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A U L A 6 - D I S C I P L I N A : A N A T O M I A P A T O L Ó G I C A P R O F E S S O R A D R A M A G Y D A A . A . D A H R O U G M O U S S A Patologias do Sistema Urinário INTRODUÇÃO Manutenção da homeostase corporal - Filtração do sangue (excreção) - Reabsorção (recuperação de substâncias filtradas) - Manutenção do equilíbrio hidro-eletrolítico Recebe cerca de 25% do débito cardíaco ESTRUTURAS MACROSCÓPICAS Carnívoros e Eqüinos: rins unilobares Suínos e Bovinos: multilobares (mas somente os bovinos apresentam uma lobulação externa) Os rins são cobertos por uma cápsula fibrosa que nos rins normais pode ser facilmente removida O parênquima renal é dividido em córtex e medula e a relação corticomedular é de 1:2 ou 1:3 ESTRUTURAS MACROSCÓPICAS O córtex é radialmente estriado e de coloração vermelho-marrom (exceto gatos velhos em que o córtex é amarelado por apresentar conteúdo lipídico) A medula é cinza-pálido Os rins recebem sangue primariamente através da artéria renal. A artéria interlobar penetra no parênquima renal subdividindo-se. As últimas subdivisões - artérias interlobulares - não possuem anastomose, tornando- as suscetíveis à necrose isquêmica focal (infarto) ESTRUTURAS MICROSCÓPICAS Néfron: é a unidade funcional do rim, composto pelos glomérulos (filtração do sangue), e por segmentos renais, de onde as substâncias filtradas são absorvidas e para onde os componentes plasmáticos são excretados (fluido tubular) ESTRUTURAS MICROSCÓPICAS Aparelho Justaglomerular: - Mácula Densa: Um segmento do túbulo contorcido distal próximo a um segmento de uma ou ambas as arteríolas do corpúsculo renal. Nesta região a parede do túbulo, que normalmente é constituída por um epitélio cubóide, se torna cilíndrico, com células estreitas, formando uma linha de núcleos justapostos - Células Justaglomerulares: As arteríolas do corpúsculo renal apresentam células epitelióides em vez de células musculares lisas, denominadas células justaglomerulares. Poduzem pró-renina e a renina e são sensível à diminuição da concentração de NaCl, sendo isso um estímulo para sua liberação. FUNÇÕES RENAIS Regulação dos fluídos corporais (volume e composição do fluído extracelular – alteração da excreção urinária) Excreção de compostos residuais (creatina, ácido úrico, uréia, compostos conjugados). FUNÇÕES RENAIS Função endócrina - Eritropoetina: Produzida no rim e estimula a medula óssea para produzir eritrócitos (deficiência – anemia) - Renina: Enzima que regula a entrada e saída de sangue no glomérulo com aumento ou diminuição da pressão arterial. Na entrada do glomérulo há um conjunto de células (mácula densa), as quais são sensíveis ao cloro; quando há excesso de água no sangue a mácula densa percebe o aumento do nível de cloro e estimula as células justaglomerulares a liberar Renina, a qual fará vasoconstrição, aumentando assim a pressão arterial e aumentando a filtração dentro do glomérulo, para eliminar esse excesso de água do sangue) ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS – NÃO LESÕES Autólise: Conseqüência da ação lítica de enzimas do próprio organismo. No cavalo já é observado duas horas após a morte. O órgão torna-se flácido e de cor tijolo; Hipostase: Órgão mostra-se de cor vermelho-escuro e tem aspecto de úmido; Livores cadavéricos: O órgão exibe manchas esverdeadas (pseudomelanose). O fenômeno é uma decorrência da impregnação dos tecidos renais pela sulfametahemoglobina. Clostridium chauvoei: Bovinos mortos por carbúnculo sintomático, apresentam bolhas gasosas, que podem dar aspecto enfisematoso ao órgão. Autólise TRATO URINÁRIO SUPERIOR ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO Aplasia: falta dos 2 rins (bilateral) que é incompatível com a vida ou de 1 rim (unilateral) que é raro e parece ser hereditário em cães da raça Beagle. Hipoplasia: o órgão apresenta-se extremamente reduzido e há uma hipertrofia do rim oposto. O rim anômalo apresenta uma cápsula extremamente fibrosa. ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO Displasia: é uma anormalidade de organização estrutural, resultante de uma diferenciação anormal e presença de estruturas, que normalmente não se encontram presentes na nefrogênese. Os rins displásicos podem ser pequenos, disformes ou ambos. Ectopia: um ou ambos rins podem estar deslocados caudalmente, sendo encontrados na cavidade pélvica ou inguinal ou o rim pode se desenvolver no tórax. O rim fora de sua posição, nada apresenta de anormal. Mas seu ureter pode estar torcido o que predispõe o órgão às hidronefroses e pielonefrites ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO Cistos Renais: há 3 tipos de cistos (cistos solitários, cistos múltiplos – rim policístico e cistos de retenção). Os 2 primeiros tipos são congênitos e o último é adquirido. - Cisto Solitário: Ocorre geralmente em suínos e bovinos - Rins Policísticos: Tem seu parênquima substituído por numerosas formações císticas pequenas. Comum em bezerros e gatos. *Nos gatos a afecção acompanha-se frequentemente de higromas peri- renais (derrames líquidos sob a cápsula renal), juntamente com espessamento e até descolamento de cápsula. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Hiperemia: em decorrência de processos inflamatórios. Macroscopicamente o órgão apresenta-se aumentado de tamanho e com coloração vermelha difusa. *A lesão é bem conhecida na fase ictérica da leptospirose e na piometra. Congestão: causa por compressão de veias por tumores, por granulomas, por trombose e etc. Também se deve à doenças cardíacas e lesões crônicas dos pulmões que resultam em quadros de congestão generalizada. O rim mostra-se aumentado, firme, tenso e de coloração vermelho-escura. Congestão ALTERAÇÕES CIRCULATÓRICAS Hemorragia: pode ser devido à traumas, envenenamentos por soda ou dicumarínicos, embolia bacteriana em neonatos, distúrbios circulatórios, peste suína clássica (inúmeras petéquias), leptospirose, intoxicação por plantas (gênero Crotalaria) Infarto: é determinado pela oclusão da artéria renal ou de seus ramos, por êmbolos ou trombos. Se o material que oblitera o vaso é séptico, verifica-se um abscesso. São freqüentes em bovinos e suínos - Agudo: área vermelho-escuro em forma de cunha - Crônico: área pálida com halo hiperêmico ao redor - Cicatriz: torna-se uma escara deprimida e irregular na superfície do rim. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Necrose Tubular: o epitélio tubular sobre um processo necrótico o qual se acompanha de esteatose e degeneração albuminosa. Ocorre em diversas intoxicações por: bicloreto de mercúrio e fungicidas a base de mercúrio, sulfato de cobre, fósforo, tetracloreto de carbono, sulfas (formação de cristais intratubulares), gentamicina, estreptomicina, fitotoxinas (Amarathus – caruru) e plantas (Senecio) - Macroscopia: rins com estriações brancas (calcificação distrófica) bem evidentes. Necrose NEFROTOXINAS Minerais: chumbo, mercúrio e arsênio *Em intoxicações: coletar grandes porções de fígado, rim, estômago e conteúdo estomacal, congelar e enviar para toxicologia. Medicamentos: aminoglicosídeos e afotericina B (causam lesão na membrana celular) e sulfas (tem-se acúmulo intratubular) Fitotoxinas: Amarathus (caruru) – causa edema perirenal severo INFLAMAÇÃO INFLAMAÇÃO Glomerulite Glomerulonefrite: geralmente imunomediada Nefrite Intersticial (comum em bovinos) - Nefrite embólica (endocardite) - Nefrite granulomatosa (tuberculose, circovírus, PIF, Aspergillus e Toxocara sp) - Nefrite linfocitária (doenças virais) - Nefrite crônica (com fibrose associada); *Gatos com PIF, particularmente a forma não efusiva (seca), geralmente apresenta nefrite piogranulomatosa multifocal, secundária à severa vasculite primária. GLOMERULITE Viral:- Exemplos: Hepatite canina infecciosa aguda, vírus da arterite equina, peste suína, doença de Newcastle aviário e citomegalovírus - Macroscopia: rins edemaciados, superfície capsular renal é lisa, os glomérulos são visíveis como pontos de coloração avermelhada na superfície de corte do córtex. GLOMERULITE Supurativa (nefrite embólica aguda): Resultado da bacteremia, na qual as bactérias se alojam no glomérulo e causam a formação de múltiplos focos de inflamação (microabscessos). - Exemplos: actinobacilose dos potros (Actinobacillus equuli), ovinos e caprinos infectados com Corynebacterium pseudotuberculosis e suínos com Erysipelothrix rhusiopathiae. - Macroscopia: múltiplos focos puntiformes, acastanhados, salientes na superfície GLOMERULITE -Imunomediada: por imunocomplexos (amiloidose) Microscopia: - Proliferativa: proliferação de células endoteliais, epiteliais e glomerulares com influxo de neutrófilos e outros leucócitos - Membranosa: espessamento difuso da membrana basal do capilar glomerular por causa da presença de depósito de imunoglobulinas - Membranosa-proliferativa: conjunto das duas anteriores; GLOMERUNEFRITE Imunomediada: Ocorre em associação com infecções persistentes ou outras doenças que caracteristicamente apresentam uma antigenemia prolongada, o que aumenta a formação de imunocomplexos solúveis. Exemplos: - Cães: hepatite infecciosa canina, hepatite crônica, doenças bacterianas crônicas e piometra - Gatos: vírus da leucemia felina, PIF, piometra, parasitismo crônico, doenças autoimunes (lúpus) - Eqüinos: anemia infecciosa eqüina e Streptococcus sp - Bovinos: diarréia viral bovina e tripanossomíase - Suínos: peste suína e peste suína africana GLOMERUNEFRITE Química: Substâncias químicas que induzem a lesão glomerular Exemplos: - Ciclosporina A - Soro hiperimune - Procainamida - Hidralazina. NEFRITE INTERSTICIAL Lesões no tecido intersticial do órgão Insuficiência renal pode ocorrer quando há no interstício renal infiltrado inflamatório moderado a intenso e fibrose visível macroscopicamente. NEFRITE INTERSTICIAL Aguda: é caracterizada pela presença de células inflamatórias (principalmente neutrófilos) no interstício e pode resultar da toxicose ou da infecção aguda por agentes como as leptospiras, adenovírus ou herpesvírus - Bactérias: Leptospira, E. coli, Corynebacterium - Vírus: vírus da febre catarral maligna, circovírus, PIF, adenovírus e herpesvírus Crônica: é uma entidade menos bem caracterizada em cães, mas a atrofia dos segmentos tubulares é um achado significativo nessa síndrome, juntamente com infiltrado mononuclear, fibrose medular e cortical. PATOLOGIA DA PELVE RENAL Pielite: Inflamação somente da pelve renal. Ex.: Corynebacterium renale Pielonefrite: Inflamação da pelve renal e do rim a partir das vias urinárias inferiores - Fêmeas são mais suscetíveis por possuírem uretras mais curta - Agentes (para todas as espécies): E. coli, Proteus sp, Klebsiella sp, Staphylococcus sp, Streptococcus e Pseudomonas aeruginosa - Bovinos e Suínos: Corynebacterium renale e Eubacterium suis. Macroscopia: inflamação da pelve que se estende ao parênquima renal. A pelve e os ureteres podem apresentar-se dilatados e com conteúdo purulento no interior. PATOLOGIA DA PELVE RENAL Hidronefrose: refere-se a dilatação da pelve renal por causa da obstrução do fluxo urinário e é principalmente causada por um aumento lento ou intermitente da pressão pélvica. - Causas mais comuns: bloqueio uretral devido à cálculos do trato urinário, inflamação crônica, neoplasias e distúrbios funcionais neurogênicos FIBROSE RENAL É a recomposição (cicatrização) do parênquima renal. Constitui-se no ponto final comum de todos os estágios de reparação Macroscopia: Rim com parênquima distorcido e aspecto pálido, irregular com depressões na superfície. Apresenta-se firme e com aderência à cápsula fibrosa. INSUFICIÊNCIA RENAL Alteração no volume de líquidos: causa desidratação e edema (túbulos não absorvem proteínas – causa hipoproteinemia sérica - sistêmica) Alteração no equilíbrio eletrolítico - Aumento de fosfato e potássio - Diminuição na absorção de Ca++ intestinal INSUFICIÊNCIA RENAL Acidose Metabólica: Rim não absorve bicarbonato de sódio Anemia: Rim não produz mais a eritropoetina (estimula a medula óssea a produzir hemácias) Aumento da creatinina e uréia (uremia ou azotemia) PARASITOS Dioctophyma renale (nematódeo vermelho e cilíndrico): causa pielite hemorrágica ou purulenta e destruição do parênquima renal. Migração de Toxocara sp NEOPLASIAS Adenocarcinoma renal Linfossarcoma TRATO URINÁRIO INFERIOR ANOMALIAS Raras Aplasia: não formação Hipoplasia: ureter tortuoso e com diâmetro menor (predispões a formação de cálculos e cistite) Ureteres ectópicos: em Husky siberiano Patência do Úraco: persistência do úraco, há liberação de urina pelo umbigo. UROLITÍASES Cálculos urinários (urólitos) são concreções formadas em qualquer parte do sistema coletor urinário. Os urólitos são mais frequentemente encontrados no ureter, depois qualquer local do trato urinário inferior e menos comum é na pelve renal. UROLITÍASES Fatores predisponentes: - Material precursor do cálculo, substância metabolizada incomum (ácido úrico em dálmatas) - Substâncias processadas anormalmente (defeitos hereditários – como ocorre com a xantina e cistina) - Concentrações anormalmente altas de uma substância da dieta (ácido silícico de pastagens, fosfato de sorgo ou cevada, magnésio em rações para felinos, oxalatos em plantas que acumulam oxalato) - Concentrações anormalmente baixas na dieta (vitamina A). UROLITÍASES Outros fatores menos importantes: pH urinário (oxalatos em pH ácido e estruvita e carbonato em pH alcalino), redução do consumo de água, infecção bacteriana, obstrução, anormalidades estruturais, corpos estranhos, fármacos (sulfonamidas e tetraciclinas) Sinais Clínicos: dificuldade de micção, disúria (dor), hematúria, poliúria ou anúria. *Machos são mais comumente afetados pela conformação e comprimento da uretra. CÁLCULOS Sílica: ruminantes em pastagens - São duros, esbranquiçados a marrom-escuros, radiopacos Estruvita: gatos com dietas ricas em Mg++ - É o hexa-hidrato de amônia e magnésio. São esbranquiçados a cinzas, lisos, de fácil fragmentação, normalmente únicos, grandes e crescem rápidos Oxalato: caninos com dietas pobres em Ca++ - Pesados, brancos à amarelados, solitários e a superfície é de aspecto espinhoso CÁLCULOS Urato: hereditário (dálmatas) - São múltiplos, duros, concetricamente laminados, marrom-esverdeados, esféricos Cistina: cães (dachshund) - São pequenos, irregulares, macios e friáveis, coloração de vermelho-marrom à amarelados, e se tornam esverdeados quando exposto à luz diurna *Ovinos: sílica, estruvita, oxalato e carbonato Síndrome Urinária Felina (SUF): A urolitíase felina, geralmente citada como Síndrome Urológica Felina, é uma patologia comum que ocorre com igual freqüência em gatos de ambos os sexos Um quadro característico dessa patologia é a tendência à formação de cálculos ao longo do trato urinário Os cálculos, geralmente ocorrem na bexiga e variam de tamanho desde partículas arenosas à pequenas pedras. Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUIF): Causas: Cistite idiopática Cristais de estruvita ou oxalato de cálcio, que podem obstruir a uretra (hemorragia) Urólitos Agentes infecciosos tais como vírus e bactérias. CISTITE Fatores predisponentes: retenção de urina na bexiga e presença de cálculos Porta de Entrada: - Via ascendente - Via descendente - Através do úraco persistente- Inflamação de tecidos vizinhos - Via hematógena CISTITE Aguda - Catarral - Hemorrágica - Fibrinosa Crônica: - Folicular: há proliferações linfóides na submucosa, nodulares e disseminadas, de forma que a mucosa apresenta um aspecto de pedras lisas - Normalmente ocorre em resposta à urolitíases crônicas NEOPLASIAS Bexiga: Carcinomas Leiomiomas (musculatura lisa) Fibroma *Hematúria Enzoótica: ingestão crônica de brotos de samambaia, causando hemoglobinúria intermitente, caquexia progressiva e múltiplos pontos vermelhos na bexiga.