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Fisiologia humana: uma abordagem integrada 115 proteína. A designação de um segmento como codificador ou não codificador não é fixa para um determinado gene. Os seg- mentos de RNAm que são removidos em um momento podem ser deixados em outro, produzindo um RNAm final com uma se- quência diferente. As formas estreitamente relacionadas de uma única enzima, chamadas de isoenzimas, geralmente são feitas por processamento alternativo de um único gene. Após o RNAm ter sido processado, ele sai do núcleo através do poro nuclear e vai para os ribossomos no citosol. O RNAm guia a construção da proteína. REVISANDO CONCEITOS 22. Explique em uma ou duas frases a relação entre RNAm, bases nitrogenadas, íntrons, éxons, processamento do RNAm e proteínas. A tradução do RNAm une aminoácidos A síntese proteica requer cooperação e coordenação entre três tipos de RNA: RNAm, RNAr e RNAt. Chegando ao citosol, o RNAm processado liga-se aos ribossomos, que são pequenas partículas de proteína, e a vários tipos de RNAr (p. 35). Cada ribossomo possui duas subunidades, uma maior e uma menor, que se juntam quando a síntese inicia (FIG. 4.21 3 ). A subu- nidade ribossomal pequena liga-se ao RNAm e, então, adiciona a subunidade grande, de forma que o RNAm fica intercalado no meio. Agora, o complexo ribossomo-RNAm está pronto para iniciar a tradução. Durante a tradução, os códons de RNAm são pareados aos aminoácidos apropriados. Esse pareamento é feito com o au- xílio de uma molécula de RNAt (Fig. 4.21, 4 ). Uma região de cada RNAt contém uma sequência de três bases, denominada anticódon, que é complementar a um códon do RNAm. Uma região distinta da molécula de RNAt se liga a um aminoácido específico. Conforme a tradução inicia, os anticódons dos RNAt carregando aminoácidos se ligam aos códons complementares do RNAm ribossomal. Por exemplo, um RNAt com um anti- códon de sequência UUU carrega o aminoácido lisina. O an- ticódon UUU pareia com o códon AAA, que codifica a lisina. O pareamento entre RNAm e RNAt coloca os aminoácidos recém-chegados em uma orientação correta para se ligarem à cadeia do peptídeo em crescimento. A síntese por desidratação liga os aminoácidos, criando uma ligação peptídica entre o grupamento amino (ONH2) do aminoácido novo adicionado e ao final carboxila (OCOOH) da cadeia de peptídeos (p. 32). Quando isso acontece, o RNAm libera o RNAt “vazio”. Esse RNAt pode, então, ser ligado à ou- tra molécula de aminoácido com a ajuda de uma enzima cito- sólica e ATP. Íntrons removidos Íntrons removidos Segmento transcritoPromotor DNA O processamento de RNAm pode produzir duas proteínas a partir de um gene por junção alternativa. RNAm não processado Éxons para a proteína #1 Éxons para a proteína #2 a b c d e f g h A B C D E F G H A B D E G I C F H B A C E i I F D G I H Gene Fita-molde TRANSCRIÇÃO O segmento promotor não é transcrito em RNA. FIGURA 4.20 Processamento de RNAm. No processamento do RNAm, os segmentos de fitas de RNAm recém-criadas, denomi- nados íntrons, são removidos. Os éxons restantes são novamente unidos para formar o RNAm que codifica uma proteína funcional. A remoção de íntrons diferentes do RNAm permite que um único gene codifique para múltiplas proteínas. Para a proteína 1, os íntrons A, C, G e I foram removidos. Para a proteína 2, os segmentos B, D, F e H tornaram-se os íntrons. Fisiologia humana: uma abordagem integrada 117 Clivagem Algumas proteínas biologicamente ativas, como en- zimas e hormônios, são inicialmente sintetizadas como moléculas inativas que devem ter segmentos removidos antes de se torna- rem ativas. A enzima quimotripsina deve ter dois fragmentos peptídicos removidos para catalisar uma reação (Fig. 2.12a, p. 50). As modificações pós-traducionais também ativam hormônios peptídicos. Adição de outras moléculas ou grupamentos As pro- teínas podem ser modificadas pela adição de açúcares (glicosila- ção) para criar glicoproteínas, ou por combinação com lipídeos para criar lipoproteínas (p. 29). Os dois grupos químicos mais comuns adicionados às proteínas são grupos fosfato, PO4 2!, e grupos metil, -CH3. (A adição de um grupo metil é chamada de metilação.) Combinação para formar proteínas poliméricas Muitas proteínas complexas têm uma estrutura quaternária com várias subunidades, na qual as cadeias de proteínas são reunidas, for- mando dímeros, trímeros ou tetrâmeros. Um exemplo é a enzima lactato desidrogenase (descrita na p. 99). Outro exemplo é a he- moglobina, com quatro cadeias proteicas (Fig. 2.3, p. 32). Transcrição Processamento de RNAm Ligação com as subunidades do ribossomo Tradução Terminação Ribossomo RNAt “vazio” saindo RNA- -polimerase RNAt DNA Membrana nuclear RNAm Aminoácido Subunidades ribossomais Peptídeo completo Asp Cadeia do peptídeo em crescimento RNAt chegando ligado a um aminoácido Anticódon RNAm Trp Lys Cada molécula de RNAt é ligada em uma extremidade a um aminoácido específico. O anticódon da molécula de RNAt pareia com o códon apropriado do RNAm, permitindo que os aminoácidos sejam ligados na ordem especificada pelo código do RNAm. O RNAm processado deixa o núcleo e se associa com ribossomos. 1 2 3 4 5 GC UUUU AA A A GG A GA C CA U AC Phe U U U FIGURA 4.21 Tradução. A tradução pareia os códons do RNA com os aminoácidos para criar proteínas. FIGURA 5.1 CONTEÚDO ESSENCIAL Líquido intersticial Plasma Membrana celular Líquido intracelular LEGENDA Na+ K+ Cl− HCO3 − Proteínas LEGENDA 1. Utilizando o volume de LEC mostrado em (b), calcule os volumes do plasma e do líquido intersticial. 2. Qual é o volume total de água do corpo desta pessoa? 3. Utilize as suas respostas das duas questões anteriores para calcular a porcentagem do total de água corporal presente no plasma e no líquido intersticial. 4. Uma mulher pesa 55 quilos. Utilizando as proporções-padrão para os compartimentos celulares, calcule o seu LIC, LEC e volumes de plasma. 5. Como a composição de íons do plasma difere em relação à do líquido intersticial? 6. Quais íons estão mais concentrados no LIC? E no LEC? (a) Os fluidos corporais estão em dois compartimentos: o líquido extracelular (LEC) e o líquido intracelular (LIC). Os dois estão em equilíbrio osmótico, mas têm composições químicas bem diferentes. (b) Esta figura mostra os volumes dos compartimentos para um homem de 70 kg. (c) Compartimentos líquidos são geralmente ilustrados em diagramas, como o que se segue. Compartimentos de fluidos corporais 20% 40% 60% 80% 100% P or ce nt ag em d e ág ua c or po ra l t ot al Líquido intracelular (LIC) Líquido intracelular Líquido intersticial P la sm a LEC 1/3 LIC 2/3 Líquido extracelular (LEC) Plasma (25% do líquido extracelular) Líquido intersticial (75% do líquido extracelular) 28 L 14 L (d) Os compartimentos do corpo encontram-se em desequilíbrio químico. A membrana celular é uma barreira semipermeável entre o LIC e o LEC. 20 40 60 80 100 120 140 160 C on ce nt ra çã o iô ni ca (m m ol /L ) Líquido intracelular Líquido intersticial Plasma O líquido intracelular corresponde a 2/3 do volume de água total. O líquido extracelular corresponde a 1/3 do volume de água total do corpo. O LEC consiste em: As substâncias movendo-se entre o plasma e o líquido intersticial devem atravessar o epitélio de troca permeável da parede capilar. O material movendo-se para dentro e para fora do LIC precisa atravessar a membrana celular. QUESTÕES DO GRÁFICOQ QUESTÕES DO GRÁFICOQ COMPARTIMENTOS DE FLUIDOS CORPORAIS Líquido extracelular (LEC)Células (líquido intracelular, LIC) O plasma sanguíneo é a porção líquida do sangue. O líquido intersticial fica entre o sistema circulatório e as células. 126 Dee Unglaub Silverthorn a glicose atravesse. Em 1 , os compartimentos A e B contêm volumes iguais da solução de glicose. O compartimento B tem mais soluto (glicose) porvolume de solução e, consequentemen- te, é a solução mais concentrada. Um gradiente de concentração através da membrana existe para a glicose. No entanto, uma vez que a membrana não é permeável à glicose, a glucose não pode se movimentar para equalizar a sua distribuição. A água, por outro lado, pode atravessar a membrana li- vremente. Ela se moverá por osmose do compartimento A, que contém a solução de glicose diluída, para o compartimento B, que contém a solução de glicose mais concentrada. Assim, a água move-se para diluir a solução mais concentrada (Fig. 5.2 2 ). Como podemos fazer uma mensuração quantitativa da os- mose? Um método é mostrado na Figura 5.2 3 . A solução a ser mensurada é colocada no compartimento B com água pura do compartimento A. Uma vez que o compartimento B tem uma concentração de soluto mais elevada do que o compartimento A, a água fluirá a partir de A para B. No entanto, empurrando para baixo o êmbolo, é possível impedir que a água entre no compar- timento B. A pressão sobre o êmbolo que se opõe exatamente ao movimento osmótico da água no compartimento B é conheci- da como a pressão osmótica da solução B. As unidades para a pressão osmótica, assim como com outras pressões em fisiologia, são em atmosferas (atm) ou milímetros de mercúrio (mmHg). Uma pressão de 1 mmHg é equivalente à pressão exercida sobre uma área de 1 cm2 por um 1 mm de altura de coluna de mercúrio. A osmolaridade descreve o número de partículas em uma solução Um outro modo de prever quantitativamente o movi- mento osmótico da água é conhecer as concentrações das soluções com as quais estamos lidando. Em quími- ca, concentrações são geralmente representadas como molaridade (M), que se define como o número de mo- les de soluto dissolvido por litro de solução (mol/L). Lembre-se que 1 mol é igual a 6,02 ! 1023 moléculas (Fig. 2.7, p. 42). Contudo, usar a molaridade para descrever as concentrações biológicas pode ser um erro. O fator importante para osmose é o número de partículas osmoticamente ativas em um dado volume de solu- ção, e não o número de moléculas. Pelo fato de al- gumas moléculas se dissociarem em íons quando se dissolvem em uma solução, o número de partículas na solução não é sempre o mesmo que o número de moléculas. Por exemplo, uma molécula de glicose dissol- vida em água produz uma partícula, porém um NaCl dissolvido em água produz dois íons (partículas): Na" e Cl–. A água move-se por osmose em resposta à concentração total de todas as partículas na solução. As partículas podem ser íons, moléculas sem carga ou uma mistura de ambos. Por conseguinte, para soluções biológicas ex- pressamos a concentração como a osmolaridade, o número de partículas osmoticamente ativas (íons ou moléculas intactas) por litro de solução. A osmolarida- de é expressa em osmoles por litro (osmol/L ou OsM) ou, para soluções muito diluídas, miliosmoles/litro (mOsM). Para a conversão entre molaridade e osmolaridade, utilize a seguinte equação: ! osmolaridade (osmol/L) molaridade (mol/L) " partículas/moléculas (osmol/mol) Vejamos dois exemplos, glicose e cloreto de sódio, e comparemos suas molaridades com suas osmolaridades. Um mol de moléculas de glicose dissolvidas em água sufi- ciente para preparar um litro de solução gera uma solução 1 mo- lar (1 M). Como a glicose não se dissocia em solução, a solução possui apenas um mol de partículas osmoticamente ativas: 1 M glicose " 1 osmol/mol glicose ! 1 OsM glicose No entanto, o cloreto de sódio dissocia-se quando colocado em solução. À temperatura do corpo, alguns íons de NaCl falham ao se separar, então, em vez de 2 íons de NaCl, o fator de dissociação é de cerca de 1,8. Assim, um mol de NaCl dissocia-se em solução para se obter 1,8 mol de partículas (Na", Cl– e NaCl). O resulta- do é uma solução de 1,8 OsM: 1 mol NaCl/L " 1,8 osmol/mol NaCl ! 1,8 osmol/L NaCl H2O H2O H2O Aumento de volume Diminuição de volume Água pura Moléculas de glicose Membrana seletivamente permeável 3 1 2 A B A B A B Dois compartimentos são separados por uma membrana que é permeável à água, mas não à glicose. A solução B é mais concentrada do que a solução A. A água move-se por osmose para a solução mais concentrada. A osmose cessa quando as concentrações são iguais. O compartimento A é água pura, e o compartimento B é uma solução de glicose. Pressão osmótica é a pressão que deve ser aplicada para impedir a osmose. Força é aplicada para impedir a osmose de A para B. FIGURA 5.2 Osmose e pressão osmótica.