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<p>- -1</p><p>Constituição do crédito tributário</p><p>pelo lançamento</p><p>André de Faria Thomáz</p><p>Introdução</p><p>Você sabe como devem ser feitos os lançamentos dos créditos? Quais são suas funções? Como se caracteriza seus</p><p>lançamentos? Para fins didáticos, caracteriza-se o crédito tributário como uma área autônoma, porém, essa</p><p>autonomia não é própria da prática tributária, já que a análise de determinado tributo acarreta incursão a</p><p>conceitos próprios de outros ramos do Direito. Fazem parte desse ramo todas as regras jurídicas, seja de origem</p><p>constitucional, seja de legislação infraconstitucional e outras, ainda, de caráter estritamente administrativo,</p><p>como portarias e resoluções.</p><p>Ao final desta aula, você será capaz de:</p><p>• reconhecer o conceito de lançamento do crédito tributário, listando os diferentes tipos de lançamento.</p><p>Conceito de lançamento</p><p>Inicialmente, é importante definir claramente os conceitos de obrigação tributária, que pode ser acessória ou</p><p>principal, como dispõe o art. 113 do Código Tributário Nacional. No caso de ser principal, surge com a ocorrência</p><p>do fato gerador, tendo como objeto o pagamento do próprio tributo ou da penalidade. Depois de feito o</p><p>pagamento, extingue-se o dever do contribuinte sobre aquela situação específica.</p><p>Já no caso de ser obrigação acessória, sabe-se que esta decorre de prestações positivas ou negativas atreladas ao</p><p>interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, podendo converter-se em principal devido à eventual</p><p>penalidade pelo seu não cumprimento.</p><p>•</p><p>- -2</p><p>Figura 1 - Pagamento de tributos e extinção de dever do contribuinte</p><p>Fonte: allstars, Shutterstock, 2019.</p><p>Além disso, as relações tributárias envolvem, essencialmente, dois sujeitos: o ativo e o passivo. O primeiro é a</p><p>pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento (BRASIL, 1966, art.</p><p>119). O segundo, como regra, é a pessoa que deve pagar o tributo ou a obrigação pecuniária, a qual pode ser</p><p>chamada de contribuinte, caso tenha relação direta com o fato gerador ou responsável. Se o pagamento decorrer</p><p>de disposição expressa na legislação, conforme o art. 121, do CTN, este terá que pagar, mesmo não sendo</p><p>contribuinte.</p><p>Também importa mencionar que o crédito tributário não pode ser confundido com a obrigação tributária. Isto</p><p>porque a obrigação é o poder do Estado de criar o crédito tributário a partir de uma competência, já o crédito é a</p><p>efetivação do direito estatal de cobrar a obrigação. Dentro da legislação tributária, especificamente, quando se</p><p>fala em responsabilidade, esses elementos também estão presentes na constituição do chamado crédito</p><p>tributário.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A análise de questão tributária demanda, inicialmente, a verificação de conceitos normalmente</p><p>utilizados pela legislação, como: competência, obrigação tributária, crédito tributário,</p><p>lançamento, entre outros fatores essenciais à correta compreensão da matéria. Para saber</p><p>mais, leia “Direito Financeiro e Tributário”, de Harada (2018).</p><p>- -3</p><p>Figura 2 - Sistema tributário e partes envolvidas</p><p>Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2019.</p><p>Nesse contexto, o lançamento tributário constitui-se como o ato jurídico-administrativo, da categoria dos</p><p>simples, constitutivos e vinculados, por meio do qual se inclui na ordem jurídica brasileira uma norma individual</p><p>e concreta, antecedida pelo fato jurídico-tributário e sucedida pela formalização do vínculo obrigacional, “pela</p><p>individualização dos sujeitos ativo e passivo, a determinação do objeto da prestação, formado pela base de</p><p>cálculo e correspondente alíquota, bem como pelo estabelecimento dos termos espaço-temporais em que o</p><p>crédito há de ser exigido (CARVALHO, 2011, p. 380).</p><p>O lançamento, portanto, é feito pela autoridade administrativa e se constitui a verificação da hipótese e da sua</p><p>realização pelo sujeito passivo no cálculo do valor do tributo e na aplicação da penalidade possível, em caso de</p><p>descumprimento, após a devida notificação do sujeito passivo. Na síntese, entre o Estado (sujeito ativo) e o</p><p>particular (sujeito passivo) pode existir uma obrigação tributária, materializada pelo lançamento e respectiva</p><p>constituição do crédito tributário, após as apurações devidas pela administração pública (verificação da hipótese</p><p>e consequência).</p><p>- -4</p><p>Nos termos do art. 141, do CTN, uma vez constituído o crédito tributário, ele somente poderá ser modificado,</p><p>extinto ou ter sua exigibilidade suspensa ou excluída nos casos previstos em lei, não podendo ser simplesmente</p><p>dispensado, sob pena de responsabilidade funcional (BRASIL, 1966).</p><p>A extinção se dá pelo pagamento, compensação, transação, remissão, prescrição, decadência, pela conversão do</p><p>depósito em renda, consignação em pagamento, por decisão administrativa ou judicial e pela dação em</p><p>pagamento em bens imóveis (BRASIL, 1966, art. 156). Assim sendo, o sujeito passivo deverá quitar a sua</p><p>obrigação, inclusive por recurso administrativo ou judicial, mediante pagamento em dinheiro ou bens imóveis,</p><p>estando extinto o crédito quando houver prescrição (ausência de cobrança no prazo legal).</p><p>Lançamento direto ou por ofício</p><p>A fonte primordial para todo o sistema tributário nacional é a CF/1988. Nela, encontram-se autorizados, por</p><p>competência predefinida, os tributos existentes ou outros que poderão ser criados. A CF/1988 serve também de</p><p>fonte do Direito Comercial, balizando toda a legislação infraconstitucional, como as leis complementares e</p><p>ordinárias necessárias à instituição dos tributos.</p><p>Assim, o lançamento direto ou por ofício é reconhecido pelo Direto, pois é realizado pela fiscalização, sem</p><p>participação do contribuinte, uma vez que o fisco já detém todas as informações necessárias para sua</p><p>concretização e lançamento. Um exemplo clássico desse lançamento é o IPTU, caso em que, o contribuinte, que</p><p>não prestou qualquer informação específica ao fisco, recebe em sua casa o carnê para pagamento (CARVALHO,</p><p>2011).</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>Há casos em que o crédito não é extinto ou suspenso, mas excluído. Trata-se de episódios de</p><p>isenção e anistia. A isenção é a exclusão do crédito decorrente de uma lei específica, ainda que</p><p>possa também ser prevista em contrato, com a especificação das condições e requisitos para</p><p>concessão, inclusive o prazo de duração. Será concedida ao interessado que a requerer,</p><p>comprovando o seu enquadramento ao tipo legal (BRASIL, 1966, art. 176).</p><p>- -5</p><p>Figura 3 - No lançamento direto, o fisco já possui todas as informações de que necessita</p><p>Fonte: Gitanna, Shutterstock, 2019.</p><p>Na ausência de disposições expressas, a autoridade competente poderá utilizar-se sucessivamente da analogia,</p><p>dos princípios tributários gerais, dos princípios gerais de direito público e da equidade, consoante regra do art.</p><p>108 do Código Tributário Nacional. É importante destacar que a analogia ou a interpretação principiológica não</p><p>poderão dar azo ao lançamento de tributo não previsto em lei, mas servirão, exclusivamente, como critério</p><p>hermenêutico de interpretação da norma existente.</p><p>Dessa forma, a interpretação das normas tributárias sobre suspensão, exclusão, isenção e dispensa de</p><p>pagamento devem ser feitas de forma literal, sem qualquer ampliação do conteúdo normativo. As leis tributárias</p><p>que definirem sanções serão interpretadas de maneira mais favorável ao acusado.</p><p>Lançamento misto ou por declaração</p><p>No lançamento misto, ocorre uma ação em comum acordo com o fisco e o contribuinte, pois, nesse caso, o fisco,</p><p>não dispondo de dados suficientes para realizar o lançamento, conta com o auxílio do contribuinte, o qual supre</p><p>a deficiência da informação por meio da prestação de uma declaração, sendo possível gerar esses lançamentos</p><p>(CARVALHO, 2011).</p><p>- -6</p><p>Exemplo desse lançamento é o ITCMD, que é feito por declaração, ou seja, o contribuinte declara as informações</p><p>que a Secretaria Estadual de Fazenda solicita no formulário de Declaração de ITCMD. Em seguida, a autoridade</p><p>administrativa (SEF) faz o lançamento e notifica o contribuinte. Essa modalidade de lançamento é prevista no</p><p>art. 147 do CTN. Mesmo que as informações sejam declaradas</p><p>pelo contribuinte, a SEF pode retificar de ofício a</p><p>declaração, não sendo a declaração do contribuinte inquestionável.</p><p>Figura 4 - Controle dos lançamentos</p><p>Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2019.</p><p>Dessa forma, em pontos práticos, podemos verificar que há uma tendência da legislação em abandonar essa</p><p>modalidade de lançamento e migrar para a sistemática de lançamento por homologação, devido a sua maior</p><p>adesão e comunicação entre as partes. Vamos entender agora como se caracteriza esse tipo de lançamento.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>De acordo com Mazza (2018) e Harada (2018), é importante ressaltar que a declaração</p><p>entregue pelo sujeito passivo – que configura uma obrigação instrumental, ou acessória, nos</p><p>termos do artigo 113, § 2º, do CTN – apenas fornece a matéria de fato necessária para a</p><p>constituição do crédito.</p><p>- -7</p><p>Lançamento por homologação ou</p><p>autolançamento</p><p>Nessa forma de lançamento, a maior participação está nas mãos do contribuinte,o qual faz a maior parte do</p><p>trabalho, pois tem uma participação na conferência dos dados. Para o fisco, essa modalidade é mais rápida e</p><p>eficaz, já que a maior parte da receita tributária ingressa nos cofres públicos e, independentemente de qualquer</p><p>providência, ocorre com participação direta do contribuinte (CARVALHO, 2011).</p><p>Assim, o lançamento por homologação trata os tributos que têm o recolhimento exigido do devedor</p><p>independentemente de prévia manifestação do fisco, ou seja, não é preciso que o sujeito ativo efetue o ato final</p><p>de lançamento para tornar exigível a prestação tributária, dentro das formatações do contribuinte.</p><p>Fechamento</p><p>Neste tema, vimos que os créditos tributários têm como base a obrigação tributária, que nasce já no momento da</p><p>ocorrência do fato gerador, entendendo que o lançamento não cria a obrigação tributária, mas a declara, tendo,</p><p>portanto, natureza declaratória, mediante a origem de sua forma tributária. Entendemos também no que</p><p>consistem os lançamentos tributários diretos (ou por ofício), mistos (ou por declaração) ou por homologação.</p><p>Nesta aula, você teve a oportunidade de:</p><p>• reconhecer o conceito de lançamento do crédito tributário, listando os diferentes tipos de lançamento.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988</p><p>Nacional, 1988.</p><p>BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas</p><p>gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966.</p><p>CARVALHO, P.de B. . 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.Curso de Direito Tributário</p><p>HARADA, K. . São Paulo: Atlas, 2018.Direito financeiro e tributário</p><p>EXEMPLO</p><p>O lançamento do IRPF é um exemplo clássico de lançamento feito por homologação, também</p><p>chamado de autolançamento, no qual a pessoa física presta as informações à entidade</p><p>responsável por recebê-las, faz o cálculo e ainda recolhe o tributo. Depois, o fisco gera o</p><p>controle das informações.</p><p>•</p><p>- -8</p><p>HARADA, K. . São Paulo: Atlas, 2018.Direito financeiro e tributário</p><p>MACHADO, H.de B. . 35. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014.Curso de Direito Tributário</p><p>MAZZA, A. . São Paulo: Saraiva, 2018.Manual de direito tributário</p><p>SABBAG, E. . São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de direito tributário</p><p>Introdução</p><p>Conceito de lançamento</p><p>Pagamento de tributos e extinção de dever do contribuinte</p><p>Sistema tributário e partes envolvidas</p><p>Lançamento direto ou por ofício</p><p>No lançamento direto, o fisco já possui todas as informações de que necessita</p><p>Lançamento misto ou por declaração</p><p>Controle dos lançamentos</p><p>Lançamento por homologação ou autolançamento</p><p>Fechamento</p><p>Referências</p>