><p>endomicroscopia confocal e tomografia de coerência óptica. Estas técnicas prometem ainda maior resolução, mas requerem</p><p>treino e equipamento mais especializados quando comparadas com a tecnologia relativamente de fácil uso da endoscopia</p><p>de alta resolução e imagem de banda estreita.</p><p>FIGURA 4117 Visão tradicional com luz branca de um esôfago de Barrett com displasia de alto grau</p><p>(esquerda) e imagem de banda estreita da mesma área (direita).</p><p>Terapia</p><p>Ablação</p><p>Têm sido desenvolvidas várias técnicas endoscópicas de ablação e ressecção que suplantaram amplamente o papel da</p><p>esofagectomia na displasia de alto grau. A tecnologia mais comumente usada hoje em dia é a ablação por radiofrequência</p><p>(ARF). A ARF é muito mais eficaz do que a terapia fotodinâmica, com uma menor taxa de estenose (e complicações no</p><p>global). A ARF pode ser administrada com um balão circunferencial ou uma placa elétrica, usando um eletrodo bipolar que</p><p>transmite energia de radiofrequência, que gera calor e destrói o tecido superficial. A mucosa tratada é substituída por</p><p>mucosa neoescamosa. O programa de ablação padrão usa dois pulsos duplos de 12 J/cm2. O balão é então reposicionado</p><p>distalmente, e o procedimento é repetido até que todo o segmento do esôfago de Barreീ� esteja tratado. Se houver áreas de</p><p>esôfago de Barreീ� residual na endoscopia de seguimento, estes segmentos podem ser tratados com mais ablação focal.</p><p>Múltiplos estudos demonstraram a efetividade da ARF para erradicar o esôfago de Barreീ� e a displasia. No ensaio</p><p>Ablation of Intestinal Metaplasia (AIM‑II), 81% dos pacientes com displasia de alto grau e 90% daqueles com displasia de</p><p>baixo grau tiveram erradicação da displasia.36 Apenas 4% dos pacientes viram a sua displasia progredir para um maior</p><p>grau ou para câncer. Em um ensaio europeu multicêntrico de 136 pacientes distribuídos aleatoriamente por ARF contra</p><p>vigilância, 1,5% dos pacientes tratados com ablação progrediram para câncer contra 8,8% no braço da vigilância.37 A ARF</p><p>foi capaz de erradicar a displasia em 93% dos pacientes.</p><p>Crioterapia</p><p>A crioterapia é uma técnica ablativa alternativa que usa o frio extremo em vez de calor para destruir o tecido. Não houve</p><p>comparações diretas entre a crioterapia e a ARF, mas relatos indicam eficácia semelhante à ARF.38 A crioterapia é</p><p>geralmente bem tolerada, com pouca dor e baixas taxas de estenose. Uma vantagem da crioterapia em relação à ARF é que a</p><p>primeira não requer uma sonda em contato direto com o tecido. No entanto, é necessário um tubo de descompressão para</p><p>prevenir a superdistensão do estômago e intestino com gás.</p><p>Independentemente de qual a técnica de ablação usada, os pacientes devem ser submetidos a vigilância frequente e</p><p>supressão ácida em longo prazo após a ablação. Deve‑se repetir a endoscopia três meses após a terapia ablativa,</p><p>preferivelmente com endoscopia de alta resolução e alguma forma de cromoendoscopia. Muitos pacientes irão precisar de</p><p>mais de uma sessão de ablação</p><p>para erradicar todo o esôfago de Barreീ�. Há também um pequeno risco de áreas de epitélio</p><p>de Barret poderem estar escondidas por baixo de áreas de epitélio escamoso novo, conhecidas como glândulas enterradas.</p><p>Pode surgir malignidade destas áreas, e estes cânceres podem ser mais difíceis de identificar durante a endoscopia. O</p><p>significado clínico desse fenômeno é desconhecido e a incidência de malignidade que se desenvolve a partir destas áreas</p><p>escondidas parece ser muito baixa.39 Ainda assim, as potenciais implicações da erradicação incompleta não reconhecida</p><p>justificam vigilância subsequente dos pacientes submetidos a ablação. Após a erradicação do esôfago, pode também ser</p><p>considerada uma fundoplicatura para tratamento do refluxo, embora os estudos não tenham demonstrado conclusivamente</p><p>a efetividade da cirurgia antirrefluxo para prevenção do câncer esofágico.</p><p>Ressecção mucosa endoscópica</p><p>Uma limitação das terapias de ablação é a limitada profundidade de penetração. Outra desvantagem é a falta de análise</p><p>patológica definitiva. Assim, os pacientes com esôfago de Barreീ� nodular ou elevado ou outras anomalias sugestivas de</p><p>câncer invasivo superficial devem ser submetidos a REM em vez de ablação. A REM permite obter peças maiores para</p><p>determinar com precisão a profundidade da invasão. A REM resseca toda a espessura da mucosa, até a submucosa (Fig. 41‑</p><p>18). Por isso, é uma boa opção terapêutica para lesões superficiais com baixo risco de metástase para os nódulos linfáticos.</p><p>Dependendo do tamanho da lesão, grau de diferenciação e invasão linfovascular, o risco global de metástases nodulares</p><p>para as lesões confinadas à mucosa (T1a) varia de menos de 2% a mais de 15% (Tabela 41‑8).40 Para lesões T1a selecionadas,</p><p>a REM é altamente eficaz (Fig. 41‑19).41 Embora a REM possa tecnicamente remover lesões envolvendo a submucosa (T1b),</p><p>o risco de invasão de nódulos linfáticos aumenta com a profundidade de invasão da submucosa. Por isso, a REM não é</p><p>geralmente considerada adequada para tumores que envolvem a submucosa. As lesões que envolvem apenas o terço mais</p><p>superficial da submucosa (SM1) têm taxas relativamente baixas de metástase para os nódulos, reportadas normalmente</p><p>como sendo menos de 30%. Por outro lado, lesões envolvendo o terço mais profundo da submucosa (SM3) podem ter</p><p>envolvimento nodular em mais de 50% dos casos.42 Os cânceres T1b com histologia de células escamosas também parecem</p><p>ter maior risco de metástases nodulares quando comparados com o adenocarcinoma (45% versus 26%).43 É essencial uma</p><p>avaliação patológica rigorosa e precisa para formular o plano de tratamento. Em pacientes maus candidatos para cirurgia, a</p><p>REM de adenocarcinomas da SM1 com características de baixo risco pode ser uma opção de tratamento razoável. De igual</p><p>modo, em bons candidatos cirúrgicos, a esofagectomia é uma opção razoável para lesões T1a com características de alto</p><p>risco. O USE tem baixa precisão para avaliar o estágio T de tumores superficiais, pelo que os pacientes com suspeita de</p><p>lesões T1 devem ser submetidos a uma REM realizada por um endoscopista qualificado para obter um estadiamento</p><p>preciso. As complicações da REM incluem hemorragia, estenose, dor e perfuração. O risco de estenose é maior para</p><p>pacientes que requerem uma ressecção circunferencial. Embora a REM possa ser realizada em todo o segmento do esôfago</p><p>de Barreീ�, as taxas de complicação são menores se a REM se concentrar em áreas específicas em combinação com ablação</p><p>para o esôfago de Barreീ� residual.</p><p>FIGURA 4118 Um adenocarcinoma superficial T1a aparecendo no cenário de um esôfago de Barrett</p><p>(esquerda) e defeito submucoso após ressecção endoscópica da mucosa (direita).</p><p>Tabela 418</p><p>Nomograma para a Predição de Metástases nos Nódulos Linfáticos no Câncer Esofágico em Estágio</p><p>Inicial</p><p>VARIÁVEL PONTOS</p><p>Tamanho, por cm + 1 (por cm)</p><p>Profundidade</p><p>T1a + 0</p><p>T1b + 2</p><p>Diferenciação</p><p>Boa + 0</p><p>Moderada + 3</p><p>Má + 3</p><p>Invasão linfovascular + 6</p><p>CATEGORIA DE</p><p>RISCO PONTOS RISCO PREVISTO DE METÁSTASE PARA NÓDULOS LINFÁTICOS (%)</p><p>Baixo 0‑1 ≤ 2</p><p>Moderado 2‑4 3‑6</p><p>Alto 5+ ≥ 7</p><p>Adaptada de Lee L, Ronellenfitsch U, Hofsteീ�er WL, et al: Predicting lymph node metastases in early esophageal adenocarcinoma</p><p>using a simple scoring system. J Am Coll Surg 217:191–199, 2013.</p><p>FIGURA 4119 Curva de sobrevida dos pacientes submetidos a ressecção endoscópica da mucosa em um</p><p>adenocarcinoma esofágico superficial de baixo risco. (De Ell C, May A, Pech O, et al: Curative endoscopic resection of</p><p>early esophageal adenocarcinomas [Barrett’s cancer]. Gastrointest Endosc 65:3–10, 2007.)</p><p>A REM pode ser realizada com uma técnica de elevação da submucosa, que eleva a lesão alvo por meio da injeção de</p><p>fluido na submucosa por baixo da lesão. Isso permite que a lesão seja sugada mais facilmente, criando um pseudopólipo,</p><p>permitindo depois a ressecção com alça. Outra técnica usa a sucção para elevar a lesão, permitindo a colocação de uma</p><p>banda na base do pseudopólipo que é criado e usando depois uma alça para ressecar. Uma desvantagem da REM é que as</p><p>lesões maiores são normalmente removidas fragmentadas. Relatos descreveram a eficácia da dissecção endoscópica da</p><p>submucosa usando um bisturi‑agulha endoscópico, que permite maior dissecção submucosa e ressecção em bloco de lesões</p><p>maiores.44 A segurança desta técnica fora de alguns centros especializados é desconhecida.</p><p>A vigilância é um componente importante do tratamento de cânceres esofágicos superficiais. Os pacientes devem receber</p><p>terapia de supressão ácida com um IBP em alta dose para permitir a cicatrização dos locais de REM e ablação. Muitos</p><p>pacientes necessitam de múltiplos procedimentos para erradicar completamente o epitélio de Barreീ�. Deve ser feita uma</p><p>endoscopia de seguimento três meses após o tratamento endoscópico estar completo. Qualquer epitélio de Barreീ� residual</p><p>pode ter ablação focal nesta fase. Devem ser feitas endoscopias de seguimento frequentes (i.e., a cada três meses) no</p><p>primeiro ano após tratamento endoscópico de displasia de alto grau ou câncer intramucoso, momento a partir do qual a</p><p>frequência da endoscopia de vigilância pode ser espaçada. Para lesões superficiais tratadas endoscopicamente, a PET com</p><p>fluorodesoxiglicose (FDG) não tem valor.</p><p>Esofagectomia</p><p>O papel da esofagectomia como modalidade única de tratamento no câncer esofágico vem diminuindo. A maioria dos</p><p>tumores é descoberta depois de se desenvolverem sintomas, ponto no qual são em geral localmente avançados ou</p><p>metastáticos. Os tumores localmente avançados devem ser tratados com terapia multimodal. Os tumores assintomáticos são</p><p>geralmente encontrados durante a vigilância do esôfago de Barreീ�. Estes são normalmente superficiais e podem ser</p><p>tratados com REM, com menores taxas de complicações que a esofagectomia. Isso deixa um subgrupo relativamente</p><p>pequeno de tumores que são tratados de forma apropriada com cirurgia apenas. Como descrito antes, os tumores T1b têm</p><p>um risco significativo de metástase nodular e devem, em geral, ser tratados com esofagectomia. Lesões T1a de alto risco</p><p>(tumores maiores ou lesões com invasão linfovascular) podem também ser consideradas para esofagectomia. Lesões</p><p>multifocais extensas e tumores ulcerados podem também ser difíceis de erradicar endoscopicamente e serão candidatos</p><p>adequados para esofagectomia.</p><p>Uma área de controvérsia é o tratamento otimizado para tumores T2N0. Seria de esperar que a esofagectomia com</p><p>linfadenectomia adequada conferisse uma taxa global de sobrevida em cinco anos entre 40% e 65% para um câncer</p><p>patológico T2N0, dependendo da histologia, grau e localização do tumor.20 Infelizmente, um estágio clínico T2N0 não é</p><p>preciso na maioria dos casos e muitos pacientes acabam por</p><p>apresentar doença nodular positiva no exame patológico final</p><p>após a esofagectomia. Pacientes com T2N0 clínico foram incluídos no estudo CROSS, que comparou quimiorradiação</p><p>neoadjuvante seguida por cirurgia contra cirurgia isolada no câncer esofágico e da JGE. Embora o ensaio tenha</p><p>demonstrado benefício na sobrevida no ramo da quimiorradiação neoadjuvante, o pacientes com T2N0 clínico</p><p>representaram apenas um pequeno subgrupo da coorte e não é claro o quanto estes pacientes beneficiaram em</p><p>particular.45 É evidente que muitos pacientes com doença T2N0 clínica estão subestadiados, mas análises retrospectivas</p><p>indicam que pode não haver uma vantagem na sobrevida da terapia neoadjuvante neste grupo.46 Uma estratégia de</p><p>tratamento pode ser oferecer seletivamente terapia neoadjuvante a pacientes com doença T2N0 clínica com base em outros</p><p>fatores de alto risco, como tumores T2N0 longos. De modo semelhante, um número igual de pacientes com cT2N0 estão</p><p>superestadiados, pelo que o uso liberal de REM diagnóstica é apropriado.</p><p>O advento da REM também influencia o tipo de esofagectomia que deve ser feito no câncer esofágico em estágio inicial.</p><p>Devido ao potencial para menos complicações e melhores desfechos fisiológicos, a esofagectomia com poupança vagal foi</p><p>defendida por alguns para o adenocarcinoma intramucoso e displasia de alto grau. No entanto, a maior parte das lesões de</p><p>baixo risco são agora ressecadas por REM. Uma vez que não se faz linfadenectomia como parte da esofagectomia com</p><p>poupança vagal, não é apropriada para a maioria dos pacientes submetidos a cirurgia por lesões de maior risco. A</p><p>esofagectomia minimamente invasiva também é uma técnica que vem ganhando terreno. A sobrevida em longo prazo não</p><p>foi diretamente comparada de modo prospectivo com a da esofagectomia aberta, mas um ensaio pequeno e randomizado</p><p>reportou a redução de complicações pós‑operatórias com uma abordagem minimamente invasiva.36</p><p>Os pacientes têm opções crescentes para o tratamento dos cânceres esofágicos em estágio inicial. Os cuidados devem ser</p><p>individualizados para que os pacientes possam tomar decisões informadas, comparando a eficácia das terapias com os seus</p><p>riscos e impacto na qualidade de vida.</p><p>Câncer Esofágico Localmente Avançado</p><p>Apesar da sensibilização para a tendência crescente do adenocarcinoma esofágico e da detecção mais frequente de</p><p>adenocarcinomas esofágicos precoces em endoscopias de vigilância, a maioria dos pacientes com câncer esofágico ainda se</p><p>apresenta com doença localmente avançada ou metastática. Em geral, um câncer esofágico não é diagnosticado antes de os</p><p>pacientes sentirem disfagia, o que geralmente significa envolvimento tumoral transmural (T3). Neste cenário, a</p><p>probabilidade de metástases nos nódulos linfáticos atinge os 80%, pelo que a maioria dos pacientes se apresenta com</p><p>estágio T3N1‑3 clínico, de acordo com a sétima edição do estadiamento do câncer esofágico (AJCC). Deve‑se salientar que a</p><p>sétima edição deste estadiamento é baseada na peça de patologia de pacientes tratados com terapia cirúrgica isolada, e por</p><p>isso sua utilidade no cenário clínico pré‑tratamento em uma era de terapia multimodal é discutível. No entanto, em</p><p>comparação com a sexta edição, que agrupava todos os pacientes com doença nodular positiva no estágio N1, o</p><p>estadiamento atual reconheceu o valor prognóstico do número de gânglios metastáticos e agrupou os pacientes em três</p><p>categorias: N1 (um a três gânglios positivos), N2 (quatro a seis gânglios positivos) e N3 (sete ou mais gânglios positivos). A</p><p>localização anatômica da doença nodular regional em relação ao tumor primário já não é considerada um fator importante;</p><p>porém, na prática clínica, essa localização continua influenciando as decisões sobre o tratamento. Esta confusão deve‑se em</p><p>parte à falta de consenso e definição sobre quais locais representam doença metastática regional e quais representam a</p><p>mesma como distante. Na era da terapia multimodal e cirurgia seletiva, a definição rigorosa de câncer esofágico localmente</p><p>avançado é necessária para guiar as decisões terapêuticas antes do comprometimento com terapia locorregional agressiva</p><p>ou tratamento sistêmico.</p><p>Para o adenocarcinoma esofágico, a maioria localizada no esôfago distal ou JGE, consideramos que o alcance linfático</p><p>localizado na área do eixo celíaco até a região paratraqueal representa doença regional; a obtenção de nódulos localizados</p><p>fora destes limites é vista como doença distante. Para o CCE esofágico, que geralmente surge no esôfago médio ou</p><p>proximal, a linfadenopatia periesofágica cervical ainda é considerada doença regional. Mesmo tendo em conta que o</p><p>sistema atual de estadiamento considera a diferenciação do tumor, é sobretudo a carga de doença que dita as decisões sobre</p><p>a estratégia de tratamento e as decisões terapêuticas são mais bem discutidas em um cenário multidisciplinar.</p><p>Evolução e Princípios da Terapia Multimodal para o Carcinoma Esofágico Localmente Avançado</p><p>A ressecção cirúrgica do esôfago era o esteio do tratamento do câncer esofágico no passado. Porém, aprendemos que</p><p>mesmo as ressecções mais radicais com dissecções extensas dos nódulos linfáticos não são adequadas para curar a doença</p><p>locorregionalmente avançada na maioria dos casos. A recorrência distante ou doença metastática continua sendo a principal</p><p>causa de morte em pacientes com câncer esofágico.</p><p>Nosso conhecimento e o tratamento do câncer esofágico evoluíram significativamente nos últimos 100 anos. O</p><p>reconhecimento inicial de que um câncer esofágico localizado pode ser curado com ressecção cirúrgica data da primeira</p><p>esofagectomia bem‑sucedida, realizada por Franz Torek em 1913. Apesar dos maus resultados perioperatórios naquela</p><p>época, a cirurgia tornou‑se um complemento da radiação como tratamento de escolha para o câncer esofágico localizado, no</p><p>início do século XX. Com o tempo, ressecções esofágicas em bloco mais extensos e linfadenectomia tornaram‑se favoritas,</p><p>com a esperança de que a ressecção radical da doença resultasse em cura mais amiúde. No entanto, tal como na</p><p>mastectomia radical de Halstead, essa técnica falha na cura de pacientes destinados a morrer de doença metastática.</p><p>Atualmente, os aspectos técnicos da esofagectomia são ainda apaixonadamente debatidos à medida que os avanços</p><p>tecnológicos nos permitem realizar estes procedimentos de modo seguro, mesmo com técnicas menos invasivas ou</p><p>assistidas roboticamente. Do ponto de vista oncológico, porém, a terapia cirúrgica tem seus limites quanto ao que pode</p><p>contribuir para a taxa de cura do câncer esofágico. Além disso, continua havendo uma tremenda variabilidade na execução</p><p>da ressecção do esôfago entre diferentes cirurgiões, com uns favorecendo a abordagem transtorácica e outros a</p><p>transabdominal, com extensões variadas de dissecção de nódulos linfáticos. Essa falta de uniformização confunde a análise</p><p>dos resultados do tratamento do câncer esofágico.</p><p>O entendimento crescente da biologia do câncer levou ao desenvolvimento de estratégias de tratamento não cirúrgico</p><p>para neoplasias malignas de órgãos sólidos, incluindo o carcinoma esofágico. A quimioterapia foi combinada</p><p>concomitantemente com a radiação para melhorar a eficácia locorregional e potencialmente para efeito sistêmico. De modo</p><p>intuitivo, essa estratégia foca tanto a doença local quanto as micrometástases sistêmicas. A eficácia demonstrada deste</p><p>paradigma de tratamento estimulou subsequentemente o interesse em combinar cirurgia, radiação e quimioterapia para</p><p>maximizar o efeito do tratamento. A combinação destas modalidades de tratamento tornou‑se o foco de vários</p><p>ensaios</p><p>clínicos que investigam o papel e o melhor momento de cada método.</p><p>Modalidades de Tratamento Usadas no Câncer Esofágico Localmente Avançado</p><p>Radioterapia</p><p>A radiação foi usada como a primeira modalidade de tratamento para o câncer esofágico. Experiências iniciais</p><p>com bougies de rádio e radiação com feixe externo demonstraram regressão tumoral com respostas tumorais completas</p><p>ocasionais. Com a evolução dos cuidados cirúrgicos, a radioterapia tornou‑se parte de uma abordagem multidisciplinar ao</p><p>câncer esofágico com o objetivo de esterilizar áreas em volta ou no próprio campo cirúrgico. Ensaios randomizados iniciais</p><p>de radioterapia neoadjuvante administraram doses de 20 a 40 Gy antes da ressecção, na tentativa de diminuir a recorrência</p><p>local e melhorar a taxa de sobrevida. Com uma exceção, todos estes ensaios incluíram apenas pacientes com CCE e nenhum</p><p>demonstrou benefícios significativos da inclusão da radioterapia à ressecção.</p><p>Embora as menores doses de radiação (20 a 40 Gy) possam ter sido inadequadas, os clínicos estavam receosos de</p><p>combinar doses mais altas antes da cirurgia dado os riscos de toxicidade (note que a administração da radioterapia e as</p><p>partículas usadas eram muito diferentes no passado em comparação com as atuais). Não obstante, altas taxas de recorrência</p><p>locorregional após cirurgia levaram à consideração de radioterapia adjuvante para o câncer esofágico. A razão para essa</p><p>abordagem era a possibilidade de administrar doses maiores (40 a 60 Gy) de radiação pós‑operatoriamente sem agravar as</p><p>complicações perioperatórias. A radioterapia pós‑operatória para o câncer esofágico pareceu ser potencialmente benéfica</p><p>em vários ensaios, embora os dados sejam contraditórios e sujeitos a um viés de seleção.</p><p>Quimioterapia</p><p>A causa de morte do câncer esofágico é sobretudo devido à doença metastática. Intuitivamente, a quimioterapia sistêmica</p><p>tem o potencial para atacar os depósitos micrometastáticos. Mesmo no cenário de doença aparentemente localizada, esta,</p><p>em geral, diminui tumores marginalmente ressecáveis, permitindo melhores taxas de ressecção completas (R0) e diminui a</p><p>incidência de recorrência locorregional.47 O efeito sinérgico da quimioterapia com a radiação fortalece o argumento para o</p><p>seu uso. É importante notar que quando é administrada pré‑operatoriamente, a resposta biológica pode ser avaliada e</p><p>quantificada patologicamente quanto à histoviabilidade tumoral, e o grau desta resposta foi correlacionado como um</p><p>indicador de desfecho. Os esquemas de quimioterapia atuais são baseados em compostos de platina (cisplatina ou</p><p>carboplatina) em combinação com o 5‑fluorouracil ou taxanos duplicados. Em vários ensaios randomizados prospectivos,</p><p>investigadores compararam a quimioterapia seguida de cirurgia com cirurgia isolada tanto para adenocarcinoma esofágico</p><p>como para CCE (Tabela 41‑9).48 O estudo de referência de Roth. demonstrou sobrevidas médias mais longas em pacientes</p><p>com resposta maior ou completa à quimioterapia, o que destacou a diversidade biológica dos cânceres esofágicos e sua</p><p>diferente suscetibilidade à quimioterapia.49 Um dos maiores ensaios randomizados usando quimioterapia e cirurgia em</p><p>contraposição à cirurgia isolada em pacientes com câncer esofágico foi o North American Intergroup Trial (INT</p><p>0113).50 Esse estudo não demonstrou melhor sobrevida com quimioterapia seguida de cirurgia em relação à cirurgia isolada</p><p>em ambos os tipos histológicos. No entanto, o estadiamento e avaliação da resposta imprecisos e altas taxas de toxicidade</p><p>levando a uma baixa incidência cirúrgica confundem os resultados do estudo. Ao contrário do estudo INT 0113, um estudo</p><p>de fase 3 conduzido pelo Medical Research Council (MRC) no Reino Unido, que consistiu em quimioterapia seguida de</p><p>cirurgia em vez de cirurgia isolada em câncer esofágico localmente avançado demonstrou benefício na sobrevida com a</p><p>quimioterapia.51 Sendo o maior estudo do seu tipo, o estudo do MRC incluiu 802 pacientes randomizados para receber</p><p>quimioterapia e esofagectomia ou esofagectomia isolada. O benefício na sobrevida da quimioterapia persistiu durante um</p><p>seguimento médio de seis anos, com taxas de sobrevida em cinco anos de 23% com a quimioterapia seguida de cirurgia e</p><p>17% com a cirurgia isolada (P = 0,03). Tanto os pacientes com adenocarcinoma quanto com CCE tiveram benefício. Outro</p><p>ensaio comumente referido que demonstrou vantagem na sobrevida e melhor taxa de ressecção R0 da quimioterapia</p><p>neoadjuvante e cirurgia sobre a cirurgia isolada foi o MRC Adjuvant Gastric Infusional Chemotherapy (MAGIC) de</p><p>Cunningham.52 A maioria dos pacientes incluídos tinha carcinoma gástrico, com apenas um subgrupo apresentando</p><p>tumores esofágicos ou da JGE.</p><p>Tabela 419</p><p>Ensaios Randomizados Comparando Quimioterapia e Cirurgia versus Cirurgia Isolada</p><p>ENSAIO N HISTOLOGIA QUIMIOTERAPIA R0 (%) SOBREVIDA</p><p>MRC CCE, ADC Cisplatina, 5‑FU Média (meses)</p><p>CT 400 60 17</p><p>Sx 402 54 13</p><p>RTOG 8911 CCE, ADC Cisplatina, 5‑FU Média (meses)</p><p>CT 213 63 14,9</p><p>Sx 227 59 16,1</p><p>MAGIC ADC Epirrubicina, cisplatina, 5‑FU NA 5 anos (%)</p><p>CT 250 36*</p><p>Sx 253 23</p><p>FFCD ADC Cisplatina, 5‑FU 5 anos (%)</p><p>CT 113 84 38*</p><p>Sx 111 74 24</p><p>ADC, adenocarcinoma; CT, quimioterapia; 5FU, 5fluorouracil; CCE, carcinoma de células escamosas; Sx, cirurgia.</p><p>* P</p><p>ou adenocarcinoma esofágico podiam</p><p>ser curados apenas com a terapia bimodal. Para melhorar os resultados favoráveis observados no estudo RTOG 85‑01,</p><p>investigadores tentaram aumentar as taxas de controle da doença locorregional no ensaio subsequente, Intergroup</p><p>0123/RTOG 94‑05, modificando a intensidade da radioterapia para a alta dose de 64,8 Gy administrada concomitantemente</p><p>com a quimioterapia. Infelizmente, após um seguimento médio de 16 meses, as taxas de sobrevida e controle locorregional</p><p>da doença com a dose de radiação mais alta não diferiram significativamente daquelas do ensaio RTOG 85‑01, mas a</p><p>toxicidade e mortes relacionadas com o tratamento foram piores no grupo da radiação de alta dose. Esse estudo estabeleceu</p><p>que 50,4 Gy de radiação usada concomitantemente com a quimioterapia é tanto uma dose neoadjuvante como</p><p>potencialmente definitiva.56</p><p>Quimiorradioterapia e cirurgia</p><p>Quando usada de modo isolado, cada modalidade de tratamento do câncer tem suas limitações, que vão desde efeito</p><p>terapêutico inadequado até toxicidade excessiva. O efeito sinérgico da quimiorradioterapia combinada com a ressecção</p><p>cirúrgica maximiza as hipóteses de tratar efetivamente tanto a doença locorregional como potenciais metástases</p><p>indetectáveis (Tabela 41‑10). Os primeiros ensaios clínicos que testaram o paradigma do tratamento trimodal não</p><p>demonstraram uma vantagem na sobrevida em relação à cirurgia isolada. Muitos destes estudos tinham pouco poder e</p><p>misturaram CCE e adenocarcinoma, assim como diferentes esquemas de radiação e quimioterapia. Alguns ensaios tiveram</p><p>má aquisição de pacientes ou resultados cirúrgicos inconsistentes. O ensaio mais notável e frequentemente citado, que</p><p>comparou a quimiorradioterapia seguida de cirurgia com a cirurgia isolada no câncer esofágico e da JGE, foi</p><p>o Chemoradiotherapy for Oesophageal Cancer Followed by Surgery Study (CROSS).57 Este ensaio incluiu impressionantes 368</p><p>pacientes durante um período de quatro anos e 366 foram incluídos na análise final. O grupo da cirurgia isolada tinha 188</p><p>pacientes, enquanto 178 foram submetidos a quimiorradioterapia seguida de cirurgia. A maioria (75%) dos pacientes tinha</p><p>adenocarcinoma e 22% tinham CCE. O esquema de quimiorradioterapia consistiu em um curso de cinco semanas de</p><p>carboplatina e paclitaxel administrado concomitantemente com radioterapia em uma dose de 41,4 Gy, administrada em 23</p><p>frações, cinco dias por semana. A esofagectomia foi realizada dentro de quatro a seis semanas no grupo do tratamento e</p><p>imediatamente após a randomização no grupo‑controle. A ressecção completa (R0) foi maior no grupo trimodal que no</p><p>grupo da cirurgia isolada (92% contra 69%; P 0,05.</p><p>Adaptada de Cools‑Lartigue J, Spicer J, Ferri LE: Current status of management of malignant disease: Current management of</p><p>esophageal cancer. J Gastrointest Surg 19:964–972, 2015.</p><p>Papel da Cirurgia na Terapia Trimodal e Cirurgia de Resgate</p><p>Subsequentemente ao estudo CROSS, muitos centros ocidentais adotaram a terapia trimodal como o padrão para o</p><p>tratamento do carcinoma esofágico. Porém, este ensaio ainda deixou muitas questões por responder sobre a estratégia de</p><p>tratamento para o carcinoma esofágico locorregional. Apesar de observarmos que a quimiorradioterapia neoadjuvante</p><p>melhora a ressecção R0, as taxas de recorrência locorregional e os resultados nas respostas patológicas completas em muitos</p><p>pacientes, outros subgrupos de pacientes claramente não obtém benefício da terapia neoadjuvante em relação à cirurgia</p><p>isolada. Da mesma forma, pacientes que são “curados” com a quimiorradioterapia neoadjuvante não obtém benefício</p><p>adicional na sobrevida da extirpação cirúrgica adicional do esôfago. Atualmente, não conseguimos identificar estes grupos</p><p>de pacientes, devendo‑se procurar marcadores substitutos simples, reprodutíveis e validados que predigam o resultado do</p><p>tratamento. Até agora, apenas a resposta tumoral histopatológica após terapia neoadjuvante emergiu como preditor da</p><p>sobrevida em pacientes com câncer esofágico.58 A ressecção cirúrgica e avaliação da resposta tumoral histopatológica irá,</p><p>por isso, continuar desempenhando um papel no tratamento do câncer esofágico nos próximos anos.</p><p>Ainda assim, ambos os ensaios comparando quimioterapia pré‑operatória com quimiorradioterapia pré‑operatória não</p><p>conseguiram mostrar diferença significativa entre as duas abordagens (Tabela 41‑11).59,60 De fato, a metanálise mais recente,</p><p>que incluiu 24 ensaios e 4.188 pacientes, que se concentra na sobrevida após quimioterapia ou quimiorradioterapia</p><p>neoadjuvante para o carcinoma esofágico ressecável, forneceu evidência forte sobre o benefício na sobrevida da terapia</p><p>multimodal em relação a cirurgia isolada.61 O esquema pré‑operatório ideal está, no entanto, por ser determinado, não</p><p>tendo ainda sido demonstrado de forma clara o benefício da quimiorradioterapia neoadjuvante sobre a quimioterapia.</p><p>Tabela 4111</p><p>Ensaios Randomizados Comparando Quimiorradiação e Cirurgia versus Quimioterapia e Cirurgia</p><p>ENSAIO N HISTOLOGIA QUIMIOTERAPIA QUIMIORRADIOTERAPIA</p><p>PCR</p><p>(%)</p><p>R0</p><p>(%) SOBREVIDA</p><p>Stahl ADC Cisplatina, 5‑FU Indução: cisplatina, 5‑FU 3 anos (%)</p><p>CT‑RT 60 Concomitante: cisplatina,</p><p>etoposídeo (30 Gy)</p><p>15,6* 72 47,4</p><p>CT 59 2 69 27,7</p><p>Burmeister ADC Cisplatina, 5‑FU Cisplatina</p><p>5‑FU (35 Gy)</p><p>Média</p><p>(meses)</p><p>CT‑RT 39 31* 84,6 32</p><p>CT 36 8 80,5 29</p><p>ADC, adenocarcinoma; CT, quimioterapia;</p><p>5FU, 5fluorouracil; pCR, resposta patológica completa; RT, radioterapia.</p><p>* P</p><p>do esôfago ainda mal compreendido. De acordo com a classificação de Chicago,</p><p>seria agora denominado espasmo esofágico distal. Embora se manifeste de modo semelhante à acalasia, é cinco vezes</p><p>menos comum. É observado com mais frequência em mulheres e em pacientes com múltiplas queixas médicas. A causa da</p><p>fisiologia neuromuscular não é clara. A patologia básica está relacionada com uma anomalia motora do corpo do esôfago,</p><p>mais notável nos dois terços inferiores do esôfago. Foram observadas hipertrofia muscular e degeneração dos ramos do</p><p>nervo vago no esôfago. Como resultado, as contrações esofágicas são repetitivas, simultâneas e de grande amplitude.</p><p>A apresentação clínica do EED é normalmente com dor torácica e disfagia. Estes sintomas podem estar relacionados com</p><p>a ingestão alimentar ou esforço e podem mimetizar os da angina. Os pacientes irão queixar‑se de uma pressão ou aperto no</p><p>peito que pode irradiar para a mandíbula, membros superiores e dorso. Os sintomas são muitas vezes acentuados em</p><p>períodos de maior estresse emocional. É comum a regurgitação do conteúdo esofágico e saliva, mas não o refluxo ácido. No</p><p>entanto, o refluxo ácido pode agravar os sintomas, assim como os líquidos frios. Outras queixas gastrointestinais funcionais,</p><p>como a síndrome do intestino irritável ou espasmo pilórico, podem acompanhar o EED, enquanto outros problemas</p><p>gastrointestinais, como a litíase biliar, doença ulcerosa péptica e pancreatite, desencadeam o EED.</p><p>O diagnóstico de EED é feito por estudos radiográficos e manométricos. A imagem clássica do esôfago em saca‑rolha ou</p><p>pseudodiverticulose no trânsito esofágico é causada pela presença de contrações terciárias e indica doença avançada. Pode</p><p>também ser visto um estreitamento distal em bico de pássaro e peristaltismo normal. Os achados clássicos de EED na</p><p>manometria são contrações simultâneas com múltiplos picos de grande amplitude (> 120 mmHg) ou longa duração (> 2,5</p><p>segundos). Essas contrações erráticas ocorrem após mais de 10% de deglutições úmidas. Em decorrência das contrações</p><p>espontâneas e do peristaltismo normal intermitente, a manometria padrão pode não ser suficiente para identificar o EED. A</p><p>correlação das queixas subjetivas com a evidência do espasmo (induzido por um fármaco vagomimético, o betanecol) nos</p><p>traçados manométricos também é prova convincente desta doença caprichosa.</p><p>O tratamento do EED está longe do ideal, porque o alívio sintomático é, muitas vezes, apenas parcial. Atualmente, o pilar</p><p>do tratamento do EED é não cirúrgico, sendo preferida a intervenção farmacológica ou endoscópica. Todos os pacientes</p><p>devem ser avaliados quanto a patologias psiquiátricas, incluindo depressão, queixas psicossomáticas e ansiedade. O</p><p>controle destas doenças e a tranquilização sobre a natureza esofágica da dor torácica que o paciente está experimentando é</p><p>frequentemente terapêutica por si só. Se a disfagia for um componente dos sintomas, devem ser tomadas medidas para</p><p>eliminar da dieta os alimentos ou bebidas que a desencadeam. De modo similar, se existir refluxo ácido, são úteis os</p><p>fármacos para a supressão ácida. Os nitratos, bloqueadores dos canais de cálcio, sedativos e anticolinérgicos podem ser</p><p>eficazes em alguns casos, mas a eficácia relativa destes fármacos não é conhecida. A menta pode também fornecer alívio</p><p>sintomático temporário. A dilatação com balão do esôfago até 50 a 60 Fr alivia a disfagia grave e é eficaz em 70% a 80% dos</p><p>casos. As injeções de toxina botulínica também foram testadas com algum sucesso, mas os resultados não são sustentados.</p><p>A cirurgia está indicada em pacientes com dor torácica ou disfagia incapacitantes que não responderam aos tratamentos</p><p>médicos e endoscópicos ou na presença de um divertículo de pulsão do esôfago torácico. Realiza‑se uma esofagomiotomia</p><p>longa por meio de uma toracotomia esquerda ou por técnica assistida por vídeo pelo abdome ou lado esquerdo do tórax. A</p><p>manometria esofágica é uma ferramenta útil para guiar a extensão da miotomia. Alguns cirurgiões defendem estender a</p><p>miotomia superiormente até a entrada torácica, mas a maioria concorda que a extensão proximal deve ser suficientemente</p><p>alta para abranger todo o comprimento com motilidade anormal, determinado por medições manométricas. A extensão</p><p>distal da miotomia estende‑se inferiormente até o EEI, mas não existe acordo sobre a necessidade de incluir o estômago.</p><p>Uma fundoplicatura de Dor é recomendada para permitir proteção do refluxo, uma vez que a própria cirurgia interrompe o</p><p>ligamento frenoesofágico e facilita o refluxo. Os resultados da esofagomiotomia longa no EED são variáveis, mas tem sido</p><p>relatado que aliviam os sintomas em até 80% dos pacientes.</p><p>Esôfago em Quebranozes</p><p>Reconhecido no final da década de 1970 como entidade distinta e conhecido como esôfago hipercontrátil na classificação de</p><p>Chicago, o esôfago em quebra‑nozes ou britadeira é um distúrbio caracterizado por contratilidade excessiva. É descrito</p><p>como um esôfago com peristaltismo hipertensivo ou contrações peristálticas de grande amplitude. É visto em pacientes de</p><p>todas as idades, com igual predileção pelos gêneros e é o distúrbio esofágico de hipermotilidade mais comum. Como no</p><p>EED, o processo fisiopatológico não está bem esclarecido. Está associado a musculatura hipertrófica que resulta em</p><p>contrações de grande amplitude do esôfago e é o distúrbio da motilidade esofágica mais doloroso de todos.</p><p>Os pacientes com esôfago em quebra‑nozes apresentam‑se de modo semelhante àqueles com EED e queixam‑se com</p><p>frequência de dor torácica e disfagia. Pode também ser vista odinofagia, mas regurgitação e refluxo não são comuns. Um</p><p>trânsito esofágico pode ou não revelar anomalias, dependendo do “comportamento” do esôfago durante o exame. A</p><p>Classificação de Chicago caracteriza o diagnóstico de esôfago em quebra‑nozes como a queixa subjetiva de dor torácica com</p><p>pelo menos uma deglutição demonstrando uma contração distal maior que 8.000 mmHg/s/cm com contrações simples ou</p><p>de múltiplos picos na MAR. A pressão do EEI é normal e ocorre relaxamento com todas as deglutições úmidas (Fig. 41‑1). O</p><p>monitoramento ambulatorial pode ajudar a distinguir este distúrbio do EED, o que tem importância crítica, visto que um</p><p>subgrupo de pacientes com EED com disfagia pode beneficiar‑se com a esofagomiotomia, mas o efeito desta no esôfago em</p><p>quebra‑nozes é questionável.</p><p>FIGURA 411 Trânsito esofágico baritado de um espasmo esofágico difuso. (Adaptada de Peters JH, DeMeester TR:</p><p>Esophagus and diaphragmatic hernia. In Schwartz SI, Fischer JE, Spencer FC, et al, editors: Principles of surgery, ed 7, New York,</p><p>1998, McGrawHill.)</p><p>O tratamento do esôfago em quebra‑nozes é clínico. Bloqueadores dos canais de cálcio, nitratos e antiespasmódicos</p><p>podem fornecer alívio temporário durante os espasmos agudos. A dilatação com balão pode oferecer algum alívio</p><p>temporário nos desconfortos graves, mas não apresenta benefícios em longo prazo. Os pacientes com esôfago em quebra‑</p><p>nozes podem ter desencadeadores e são aconselhados a evitar cafeína e alimentos frios e quentes.</p><p>Distúrbios da Motilidade do Esfíncter Esofágico Inferior</p><p>Esfíncter Esofágico Inferior Hipertensivo</p><p>O EEI hipertensivo foi descrito pela primeira vez como uma entidade distinta por Code.2 De acordo com a Classificação de</p><p>Chicago, esta entidade foi renomeada como obstrução da saída da junção gastroesofágica (JGE) e é definida como uma</p><p>pressão de relaxamento média integrada superior a 15 mmHg (esfíncter hipertensivo, com mau relaxamento). Alguns</p><p>pensam tratar‑se de acalasia em evolução, mas o diagnóstico difere pela evidência de peristaltismo efetivo que não está</p><p>presente na acalasia clássica. O EEI hipertensivo pode ser observado em pacientes que se apresentam com disfagia, dor</p><p>torácica e achados</p><p>manométricos de um EEI elevado. Os pacientes com EEI hipertensivo raramente terão refluxo ácido ou</p><p>regurgitação. O diagnóstico é feito por manometria. A manometria convencional demonstrará pressões do EEI acima do</p><p>normal (> 26 mmHg), e o relaxamento será incompleto, mas pode não ser consistentemente anormal. A motilidade do corpo</p><p>esofágico pode ser hiperperistáltica ou normal. Um trânsito esofágico pode mostrar estreitamento na junção</p><p>gastroesofágica, com fluxo retardado e anomalias da contração esofágica; no entanto, estes achados não são específicos. Em</p><p>cerca de 50% das vezes, o peristaltismo no corpo esofágico é normal. Nas restantes, são notadas contrações anormais como</p><p>ondas persistálticas hipertensivas ou simultâneas. A patogênese não está bem esclarecida.</p><p>O tratamento do EEI hipertensivo é com intervenção endoscópica e cirúrgica. As injeções de Botox aliviam os sintomas</p><p>temporariamente e a dilatação com balão hidrostático pode permitir alívio sintomático em longo prazo. A cirurgia está</p><p>indicada para pacientes que não respondem a estas intervenções e àqueles com sintomas significativos. A cirurgia de</p><p>escolha é a esofagomiotomia de Heller modificada laparoscópica. Em pacientes com motilidade esofágica normal, é</p><p>adicionado um procedimento antirrefluxo parcial (p. ex., fundoplicatura de Dor ou Toupet). Recentemente, alguns têm</p><p>defendido o uso da miotomia endoscópica via oral (POEM) para esses pacientes (discutida posteriormente na seção</p><p>acalasia).3</p><p>Distúrbios da Motilidade que Afetam o Corpo e o Esfíncter Esofágico Inferior</p><p>Acalasia</p><p>O significado literal do termo acalasia é “falha no relaxamento”. É o distúrbio da motilidade esofágica mais bem</p><p>compreendido. A incidência é de 6 em 100.000 pessoas/ano, com uma predileção para atingir mulheres jovens. Presume‑se</p><p>que sua patogênese seja idiopática ou degeneração neurogênica infecciosa. Também têm sido implicados o estresse</p><p>emocional grave, trauma, perda de peso drástica e doença de Chagas (infecção pelo parasita Trypanosoma cruzi).</p><p>Independentemente da causa, são afetados os músculos do esôfago e o EEI. As teorias predominantes apoiam o modelo em</p><p>que a destruição dos nervos do EEI é o processo patológico primário e a degeneração da função neuromuscular do corpo do</p><p>esôfago é secundária. Essa degeneração resulta em hipertensão do EEI e falha deste em relaxar na deglutição faríngea assim</p><p>como em pressurização do esôfago, dilatação esofágica e perda resultante do peristaltismo progressivo.</p><p>A acalasia vigorosa (ou espástica/tipo III) é vista em um subgrupo de pacientes que se apresentam com dor torácica.</p><p>Nestes pacientes, o EEI é hipertensivo e falha no relaxamento, como visto na acalasia. Além disso, as contrações do corpo</p><p>esofágico continuam sendo simultâneas e não peristálticas. No entanto, a amplitude das contrações em resposta à</p><p>deglutição é normal ou alta, o que é inconsistente com a acalasia clássica (Fig. 41‑2). Foi postulado que os pacientes nas fases</p><p>iniciais da acalasia podem não ter as anomalias no corpo esofágico que são vistas em fases mais tardias da doença. Os</p><p>pacientes que se apresentam com acalasia vigorosa podem estar nessa fase inicial e irão progredir para desenvolver</p><p>contrações anormais do corpo esofágico, implicadas na presença de obstrução da saída do esôfago.</p><p>FIGURA 412 Manometria esofágica de alta resolução. A, Padrão de deglutição normal. B e C, Acalasia</p><p>clássica (tipo I) e acalasia espástica atípica ou vigorosa (tipo III). As setas denotam o início da deglutição.</p><p>A acalasia também é conhecida por ser uma condição pré‑maligna do esôfago. Durante um período de 20 anos, um</p><p>paciente terá uma probabilidade de até 8% de desenvolver carcinoma. O carcinoma de células escamosas é o tipo mais</p><p>comum identificado e pensa‑se que seja o resultado de comida não digerida fermentando, retida por muito tempo no corpo</p><p>do esôfago, causando irritação da mucosa. Se a histologia for adenocarcinoma, tende a aparecer no terço médio do esôfago,</p><p>abaixo do nível hidroaéreo, onde a irritação da mucosa atinge seu ponto máximo. Em contraste com estas teorias de</p><p>carcinogênese, parece que mesmo em pacientes com acalasia tratada, existe o risco de incidência de câncer. Embora ainda</p><p>não haja um programa de vigilância específico para pacientes com acalasia tratada definido por alguma das sociedades de</p><p>gastroenterologia, recomenda‑se a vigilância em longo prazo para monitorar recorrência de acalasia e câncer.</p><p>A tríade clássica de sintomas da acalasia consiste em disfagia, regurgitação e perda de peso. Azia, enfartamento pós‑</p><p>prandial e tosse noturna também são vistos comumente. A disfagia que os pacientes vivenciam, começa muitas vezes com</p><p>líquidos e progride para sólidos. A maioria dos pacientes descreve a alimentação como um processo trabalhoso durante o</p><p>qual têm que prestar atenção especial. Comem devagar e usam grandes volumes de água para ajudar a empurrar a comida</p><p>para o estômago. À medida que a água aumenta a pressão, experienciam dor retroesternal, que pode ser grave até que o EEI</p><p>se abra, o que permite um alívio rápido. A regurgitação de comida não digerida e com mau cheiro é comum, e com a</p><p>progressão da doença a aspiração pode‑se tornar ameaçadora da vida. Pneumonia, abscessos pulmonares e bronquiectasias</p><p>resultam, com frequência, de uma acalasia de longa duração. A disfagia progride lentamente durante anos e os pacientes</p><p>adaptam o seu estilo de vida para acomodar os inconvenientes que acompanham esta doença. Muitas vezes, não procuram</p><p>ajuda médica até que os seus sintomas estejam avançados, apresentando‑se com distensão acentuada do esôfago.</p><p>O diagnóstico de acalasia, em geral, é feito a partir de um trânsito esofágico e um estudo da motilidade. Os achados</p><p>podem variar, dependendo do grau até o qual a doença tenha avançado. O trânsito irá frequentemente mostrar um esôfago</p><p>dilatado com um estreitamento distal denominado como a clássica aparência de “bico de pássaro” no esôfago preenchido</p><p>com bário (Fig. 41‑3). São observados espasmo do esfíncter e esvaziamento retardado através do EEI, assim como dilatação</p><p>do corpo do esôfago. Nota‑se uma falta de ondas peristálticas no corpo e falha no relaxamento do EEI (o sine qua non desta</p><p>doença). A falta da bolha de ar gástrica é um achado comum na porção vertical do trânsito, resultado de o EEI estreito não</p><p>permitir que o ar passe facilmente para o estômago. Na fase mais avançada da doença, são observados dilatação esofágica</p><p>massiva, tortuosidade e esôfago sigmoidal (megaesôfago) (Fig. 41‑4).</p><p>FIGURA 413 Trânsito esofágico baritado mostrando acalasia. (Adaptada de Dalton CB: Esophageal motility disorders. In</p><p>Pearson FG, Cooper JD, Deslauriers J, et al, editors: Esophageal surgery, ed 2, New York, 2002, Churchill Livingstone.)</p><p>FIGURA 414 Trânsito esofágico baritado mostrando um megaesôfago. (De Orringer MB: Disorders of esophageal</p><p>motility. In Sabiston DC, editor: Textbook of surgery, ed 15, Philadelphia, 1997, WB Saunders.)</p><p>A manometria é o exame padrão‑ouro para o diagnóstico e irá ajudar a diferenciar este de outros potenciais distúrbios da</p><p>motilidade esofágica. Na acalasia típica (tipo I), o traçado da manometria mostra cinco achados clássicos, duas anomalias</p><p>do EEI e três do corpo esofágico. O EEI será hipertensivo, com pressões geralmente superiores a 35 mmHg (pressão de</p><p>relaxamento integrada > 15 mmHg), porém mais importante, irá falhar no relaxamento com a deglutição. O corpo do</p><p>esôfago terá uma pressão acima da linha de base (pressurização do esôfago) devido à evacuação incompleta do ar,</p><p>contrações simultâneas em espelho sem evidência de peristaltismo progressivo e formas de onda de baixa amplitude</p><p>indicando uma falta de tônus muscular. Estes</p><p>cinco achados fornecem o diagnóstico de acalasia. É realizada uma</p><p>endoscopia para avaliar a mucosa quanto a evidência de esofagite ou câncer.</p><p>Há opções de tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos para os pacientes com acalasia; são todas dirigidas ao alívio da</p><p>obstrução causada pelo EEI. Uma vez que nenhuma é capaz de visar a motilidade diminuída no corpo esofágico, são todas</p><p>consideradas tratamentos paliativos. As opções não cirúrgicas incluem medicação e intervenções endoscópicas, mas são</p><p>geralmente apenas uma solução em curto prazo para um problema que perdurará por toda a vida. Na fase inicial da</p><p>doença, o tratamento cirúrgico com nitroglicerina sublingual, nitratos e bloqueadores dos canais de cálcio pode oferecer</p><p>horas de alívio da pressão torácica pré ou pós‑prandial. Foi demonstrado que a dilatação pneumática fornece excelente</p><p>alívio dos sintomas, embora requerendo frequentemente múltiplas intervenções, e com um risco de perfuração esofágica</p><p>inferior a 4%. A injeção de toxina botulínica (Botox) diretamente no EEI bloqueia a liberação de acetilcolina, impede a</p><p>contração do músculo liso e relaxa efetivamente o EEI. Com tratamentos repetidos, o Botox pode permitir alívio sintomático</p><p>por anos, mas os sintomas recorrem em seis meses em mais de 50% dos casos.</p><p>A esofagomiotomia oferece resultados excelentes, que são duradouros. A técnica atual é uma modificação da miotomia</p><p>de Heller, que foi descrita originalmente por laparotomia em 1913. Várias alterações têm sido feitas ao procedimento</p><p>descrito originalmente, mas a miotomia laparoscópica de Heller modificada é agora a cirurgia de escolha. É realizada de</p><p>modo aberto ou com assistência de vídeo ou robótica. A decisão de realizar um procedimento antirrefluxo continua sendo</p><p>controversa. A maioria dos pacientes que foram submetidos a miotimia irá experimentar algum nível de refluxo,</p><p>sintomático ou não. A inclusão de um procedimento antirrefluxo parcial, como a fundoplicatura de Toupet ou Dor, irá</p><p>restaurar uma barreira ao refluxo e diminuir os sintomas pós‑operatórios.</p><p>Atualmente, a miotomia endoscópica via oral (POEM) está sendo investigada como uma abordagem por orifício natural</p><p>para realizar a miotomia. Com um endoscópio cirúrgico, a mucosa esofágica é dividida perto da transição do terço médio</p><p>para distal e é criado um túnel submucoso. Por esse túnel, a camada muscular do esôfago distal, o EEI e a cárdia são</p><p>visualizados e divididos, realizando‑se efetivamente uma miotomia endoscópica. Apesar da preocupação com a falta de um</p><p>procedimento antirrefluxo e a possibilidade de se manter um refluxo debilitante, os resultados até agora têm sido</p><p>encorajadores.4 Essa é uma técnica nova e promissora, mas ainda continua por demonstrar sua superioridade em relação à</p><p>miotomia laparoscópica de Heller e aos seus excelentes resultados em longo prazo relatados em múltiplas grandes séries de</p><p>pacientes tratados cirurgicamente.</p><p>A esofagectomia é considerada em qualquer paciente sintomático com um esôfago tortuoso (megaesôfago), esôfago</p><p>sigmoidal, falha de mais que uma miotomia ou estreitamento por refluxo que não é tratável por dilatação. Menos de 60%</p><p>dos pacientes submetidos a miotomia repetida beneficiam‑se da cirurgia, e a fundoplicatura para tratamento dos</p><p>estreitamentos por refluxo tem resultados ainda mais negativos. Além de tratar definitivamente o paciente com acalasia</p><p>terminal, a ressecção esofágica também elimina o risco de carcinoma na área ressecada. Uma esofagectomia trans‑hiatal com</p><p>ou sem preservação do nervo vago oferece um bom resultado em longo prazo. No entanto, no cenário de um megaesôfago,</p><p>a esofagectomia total incorporando dissecção transtorácica pode ser mais segura, dada a dificuldade em palpar as margens</p><p>do esôfago na abordagem trans‑hiatal.</p><p>Os resultados dos procedimentos clínicos, de intervenção e cirúrgicos apontam todos para a cirurgia como o tratamento</p><p>mais seguro e eficaz da acalasia. Na comparação entre dilatação com balão e injeções de Botox, a remissão dos sintomas</p><p>ocorreu em 89% contra 38% dos pacientes após um ano, respectivamente. Os estudos realizados para comparar a dilatação</p><p>com balão em comparação à cirurgia mostraram taxas de perfuração de 4% e 1% e taxas de mortalidade de 0,5% e 2%,</p><p>respectivamente. Os resultados foram considerados excelentes em 60% dos pacientes submetidos a dilatação com balão e</p><p>em 85% daqueles submetidos à cirurgia. No entanto, em um ensaio randomizado e controlado mais recente da European</p><p>Achalasia Trial Investigators,5 foi mostrada equivalência entre a dilatação pneumática e a miotomia de Heller laparoscópica</p><p>e fundoplicatura de Dor, com taxas de sucesso terapêutico de 86% contra 90% em dois anos. Ocorreu perfuração em 4% dos</p><p>pacientes durante as dilatações pneumáticas e lesões da mucosa em 12% durante a miotomia de Heller laparoscópica, mas</p><p>todas reparadas intraoperatoriamente. Os pacientes na coorte da dilatação pneumática tiveram uma taxa de 25% de</p><p>redilatação para atingir o sucesso do tratamento. Os médicos devem‑se manter prudentes e vigilantes nos pacientes com</p><p>acalasia, mesmo após uma intervenção com “sucesso”. A obstrução assintomática e continuada do trato de saída irá levar a</p><p>dilatação. É adequado o seguimento cuidadoso destes pacientes.</p><p>Motilidade Esofágica Ineficaz</p><p>A MEI foi pela primeira vez reconhecida como um distúrbio da motilidade independente por Castell, em 2000. É definida</p><p>como uma anomalia da contração do esôfago distal e está geralmente associada à DRGE. Pode ser secundária à lesão</p><p>inflamatória do corpo esofágico devido a exposição prolongada a conteúdos gástricos. A motilidade diminuída do corpo</p><p>esofágico leva à fraca remoção do ácido no esôfago inferior. Assim que a alteração da motilidade se instala, a condição</p><p>parece ser irreversível.</p><p>Os sintomas de MEI são confusos, mas os pacientes em geral apresentam‑se com sintomas de refluxo e disfagia. Também</p><p>podem ser notadas azia, dor torácica e regurgitação. O diagnóstico é feito por manometria. A MEI é definida por mais de</p><p>50% das deglutições consideradas ineficazes (componente contrátil distal</p><p>mucosa e</p><p>submucosa pela musculatura esofágica. Tanto um divertículo de Zenker quanto um epifrênico entram na categoria de</p><p>divertículos de pulsão falsos. Os divertículos de tração, ou verdadeiros, resultam da aderência de nódulos linfáticos</p><p>externos mediastínicos inflamatórios ao esôfago enquanto cicatrizam e se contraem, puxando o esôfago durante o processo.</p><p>Com o tempo, a parede esofágica sofre hérnia, formando uma evaginação, nascendo assim um divertículo. Estes são mais</p><p>comuns na região medioesofágica, perto dos nódulos linfáticos carinais.</p><p>Divertículo Faringoesofágico (de Zenker)</p><p>Descrito originalmente por Zenker e von Ziemssen,6 o divertículo faringoesofágico (divertículo de Zenker) é o divertículo</p><p>esofágico mais comum atualmente (Fig. 41‑5). Em geral, manifesta‑se em pacientes idosos, na sétima década de vida, e</p><p>postula‑se que resulte de uma perda de elasticidade do tecido e do tônus muscular com a idade. É especificamente</p><p>encontrado atingido pela hérnia no triângulo de Killian, entre as fibras oblíquas do músculo tireofaríngeo e as fibras</p><p>horizontais do músculo cricofaríngeo. À medida que o divertículo aumenta, as camadas mucosa e submucosa dissecam</p><p>inferiormente do lado esquerdo do esôfago para o mediastino superior, posteriormente ao longo do espaço pré‑vertebral. O</p><p>divertículo de Zenker é, muitas vezes, referido como acalasia cricofaríngea e tratado de acordo.</p><p>FIGURA 415 A, Divertículo de Zenker. B, Trânsito esofágico baritado mostrando um divertículo de</p><p>Zenker. (Adaptada de Trastek VF, Deschamps C: Esophageal diverticula. In Shields TW, Locicero J III, Ponn RB, editors: General</p><p>thoracic surgery, ed 5, Philadelphia, 1999, Lippincott Williams & Wilkins.)</p><p>Até que o divertículo de Zenker comece a aumentar, os pacientes estão com frequência inicialmente assintomática. É</p><p>comum queixarem‑se de um espetar/picar na garganta. Tosse irritativa, salivação excessiva e disfagia intermitente são</p><p>frequentemente sinais de doença progressiva. À medida que o saco aumenta de tamanho, é comum a regurgitação de</p><p>material não digerido e com mau cheiro. Halitose, alterações da voz, dor retroesternal e infecções respiratórias são</p><p>especialmente comuns em adultos mais velhos. A complicação mais grave de um divertículo de Zenker não tratado é a</p><p>pneumonia de aspiração ou abscesso pulmonar. Em um paciente mais idoso, isso pode trazer grande morbidade e ser por</p><p>vezes fatal.</p><p>O diagnóstico é feito por um trânsito com bário. No nível da cartilagem cricotireóidea, o divertículo pode ser visto sendo</p><p>preenchido com bário, que repousa posteriormente ao longo do esôfago (“barra cricofaríngea”). As incidências laterais são</p><p>importantes, uma vez que essa estrutura é geralmente posterior. Não é necessária manometria esofágica nem endoscopia</p><p>para diagnosticar o divertículo de Zenker.</p><p>A reparação cirúrgica ou endoscópica de um divertículo de Zenker é o padrão‑ouro de tratamento. Tradicionalmente,</p><p>defendia‑se a reparação aberta pelo lado esquerdo do pescoço. No entanto, a exclusão endoscópica ganhou popularidade</p><p>em muitos centros. São realizados dois tipos de reparação aberta, a ressecção ou fixação cirúrgica do divertículo. A</p><p>diverticulectomia e a diverticuloplexia realizam‑se mediante uma incisão no lado esquerdo do pescoço. Em todos os casos,</p><p>realiza‑se miotomia proximal e distal dos músculos tireofaríngeo e cricofaríngeo. Nos casos de um divertículo pequeno (</p><p>5 cm), está indicada a excisão do mesmo. Se for realizada uma diverticuloplexia, é importante suturar o divertículo à faringe</p><p>posterior em oposição à fáscia pré‑vertebral, a fim de permitir movimento vertical livre da faringe durante a deglutição. O</p><p>internamento pós‑operatório é, em geral, de dois ou três dias, durante os quais o paciente permanece incapaz de comer ou</p><p>beber.</p><p>Uma alternativa à reparação cirúrgica aberta é o procedimento endoscópico de Dohlman, que se tornou mais popular. A</p><p>divisão endoscópica da parede comum entre o esôfago e o divertículo por meio de laser, cauterizador elétrico ou</p><p>grampeador tem tido sucesso similar. Em virtude da configuração do grampeador, essa abordagem tem sido defendida</p><p>para os divertículos maiores. O risco de uma miotomia incompleta aumenta com divertículos inferiores a 3 cm. Esse método</p><p>divide o músculo cricofaríngeo enquanto oblitera o saco. O esôfago e o divertículo formam por fim um canal comum. A</p><p>técnica requer extensão máxima do pescoço e pode ser difícil de executar em pacientes mais velhos com estenose cervical.</p><p>Por essa razão, muitos defendem o uso da lâmina‑agulha (needle knife) por endoscopia flexível para realizar a miotomia. De</p><p>modo geral, o pós‑operatório é um pouco mais curto nas abordagens transorais, podendo os pacientes ingerir líquidos no</p><p>dia seguinte, necessitando de apenas uma noite de internamento hospitalar. Assim, estas técnicas ganharam terreno e são</p><p>defendidas para pacientes com divertículos entre 2 e 5 cm.</p><p>Os resultados da reparação aberta em relação aos da endoscópica têm sido bem estudados.7 Para divertículos com 3 cm</p><p>ou menos, a reparação cirúrgica é superior à endoscópica na eliminação dos sintomas. Para qualquer divertículo superior a</p><p>3 cm, os resultados são iguais. Tanto o período de internamento quanto a duração da fragilidade são mais curtos com o</p><p>procedimento endoscópico. Independentemente do método de reparação, os pacientes ficam bem e os resultados são</p><p>excelentes.</p><p>Divertículos Medioesofágicos</p><p>Os divertículos medioesofágicos foram descritos pela primeira vez no século XIX. Historicamente, nódulos linfáticos</p><p>inflamados devido a uma infecção por tuberculose eram responsáveis pela maioria dos casos. A histoplasmose e a</p><p>mediastinite fibrosante resultante tornaram‑se agora mais comuns. A inflamação dos nódulos linfáticos exerce tração na</p><p>parede do esôfago e leva à formação de um divertículo verdadeiro no esôfago médio. Esse continua sendo um mecanismo</p><p>importante para estes divertículos de tração, mas acredita‑se agora que alguns possam ser causados também por um</p><p>distúrbio da motilidade primária, como a acalasia, o EED ou outros distúrbios da motilidade esofágica.</p><p>A maioria dos pacientes com um divertículo medioesofágico é assintomática. Estes são com frequência descobertos</p><p>acidentalmente durante investigação de outra queixa (Fig. 41‑6). Podem estar presentes disfagia, dor torácica e regurgitação,</p><p>os quais são geralmente indicativos de distúrbio da motilidade primária subjacente. Os pacientes que se apresentam com</p><p>tosse crônica estão sob suspeita de desenvolverem uma fístula broncoesofágica. Raramente, a hemoptise pode ser um</p><p>sintoma de apresentação, indicando erosão infecciosa dos nódulos linfáticos para a vasculatura maior e árvore brônquica.</p><p>Nesse caso, o divertículo é um achado acidental de menor importância.</p><p>FIGURA 416 A, Trânsito esofágico baritado mostrando um divertículo medioesofágico gigante.(Cortesia de Dr.</p><p>Lorenzo E. Ferri.) B, Divertículo medioesofágico. (Adaptada de Peters JH, DeMeester TR: Esophagus and diaphragmatic hernia. In</p><p>Schwartz SI, Fischer JE, Spencer FC, et al, editors: Principles of surgery, ed 7, New York, 1998, McGrawHill.)</p><p>O diagnóstico da estrutura anatômica, assim como do tamanho e do local de um divertículo esofágico, é feito por meio do</p><p>trânsito com bário. Os divertículos medioesofágicos em geral estão à direita em virtude da sobreabundância de estruturas</p><p>na região mediotorácica no lado esquerdo. Uma TC é útil para identificar qualquer linfadenopatia mediastínica e pode</p><p>ajudar a lateralizar o saco. A endoscopia é importante para excluir anomalias da mucosa, incluindo câncer, que pode estar</p><p>oculto no saco. Adicionalmente,</p><p>a endoscopia pode ajudar na identificação de uma fístula. São realizados estudos</p><p>manométricos em todos os pacientes, sintomáticos ou não, para identificar um distúrbio motor primário. O tratamento é</p><p>guiado pelos resultados da manometria.</p><p>A determinação da causa dos divertículos medioesofágicos é crucial para guiar o tratamento. Em pacientes</p><p>assintomáticos com nódulos linfáticos inflamados, o tratamento da causa subjacente é a escolha. Se o divertículo for inferior</p><p>a 2 cm, pode ser acompanhado. Se os pacientes progridem para se tornarem sintomáticos ou se o divertículo tiver 2 cm ou</p><p>mais, a intervenção cirúrgica é indicada. Geralmente, os divertículos medioesofágicos têm uma abertura larga e ficam</p><p>próximos à coluna, por isso pode ser realizada uma diverticuloplexia, mediante a qual o divertículo é suspenso a partir da</p><p>fáscia vertebral torácica. Em pacientes com dor torácica grave ou disfagia e uma anomalia motor documentada, a</p><p>esofagomiotomia longa também é indicada.</p><p>Divertículos Epifrênicos</p><p>Os divertículos epifrênicos são encontrados adjacentes ao diafragma no terço distal do esôfago, dentro de 10 cm da JGE.</p><p>Estão com mais frequência relacionados com musculatura esofágica distal espessada ou pressão intraluminal aumentada.</p><p>São divertículos de pulsão, ou falsos, que estão muitas vezes associados com o EED, acalasia ou MEI. Em pacientes em que</p><p>não se consegue identificar um distúrbio da motilidade, considera‑se uma causa congênita (síndrome de Ehlers‑Danlos) ou</p><p>traumática. Como com os divertículos medioesofágicos, os divertículos epifrênicos são mais comuns no lado direito e</p><p>tendem a ter abertura larga.</p><p>A maioria dos pacientes com divertículos epifrênicos apresenta‑se assintomaticamente. Podem‑se apresentar com disfagia</p><p>ou dor torácica, o que é indicativo de um distúrbio da motilidade. O diagnóstico é muitas vezes feito durante o estudo de</p><p>um distúrbio da motilidade, em que o divertículo é encontrado acidentalmente. Outros sintomas, como regurgitação, dor</p><p>espigástrica, anorexia, perda de peso, tosse crônica e halitose, são indicativos de uma anomalia da motilidade avançada que</p><p>resulta em um divertículo epifrênico de tamanho considerável.</p><p>O trânsito com bário é a melhor ferramenta diagnóstica para detectar um divertículo epifrênico (Fig. 41‑7). O tamanho,</p><p>posição e proximidade do divertículo ao diafragma podem todos ser claramente delineados. Na maioria das vezes, o</p><p>distúrbio da motilidade subjacente é também identificado; no entanto, estudos manométricos têm de ser realizados para</p><p>avaliar a motilidade global do corpo esofágico e do EEI. Realiza‑se endoscopia para avaliar lesões da mucosa, incluindo</p><p>esofagite, esôfago de Barreീ� e câncer.</p><p>FIGURA 417 Trânsito esofágico baritado mostrando divertículos esofágicos médio e distal. (Adaptada de Pearson</p><p>FG, Cooper JD, Deslauriers J, et al: Esophageal surgery, ed 2, New York, 2002, Churchill Livingstone.)</p><p>O tratamento de um divertículo epifrênico é semelhante ao de um divertículo medioesofágico. Estes tipos de divertículos</p><p>também têm uma abertura larga e localizam‑se perto da coluna. Os divertículos pequenos (</p><p>crucial documentar a exposição anormal ao refluxo, porque</p><p>outras doenças podem ter sintomas similares a da DRGE. Além disso, vários estudos correlacionaram pHmetrias anormais</p><p>com desfechos cirúrgicos de sucesso.9 O paciente deve estar sem medicação antiácida ou antissecretora no momento do</p><p>teste (geralmente cessa‑se cinco dias a duas semanas antes).</p><p>O teste da motilidade esofágica permite ao cirurgião avaliar se as contrações são fortes e eficazes, se há distúrbio da</p><p>motilidade e, por vezes, se há um EEI incompetente. Isso não só é importante para distinguir a DRGE de outras doenças</p><p>(como acalasia ou esclerodermia), mas também pode permitir a adaptação da cirurgia para os pacientes com DRGE e um</p><p>distúrbio da motilidade coexistente. Por exemplo, um paciente com leve alteração da motilidade no cenário de pHmetria</p><p>positiva pode ser apropriado para um procedimento de fundoplicatura floppy ou parcial e não para uma completa. Muitas</p><p>vezes, os pacientes com DRGE de longa duração terão dismotilidade e devem ser aconselhados quanto à disfagia pós‑</p><p>operatória após a fundoplicatura. Os pacientes com dismotilidade grave devem ser considerados para avaliação adicional</p><p>ou tratamento não cirúrgico.</p><p>O trânsito esofágico com vídeo mostra tanto a estrutura quanto a função. Irá diagnosticar anomalias que podem</p><p>modificar o tratamento cirúrgico, como estenoses, massas, hérnia de hiato, esôfago encurtado ou divertículos.</p><p>Funcionalmente, esse teste confirma o refluxo e correlaciona‑o com os sintomas e pode ser sugestivo de distúrbios da</p><p>motilidade ou acalasia. O “mapa” é considerado antes da cirurgia, o qual pode ser obtido imediatamente após cirurgia e é</p><p>útil no acompanhamento em longo prazo.</p><p>Finalmente, a endoscopia permite ao cirurgião avaliar a forma e curso do esôfago, pesquisar sinais de refluxo como</p><p>esofagite e metaplasia e excluir massas e estenoses como causa dos sintomas. Um esôfago particularmente dilatado e</p><p>tortuoso pode ser indicativo de distúrbios da motilidade, e hérnias de hiato não observadas no trânsito esofágico podem ser</p><p>registradas na visão retrofletida no estômago. A biópsia de achados anormais irá avaliar metaplasia, displasia e carcinoma,</p><p>que podem alterar os planos da cirurgia e vigilância.</p><p>Se há inconsistências entre os achados desta avaliação e os sintomas do paciente, é importante rever o diagnóstico,</p><p>continuar a investigação ou obter segundas opiniões. Procedimentos cirúrgicos, quando o diagnóstico é incorreto, podem</p><p>resultar em sintomas novos adicionais sem a resolução da queixa original, levando a um desfecho insatisfatório. Estudos</p><p>adjuvantes a considerar incluem a TC torácica e abdominal, trânsito do intestino delgado, estudo do esvaziamento gástrico</p><p>e colonoscopia.</p><p>Tratamento Cirúrgico</p><p>Várias cirurgias denominadas como procedimentos “antirrefluxo” foram desenvolvidas ao longo dos anos à medida que os</p><p>cirurgiões as adaptaram aos sintomas dos pacientes. Esta seção não irá discutir abordagens transtorácicas visto estas</p><p>raramente estarem indicadas como procedimentos primários para o refluxo. Pelo contrário, são destacados os conceitos</p><p>básicos do procedimento de fundoplicatura transabdominal mais comumente realizado e algumas variações.</p><p>Depois de se verificar que os sintomas do paciente se devem ao refluxo (ver antes) e de este ser considerado um</p><p>candidato cirúrgico seguro, o cirurgião tem várias opções. Independentemente do procedimento escolhido, os princípios</p><p>básicos da cirurgia antirrefluxo são constantes: (1) preservar os planos e revestimentos teciduais naturais, (2) identificar e</p><p>preservar ambos os nervos vagos, (3) identificar a verdadeira JGE para posicionamento do envolvimento, (4) ter</p><p>comprimento suficiente de esôfago intra‑abdominal e (5) restabelecer o ângulo de His.</p><p>A fundoplicatura de Nissen, descrita pela primeira vez nos anos 1950, tornou‑se o padrão na cirurgia antirrefluxo</p><p>(Fig. 41‑8A). Conceitualmente, é a recriação de um esfíncter ao redor da JGE, envolvendo o fundo em torno do esôfago. O</p><p>procedimento é o mesmo quer seja por laparoscopia ou por laparotomia. É feita uma incisão no ligamento gastro‑hepático</p><p>até que o ligamento frenoesofágico seja visto, com cuidado para evitar as artérias hepáticas. O esôfago é mobilizado</p><p>circunferencialmente, com grande cuidado para preservar ambos os nervos vagos e a membrana peritoneal ao longo</p><p>da crura. Tendo cuidado com os pequenos vasos gástricos, o ligamento gastroesplênico é mobilizado para encontrar a</p><p>dissecção ao longo da crura esquerda, com o cuidado de permanecer longe do hilo esplênico. Qualquer hérnia de hiato irá</p><p>necessitar de dissecção no mediastino para puxar inferiormente comprimento esofágico suficiente. A camada adiposa é</p><p>então mobilizada do estômago anterior ou esôfago para visualizar a JGE e para ser possível excluir ambos os nervos vagos</p><p>da plicatura.</p><p>FIGURA 418 A, Fundoplicatura de Nissen. B, Fundoplicatura de Toupet. C, Fundoplicatura de Dor. D</p><p>F, Gastroplastia de Collis.</p><p>Com esôfago suficiente e a mobilização gástrica, assim como exposição da verdadeira JGE, o topo fúndico ao longo da</p><p>linha das gástricas curtas pode ser passado posteriormente ao esôfago (excluindo os vagos nervos na camada adiposa).</p><p>Uma manobra de “engraxar sapatos” assegura a mobilidade adequada e falta de tensão. Um cateter de 50 a 54 Fr está</p><p>geralmente no esôfago enquanto o estômago é, então, suturado ao esôfago anterior. Depois de removido o cateter, o hiato</p><p>diafragmático é avaliado e fechado com sutura anterior e posterior ao esôfago, assegurando não haver torção ou pressão</p><p>exageradas no mesmo. Em geral, a fácil passagem de instrumentos pelo hiato assegura que este não está apertado demais.</p><p>Uma sonda nasogástrica deve ser colocada durante uma noite para descompressão.</p><p>Alguns cirurgiões defenderam o uso de rede no hiato como “reforço” ou se houver tensão excessiva no fechamento</p><p>crural. A rede geralmente não é necessária se os revestimentos naturais forem preservados ao longo da crura. Se houver</p><p>tensão no fechamento, esta pode ser ultrapassada induzindo um pneumotórax esquerdo com uma pequena quantidade de</p><p>dióxido de carbono insuflado, que irá relaxar o diafragma esquerdo e, na maior parte das vezes, permitir um fechamento</p><p>sem tensão. Também foram descritas incisões para relaxamento no diafragma.</p><p>A válvula pode ser individualizada relativamente aos sintomas dos pacientes. As completas de 360 graus são</p><p>particularmente importantes quando o refluxo causa comprometimento respiratório, como na população de transplante</p><p>pulmonar. A válvula frouxa, na qual existe espaço para a passagem de um instrumento entre o estômago e o esôfago, irá</p><p>resultar em menos disfagia, mas pode criar uma válvula menos competente. A parcial ou quase Nissen, com uma “gravata”</p><p>de 300 ou 320 graus, irá permitir alguma capacidade para eructar e possivelmente vomitar e irá diminuir os sintomas de</p><p>disfagia e inchaço.</p><p>Existem variações deste procedimento clássico que permitem uma cirurgia individualizada às necessidades do paciente.</p><p>A fundoplicatura de Toupet envolve uma válvula parcial posterior de 180 a 270 graus, com suturas adicionais para fixar o</p><p>estômago à crura no abdome (Fig. 41‑8B). A fundoplicatura de Dor é mais comumente usada no cenário de miotomia</p><p>esofágica, mas consiste em uma válvula anterior de 180 graus (Fig. 41‑8C). Um novo dispositivo, chamado LINX, pode ser</p><p>usado em pacientes com uma hérnia hiatal mínima ou sem esta.10 Consiste em uma série de peças magnéticas que são</p><p>colocadas à volta da JGE, que irão esticar com leve pressão no esôfago, imitando, assim, o EEI natural. Ainda não estão</p><p>disponíveis resultados e longo prazo desse dispositivo,</p><p>mas a eficácia e curto prazo é promissora.</p><p>Uma consideração no caso de pacientes com refluxo biliar ou gástrico, obesidade, diabetes ou dismotilidade esofágica é a</p><p>reconstrução em Y de Roux.11 Uma quase esofagojejunostomia (com uma pequena bolsa gástrica) permite a passagem de</p><p>quase todo o conteúdo gástrico e biliar muito a jusante do esôfago, prevenindo assim sintomas relacionados com refluxo.</p><p>Nesta população, irão existir benefícios adicionais do impacto na obesidade e diabetes. Essa também é uma opção em</p><p>cirurgia de revisão, na qual há muitas cicatrizes ou a integridade dos nervos vagos é questionável.</p><p>Por fim, o paciente submetido a fundoplicatura no qual o esôfago intra‑abdominal é menor do que o adequado pode</p><p>necessitar de tubularização gástrica parcial ou gastroplastia de Collis (Fig. 41‑8D‑F). Esta envolve grampear o fundo do</p><p>estômago com um cateter no esôfago para criar alguns centímetros de comprimento adicional à volta do qual o estômago</p><p>pode ser envolvido. Foram descritas tanto a abordagem transtorácica como transabdominal, e, embora esta manobra</p><p>tecnicamente difícil deva ser abordada com precaução, é imperativo que seja realizada nas situações necessárias.</p><p>DRGE Complicada</p><p>O refluxo de longa duração irá causar complicações no esôfago, que requerem tratamento que vai além da cirurgia</p><p>antirrefluxo. No paciente com esofagite, as biópsias da endoscopia podem revelar problemas tratáveis clinicamente, como</p><p>candidíase ou processos infiltrativos eosinofílicos. Com frequência, esses pacientes podem ter alívio sintomático sem</p><p>intervenção cirúrgica e esta pode não aliviar os sintomas. Todos os estrangulamentos devem ser biopsiados para excluir</p><p>processos malignos e podem frequentemente ser tratados com dilatação se benignos. Alterações metaplásicas (esôfago de</p><p>Barreീ�) devem ser biopsiadas em quatro quadrantes a cada centímetro, para avaliar displasia e câncer. Os procedimentos</p><p>de fundoplicatura podem também ser realizados neste cenário, mas a vigilância deve continuar em intervalos regulares,</p><p>visto a regressão ser rara (Tabela 41‑2).12</p><p>Tabela 412</p><p>Diretrizes da American Gastroenterological Association para a Vigilância após Fundoplicatura para</p><p>Esôfago de Barrett</p><p>VARIÁVEL PONTOS</p><p>Idade > 75 anos 1</p><p>Taquicardia (> 100 batimentos/min) 1</p><p>Leucocitose (> 10.000 leucócitos/mL) 1</p><p>Derrame pleural 1</p><p>Febre (> 38,5 °C) 2</p><p>Fuga não contida (trânsito baritado ou TC) 2</p><p>Comprometimento respiratório (frequência respiratória >30, necessidade crescente de oxigênio ou</p><p>ventilação mecânica)</p><p>2</p><p>Tempo até diagnóstico > 24 horas 2</p><p>Presença de câncer 3</p><p>Hipotensão 3</p><p>Alguns pacientes com azia ou disfagia irão ter um estômago parcial ou completamente intratorácico. A avaliação e o</p><p>tratamento cirúrgico destes pacientes podem ser significativamente diferentes daqueles da DRGE tradicional, dependendo</p><p>do grau de herniação hiatal. Hérnias pequenas em que a JGE está acima do hiato diafragmático podem manifestar‑se com</p><p>sintomas clássicos de DRGE, e a avaliação e tratamento podem ser os mesmos. Quando há uma hérnia de hiato grande a</p><p>moderada, deve‑se considerar o grau dos sintomas relacionado com o componente mecânico em comparação para com o</p><p>refluxo. Esta imagem pode ser confusa, porque os pacientes frequentemente têm sintomas de ambos, mas se as queixas</p><p>principais forem disfagia, impactação alimentar, saciedade precoce, regurgitação e vômitos, o componente mecânico poderá</p><p>ser o processo patológico dominante. Isso é particularmente verdadeiro em um estômago quase totalmente intratorácico. A</p><p>avaliação pode incluir testes de função pulmonar devido a função pulmonar comprometida, e avaliação cardíaca</p><p>rigorosa devido aos sintomas sobrepostos. A manometria muitas vezes não é possível com hérnias grandes.</p><p>Durante a redução da hérnia, o esôfago pode ser encurtado e a opção de gastropexia no lugar de fundoplicatura ou</p><p>gastroplastia de Collis/fundoplicatura terá que ser pesada. Com sintomas mecânicos dominantes, os pacientes têm alívio</p><p>com o retorno do estômago à cavidade abdominal com a gastropexia. No entanto, podem subsequentemente sofrer com</p><p>sintomas de refluxo e necessitar de medicação antissecretora depois disso. A maioria dos pacientes irá provavelmente</p><p>beneficiar‑se de um procedimento de fundoplicatura parcial ou frouxa, lembrando que a motilidade esofágica será</p><p>provavelmente desconhecida.</p><p>Distúrbios benignos adquiridos do esôfago</p><p>Doença Esofágica Adquirida</p><p>Perfuração</p><p>A perfuração esofágica é uma condição potencialmente letal que pode ter maus desfechos se houver demora no diagnóstico</p><p>ou tratamento não adequado. A maioria das séries relatou mortalidade global entre 20% e 30%, frequentemente com</p><p>correlações fortes com a etiologia e intervalo entre evento e intervenção.13 A causa mais comumente identificada é</p><p>perfuração iatrogênica durante a endoscopia; outras causas são esforço de vômito vigoroso (síndrome de Boerhaave), lesão</p><p>traumática, ingestão de corpo estranho e perfuração tumoral. É geralmente observado que os melhores resultados são</p><p>possíveis se a intervenção for dentro de 24 horas após o evento, e maus desfechos estão associados a perfurações</p><p>relacionadas com câncer. A chave para o tratamento e sobrevivência do paciente é o reconhecimento precoce com</p><p>diagnóstico e tratamento oportunos.</p><p>A suspeita de perfuração esofágica começa com sintomas de dor epigástrica ou torácica, dor cervical ou odinofagia e</p><p>disfagia. Os achados no exame físico podem incluir crepitação no tórax, pescoço ou face, edema cervical, dor na palpação</p><p>epigástrica, voz nasal, ou, por vezes, exame físico normal. Outras provas precoces podem incluir uma radiografia torácica</p><p>com ar no mediastino ou cervical, ar abdominal livre ou derrame pleural. Uma TC pode mostrar ar no mediastino e ar ou</p><p>líquido periesofágico. Obviamente, o mecanismo da lesão pode ser a grande valia e irá orientar investigação adicional.</p><p>Assim que exista suspeita, a investigação diagnóstica terá de avançar com base no índice de suspeita. O esofagograma a</p><p>base de bário é o padrão para o diagnóstico (Fig. 41‑9), mas a TC com administração oral de contraste é por vezes aceitável</p><p>se o diagnóstico é claro. Se os resultados destes exames forem normais, mas o nível de suspeita for alto, os pacientes podem</p><p>necessitar de avaliação com endoscopia ou laringoscopia direta, dependendo da circunstância clínica. Note que a avaliação</p><p>com estes procedimentos pode converter uma perfuração pequena ou parcial em um processo clinicamente mais</p><p>significativo, portanto deve‑se ter cuidado com os mesmos. Assim que o diagnóstico for feito, há diversas opções</p><p>terapêuticas que devem ser consideradas de forma individual por uma equipe de cirurgiões experientes, uma vez que as</p><p>sutilezas do tratamento impedem que este seja feito por algoritmos. A determinação da gravidade da lesão para</p><p>prognosticar a morbidade e a mortalidade pode ser feita por uma escala de gravidade clínica proposta pelo grupo de</p><p>Piീ�sburgh (Tabela 41‑3).14 Essa escala foi correlacionada com menor morbidade, menor mortalidade e menor internamento</p><p>hospitalar e pode ser usada para guiar o tratamento.</p><p>FIGURA 419 Trânsito esofágico baritado demonstrando uma perfuração esofágica.</p><p>Tabela 413</p><p>Escore de Perfuração Esofágica de Pittsburgh</p><p>ESCORE 5</p><p>Morbidade (%) 53 65 81</p><p>Mortalidade (%) 2 6 27</p><p>Duração do internamento (dias) 10 16 28</p><p>Os princípios do tratamento após o diagnóstico incluem (1) tratar a contaminação, (2) drenagem local ampla, (3) controle</p><p>da fonte e (4) acesso alimentar enteral. Na circunstância de perfurações pequenas com fugas contidas e sem coleções de</p><p>fluido no mediastino ou tórax, a contaminação pode ser mínima. No entanto, geralmente a perfuração é</p><p>tratada com</p><p>antibióticos de amplo espectro, incluindo antifúngicos, com duração que irá variar com base no controle da infecção e na</p><p>condição do paciente. A drenagem da área com dreno torácico é mais comum, sendo o número, localização e duração</p><p>variáveis conforme o grau da fuga. Em casos selecionados, podem também ser usados drenos guiados radiologicamente.</p><p>Toracoscopia videoassistida ou lavagem torácica aberta com descorticação podem ser necessárias, dependendo da duração</p><p>do escape e quantidade de espaço pleural contaminado.</p><p>O controle da fonte irá também depender da condição do paciente, gravidade e localização da perfuração e experiência</p><p>do cirurgião. A terapia endoluminal com stents revestidos tornou‑se mais popular e pode ter bons resultados quando usada</p><p>na população apropriada de pacientes. Embora os critérios ainda estejam em debate, os stents podem ser considerados em</p><p>pacientes com perfurações pequenas e com pouco tempo, com contaminação mínima e em um local acessível a inserção</p><p>do stent.15 O controle cirúrgico será considerado o padrão ouro, com a abordagem dependendo do local do escape.16 Em</p><p>geral, as perfurações altas são abordadas por uma incisão cervical esquerda, as medioesofágicas por uma toracotomia</p><p>direita e as distais por uma toracotomia esquerda ou laparotomia. Estudos radiográficos que demonstrem escape à direita</p><p>ou esquerda podem modificar a abordagem. As abordagens minimamente invasivas são razoáveis, dependendo da</p><p>preferência do cirurgião.</p><p>Após identificação da área de perfuração, a abordagem continua com miotomia para expor a lesão, desbridamento da</p><p>extensão da cirurgia e considerações para a reparação. Qualquer sinal de obstrução (acalasia, estrangulamento, tumor) deve</p><p>ser corrigido no tempo da cirurgia inicial, caso contrário a perfuração não irá cicatrizar. Pequenas lesões com tecidos</p><p>saudáveis podem ser reparadas primariamente em duas camadas com cobertura por retalho tecidual (músculo intercostal,</p><p>gordura pericárdica, pleura, omento), mas as lesões extensas com áreas desvitalizadas podem ser tratadas com fistulização</p><p>controlada com tubo‑T. Defeitos muitos grandes ou desvitalizados irão necessitar de exclusão esofágica com criação de</p><p>esofagostomia cervical e tubo de gastrostomia, com planos para reconstrução futura por meio de esofagectomia com tubo</p><p>gástrico, cólico ou do intestino delgado. Tubos de gastrostomia e jejunostomia na primeira cirurgia podem permitir a</p><p>descompressão e drenagem perto da perfuração assim como acesso enteral para nutrição.</p><p>Ingestão Cáustica</p><p>A maioria das ingestões cáusticas prende‑se com o consumo acidental de pequenos volumes de produtos de uso caseiro por</p><p>crianças pequenas. Em adultos, é mais comumente uma tentativa de suicídio com grandes volumes e, como tal, geralmente</p><p>existe uma lesão mais extensa. O padrão da lesão pode variar de lesão superficial de um pequeno segmento até necrose em</p><p>todas as camadas do trato gastrointestinal proximal. Há muitos fatores que afetam a extensão da lesão (pH, volume,</p><p>duração da exposição) e a avaliação e tratamento após a ingestão são desafiantes e requerem experiência e julgamento</p><p>sólido.</p><p>A avaliação inicial deve envolver imediatamente um cirurgião. Resultados positivos no exame físico de</p><p>comprometimento da via aérea superior (dispneia, sialorreia, estridor, rouquidão) irão provavelmente tornar necessária a</p><p>entubação endotraqueal. No entanto, esta deve ser realizada com broncoscopia e preparação para realizar</p><p>cricotireoidostomia, uma vez que há risco de incapacidade para assegurar uma via aérea superior ou perfuração</p><p>iatrogênica. Devem ser inseridos tubos nasogástrico e orogástrico cegamente. A avaliação subsequente deve incluir estudos</p><p>radiográficos para guiar o primeiro procedimento, de modo ideal uma TC do tórax e abdome com contraste intravenoso e</p><p>oral, seguida de um trânsito baritado.</p><p>A avaliação continua na sala operatória. Com raras exceções, a maioria dos pacientes deve ser submetida a uma avaliação</p><p>endoscópica do grau e extensão da lesão. É recomendado que isto seja feito precocemente no percurso hospitalar, uma vez</p><p>que o risco de perfuração aumenta após 48 horas. Os endoscópicos pediátricos são úteis para minimizar a insuflação e o</p><p>trauma mecânico. O conceito tradicional é que a endoscopia não prossiga além de uma área de lesão circunferencial; no</p><p>entanto, um endoscopista experiente pode prosseguir com precaução para completar a avaliação se se pensar que a</p><p>informação adicional irá alterar o tratamento. É importante anotar a localização e o grau da lesão em todos os sítios porque</p><p>são frequentemente necessárias avaliações subsequentes (Tabela 41‑4).</p><p>Tabela 414</p><p>Esquema de Classificação para a Ingestão Cáustica</p><p>ACHADO ENDOSCÓPICO GRAU</p><p>Normal 0</p><p>Edema/eritema superficial 1</p><p>Ulceração da mucosa/submucosa 2</p><p>Edema/eritema superficial 2A</p><p>Profundo ou circunferencial 2B</p><p>Ulcerações transmurais com necrose 3</p><p>Necrose focal 3A</p><p>Necrose extensa 3B</p><p>Perfuração 4</p><p>Todos os pacientes devem ser tratados com antibióticos de amplo espectro. Dependendo do curso clínico, os pacientes</p><p>podem‑se beneficiar da repetição da endoscopia 48 a 72 horas após o evento, a fim de avaliar sinais de agravamento da</p><p>lesão. É de importância primordial uma reavaliação clínica frequente uma vez que a deterioração em qualquer fase deve</p><p>levar ao recomeço da investigação e intervenção cirúrgica conforme indicado. A intervenção cirúrgica pode variar de</p><p>apenas endoscopia até implantação de tubos de gastrostomia ou jejunostomia, gastrectomia e ressecção de intestino delgado</p><p>com desvio proximal e tubo de alimentação. A reconstrução pode ser complicada, requerendo, por vezes, vários meses de</p><p>recuperação e o uso de condutos de cólon ou intestino delgado. Em longo prazo, os pacientes podem desenvolver estenoses</p><p>que irão requerer dilatação repetida ou eventual ressecção, fístulas que requerem intervenção cirúrgica ou câncer esofágico</p><p>(risco aumentado > 1.000 vezes). O uso rotineiro de corticoesteroides já não é defendido. Dilatação precoce, stents esofágicos</p><p>e outras medidas adjuvantes devem ser considerados de forma individual.</p><p>Ingestão de Corpo Estranho, Fístula Traqueoesofágica Benigna e Anel de Schatzki</p><p>O paciente com ingestão de corpo estranho pode requerer grande perícia técnica para evitar perfuração iatrogênica. Se o</p><p>objeto estiver alojado no esôfago, é preferível a endoscopia cuidadosa sob anestesia geral. Empurrar vigorosamente o objeto</p><p>para o estômago pode resultar em perfuração. Relaxamento completo, lubrificação com água e pressão leve pode por vezes</p><p>ser suficiente. Puxar o objeto proximalmente requer um agarrador, rede ou laço endoscópico especial e grande, juntamente</p><p>com paciência e visualização completa à medida que o objeto é removido, para prevenir lesão no esôfago e orofaringe.</p><p>Neste cenário, os over‑tubes são com frequência úteis, assim como a esofagoscopia rígida. Se o objeto não for recuperável,</p><p>pode ser necessária a laparoscopia ou laparotomia com gastrotomia. A avaliação completa do trato gastrointestinal é</p><p>recomendada antes de uma intervenção, com radiografias e TC. Avaliação psiquiátrica no internamento e, por vezes,</p><p>internamento involuntário podem ser necessários para a segurança do paciente.</p><p>A fístula traqueoesofágica benigna pode ser vista em pacientes com múltiplos procedimentos ou objetos estranhos no</p><p>mediastino superior. Um exemplo clássico de fístula traqueoesofágica benigna é no paciente com tubo endotraqueal (ou</p><p>traqueostomia) e sonda nasogástrica. Manifesta‑se mais comumente com infecção respiratória recorrente e persistente, e</p><p>conteúdo biliar ou salivar a emanar da traqueostomia. A TC e o trânsito baritado podem ser úteis para determinar o</p><p>diagnóstico. Investigação adicional com broncoscopia</p>