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<p>Autor: Prof. Leandro Rolim da Silva</p><p>Colaboradores: Prof. Roni Muraoka</p><p>Profa. Christiane Mazur Doi</p><p>Técnicas de Documentário</p><p>Professor conteudista: Leandro Rolim da Silva</p><p>Doutor pela Universidade de Salamanca, especialista em Gestão em Marketing pela Fadepe e graduado em</p><p>Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Federal de Pernambuco.</p><p>© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou</p><p>quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem</p><p>permissão escrita da Universidade Paulista.</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>S586t Silva, Leandro Rolim da.</p><p>Técnicas de Documentário / Leandro Rolim da Silva. – São Paulo:</p><p>Editora Sol, 2024.</p><p>176 p., il.</p><p>Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e</p><p>Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.</p><p>1. Documentário. 2. Audiovisual. 3. Produção. I. Título.</p><p>CDU 791.43</p><p>U519.87 – 24</p><p>Profa. Sandra Miessa</p><p>Reitora</p><p>Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez</p><p>Vice-Reitora de Graduação</p><p>Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo</p><p>Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa</p><p>Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini</p><p>Vice-Reitora de Administração e Finanças</p><p>Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia</p><p>Vice-Reitor de Extensão</p><p>Prof. Fábio Romeu de Carvalho</p><p>Vice-Reitor de Planejamento</p><p>Profa. Melânia Dalla Torre</p><p>Vice-Reitora das Unidades Universitárias</p><p>Profa. Silvia Gomes Miessa</p><p>Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal</p><p>Profa. Laura Ancona Lee</p><p>Vice-Reitora de Relações Internacionais</p><p>Prof. Marcus Vinícius Mathias</p><p>Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária</p><p>UNIP EaD</p><p>Profa. Elisabete Brihy</p><p>Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto</p><p>Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli</p><p>Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar</p><p>Material Didático</p><p>Comissão editorial:</p><p>Profa. Dra. Christiane Mazur Doi</p><p>Profa. Dra. Ronilda Ribeiro</p><p>Apoio:</p><p>Profa. Cláudia Regina Baptista</p><p>Profa. M. Deise Alcantara Carreiro</p><p>Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes</p><p>Projeto gráfico: Revisão:</p><p>Prof. Alexandre Ponzetto Patricia Cordeiro</p><p>Caio Ramalho</p><p>Sumário</p><p>Técnicas de Documentário</p><p>APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7</p><p>INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8</p><p>Unidade I</p><p>1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE A ATIVIDADE AUDIOVISUAL E AS TICS ......................................... 11</p><p>1.1 A construção do audiovisual ........................................................................................................... 21</p><p>1.2 Elementos do fluxo de produção audiovisual .......................................................................... 25</p><p>1.3 Tipos de produções e gêneros no audiovisual .......................................................................... 34</p><p>2 NASCIMENTO DO CINEMA: DO BRINQUEDO AO REAL .................................................................... 53</p><p>2.1 O início do cinema documental e ficcional ............................................................................... 65</p><p>2.2 Características do cinema de atrações ........................................................................................ 67</p><p>3 FILMES DE FICÇÃO E NÃO FICÇÃO ..................................................................................................................... 75</p><p>3.1 Documentário vs. não documentário .......................................................................................... 83</p><p>3.2 Simples filmagem ................................................................................................................................. 85</p><p>3.3 Cinejornal ................................................................................................................................................ 87</p><p>3.4 Reportagens televisivas ..................................................................................................................... 88</p><p>3.5 Filmes institucionais ou patrocinados ......................................................................................... 89</p><p>4 INSTITUCIONAL-DOCUMENTAL ................................................................................................................. 90</p><p>4.1 O canal GE Reports .............................................................................................................................. 91</p><p>4.2 O canal Embraer .................................................................................................................................... 92</p><p>Unidade II</p><p>5 TEORIAS CRÍTICAS DO DOCUMENTÁRIO ..............................................................................................100</p><p>5.1 Modelos e modos de filme documental....................................................................................102</p><p>5.1.1 O modo poético .....................................................................................................................................103</p><p>5.1.2 O modo expositivo ...............................................................................................................................104</p><p>5.1.3 O modo observativo .............................................................................................................................104</p><p>5.1.4 O modo participativo ..........................................................................................................................105</p><p>5.1.5 O modo reflexivo ...................................................................................................................................106</p><p>5.1.6 O modo performático .........................................................................................................................107</p><p>5.2 O documentário clássico, o cinema direto e o cinema verdade .....................................108</p><p>5.2.1 O documentário clássico ....................................................................................................................109</p><p>5.2.2 O cinema direto ..................................................................................................................................... 110</p><p>5.2.3 O cinema verdade ................................................................................................................................. 110</p><p>6 DOCUMENTÁRIO E O USO DE NARRATIVA TRANSMÍDIA ..............................................................112</p><p>6.1 Documentários com narrativa transmídia ...............................................................................115</p><p>Unidade III</p><p>7 DOCUMENTÁRIOS NA PRÁTICA ...............................................................................................................122</p><p>7.1 Etapas importantes na pré-produção ........................................................................................122</p><p>7.1.1 Pesquisa de campo .............................................................................................................................. 123</p><p>7.1.2 Pesquisa documental ......................................................................................................................... 126</p><p>7.1.3 Organização das pautas .................................................................................................................... 127</p><p>7.2 Definição do estilo e abordagem .................................................................................................128</p><p>7.3 Pré-roteiro, roteiro e espelho no documentário ...................................................................130</p><p>7.4 Argumento ............................................................................................................................................134</p><p>7.5 Sinopse ...................................................................................................................................................135</p><p>ampliar a linguagem televisiva.</p><p>[...] gênero é uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma</p><p>determinada linguagem, um certo modo de organizar ideias, meios e recursos</p><p>expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir</p><p>a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às</p><p>comunidades futuras. Num certo sentido, é o gênero que orienta todo o</p><p>40</p><p>Unidade I</p><p>uso da linguagem no âmbito de um determinado meio, pois é nele que</p><p>se manifestam as tendências expressivas mais estáveis e mais organizadas</p><p>da evolução de um meio, acumuladas ao longo de várias gerações de</p><p>enunciadores. Mas não se deve extrair daí a conclusão de que o gênero é</p><p>necessariamente conservador. Por estarem inseridas na dinâmica de uma</p><p>cultura, as tendências que preferencialmente se manifestam num gênero</p><p>não se conservam ad infinitum, mas estão em contínua transformação no</p><p>mesmo instante em que buscam garantir uma certa estabilização. “O gênero</p><p>sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo [...]</p><p>(Bakhtin, 1981, p. 91).</p><p>Saiba mais</p><p>A Agência Nacional do Cinema (Ancine) é o órgão do Governo Federal</p><p>responsável por fomentar, regular e fiscalizar toda a indústria cinematográfica</p><p>e videográfica do Brasil. Para a Ancine, a produção audiovisual brasileira é uma</p><p>ampla cadeia produtiva e engloba a produção de conteúdo, a distribuição</p><p>desses produtos, as salas de exibição (cinemas), a TV paga, a TV aberta, os</p><p>vídeos domésticos e o streaming.</p><p>BRASIL. Ministério da Cultura. Ancine, [2023]. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/28fms6a2. Acesso em: 20 dez. 2023.</p><p>Couldry e McCarthy (2018) afirmam que a televisão continua a fornecer um padrão cultural para</p><p>a produção e consumo de conteúdo. Por isso, é importante continuar analisando e debatendo gêneros</p><p>televisivos, a fim de entender como eles podem afetar positivamente ou negativamente a sociedade em</p><p>que vivemos. Segue uma lista com os principais gêneros da televisão.</p><p>• Telejornal: apresenta notícias e informações atuais e relevantes. É considerado um gênero</p><p>jornalístico e tem como objetivo informar o público sobre acontecimentos políticos, sociais,</p><p>culturais, esportivos, econômicos etc. Exemplo: Jornal da Band.</p><p>• Talk shows: programas que apresentam uma conversa informal entre apresentador e convidados,</p><p>com a intenção de entreter e informar o público. Os temas abordados podem variar desde cultura</p><p>pop até política e assuntos sociais. Exemplo: The Noite, do SBT.</p><p>41</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 16 – O humorista Danilo Gentili com a xícara do cenário que tem Jô Soares como referência</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2zasjbjt. Acesso em: 21 dez. 2023.</p><p>42</p><p>Unidade I</p><p>• Variedades: são programas caracterizados pela diversidade de assuntos que são abordados,</p><p>como música, entretenimento, culinária, entrevistas, entre outros. Esse tipo de programa tem como</p><p>objetivo atrair um público amplo e diversificado. Exemplo: Hoje em Dia, da TV Record.</p><p>• Seriados: programas que contam histórias em episódios sequenciais. Eles têm personagens</p><p>recorrentes e uma trama que se desenvolve ao longo de várias temporadas. Exemplo: La Casa de</p><p>Papel, da Netflix.</p><p>• Telenovelas: são programas de televisão que contam histórias fictícias por meio de capítulos</p><p>diários. São bastante populares na América Latina e em outros países do mundo. As telenovelas</p><p>têm como objetivo entreter o público com tramas românticas, dramáticas e intrigantes. Exemplo:</p><p>Avenida Brasil, da TV Globo.</p><p>Figura 17 – Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Debora Falabella),</p><p>protagonistas da telenovela Avenida Brasil, que foi vendida a mais de 130 países</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/yhf6pm3n. Acesso em: 21 dez. 2023.</p><p>43</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Esportes: programas que apresentam notícias e informações sobre o mundo dos esportes. Eles</p><p>incluem transmissões ao vivo de eventos, entrevistas com atletas e treinadores, análises de jogos</p><p>e campeonatos, entre outras atrações. Exemplo: Globo Esporte, da TV Globo.</p><p>• Debates: apresentam um grupo de pessoas discutindo um tema específico. São frequentemente</p><p>usados para discutir questões políticas e sociais. Exemplo: O Grande Debate, da CNN Brasil.</p><p>• Filmes: programas de televisão que apresentam produções cinematográficas. Eles são exibidos</p><p>em diferentes horários e dias da semana e têm como objetivo entreter o público com histórias</p><p>emocionantes, engraçadas, dramáticas ou de suspense. Exemplo: Sessão Família, da TV Brasil.</p><p>• Documentários: apresentam informações e fatos sobre um tema específico. São produzidos</p><p>com o objetivo de informar e educar o público sobre determinado assunto. Exemplo: Planeta</p><p>Terra, da BBC.</p><p>• Educativos: trazem para o público informações e orientações sobre temas que a audiência</p><p>tem interesse em conhecer. Podem também oferecer cursos a distância, correções de provas,</p><p>preparatórios etc. Exemplo: Caiu no Enem, da TV Brasil.</p><p>• Adulto: esse gênero é caracterizado por programas destinados a um público adulto, com temas</p><p>e conteúdos que podem incluir sexo, violência, drogas, entre outros assuntos considerados</p><p>impróprios para menores de idade. Exemplo: Game of Thrones, da HBO.</p><p>• Reality-shows: geralmente apresentam pessoas vivendo em um ambiente controlado e sendo</p><p>filmadas 24 horas por dia. Têm como objetivo entreter o público com dramas e conflitos entre os</p><p>participantes. Exemplo: A Fazenda, da TV Record.</p><p>• Televendas: são programas que apresentam produtos e serviços que podem ser adquiridos pelo</p><p>público por meio de telefone ou internet. Têm como objetivo vender produtos de maneira direta</p><p>e persuasiva. Exemplo: Polishop TV, do Grupo Polimport.</p><p>• Policiais: mostram histórias de crimes e investigações policiais. Têm como objetivo informar</p><p>e entreter o público com histórias intrigantes e emocionantes. Exemplo: Aeroporto Madrid, da</p><p>National Geographic.</p><p>• Religiosos: trazem informações e pregações de diferentes crenças e religiões. Têm como</p><p>objetivo transmitir mensagens de fé e espiritualidade ao público. Exemplo: A Voz da Profecia, da</p><p>Rede Novo Tempo.</p><p>• Humorísticos: apresentam comédia e humor em diferentes formatos, como esquetes, paródias,</p><p>piadas, entre outros. Têm como objetivo entreter o público com momentos de descontração e</p><p>risos. Exemplo: A Praça é Nossa, do SBT.</p><p>• Infantis: programas que apresentam conteúdo voltado para crianças, com desenhos animados,</p><p>filmes, seriados, histórias educativas e divertidas, músicas, brincadeiras e atividades lúdicas. Têm</p><p>como objetivo educar e entreter o público infantojuvenil. Exemplo: TV Brasil Animada, da TV Brasil.</p><p>44</p><p>Unidade I</p><p>Figura 18 – TV Brasil Animada é a maior faixa de programação infantil da TV aberta brasileira</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/e9d2j8tw. Acesso em: 21 dez. 2023.</p><p>• Musicais: são programas que apresentam performances musicais ao vivo, clipes e shows de</p><p>artistas nacionais e internacionais. Eles têm como objetivo entreter o público com boa música e</p><p>dança. Exemplo: The Voice Brasil, da TV Globo.</p><p>A grade de programação televisiva é o que move os interesses do público, e vemos que a briga pelos</p><p>pontos de audiência, mesmo com a explosão da internet, segue bastante intensa entre as principais</p><p>emissoras. Veja a seguir um modelo de grade de programação que até hoje as emissoras de TV utilizam:</p><p>Figura 19 – Parte da programação matutina da TV Brasil</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/s72zppf4. Acesso em: 22 jan. 2024.</p><p>45</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Para Arlindo Machado (2000), grade de programação é um esquema organizacional que determina</p><p>a disposição dos programas na grade horária da televisão. De acordo com o autor, a grade é composta</p><p>de blocos que representam cada um dos programas exibidos em uma emissora. Cada bloco pode conter</p><p>informações como nome do programa, horário de início e término, classificação indicativa e sinopse.</p><p>Machado (2000) destaca que a grade de programação é uma estratégia de comunicação que visa</p><p>criar e manter a audiência de uma emissora. A escolha dos programas,</p><p>sua duração e sua disposição</p><p>na grade são determinadas por critérios como o perfil do público-alvo, a concorrência com outras</p><p>emissoras e a disponibilidade de recursos financeiros.</p><p>A grade de programação é uma ferramenta essencial para a organização da programação e sua</p><p>apresentação ao público. Por exemplo, se uma emissora exibe um programa infantil pela manhã, um</p><p>programa de culinária ao meio-dia e uma novela à noite, a grade de programação permite que os</p><p>telespectadores saibam antecipadamente o que será exibido em cada horário. Isso facilita a escolha do</p><p>que assistir e, consequentemente, contribui para a fidelização da audiência.</p><p>Além disso, a grade de programação permite que as emissoras vendam espaços publicitários com</p><p>maior eficiência. Por exemplo, se um anunciante deseja exibir um comercial voltado ao público jovem,</p><p>ele pode escolher os horários e os programas que atendam a esse objetivo de marketing. Dessa forma, a</p><p>grade de programação pode ser uma ferramenta importante para a publicidade e o financiamento das</p><p>emissoras de televisão.</p><p>Segundo Figueiredo (1997), a produção televisiva na década de 1980 foi dominada pelos grandes</p><p>canais de televisão aberta, que controlavam a maior parte da audiência e do mercado publicitário.</p><p>Os  programas de TV eram predominantemente produzidos em formato de série, sitcoms, dramas e</p><p>novelas, e eram exibidos em horários fixos e programados semanalmente. Além disso, a televisão começou</p><p>a experimentar a transmissão de eventos ao vivo e esportes, o que aumentou significativamente a</p><p>audiência e o interesse do público.</p><p>O surgimento dos videocassetes, uma das mudanças significativas dos anos 1980, permitiu que</p><p>telespectadores gravassem seus programas favoritos e assistissem quando quisessem. Houve também a</p><p>introdução de novas tecnologias, como as transmissões por satélite, que permitiram passar programas</p><p>para outros países, e a TV a cabo, que ampliou a quantidade de canais disponíveis. Essas mudanças</p><p>impulsionaram a diversificação da programação, que passou a incluir programas educativos, de</p><p>entretenimento infantil e cultural, além de documentários e talk shows.</p><p>A evolução da TV brasileira foi marcada pelo fenômeno das telenovelas, que se tornaram uma das</p><p>principais formas de entretenimento da época, destaca Facina (2003). A diversificação da programação,</p><p>com a introdução de programas educativos e culturais, e a crescente importância do esporte na televisão</p><p>fortaleceram o audiovisual como indústria. Apesar das mudanças tecnológicas nos anos 1990 e 2000, a</p><p>televisão ainda era vista como um meio de comunicação de massa que se preocupava em atender a um</p><p>público amplo e heterogêneo.</p><p>46</p><p>Unidade I</p><p>No Brasil, entre os produtos audiovisuais que mais se destacam estão as novelas, os reality-shows e</p><p>os longas-metragens comerciais. Nas últimas décadas, o documentário tem ampliado seu espaço e, mais</p><p>recentemente, tem sido notória a produção de séries e webséries documentais voltadas a plataformas</p><p>de streaming como Netflix, Amazon Prime e Globoplay.</p><p>Agora, vamos falar do cinema e seus gêneros, para conhecer melhor essa indústria criativa que tem</p><p>no documentário uma referência. O cinema é uma forma de arte ampla e diversificada que engloba uma</p><p>variedade de gêneros e subgêneros. Vários autores se dedicam ao estudo e à classificação desses gêneros</p><p>cinematográficos, analisando suas características e evolução ao longo do tempo.</p><p>A análise de Altman (1999) aponta como as características formais e as temáticas dos filmes podem</p><p>ser interpretadas e classificadas em diferentes categorias, dividindo os gêneros em três grandes grupos,</p><p>cada um com subdivisões específicas: tragédia, comédia e sociedade.</p><p>Entre os gêneros mais conhecidos do cinema, destacam-se: ação, adulto, animação, aventura,</p><p>comédia, documentário, drama, faroeste, ficção científica, musical, policial, religioso, suspense e terror.</p><p>Cada um desses gêneros tem características próprias e subgêneros específicos, que se desenvolvem e</p><p>evoluem ao longo do tempo, acompanhando as mudanças culturais e sociais da época. Vamos detalhar</p><p>um pouco mais cada gênero cinematográfico.</p><p>• Ação: caracterizado por cenas intensas de luta, perseguições e explosões, geralmente acompanhadas</p><p>de uma trama que envolve violência e confrontos. Os filmes de ação podem ser divididos em</p><p>subgêneros: filmes de artes marciais, filmes de espionagem, filmes de super-heróis, filmes de</p><p>guerra, entre outros. Exemplos de filmes de ação: Velozes e furiosos (2001), dirigido por Rob</p><p>Cohen, Missão impossível (1996), dirigido por Brian de Palma, e Kill Bill: volume 1 (2003), com</p><p>direção de Quentin Tarantino.</p><p>• Adulto: também conhecidos como filmes para maiores, são caracterizados por conter cenas</p><p>explícitas de sexo, violência ou linguagem inadequada para menores de idade. Muitos desses</p><p>filmes são classificados como pornográficos e costumam ser produzidos com baixo orçamento.</p><p>Alguns exemplos de subgêneros são o softcore, o hardcore, o BDSM e o fetish. Exemplos de</p><p>produções: Taboo (1980), dirigido por Kirdy Stevens, Cinquenta tons de cinza (2015), dirigido por</p><p>Sam Taylor-Johnson, e De olhos bem fechados (1999), dirigido por Stanley Kubrick.</p><p>• Animação: é um dos gêneros mais antigos e importantes no cinema. Nesse tipo de filme é utilizada</p><p>a técnica de animação, ou seja, desenhos animados, stop-motion, computação gráfica, entre outras</p><p>técnicas, para criar personagens e contar histórias, como O menino e o mundo (2013), dirigido</p><p>por Alê Abreu. Entre os subgêneros de animação, temos os filmes infantis, como Toy story (1995),</p><p>dirigido por John Lasseter, e Frozen (2013), dirigido por Chris Buck e Jennifer Lee, que são voltados</p><p>para um público mais jovem e costumam apresentar temas de fantasia e aventura. Também há</p><p>os filmes de animação para adultos, como South Park: maior, melhor e sem cortes (1999), com</p><p>direção de Trey Parkere, e Akira (1988), de Katsuhiro Ôtomo, que apresentam temas mais sérios e</p><p>maduros, incluindo violência, sexo e críticas sociais. Outro subgênero importante é o anime, estilo de</p><p>animação de origem japonesa que ganhou grande popularidade no mundo todo. Exemplos: Dragon</p><p>ball (1986), com direção de Daisuke Nishio, e Naruto (2002), dirigido por Hayato Date.</p><p>47</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 20 – O menino e o mundo (2013), dirigido por Alê Abreu,</p><p>recebeu ótimas críticas e concorreu ao Oscar</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2p9x3vj3. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>48</p><p>Unidade I</p><p>• Aventura: filmes caracterizados por apresentar histórias com muita ação e aventura, geralmente</p><p>com um herói em busca de uma meta. Esse tipo de filme pode ser dividido em subgêneros, como</p><p>aventura de fantasia, aventura de ação, aventura de sobrevivência, entre outros. Exemplos:</p><p>Indiana Jones e os caçadores da arca perdida (1981), dirigido por Steven Spielberg, Jurassic Park</p><p>(1993), do mesmo diretor, e Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra (2003), dirigido por</p><p>Gore Verbinski.</p><p>• Comédia: têm como objetivo fazer o público rir e se divertir. Geralmente, são caracterizados por</p><p>piadas, situações engraçadas e personagens cômicos. Podem ser divididos em subgêneros, como</p><p>comédia romântica, comédia de ação, comédia de ficção científica, entre outros. Exemplos:</p><p>Debi & Lóide (1994), dirigido pelos irmãos Farrelly, Minha mãe é uma peça (2013), dirigido por</p><p>André Pellenz, e Se beber, não case (2009), dirigido por Todd Phillips.</p><p>• Documentário: ao contrário dos demais gêneros citados anteriormente, o documentário</p><p>tem como objetivo principal registrar a realidade, seja ela histórica, social, política, científica,</p><p>entre outras possibilidades. A narrativa é construída com imagens e depoimentos de pessoas</p><p>envolvidas com o tema e pode ter diferentes estilos, como o cinema verité, que busca</p><p>captar a realidade de forma mais crua e direta, e o mockumentary, que utiliza elementos do</p><p>documentário para criar uma narrativa ficcional. Exemplos: Democracia em vertigem (2019),</p><p>dirigido pela brasileira Petra Costa, Estamira</p><p>(2004), dirigido por Marcos Prado, e 13th (2016), dirigido</p><p>por Ava DuVernay.</p><p>49</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 21 – Cartaz de Estamira (2004), premiado documentário dirigido por</p><p>Marcos Prado que conta a história da catadora de lixo Estamira Gomes de Sousa</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/53eb8z4x. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>50</p><p>Unidade I</p><p>• Drama: filmes caracterizados por apresentar histórias emocionantes e tocantes, com personagens</p><p>complexos e conflitos intensos. Muitas vezes, os dramas abordam temas como amor, perda e</p><p>superação. Podem ser divididos em subgêneros, como drama de época, drama biográfico, drama</p><p>familiar, entre outros. Exemplos de filmes de drama: Forrest Gump (1994), com direção de Robert</p><p>Zemeckis, A lista de Schindler (1993), com direção de Steven Spielberg, Central do Brasil (1998),</p><p>dirigido por Walter Salles, e Carandiru (2003), dirigido por Hector Babenco.</p><p>Figura 22 – Um drama misturado com um fato histórico resultou</p><p>no filme Carandiru (2003), dirigido por Hector Babenco</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/yzrtzfku. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>51</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Faroeste: é um gênero que se popularizou nas décadas de 1940 e 1950 e retrata histórias</p><p>ambientadas no Velho Oeste estadunidense. Caracterizado por duelos, tiroteios e cavalaria,</p><p>o faroeste costuma ser associado a ideais como justiça, honra e coragem. Alguns exemplos de</p><p>subgêneros são o spaghetti western, filmes produzidos na Itália, e o revisionist western, que</p><p>questiona a idealização dos personagens e situações do faroeste tradicional. Exemplos clássicos</p><p>do gênero: Três homens em conflito (1966), dirigido por Sergio Leone, e Os imperdoáveis (1992),</p><p>dirigido por Clint Eastwood.</p><p>• Ficção científica: esse gênero apresenta cenários e tecnologias futuristas, muitas vezes explorando</p><p>temas como viagem no tempo, exploração espacial, inteligência artificial, distopias e mundos</p><p>pós-apocalípticos. Entre os subgêneros mais comuns estão a ficção científica de ação, a ficção</p><p>científica distópica e a de exploração espacial. Exemplos: Blade Runner (1982), dirigido por Ridley</p><p>Scott, Matrix (1999), dirigido por Lilly e Lana Wachowski, Interestelar (2014), dirigido por Christopher</p><p>Nolan, e Star Wars (1977), dirigido por George Lucas.</p><p>• Musical: como o próprio nome sugere, o gênero se caracteriza por incluir números musicais em</p><p>sua narrativa. Podem ser cantados, dançados ou ambos e geralmente são usados para expressar</p><p>emoções ou avançar a trama. O musical pode ser dividido em subgêneros, como o jukebox musical,</p><p>que utiliza músicas populares já existentes em sua trilha sonora, e o opereta, que segue uma estrutura</p><p>mais próxima da ópera, com falas cantadas. Exemplos: Chicago (2002), dirigido por Rob Marshall,</p><p>Ó paí, ó (2007), dirigido por Monique Gardenberg, e Mamma mia! (2008), dirigido por Phyllida Lloyd.</p><p>• Policial: é um importante gênero do cinema. Geralmente se concentra em crimes, investigações,</p><p>mistérios e, muitas vezes, apresenta um detetive ou policial como protagonista. Alguns</p><p>subgêneros comuns são o policial noir, thriller policial, filme de investigação e filme de ação</p><p>policial. Exemplos: Chinatown (1974), dirigido por Roman Polanski, e Tropa de elite (2007),</p><p>dirigido por José Padilha.</p><p>• Religioso: explora temas relacionados à religião e à espiritualidade. Entre os subgêneros,</p><p>destacam-se os filmes bíblicos, que recontam histórias do Antigo e do Novo Testamento, e os</p><p>filmes sobre figuras religiosas e santos. Exemplos: A paixão de Cristo (2004), dirigido por Mel</p><p>Gibson, Ben-Hur (1959), dirigido por William Wyler, e O príncipe do Egito (1998), dirigido por</p><p>Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells.</p><p>• Suspense: filmes caracterizados por manter o espectador tenso e curioso, geralmente com uma</p><p>trama que envolve mistério, perigo e reviravoltas. Podem ser divididos em subgêneros, como</p><p>suspense psicológico, suspense de ação, suspense de terror, entre outros. Exemplos de filmes</p><p>de suspense: Psicose (1960), dirigido por Alfred Hitchcock, O silêncio dos inocentes (1991), com</p><p>direção de Jonathan Demme, e Seven (1995), com direção de David Fincher.</p><p>• Terror: filmes que têm como objetivo assustar o público, geralmente com a presença de elementos</p><p>sobrenaturais, criaturas aterrorizantes e cenas de violência. Podem ser divididos em subgêneros, como</p><p>terror psicológico, terror slasher, terror sobrenatural, entre outros. Exemplos de filmes de terror:</p><p>À meia-noite levarei sua alma (1964), dirigido por José Mojica Marins, O exorcista (1973), dirigido por</p><p>William Friedkin, O iluminado (1980), dirigido por Stanley Kubrick, Bruxa de Blair (1999), dirigido</p><p>por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, e Encantado (2020), com direção de Maurício Leite.</p><p>52</p><p>Unidade I</p><p>Figura 23 – Bruxa de Blair (1999), dirigido por Daniel Myrick e</p><p>Eduardo Sánchez, é um marco do terror documental</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/46zdsbjz. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Os documentários podem abordar temas que são comuns em outros gêneros de cinema, como</p><p>a religião, a política, a guerra ou o crime, mas com uma abordagem mais realista e informativa.</p><p>Para o cineasta e teórico do cinema Jean Rouch, o documentário tem o potencial de “produzir</p><p>conhecimento novo” (Rouch, 2003, p. 14) e “revelar aspectos inesperados da realidade” (Rouch,</p><p>2003, p. 15).</p><p>Pode-se dizer que, embora existam diferenças entre o gênero documentário e outros gêneros de</p><p>cinema, essas fronteiras podem ser permeáveis e influenciam umas às outras. Como afirma o crítico</p><p>de cinema André Bazin, “o documentário e a ficção não são categorias estanques; eles se infiltram</p><p>mutuamente e se complementam” (1971, p. 11).</p><p>Sendo assim, a televisão e o cinema são fundamentais para a produção de conteúdo audiovisual,</p><p>fornecendo uma base sólida para a criação de programas de televisão, documentários, filmes e outros</p><p>tipos de produção. Embora a internet esteja crescendo em popularidade, a televisão ainda tem um papel</p><p>importante na sociedade, influenciando a cultura popular e servindo de ponto de referência para a</p><p>produção de conteúdo em outras mídias.</p><p>53</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Observação</p><p>A produção audiovisual vai muito além do entretenimento e da</p><p>simples entrega de conteúdo. Ela gera informação, mobilização social em</p><p>torno de temas pertinentes e é também um segmento importante para a</p><p>economia brasileira. Segundo manifesto assinado por 63 entidades do setor</p><p>audiovisual brasileiro e lido durante a 47ª edição do Festival de Cinema de</p><p>Gramado (RS), em 2019, a área movimenta mais de 25 bilhões de reais</p><p>anualmente, o que representa 0,46% do Produto Interno Bruto (PIB) do</p><p>Brasil, e ainda é responsável pela geração de mais de 330 mil empregos</p><p>(Entidades [...], 2019).</p><p>2 NASCIMENTO DO CINEMA: DO BRINQUEDO AO REAL</p><p>Para entender a evolução da linguagem cinematográfica, é necessário voltar ao final do século XIX</p><p>e compreender o contexto da época. Naquele período, as pessoas buscavam se entreter por meio de</p><p>diversas formas culturais populares, como o teatro, os cartuns, as revistas ilustradas, os cartões-postais</p><p>e os espetáculos de lanterna mágica. Esses últimos, inclusive, são apontados como um instrumento</p><p>importante para o desenvolvimento do cinema.</p><p>O mito da reprodução gráfica do movimento remonta a milhares de anos, tendo surgido na mente</p><p>do homem primitivo ao perceber que a realidade ao seu redor não é estática, mas sim em constante</p><p>mudança. Esse desejo de capturar o movimento não se limitou apenas ao cinema e pode ser observado</p><p>em outras formas de arte ao longo da história. Por exemplo, muitas obras de arte foram criadas com</p><p>a intenção de capturar movimento físico no espaço ou no tempo, como na pintura com vocação</p><p>cinematográfica. Isso mostra como a fascinação do ser humano pela captura do movimento é uma</p><p>constante ao longo dos séculos, sendo uma das principais motivações para a criação e evolução das</p><p>artes visuais.</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça o site do projeto Primeiro Filme, referência no ensino</p><p>introdutório ao audiovisual.</p><p>PRIMEIRO FILME. Primeiro Filme, Brasília, [20--]. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/a7etfdbc. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>54</p><p>Unidade I</p><p>O cinema surge em um momento de efervescência das experiências científicas, tecnológicas e</p><p>culturais, em um contexto de modernização da vida urbana e de intensificação dos fluxos migratórios</p><p>e da comunicação a distância. Nesse sentido, pode-se dizer que o cinema nasce como um produto típico</p><p>da modernidade, que reflete e produz novas formas de percepção do mundo e de experiência do tempo</p><p>e do espaço (Costa, 2006).</p><p>Podemos dizer que o cinema nasceu da combinação de três invenções: a fotografia, o teatro e a</p><p>ciência. A fotografia permitiu a captura de imagens estáticas, o teatro contribuiu para desenvolver</p><p>a dramaturgia e a atuação, e a ciência possibilitou o aprimoramento de equipamentos técnicos e a</p><p>descoberta do movimento.</p><p>Figura 24 – Lâminas pintadas à mão que faziam parte de um espetáculo de lanterna mágica</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/ypw3ud5u. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>A lanterna mágica, inventada no século XVII, é considerada antecessora dos projetores modernos</p><p>utilizados atualmente nas salas de cinema. O equipamento projetava imagens pintadas à mão em</p><p>lâminas de vidro e sua estrutura era simples, porém encantadora para a plateia. Conforme explica</p><p>Costa (2006, p. 17), “uma caixa iluminada em seu interior por uma vela projetava imagens em</p><p>paredes, telas claras ou tecidos brancos dispostos em um ambiente escuro”. As imagens estáticas</p><p>eram trocadas manualmente pelo responsável pela exibição, gerando a sensação de continuidade.</p><p>Os espetáculos de lanterna mágica contavam com a presença de um narrador e, em alguns casos,</p><p>com acompanhamento musical.</p><p>55</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Saiba mais</p><p>Assista aos vídeos e entenda o funcionamento da lanterna mágica.</p><p>LANTERNA mágica. 2012. 1 vídeo (42 s). Publicado pelo canal Leticia</p><p>Capanema. Disponível em: http://tinyurl.com/ys3jv6h7. Acesso em:</p><p>27 dez. 2023.</p><p>OLHOS d’Água – da Lanterna Mágica ao Cinematographo | TRAILER.</p><p>2019. 1 vídeo (2 min 34 s). Publicado pelo canal mekaronfilmes. Disponível</p><p>em: http://tinyurl.com/mpj5uhfk. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>RAPPRESENTAZIONE con la Lanterna Magica – Museo del PRECINEMA di</p><p>Padova. 2009. 1 vídeo (3 min 11 s). Publicado pelo canal Museo del PRECINEMA</p><p>– Collezione Minici Zotti. Disponível em: http://tinyurl.com/56adtm53.</p><p>Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Figura 25 – Ilustração de uma lanterna mágica</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4ep4sc7w. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>56</p><p>Unidade I</p><p>Figura 26 – Lanterna mágica exposta na Cinemateca Francesa</p><p>Saiba mais</p><p>Para mais informações sobre animação e sua influência no conceito de</p><p>cinema, leia:</p><p>GUNNING, T. Cinema e história: fotografias animadas, contos do esquecido</p><p>futuro do cinema. In: XAVIER, I. (org.). O cinema no século. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 1996.</p><p>O flipbook foi criado em 1898 por J. B. Linnet. É constituído por um conjunto de imagens</p><p>sequenciais  que, quando folheadas, garantem a sensação de movimento. Segundo Costa (2006),</p><p>outros dispositivos que fizeram parte da história do cinema e foram importantes para o desenvolvimento</p><p>da linguagem cinematográfica foram:</p><p>• Taumatrópio: consiste em um disco com duas imagens diferentes em cada lado, ligado a dois</p><p>pedaços de barbante. Quando o barbante é girado rapidamente entre os dedos, as imagens</p><p>se fundem em uma única imagem. O taumatrópio foi um dos precursores do cinema, pois já</p><p>antecipava o efeito de fusão de imagens, que é a base da produção de imagens em movimento.</p><p>57</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Fenacistocópio: utiliza uma série de imagens fixas dispostas em um disco que é girado</p><p>rapidamente. Essas imagens são vistas através de uma fenda, o que cria a ilusão de movimento.</p><p>O fenacistocópio foi criado em 1833 pelo belga Joseph Plateau.</p><p>• Praxinoscópio: é similar ao fenacistocópio, mas com a diferença de que as imagens são refletidas</p><p>em espelhos e vistas através de uma série de fendas. Isso permite uma maior nitidez e definição</p><p>das imagens em movimento. O praxinoscópio foi criado pelo francês Charles Émile Reynaud em</p><p>1877 e foi um importante passo para a criação do cinema animado.</p><p>Figura 27 – Praxinoscópio exposto na Cinemateca Francesa</p><p>De acordo com Costa (2006), o cinema surgiu no final do século XIX em meio a outras formas</p><p>culturais populares, como o circo, o teatro de variedades e a lanterna mágica. Foi a possibilidade de</p><p>registrar e reproduzir imagens em movimento que consolidou o cinema como uma forma de arte e</p><p>entretenimento única. Após a fase de animações com desenhos, foi iniciada a fase com equipamentos</p><p>que já faziam fotografias sequenciais, trazendo imagens reais em movimento, que foram os primeiros</p><p>registros documentais.</p><p>• Zoopraxioscópio: considerado um dos primeiros aparelhos capazes de projetar imagens em</p><p>movimento. Foi inventado pelo fotógrafo britânico Eadweard Muybridge no final do século XIX</p><p>e consistia em um disco com uma série de imagens em sequência, que era girado rapidamente,</p><p>criando a ilusão de movimento. Com esse aparelho, Muybridge conseguiu documentar</p><p>cientificamente o movimento de animais e humanos em ação, o que foi um marco na história do</p><p>cinema e da fotografia.</p><p>58</p><p>Unidade I</p><p>Figura 28 – Imagens de cavalo em movimento feitas por Eadweard Muybridge.</p><p>Utilizando um zoopraxioscópio, ele foi capaz de reproduzir o galope do cavalo</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2z8cedth. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>• Fuzil photographique: câmera fotográfica desenvolvida pelo inventor francês Étienne-Jules</p><p>Marey no final do século XIX. Era capaz de capturar várias imagens em sequência em uma única</p><p>placa fotográfica, permitindo a análise detalhada do movimento de objetos em alta velocidade,</p><p>como pássaros em voo ou atletas em movimento.</p><p>• Chronophotographie: foi uma técnica fotográfica desenvolvida pelo inventor francês</p><p>Étienne-Jules Marey no final do século XIX. Consistia em capturar várias imagens de um objeto</p><p>em movimento em sequência, utilizando uma câmera fotográfica especialmente desenvolvida</p><p>para esse fim. Com essa técnica, Marey foi capaz de documentar o movimento humano e animal</p><p>de uma maneira nunca vista antes, permitindo a análise científica detalhada do movimento e a</p><p>criação de animações em stop-motion.</p><p>59</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Saiba mais</p><p>Aprenda a fazer um fenacistoscópio, um praxinoscópio e um</p><p>taumatrópio:</p><p>EFEITO ilusório – Fenacistoscópio (Phenakistiscope). 2022. 1 vídeo</p><p>(3 min 45 s). Publicado pelo canal Projeto Maker. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/3amyns96. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>EXPERIMENTANDO: Praxinoscópio (princípio do cinema) / Praxinoscope</p><p>(cinema principle). 2022. 1 vídeo (1 min 49 s). Publicado pelo canal</p><p>Projeto Maker. Disponível em: http://tinyurl.com/2wcvux6j. Acesso em:</p><p>27 dez. 2023.</p><p>FAZENDO um taumatrópio. 2022. 1 vídeo (58 s). Publicado pelo canal</p><p>Sophia Carneiro. Disponível em: http://tinyurl.com/yttbjt62. Acesso em:</p><p>27 dez. 2023.</p><p>Gunning (1996), estudioso da história do cinema, conta que, quando o cinema apareceu, era muitas</p><p>vezes chamado de fotografias animadas, pois parecia acrescentar um algo mais de movimento vital à</p><p>imagem anteriormente captada estaticamente.</p><p>Saiba mais</p><p>Faça um passeio virtual na Cinemateca Francesa, no Google</p><p>Arts & Culture.</p><p>GOOGLE Arts & Culture. The Cinémathèque Française, [2023].</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4amxhmz8. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>No final do século XIX, Thomas Edison patenteou o cinetoscópio, ou quinetoscópio, e Auguste e</p><p>Louis Lumière criaram o cinematógrafo. Com o surgimento dessas duas invenções, o cinema ganhou</p><p>vida e forma efetivamente.</p><p>60</p><p>Unidade I</p><p>Figura 29 – Retrato de Thomas Edison</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/yb38dm5s. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>O inventor e empreendedor estadunidense Thomas Edison é responsável por algumas tecnologias</p><p>que mudaram a história da humanidade. Ele registrou mais de mil patentes de invenções e alcançou</p><p>projeção em todo o mundo com</p><p>invenções como a lâmpada incandescente, o mimeógrafo (máquina</p><p>que fazia cópias de documentos) e o quinetoscópio, conhecido mais popularmente como cinetoscópio.</p><p>Figura 30 – Interior de um cinetoscópio</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/336bnhvv. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>61</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Segundo Costa (2006), Thomas Edison reuniu uma equipe de profissionais em 1889 em seus</p><p>laboratórios em West Orange, Nova Jersey, com a missão de criar uma máquina capaz de produzir e</p><p>mostrar fotografias em movimento. O time foi encabeçado pelo engenheiro William Dickson e o objetivo</p><p>foi alcançado com sucesso. Em 1891, o cinetoscópio e o quinetógrafo estavam prontos para serem</p><p>patenteados e, em 1893, as novas tecnologias já estavam devidamente registradas.</p><p>O cinetoscópio tinha um visor individual através do qual se podia assistir, mediante a inserção de</p><p>uma moeda, à exibição de uma pequena tira de filme em looping, na qual apareciam imagens em</p><p>movimento de números cômicos, animais amestrados e bailarinas. O quinetógrafo era a câmera que</p><p>fazia esses filmetes (Costa, 2006).</p><p>Quem quisesse ver as produções colocava um dos olhos no orifício da câmara escura e, somente</p><p>assim, conseguia acompanhar a história que estava sendo contada. Então os filmes não eram</p><p>exibidos em tela, mas sim projetados em caixas fechadas, e a imagem era vista por um espectador</p><p>de cada vez, através de um pequeno orifício feito na caixa, o que não parece ser uma sala de cinema</p><p>exatamente confortável.</p><p>Figura 31 – Sala de exibição individual com cinetoscópios em 1985</p><p>Adaptada de: http://tinyurl.com/2hp9vdaa. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Não demorou muito para que a invenção de Thomas Edison começasse a se popularizar em</p><p>solo estadunidense. De acordo com Costa (2006), um ano depois da descoberta já havia ambientes</p><p>estruturados para a exibição de curtas nos Estados Unidos. “O primeiro salão de quinetoscópios, com</p><p>dez máquinas, cada uma delas mostrando um filme diferente, iniciou suas atividades em abril de 1894</p><p>em Nova York” (Costa, 2006, p. 19).</p><p>62</p><p>Unidade I</p><p>Embora o cinetoscópio tenha sido um importante precursor do cinema, ele tinha limitações, pois só</p><p>podia ser usado por uma pessoa de cada vez e não permitia a exibição coletiva de filmes. Foi a partir do</p><p>cinetoscópio e de outras inovações tecnológicas que os irmãos Lumière desenvolveram o cinematógrafo,</p><p>um equipamento que permitia a projeção coletiva de imagens em movimento.</p><p>Figura 32 – Retrato dos irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/59tsdpe2. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Em dezembro de 1895, os irmãos apresentaram aquele que seria verdadeiramente um divisor de</p><p>águas na história do cinema: o cinematógrafo. O aparelho portátil permitia a captação de imagens, a</p><p>revelação do filme e ainda a projeção do conteúdo em uma sala para várias pessoas ao mesmo tempo.</p><p>Era composto de um mecanismo de captação de imagens que utilizava um rolo de filme perfurado para</p><p>registrar as imagens em sequência, um obturador e uma lente que permitia o foco das imagens.</p><p>A invenção aperfeiçoou o aparelho criado por Thomas Edison e sua equipe, já que agora era possível</p><p>também assistir a filmes de forma coletiva. O cinematógrafo dos irmãos combinava as funções do</p><p>cinetoscópio, que permitia a exibição individual de imagens em movimento, com as de um projetor, que</p><p>permitia a exibição coletiva (Costa, 2006).</p><p>O dispositivo tinha um mecanismo de projeção que consistia em um sistema de lentes, um projetor</p><p>de luz elétrica e um mecanismo de avanço de filme que permitia a exibição das imagens em movimento</p><p>na tela. Essas características permitiram que o cinematógrafo se tornasse um equipamento versátil e</p><p>revolucionário, capaz de registrar e projetar imagens em movimento.</p><p>63</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 33 – Cinematógrafo dos irmãos Lumière</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4s6pxrpj. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Sabe-se que um filme é constituído por um enorme número de imagens</p><p>fixas, chamadas fotogramas, dispostas em sequências em uma película</p><p>transparente; passando de acordo com um certo ritmo em um projetor,</p><p>essa película dá origem a uma imagem muito aumentada, e que se move</p><p>(Aumont, 1995, p. 19).</p><p>Um minidocumentário foi a primeira exibição pública de um filme. Em 28 de dezembro de 1895, no</p><p>Salon Indien do Grand Café, em Paris, os irmãos Lumière projetaram o curta-metragem A chegada do</p><p>trem à estação para um público seleto de cerca de 30 pessoas. A reação foi de espanto e admiração diante</p><p>daquela imagem em movimento que parecia ganhar vida na tela. Esse evento histórico marcou o início do</p><p>cinema e, desde então, diversas inovações tecnológicas e linguísticas surgiram no campo cinematográfico.</p><p>Cabe lembrar que os dois irmãos franceses não foram os primeiros a promover uma exibição de</p><p>filmes pública e paga. Dois meses antes de seu lançamento em Paris, os irmãos Max e Emil Skladanowsky</p><p>exibiram uma produção em um teatro de Berlim. Porém, a literatura da área acabou consagrando o</p><p>lançamento francês como marco zero da história do cinema mundial.</p><p>Auguste e Louis Lumière, apesar de não terem sido os primeiros na corrida,</p><p>são os que ficaram mais famosos. Eram negociantes experientes, que</p><p>souberam tornar seu invento conhecido no mundo todo e fazer do cinema</p><p>uma atividade lucrativa, vendendo câmeras e filmes. A família Lumière era,</p><p>então, a maior produtora europeia de placas fotográficas, e o marketing</p><p>fazia parte de suas práticas (Costa, 2006, p. 19).</p><p>64</p><p>Unidade I</p><p>Esses equipamentos foram fundamentais para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica,</p><p>ao permitir a captura de imagens em movimento e a criação de sequências fotográficas que poderiam</p><p>ser exibidas em sucessão rápida para criar a ilusão de movimento contínuo. Por meio dessas técnicas,</p><p>foi possível estudar e documentar o movimento humano e animal de forma mais detalhada e precisa do</p><p>que nunca, abrindo caminho para desenvolver o cinema como o conhecemos hoje (Costa, 2006).</p><p>Figura 34 – Divulgação do cinematógrafo dos irmãos Lumière</p><p>mostrando a comédia O regador regado, de 1895</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/mpc64ame. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>As primeiras produções cinematográficas eram bastante curtas, geralmente com duração de até</p><p>15 minutos, e retratavam principalmente o cotidiano das pessoas, como cenas de rua, paisagens urbanas</p><p>e eventos sociais. Esses filmes eram mudos e em preto e branco, mesmo assim eram capazes de atrair a</p><p>atenção do público e oferecer uma nova experiência de entretenimento.</p><p>Saiba mais</p><p>Assista aos primeiros filmes dos irmãos Lumière:</p><p>A CHEGADA de um trem na estação 1895 L’Arrivée d’un train en gare</p><p>de La Ciotat. 2017. 1 vídeo (50 s). Publicado pelo canal Cine All. Disponível</p><p>em: http://tinyurl.com/y3nupyb9. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>A SAÍDA dos operários da fábrica Lumière 1895 La sortie de l’usine</p><p>Lumière à Lyonhttps. 2017. 1 vídeo (48 s). Publicado pelo canal Cine All.</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/5x36246s. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>65</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Com o surgimento do cinema, novas formas de entretenimento foram introduzidas na sociedade.</p><p>O cinema logo se tornou uma opção popular de diversão, atraindo um grande público para assistir a filmes</p><p>em exibições coletivas. No início, elas eram feitas em locais como cafés, teatros e salões, onde as pessoas</p><p>podiam socializar e desfrutar de outros produtos culturais, além dos filmes. Com o tempo, o cinema evoluiu</p><p>e passou a ser uma indústria consolidada, com a produção de filmes mais elaborados e com histórias</p><p>mais complexas. Salas de cinema foram criadas para abrigar exibições, oferecendo uma experiência mais</p><p>imersiva e confortável. Mesmo com todas essas mudanças e tecnologias a que temos acesso nas salas de</p><p>exibição, a essência do cinema como uma forma de entretenimento e arte que retrata a vida das pessoas</p><p>e suas histórias continua presente até os dias de hoje.</p><p>2.1 O início do cinema documental e ficcional</p><p>Os primeiros 20 anos do cinema</p><p>foram de intensas transformações e de busca (consciente e</p><p>inconsciente) de um código de linguagem. Essas duas décadas se consolidaram como um tempo de</p><p>descobertas, experimentações, testes e aprimoramento constante de técnicas. Não à toa, Costa (2006)</p><p>identifica esse momento como “primeiro cinema”.</p><p>Para a pesquisadora, o primeiro cinema pode ser dividido em dois estágios: cinema de atrações,</p><p>que vai de 1894 até 1906/1907, e o período de transição, que começa em 1906 e se estende até</p><p>1913/1915. Conhecer as características dessas duas fases faz com que seja possível entender as bases</p><p>do cinema, como a linguagem cinematográfica foi estruturada inicialmente e qual a verdadeira</p><p>essência da sétima arte. O cinema de atrações valorizava a apresentação de imagens espetaculares e</p><p>surpreendentes, que pudessem instigar as emoções do público e atrair sua atenção. Uma abordagem</p><p>que muitas vezes deixava em segundo plano a construção de uma narrativa coesa e bem estruturada,</p><p>já que o objetivo principal era chamar a atenção do espectador por meio de efeitos visuais, truques</p><p>de edição e encenações teatrais.</p><p>Saiba mais</p><p>Sugerimos a leitura do artigo a seguir para compreender o primeiro cinema.</p><p>COSTA, F. C. O primeiro cinema: considerações sobre a temporalidade</p><p>dos primeiros filmes. Revista Caderno de Subjetividades, São Paulo, v. 3, n. 1,</p><p>p. 49-58, mar./ago. 1995. Disponível em: http://tinyurl.com/5ehs9jbp. Acesso</p><p>em: 27 dez. 2023.</p><p>Nos primeiros anos, o cinema se mostrava muito interligado a outras iniciativas culturais</p><p>predominantes na época, como teatro, shows de ilusionismo e lanterna mágica. A ideia do espetáculo,</p><p>da surpresa, do inusitado e da magia interferiram consideravelmente nas produções veiculadas naquele</p><p>período. Os primeiros cineastas e produtores exploravam as possibilidades técnicas e criativas do novo</p><p>meio, sem seguir as convenções estabelecidas da narrativa literária ou teatral.</p><p>66</p><p>Unidade I</p><p>Por isso essa fase é identificada como cinema de atrações. Esse termo foi cunhado pelo historiador</p><p>e teórico de cinema Thomas Gunning (1991) para descrever um estilo de cinema que foi predominante</p><p>no início do século XX. Caracterizado pela exibição de cenas espetaculares, estranhas, surpreendentes ou</p><p>chocantes, esse tipo de cinema buscava chamar a atenção do espectador para a própria imagem, e não</p><p>necessariamente para a narrativa que ela supostamente contava.</p><p>As produções do cinema de atrações eram elaboradas de forma a destacar e exibir cenas que pudessem</p><p>causar impacto visual, emocional ou mesmo físico no público. Esse tipo de cinema não se preocupava</p><p>com a linearidade narrativa, a construção de personagens ou a verossimilhança, mas sim em chamar a</p><p>atenção do espectador e mantê-lo preso na tela por meio de sensações e emoções fortes. Esse tipo de</p><p>produção foi muito influente na história do cinema, principalmente entre as décadas de 1890 e 1910.</p><p>Nesse período, os filmes eram vistos como uma novidade tecnológica, uma forma de entretenimento</p><p>completamente nova e desconhecida que despertava curiosidade e fascínio nas plateias. Os filmes</p><p>eram exibidos em locais públicos, como feiras, parques, circos e salas de projeção, e muitas vezes eram</p><p>acompanhados por apresentações ao vivo, como músicas, narrações ou efeitos sonoros.</p><p>Saiba mais</p><p>Para mais informações sobre o cinema de atrações, confira a seguinte</p><p>dissertação:</p><p>OGIBOSKI, L. O cinema de atrações de Georges Méliès e o espetáculo</p><p>digital de Martin Scorsese. 2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação e</p><p>Linguagens) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2015. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/yc434u34. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Gunning acredita que essa fase foi importante na evolução do cinema, uma vez que estabeleceu as</p><p>bases para o desenvolvimento de gêneros e técnicas que seriam usadas posteriormente. O cinema de</p><p>atrações se desenvolveu como uma forma de entretenimento no início do cinema, apresentando cenas</p><p>isoladas, atos únicos ou gags cômicas que atraíam a atenção do público pelo valor da exibição direta,</p><p>sem a necessidade de uma narrativa complexa. Dessa forma, o objetivo era criar um efeito imediato</p><p>no espectador, sem a preocupação em conduzi-lo para dentro de uma história ficcional e desenvolver</p><p>personagens e ações ao longo do tempo. Em vez disso, as cenas eram autônomas e autossuficientes,</p><p>buscando surpreender e impactar o público com momentos espetaculares, estranhos ou engraçados.</p><p>Esse tipo de cinema valorizava a imagem em si mesma e a habilidade do cineasta em capturar a atenção</p><p>do espectador, tornando-se uma importante influência para o desenvolvimento do cinema como arte e</p><p>indústria (Gunning, 1991).</p><p>Além disso, ele destaca a importância do cinema primitivo como um momento de experimentação</p><p>e inovação no qual os cineastas buscavam explorar as possibilidades do cinema como uma nova forma</p><p>de arte e entretenimento. O cinema de atrações incorporou essa performance, atraindo o público com</p><p>suas imagens impressionantes e efeitos especiais.</p><p>67</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>2.2 Características do cinema de atrações</p><p>Em seu trabalho de resgate histórico, Costa (2006) elenca algumas características do cinema</p><p>de atrações:</p><p>• Personagens pouco desenvolvidos: no cinema primitivo, os personagens eram frequentemente</p><p>estereotipados e serviam principalmente para ilustrar situações e ações. Em geral, não havia uma</p><p>preocupação em aprofundar a personalidade ou as motivações dos personagens, e eles muitas</p><p>vezes eram tratados de forma caricatural. O grande roubo do trem (1903), de Edwin S. Porter, é um</p><p>exemplo de filme que apresenta personagens estereotipados, como o bandido, o xerife, o mocinho</p><p>e a donzela em perigo. Com apenas 12 minutos de duração, é um dos grandes marcos do cinema,</p><p>traz um dos primeiros exemplos de narrativa realista na telona e foi considerado por muitos o</p><p>primeiro filme de faroeste.</p><p>Figura 35 – Pôster do filme O grande roubo do trem (1903), de Edwin S. Porter</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/zxp7v6zk. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>• Posicionamento de câmera distante da situação filmada: em grande parte dos filmes do</p><p>cinema primitivo, a câmera era posicionada a uma distância média ou longa das ações filmadas,</p><p>o que dificultava o estabelecimento de uma conexão mais íntima entre o espectador e os</p><p>personagens ou objetos em cena. O filme Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès, foi um dos</p><p>68</p><p>Unidade I</p><p>primeiros filmes de ficção científica e de animação, com 30 cenas sem closes e utilizando</p><p>principalmente planos gerais e médios para mostrar as aventuras dos viajantes espaciais em</p><p>sua jornada para a Lua. Com essa obra, Méliès maravilhou o mundo inaugurando os efeitos</p><p>especiais na sétima arte.</p><p>Figura 36 – Fotografia do cenário de Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/388heks8. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>• Falta de linearidade: em As aventuras do barão de Munchausen (1911), de Georges Méliès, a</p><p>narrativa é composta de uma série de episódios desconexos, nos quais o personagem-título, um</p><p>explorador alemão do século XVIII, passa por situações impossíveis, como voar em um cavalo,</p><p>lutar contra monstros marinhos e visitar a Lua. As primeiras exibições dos irmãos Lumière, como</p><p>A chegada de um trem na estação (1895) e O regador regado (1895), não apresentavam uma</p><p>narrativa linear. Os filmes eram focados no espetáculo, no espanto e no encanto causados pelas</p><p>imagens em movimento, como um trem chegando à estação ou uma pessoa sendo molhada</p><p>por um regador. Nos primeiros anos do cinema, Thomas Edison também produziu vários filmes</p><p>de atrações, como The kiss (1896) e Electrocuting an elephant (1903). O cineasta estadunidense</p><p>Charles Urban produziu uma série de documentários sobre a vida em diferentes países do mundo,</p><p>como The durbar at Delhi (1912), que registra o desfile real em Nova Delhi.</p><p>69</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 37 – Cena do filme A chegada de um trem na estação (1895),</p><p>dos irmãos Lumière, com apenas 50 segundos de duração</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/48c8jens. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Os cineastas muitas vezes buscavam explorar as novas possibilidades que a tecnologia do cinema</p><p>oferecia, como criar imagens em movimento, efeitos especiais, truques de montagem, entre outras.</p><p>O resultado eram filmes que, apesar de muitas vezes apresentarem enredos simples e superficiais, tinham</p><p>um grande apelo visual e conseguiram encantar e surpreender o público.</p><p>Figura 38 – Cena do filme de animação The enchanted drawing (1900), de J. Stuart Blackton</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/45ww2att. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>70</p><p>Unidade I</p><p>• Recorrência de cenas documentais: nos primeiros anos do cinema, muitos filmes se baseavam</p><p>em cenas documentais, como registros de eventos públicos, paisagens urbanas ou exóticas e cenas</p><p>do cotidiano de diferentes culturas. Essas imagens funcionavam como um recurso de fascínio</p><p>para o público, que muitas vezes nunca havia visto essas cenas retratadas antes. Chegada do trem</p><p>na estação (1895), dos irmãos Lumière, é um exemplo de filme que registra um evento cotidiano,</p><p>a chegada de um trem na estação de La Ciotat, e que fascinou o público pela sensação de realismo</p><p>e imersão que proporcionava. Outro exemplo é Operários saindo da Fábrica Lumière (1895), dos</p><p>mesmos diretores. O filme é uma das primeiras representações do cotidiano operário no cinema,</p><p>e tem importância histórica como precursor do cinema realista.</p><p>Figura 39 – Cena do filme Operários saindo da Fábrica Lumière (1895)</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/jj9p8f93. Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Tom Gunning discute como as cenas documentais e de atração do cinema primitivo tinham como</p><p>objetivo produzir um efeito de espanto no espectador, fazendo-o acreditar na veracidade daquilo que</p><p>estava vendo na tela. Segundo ele, o cinema de atrações não buscava a imersão narrativa, mas sim</p><p>produzir uma experiência visual que ultrapassava o narrativo para alcançar um efeito de presença na</p><p>tela (Gunning, 1989).</p><p>Costa (2006) acrescenta ainda que, no geral, os filmes buscavam entregar um espetáculo visual</p><p>com imagens panorâmicas, travelings e close-ups, mas sem a gramática vista no cinema moderno.</p><p>As produções duravam entre 5 e 10 minutos e traziam atualidades, truques de mágica, histórias de fadas</p><p>e cenas cômicas curtas.</p><p>71</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Os filmes dessa época, embora não tivessem uma narrativa linear, visavam chamar a atenção do</p><p>público por seu conteúdo chocante ou intrigante. As transições entre as cenas são abruptas e não</p><p>seguem uma ordem temporal lógica, o que confere ao filme uma atmosfera de fantasia e extravagância.</p><p>O estilo não linear era característico do cinema de atrações, que buscava criar um efeito de choque</p><p>ou surpresa no espectador, em vez de uma narrativa convencional. A falta de linearidade no cinema</p><p>de atrações foi, eventualmente, substituída pela narrativa clássica de Hollywood, com suas histórias</p><p>mais complexas e desenvolvidas. No entanto, o legado do cinema de atrações pode ser encontrado em</p><p>filmes experimentais, gêneros de exploração e nos efeitos especiais e sequências de ação presentes nos</p><p>blockbusters atuais.</p><p>Na verdade, durante esse período inicial do cinema, não havia uma distinção clara entre</p><p>documentários e filmes de ficção. Os primeiros filmes exibidos eram, na maioria, curtas-metragens</p><p>que registravam cenas do cotidiano, como cenas de rua, de fábricas, de espetáculos e até mesmo de</p><p>animais em zoológicos. Eram chamados de actualities e eram exibidos em programas de variedades</p><p>ou em cinemas itinerantes. Com o passar do tempo, o cinema de atrações foi perdendo espaço para</p><p>um estilo de cinema mais narrativo, que se preocupava em construir histórias mais complexas e</p><p>elaboradas. No entanto, ainda hoje é possível encontrar traços do cinema de atrações em produções</p><p>contemporâneas, principalmente em filmes de ação e aventura que buscam impactar o público com</p><p>efeitos visuais e cenas espetaculares.</p><p>Observação</p><p>A ficção foi introduzida no cinema com o trabalho de profissionais como</p><p>o cineasta e ilusionista francês Georges Méliès (1861-1938), o produtor</p><p>e ator britânico Charles Chaplin (1889-1977) e o cineasta estadunidense</p><p>D. W. Griffith (1875-1948).</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça a história de Georges Méliès, autor do clássico Viagem à Lua:</p><p>GEORGES Méliès | O verdadeiro inventor do cinema. 2017. 1 vídeo (11 min).</p><p>Publicado pelo canal Gustavo Cunha. Disponível em: http://tinyurl.com/srjdw373.</p><p>Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>Assista ao filme Viagem à Lua:</p><p>VIAGEM à Lua (1902). 2000. 1 vídeo (12 min 50). Publicado pelo canal</p><p>TVeCinema. Disponível em: http://tinyurl.com/48rcw8nw. Acesso em:</p><p>27 dez. 2023.</p><p>72</p><p>Unidade I</p><p>Alguns exemplos de actualities produzidos nos Estados Unidos nessa época são Blacksmith scene</p><p>(1893), da Edison Manufacturing Company, que mostra um ferreiro trabalhando em sua oficina, e The</p><p>derby (1895), da Biograph Company.</p><p>O curta-metragem The derby é uma produção britânica em preto e branco, sem som, de 1895.</p><p>Dirigido por Birt Acres, foi produzido para ser exibido nos cinetoscópios de Robert W. Paul. O filme</p><p>apresenta uma corrida de cavalos, chamada Derby de Epsom, realizada em 29 de maio de 1895, e tem</p><p>40 segundos. Apresenta a vista de uma posição elevada próxima à linha de chegada, com a arquibancada</p><p>principal ao fundo. É importante notar que esses filmes eram mais voltados para o entretenimento do</p><p>que para a documentação propriamente dita.</p><p>Aos poucos, o cinema foi ganhando novos adeptos, ampliando o número de realizadores e se</p><p>estruturando de forma mais independente com relação às outras formas culturais predominantes à</p><p>época. Além disso, os cineastas também estavam se arriscando mais no que diz respeito às possibilidades</p><p>da linguagem audiovisual. Em outras palavras, o cinema começava a viver um novo tempo, um</p><p>tempo de transição.</p><p>Saiba mais</p><p>Assista a alguns filmes de actualities, voltados para o entretenimento:</p><p>THE DERBY (1895). 2016. 1 vídeo (30 s). Publicado pelo canal Vintage</p><p>Films Channel. Disponível em: http://tinyurl.com/bdf39vce. Acesso em:</p><p>27 dez. 2023.</p><p>WILLIAM Dickson: Blacksmith Scene (1893). 2021. 1 vídeo (27 s). Publicado</p><p>pelo canal Storia del Cinema. Disponível em: http://tinyurl.com/2s4z8d2b.</p><p>Acesso em: 27 dez. 2023.</p><p>No início dos anos 1920, a empresa francesa Pathé-Frères lançou uma linha de equipamentos</p><p>desenvolvidos pela Continsouza para o consumo de filmes em casa: o projetor e a câmera Pathé-Baby.</p><p>O período de transição do cinema se inicia em 1906 e se estende até 1913/1915, marcado por</p><p>importantes mudanças na produção cinematográfica em todo o mundo. Nesse período, o cinema</p><p>evoluiu de uma forma de entretenimento de atrações isoladas para uma forma mais sofisticada de</p><p>arte narrativa.</p><p>O cinema pouco a pouco organiza-se de forma industrial, estabelecendo a especialização das várias</p><p>etapas de produção e exibição dos filmes, e transforma-se na primeira mídia de massa da história. Vale</p><p>destacar que esse período foi marcado por uma grande expansão do cinema, com a popularização dos</p><p>cinemas em todo o mundo, tanto em grandes cidades quanto em áreas rurais.</p><p>73</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Os filmes passaram a ser mais compridos, atingindo um tamanho médio de mil pés (um rolo) e duravam</p><p>cerca de 15 minutos. Nasce o primeiro longa: Quo vadis (1913), dirigido por Enrico Guazzoni, um épico</p><p>italiano com cerca de 120 minutos de duração. Embora produzido em uma época em que a duração da</p><p>maioria dos filmes ainda era relativamente curta e todas as tomadas de cena eram gravadas de forma</p><p>estacionária, o público gostou da produção. É importante notar que, mesmo com uma duração mais</p><p>limitada, muitos desses filmes conseguiram contar histórias interessantes e emocionantes, utilizando</p><p>recursos visuais e técnicos simples, porém impressionantes para a época. Evoluíram rapidamente e</p><p>passaram a utilizar mais planos e contar histórias mais complexas, experimentando várias técnicas</p><p>narrativas (Costa, 2006).</p><p>Figura 40 – Pôster do filme longa</p><p>italiano Quo vadis (1913), dirigido por Enrico Guazzoni</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/af7t2t95. Acesso em: 4 jan. 2024.</p><p>Com a industrialização do cinema, a produção cinematográfica ganhou novos personagens e novas</p><p>dinâmicas internas. Os filmes de curta duração ainda conseguiam atrair uma grande audiência e</p><p>contribuíram para o sucesso do cinema como uma forma de entretenimento popular. Eles eram exibidos</p><p>em cinemas e teatros de todo o mundo, e as empresas de cinema utilizavam várias estratégias de</p><p>marketing para atrair o público, como contratar estrelas de cinema e criar cartazes coloridos e atraentes.</p><p>Vale ressaltar que as produções começaram a circular entre países. Assim, passou a existir um mercado</p><p>internacional em disputa. A partir daí, as tensões entre o estadunidense Thomas Edison e os franceses</p><p>Auguste e Louis Lumière foram ficando cada vez maiores. E eles não eram os únicos a disputar território.</p><p>Novas empresas começaram a desenvolver tecnologias específicas para esse mercado em ascensão e a</p><p>produzir e distribuir filmes.</p><p>74</p><p>Unidade I</p><p>Nesse período de transição, a indústria cinematográfica francesa se consagrou como a maior do</p><p>mundo. Atrás dela vinham a indústria italiana e a dinamarquesa. Costa (2006, p. 38) destaca que “60%</p><p>a 70% dos filmes importados exibidos nos EUA e na Europa eram franceses”. E foi nesse contexto que a</p><p>francesa Pathé se tornou o primeiro império cinematográfico do mundo.</p><p>A empresa controlava a produção, a distribuição e a exibição de seus filmes, que</p><p>abarcavam uma grande variedade de gêneros, das atualidades e filmes</p><p>históricos aos filmes de truques, dramáticos, comédias e perseguições.</p><p>No período de transição, a Pathé produziu inúmeros filmes e seriados, tais</p><p>como os dos personagens cômicos Boireau, Rigadin e aqueles encarnados</p><p>por Max Linder (Costa, 2006, p. 38).</p><p>Uma das principais mudanças que ocorreram foi o surgimento do sistema de produção em série,</p><p>que possibilitou a produção em massa de filmes em estúdios especializados. Esse sistema permitiu que</p><p>os cineastas experimentassem novas técnicas de filmagem, edição e narrativa, o que resultou em um</p><p>grande salto na qualidade das produções cinematográficas.</p><p>Lembrete</p><p>As características do cinema de atrações estão inseridas no contexto do</p><p>nascimento do cinema.</p><p>Já nos Estados Unidos, as principais empresas do segmento no período eram as produtoras Edison,</p><p>Vitagraph e Biograph. Elas disputavam o que sobrava do mercado interno e se articulavam para proteger</p><p>seus interesses comerciais. Segundo Costa (2006), em 1908 elas chegaram a constituir um oligopólio</p><p>que, entre outras ações, estimulava o preconceito contra filmes estrangeiros.</p><p>Nessa época, o diretor estadunidense D. W. Griffith fez centenas de filmes curtos, mas o auge de sua</p><p>carreira provavelmente foi com o longa-metragem O nascimento de uma nação (1915), que tem mais</p><p>de três horas de duração.</p><p>“O Nascimento de Uma Nação” (1915) reuniu os principais elementos da</p><p>linguagem cinematográfica contemporânea, como os closes, que enfatizam</p><p>a carga psicológica dos personagens; a montagem paralela, com eventos</p><p>simultâneos na tela; a presença do galã e da mocinha indefesa; a alternância</p><p>de gêneros no filme – aventura, romance, comédia. Um marco na história do</p><p>cinema, que contribuiu para o surgimento da indústria cinematográfica</p><p>norte-americana, tendo suas principais características repetidas em todos</p><p>os blockbusters hollywoodianos (Lucena, 2012, p. 21).</p><p>75</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 41 – Cena do filme O nascimento de uma nação (1915), dirigido por D. W. Griffith</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/py4n6c76. Acesso em: 4 jan. 2024.</p><p>Em 1908, no Brasil já existiam salas de exibição, e nesse ano Afonso Segreto realizou a primeira</p><p>imagem cinematográfica, porém não há registro desse evento.</p><p>Foi também um período de maior profissionalização da produção cinematográfica como um todo,</p><p>divisão do trabalho e maior especialização das funções. Cineastas começaram a explorar técnicas de</p><p>montagem para criar narrativas mais complexas e coerentes. Figuras como roteiristas, cenógrafos e</p><p>maquiadores começaram a consolidar seus espaços e a sofisticar ainda mais os processos de criação.</p><p>3 FILMES DE FICÇÃO E NÃO FICÇÃO</p><p>Podemos dizer que foi a partir da década de 1920 que os filmes passaram a ser divididos em ficção</p><p>e não ficção, sendo este último termo utilizado para filmes que retratavam a realidade sem uma</p><p>história preestabelecida ou roteiro definido. Antes disso, a fronteira entre ficção e não ficção não era</p><p>clara, pois muitos filmes apresentavam elementos de ambos os gêneros. Após a década de 1920, com</p><p>a popularização do cinema documental, os filmes começaram a ser classificados de acordo com sua</p><p>natureza narrativa: ou se contava uma história ficcional ou se tratava de um registro factual.</p><p>A diferenciação entre filmes de ficção e documentários foi proposta e teorizada por John Grierson,</p><p>cineasta escocês e fundador do movimento documental. Ele defendia que o documentário era uma forma</p><p>de registro da realidade e de sua interpretação, enquanto o filme de ficção criava uma realidade ficcional.</p><p>Grierson acreditava que o documentário poderia ser utilizado como uma ferramenta de educação,</p><p>informação e mudança social e que a função do documentarista era registrar a realidade e interpretá-la</p><p>para o público. Ele utilizou o termo documentário pela primeira vez em 1926 para descrever o filme</p><p>Moana, de Robert Flaherty.</p><p>76</p><p>Unidade I</p><p>No artigo “Princípios iniciais do documentário” (1966), Grierson explora o gênero audiovisual de</p><p>não ficção e sua forma narrativa, com o objetivo de diferenciá-lo dos filmes de atualidades, científicos</p><p>e educativos. Ele classifica um filme como documentário com base nos arranjos, nos rearranjos e nas</p><p>formas criativas do material captado no mundo natural. O artigo destaca os primeiros princípios do</p><p>gênero, especialmente a capacidade de trabalhar com o ator original (ou nativo) e a cena original</p><p>(ou nativa).</p><p>A partir dessa ideia de Grierson, a divisão entre filmes de ficção e documentários se tornou cada</p><p>vez mais presente no mundo cinematográfico. Hoje em dia, essa separação é comum e utilizada para</p><p>classificar filmes em festivais e premiações. A separação entre ficção e não ficção também esteve</p><p>relacionada com a ascensão do cinema sonoro, que tornou mais fácil para os cineastas capturar diálogos</p><p>e som ambiente em locais reais, permitindo uma maior fidelidade à realidade.</p><p>Essa divisão acabou se consolidando com o tempo, e atualmente é comum vermos a classificação</p><p>dos filmes em ficção e não ficção, ou em termos mais específicos, como documentário, mocumentário,</p><p>docudrama, entre outros. Já os filmes de ficção são uma forma de expressão cinematográfica que</p><p>envolve a criação de histórias e personagens fictícios. Eles são construídos com base na imaginação e na</p><p>criatividade dos cineastas e geralmente têm como objetivo entreter, emocionar e transportar o público</p><p>para um mundo imaginário. Os filmes de ficção podem ser do gênero drama, comédia, ação, aventura,</p><p>ficção científica, fantasia, romance e muitos outros.</p><p>Observação</p><p>A história do gênero documentário pode ser compreendida em quatro</p><p>principais estilos: documentário clássico ou griersoniano, documentário</p><p>moderno (cinema direto e verdade), documentário pós-moderno e</p><p>documentário cabo (Ramos, 2008).</p><p>Uma das características fundamentais dos filmes de ficção é a criação de um enredo elaborado</p><p>que segue uma estrutura narrativa, normalmente com começo, meio e fim. Personagens são</p><p>desenvolvidos e têm motivações, conflitos e arcos que evoluem. A narrativa é construída com</p><p>diálogos, ações, cenários e uma variedade de recursos técnicos, como edição, fotografia, trilha</p><p>sonora e efeitos visuais.</p><p>Os filmes de ficção também podem abordar temas e questões relevantes ao mundo real, mas eles</p><p>os exploram por meio de uma lente fictícia. Eles permitem que o público se conecte emocionalmente</p><p>com os personagens e os eventos da história,</p><p>explorando as possibilidades da imaginação e oferecendo</p><p>uma experiência catártica. Aprofundando um pouco mais, é possível dizer que os filmes de ficção estão</p><p>intimamente ligados ao mundo imaginário, a personagens construídos para determinada obra e à</p><p>geração de entretenimento para o espectador.</p><p>Nesse tipo de produção, trabalha-se com alegorias, ou seja, com representações de ideias, pensamentos e</p><p>contextos relativamente familiares para o espectador. Vilões e mocinhos, por exemplo, são construídos com</p><p>77</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>elementos retirados da vivência cotidiana. Porém, são retratados em outras dimensões, profundidades e</p><p>intensidades. Tudo isso com liberdade para a criatividade, a fantasia e a imaginação fluírem.</p><p>Os personagens de obras de ficção parecem viver a vida de forma tão natural que a câmera que os</p><p>observa parece não fazer parte do mundo deles. Suas palavras e ações podem ser incríveis, fantásticas</p><p>e aparentemente impossíveis, mas tudo se desenrola como se esses acontecimentos fizessem parte de</p><p>uma vida plausível dentro do mundo em que os personagens habitam.</p><p>Outro aspecto que vale mencionar no que diz respeito aos filmes de ficção é o uso intencional e</p><p>estratégico de arquétipos, que são papéis sociais cristalizados e conhecidos na sociedade em questão.</p><p>Normalmente, a ficção investe em personagens que se enquadram no arquétipo do herói, aquele que é</p><p>forte, valente e resiliente; da amante, aquela que busca o amor em romances, amizades e na família;</p><p>e do comediante ou bobo da corte, aquele que tem senso de humor, se mostra preocupado e que leva</p><p>alegria a todos os espaços. Também é possível listar o sábio, o cuidador, o explorador, a pessoa comum,</p><p>o inocente, o rebelde e outros tipos que favorecem a construção de narrativas ficcionais envolventes.</p><p>Apesar de esses arquétipos poderem ser encontrados nos filmes de não ficção, eles costumam ser</p><p>muito mais utilizados de forma estratégica e intencional para gerar identificação nas obras de ficção.</p><p>Se você observar a maioria das obras ficcionais que consumiu nos últimos anos, vai perceber que os</p><p>arquétipos são utilizados em maior ou menor grau, mas sempre estão lá.</p><p>Cabe pontuar ainda que, nos filmes de ficção, há também outros elementos importantes e sempre</p><p>presentes: roteiro com falas predefinidas, atores profissionais contratados, maquiadores, figurinistas,</p><p>cenógrafos e uma série de outros colaboradores que vão garantir um bom enredo e uma boa</p><p>experiência estética.</p><p>Aqui temos alguns exemplos de filmes clássicos de ficção, de várias nacionalidades, oferecendo uma</p><p>mistura de produções cinematográficas. Constam na lista produções de diferentes gêneros, diretores,</p><p>épocas e nacionalidades.</p><p>• A doce vida (Itália, 1960), de: Federico Fellini</p><p>• A origem (EUA, 2010), de Christopher Nolan</p><p>• A pele que habito (Espanha, 2011), de Pedro Almodóvar</p><p>• A queda! As últimas horas de Hitler (Alemanha/Áustria/Itália, 2004), de Oliver Hirschbiegel</p><p>• A viagem de Chihiro (Japão, 2001), de Hayao Miyazaki</p><p>• A vida dos outros (Alemanha, 2006), de Florian Henckel von Donnersmarck</p><p>• A vida é bela (Itália, 1997), de Roberto Benigni</p><p>78</p><p>Unidade I</p><p>• Cães de aluguel (EUA, 1992), de Quentin Tarantino</p><p>• Central do Brasil (Brasil, 1998), de Walter Salles</p><p>• Cidadão Kane (EUA, 1941), de Orson Welles</p><p>• Cidade dos sonhos (EUA, 2001), de David Lynch</p><p>• Cinema paradiso (Itália, 1988), de Giuseppe Tornatore</p><p>• Cisne negro (EUA, 2010), de Darren Aronofsky</p><p>• Clube da luta (EUA, 1999), de David Fincher</p><p>• Clube dos cinco (EUA, 1985), de John Hughes</p><p>• Django livre (EUA, 2012), de Quentin Tarantino</p><p>• Era uma vez no oeste (Itália/EUA, 1968), de Sergio Leone</p><p>• O auto da compadecida (Brasil, 2000), de Guel Arraes</p><p>• O fabuloso destino de Amélie Poulain (França, 2001),de Jean-Pierre Jeunet</p><p>• O grande Lebowski (EUA, 1998), dos irmãos Coen</p><p>• O iluminado (EUA, 1980), de Stanley Kubrick</p><p>• O lobo de Wall Street (EUA, 2013), de Martin Scorsese</p><p>• O poderoso chefão (EUA, 1972), de Francis Ford Coppola</p><p>• O resgate do soldado Ryan (EUA, 1998), de Steven Spielberg</p><p>• O senhor dos anéis: a sociedade do anel (EUA, 2001), de Peter Jackson</p><p>• O sexto sentido (EUA, 1999), de M. Night Shyamalan</p><p>• Os infiltrados (EUA, 2006), de Martin Scorsese</p><p>• Pacto de sangue (EUA, 1944), de Billy Wilder</p><p>• Pixote: a lei do mais fraco (Brasil, 1980), de Hector Babenco</p><p>• Pulp fiction: tempo de violência (EUA, 1994), de Quentin Tarantino</p><p>79</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Scarface (EUA, 1983), de Brian de Palma</p><p>• Tropa de elite (Brasil, 2007), de José Padilha</p><p>Nos filmes de não ficção as preocupações são outras. Nesse caso, o compromisso principal é</p><p>com a informação, e não com o entretenimento puro e simples. Os personagens desempenham</p><p>papéis que já exercem fora das telas, não há roteiro com falas milimetricamente estabelecidas, e as</p><p>gravações acontecem em ambientes reais, não em estúdios com cenários criados para o filme. Aqui</p><p>vale a máxima: quanto menos intervenção, melhor!</p><p>Por esse motivo, em produções de não ficção, não costuma haver investimento em casting (atores</p><p>e atrizes contratados), processos de preparação de elenco e criação de estúdios tecnológicos para as</p><p>gravações, por exemplo. Pelo contrário, a preferência é por gravações in loco e por atores amadores.</p><p>A ideia é construir narrativas próximas do real possível e verificável, gerar reflexões sociais importantes</p><p>e atender ao interesse público.</p><p>Filmes de não ficção, ou documentários, diferem dos filmes de ficção em sua abordagem</p><p>narrativa e propósito. Documentários apresentam fatos, informações e perspectivas sobre o mundo</p><p>real. Eles exploram uma ampla variedade de assuntos, como história, política, ciência, cultura, meio</p><p>ambiente, esportes, entre outros, com o objetivo de informar, educar, conscientizar ou provocar uma</p><p>reflexão no público.</p><p>A seguir, listamos alguns dos filmes de não ficção mais instigantes do cinema.</p><p>• AmarElo: é tudo pra ontem (Brasil, 2020), de Fred Ouro Preto</p><p>• Amy (Reino Unido, 2015), de Asif Kapadia</p><p>• Baraka (EUA, 1992), de Ron Fricke</p><p>• Cabra marcado para morrer (Brasil, 1984), de Eduardo Coutinho</p><p>• Cave of forgotten dreams (Alemanha, 2010), de Werner Herzog</p><p>• Cidadão Boilesen (Brasil, 2009), de Chaim Litewski</p><p>• Cries from Syria (EUA, 2017), de Evgeny Afineevsky</p><p>• Democracia em vertigem (Brasil, 2019), de Petra Costa</p><p>• Edifício Master (Brasil, 2002), de Eduardo Coutinho</p><p>• Elena (Brasil, 2012), de Petra Costa</p><p>• Estamira (Brasil, 2004), de Marcos Prado</p><p>80</p><p>Unidade I</p><p>• Exit through the gift shop (Reino Unido, 2010), de Banksy</p><p>• Faces places (França, 2017), de Agnès Varda e JR</p><p>• Free solo (EUA, 2018), de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi</p><p>• Grizzly Man (EUA, 2005), de Werner Herzog</p><p>• Hoop dreams (EUA, 1994), de Steve James</p><p>• Ilha das Flores (Brasil, 1989), de Jorge Furtado</p><p>• Koyaanisqatsi (EUA, 1982), de Godfrey Reggio</p><p>• Leviatã (Rússia, 2012), de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel</p><p>• Man on wire (Reino Unido, 2008), de James Marsh</p><p>• Nanook, o esquimó (EUA, 1922), de Robert J. Flaherty</p><p>• Night and fog (França, 1955), de Alain Resnais</p><p>• O processo (Brasil, 2018), de Maria Augusta Ramos</p><p>• Samsara (EUA, 2011), de Ron Fricke</p><p>• Senna (Reino Unido, 2010), de Asif Kapadia</p><p>• Shoah (França, 1985), de Claude Lanzmann</p><p>• The act of killing (Dinamarca/Reino Unido/Noruega, 2012), de Joshua Oppenheimer</p><p>• The cave (Síria, 2019), de Feras Fayyad</p><p>• The look of silence (Vários países, 2014), de Joshua Oppenheimer</p><p>• The salt of the Earth (Brasil/França/Itália, 2014), de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado</p><p>• The square (Egito/EUA, 2013), de Jehane Noujaim</p><p>• The thin blue line (EUA, 1988), de Errol Morris</p><p>• Últimas conversas (Brasil, 2015), de Eduardo Coutinho</p><p>• Virunga (Reino Unido, 2014), de Orlando von Einsiedel</p><p>• Waste land (Brasil, 2010), de Lucy Walker</p><p>81</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Um dos aspectos mais distintivos dos documentários é o uso de imagens reais, seja por meio de</p><p>filmagens de arquivo, entrevistas, cenas documentadas ou</p><p>eventos autênticos capturados no momento.</p><p>O material de não ficção é baseado na realidade e busca transmitir uma representação precisa dos fatos</p><p>ou das perspectivas em questão.</p><p>No entanto, isso não significa que os documentários sejam meramente expositivos ou desprovidos</p><p>de  criatividade. Esses cineastas têm a liberdade de moldar e organizar o material bruto de maneira</p><p>atraente e envolvente. Eles fazem escolhas criativas na seleção de cenas, na estrutura narrativa, na</p><p>edição e na abordagem estilística para comunicar efetivamente a mensagem e criar uma experiência</p><p>cinematográfica impactante.</p><p>Os documentários podem adotar diferentes estilos e formas narrativas. Alguns podem seguir uma</p><p>abordagem observacional, em que os cineastas se concentram em documentar eventos à medida que</p><p>acontecem, sem intervenção direta.</p><p>Lembrete</p><p>O documentário é um gênero cinematográfico não ficcional.</p><p>Vimos que o cinema pode ser dividido entre filmes de ficção e filmes de não ficção. Bill Nichols (2005)</p><p>criou um esquema que ilustra essa categorização:</p><p>Ficção Não ficção</p><p>Neorrealismo</p><p>Reencenações</p><p>Falsos</p><p>documentários</p><p>Docudramas</p><p>Figura 42</p><p>Segundo Nichols (2005), de um lado tem-se a ficção, na qual há vínculo direto com o mundo</p><p>imaginário; e do outro lado tem-se a não ficção, na qual o foco é o mundo real, histórico, vivido.</p><p>82</p><p>Unidade I</p><p>Existe também uma área de interseção que acomoda as formas que se apropriam das duas tradições:</p><p>• Neorrealismo: é uma forma de representação cinematográfica que surgiu na Itália pós-Segunda</p><p>Guerra Mundial e é caracterizada pela utilização de locações reais, atores não profissionais e</p><p>histórias baseadas em situações cotidianas. Um exemplo clássico é o filme italiano Ladrões de</p><p>bicicleta (1948), de Vittorio de Sica, que mostra a situação de muitos italianos que estavam</p><p>desempregados no pós-guerra.</p><p>• Reencenações: são cenas que retratam eventos reais, mas que são encenadas novamente para</p><p>fins de documentário. Um exemplo é o filme Nanook, o esquimó (1922), de Robert Flaherty, que</p><p>retrata a vida dos inuítes no Ártico, mas muitas das cenas foram reencenadas para melhorar a</p><p>qualidade do filme.</p><p>• Falsos documentários: são filmes que parecem documentários, mas são fictícios. Um exemplo</p><p>é This is Spinal Tap (1984), de Rob Reiner, que parece ser um documentário sobre uma banda de</p><p>rock, mas na verdade é uma comédia.</p><p>• Docudramas: são filmes que combinam elementos de documentário e ficção e reconstroem</p><p>eventos reais de forma dramatizada. Um exemplo é o filme JFK: a pergunta que não quer calar</p><p>(1991), de Oliver Stone, que reconstitui a investigação do assassinato do presidente americano</p><p>John F. Kennedy com elementos de ficção.</p><p>Reencenações e docudramas são formas interessantes de contar histórias reais, pois combinam</p><p>o poder emocional da dramatização com a autenticidade dos fatos históricos. No entanto, eles</p><p>podem ser criticados por não serem totalmente precisos ou por distorcerem a verdade em favor da</p><p>narrativa dramática.</p><p>No Brasil, um exemplo de docudrama é o filme Cidade de Deus – 10 anos depois (2013), dirigido</p><p>por Cavi Borges e Luciano Vidigal. O filme revisita os personagens e locações do famoso filme de 2002,</p><p>mas utilizando as pessoas reais que interpretaram os personagens do filme original. Outro exemplo de</p><p>docudrama brasileiro é Real: o plano por trás da história (2017), dirigido por Rodrigo Bittencourt, que</p><p>retrata a criação do plano econômico que estabilizou a inflação no Brasil nos anos 1990, misturando</p><p>cenas documentais e dramatizações.</p><p>Os filmes híbridos, que mesclam elementos de ficção e não ficção, são explorados na literatura e</p><p>na teoria cinematográfica. É importante então conhecer a discussão sobre essa interseção criativa e os</p><p>desafios que esses filmes apresentam em termos de classificação e compreensão. Segundo Bazin (1971),</p><p>existe a ideia de que o cinema, por sua própria natureza, tem a capacidade de representar a realidade</p><p>de forma objetiva. Ele via o potencial dos filmes híbridos em capturar a realidade e defender a noção de</p><p>um cinema “puro” que abraçasse tanto elementos ficcionais quanto documentais. Um exemplo clássico</p><p>de filme híbrido é o já citado Nanook, o esquimó (1922).</p><p>83</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Sabemos que, para Nichols (2005), há uma fronteira entre ficção e não ficção que é permeável e</p><p>pode ser cruzada. Ele analisa como filmes híbridos desafiam as noções tradicionais de autenticidade</p><p>e objetividade, explorando as possibilidades criativas e expressivas que surgem dessa interseção.</p><p>Um exemplo contemporâneo de filme híbrido é The act of killing (2012), dirigido por Joshua Oppenheimer,</p><p>que combina cenas encenadas com testemunhos reais de pessoas envolvidas em crimes de guerra</p><p>na Indonésia.</p><p>Outro exemplo de filme híbrido é o nosso conhecido Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando</p><p>Meirelles e Kátia Lund. Embora seja classificado principalmente como um filme de ficção, ele incorpora</p><p>elementos documentais, utilizando atores não profissionais e explorando as realidades das favelas do</p><p>Rio de Janeiro. Um sucesso de crítica e público do nosso cinema pelo mundo.</p><p>Então entende-se que a diversidade e a criatividade dão as notas aos filmes híbridos. Eles desafiam</p><p>as categorias tradicionais de ficção e não ficção, explorando a interseção entre os dois gêneros para criar</p><p>narrativas únicas e provocativas. E sendo assim, visualizando as possibilidades que tangem ficção e não</p><p>ficção, podemos entender facilmente que os documentários são classificados justamente como filmes</p><p>de não ficção.</p><p>3.1 Documentário vs. não documentário</p><p>O gênero documentário é considerado uma forma de cinema que se distingue dos outros gêneros,</p><p>uma vez que geralmente não apresenta uma trama ficcional ou roteiro predeterminado. O documentário</p><p>deve ser um filme que mostra de forma honesta e precisa coisas, lugares e pessoas reais.</p><p>No entanto, é possível que elementos de outros gêneros, como a ficção, o suspense ou o terror, sejam</p><p>incorporados em documentários, seja por meio de recriações dramáticas de eventos reais, seja com</p><p>técnicas de edição e montagem que visam aumentar a tensão ou a emoção do espectador. O teórico</p><p>do cinema Bill Nichols, que explora as complexidades da fronteira entre o documentário e a ficção,</p><p>argumenta que essa fronteira não é rígida, mas permeável e sujeita a cruzamentos. A fronteira entre</p><p>o documentário e a ficção não é clara e pode ser cruzada de várias maneiras. Segundo ele, a relação</p><p>entre ficção e documentário é caracterizada pela continuidade e pelo cruzamento (Nichols, 1991, p. 10),</p><p>ou seja, podemos dizer que os limites entre ficção e documentário não são fixos e imutáveis, mas sim</p><p>fluidos e permeáveis. Nichols argumenta que essas duas formas de cinema estão interligadas e muitas</p><p>vezes se influenciam.</p><p>Sendo assim, podemos inferir que tanto a ficção quanto o documentário compartilham elementos</p><p>narrativos, estilísticos e técnicos. Ambos utilizam recursos como a montagem, a fotografia, a trilha</p><p>sonora e a construção de personagens para contar histórias e transmitir mensagens. Além disso, ambos</p><p>podem envolver a manipulação da realidade, seja na construção de uma história ficcional, seja na</p><p>seleção e organização de imagens e informações no documentário.</p><p>84</p><p>Unidade I</p><p>Saiba mais</p><p>Para iniciar os estudos sobre documentário, leia o livro:</p><p>RAMOS, F. P. Mas afinal... o que é mesmo documentário? São Paulo:</p><p>Senac, 2008. Disponível em: http://tinyurl.com/2u4h5f3c. Acesso em:</p><p>4 jan. 2024.</p><p>Para compreender o fenômeno da hibridização entre ficção e não</p><p>ficção no documentário e nos filmes, assista a Moscou (2009), de Eduardo</p><p>Coutinho, que acompanha o Grupo Galpão, dirigido por Enrique Diaz, nos</p><p>ensaios da peça As três irmãs, de Tchekhov. No filme, as dúvidas sobre a</p><p>encenação e a realidade se misturam com os anseios dos personagens</p><p>e dos atores.</p><p>CINEMA Moscou, de Eduardo Coutinho. 2020. 1 vídeo (139 min). Publicado</p><p>pelo canal Galpão Cultural. Disponível em: http://tinyurl.com/bdd26skv.</p><p>8 O PONTO DE VISTA DOS DIRETORES EM AÇÃO .................................................................................136</p><p>8.1 Produção: procedimentos e equipamentos .............................................................................138</p><p>8.1.1 Com a palavra, os documentaristas ............................................................................................. 144</p><p>8.2 Edição ......................................................................................................................................................158</p><p>8.3 Distribuição de documentários ....................................................................................................162</p><p>7</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Esta disciplina convida você a conhecer o universo da produção audiovisual com ênfase na criação</p><p>de documentários. Ao longo do caminho, você terá a oportunidade de aprender conceitos importantes,</p><p>como linguagem audiovisual, narrativa documental e voz no documentário. Além disso, terá acesso a</p><p>orientações práticas sobre o que fazer e como fazer ao assumir o papel de documentarista.</p><p>Para tanto, inicialmente são apresentadas informações históricas relevantes sobre a produção</p><p>audiovisual e as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), aproximando-se de conceitos e</p><p>diretrizes específicas da produção de documentários. Fala-se sobre cinema e produtos audiovisuais de</p><p>modo global, logo no primeiro momento. Afinal, é impossível apresentar a narrativa documental sem</p><p>antes trazer o contexto em que ela é forjada.</p><p>Ao explorar o conteúdo aqui proposto, você terá acesso a teorias e críticas relevantes sobre a</p><p>produção de documentários. Isso porque parte-se do pressuposto de que teoria e prática caminham</p><p>juntas. Por isso, antes de entrar na discussão sobre o fazer propriamente dito, há páginas dedicadas a</p><p>reflexões essenciais a respeito da ética na produção audiovisual, das construções de narrativas sobre o</p><p>mundo histórico, sobre o ponto de vista do cineasta e tópicos afins.</p><p>O objetivo geral deste livro-texto e da disciplina é analisar as linguagens e modalidades de</p><p>documentários, assim como compreender os conceitos que permeiam a produção audiovisual. Você</p><p>terminará essa jornada com o instrumental teórico e prático necessário para produzir narrativas</p><p>documentais para o cinema, bem como para a TV e a internet. Saberá refletir criticamente sobre todo</p><p>o processo e será capaz de conceber projetos, estruturar produções, construir argumentos e roteiros,</p><p>atuar na captação de imagem e som, editar os conteúdos gravados e coletados, formatar narrativas e se</p><p>apropriar com maestria de diferentes modelos e técnicas importantes. Dessa forma, você se sentirá um</p><p>documentarista completo.</p><p>A partir de agora você entra em uma jornada de conhecimento que o tornará capaz de atuar em</p><p>qualquer etapa da produção de documentários. Aproveite o caminho!</p><p>8</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>No audiovisual, sempre se avalia a possibilidade de comunicar de forma leve e rápida usando os</p><p>sentidos, porque pode-se provocar impressões sensoriais e emotivas que vão além do vídeo e do som,</p><p>sendo a audição e a visão os sentidos que constroem tais impressões. Uma viagem! A verdade é que, ao</p><p>assistirmos uma produção audiovisual, estamos lá quase fisicamente, como uma catarse.</p><p>Contudo, a transformação de uma ideia em uma obra audiovisual, seja ficção, seja documentário,</p><p>demanda mais do que o domínio das técnicas de roteiro e captação de som e imagem. Neste livro-texto,</p><p>proporcionaremos uma jornada pelo universo da produção documental. Começaremos por uma visão</p><p>geral do audiovisual e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e, depois, vamos explorar</p><p>aspectos mais específicos relacionados à linguagem e à construção documental.</p><p>Para qualquer jornalista que se aventure na produção documental, a compreensão dos diferentes</p><p>pontos de vista da representação do mundo histórico é crucial. A falta desse entendimento pode</p><p>resultar em um desserviço à sociedade. Portanto, sugerimos que você mergulhe profundamente em</p><p>todos os tópicos deste livro-texto.</p><p>O livro-texto divide-se em três unidades: “Uma breve introdução sobre o audiovisual e as TICs”,</p><p>“Teorias e críticas do documentário” e “Documentários na prática”. Começaremos discutindo a indústria</p><p>audiovisual, sua história, gêneros e produtos, como longas-metragens, vídeos institucionais, VTs</p><p>publicitários, programas de televisão, documentários, curtas-metragens e videoclipes. Nessa jornada,</p><p>exploraremos a produção audiovisual, compreenderemos o conceito de documentário e analisaremos os</p><p>elementos que constituem sua linguagem. Também verificaremos as distinções entre documentários e</p><p>filmes institucionais, que são peças fundamentais na divulgação de marcas e na realização de diversos</p><p>objetivos. Nesse contexto, exploraremos exemplos inspiradores, como as estratégias adotadas pela GE</p><p>Reports e pelo canal da Embraer.</p><p>A segunda unidade é direcionada a teorias e críticas do gênero documentário. O conteúdo foi</p><p>construído com base nas contribuições do pesquisador e cineasta Bill Nichols (1942-), que escreveu</p><p>o clássico Introdução ao documentário (2005). Esse é o momento para conhecer os modelos e</p><p>modos do documentário, entender a importância da voz na produção documental, distinguir o discurso</p><p>direto  do discurso indireto e refletir sobre questões éticas que permeiam o processo de produção</p><p>audiovisual documental. Para estarmos alinhados com as tendências do mercado, vamos estudar os</p><p>documentários que se estruturam com narrativas transmidiáticas.</p><p>Para finalizar, a terceira unidade foi planejada para que você conheça o passo a passo para assumir</p><p>o papel de documentarista e produzir o próprio filme de não ficção. Começamos com as etapas</p><p>de pré-produção, roteirização, sinopse e argumento. Na sequência, passamos para as técnicas de</p><p>entrevista e os equipamentos e procedimentos de produção. Você também terá acesso às perspectivas</p><p>de diferentes documentaristas. Por fim, exploraremos o processo de edição e as estratégias de</p><p>distribuição de filmes documentais.</p><p>9</p><p>Este livro-texto é mais do que um guia teórico; é um convite para que você, aluno, se desafie</p><p>a criar filmes durante sua jornada acadêmica com a orientação do corpo docente da UNIP. Nosso</p><p>propósito é que você aplique o conhecimento adquirido nesta disciplina e dê vida às ideias pulsantes</p><p>que habitam sua mente. Acreditamos que essa jornada será repleta de aprendizado e descobertas que</p><p>transformarão sua percepção da produção audiovisual, especialmente do mundo do documentário.</p><p>11</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Unidade I</p><p>1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE A ATIVIDADE AUDIOVISUAL E AS TICS</p><p>Como discutir o tema documentário com precisão sem antes falar sobre a produção audiovisual como</p><p>um todo e sobre cinema? O entendimento sobre esses dois tópicos é fundamental para a compreensão</p><p>do contexto em que os documentários surgiram e se desenvolveram tanto no Brasil quanto no mundo.</p><p>Por esse motivo, esses dois temas abrem as reflexões deste livro-texto. Também estudaremos as TICs.</p><p>Segundo Chion (1993), o audiovisual é concebido como um contrato entre os aspectos visuais,</p><p>sonoros e verbais. Para o autor, somente por volta dos anos 1970 a banda sonora reuniu possibilidades</p><p>sensorialmente complexas, como a locução, a música, os diálogos, os ruídos e os efeitos. A parte verbal</p><p>compreende os diálogos, a voz em off ou os comentários, fragmentos escritos que dão base ao roteiro.</p><p>É considerada obra audiovisual toda produção que reúne os aspectos visuais, sonoros e verbais, como</p><p>filmes, emissões de televisão e vídeos.</p><p>O termo audiovisual provém do latim: audire (ouvir) e videre (ver). Percebe-se que o termo</p><p>movere, que significa movimento, não aparece. Em 1894, Thomas Edison conseguiu que seu invento</p><p>Kzinetophone projetasse imagens e tocasse música simultaneamente. Levando em consideração esse</p><p>acontecimento, o audiovisual antecedeu em pelo menos três anos o surgimento do cinema. Hagemeyer</p><p>(2012) reforça essa hipótese, ao considerar</p><p>Acesso em: 4 jan. 2024.</p><p>O cruzamento entre ficção e documentário ocorre quando elementos de um gênero se incorporam</p><p>ao outro, desafiando as fronteiras tradicionais. Por exemplo, um filme de ficção pode se basear em</p><p>eventos reais ou utilizar técnicas documentais, como entrevistas ou imagens de arquivo, para adicionar</p><p>autenticidade à narrativa ficcional. Da mesma forma, um documentário pode incorporar elementos</p><p>ficcionais, como a recriação de eventos ou a construção de personagens, para explorar determinada</p><p>temática de forma mais dramática ou envolvente.</p><p>Essa interação entre ficção e documentário revela a natureza híbrida e flexível do cinema</p><p>contemporâneo. Nichols argumenta que os cineastas têm a liberdade de experimentar e mesclar</p><p>diferentes abordagens e estilos para criar obras que desafiam as convenções e ampliam as possibilidades</p><p>de expressão. Não devemos ver a relação entre ficção e documentário como uma oposição rígida, mas</p><p>sim como um terreno fértil para a inovação e a exploração criativa.</p><p>A fronteira entre ficção e documentário é permeável e sujeita a cruzamentos e influências mútuas.</p><p>Essa interação entre os gêneros enriquece a linguagem cinematográfica, ampliando as formas de</p><p>representação e oferecendo aos cineastas e ao público uma variedade de abordagens para explorar o</p><p>mundo e contar histórias.</p><p>Na interseção entre ficção e documentário, ambos os gêneros compartilham técnicas narrativas</p><p>e estratégias de representação. Nichols argumenta que documentário não é um simples espelho da</p><p>realidade, mas uma construção que envolve escolhas estilísticas e narrativas semelhantes às da ficção.</p><p>Essa continuidade e cruzamento entre ficção e documentário desafiam a ideia de que esses gêneros são</p><p>mutuamente exclusivos. A fronteira entre eles é permeável, permitindo que elementos e abordagens se</p><p>misturem, resultando em filmes híbridos que desafiam as categorizações tradicionais.</p><p>85</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Com essa perspectiva, Nichols (2005) nos incentiva a uma compreensão mais ampla e flexível dos</p><p>gêneros cinematográficos, reconhecendo que tanto o documentário quanto a ficção são construções</p><p>narrativas que podem se influenciar e se entrelaçar. Isso nos convida a questionar as fronteiras</p><p>rígidas e explorar as possibilidades criativas e expressivas que surgem quando os gêneros se cruzam</p><p>e se misturam.</p><p>Os documentários podem incorporar elementos ficcionais, como a recriação de eventos históricos,</p><p>o uso de encenações ou a manipulação do tempo e espaço, a fim de transmitir uma experiência mais</p><p>efetiva ou comunicar uma verdade subjacente. Da mesma forma, os filmes de ficção podem se apropriar</p><p>de técnicas documentais, como o uso de imagens de arquivo ou entrevistas, para criar um senso de</p><p>autenticidade ou contextualização histórica.</p><p>Então, é preciso dividir os filmes de não ficção entre documentários e não documentários, conforme</p><p>a figura a seguir. Imagens de câmera de segurança, reportagens televisivas, registros científicos em</p><p>vídeo e até propagandas comerciais são categorizados como filmes de não ficção, mas é importante</p><p>dizer que eles não podem ser identificados como documentários. Isso porque eles estão ancorados</p><p>em elementos reais, porém têm finalidades distintas da produção audiovisual documental, como será</p><p>possível constatar no próximo tópico.</p><p>Documentário Não documentário</p><p>Neorrealismo</p><p>Reencenações</p><p>Falsos</p><p>documentários</p><p>Docudramas</p><p>Figura 43</p><p>3.2 Simples filmagem</p><p>Essa categoria mencionada por Nichols (2005) está localizada na interseção entre documentário e</p><p>não documentário. A produção é caracterizada pela captura de eventos ou situações da realidade sem a</p><p>intenção explícita de informar, educar ou transmitir uma mensagem específica. Em vez disso, as obras se</p><p>concentram na observação e na apresentação objetiva dos acontecimentos, permitindo ao espectador</p><p>tirar as próprias conclusões.</p><p>86</p><p>Unidade I</p><p>Um exemplo de simples filmagem é Leviatã (2012), dirigido por Lucien Castaing-Taylor e Véréna</p><p>Paravel. O filme se passa a bordo de um barco de pesca no Atlântico Norte e retrata a rotina árdua</p><p>dos pescadores. A câmera, muitas vezes fixada em posições estratégicas, registra os momentos de</p><p>trabalho, a interação entre os pescadores e a natureza bruta do oceano. O documentário é composto</p><p>por uma série de imagens e sons, sem uma narrativa convencional ou intervenção explícita dos</p><p>diretores, permitindo que o público seja imerso nessa experiência visceral.</p><p>Outro exemplo é Blissfully yours (2002), dirigido por Apichatpong Weerasethakul. O filme segue a</p><p>jornada de um casal e uma mulher grávida em uma área rural da Tailândia. A narrativa se desenrola de</p><p>forma lenta e contemplativa, retratando a vida cotidiana dos personagens e explorando temas como</p><p>desejo, intimidade e conexão com a natureza. A câmera observa os personagens e os ambientes de</p><p>forma não intrusiva, criando uma atmosfera de serenidade e contemplação. O filme é uma experiência</p><p>sensorial que convida o espectador a participar de um momento de quietude e reflexão.</p><p>Observação</p><p>O documentário pode ser considerado um gesto ficcional, ao propor</p><p>uma construção imaginária de reconstrução da experiência vivida no</p><p>mundo (Gómez-Tarin; Felici, 2015).</p><p>Puccini (2009) afirma que as imagens do documentário podem ser de três tipos: imagens obtidas por</p><p>meio de tomadas em direto, registros de eventos autônomos ou registros de eventos integrados.</p><p>Saiba mais</p><p>Leia sobre os tipos de imagem em documentário no livro:</p><p>PUCCINI, S. Roteiro de documentário: da pré-produção à pós-produção.</p><p>Campinas: Papirus, 2009.</p><p>Os filmes de simples filmagem apresentam cenas da realidade sem uma estrutura narrativa</p><p>convencional pré-produzida. Eles se concentram na observação e na criação de uma experiência</p><p>sensorial, permitindo que o público se conecte com os eventos retratados de maneira direta</p><p>e pessoal. Tal abordagem desafia as fronteiras entre documentário e não documentário,</p><p>oferecendo uma perspectiva única sobre a realidade e explorando as possibilidades estéticas e</p><p>expressivas do cinema.</p><p>87</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>3.3 Cinejornal</p><p>Está na interseção entre documentário e não documentário, caracterizando-se pela produção de</p><p>curtas-metragens informativos que registravam eventos e notícias da época. Vale lembrar que, antes</p><p>de existir a televisão, as pessoas sabiam das notícias pelo cinejornal tal como assistimos pela TV ou</p><p>internet. Esses filmes eram exibidos antes das sessões principais nos cinemas, funcionando como uma</p><p>espécie de noticiário cinematográfico.</p><p>Um exemplo significativo de cinejornal é o The march of time (1935-1951), produzido nos</p><p>Estados Unidos. Criado pela Time Inc., foi uma série de documentários que apresentava uma</p><p>combinação de reportagens, dramatizações e reconstituições de eventos históricos. O objetivo era</p><p>informar o público sobre os acontecimentos atuais e estimular a reflexão sobre questões sociais,</p><p>políticas e culturais.</p><p>Outro exemplo é Noite e neblina (1955), dirigido por Alain Resnais, cineasta francês. O filme aborda</p><p>o holocausto e suas consequências, utilizando imagens de arquivo, fotografias e cenas documentais</p><p>para retratar os horrores dos campos de concentração nazistas. Esse filme é um exemplo de cinejornal</p><p>que apresenta uma realidade histórica impactante e busca conscientizar o público sobre os horrores do</p><p>genocídio de judeus.</p><p>Os cinejornais apresentavam filmes que combinavam elementos documentais, como imagens de</p><p>arquivo, entrevistas e informações factuais, com elementos de encenação e narrativa. Eles tinham o</p><p>propósito de informar o público sobre eventos e questões da época, mas também foram influenciados por</p><p>elementos estéticos e narrativos, resultando em uma produção cinematográfica que se situa entre o</p><p>documentário e o não documentário.</p><p>Saiba mais</p><p>Explore o canal British Pathé no YouTube. Lá você encontra exemplos</p><p>de cinejornais.</p><p>BRITISH Pathé. Disponível em: http://tinyurl.com/bdhb36df. Acesso em:</p><p>4 jan. 2024.</p><p>Assista a um cinejornal sobre</p><p>a construção de Brasília:</p><p>CINE Jornal sobre a construção da nova capital Brasília. 2017.</p><p>1  vídeo (10 min 27 s). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/4n4cnarr. Acesso em: 4 jan. 2024.</p><p>88</p><p>Unidade I</p><p>No Brasil, o cinejornal desempenhou um papel fundamental na disseminação de informações e</p><p>na construção da memória coletiva ao longo do século XX. O formato do cinejornal foi amplamente</p><p>utilizado como uma ferramenta de comunicação e entretenimento. Um dos cinejornais mais conhecidos</p><p>e influentes do Brasil foi o Cine Jornal Brasileiro, produzido entre as décadas de 1930 e 1970. Sob a</p><p>direção de Carlos Niemeyer, o periódico cinematográfico capturava eventos, notícias e aspectos</p><p>da cultura brasileira da época. Abordava uma variedade de temas, como esportes, política, cultura,</p><p>economia e acontecimentos sociais. Era uma forma de levar informações e entretenimento para o</p><p>público, mantendo-o atualizado sobre os acontecimentos do país e do mundo.</p><p>O cinejornal teve um papel importante na construção da identidade nacional, retratando o</p><p>desenvolvimento do país, as conquistas esportivas, os desfiles de carnaval, as festas populares e outros</p><p>aspectos da cultura brasileira. Dessa forma, contribuiu para a construção de uma narrativa nacional e</p><p>para a consolidação de uma memória coletiva. No entanto, é importante destacar que também estava</p><p>sujeito a influências políticas e ideológicas, especialmente durante o período da ditadura militar</p><p>(1964-1985), que os utilizava como uma ferramenta de propaganda, manipulando as informações</p><p>para promover seus ideais e reprimir oposições. Apesar disso, o cinejornal desempenhou um papel</p><p>significativo na história do cinema brasileiro, registrando eventos importantes, documentando a</p><p>cultura e a sociedade, e contribuindo para a formação da memória coletiva do país. Hoje, esses</p><p>registros cinematográficos são uma fonte valiosa para pesquisadores e estudiosos interessados em</p><p>entender a história do Brasil.</p><p>3.4 Reportagens televisivas</p><p>Também estão na interseção entre o documentário e o não documentário. Elas apresentam</p><p>características de ambos os gêneros, pois são baseadas em fatos e têm como objetivo informar e</p><p>transmitir informações ao público, assim como um documentário. No entanto, diferentemente do cinema</p><p>documental tradicional, as reportagens televisivas são produzidas para a transmissão em televisão e</p><p>geralmente seguem uma estrutura mais rápida e objetiva. Podemos dizer que é um trabalho mais bem</p><p>elaborado que o cinejornal. E os equipamentos eletrônicos também trouxeram a possibilidade de melhor</p><p>desenvolvimento das reportagens na TV.</p><p>Lembrete</p><p>Reportagens televisivas são categorizadas como filmes de não ficção.</p><p>Esses formatos de reportagem são amplamente utilizados nos meios de comunicação, especialmente</p><p>no jornalismo televisivo, e hoje também em plataformas online e streamings, para relatar eventos atuais,</p><p>cobrir notícias e fornecer informações sobre temas como política, economia, sociedade, esportes e</p><p>cultura. Elas são produzidas por equipes de jornalistas, repórteres e cinegrafistas que buscam capturar a</p><p>realidade de forma precisa e imparcial.</p><p>89</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Observação</p><p>Todo jornalista é um documentarista em potencial; a questão é saber</p><p>usar o olhar adequado.</p><p>Um exemplo de filme que se enquadra nessa categoria é Fahrenheit 9/11 (2004), dirigido por Michael</p><p>Moore. O filme aborda os eventos em torno das eleições presidenciais dos EUA em 2000 e 2004,</p><p>explorando questões políticas e sociais relacionadas ao governo de George W. Bush. O documentário</p><p>de Moore apresenta uma abordagem jornalística ao investigar e expor os bastidores da política</p><p>estadunidense, utilizando entrevistas, imagens de arquivo e reportagens para transmitir sua mensagem.</p><p>Outro filme com perfil de reportagem televisiva é Blackfish (2013), de Gabriela Cowperthwaite.</p><p>O documentário aborda a questão do cativeiro de orcas em parques aquáticos, focando especificamente</p><p>na história de uma orca chamada Tilikum, que esteve envolvida em incidentes fatais com treinadores.</p><p>O filme utiliza entrevistas, imagens de arquivo e reportagens para explorar os impactos da captura e</p><p>confinamento de animais marinhos para entretenimento.</p><p>As reportagens televisivas podem fornecer uma abordagem documental para explorar temas</p><p>atuais e fornecer informações relevantes ao público. Elas combinam elementos do jornalismo, como a</p><p>investigação e a reportagem factual, com técnicas cinematográficas para transmitir sua mensagem de</p><p>forma clara e envolvente.</p><p>3.5 Filmes institucionais ou patrocinados</p><p>São produzidos por instituições, como empresas, organizações governamentais, organizações sem</p><p>fins lucrativos ou instituições educacionais, e têm como objetivo promover sua mensagem, visão ou</p><p>propósito específico. Podem abordar uma ampla gama de temas, desde questões sociais, ambientais e</p><p>educacionais até produtos e serviços comerciais. Essas produções combinam elementos documentais,</p><p>como a apresentação de fatos, informações e entrevistas, com elementos mais estilizados e persuasivos,</p><p>típicos da ficção. Os filmes institucionais geralmente seguem um roteiro predefinido, visando transmitir</p><p>uma mensagem clara e eficaz para o público-alvo da instituição.</p><p>Lembrete</p><p>Os filmes institucionais fazem parte dos filmes de não ficção.</p><p>Vale ressaltar que os filmes institucionais têm uma intenção explícita de promoção e persuasão,</p><p>visando influenciar a percepção e a atitude do público em relação à instituição ou ao assunto</p><p>abordado. Eles podem ser utilizados para fins publicitários, educacionais, informativos ou até mesmo</p><p>de advocacia da empresa.</p><p>90</p><p>Unidade I</p><p>Esses filmes mostram como as instituições utilizam o poder do audiovisual para comunicar sua</p><p>mensagem, informar o público e promover mudanças sociais, políticas ou comportamentais.</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça o filme institucional produzido em 1967 pelo documentarista</p><p>Primo Carbonari, criador do Cinejornal, sobre São José dos Campos.</p><p>SÃO José dos Campos documentada em 1967. São José dos Campos,</p><p>2016. Facebook: São José dos Campos Antigamente. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/crztc7ch. Acesso em: 8 jan. 2024.</p><p>Leia o livro indicado a seguir, disponível na biblioteca virtual da UNIP:</p><p>LUCENA, L. C. Como fazer documentários: conceito, linguagem e prática</p><p>de produção. 2. ed. São Paulo: Summus, 2012.</p><p>Lucena (2018) também discute essa categorização. O autor explica que os filmes de ficção nasceram</p><p>sete anos depois da invenção do cinema, em 1902, e que estes são associados à construção de histórias</p><p>imaginárias. Já filmes de não ficção têm outro compromisso: registrar o que acontece no mundo histórico.</p><p>Ou seja, buscam recortar o mundo vivido e transformar esse recorte em narrativas audiovisuais.</p><p>4 INSTITUCIONAL-DOCUMENTAL</p><p>É fundamental reconhecer que a narrativa documental oferece uma abordagem valiosa quando o</p><p>objetivo é compartilhar informações sérias e contar histórias reais. Ela se revela uma ferramenta versátil</p><p>que permite a produção de documentários envolventes, bem como filmes institucionais com um toque</p><p>mais publicitário, mas enraizados em narrativas fundamentadas na história da empresa, do indivíduo</p><p>ou da organização retratada. Portanto, cabe ao documentarista a tarefa de avaliar qual abordagem se</p><p>ajusta melhor a determinado projeto. Alguns exemplos notáveis desse equilíbrio podem ser observados</p><p>nos casos da GE Reports e da Embraer.</p><p>Essas empresas são referência quando se trata de produzir materiais institucionais que se destacam</p><p>no cenário audiovisual. No YouTube, apresentam perfis que combinam elementos documentais para</p><p>cativar o público e transmitir imagens envolventes de suas respectivas organizações. Essa capacidade</p><p>de mesclar a força da narrativa documental com os objetivos institucionais abre oportunidades</p><p>empolgantes para comunicação e marketing, permitindo que empresas e organizações compartilhem</p><p>suas histórias de maneira autêntica e atraente. O resultado é uma abordagem</p><p>eficaz que envolve,</p><p>informa e inspira o público, ao mesmo tempo em que promove a missão e os valores da empresa.</p><p>O potencial para essa fusão criativa entre documentário e institucional é imenso, proporcionando</p><p>narrativas significativas e impactantes para um mundo cada vez mais ávido por histórias autênticas.</p><p>91</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>4.1 O canal GE Reports</p><p>O projeto GE Reports é uma iniciativa da empresa General Electric (GE) para fornecer conteúdo</p><p>informativo e educativo por meio do seu canal no YouTube. A GE é uma multinacional estadunidense que</p><p>atua em diversos setores, como energia, aviação, saúde e indústria, e tem uma plataforma digital</p><p>que visa compartilhar informações sobre suas atividades, inovações e perspectivas. O canal está ativo</p><p>desde 2008 e tem mais de 1,5 milhão de visualizações; em 2023, contava com 17,4 mil seguidores e</p><p>173 vídeos produzidos.</p><p>No canal do GE Reports são publicados vídeos que abordam temas relacionados às áreas de</p><p>atuação da multinacional. O objetivo é oferecer insights sobre as pesquisas, as tecnologias e os projetos</p><p>desenvolvidos pela empresa, bem como compartilhar histórias inspiradoras e educativas relacionadas</p><p>aos setores em que atua.</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça o canal da GE Reports:</p><p>GE Reports. Disponível em: http://tinyurl.com/38r778hy. Acesso em:</p><p>8 jan. 2024.</p><p>A GE do Brasil lançou uma websérie protagonizada pelos personagens</p><p>Tíbio e Perônio, os famosos cientistas do Castelo Rá-Tim-Bum, programa</p><p>infantil que fez sucesso na TV dos anos 1990. Assista ao primeiro episódio:</p><p>TÍBIO & Perônio | Episódio 1: La-ci-pes-in-des!. 2016. 1 vídeo (5 min 33 s).</p><p>Publicado pelo canal GE do Brasil. Disponível em: http://tinyurl.com/9ax9n834.</p><p>Acesso em: 8 jan. 2024.</p><p>No canal são veiculadas entrevistas com especialistas, cobertura de eventos, histórias de sucesso e</p><p>análises sobre tendências e desafios nas áreas em que a GE está envolvida. Os vídeos são produzidos de</p><p>forma profissional e apresentam uma combinação de elementos narrativos, imagens e entrevistas para</p><p>transmitir informações de maneira acessível e envolvente.</p><p>Por meio desse canal, a General Electric busca estabelecer uma comunicação direta com o</p><p>público, fornecendo uma plataforma para compartilhar informações relevantes sobre as atividades</p><p>e conquistas da GE com uma ampla audiência. O projeto permite que a empresa demonstre</p><p>seu  compromisso com a inovação, a sustentabilidade e o desenvolvimento de soluções para os</p><p>desafios contemporâneos.</p><p>92</p><p>Unidade I</p><p>Podemos entender como essa iniciativa contribuiu para a comunicação entre a GE e o público-alvo</p><p>por meio de algumas considerações:</p><p>• Alcance global: o GE Reports alcançou uma ampla audiência global por meio da disseminação</p><p>de conteúdo online. Por ser um veículo de comunicação digital, o conteúdo pode ser acessado em</p><p>todo o mundo, permitindo que a GE compartilhe informações com parceiros, clientes, investidores</p><p>e o público em geral.</p><p>• Transparência e visibilidade: esse fator ajudou a GE a aumentar sua transparência e visibilidade</p><p>perante o público. Com artigos, entrevistas, vídeos e outros tipos de conteúdo, o GE Reports</p><p>permitiu que a empresa compartilhasse histórias de sucesso, atualizações de projetos e avanços</p><p>tecnológicos, destacando seu papel como líder em diversas áreas.</p><p>• Comunicação direta com stakeholders: a empresa é capaz de se comunicar diretamente</p><p>com seus stakeholdes incluindo clientes, fornecedores, investidores e comunidade em geral.</p><p>Essa comunicação direta ajuda a fortalecer os relacionamentos, transmitir mensagens-chave e</p><p>fornecer informações atualizadas sobre os negócios e atividades da marca.</p><p>• Educação e conscientização: o GE Reports desempenhou um papel importante na educação e</p><p>conscientização nas áreas de atuação da empresa. Por meio de artigos informativos, relatórios</p><p>técnicos e materiais educacionais, a empresa pôde compartilhar conhecimentos, tendências e</p><p>soluções inovadoras em setores como energia, saúde, transporte e indústria.</p><p>Os vídeos produzidos para o canal GE Reports têm um viés promocional, enfatizando os aspectos</p><p>positivos da empresa e suas realizações. No entanto, o canal também oferece informações valiosas sobre</p><p>tecnologia, ciência e indústria, permitindo que os espectadores aprofundem seu conhecimento nessas</p><p>áreas. Sendo assim, o projeto é uma forma de a General Electric utilizar a plataforma do YouTube para</p><p>se comunicar com seu público, compartilhar informações relevantes e construir sua imagem como uma</p><p>empresa inovadora e líder em diversos setores.</p><p>4.2 O canal Embraer</p><p>O canal Embraer no YouTube é a plataforma institucional da empresa Embraer, uma das</p><p>principais fabricantes de aeronaves do mundo. O canal tem o objetivo de compartilhar informações,</p><p>atualizações e conteúdos relacionados à indústria aeronáutica, destacando os produtos, os projetos e as</p><p>conquistas da empresa.</p><p>Ao acessá-lo, você encontrará vídeos que abrangem diversos aspectos da empresa e suas atividades.</p><p>Isso inclui vídeos promocionais de aeronaves, lançamentos de novos modelos, entrevistas com</p><p>executivos e funcionários, além de conteúdos relacionados a inovação, tecnologia e sustentabilidade</p><p>na indústria da aviação. O canal está ativo desde 2006 e tem mais de 34 milhões de visualizações; em</p><p>2023, tinha 118 mil seguidores e 667 vídeos produzidos.</p><p>93</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça o canal Embraer:</p><p>EMBRAER. Disponível em: http://tinyurl.com/mw8es5ua. Acesso em:</p><p>8 jan. 2024.</p><p>A Embraer disponibilizou no YouTube uma websérie sobre inovação.</p><p>O  projeto audiovisual faz parte das comemorações do aniversário de</p><p>54 anos da empresa. Assista ao primeiro episódio:</p><p>EPISÓDIO 01: Tecnologia e Inovação | Websérie Inovação Embraer.</p><p>2023. 1 vídeo (4 min 43 s). Publicado pelo canal Embraer. Disponível em:</p><p>http://tinyurl.com/yck79fnf. Acesso em: 8 jan. 2024.</p><p>A produção dos vídeos no canal é de alta qualidade, apresentando imagens detalhadas das</p><p>aeronaves, entrevistas, animações e gráficos para melhor explicar os recursos e benefícios dos</p><p>produtos. Os vídeos também contêm descrições e informações adicionais para fornecer contexto e</p><p>aprofundar o conteúdo.</p><p>O canal Embraer no YouTube desempenha papel importante na melhoria da imagem institucional</p><p>de várias maneiras:</p><p>• Compartilhamento de informações: o canal Embraer permite que a empresa compartilhe</p><p>informações relevantes sobre suas atividades, projetos, inovações e conquistas. Ao fornecer</p><p>atualizações regulares e conteúdos exclusivos, a empresa demonstra transparência e mantém</p><p>os stakeholders informados sobre suas realizações e desenvolvimentos na indústria aeronáutica.</p><p>• Engajamento com a comunidade: o canal possibilita a interação direta entre a empresa e seu</p><p>público-alvo. Os espectadores podem deixar comentários, fazer perguntas e compartilhar suas</p><p>opiniões, criando um ambiente de diálogo e engajamento. Isso fortalece o relacionamento entre</p><p>a Embraer e sua comunidade, mostrando que a empresa valoriza o feedback e a participação</p><p>dos interessados.</p><p>• Divulgação de produtos e tecnologias: por meio dos vídeos no canal, a Embraer pode destacar</p><p>seus produtos, tecnologias e soluções inovadoras, reforçando sua posição como uma empresa</p><p>líder na indústria aeronáutica, aumentando a confiança e a percepção positiva do público em</p><p>relação à marca.</p><p>• Envolvimento com a indústria da aviação: o canal Embraer também desempenha um papel na</p><p>construção de parcerias e colaborações com outras empresas e organizações da indústria da aviação.</p><p>Os vídeos abordam temas relevantes para o setor, como avanços tecnológicos, sustentabilidade e</p><p>94</p><p>Unidade I</p><p>tendências do mercado, estabelecendo a empresa como uma referência e líder de pensamento na</p><p>indústria, fortalecendo sua imagem institucional entre seus pares e potenciais parceiros comerciais.</p><p>No geral, o canal da Embraer no YouTube contribui para a melhoria da imagem institucional da</p><p>empresa ao promover transparência, engajamento, divulgação de produtos e tecnologias e envolvimento</p><p>com</p><p>a comunidade e a indústria. Essas iniciativas ajudam a posicionar a Embraer como uma empresa</p><p>confiável, inovadora e comprometida com o avanço da indústria aeronáutica.</p><p>Sendo assim, a comunicação institucional feita pelo canal é uma ótima fonte para os entusiastas da</p><p>aviação, profissionais do setor, investidores e aqueles interessados nas últimas novidades da Embraer.</p><p>Além disso, oferece a oportunidade de se conectar com a comunidade Embraer, permitindo que os</p><p>usuários se inscrevam para receber atualizações regulares, curtir, comentar e compartilhar vídeos.</p><p>95</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Resumo</p><p>Nesta unidade, iniciamos a jornada rumo à aquisição de conhecimentos</p><p>fundamentais sobre a história do audiovisual, explorando sua evolução</p><p>técnica e conceitual no contexto da indústria criativa. Iniciamos revisitando</p><p>a pré-história do cinema, desbravando os primórdios do brinquedo óptico e o</p><p>pioneirismo na captura da imagem em movimento, culminando na invenção</p><p>revolucionária do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, que inaugurou a era</p><p>dos pequenos documentários projetados em telas.</p><p>Abordamos a diversidade de tipologias de produções e gêneros no campo</p><p>audiovisual que enriquecem narrativas e proporcionam variações no processo</p><p>de fazer filmes. A reflexão sobre as fronteiras entre filme de ficção e não ficção</p><p>emerge como um ponto crucial, preparando o terreno para o desenvolvimento</p><p>de um pensamento crítico em relação ao conceito de documentário. Nesse</p><p>contexto, indagações pertinentes surgem: Pode-se considerar que todo filme</p><p>de não ficção é um documentário? Qual é a diferença entre reportagens</p><p>televisivas e documentários? A seguir, você poderá responder a essas questões</p><p>e formular novas indagações que serão exploradas de maneira mais profunda</p><p>na unidade seguinte.</p><p>Este livro-texto, ao expandir esses tópicos, visa fornecer uma base sólida</p><p>de conhecimentos sobre técnicas documentais, oferecendo aos leitores</p><p>não apenas um entendimento abrangente dos fundamentos, mas também</p><p>insights para abordagens contemporâneas na produção documental.</p><p>96</p><p>Unidade I</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Vimos, nesta unidade, que, independentemente do produto audiovisual em questão,</p><p>a produção desse conteúdo apresenta uma estrutura básica, dividida em três fases estabelecidas na</p><p>indústria e que servem de guia em todos os processos e fluxos de produção audiovisual. Essas fases são:</p><p>pré-produção, produção e pós-produção.</p><p>Em relação a essas fases, avalie as afirmativas.</p><p>I – Na fase de pré-produção, temos, entre outros componentes, o planejamento, o desenvolvimento</p><p>do conceito e do roteiro e a pesquisa de locações.</p><p>II – Na fase de produção, temos, entre outros componentes, a gravação de imagens e som, a captura</p><p>de imagens em acervos e a direção de elenco e equipe.</p><p>III – Na fase de pós-produção, temos, entre outros componentes, a edição do material bruto, a</p><p>inserção de efeitos visuais e a correção de cor.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>A) I, apenas.</p><p>B) II, apenas.</p><p>C) III, apenas.</p><p>D) I e III, apenas.</p><p>E) I, II e III.</p><p>Resposta correta: alternativa E.</p><p>Análise da questão</p><p>Vejamos, a seguir, os componentes das fases de pré-produção, produção e pós-produção.</p><p>Fase de pré-produção</p><p>• Planejamento.</p><p>• Desenvolvimento do conceito e do roteiro.</p><p>97</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Briefing e pesquisa para conteúdo.</p><p>• Pesquisa de locações.</p><p>• Pesquisa para direção de arte (adereços, figurinos, maquiagem etc.).</p><p>• Seleção de elenco e de equipe técnica.</p><p>• Pilotos e pré-visualizações (por meio de mockups, storyboards, animatics etc.).</p><p>• Reuniões com a equipe de produção e com o elenco.</p><p>• Agendamento de filmagens e locações.</p><p>• Criação de orçamento e cronograma.</p><p>• Preparação e testes de equipamentos.</p><p>• Organização das gravações.</p><p>Fase de produção</p><p>• Gravação de imagens e som.</p><p>• Gravações de voz em off e foley (sons e efeitos sonoros adicionados ao filme).</p><p>• Captura de imagens em acervos (fotografias, textos, áudios etc.).</p><p>• Direção de elenco e equipe.</p><p>• Criação de cenas adicionais (como cenas com dublês ou outras, quando necessário).</p><p>• Gravação de material de arquivo (imagens de apoio, sons etc.).</p><p>• Monitoramento do equipamento e ajustes.</p><p>• Cuidados com a segurança no set.</p><p>• Organização de transportes e alimentação.</p><p>• Montagem de cenários.</p><p>• Execução de figurinos e adereços.</p><p>98</p><p>Unidade I</p><p>• Serviços de beleza, como cabelo e maquiagem.</p><p>• Desprodução (que consiste na desmontagem dos sets e na limpeza para a devolução).</p><p>• Registro de informações de produção (diários de filmagem, folhas de chamada, ordens do dia,</p><p>decupagens técnicas etc.).</p><p>• Registros contábeis da produção.</p><p>Fase de pós-produção</p><p>• Edição do material bruto.</p><p>• Gravação de voz off e foley adicionais.</p><p>• Adição de trilha sonora.</p><p>• Mixagem de som e mixagem final.</p><p>• Inserção de efeitos visuais.</p><p>• Correção de cor.</p><p>• Criação de créditos e de legendas.</p><p>• Criação de vídeo em Libras (quando necessário, mas cada vez mais comum de se ver).</p><p>• Registros de revisões finais e aprovações.</p><p>• Envelopamentos e versões.</p><p>• Entrega final do produto para distribuição (em formato de filme, vídeo, programa de TV etc.)</p><p>99</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Questão 2. (Enade 2006, adaptada) A respeito da captação e da edição digital de produtos</p><p>audiovisuais, avalie as afirmativas.</p><p>I – A tecnologia disponível atualmente não permite que um produto captado em película</p><p>cinematográfica seja editado digitalmente.</p><p>II – A tecnologia digital trouxe mais agilidade, velocidade e recursos estéticos ao processo de edição.</p><p>III – A tecnologia digital favoreceu a convergência entre cinema, televisão e vídeo.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>A) I e II, apenas.</p><p>B) I e III, apenas.</p><p>C) II e III, apenas.</p><p>D) III, apenas.</p><p>E) I, II e III.</p><p>Resposta correta: alternativa C.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a tecnologia permite a transposição do analógico para o digital. Parte da produção</p><p>cinematográfica atual é captada em película e, depois, é digitalizada para edição.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o processo de edição digital é considerado mais ágil e fácil do que a edição analógica.</p><p>III – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a tecnologia digital permite mais facilmente a convergência de diferentes linguagens</p><p>audiovisuais.</p><p>que uma apresentação de slides já seria o exemplo primário</p><p>de uma produção audiovisual.</p><p>De acordo com Machado (2019), pode-se classificar a produção audiovisual em três fases: pré-cinema,</p><p>cinema e pós-cinema. A primeira refere-se a pinturas rupestres, desenho, pintura, gravura, escultura,</p><p>arquitetura, teatro, fotografia e diversos inventos técnicos que, de forma direta ou indireta, contribuíram</p><p>para invenção do cinema. A fase intermediária, pré-industrial, tem como marca os registros ingênuos, com</p><p>raízes teatrais, em fase de experimentação, e sua principal característica é a não continuidade narrativa.</p><p>A fase pós-cinema acontece na fase industrial. A produção audiovisual se manifesta como produção</p><p>simbólica em busca de uma linguagem própria e de uma narrativa linear com início, meio e fim.</p><p>Saiba mais</p><p>Arlindo Machado é um dos mais renomados professores e pesquisadores</p><p>de comunicação no Brasil, com estudos em mídia, novas tecnologias e</p><p>estética audiovisual. É autor de vários livros, como o indicado a seguir.</p><p>MACHADO, A. Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas: Papirus, 2019.</p><p>12</p><p>Unidade I</p><p>A história do audiovisual está intrinsecamente ligada à história do cinema. O cinema surgiu em</p><p>28 de dezembro 1895 como arte visual, e tornou-se audiovisual com a adição dos componentes sonoros</p><p>aos imagéticos, por meio das experiências iniciadas no fim do século XIX. Elas continuaram ao longo</p><p>século XX e alcançaram consolidação na década de 1920, graças ao invento do Vitaphone, fabricado</p><p>pela empresa Western Electric, que proporcionou a sincronia entre imagem e som.</p><p>O audiovisual e o cinema devem grande parte de seu desenvolvimento aos avanços da indústria</p><p>da fotografia nos séculos XIX e XX. Segundo Armes (1999), a empresa Eastman Kodak, pioneira do</p><p>mercado fotográfico mundial, conseguiu popularizar a produção de materiais fotográficos, ao mesmo</p><p>tempo que percebeu a oportunidade de lucrar com o negócio cinematográfico. A Eastman chegou a</p><p>controlar 90% desse mercado em 1910, quando a venda de rolos para fotografias e filmes se equiparava</p><p>(Armes, 1999). Segundo Hagemeyer (2012), em 1927 estreou o filme O cantor de jazz, primeiro filme</p><p>sonorizado da história. Demoraria três anos para a produção do primeiro filme sonoro brasileiro, Lábios</p><p>sem beijos (1930), dirigido por Humberto Mauro (Costa, 2003). O cinema alcançou o domínio técnico na</p><p>organização, produção e distribuição, além da abertura de salas de cinema por todo o mundo, o que o</p><p>tornou por décadas a única representação do audiovisual, até o surgimento da televisão.</p><p>Segundo Vasconcelos (2016), o termo televisão significa “visão à distância” e foi mencionado pela</p><p>primeira vez em um artigo do cientista russo Constantin Perskyi, publicado em 1900. Segundo Castro</p><p>et al. (2018), naquela ocasião aconteceu uma feira em Paris para expor as novidades tecnológicas que</p><p>prometiam marcar o século XX. Outra pessoa importante para o surgimento da TV foi o engenheiro russo</p><p>Vladimir Zworykin, que imigrou para os Estados Unidos e desenvolveu o iconoscópio e o cinescópio,</p><p>instrumentos que permitiram chegar até o tubo de imagem (tubo de raios catódicos) e aprimorar as</p><p>câmeras de TV.</p><p>Paduan (2014) afirma que a invenção da televisão teria três fases diferentes: a fotoelétrica, a</p><p>televisão mecânica e a televisão eletrônica. A descoberta do selênio no século XIX e a invenção de um</p><p>tubo de feixe de elétrons foram os componentes fotoelétricos necessários para a possibilidade da</p><p>invenção de um aparelho mecânico com combinações físicas e químicas que gera imagem e som. A fase</p><p>eletrônica é a atual, acompanhada pela evolução das TICs, realidade aumentada e conexão à internet.</p><p>A televisão ocupa um papel importante na história do audiovisual, como podemos ver a seguir.</p><p>Saiba mais</p><p>As produções a seguir falam sobre a televisão e fatos da sua história:</p><p>CIDADÃO Kane. Direção: Orson Welles. Estados Unidos: RKO Radio Pictures,</p><p>1941. 119 min.</p><p>REDE de intrigas. Direção: Sidney Lumet. EUA: Metro-Goldwyn-Mayer, 1976.</p><p>121 min.</p><p>13</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Quadro 1 – Panorama histórico do audiovisual após o cinema mudo</p><p>1927 Em 1927 foi lançado o primeiro filme de acesso ao grande público. O cantor</p><p>de jazz foi o primeiro filme falado produzido em larga escala</p><p>1935</p><p>A empresa estadunidense Technicolor investiu no desenvolvimento de</p><p>tecnologias que permitiram a produção de filmes coloridos. Na década de</p><p>1930, conseguiu por meio da impressão sobre a mesma película três camadas</p><p>de cor – uma verde, uma vermelha e uma preta – que, ao serem mescladas,</p><p>conseguiam gerar uma paleta de algumas dezenas de cores</p><p>1950</p><p>Assis Chateaubriand, proprietário da rede de comunicação chamada Diários</p><p>Associados, fundou a TV Tupi de São Paulo e trouxe para o Brasil o primeiro</p><p>sinal de televisão. A programação era em preto e branco e os canais eram</p><p>bastante instáveis, mas foi com esse acontecimento que nasceu a TV brasileira</p><p>1950 e 1960</p><p>Câmeras portáteis de 8 mm e 16 mm começaram a se popularizar no mercado,</p><p>principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Desde então, cada vez mais</p><p>as pessoas comuns produzem os próprios vídeos caseiros ou amadores para os</p><p>fins que julgam necessários</p><p>1970</p><p>Em 1970, a televisão colorida foi introduzida no mercado brasileiro. Um dos</p><p>primeiros e mais relevantes eventos transmitidos em cor para toda a rede</p><p>nacional foi a Copa do Mundo do México, quando o Brasil conquistou o</p><p>tricampeonato com Pelé, Tostão e os demais jogadores dessa seleção</p><p>2005</p><p>Criação do YouTube. Desde 2005, pessoas do mundo todo podem publicar seus</p><p>vídeos na internet em um único lugar dedicado a eles com acesso mundial,</p><p>modificando a forma de pensar e de fazer audiovisual</p><p>Adaptado de: Astronautas (2017).</p><p>Embora o desenvolvimento e a história das TICs não sejam nosso foco aqui, vale ressaltar que as</p><p>primeiras TICs surgiram no final do século XIX e início do século XX, com a invenção do telégrafo e</p><p>do telefone. De modo geral, podemos dizer que foi apenas a partir dos anos 1960 que a tecnologia</p><p>começou a se popularizar e se tornar mais acessível. O pós-Segunda Guerra Mundial foi marcado pelo</p><p>avanço tecnológico.</p><p>Bolaño e Vieira (2012) distinguem a rede (internet) da web (WWW). A primeira designa</p><p>essencialmente o suporte técnico; a segunda é a interface criada em 1999, um marco da história da</p><p>internet por permitir a existência de uma interface acessível aos usuários comuns.</p><p>No período da Guerra Fria, segundo Bolaño e Vieira (2012), cientistas e militares dos Estados</p><p>Unidos aliaram-se para desenvolver uma rede que garantisse a segurança do país em caso de ataques</p><p>nucleares soviéticos. Como fruto do esforço conjunto e com o apoio do Departamento de Defesa,</p><p>surgiu a Arpanet, sigla em inglês de Advanced Research Projects Agency Network (Rede da Agência</p><p>de Projetos de Pesquisa Avançada). Conhecida como a mãe da internet, foi construída em 1969 com</p><p>o propósito de transmitir de forma segura dados militares sigilosos e interligar departamentos de</p><p>pesquisa em todo o território dos Estados Unidos.</p><p>Arpanet foi a primeira rede de computadores do mundo, desenvolvida com a finalidade de fornecer</p><p>uma solução robusta para comunicação entre instituições e departamentos de pesquisa que permitia a</p><p>transferência de informações entre computadores em diferentes locais. Nessa mesma época surgiram</p><p>os computadores de uso pessoal.</p><p>14</p><p>Unidade I</p><p>Entre os anos 1960 e 1970, a rede obteve crescimento persistente, relevante para o desenvolvimento</p><p>das tecnologias atualmente em uso, como o cabo Ethernet e o Transmission Control Protocol/Internet</p><p>Protocol (TCP/IP), protocolo de comutação de dados que foi adotado e padronizado na década seguinte.</p><p>Em 1973, a Arpanet passou a se chamar Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa).</p><p>Bolaño e Vieira (2012) explicam que, no final da década de 1970, o protocolo de comutação de</p><p>pacotes original, chamado Network Control Protocol (NCP), já não suportava a demanda crescente.</p><p>A fim de solucionar a questão, o TCP/IP passou a ser</p><p>utilizado. Em 1979 foi criado o primeiro serviço de</p><p>informações online, o CompuServe.</p><p>A década de 1980 foi marcada pela popularização dos computadores pessoais, com o lançamento</p><p>do IBM PC em 1981. A tecnologia se tornou cada vez mais acessível e difundida, permitindo a criação de</p><p>novas aplicações e serviços. Em 1983, a Arpanet foi dividida entre uma rede exclusiva para assuntos</p><p>militares (Milnet, mais tarde chamada de NIRPNet – Non-classified Internet Protocol Router Network)</p><p>e outra pública, transformada na internet. Em 1984, foi criado o Sistema de Domínios, o Domain Name</p><p>System (DNS), responsável por hierarquizar conexões entre máquinas ligadas à rede e aos servidores, de</p><p>acordo com os números de IP de cada máquina.</p><p>Em 1985, surgiu o precursor dos serviços de comunicação através da rede, o Sistema de Boletins</p><p>Informativos (BBS), desenvolvido pela America Online, a maior provedora de acesso à internet. Segundo</p><p>Bolaño e Vieira (2012), tratava-se de um software que deu origem aos fóruns de internet. O BBS era</p><p>acessado a partir de um terminal que permitia a interação entre usuários cadastrados por upload de</p><p>arquivos e imagens, pela troca de mensagens ou até mesmo por jogos online. Em 1985, os primeiros</p><p>backbones começaram a ser instalados pela National Science Foundation (NSF). Os backbones são</p><p>como autoestradas para os dados. Toda a informação da internet transita por eles e segue para pontos</p><p>estratégicos de redistribuição da informação. O primeiro backbone a ser estabelecido foi o NSFNET.</p><p>Em 1989, Tim Berners-Lee e Robert Caillau, ambos cientistas do Organisation Européenne pour</p><p>la Recherche Nucléaire (Cern), iniciaram o desenvolvimento da web, considerada um grande marco</p><p>tecnológico que popularizou o acesso à rede de usuários não profissionais por meio da nova interface</p><p>lançada em 1991 e conhecida como World Wide Web (WWW). Era necessário o uso de um navegador,</p><p>como Netscape, precursor dos atuais Internet Explorer e Google Chrome.</p><p>Saiba mais</p><p>O documentário A verdadeira história da internet, apresentado por John</p><p>Heilemann, é uma série do Discovery Channel que explora a evolução e o</p><p>impacto da internet na sociedade. No episódio “A guerra dos navegadores” é</p><p>abordada a competição intensa entre diferentes empresas e seus navegadores</p><p>de internet no início da era da web.</p><p>A VERDADEIRA história da internet. Direção: Julian Jones. Estados Unidos:</p><p>Discovery Channel, 2008.</p><p>15</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>A universalização do acesso à internet, em meados dos anos 1990, foi outro marco importante em</p><p>todo esse processo. Quem viveu nessa época, viu como a conexão de computadores em todo o mundo</p><p>explodiu. Foram criadas formas de comunicação e interação, e diversas tecnologias surgiram e ajudaram</p><p>a democratizar o acesso à internet, entre elas:</p><p>• Modems: nos anos 1990, os modems – que muitos chamavam de fax-modems e vêm de</p><p>MODuladores/DESModuladores – eram dispositivos de entrada e saída de dados usados para</p><p>conectar os computadores à internet por meio de linhas telefônicas. Com o surgimento de</p><p>tecnologias mais avançadas, como o ADSL e o cabo, os modems foram substituídos, mas foram</p><p>fundamentais no início da popularização da internet.</p><p>• Browsers: os browsers, ou navegadores, são os programas responsáveis por permitir a visualização</p><p>de páginas na internet. Browsers como Netscape Navigator e Internet Explorer facilitaram o acesso</p><p>à internet.</p><p>• Correio eletrônico: o e-mail foi uma das primeiras aplicações da internet e se tornou uma</p><p>ferramenta fundamental para a comunicação pessoal e profissional. Com esse recurso, as pessoas</p><p>podem se comunicar de forma rápida e fácil, independentemente da distância física.</p><p>• Protocolo TCP/IP: é o conjunto de protocolos que permite a comunicação na internet.</p><p>Esses  protocolos foram fundamentais para a criação de uma rede global de computadores,</p><p>permitindo que pessoas em todo o mundo se conectem e troquem informações.</p><p>As tecnologias descritas foram essenciais para a democratização da internet nos anos 1990,</p><p>permitindo que cada vez mais pessoas tivessem acesso à rede mundial de computadores e participassem</p><p>da revolução digital que transformou o mundo.</p><p>Figura 1 – Imagem de um anúncio veiculado em 1987 do PowerPak 286 IBM</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2s3cfaxj. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>16</p><p>Unidade I</p><p>Para quem nasceu após o ano 2000, o avanço da tecnologia pode não ser muito perceptível.</p><p>Nos anos 1980, o acesso era limitado. Os primeiros computadores só podiam ser adquiridos por pessoas</p><p>com bom poder aquisitivo. Quem testemunhou o desenvolvimento da internet desde os anos 1990</p><p>percebeu que, com o avanço da tecnologia, as TICs foram se tornando mais móveis e integradas.</p><p>O surgimento dos smartphones e tablets, na década de 2000, pode ser considerado uma virada de chave</p><p>fundamental quando falamos de produção e divulgação de conteúdo. Esse avanço permitiu que as</p><p>pessoas se conectassem à internet e realizassem uma série de tarefas em qualquer lugar e a qualquer</p><p>momento. Observe a capacidade operacional que pode ser vista com a Internet das Coisas, por exemplo.</p><p>Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, eram necessários equipamentos extremamente caros e</p><p>sofisticados para que o material produzido fosse veiculado – quem sabe um dia – na TV ou em aparelhos</p><p>de videocassete, como o da figura a seguir, que fez a alegria de tanta gente nos anos 1980 e 1990.</p><p>E havia uma outra realidade quando o assunto era a divulgação. Apesar de ela ser mais complicada, foi</p><p>nessa época que os produtores independentes estouraram e os documentários entraram na casa das</p><p>pessoas apresentando cada vez mais cotidianos e realidades que muitas vezes as tradicionais emissoras</p><p>de TV e produtoras de filme não exploravam.</p><p>Figura 2 – Videocassete com fitas, câmera VHS e TV de tubo, típicos dos anos 1980 e 1990</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/34cc5ns8. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>A popularização das redes sociais, como o Facebook e o Instagram, também teve papel importante</p><p>na transformação da forma como as pessoas se comunicam e compartilham informações, desde</p><p>publicações pessoais até esferas de produções de nível profissional. Percebemos como tudo mudou se</p><p>compararmos, por exemplo, as antigas ilhas de edição, câmeras e emissoras de TV com um smartphone</p><p>e uma ring light – que podem ser usados para, de maneira rápida, gravar, editar e difundir os conteúdos.</p><p>17</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 3 – Um smartphone com acesso à internet serve de porta ao mundo</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/mrywvzpk. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>A evolução também traz impactos significativos na economia e nos negócios. As empresas passaram</p><p>a adotar cada vez mais tecnologias, como o comércio eletrônico, a análise de dados e a automação</p><p>de processos, o que tem permitido a criação de novos modelos de negócios e o aumento da eficiência</p><p>operacional. E as TICs continuam a evoluir rapidamente, com a popularização da computação em nuvem,</p><p>da inteligência artificial e da Internet das Coisas.</p><p>As tecnologias, quando surgem, geralmente são caras e atendem às classes com maior poder</p><p>aquisitivo, mas a evolução é constante e a democratização é cada vez mais rápida quando falamos</p><p>de acesso às tecnologias que têm o potencial de transformar profundamente a sociedade e a economia,</p><p>criando oportunidades e desafios para as empresas e para os indivíduos. Daí a crescente necessidade de</p><p>vazão de conteúdos para um ambiente de criatividade desafiadora que devemos de forma dedicada e</p><p>atenta acompanhar com o passar do tempo. A tecnologia muda de forma muito rápida, e as possibilidades</p><p>podem muitas vezes ser efêmeras.</p><p>As novas TICs têm sido fundamentais para o desenvolvimento da indústria audiovisual. Com o</p><p>avanço da tecnologia, as produções audiovisuais têm se tornado cada vez mais sofisticadas e acessíveis.</p><p>As câmeras digitais, por exemplo, permitem a produção de imagens em alta definição com qualidade</p><p>profissional, enquanto softwares de edição e pós-produção possibilitam o refinamento</p><p>e a finalização</p><p>dos projetos. Hoje em dia até mesmo em smartphones é possível construir todo o processo de produção,</p><p>da elaboração do roteiro até a distribuição do conteúdo audiovisual, como veremos mais adiante.</p><p>As plataformas digitais têm proporcionado novas oportunidades de produção e distribuição de</p><p>conteúdo. Antes restrita a grandes estúdios e distribuidoras, a produção de filmes e séries agora pode</p><p>ser realizada por pequenas produtoras e até mesmo por indivíduos com recursos limitados.</p><p>As plataformas de streaming, por sua vez, permitem que o público acesse uma ampla variedade</p><p>de conteúdo, em diferentes formatos e gêneros, a qualquer hora e em qualquer lugar. Mais adiante</p><p>18</p><p>Unidade I</p><p>veremos alguns softwares que possibilitam a criação de vídeos de forma rápida e bastante intuitiva.</p><p>O importante é entender e começar a ver as possibilidades desde já.</p><p>O streaming se tornou uma forma popular de distribuir conteúdo digital, incluindo vídeo, música</p><p>e jogos. Entenda como isso afetou a indústria do entretenimento, da comunicação e da arte em geral.</p><p>• Na área da educação, o streaming é utilizado para oferecer aulas online em tempo real ou sob</p><p>demanda, permitindo que estudantes acessem conteúdos de qualquer lugar do mundo.</p><p>• Na área da saúde, o streaming é utilizado para oferecer consultas médicas online, permitindo que</p><p>pacientes tenham acesso a profissionais de saúde mesmo que estejam em regiões remotas.</p><p>• Na área de eventos ao vivo, o streaming é utilizado para transmitir shows, esportes e conferências</p><p>em tempo real para um público global.</p><p>• No setor de cinema e TV, o streaming tem afetado a indústria do entretenimento com serviços</p><p>como Netflix, Amazon Prime Video e Disney+, que oferecem conteúdo de vídeo sob demanda.</p><p>• Na área de jogos, o streaming tem permitido o acesso a games online sem a necessidade de</p><p>download no computador ou console.</p><p>Esse cenário de mudanças tem provocado transformações também no modelo de negócios da</p><p>indústria audiovisual. Produções independentes têm ganhado espaço, enquanto grandes produtoras</p><p>têm investido cada vez mais em conteúdos originais para se destacar. A publicidade, por sua vez, tem</p><p>buscado novas formas de alcançar o público, com a utilização de influenciadores digitais e de</p><p>anúncios em plataformas de streaming. E a produção de conteúdos audiovisuais documentais segue</p><p>esse crescimento.</p><p>Nos últimos anos, o mercado audiovisual tem experimentado grande crescimento em todo o mundo.</p><p>Segundo dados da Motion Picture Association (MPA), a indústria do entretenimento global arrecadou</p><p>US$ 101 bilhões em 2019, com um crescimento de 9% em relação ao ano anterior (US$ 93,5 bi). Somente</p><p>a receita de home entertainment aumentou 14%, alcançando US$ 58,8 bilhões. Já a renda do cinema</p><p>contabilizou faturamento pela bilheteria de US$ 42,2 bilhões. Além disso, a produção de conteúdo para</p><p>as plataformas digitais tem crescido exponencialmente; a Netflix, por exemplo, ultrapassou a marca</p><p>de 200  milhões de assinantes em todo o mundo. Charles Rivkin, CEO da Motion Picture Association,</p><p>defende que:</p><p>O setor de cinema, televisão e streaming continua a se transformar em um</p><p>ritmo vertiginoso, e este relatório mostra que o público é o grande vencedor.</p><p>O mais importante é que a nossa indústria continua inovando e oferecendo</p><p>ótimas histórias para os fãs de cinema e TV onde quando e como eles</p><p>querem (Vomero, 2020).</p><p>19</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Figura 4 – Netflix, a plataforma de streaming de filmes e séries mais popular entre os brasileiros</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/mr2skjpa. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>De acordo com um estudo realizado pelo JustWatch, o maior guia de streaming internacional,</p><p>a Netflix é a plataforma de streaming de filmes e séries mais popular entre os brasileiros, com uma</p><p>participação de mercado de 30% no quarto trimestre de 2022 (Vasconcelos, 2023).</p><p>Apesar das oportunidades geradas pelo avanço das TICs, a indústria audiovisual ainda enfrenta</p><p>desafios. A pirataria, por exemplo, continua sendo um problema para os produtores de conteúdo, que</p><p>perdem receitas com a distribuição não autorizada de seus produtos.</p><p>Além disso, a concorrência acirrada e a fragmentação do mercado podem dificultar a sobrevivência</p><p>das pequenas produtoras e distribuidoras. Por isso é importante que a indústria audiovisual continue a</p><p>se reinventar e a buscar soluções criativas para enfrentar os obstáculos. A utilização das TICs pode ser</p><p>uma grande aliada nesse processo, permitindo a produção e distribuição de conteúdo de forma mais</p><p>eficiente e acessível.</p><p>Um exemplo recente são as produções realizadas durante a pandemia de covid-19. Houve uma</p><p>explosão de conteúdos audiovisuais com diversas finalidades, com destaque para o aumento</p><p>significativo na produção e consumo de documentários. Isso ocorreu por alguns motivos. O principal</p><p>é que o documentário é um formato que pode ser produzido com recursos mais limitados e sem a</p><p>necessidade de grandes equipes ou locações extravagantes. Isso permitiu que muitos documentaristas</p><p>independentes continuassem trabalhando durante a pandemia, mesmo com as restrições de viagens e</p><p>filmagens em locais públicos.</p><p>Documentários muitas vezes oferecem uma perspectiva mais profunda e reflexiva sobre questões</p><p>sociais, políticas e culturais. Mais adiante, iremos abordar a linguagem documental para entender a</p><p>capacidade da produção de revelar fatos.</p><p>20</p><p>Unidade I</p><p>A pandemia levou muitas pessoas a refletir sobre a vida e o mundo ao redor. Os documentários</p><p>também foram uma forma popular de entretenimento no período de distanciamento social, pois oferecem</p><p>um escape da realidade ao mesmo tempo que fornecem informações e conhecimentos relevantes.</p><p>O audiovisual nos provoca sensações, entre elas a de satisfação de aprendizado. Muitas plataformas de</p><p>streaming, como a Netflix, ampliaram suas seleções de documentários durante a pandemia para atender</p><p>à crescente demanda.</p><p>Figura 5 – Cartaz de O dilema das redes (2020), dirigido por Jeff Orlowski.</p><p>O documentário explora o impacto das redes sociais na sociedade moderna</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/mrjb6nut. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>21</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>A pandemia também impactou significativamente as questões sociais, políticas, de saúde e os</p><p>debates sobre relacionamentos, desigualdade social e justiça racial. Documentários são um meio para</p><p>discutir e examinar diversas questões, e muitos documentaristas tiveram a oportunidade de criar obras</p><p>que podem ajudar a fomentar um diálogo mais construtivo em torno dessas questões importantes e que</p><p>precisam ser refletidas por toda a sociedade.</p><p>1.1 A construção do audiovisual</p><p>O audiovisual é uma construção de algo que pode até mesmo vir de um sonho, e é montado por</p><p>meio da articulação de recursos visuais e sonoros. Imagem e som são utilizados de forma conjunta para</p><p>a elaboração de determinada mensagem. Alguns elementos usados na montagem de um conteúdo</p><p>audiovisual:</p><p>• fotografias;</p><p>• imagens em movimento (vídeo);</p><p>• ilustrações;</p><p>• charges;</p><p>• gráficos;</p><p>• músicas;</p><p>• narrações;</p><p>• diálogos orais;</p><p>• efeitos sonoros.</p><p>Esses elementos, somados até mesmo ao silêncio, servem para comunicar o que se deseja. Há, dessa</p><p>forma, uma construção de narrativa que privilegia dois sentidos humanos muito importantes: visão e</p><p>audição. Ter esse entendimento em mente faz diferença na hora de produzir conteúdos audiovisuais.</p><p>Além disso, a construção do texto no audiovisual é algo feito de forma coletiva. A oralidade e a imagem</p><p>se fundem na linguagem audiovisual. E texto verbal e texto visual, significante e significado, atrelam-se</p><p>e trazem efeitos de sentido com argumentatividade (Barthes, 1992).</p><p>Para criar um vídeo, várias pessoas trabalham juntas para fazer com que as palavras faladas e as imagens</p><p>que aparecem na tela transmitam uma mensagem clara e convincente. É importante que as palavras e as</p><p>imagens estejam conectadas e façam sentido juntas para que a mensagem seja eficaz na montagem do</p><p>discurso</p><p>audiovisual. O texto verbal se refere às palavras faladas ou escritas que aparecem no vídeo, e o texto</p><p>visual se refere às imagens que aparecem na tela. Esses dois elementos se unem para criar uma linguagem</p><p>audiovisual única.</p><p>22</p><p>Unidade I</p><p>Quando o texto verbal e o texto visual são bem integrados, eles criam um efeito de sentido que é</p><p>muito persuasivo. Isso significa que a mensagem transmitida pelo vídeo é muito convincente e é capaz</p><p>de influenciar as pessoas de maneira significativa. Sendo assim, a construção textual no audiovisual</p><p>é uma colaboração entre várias pessoas para criar uma mensagem clara e convincente que combine</p><p>palavras e imagens de forma eficaz para influenciar as pessoas.</p><p>O texto deve partir de algo que a princípio poderia ser parecido com o jornalístico escrito, pois</p><p>existe na concepção do texto audiovisual uma relação com a literatura, mas quando se roteiriza</p><p>conseguimos perceber as peculiaridades do audiovisual. O resultado do impacto é forte para o público,</p><p>como percebemos ao assistir a um conteúdo na TV.</p><p>[...] o texto televisivo é de longe o veículo de comunicação com maior força</p><p>de penetração em todo o conjunto da população, seja pelo modelo de massa,</p><p>ou TV aberta, que difunde um patrimônio de informação para públicos vastos</p><p>e diversificados, seja pelo modelo segmentado, ou TV fechada, voltado para</p><p>um público de maior poder aquisitivo, com demandas mais particularizadas</p><p>(Pereira, 2002, p. 165).</p><p>Isso se pensarmos na TV sem a atual força da internet. Porém, em um contexto de expansão de outras</p><p>formas de mídia e entretenimento, como as redes sociais e os serviços de streaming, a televisão ainda</p><p>mantém um papel de destaque na vida das pessoas e na cultura popular. A TV aberta continua sendo</p><p>um meio de comunicação de massa acessível a grande parte da população, enquanto a TV fechada se</p><p>consolidou como uma opção para públicos mais exigentes e específicos, oferecendo uma programação</p><p>mais segmentada e diversificada.</p><p>No Brasil, a TV aberta ainda é o principal meio de comunicação de massa, com grande alcance</p><p>e impacto na população, conforme apontam diversos autores. Segundo a Pesquisa Nacional por</p><p>Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística</p><p>(IBGE), cerca de 96% dos domicílios brasileiros têm pelo menos um aparelho de televisão. Esse número</p><p>mostra a importância da televisão aberta como meio de comunicação acessível para a grande maioria</p><p>da população.</p><p>De acordo com a professora Marília Franco, pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da</p><p>Universidade de São Paulo (ECA-USP), a televisão aberta no Brasil ainda tem grande relevância e força</p><p>de penetração, especialmente em regiões mais carentes e em cidades do interior, onde o acesso à</p><p>internet é mais limitado. Segundo Franco (2005), a TV aberta ainda é a principal fonte de informação</p><p>para grande parte da população, principalmente em relação a notícias e conteúdos jornalísticos.</p><p>23</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Saiba mais</p><p>A Kantar Ibope Media é líder em dados, insights e consultoria sobre</p><p>consumo, desempenho e investimento de mídia na América Latina. No site da</p><p>empresa, é possível consultar a audiência de programas de TV.</p><p>KANTAR IBOPE MEDIA. Disponível em: https://tinyurl.com/y294ex3r.</p><p>Acesso em: 18 dez. 2023.</p><p>Sodré (1983) aponta que a televisão aberta exerce um papel importante na construção de uma</p><p>cultura popular no Brasil, sendo responsável por difundir valores e práticas sociais para um público</p><p>amplo. E podemos verificar que essa reflexão ganha força quando o veículo passa a ser inserido na</p><p>internet para que seja alcançado um público cada vez mais diverso.</p><p>Os novos formatos de aparelhos de televisão, como as TVs de LED, 4K e smart TVs, permitem acessar</p><p>conteúdos de forma mais interativa e personalizada. A TV on demand é uma realidade e as emissoras</p><p>estão partindo para os aplicativos. A popularização da internet e das redes sociais tem provocado</p><p>mudanças significativas na forma como as pessoas consomem conteúdo e se relacionam com a mídia,</p><p>desafiando a posição de hegemonia da televisão. E por isso vemos que cada vez mais as emissoras de TV</p><p>buscam complementar suas programações.</p><p>Figura 6 – Aplicativo TV Brasil Play</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4udey8ev. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>24</p><p>Unidade I</p><p>A oferta de conteúdos sob demanda e a possibilidade de interação e participação do público</p><p>têm se mostrado cada vez mais relevantes para o sucesso de uma produção televisiva. Apesar das</p><p>transformações na forma de consumo de mídia, a televisão ainda é um meio de comunicação de grande</p><p>alcance e impacto na sociedade, adaptando-se às mudanças tecnológicas e às demandas do público</p><p>para continuar relevante no contexto contemporâneo.</p><p>Observação</p><p>A maioria dos grandes veículos de rádio e TV tem aplicativo que permite</p><p>acesso ao conteúdo pela internet. Com a expansão do 5G, esse acesso</p><p>deverá aumentar consideravelmente.</p><p>Quando temos uma ideia de produto audiovisual, isso é apenas o ponto de partida para a</p><p>criação de um roteiro e a produção de um conteúdo completo. Embora a ideia possa parecer brilhante</p><p>e cheia de potencial, transformá-la em um filme real e bom requer uma equipe de pessoas com</p><p>habilidades e conhecimentos diferentes. Por exemplo, um roteirista é necessário para desenvolver</p><p>a história e transformá-la em um roteiro completo e coerente, um diretor é necessário para dar</p><p>vida às cenas e dirigir os atores, um produtor é necessário para financiar e gerenciar a produção do</p><p>filme, um editor é necessário para editar as cenas e colocá-las juntas de forma fluida e envolvente,</p><p>e assim por diante.</p><p>Há também o trabalho de equipe para lidar com os aspectos técnicos e criativos, como a</p><p>cinematografia, a música, a direção de arte, a encenação, a iluminação, a captação e a edição de som</p><p>e imagem, os efeitos visuais etc. Além disso, fazer um vídeo ou um filme não é apenas uma questão</p><p>de habilidades técnicas, mas também de perspectiva criativa. Ter uma equipe diversificada pode trazer</p><p>diferentes perspectivas e ideias para a mesa, o que pode ajudar a enriquecer e aprimorar a ideia original.</p><p>Podemos considerar que a indústria audiovisual:</p><p>Organiza-se pelo conjunto dos processos e suas inter-relações, voltados</p><p>para as atividades de produção, distribuição e exibição de obras elaboradas</p><p>a partir do registro combinado de imagens em movimento e sons, em</p><p>qualquer suporte, fotoquímico ou eletrônicos, analógicos ou digitais</p><p>(Silva, 2009, p. 14).</p><p>Então, precisamos sempre estar cientes de que, embora uma ideia de produção audiovisual de fato</p><p>seja inspiradora, é necessário ter uma equipe de pessoas com habilidades, talentos e conhecimentos</p><p>diferentes para transformá-la em um conteúdo completo e de qualidade. Trabalhar em equipe é</p><p>fundamental para que todas as áreas do processo de produção estejam alinhadas e o conteúdo final</p><p>tenha uma visão coesa e clara.</p><p>25</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>1.2 Elementos do fluxo de produção audiovisual</p><p>Independentemente do produto audiovisual em questão, a produção desse conteúdo/mensagem</p><p>apresenta uma estrutura básica dividida em três fases estabelecidas na indústria que servem de guia em</p><p>todos os processos e fluxos de produção audiovisual:</p><p>• pré-produção;</p><p>• produção;</p><p>• pós-produção.</p><p>Figura 7 – Equipe filmando em estúdio</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4a5mexkn. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça a FilmeCon, o maior evento do audiovisual brasileiro, que traz</p><p>diversos debates com profissionais da área.</p><p>FILMECON. Disponível em: https://tinyurl.com/yj8m24zz. Acesso em:</p><p>18 dez. 2023.</p><p>Cada uma das três fases da produção audiovisual apresenta vários desdobramentos e processos</p><p>específicos que devem ser considerados. Uma boa produção vai funcionar como um relógio com cada</p><p>pessoa exercendo bem sua função ou funções, a depender do tamanho da equipe. Muitas vezes, nas</p><p>equipes reduzidas vemos acúmulo de funções; ainda assim o processo deve ser feito com todas as áreas</p><p>sendo atendidas.</p><p>26</p><p>Unidade I</p><p>Pré-produção</p><p>• Planejamento.</p><p>• Desenvolvimento do conceito e roteiro.</p><p>• Briefing e pesquisa para conteúdo.</p><p>• Pesquisa de locações.</p><p>• Pesquisa para direção de arte (adereços, figurinos, maquiagem etc.).</p><p>• Seleção de elenco e equipe técnica.</p><p>• Pilotos e pré-visualizações (por meio de mockups, storyboards, animatics etc.).</p><p>• Reuniões com a equipe de produção e elenco.</p><p>• Agendamento de filmagens e locações.</p><p>• Criação de orçamento e cronograma.</p><p>• Preparação e testes de equipamentos.</p><p>• Organização das gravações.</p><p>Figura 8 – Planejamento na pré-produção é a chave do sucesso</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2nynbh3b. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>27</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Produção</p><p>• Gravação de imagens e som.</p><p>• Gravação de voz em off e foley (sons e efeitos sonoros adicionados ao filme).</p><p>• Captura de imagens em acervos (fotografias, textos, áudios etc.).</p><p>• Direção de elenco e equipe.</p><p>• Criação de cenas adicionais (como cenas com dublês ou outras quando necessário).</p><p>• Gravação de material de arquivo (imagens de apoio, sons etc.).</p><p>• Monitoramento do equipamento e ajustes.</p><p>• Cuidados com a segurança no set.</p><p>• Organização de transportes e alimentação.</p><p>• Montagem de cenários.</p><p>• Execução de figurinos e adereços.</p><p>• Serviços de beleza, como cabelo e maquiagem.</p><p>• Desprodução (desmontagem dos sets e limpeza para a devolução).</p><p>• Registro de informações de produção (diários de filmagem, folhas de chamada, ordens do dia,</p><p>decupagens técnicas etc.).</p><p>• Registros contábeis da produção.</p><p>Pós-produção</p><p>• Edição do material bruto.</p><p>• Gravação de voz off e foley adicionais.</p><p>• Adição de trilha sonora.</p><p>• Mixagem de som e mixagem final.</p><p>• Efeitos visuais.</p><p>28</p><p>Unidade I</p><p>• Correção de cor.</p><p>• Criação de créditos e legendas.</p><p>• Criação de vídeo em Libras (quando necessário, mas cada vez mais comum de se ver)</p><p>• Registros de revisões finais e aprovações.</p><p>• Envelopamentos e versões.</p><p>• Entrega final do produto para distribuição (em formato de filme, vídeo, programa de TV etc.).</p><p>Observação</p><p>Embora as três fases sejam bem definidas, geralmente os produtores e</p><p>diretores estão mergulhados em todo o processo de produção audiovisual.</p><p>Apresentamos alguns processos que podem estar envolvidos em cada fase da produção audiovisual.</p><p>Cada projeto pode ter necessidades específicas, dependendo do orçamento, da região, do cronograma,</p><p>das competências da equipe, da urgência etc.; a equipe de produção deve adaptar o processo de acordo</p><p>com todas essas necessidades.</p><p>Para uma melhor visualização das diferentes fases da produção audiovisual, veja o esquema a seguir.</p><p>Quadro 2</p><p>Registros documentais, contratuais e contábeis em todas as fases</p><p>Pós-produçãoPré-produção</p><p>Produção</p><p>Planejamento</p><p>Pesquisas</p><p>Roteiro</p><p>Seleções de equipe</p><p>Cronograma</p><p>Orçamento</p><p>Preparações</p><p>Testes</p><p>Pilotos</p><p>Distribuição</p><p>Revisões</p><p>Gravações de áudios</p><p>Gravações de vídeos</p><p>Direção de gravação</p><p>Cenas adicionais</p><p>Ajustes</p><p>Segurança</p><p>Direção de arte</p><p>Transportes</p><p>Alimentação</p><p>Desprodução</p><p>Capturas em acervo</p><p>Edição de áudio</p><p>Edição de vídeo</p><p>Efeitos sonoros</p><p>Efeitos visuais</p><p>Legendas e créditos</p><p>Libras</p><p>Registros</p><p>Alimentação</p><p>Envelopamentos</p><p>Correções de cores</p><p>29</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Nas produções, podemos verificar que os realizadores mais experientes organizam melhor as fases</p><p>de pré-produção, produção e pós-produção, seguindo alguns passos importantes.</p><p>• Planejamento antecipado: o planejamento é crucial para o sucesso de qualquer projeto de</p><p>filme. Os produtores devem ter uma compreensão clara dos objetivos do filme, do público-alvo,</p><p>do orçamento e dos prazos de entrega. Isso ajudará a garantir que todas as fases do projeto sejam</p><p>concluídas no prazo e dentro do orçamento.</p><p>• Seleção de equipe qualificada: os produtores devem ter uma equipe qualificada e experiente</p><p>para lidar com cada fase do projeto. Nem sempre esse negócio de chamar aquele profissional</p><p>somente por ser um bom amigo trará o melhor resultado, por isso opte sempre por gente</p><p>competente e entenda que se der tudo certo você ganhará uma nova amizade. Bons produtores</p><p>devem contratar profissionais experientes na pré-produção, produção e pós-produção, incluindo</p><p>roteiristas, diretores, produtores, editores e outros membros.</p><p>• Estabelecimento de um cronograma: é importante estabelecer um cronograma detalhado</p><p>para cada fase do projeto, incluindo prazos para o desenvolvimento do roteiro, casting, ensaios,</p><p>filmagem, edição e pós-produção. Isso ajudará a garantir que todas as etapas sejam concluídas</p><p>a tempo.</p><p>• Implantação de uma comunicação clara: a comunicação é fundamental para o sucesso de</p><p>qualquer projeto audiovisual. Não é raro vermos diretores que brigam com editores, que culpam</p><p>produtores por conta de um mal-entendido ou por falta de comunicação. Sabe aquela coisa</p><p>de que uma mensagem de WhatsApp poderia resolver, mas não foi enviada? Pois é, isso ocorre</p><p>muito, e numa boa produção precisa ser evitado. Os produtores devem manter uma comunicação</p><p>clara e aberta com a equipe de produção em cada fase do projeto, para que todos possam estar</p><p>na mesma sintonia e trabalhar juntos em direção aos mesmos objetivos.</p><p>• Gerenciamento de orçamento: os produtores devem ter um plano de gerenciamento de</p><p>orçamento bem definido. Muitas vezes, é preciso um profissional apenas para cuidar disso,</p><p>principalmente em médias e grandes produções. E isso poderá garantir que os recursos sejam</p><p>utilizados de forma eficiente e dentro do orçamento.</p><p>• Gerenciamento de riscos: bons produtores devem identificar e gerenciar quaisquer riscos que</p><p>possam surgir durante a produção inteira, incluindo atrasos nas fases de produção, problemas</p><p>com locações, despesas inesperadas, entre outros problemas.</p><p>Seguindo esses passos, os produtores podem organizar melhor as fases de pré-produção, produção</p><p>e pós-produção, garantindo que o projeto seja concluído no prazo e dentro do orçamento.</p><p>30</p><p>Unidade I</p><p>Uma equipe com organização e hierarquia pode lembrar muito uma cozinha de restaurante. Fazendo</p><p>uma analogia:</p><p>• O diretor é o chef executivo. O diretor é o líder da equipe de produção de filmes e é responsável</p><p>pela visão geral do produto. Da mesma forma, o chef executivo é o líder da equipe de cozinha e é</p><p>responsável pela visão geral do menu e da experiência gastronômica.</p><p>• O roteirista é o chef de cozinha. O roteirista escreve a história do filme e determina a trama e os</p><p>personagens. O chef de cozinha cria o cardápio e escolhe os ingredientes e técnicas de cozimento</p><p>para cada prato.</p><p>• O produtor é o gerente de restaurante. O produtor é responsável por garantir que o filme seja feito</p><p>dentro do orçamento e do prazo. O gerente de restaurante é responsável por garantir que a equipe</p><p>de cozinha funcione de maneira eficiente e que os pratos sejam entregues no prazo.</p><p>• A equipe de filmagem é a equipe de cozinha. A equipe de filmagem é composta de diferentes</p><p>profissionais, como diretores de fotografia, técnicos de som e editores de vídeo, que trabalham</p><p>juntos para capturar e editar o filme. Da mesma forma, a equipe de cozinha é composta de</p><p>diferentes profissionais, como chefs de linha, confeiteiros e ajudantes de cozinha, que trabalham</p><p>juntos para preparar os pratos.</p><p>• Os personagens (atores ou reais) são os garçons. Os personagens de um filme – seja ficção ou não</p><p>ficção – são responsáveis por transmitir a história para o público. Da mesma forma, garçons são</p><p>responsáveis por transmitir as escolhas de prato e sabores ao cliente. Ao servir, o bom garçom tem</p><p>a presença e a “cara” do restaurante.</p><p>• O roteiro é o menu. O roteiro é a base do filme e determina a direção e o tom da história. O menu</p><p>é a base da experiência gastronômica e determina os pratos e sabores que serão servidos.</p><p>Essa é uma simples analogia entre uma equipe de produção de filmes e uma de chefes de cozinha.</p><p>Vale lembrar que cada equipe tem peculiaridades e distintos processos de trabalho, e as comparações</p><p>podem variar de acordo com cada situação e perspectiva.</p><p>Saiba mais</p><p>Celtx é</p><p>um software de redação de roteiros e gerenciamento de</p><p>pré-produção para cinema, TV, anúncios, vídeos de curta duração, vídeos</p><p>comerciais, documentários, jogos, realidade virtual e muito mais. Confira seu</p><p>site pelo link a seguir:</p><p>CELTX. Disponível em: https://tinyurl.com/4a3fr5er. Acesso em: 19 dez. 2023.</p><p>31</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Seguindo em frente, podemos dizer que tanto o profissional que está atuando na criação de um</p><p>longa-metragem quanto aquele que está integrando a equipe de uma telenovela, por exemplo, vão</p><p>vivenciar os três momentos do processo produtivo (pré-produção, produção e pós-produção). Há uma</p><p>pequena variação de caso para caso, mas, no geral, essas três etapas serão experienciadas e precisam ser</p><p>cuidadosamente planejadas e executadas em toda produção audiovisual.</p><p>Figura 9 – Luz, câmera, ação e o set pronto para gravar</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/2v3cf5z9. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>Tudo começa na pré-produção, pois, para construir produtos audiovisuais, são necessários</p><p>planejamento e organização. É nessa etapa que se discute a ideia geral, os objetivos do conteúdo, os</p><p>prazos a cumprir, a equipe envolvida no processo, o roteiro, o casting (elenco ou personagens reais),</p><p>os locais de gravação, os elementos básicos da direção de arte e tudo o que for necessário para que a</p><p>gravação transcorra de forma harmônica e assertiva. Em suma, para criar um produto audiovisual, é</p><p>importante ter uma fase de pré-produção adequada e bem estruturada.</p><p>Durante essa etapa, as equipes envolvidas no projeto se reúnem para discutir e planejar todos os</p><p>aspectos do produto audiovisual, desde a ideia inicial até a finalização. A equipe que lidera o projeto</p><p>deverá discutir os objetivos do conteúdo, os prazos que precisam ser cumpridos, a equipe profissional</p><p>necessária para realizar o projeto, o roteiro que será seguido, o elenco ou personagens reais que serão</p><p>escolhidos, os locais de gravação, bem como os elementos básicos da direção de arte, como figurinos,</p><p>cabelo, maquiagem, cenários e adereços. Ao definir todos esses aspectos antes de a gravação começar,</p><p>é possível garantir que a equipe esteja preparada para lidar com os desafios que possam surgir durante</p><p>o processo de produção. Isso também ajuda a garantir que o produto seja entregue dentro do prazo,</p><p>uma vez que o cumprimento do cronograma é um grande desafio para todo produtor, e que atenda aos</p><p>objetivos e às expectativas do projeto. Então, podemos dizer que a pré-produção é fundamental para</p><p>garantir que a produção audiovisual transcorra de forma harmoniosa e assertiva e que o vídeo seja de</p><p>qualidade e atenda às expectativas do público-alvo.</p><p>32</p><p>Unidade I</p><p>A etapa seguinte é a mais famosa, a mais temida e a mais gostosa de participar: a produção.</p><p>É nesse estágio que o planejamento ganha vida e se materializa em ações concretas para a tela. Nesse</p><p>momento, são realizadas as entrevistas, quando necessário, e toda captação de imagem e som relevante</p><p>para a entrega do produto. Se os itens essenciais não estiverem devidamente garantidos nessa fase,</p><p>a organização inicial não terá cumprido seu papel de forma satisfatória, e a pós-produção poderá se</p><p>comprometer. Afinal, ela será responsável por executar sua parte e ainda solucionar de forma criativa as</p><p>lacunas e falhas vindas da produção.</p><p>Na fase de produção, coloca-se a mão na massa de fato, pelo contato com câmeras, tripés, lentes,</p><p>microfones, luzes, maquiagem, figurinos etc. São realizadas as filmagens, gravações, as captações e as</p><p>entrevistas necessárias para a criação do filme. É nessa etapa que todo o planejamento prévio é colocado</p><p>em prática, e o roteiro é gravado. Equipamentos e recursos técnicos devem ser utilizados de forma</p><p>organizada para captar sons e imagens, e a equipe de produção trabalha para garantir que tudo seja</p><p>registrado da forma mais adequada possível.</p><p>Durante a produção, podem acontecer imprevistos que precisam ser contornados pela equipe,</p><p>sob a batuta do diretor e do produtor, como mudanças no roteiro, problemas técnicos ou até mesmo</p><p>mudanças climáticas. É muito importante que a equipe esteja preparada para lidar com situações que</p><p>não estejam programadas, de forma a garantir que a produção seja fechada com qualidade.</p><p>Ao final da fase de produção, o material bruto é compilado, selecionado e organizado para a etapa</p><p>seguinte, que é a pós-produção. É importante que todos os itens essenciais tenham sido devidamente</p><p>garantidos durante a produção, para que a pós-produção possa ser executada de forma satisfatória.</p><p>Quando há lacunas ou falhas na produção, a equipe de pós-produção precisará solucioná-las de forma</p><p>criativa, o que pode comprometer a qualidade no final do processo.</p><p>Figura 10 – Editor de vídeo usando Adobe Premiere e After Effects</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/ypmas9tt. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>33</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Pós-produção é o momento de dar rosto ao produto audiovisual que está em construção. Nessa</p><p>fase, os profissionais assistem, ouvem e decupam tudo o que foi coletado na fase de produção, fazem a</p><p>montagem do conteúdo, tratam a cor das imagens de acordo com a intenção de cada escolha estética</p><p>que está sendo feita e fazem a mixagem de áudio. É o momento para montar e dar acabamento ao</p><p>produto que será exibido ao público final.</p><p>A execução perfeita de todo o processo de produção audiovisual depende de vários fatores e sofre</p><p>interferências diversas, inclusive na fase de pós-produção. Podemos apontar que é necessário que a</p><p>produção esteja atenta:</p><p>• ao orçamento disponível;</p><p>• ao tamanho da equipe;</p><p>• à segurança;</p><p>• à alimentação;</p><p>• ao transporte;</p><p>• à qualidade de produtos;</p><p>• à qualidade dos equipamentos;</p><p>• a pressões políticas (dependendo do tema tratado);</p><p>• a intempéries geográficas;</p><p>• a mão de obra qualificada.</p><p>O processo criativo de produção de conteúdo audiovisual, como telejornais, documentários,</p><p>curtas-metragens e cinema, requer uma abordagem meticulosa e bem definida. O importante é saber</p><p>organizar a produção desde o início e mergulhar nas ideias.</p><p>Desde a criação do roteiro até a escolha da linguagem apropriada e a história a ser contada, cada</p><p>etapa deve ser minuciosamente planejada. É importante reconhecer que há diversas opções disponíveis</p><p>para construir a linguagem em produtos audiovisuais e que não existe uma abordagem única, considerada</p><p>ideal. Em vez disso, existem modelos que têm se mostrado mais ou menos eficazes ao longo do tempo</p><p>(Moletta, 2009).</p><p>Na internet é comum vermos experimentos no audiovisual que funcionam com o público mais</p><p>jovem e que pegam rapidamente o público geral. Há alguns anos, quem diria que o formato de vídeo</p><p>para reels, com a tela no formato de 9:16 – ou 1020 × 1980 –, “bombaria” nas redes sociais?</p><p>34</p><p>Unidade I</p><p>Observação</p><p>De acordo com o crítico de arte John Berger (1999, p. 10), “a maneira</p><p>como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou acreditamos”. No livro</p><p>In the blink of an eye (2001), o montador estadunidense Walter Murch</p><p>menciona o ato de piscar como sinal indicativo para auxiliar o montador</p><p>no corte de cenas audiovisuais.</p><p>Uma vez que o produto é finalizado, ele segue para a distribuição e veiculação, chegando assim até</p><p>os espectadores. Vale lembrar que as etapas de pré-produção, produção e pós-produção são aplicáveis</p><p>a todos os produtos gerados pela indústria cinematográfica e videográfica: novelas, VTs publicitários,</p><p>programas televisivos, videoclipes, reality-shows, séries, seriados, webséries, vlogs, longa-metragem</p><p>autoral, longa-metragem comercial e documentários. Mais adiante, quando abordarmos a produção de</p><p>documentários, detalharemos as etapas importantes a serem seguidas.</p><p>1.3 Tipos de produções e gêneros no audiovisual</p><p>Entender melhor os tipos de produção audiovisual e os gêneros televisivos e cinematográficos</p><p>permite desenvolver a capacidade de analisar como essa diversidade está presente nas produções de</p><p>conteúdo de forma bastante mesclada para atender aos interesses da audiência.</p><p>As produções cinematográficas</p><p>e televisivas, os vídeos institucionais e os making-of exploram o</p><p>gênero documentário. O cinema nasce de registros reais que viram registros documentais.</p><p>O documentário é um gênero que se encontra tanto na televisão quanto no cinema e tem</p><p>suas origens nas primeiras formas de registro audiovisual da realidade. Segundo Nichols (2005),</p><p>documentário é um tipo de filme que se concentra na representação da realidade, muitas vezes com</p><p>um olhar crítico e investigativo. Pode abordar uma ampla gama de assuntos, desde eventos históricos</p><p>até questões sociais, políticas e culturais contemporâneas.</p><p>Comolli (2008) argumenta que o cinema sempre teve uma relação complexa com a realidade, tanto</p><p>na forma de ficção quanto na forma de documentário. Embora o cinema possa ser visto como uma</p><p>forma de entretenimento, ele também pode ser usado como ferramenta de reflexão sobre o mundo, o</p><p>que o gênero documentário faz desde seu início, como veremos adiante.</p><p>É importante mencionar a influência do cinema na TV, especialmente nas produções dramáticas.</p><p>Segundo Mittell (2015), a televisão tem adotado muitas técnicas e convenções narrativas do cinema,</p><p>como a edição rápida e a câmera em movimento. Essas técnicas ajudam a criar uma sensação de</p><p>realismo e imersão para o público.</p><p>Lembrete</p><p>As TICs são aliadas no desenvolvimento de produções audiovisuais.</p><p>35</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>A TV e o cinema são as bases para as veiculações de documentários, porém, no que toca ao</p><p>fazer audiovisual, podemos elaborar um pouco mais as ideias. A seguir, elencamos os tipos de</p><p>produção, para compreender melhor e de maneira mais holística como se realiza a atividade na</p><p>indústria audiovisual.</p><p>• Programas de TV: vídeos de longa ou curta duração feitos especificamente para a programação</p><p>da televisão. Os programas são de diversos gêneros, como documentários, reality-shows, séries,</p><p>novelas, telejornais, entre outros.</p><p>Figura 11 – Fausto Silva no cenário do programa Faustão na Band</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/3uzxy9mr. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>36</p><p>Unidade I</p><p>• Publicidade: são filmes e vídeos com objetivos comerciais, criados para divulgar produtos,</p><p>serviços ou marcas em veículos de comunicação, como a televisão, a internet e o cinema. Anúncios</p><p>publicitários se apresentam em diversos formatos, como comerciais de TV, propagandas para</p><p>internet etc.</p><p>• Filmes: produções de longa ou curta duração feitas para o cinema ou para a televisão.</p><p>Há diversos gêneros de filmes, como ação, aventura, comédia, documentário, drama, infantil,</p><p>musical, suspense, terror etc. Detalharemos os gêneros de filme mais adiante.</p><p>Figura 12 – Publicidade do documentário Nanook, o esquimó (1922), dirigido por Robert Flaherty</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/5yu58sev. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>37</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>• Vídeos de eventos: produtos audiovisuais feitos para registrar e divulgar eventos, como shows,</p><p>festas, casamentos, entre outros. Podem ser produzidos para a internet ou para exibição em telões</p><p>durante o próprio evento. Também há vídeos que servem apenas para registro.</p><p>• Musicais: produções criadas para acompanhar músicas. Podem ser clipes musicais, shows,</p><p>documentários, entre outros. Podem ser produzidos para exibição em canais de TV, na internet ou</p><p>em lojas físicas ou online.</p><p>Figura 13 – Michael Jackson no videoclipe de “Thriller” (1983), que mudou a história da música</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/3t6ppbdb. Acesso em: 14 dez. 2023.</p><p>• Institucionais: são materiais feitos para divulgar instituições, empresas, organizações</p><p>governamentais ou não governamentais, escolas, universidades etc. Podem ser usados para</p><p>apresentar a história da instituição, seus projetos e programas, entre outros interesses do</p><p>demandante para atingir o público-alvo.</p><p>• Vídeos político-partidários: são produções feitas por partidos políticos ou candidatos para</p><p>divulgar suas propostas e ideias durante campanhas eleitorais. Esse tipo de vídeo geralmente é</p><p>exibido na televisão ou divulgado na internet.</p><p>• Conteúdo para internet: são produções audiovisuais feitas para serem veiculadas na internet,</p><p>em plataformas como YouTube, Instagram, Facebook, entre outras. Os conteúdos podem ser de</p><p>diversos tipos, como vlogs, aulas, tutoriais, webinars etc.</p><p>38</p><p>Unidade I</p><p>Figura 14 – Frame do vídeo “Como o livro infantil pode mudar o mundo?”,</p><p>disponível no canal do YouTube da UNIP</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/4j8fjvyw. Acesso em: 13 dez..2023.</p><p>Os tipos de produção nos orientam, mas o que está na raiz de toda essa indústria é a TV e o cinema,</p><p>que são as portas para os diferentes tipos de produção e servem de eixo para balizar os conteúdos da</p><p>internet, por exemplo. Como a televisão ainda atinge grandes massas, o debate sobre gêneros televisivos</p><p>tem peso entre pesquisadores e profissionais, ainda que saibamos do crescimento exponencial da grande</p><p>rede mundial, a internet.</p><p>Figura 15 – Família assistindo TV em 1958</p><p>Disponível em: http://tinyurl.com/34mwb4zw. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>39</p><p>TÉCNICAS DE DOCUMENTÁRIO</p><p>Com mais de 70 anos dentro dos lares, a televisão é uma forma de mídia ainda muito presente em</p><p>nossa vida. Apesar da crescente popularidade da internet, a televisão atinge grandes massas de pessoas</p><p>em todo o mundo, proporcionando um ponto de encontro para diferentes culturas, valores e ideologias.</p><p>É um veículo que tem poder de atingir públicos bastante heterogêneos. Por meio da televisão, podemos</p><p>acompanhar eventos importantes em tempo real, ter acesso a informações e notícias sobre o mundo,</p><p>além de desfrutar uma ampla variedade de programas de entretenimento.</p><p>A programação televisiva tem sido objeto de estudos e análises por pesquisadores e profissionais do</p><p>setor há décadas. Gêneros televisivos são uma das formas mais comuns de classificação de programas</p><p>de televisão, abrangendo desde os dramas e comédias até os programas de entrevistas e reality-shows.</p><p>Para Fiske (1992), os gêneros televisivos são construções culturais, o que os insere em um contexto de</p><p>coletivo, e trazem uma reflexão sobre as crenças e os valores de uma sociedade em relação às formas</p><p>de comportamento humano e às relações sociais.</p><p>Embora essa categorização possa parecer superficial, ela é fundamental para entender como</p><p>a televisão reflete e influencia a sociedade em que vivemos. Por exemplo, programas de televisão</p><p>que retratam personagens femininas hipersexualizadas ou como donas de casa submissas podem</p><p>reforçar estereótipos. Da mesma forma, programas que promovem violência ou discurso de ódio</p><p>podem ter um impacto negativo na sociedade em geral. Isso se vê na TV e na internet, e ambas ditam</p><p>modas e tendências.</p><p>A televisão também pode ser uma ferramenta poderosa para promover mudanças sociais positivas.</p><p>Programas que retratam personagens de diferentes origens e culturas, por exemplo, podem ajudar a</p><p>quebrar estereótipos e promover a diversidade. Da mesma forma, programas que abordam questões</p><p>sociais importantes, como a igualdade de gênero ou a luta contra o racismo, podem ajudar a conscientizar</p><p>as pessoas dessas questões e promover mudanças positivas (Ang, 1991).</p><p>De acordo com Machado (2000), os formatos para a televisão são uma forma de organizar e</p><p>padronizar a produção de programas televisivos. Esses formatos são compostos de uma série de</p><p>elementos, como a duração do programa, o estilo, se é ao vivo ou gravado, a resolução de imagem,</p><p>entre outros. Os formatos para a TV têm papel fundamental na construção da linguagem televisiva.</p><p>Ao padronizar os elementos que compõem os programas, os formatos permitem que os espectadores</p><p>possam reconhecer e compreender as informações transmitidas de forma mais eficiente. No entanto,</p><p>o autor também critica a rigidez dos formatos para televisão, pois essa padronização pode limitar a</p><p>criatividade dos produtores e restringir a diversidade de formatos e conteúdos transmitidos. Por isso, é</p><p>importante repensar constantemente os formatos televisivos e buscar novas formas de representação</p><p>que possam</p>

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