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CAPÍTULO III A instituição Sumário. I. Não se pode confundir regime de estado com Estado. Um certo regime de Estado pode ser encontrado em toda a instituição política; há apenas algumas categorias de instituições que merecem a qualificação de Estados. Antes de abordar o estudo da estrutura particular do Estado e de seus equilíbrios especiais, convém observar os elementos gerais desta estrutura, pelo menos seus elementos jurídicos, que são: a instituição, o comércio jurídico e o contrato. Definição de instituição. Não se trata aqui de instituições da técnica jurídica, mas daquelas que são diretamente os elementos de organização social. Estas instituições podem ser de corpos ou de coisas. Os corpos possuem uma individualidade autônoma e vívida. Distinção de corpos políticos daquelas que não o são. Relação entre instituições incorporadas e situações estabelecidas. Definição jurídica de instituição incorporada. II. O nascimento das regras jurídicas no seio de uma instituição incorporada, direito disciplinar e o direito estatutário. O direito disciplinar exprime a coação do poder de dominação da instituição incorporada se exercendo sobre a forma de uma ação direta. Ela não é apenas repressiva, mas também orgânica. Ela não contém apenas regras gerais por seu objeto, mas também atos jurídicos, particulares por seu objeto, que são regulamentares por sua sanção no sentido de que se opõem a todos. Exemplo de decisões administrativas. O direito disciplinar é sancionado pela coercitio direta e não pelo intermediário da obrigação delitual. Relações de direito disciplinar e de direito público do Estado. O direito público do Estado se diferencia do direito disciplinar no sentido de que ele não é sancionado de forma direta, mas sim por um intermediário interposto, o juiz. III. O direito estatutário exprime a coação da instituição incorporada se exercendo sob a forma de procedimento da vida corporativa aos quais os indivíduos aderem: 1ª teoria das operações procedimentalizadas e da adesão ao fato (gesammtakt e Vereinbarung); 2° aplicação sob forma de regra costumeira ou sob forma de uma operação deliberativa IV. Um organismo social interpretado como uma instituição, abarcando, ele mesmo, situações estabelecidas, assemelha-se a uma coisa. Falsidade das teorias que reduzem o direito real a um direito obrigacional de criação. O fundo da coesão social não se analisa por relações jurídicas, mas por estados de coisas que se traduzem por direitos oponíveis. Explicação da organização jurídica das corporações por uma combinação de coisas e de status reais. O estado como um conjunto de coisas e como uma fundação. Não se pode confundir regime de estado com Estado. Um certo regime de Estado pode ser encontrado em toda a instituição política; há apenas algumas categorias de instituições que merecem a qualificação de Estados. Antes de abordar o estudo da estrutura particular do Estado e de seus equilíbrios especiais, convém observar os elementos gerais desta estrutura, pelo menos seus elementos jurídicos, que são: a instituição, o comércio jurídico e o contrato. I Instituição como acepção jurídica. Há que se definir o sentido que atribuímos à palavra instituição, porque na linguagem jurídica há várias acepções. Em uma primeira acepção, ela significa toda organização criada pelo costume ou pela lei positiva, seja ele um simples expediente da técnica jurídico, assim, por exemplo, no sentido de uma ação possessória, ou uma ação reivindicatória, ou ainda, o recurso por excesso de poder, são todos eles instituições. No entanto, não ficaremos com esta primeira acepção, por mais importante que ela seja, buscaremos instituições que sejam elementos de organização social, e não apenas meios da técnica jurídica. Instituição: corpos e coisas. Há aqui, então, duas espécies, instituições sociais que formam corpos, e que se orientam rumo a uma individualidade vívida e a uma personalidade jurídica, e ainda aquelas que, ao contrário, são uma categoria de coisas inertes. Ambas possuem em comum o fato de que possuem uma certa individualidade social. Uma associação criada para um propósito determinado e que funciona possui uma individualidade; um campo indicado no plano cadastral sob um certo número também possui uma. A reforçar o argumento, tanto o campo quanto a corporação são indicados por um nome, uma etiqueta, um sinal social qualquer. A associação de chama Liga Automobilista da França , e o campo se chama nº 355, da Seção C, da comunidade X. A diferença reside na autonomia ou na ausência de autonomia para o cumprimento d função social. Os corpos possuem uma autonomia de perseguir, eles próprios, a finalidade e de preencher, eles mesmos, suas funções, o que fazem deles individualidade vívidas, ao passo que as coisas não possuem autonomia, pelo menos no que se refere a preencher uma função social. Um campo produz espontaneamente colheitas, mas elas não são apropriadas diretamente pela vida social. Para que esta adaptação de produza é necessária a intervenção de uma vontade exterior, a vontade do senhor. A matéria da administração pública e dos serviços públicos nos fornece exemplos de organização, bem pouco distantes um dos outros, que devem ser repartidos na categoria de corpos ou estabelecimento, ou naquela e coisas, conforme este critério. Assim, na administração departamental, o conselho geral ou a comissão departamental são instituições da categoria de corpos, vez que elas cumprem sua função administrativa com autonomia; o serviço vicinal é uma instituição da categoria de coisas, vez que ele não possui qualquer autonomia para o cumprimento de sua função. Não eliminamos aqui as instituições que são da categoria de coisas, porque elas são muito importantes para o estudo do direito; apenas lhe conferiremos um lugar de menor importância frente à categoria de corpos, para as quais, elas, em última análise, verdadeiramente existem. Instituições políticas. Chamamos de instituições políticas todos os corpos que pretendem exercer sobre os membros de um grupo ou sobre os habitantes de um país, uma influência total, e que se apresenta assim com uma competência universal. Todas as instituições primitivas, o clã, a tribo, foram, neste sentido, políticas; a maior parte das instituições modernas não o são, no sentido de que elas exigem de seus membros uma atividade restrita a um propósito mais delimitado e específico. Os departamentos, as comunas, os conselhos gerais e municipais, as câmaras legislativas, são exemplos de instituições que formam corpos, mas não políticas, no sentido que acabamos de precisar; o clã, a tribo patriarcal a comuna da idade média, a baronia medieval, o Estado, são todos eles instituições políticas. Relação com as « situações estabelecidas » ou com as « situações jurídicas ». Assim compreendidas, a instituição social está em relação com as « situações estabelecidas » ou as « situações jurídicas » que estudamos no capítulo precedente. A relação consiste em que uma instituição contém uma ou mais situações estabelecidas: ela contém necessariamente, pois ela não seria uma instituição e não se distinguiria de uma organização social de fato salvo sob a condição de ter engendrado dentro dela mesma uma situação estabelecida orientada rumo ao direito, que exprime o conjunto d e seu ser. Instituição vs. situação estabelecida. Distinção. Elemento adicional: equilíbrio de poderes. O que há, em uma instituição social, para além de uma situação estabelecida, é o fato de ser um grupo de homens organizado e equilibrado. Este elemento não é necessariamente dado por uma situação estabelecida, que pode não interessar que ao seu proprietário ou um ocupante isolado. Ele é necessariamente dado pelo conceito de instituição, e ele se traduz por um equilíbrio especial, que vem a se ajuntar ao equilíbrio que é constitutivo da situação estabelecida. Sabemos que em toda a situação estabelecida há um equilíbrio entreo poder de dominação e o estado de coisas dominado; em uma instituição, há um equilíbrio interior adicional, entre os poderes, a dizer, uma separação de poderes. Separação de poderes. A separação dos poderes é o elemento característico de toda a instituição da categoria de corpos, corporações, assembleias, associações e mesmo estabelecimentos, é a característica que podemos chamar de incorporação. Definição de instituição. Definiremos então uma instituição incorporada da maneira seguinte: uma organização social, em relação com a ordem geral das coisas, cuja permanência individual é assegurada pelo equilíbrio interno de uma separa ção de poderes, e que realizou em seu interior uma situação jurídica. 1º Organização social – coletividade de indivíduos. Uma instituição é uma organização social, isto é, uma organização feita de uma coletividade de in divíduos. Ao mesmo tempo, esta organização deve ter, ela mesma, uma individualidade suficientemente forte para ser conhecida e nomeada. Por este duplo fato, que ela interessa a uma coletividade, e que ela possui uma existência própria devida a sua organização, ele ultrapassa o indivíduo humano. Ela subsiste a mutações que podem ocorrer em seu pessoal. Isto lhe confere uma realidade social, uma instituição é a verdadeira realidade social separável dos indivíduos. Pode ocorrer que a instituição seja única no mundo: há uma única união postal internacional, há um única organização internacional do trabalho; o mais comum é existir exemplares multiplicados de uma mesma organização, de tal forma que a instituição (concreta) se reporta a uma categoria de organizações. Esta instituição pode ser encontrada de forma concreta em cada um dos seus exemplares, mas também, de forma abstrata, no tipo comum a todas as organizações. O próprio Estado é assim: vários Estados concretos, um modelo abstrato de Estado. 2º Relação com a ordem geral das coisas. Uma instituição é uma organização social estabelecida em relação com a ordem geral das coisas Existe um conjunto de organizações sociais e de relações sociais onde todas as partes são ligadas. Em verdade, existem grandes conjuntos de organizações, e que se relacionam um com o outro. Há uma ordem geral de coisas no direito internacional, a dizer, um grupo de Estados civilizados que adotam entre eles um modus vivendi. Há uma ordem geral de coisas nas relações da vida mundana, a dizer, uma certa hierarquia de círculos sociais diferentes, com uma certa maneira de se conduzir em cada um destes círculos, um face ao outro. Há uma ordem geral das coisas na estrutura da política de uma nação, na sua estrutura econômica, etc. Uma organização social dada não faz jus ao título de instituição social se não possuir relações regulares com o vasto conjunto (de organizações) pré-existente. Há aqui um fenômeno de reconhecimento, que por ser muito frequentemente implícito, não é por isto menos necessário. Nas relações internacionais o reconhecimento é formal e explícito. Um novo Estado faz parte da sociedade internacional apenas quando admitido pelos outros Estados, e se relações regulares foram com ele estabelecidos pela via diplomática. A mesma coisa para um governo novo que surge dentro de um Estado, após uma revolução qualquer. Nas relações mundanas, as relações detém grande relevância; fazemos parte do mundo quando possuímos estas relações, estamos excluídos do mundo quando não as temos. O mesmo ocorre na sociedade política, com as relações que se estabelecem entre as organizações e o Estado/Governo. Ou mesmo na sociedade econômica, e no mundo dos negócios (o crédito exige uma teia de relações com o sistema bancário). Uma organização que não tenha esteja em relação com o conjunto de coisas existentes, ou bem é ignorada, quer seja ou não propositadamente secreta, é como se não existisse, ou bem é considerada como antissocial, e com este qualificativo ela deixará de ser uma instituição, porque uma instituição é por definição uma coisa social. Há aqui apenas que se ter o cuidado e aplicar com discernimento esta exclusão de organizações antissociais, distinguindo aquelas que ferem os princípios elementares da moral comum daquelas que ferem simplesmente ideias pré-concebidas. Uma associação de malfeitores não saberá nunca tornar -se uma instituição. Para as organizações religiosas, filosóficas ou políticas, convém ser prudentes. Uma organização que no seu início parecia antissocial, pode, com o tempo, tornar-se muito social e se colocar em relação com o conjunto de coisas, se ao seu redor, as coisas se alteraram. Exemplo: igreja cristã. Esta exigência de relações com o conjunto das coisas existentes esconde, no fundo, uma condição de equilíbrio, Para ser uma organização, uma instituição deve ter encontrado o seu ponto de equilíbrio com o mundo exterior. A este equilíbrio externo deve corresponder, por sua vez, como veremos, um equilíbrio interno. 3° Permanência e equilíbrio. Uma instituição é uma organização social cuja permanência é assegurada por um equilíbrio de forças interno. Este e lemento da definição é exemplo, ele se decompõe na ideia de permanência, e na ideia de equilíbrio de forças, sendo ambas de importância capital e, além disto, interconectadas: a) Permanência. Uma organização não pode aspirar à dignidade de uma instituição se não se mostrar durável e permanente, isto é, se ela não se perpetuar com um movimento uniforme. A sociedade que, como o indivíduo, possui a vontade enérgica de durar, leva em consideração, quando se trata de organizações, apenas as que tem chances de durar. As situações duráveis constituem o fundo (material) da psicologia social, da mesma forma que os estados de espírito duráveis são o pano de fundo (material) da psicologia individual. Como v isto, a permanência é essencial para transformar estado de fato em estados de direito; bem entendido, a duração de uma instituição não é a perenidade absoluta, mas é bom que ela se apresente como superior a de uma geração humana. Uma obra que, ainda que b em organizada, não parece que irá sobreviver a figura de seu fundador, não será uma instituição. Reconhece-se no elemento de duração que uma instituição é uma coisa social, que, portanto, separa-se do indivíduo e a ele sobrevive. A permanência de uma intuição não é, de forma alguma, a imobilidade absoluta, mas a permanência em seus trações fundamentais. Exemplo: i) modificações realizadas em sociedades comerciais; ii) evolução na legislação do Estado. b) Equilíbrio de forças. A instituição é mantida em seu movimento uniforme por um equilíbrio de forças internas. Estas forças apresentam características que devem ser sublinhadas: α) Forças coletivas e forças individuais. Elas são coletivas ou individuais. São coletivas, por exemplo: um governo, um partido político; mas toda instituição deve contar também com forças individuais. Os indivíduos coletivizam os seus esforços apenas uma certa medida. Eles conservam em sua consciência um domínio reservado que lhes permite sempre adesões individuais. As instituiçõe s mais bem estabelecidas são aquelas que obtém estas adesões diretas. A medida que as instituições se enraízam eles admitem relações mais imediatas com os indivíduos e disto tiram proveito ao contar com seus interesses e suas vontades. β) Forças materiais, ideais e morais. Estas forças individuais ou coletivas são de espécies bem diferentes. São elas materiais, ideais e morais. Na base de uma instituição há com frequência forças brutais, desejos, interesses prementes e apetites, vontades apaixonadas. Há também ideias refletidas que se desprendem, ainda que breve tenha sido a duração (vida) de uma instituição, pois, após a fase de criação brutal, na suposição de que ela tenha existido, sucede uma fase de reflexão. As ideias refletidas são elementos bastante relevantes: primeiro, sem elas, com frequência o equilíbrio necessário para a manutenção da instituição não seria obtido,pois ele não é alcançado senão por artifícios engenhosos persistentemente buscados e penosamente encontrados; a ideia refletida corrige a instituição na medida em que é necessária para colocá-la em harmonia com o conjunto das coisas, tal como o concebe nossa razão, fazendo esta última com que ela entre na categoria do racional. Por fim, em um instituição, ou em torno dela, desenvolvem-se sentimentos morais, princípios de conduta que não são nem puramente arbitrários, nem puramente racionais, mas que são inspirados por um certo ideal de conveniência, especialmente por um ideal de justiça. Apenas quando estes senti mentos morais são criados que a instituição ingressa nos costumes, o que lhe garante uma solidez máxima. É assim, por exemplo, em um país, a forma de governo não está verdadeiramente assentada senão quando, junto aos súditos, os sentimentos morais de leald ade se somam à consciência de legalidade do regime. Pode acontecer que, desde seu nascimento, uma instituição já seja contemplada pelo concurso destas três espécies de forças, materiais, ideias e morais, mas pode igualmente ocorrer que uma organização de fato se crie pelo só efeito de forças materiais; se esta organização dura, veremos pouco a pouco que as forças materiais se equilibrarão com as forças ideias e, posteriormente, com as morais, ou seja, que progressivamente a organização de fato se transform a em uma instituição. γ) Síntese prática à base de um poder. O equilíbrio de forças presente em uma instituição não é aquele que visualizamos em uma balança cujos pratos oscilam sobre pesos iguais; ao contrário, é aquele dos organismos vivos, cujas energias são preservadas em seu estado de combinação pela supremacia de um delas. Em outros termos, o equilíbrio de uma instituição é uma síntese prática à base de poder. Uma das forças presentes domina as outras, seu poder é moderado pela resistência destas, entretanto, ele determina a estrutura e a direção do conjunto. Exemplo: em uma assembleia deliberativa, a maioria domina a minoria, ainda que seu poder seja limitado pela resistência desta última; a dominação pela maioria é o que garante a coesão da assembleia e que impede a dispersão das partes, a anarquia das opiniões individuais. A dominação necessária de uma força pelas outras é, em uma instituição nacional, a raiz da soberania, seja do governo, seja da nação. Para que uma nação constitua um corpo político é necessário que de todas as forças que ela contém, uma emerja com vigor suficiente para dominar soberanamente todas as outras e constituir assim o fecho da abóbada do edifício. Mas o poder de dominação tem a necessidade de se moderar e de se equilibrar por uma separação dos poderes. Nós já sublinhamos que a separação dos poderes era o signo exterior das instituições; ela está na base das constituições políticas e que as constituições são elas mesmas o sinal de que a organização política foi « institucionalizada ». A separação dos poderes se encontra, por sua vez, nas instituições que não são políticas, as associações e corporações possuem sempre vários órgãos que distribuem os poderes, o conselho de administração, o presidente, a assembleia geral. Apesar da moderação que decorre do equilíbrio pela separação dos poderes, o poder de dominação implica em todos os sistemas um estado de coação que se faz sentir, e que repercute sobre todos os indivíduos do grupo. Neste sentido, toda instituição é coercitiva e disciplinar, não somente o Estado nacional com sua polícia, suas leis e regulamentos, mas a menor associação, a menor associação de seguro mútuo, com as penalidades de seu estatuto e a necessidade se sofrer em uma certa medida as decisões de seu órgão dirigente. δ) Aceitação (o que não significa concordância) das forças dominadas. Não há, em uma instituição, apenas a dominação de uma das forças sobre as outras, há a aceitação desta dominação pelas outras forças. Nós já havíamos indicado o gérmen desta proposição, ao sublinhar que entre as forças em equilíbrio há ideias conscientes e refletidas, e são elas que determinam a aceitação na medida necessária. « O homem é um caniço pensante », já disse Pascal. A medida na qual a dominação é aceita é a necessária para que a instituição funcione. Assim, por exemplo, em uma assembleia deliberativa, a minoria ainda que frequentemente vencida nos votos, continua, entretanto, a reunir-se e a tomar parte nos trabalhos, contribuindo para a formação do quorum. Não se deve, com isto, analisar a aceitação pelas forças subordinadas como uma consentimento aos atos de força dominante, pois, ao contrário, pode aqui haver resistência aos autos, mas como um consentimento à manutenção da instituição, malgrado os atos de seus órgãos dirigentes. ε) Paz social. Da aceitação da instituição pelas forças dominadas, bem como da permanência da situação assegurada pelo equilíbrio de forças resulta, entre todos os indivíduos englobados, um estado de paz social que favorece à criação de situações estabelecidas e que contribui para a transformação dos estados de fato em estados de direito, tal qual havíamos analisado no capítulo precedente. II Instituição como berço do nascimento de regras de direito. A instituição não se limita a favorecer a criação de situações jurídica s, ela é uma « figura jurídica »porque será nela que a regra de direito surgirá. E isto se deve a que a instituição, sendo um agrupamento de homens, é necessário, para a manutenção das situações estabelecidas neste agrupamento, que uma certa conduta de gru po seja observada para todos estes homens; para obter esta conduta são necessárias regras de conduta, criadas no interior da instituição com o concurso do poder de dominação, senão exclusivamente por ele. Isto vale tanto para a instituição nacional, quando, ainda que em menor grau, para as demais instituições. As regras jurídicas nacionais não são necessariamente territoriais: o caráter territorial deflui de um equilíbrio especial do regime de Estado, mas não é intrínseco à instituição política ( exemplos: época da invasão bárbara, e estatutos pessoais, referentes à pessoalidade das lei). Duas espécies de direitos institucionais: disciplinar e estatutário. É necessário de definir duas espécies de direito de origem institucional, o direito disciplinar e o direito estatutário. Toda instituição social corporificada subsiste apenas pelo equilíbrio de forças, onde uma domina as outras, e ela comporta, assim, uma restrição aos seus membros, em parte importa, em parte aceita. Isto se traduz em um disciplina interior para todos os membros do grupo. Disciplina: ponto de vista do grupo vs. ponto de vista do indivíduo. Esta disciplina pode ser vista quer sob o ponto de vista do grupo, quer sob o ponto de vista do indivíduo. Do ponto de vista do grupo, ela é um poder necessário para a coesão e saúde da instituição. Do ponto de vista do indivíduo, ela é um poder contra o qual são exigidas garantias e que há a necessidade de uma certa definição quer dos objetivos gerais da instituição, quer das linhas gerais da sua organização. O direito disciplinar , que representa o interesse do grupo, expresso pela coerção do poder de dominação, e o direito estatutário, que representa o interesse do grupo, expresso pela adesão individual dos membros aos procedimentos coletivos da vida corporativa, atuam uma como contraponto do outro e este equilíbrio de regras de direito é um elemento do equilíbrio total de forças que sustenta a instituição. O direito disciplinar é constituído pelo conjunto de atos jurídicos e normas jurídicas emanados da autoridade social instituída que tem por objeto, seja (1º) impor ao indivíduo medidas, (2º) seja criar situações oponíveis, seja reprimir as violações de conduta, isto no interesse da instituição e por meio da força de coerção de que ela dispõe. 1º Correlação do direito disciplinar com a adesão aos procedimentos coletivos da vida corporativa (com a aceitaçãodas organizações internas). Ordinariamente o poder disciplinar é enxergado de forma restrita, como o conjunto de meios de repressão que possui uma administração sobre os seus próprios agente, que repousam sobre o seu poder de exonerá-los. Mas ele é bem mais rico. Ele é orgânico. A força de uma instituição não repousa somente sobre a capacidade de excluir, em razão de sua conduta, os membros que mereceriam ser expulsos, ela também se exerce, sobre todos os seus membros, para forçá -los a aceitar as organizações criadas em seu interior. 2º Correlação do direito disciplinar com a teoria geral dos atos administrativos. Oponibilidade a todos, mesmo d e atos concretos. O direito disciplinar compreende não apenas regras gerais, por seu objeto, como também atos jurídicos, que podem ser particulares por seu objeto, mas que apresentam esta característica de serem oponíveis a todos, e por consequência, regulamentares do ponto de vista da sanção. Toda decisão executória de uma autoridade produz um efeito de direito e é, portanto, criadora de direito em uma certa medida. Se ela não estabelece uma regra geral oponível, ela tende, quando menos, a estabelec er uma situação jurídica em face de todos, por exemplo, o ato de nomeação ou exoneração de uma funcionário público que conceda ou revogue sua competência de uma maneira oponível a todos. Disto segue que a teoria dos atos administrativos ou das decisões executórias é um capítulo do direito disciplinar. 3º Distinção entre direito disciplinar e direito legal. A sanção da lei disciplinar é a coercitio pura e simples, ou seja, a execução pela força colocada à disposição do magistrado. Neste sentido, o direito disciplinar comporta vias de execução, mas do que penalidades. O poder disciplinar apoia-se na força que a instituição tem consciência de possuir para fazer justiça ela própria; ele se torna uma autoridade legítima e engendra um direito pelo acordo deste poder próprio com a situação geral estabelecida em uma instituição, e também pelo fato de que este poder disciplinar é realizado com disciplina, com medida, por um poder que é ele mesmo equilibrado. Além disto, não há, para o indivíduo exposto ao efeito do poder disciplinar, uma obrigação pré-estabelecida se o suportar, pelo menos não há uma obrigação jurídica, há apenas um dever moral ou profissional; o poder disciplinar se apresenta como uma força à qual ou se obedece ou se resiste, por conta e risco. A obrigação pré-estabelecida de obedecer existe no direito legal, porque a lei é concebida de tal sorte que supõe o consentimento por parte de todos os súditos do Estado com sua aplicação. Mas não há nada disto no direito disciplinar; ele se impõe ainda que não consentido e ele impõe sob a forma de um fato. Disto segue que as infrações às regras disciplinares pertencem à categoria das contravenções e não as dos delitos; que elas não provocam, a princípio, o direito de reparação pecuniária; e que elas não mais colocam a questão da intenção deliberadamente má. Por esta mesma razão, de não ter de ser aceita pelo sujeito, a regra disciplinar repressiva não precisa ser formulada como uma regra legal; ela é quase sempre implícita e ele deve ser tão sentida quanto idealizada pelo interessado, a falta disciplinar não exige uma determinação completa. A repressão disciplinar engloba de uma forma larga todos os fatos que atentem contra a honra do corpo ou da boa reputação de uma instituição. Por resta indeterminação fundamental, o direito disciplinar se coloca em uma categoria bem a parte, bem diferente daquela a que pertence o direito público do Estado, a qual, ao contrário, é bem determinada, e por isto mesmo, ela é tanto uma moral jurídica quanto um direito propriamente dito. O direito disciplinar é suscetível de tomar as formas as mais diversas: decisões de jurisdição variadas, mas também medias de polícia. O direito disciplinar é colocado ao lado do direito público do Estado, sem que seja no entanto, incorporado. Em uma larga medida, ele vale pela sanção que as instituições podem elas mesmas aplicar. É por isto que os regramentos das assembleias deliberativas, não são sancionados de uma forma pública, salvo pontos particulares, e por raras disposições legais; a sanção normal é a expulsão da sala de reuniões ou a suspensão da sessão. Todos os estatutos das associações redigidas de uma forma prudente reservam a um órgão qualquer o direito de operar a exclusão dos membros que não se conformam à disciplina da instituição. De resto, a expulsão para fora do grupo é a sanção primitiva e natural da disciplina social. Na hierarquia administrativa ela se apresenta de forma clara sob a figura da demissão de funcionários. Na área política (ministros e parlamento), a sanção dos conflitos é completamente política, o mais fraco cede politicamente, pede demissão ou se submete. Por ser sancionado por uma coercitio, isto é, pela ação direta, que o direito disciplinar se separa do direito público do Estado, pois é característico deste último não admitir a imposição de uma sanção que pela intermediação da pessoa de um juiz público, isto é, de um juiz que possa ser considerado com o um terceiro, interposto entre o delinquente e a instituição nacional. Por vezes, o direito público anexa áreas inteiras do direito disciplinar. Exemplo do autor: recurso por excesso de poder. Transformação de um expediente, na origem, precipuamente hierárquico e disciplinar, em um mecanismo de jurisdição pública contra as decisões do Estado. Por vezes, a anexação se deu de forma a recobrir tão completamente as formações jurídicas disciplinares, que somente com muito esforço pode-se visualizá-las. Exemplo do autor: repressão penal. III Direito estatutário. A instituição cria o direito estatutário tão naturalmente quando o direito disciplinar. O direito estatutário comporta regras jurídicas, mas também atos de que estas regras procedem. Os atos estatutário s, ou melhor, os procedimentos estatutários são realmente os elementos mais interessantes . Os procedimentos estão ligados à vida da instituição, eles são os caminhos que ela segue em seu movimento uniforme. Pela força das coisas, todos os membros da instituição são chamados em um momento ou outro a participar destes procedimentos. Eles participam com uma certa forma de consentimento ou de assentimento mais ou menos livre, cuja liberdade se mede pelo interesse que eles tem de permanecer na instituição, ao invés de emigrar para fora dela. Procedimento majoritário. Os procedimentos estatutários geram um direito muito diferente do disciplinar, eles admitem o ponto de vista individualista dos membros do grupo, combinado com as necessidades sociais. O ponto culminante natural dos procedimentos estatutários é o procedimento majoritário, que busca extrair o assentimento de todos os membros do grupo de uma forma determinada, por um procedimento ligado à vida mesma da instituição, mas que por uma necessidade social de ter uma conclusão em tempo hábil, contenta -se com o assentimento imediato da maioria, contando, em verdade, que a minoria não emigrará para fora da instituição e dará o seu assentimento, após a decisão, a aceitando como um fato ocorrido. Natureza não contratual. Os procedimentos estatutários possuem uma importância prática considerável. Sia importância teórica não é menor, porque eles fornecem a explicação do valor jurídico de atos que não classificáveis como contratos, e que repousam sobre o fenômeno do consentimento. Eles aparecem com grande frequência no direito público, e foram chamados pela doutrina de atos complexos (em alemão Gesammtakt, Vereinbarungen). Exemplos de atos complexos. I. Os atos que a doutrina classifica como complexos são : as fundações de sociedades, de associações, de corporações, e o estatuto que acompanha a estas fundações ; as decisões colegiadas, por exemplo, os acórdãos dos tribunais constituídos de vários membros ; as decisõesdos corpos deliberativos, mesmo quando elas são tomadas por unanimidade, e com mais forte razão, quando elas são tomadas por maioria ; as decisões do corpo eleitoral, o exercício em comum do poder legislativo pelas duas câmaras (Senado e Câmara dos Deputados), etc. Em todas estas hipóteses, pode-se observar que os atos ou decisões são acompanhados de um procedimento. Isto atrai nossa atenção para os procedimentos em geral: para os procedimentos contenciosos; procedimentos administrativos; procedimentos diplomáticos. Procedimentos sociais ou operações procedimentalizadas. Adesão ao fato. Finalmente nossa atenção se fixa sobre os procedimentos sociais, ou sobre as operações procedimentalizadas, e sobre os fenômenos especiais de consentiment o que aqui se produzem, fenômenos que nós caracterizaremos como s endo de assentimento, mas que de consentimento, de adesão a um fato, mas que de um consentimento dado a estes atos. Definiremos, então, o que nós entendemos por adesão ao fato, e explicaremos como a adesão ao fato pode, no entanto, ser reconduzida ao ato jurídico, pelo artifício das operações procedimentalizadas. Ato vs. fato. Vontade atual e vontade pretérita. Muito valor se dá à vontade dos homens, e pode-se dizer, a sua vontade instantânea, atual. Na ordem jurídica, o contrato, que é por essência o ato jurídico, ganhou uma tal preponderância, que perdemos um pouco de vista a soberania do fato. Ela subsiste, no entanto. Se bem refletirmos, veremos que os atos dos homens se tornam rapidamente fatos históricos, e que por consequência, o fato espreita o ato como a morte espreita a vida. Fatos jurídicos e atos jurídicos. O direito conhece os fatos e atos jurídicos. Os fatos jurídicos são os eventos que fazem nascer o direito, que os transferem, que os modificam ou que os extinguem. Os atos jurídicos são uma c ategoria destes fatos jurídicos. São os fatos jurídicos voluntários. Como consequência, o ato jurídico propriamente dito é, por oposição, um fato involuntário. Esta classificação e estas definições parecem duplamente inexatas. De uma parte, não é exato que os fatos jurídicos sejam eles todos involuntários; há aqueles que foram voluntários, e que contém, por assim dizer, uma vontade congelada, mas ainda subsistente. Mudança do critério de classificação. Temporalidade. De outra parte, o ato jurídico não possui sempre o caráter de uma manifestação de vontade subjetiva; nem sempre será possível ligá-lo a um sujeito. Nada impede que existem atos jurídicos de origem social e coletiva, e que não podem ser reconduzidos a uma personalidade jurídica. Tal distinção fundou-se exageradamente sobre o elemento da vontade subjetiva e negligenciou outros elementos de importância capital, tais como o elemento da atualidade, a oposição entre o que ocorre no presente e o que é passado, entre o que é atual e o que não é mais. Novos conceitos. Definiremos, então, que por ato jurídico se entenda uma ação em via de se concluir, que tende a um resultado jurídico; que esta ação seja uma decisão individual ou uma cerimônia social, pouco importa, desde que ele tenda a produzir um resultado jurídico e que esteja em vias de ser concluído . E colocaremos na categoria dos fatos jurídicos, não apenas os fatos involuntários, mas ainda as ações voluntárias que não estão mais em via de execução, porque já se encerraram e foram executadas. Diremos voluntário, nos colocando unicamente sob o ponta de vista da duração: o fato jurídico é o que já ocorreu, voluntária ou involuntariamente; o ato jurídico é que está a ocorrer, mas ainda não ocorreu, aquilo que ainda está em ato. Fato de consentimento. Quando definimos o pacto estatutário como a adesão a um fato, não há dúvida de que o fato ao qual o consentimento adere atualmente foi em outro tempo ele próprio um ato voluntário, e que que caiu, por uma espécie de degradação, na categoria dos fatos, sem impedir que continue a produzir efeitos jurídicos. É necessário, então, estabelecer que não há somente « atos de consentimento », que existem também « fatos de consentimento », e que um ato de consentimento pode ser tornar um fato de consentimento. É necessário então que a noção de ato jurídico seja reduzida, de forma a não ocupar todo o domínio da manifestação de vontade, e que um limite separativo seja colocado entre a manifestação de vontade atual e aquela que não é mais atual, e possui apenas o valor de um fato. Mas, de outra banda, se admitimos que uma manifestação de vontade atual possa aderir a uma manifestação de vontade passada, que nada mais é que um fato, e se desejamos produzir um efeito jurídico especial a esta aglutinação de um ato a um fato de consentimento, por ser, então, um necessidade do espírito humano, restabeleceremos, então, esta operação complexa, que não é, ela mesma, nada além de um ato jurídico global, de uma espécie toda diferente de manifestação de vontade subjetiva. Mostra-se, com isto necessário elastecer a noção de ato jurídico, a fim de abarcar os atos complexos ou operações procedimentalizadas. A. Decisão executória. Exemplo do autor da aplicabilidade da teoria , apontando a questão da decisão executória. A decisão executória só existe enquanto ato, ela é executória apenas quando se encontra em via de ser executa, já externalizada por seu autor (autoridade administrativa), mas ainda não levada a efeito. Se o ato jurídico se confunde com a decisão executó ria, logicamente, após a execução não há mais um ato jurídico; não há nada além do resíduo de um ato, um fato jurídico. Formas de impugnação. No bimestre que sucede ao ato, pela via do recurso por excesso de poder, o ato ainda se encontra ligado ao seu a utor e os vícios que são imputados ao ato resultam apenas do excesso de poder cometido por este; após, somente pela via contenciosa ordinária, e o ato executório é tratado como um fato. O contencioso administrativo marca assim de forma bastante clara a di stinção das duas fases pelas quais passa uma mesma decisão, a fase onde ela é executória e é tratada como um ato, e a fase onde ela foi executada, ou considerada como tal, e portanto, é tratada como um fato jurídico. Exceções. O autor relata exceções no controle: mesmo executada, no bimestre posterior a sua publicação, a decisão não perderia o seu caráter de ato, e como tal, ensejaria ainda o recurso por excesso de poder; mesmo após transcorrido o prazo, na via judicial, abrir -se-ia a possibilidade de discussão da decisão enquanto ato, mas a eficácia seria inter partes. Conversão de ato a fato. Instante. a) Recurso por excesso de poder. O contencioso administrativo trabalha por meio de prazos e expirações de prazos e por presunções, vez que ele necessita de meios de constatação bastante simples. b) Formação do pacto estatutário. Deverá ser determinada pela própria execução; c) Legislação ou decisões administrativas complexas . Frequentemente, a força executória de uma decisão fará avançar de apenas um passo a marcha do procedimento, determinando ao agente público da execução a transmitir a questão para outra autoridade administrativa. Exemplo disto é a confecção de leis em um r egime parlamentar: aprovação por cada uma das Câmaras (Senado e Câmara dos Dep.) e após sanção pelo Presidente. Não se trata aqui de três atos de consentimento concorrentes. A vontade manifestada pelo órgão anterior é recebida pelo órgão posterior como se tratasse de um mero fato, um fato de consentimento, com o qual o órgão seguinte assentirá, aglutinando a sua manifestação à anterior. B. Cadeia de consentimentos. Ato complexo. A uma fato de consentimento, pode vir se justapor um outro consentimento, formando uma verdadeira cadeia de fatos de consentimento aos serão apostos outros consentimentos. Entretanto, é necessário que a cadeia de consentimentos encontre um fim. É necessário que esta cadeia de consentimentos seja, ao final, referida (e reduzida) a u m ato por uma cerimônia social, por umprocedimento, por um liame externo qualquer. É a teoria do ato complexo. Forma executória e decisão de fundo. A decisão não será mais que um fato de consentimento, ela passará à categoria de ato que pela fórmula execu tória e somente na medida e concordância com esta fórmula executória. A fórmula executória determina a sequência de consentimentos que deverão ser apostos, uns aos outros, para que, ao final, esta sequência de fatos de consentimento se transmute em um ato. Ela não se contamina com a decisão de fundo e nem sequer se conecta a um fenômeno de consentimento subjetivo. Ela se conecta a uma cerimônia, a um procedimento ou a uma circunstância puramente objetiva. Teoria dos atos formais do direito romano. Ela é tributária da teoria dos atos solenes, do direito formalista, esquecida nos dias atuais. O autor na sequência passa em revista às formalidades do direito civil romano, e da necessária obediência das fórmulas para a obtenção da validade do ato jurídico. Sempre havia uma manifestação de vontade que se ligada à datio, à stipulatio, à expensilatio, mas a força executória, e por consequente, a qualidade de ato, era comunicada a esta manifestação de vontade apenas pelo cumprimento da formalidade. Esta formalidade era referida pelos comentadores do direito romano com a expressão causa civilis. Havia sérias restrições à aposição de pactos adjuntos (vontades estranhas ao ato originário, mas que a ele aderiam), quer ex intervallo, quer ex continenti (esta última mais aceita). Tal se dava pelo caráter atômico dos procedimentos romanos. Mas a formalidade solene pode se mostrar mais elástica, a cerimônia pode se estender a ponto de se tornar , ela própria, um procedimento, se decompondo em fases sucessivas, sem, no entanto, perder a característica de se apresentar como um efeito jurídico único. Ato complexo. Graças à dissociação operada entre fórmula executória e conteúdo e graças à elasticidade da fórmula executória que se torna um procedimento passamos de uma espécie de ato jurídico (ato simples) a outra (ato complexo). Da decisão executória (exemplo típico de ato simples), em que tudo se refere ao poder da vontade, e onde a unidade do ato é obtida de uma forma interna, e deflui da própria unidade da vontade criadora, somos conduzido, pela fórmula executória, ao ato complexo, na qual a unidade da fórmula executória é realizada de uma forma puramente externa, por uma cerimônia social e por um procedimento, que em seu interior contém elementos heterogêneos de consentimento. Cadeia de decisões executórias. Cada um destes elementos é uma decisão executória, que para a decisão seguinte, assume a forma de um mero fato de consentimento. Metáfora do autor: nascimento de corais sobre estruturas mortas. Exemplos dos autor: processos nas instâncias judiciárias, procedimento legislativo, e, por fim, o ato de expropriação (promulgação do decreto expropriatório e demais fases). Não há nesta cadeia a fusão ou confusão de consentimentos, cada novo consentimento é aposto ao anterior como a adesão a um fato, um fato de consentimento, a um ato jurídico objeto. Ato jurídico objetivo. É uma adesão a fatos de consentimento, por referência ao elementos particulares do procedimento, e é uma adesão a um ato objetivo, por referência à aceitação do próprio procedimento, na medida em que ele realiza a unidade da operação e conduz ao ato. Aceitação do procedimento. A aceitação do procedimento é um fenômeno de consentimento bem particular, onde o consentimento não é sempre livre, visto que o procedimento pode ser imposto em um prol de um interesse social, como por exemplo, nos litígios judiciais ou na expropriação. Relação entre procedimento e instituição. O ato complexo considerado como um ato objetivo e explicado pela unidade de um procedimento exterior se encontra, por isto mesmo, solidarizado com a instituição social. Todo procedimento organizado é, em si. Uma instituição social, mas ainda, e sobretudo, toda instituição social da categoria de grupos, corpos ou estabelecimentos, não pode viver uma vida orgânica sem certos procedimentos, e que tais procedimentos, que são o ritmo da vida da instituição, criam de forma contínua atos complexos que, na maior parte dos casos, são atos estatutários. E não é pessoa jurídica coletiva, supostamente existente no interior da instituição, que decreta o ato complexo ou o estatuto, é um procedimento objetivo que, ao funcionar, o realiza no nome da instituição. II. Em sua forma, o direito estatutário procede seja do costume, seja de operações deliberativas. Em ambos os casos, o fenômeno de consentimento que aí se produz é a adesão ao fato, no interior de um procedimento. A. Precedente. Na formulação costumeira, o fato se chama precedente (exemplo do autor: decisão judicial, que à época era uma decisão executória, mas que, após o seu esgotamento, se tornou um fato de consentimento, um precedente). A adesão a estes precedentes, se tornarão, por sua vez, precedent es. A cadeia de precedentes poderá se estender ao infinito, mas como o espírito humano possui a necessidade imperiosa de colocar limites, e com isto, esta extensa cadeia de precedentes ou bem se fixa como um costume imemorial, ou bem é transposta para uma regra escrita por operação deliberativa, que é outra forma de fixá -la e livrá-la da eterna servidão dos precedentes, e de sua prova e de sua discussão. B. Por operação deliberativa. O precedente aqui também existe, e é colocado hipoteticamente (sob a forma de uma hipótese, de um projeto, de uma proposta). A proposta, depois de elaborada, torna-se um fato que será debatido e votado pela Câmara (ou de outro órgão qualquer dentro de um instituição que não o Estado). A decisão da Câmara (ou deste órgão a que referimos), nesta sequência, torna-se um fato, que será apreciado pelo órgão subsequente. A questão da minoria. Há aqui também o assentimento da minoria a um fato, e este assentimento não se dá em relação à questão de fundo, mas ao procedimento objetivo. To mar parte nas deliberações futuras é referendar, assentir com o procedimento, ainda que a questão de fundo, tal qual decidida, lhe repugne. Eleição de representantes. O mesmo procedimento das deliberações legislativas é aplicado. Alguém se apresenta como candidato. Apesar de tal candidatura constituir para quem se candidata sob a forma de um ato (um ato jurídico unilateral), para o eleitor ela é vista como um fato. Contados os votos, e eleitos os mais votados, é dado por suposto que a minoria dos opositores anuiu com o resultado, vez que participará de outro processo eleitoral futuro, e a adesão, neste caso, dá-se em relação ao procedimento instaurado e não a seu eventual resultado. C. Processo legislativo. Novamente o autor repassa a questão da cadeia de adesões a fatos de consentimentos e à unidade de um procedimento parlamentar objetivo. IV Coisa e conjunto de coisas. Um organismo social, interpretado como uma instituição, contendo, ele próprio, várias situações estabelecidas tornadas jurídicas pela consagração do direito disciplinar e do direito estatutário, muito se assemelha com uma coisa, ou de um conjunto de coisas. Por sua vez, em larga medida, o sistema jurídico parece encontrar-se assentado sobre a base sólida do direito real, diretamente a todos oponível. O autor explorará e analisará a relação existente entre o direito conferido ao membro da instituição pelo estatuto, e o direito real. I. Camadas do direito. A coesão social não repousa unicamente sobre relações estabelecidas entre homens, e, na trama do direito, nem tudo se reduz a um direito de obrigacional de criação. Na realidade, a geologia jurídica deve distinguir várias camadas de terrenos. A camada das instituições, das situações estabelecidas e do direito real é a mais profunda, e a mais primitiva. As relações jurídicas não nasceriam jamais se não houve situações jurídicas estabelecidas e coisas sobre as quais elas pudessemse apoiar. Direito real. O direito real não deflui do direito obrigacional ou de relações jurídicas constituídas. Não se chega a ele pelo intermediário necessário da obrigação legal (do direito obrigacional de criação). Obrigação legal de respeitar a propriedade. Esta obrigação é superficial e apenas relativa à sanção imposta pela lei. Ela não é constitutiva do direito de propriedade. Ela é uma consequência dele. Argumentos: 1º Em tempos anteriores, onde não havia lei no sentido moderno, não havia uma determinação obrigacional que defluiria de lei de se respeitar a propriedade. Ela então não existiria? 2º Nesta época, onde não havia lei no sentido moderno, a propriedade (como situação jurídica estabelecida) era sancionada unicamente pela disciplina da instituição política, a qual, sabemos, não é obrigatória na forma de lei, mas é diretamente oponível pela coercitio. Neste caso, e ainda hoje, a camada do direito disciplinar resta subjacente ao direito legal. 3º O conteúdo do direito real é mais bem explicado pela relação estabelecida entre o proprietário e a coisa. O elemento do direito real, seu conteúdo, sua matéria, são extraídos essencialmente a situação estabelecida: o usus, o frutus, o abusus são dados pela coisa mesma e pelas utilidades que ele apode fornecer. II. O direito real não se explica pelo direito real de obrigação. As situações a que este se refere são mais bem explicadas por uma combinação de elementos, « situação jurídica estabelecida », coisa, do que por « relações jurídicas ». Direitos que defluem de uma situação jurídica. Direitos estatutários.
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