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Módulo Controle da Incidência Tributária SEMINÁRIO VI – CONTRIBUIÇÕES Questões 1) A respeito das contribuições responda as seguintes perguntas, justificando suas respostas. (a) Definir o conceito de “contribuição”. (b) Quais são as espécies de contribuição existentes na CF/88? (c) A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação jurídica das contribuições como espécie autônoma de tributo? (d) Se os valores arrecadados a título de contribuição não forem aplicados na destinação prescrita na lei, pode o contribuinte requerer restituição do tributo pago? Sob qual fundamento? A interpretação de "contribuição" pode variar conforme a teoria adotada para classificar os tributos. Para os defensores da teoria tripartite, as contribuições podem ser categorizadas como impostos ou taxas, de acordo com a materialidade e a base de cálculo envolvidas. Por outro lado, a teoria quinquipartite vê as contribuições como uma categoria autônoma de tributos, classificadas a partir de critérios que consideram, além da materialidade, a destinação e a possibilidade de restituição. Sob essa ótica, entende-se que as contribuições são tributos ligados a atividades específicas do Estado, com foco na atuação social, na intervenção econômica e/ou no apoio a categorias profissionais ou econômicas. Assim, as contribuições podem ser (i) de melhoria (art. 145, III/CF), (ii) sociais para (ii.1) seguridade social (art. 194, 195 e 195, §4º/CF) ou (ii.2) salário-educação (art. 212, §5º), ou ainda (iii) especiais (art. 149/CF), (iii.1) de intervenção no domínio econômico ou (iii.2) de interesse de categorias profissionais ou econômicas. Essa classificação tem como base a destinação do produto arrecadado, tornando esse critério essencial. As contribuições para o âmbito social também são chamadas de contribuições sociais e dividem-se em gerais e específicas para o custeio da seguridade social. As contribuições gerais abrangem setores como educação, habitação, Módulo Controle da Incidência Tributária infraestrutura de transportes, sistema S, etc., conforme os art. 212, §5º, 177, §4º, 239 e 240/CF, enquanto as específicas custeiam a saúde, previdência e assistência social, previstas no art. 195/CF, incidindo sobre salários e rendimentos dos trabalhadores. As contribuições de intervenção no domínio econômico afetam a importação de produtos e serviços, sem incidirem sobre a exportação, visando a proteção do mercado nacional (art. 149, §2º), permitindo a atuação do Estado na atividade privada. Já as contribuições voltadas para o interesse de categorias profissionais ou sindicais, conhecidas como corporativas, destinam-se ao apoio a certas entidades, como anuidades de conselhos profissionais (art. 8º/CF e 3º/CTN). Segundo a teoria quinquipartite, adotada pelo legislador, as contribuições se distinguem dos demais tributos pela obrigatoriedade de destinação do produto arrecadado. Essa destinação é condição essencial para o exercício da competência do ente que instituir a contribuição (art. 149 e 195/CF) (TANIDA, 2015).1 Assim, o critério da destinação deve ser rigorosamente observado; caso a destinação não esteja explicitada, a lei que institui a contribuição pode ser considerada inconstitucional, tornando ilegal sua cobrança. Ou seja, a norma que estabelece a contribuição deve prever a aplicação específica de sua receita, sob risco de descaracterização da competência constitucional atribuída. A regra que institui o tributo deve, portanto, prever explicitamente a destinação do montante arrecadado (TANIDA, 2015).2 Caso os valores arrecadados sejam utilizados de forma desvinculada, surge a questão sobre a restituição das quantias. Inicialmente, entende-se que o sujeito passivo não possui legitimidade para solicitar a devolução, pois não existe relação de contraprestação, como ocorre com as taxas. Além disso, como a inconstitucionalidade decorre da destinação inadequada, o tributo ainda é 1 TANIDA, Carla Cristina. Contribuições Especiais: Desvirtuamento do Destino do Produto da Arrecadação. IBET: Curitiba. 2015. 2 TANIDA, Carla Cristina. Contribuições Especiais: Desvirtuamento do Destino do Produto da Arrecadação. IBET: Curitiba. 2015. Módulo Controle da Incidência Tributária devido pelo contribuinte, sendo cabível a restauração da destinação correta, em vez da suspensão da contribuição. Esse entendimento foi consolidado pelo STF no julgamento do RE 566.007/RS3: "A questão nuclear deste recurso extraordinário não é se o art. 76 do ADCT ofenderia norma permanente da Constituição, mas se a eventual inconstitucionalidade conferiria à Recorrente o direito à desoneração proporcional à desvinculação das contribuições sociais recolhidas." Conforme a Relatora Min. Carmen Lúcia: "Se a inconstitucionalidade fosse da desvinculação, a única consequência cabível seria o retorno à situação anterior, ou seja, a observância da vinculação originalmente estabelecida pela Constituição. Não é possível concluir que a inconstitucionalidade da desvinculação parcial das receitas das contribuições sociais resultaria em devolução ao contribuinte do montante correspondente ao percentual desvinculado (...)." Portanto, não cabe a restituição do tributo. 2) Sobre a hipótese de incidência das contribuições, pergunta-se: (a) A União pode, na criação de contribuição com fundamento no art. 149 da CF, utilizar uma das materialidades que lhe foram atribuídas constitucionalmente para a instituição de impostos? O art. 149 da CF/88 estabelece que compete à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas. Contudo, o texto constitucional não previu um rol de fatos geradores e bases de cálculo para a instituição desses tributos. Em 2001, a EC n. 33 estipulou um rol de bases de cálculo que poderiam ser utilizadas: faturamento, receita bruta, valor da operação e valor aduaneiro. Esse rol gerou controvérsia, levantando a questão se era taxativo ou exemplificativo. Se considerado taxativo, haveria revogação tácita de todas as contribuições sociais gerais e CIDE’s, além do reconhecimento da inconstitucionalidade das contribuições editadas após a emenda constitucional cujas bases de cálculo não 3 RE 566.007/RS. STF - Plenário. Re l. Min. Cárm en Lúcia. DJe 11/0 2/2015. Módulo Controle da Incidência Tributária fossem aquelas indicadas no art. 149. No entanto, o STF, nos julgamentos dos RE 603.624/SC e 630.898, determinou que o rol é exemplificativo, indicando que a União pode instituir contribuições sobre bases de cálculo além das previstas. CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁR IO. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS AO SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), À AGÊNCIA BRASILEIRA DE PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES E INVESTIMENTOS (APEX) E À AGÊNCI A BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (ABDI). RECEPÇÃO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 33/2001. DESPROVIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1.O acréscimo realizado pela EC 33/2001 no art. 149, § 2º, III, da Constituição Federal não operou uma delimitação exaustiva das bases econômicas passíveis de tributação por toda e qualquer contribuição social e de intervenção no domínio econômico. 2.O emprego, pelo art. 149, § 2º, III, da CF, do modo verbal “ poderão ter alíquotas” demonstra tratar -se de elenco exemplificativo em relação à presente hipótese. Legitimidade da exigência de contribuição ao SEBRAE - APEX - ABDI incidente sobre a folha de salários, nos moldes das Leis 8.029/1990, 8.154/1990, 10.668/2003 e 11.080/2004, ante a alteração promovida pela EC 3 3/2001 no art. 1 49 da Constituição Federal. 3.Recurso Extraordinário a que se nega provimento.Tema 325, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “As contribuições devidas ao SEBRAE, à APEX e à ABDI com fundamento na L ei 8.029/1990 foram recepcionadas pela EC 33/2001". (RE 603.624/SC. STJ - Ple nário. Rel. Min. Rosa Weber. J. 23/09/2020) Recurso extraordinário. Repercussão geral. Tributário. Contribuição ao INCRA incidente sobre a folha de salários. Recepção pela CF/88. Natureza jurídica. Contribuição de intervenção no domínio econômico ( CIDE). Referibilidade. Relação indireta. Possibilidade. Advento da EC nº 33/01, incluindo o § 2 º, III, a, n o art. 149 da CF/88. Bases econômicas. Rol exemplificativo. Contribuições interventivas incidentes sobre a f olha d e salário. Higidez. 1. Sob a égide d a CF/ 88, diversos são os julgados reconhecendo a exigibilidade do adicional de 0, 2% r elativo à contribuição destinada ao INCRA incidente sobre a folha de salários. 2. A contribuição ao INC RA tem contornos próprios de contribuição de intervenção no do mínio econômico (CIDE). Trata -se de tributo especial mente destinado a concretizar objetivos de atuação positiva do Estado consistentes na promoção d a reforma agrária e da colonização, c om vistas a assegurar o exercício da função social da propriedade e a diminuir as desigualdades regionais e sociais (arts . 170, III e V II; e 184 da CF/88) . 3. Não descaracteriza a exação o fato de o sujeito passivo não se beneficiar diretamente da arrecadação, pois a Corte considera que a inexistência de referibilidade direta não desnatura Módulo Controle da Incidência Tributária as CIDE, estando, sua instituição “ jungida aos princípios gerais da atividade econômica”. 4. O § 2º, II I, a, do art. 149, da Constituição, introduzido pela EC nº 3 3/2001, ao especificar que as contribuições sociais e d e intervenção no domínio econômico “ poderão ter alíquotas” que incidam s obre o faturamento, a receita bruta (ou o valor da operação) ou o valor aduane iro, não impede que o legislador adote outras bases econômicas para os referidos tributos, como a folha de salários, pois esse rol é meramente exemplificativo ou enunciativo. 5. É constitucional, assim, a CIDE destinada ao INCRA devida pelas empresas urbanas e rurais, inclusive, após o advento da EC n º 33/01. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento. 7. Tese fixada para o Tema nº 495: “É constitucional a contribuição de intervenção no domínio econômico destinada ao INCRA devida pelas empresas urbanas e rurais, inclusive após o advento da EC nº 33/2001”. (RE 630.898/RS. STF - Plenário. Rel. Min. Dias Toffoli. J. 08/04/2021). Nesse sentido, não estando o legislador limitado ao rol de bases de cálculo estabelecido pela EC n. 33 e não sendo essa uma proibição constitucional expressa, como a que recai sobre taxas, prevista no §2º do art. 145, a União poderá determinar a instituição de contribuições, inclusive, sobre a base de cálculo de imposto. Contudo, deverá sempre respeitar e observar os princípios constitucionais tributários, em especial: a legalidade, o não-confisco, a capacidade contributiva, a isonomia e a segurança jurídica. (b) A hipótese de incidência destas contribuições pode abranger fatos que, por ocasião da repartição constitucional de competências para a instituição de impostos, foram atribuídos como materialidades próprias dos Estados, Distrito Federal e Municípios? Para responder a essa pergunta leve em consideração o texto constitucional antes da emenda constitucional 132/2023 e pós emenda, diante do que dispõe o artigo 149-B4 por ela inserido ao texto constitucional. Embora não exista vedação expressa ao poder atribuído à União para a instituição de contribuições, não poderá o ente extrapolar a competência de outros entes. As competências já foram fixadas pelo constituinte, de modo que não haveria razão para desconstituí-las em momento posterior, permitindo que a União as 4 Art. 149-B. Os tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V, observarão as mesmas regras em relação a: I - fatos geradores, bases de cálculo, hipóteses de não incidência e sujeitos passivos; Módulo Controle da Incidência Tributária extrapole. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho5: "Não haveria sentido admitir que o constituinte tenha repartido, pormenorizadamente, o poder de instituir tributos entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios para, logo após, desfigurar a divisão antes efetuada, concedendo à União a prerrogativa de tributar, de maneira indiscriminada, fatos contidos na faixa competência das demais pessoas jurídicas." Com o advento da EC 132/2023, foi incluído no texto constitucional o art. 149B: Art. 149-B. Os tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V, observarão as mesmas regras em relação a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) I - fatos geradores, bases de cálculo, hipóteses de não incidência e sujeitos passivos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) II - imunidades; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) III - regimes específicos, diferenciados ou favorecidos de tributação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) IV - regras de não cumulatividade e de creditamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) Parágrafo único. Os tributos de que trata o caput observarão as imunidades previstas no art. 150, VI, não se aplicando a ambos os tributos o disposto no art. 195, § 7º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023) Diante disso, considerando o disposto no referido art. a regras de competência para definição de hipótese de incidência, passa a ser exclusiva da União. 3) Por força do que prescreve o art. 195, I, “a”, da Constituição da República, a legislação exige que o empregador recolha contribuição sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço. Neste contexto, pergunta-se: (a) Que é “salário”? E “rendimentos do trabalho”? 5 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2019 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc132.htm#art1 Módulo Controle da Incidência Tributária O salário pode ser entendido como uma retribuição justa ao trabalhador pelo serviço realizado; trata-se da contraprestação paga diretamente pelo empregador, em função dos dias de trabalho, da disponibilidade do trabalhador e/ou conforme estipulado pelo contrato de trabalho. Para ser caracterizado como salário, é preciso que ele atenda a cinco elementos essenciais: habitualidade, periodicidade, quantificação, essencialidade e reciprocidade. Conforme o art. 76 da CLT, o “salário mínimo” corresponde ao valor mínimo necessário para cobrir as necessidades básicas de alimentação, moradia, vestuário, higiene e transporte do trabalhador. Adicionalmente,a legislação estabelece que compõem o salário, além do valor fixo pela prestação de serviço, as comissões e gratificações previstas na lei (art. 457/CLT), assim como a alimentação, habitação, vestuário e outras prestações "in natura" oferecidas regularmente ao empregado (art. 458/CLT). Vale ressaltar que o salário não abrange todos os ganhos do trabalhador. Nos termos do art. 457, a remuneração inclui, além do salário, as gorjetas, que são valores dados voluntariamente pelos clientes ao empregado ou valores cobrados pela empresa como taxa de serviço, destinados à distribuição entre os empregados. O §2º do mesmo artigo dispõe que certos valores, como ajuda de custo, auxílio- alimentação (desde que não pagos em dinheiro), diárias de viagem, prêmios e abonos, não integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base para encargos trabalhistas e previdenciários. Por sua vez, o conceito de “rendimentos do trabalho” é mais amplo, abrangendo todos os valores pagos ou creditados ao trabalhador sob qualquer título, sem a necessidade de um vínculo empregatício. (b) Levando em consideração sua resposta às perguntas contidas em “(a)”. Pergunta-se: quais das parcelas abaixo estão ou não sujeitas à incidência deste tributo, justifique suas respostas: (Vide anexos I, II, III e IV) (i) os serviços extraordinários (horas extras); (ii) terço constitucional; (iii) férias Módulo Controle da Incidência Tributária indenizadas; (iv) aviso-prévio indenizado; (v) adicional de insalubridade; (vi) adicional de periculosidade; (vii) adicional noturno; (viii) auxílio-educação; (ix) auxílio-creche; (x) auxílio-doença; (xi) salário-maternidade; (xii) prêmio assiduidade; (xiii) vale-transporte; e (xiv) descanso remunerado. Com base nos conceitos discutidos e conforme os arts. 457 e 458 da CLT, não haverá incidência de contribuições sobre os rendimentos pagos ao trabalhador que tenham natureza indenizatória. Assim, incidirá contribuição sobre: horas extras, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade e adicional noturno. Não incidirá sobre: o terço constitucional de férias, férias indenizadas, aviso prévio indenizado, auxílio-educação, auxílio-creche, auxílio-doença, salário- maternidade (conforme RE 576.967), prêmio de assiduidade, vale-transporte e descanso remunerado. 4) Com relação ao creditamento do PIS-COFINS, pergunta-se: (a) Estabeleça diferença entre o regime monofásico e não cumulativo. O regime monofásico, também conhecido como cumulativo, é um modelo de tributação em que o cálculo do imposto é baseado no faturamento total da empresa, sem a possibilidade de deduções, sendo então aplicado sobre o lucro presumido. Nesse sistema, "a carga tributária é concentrada em uma única etapa do ciclo produtivo e, consequentemente, suportada por um único contribuinte, sem a necessidade de obedecer ao princípio da não cumulatividade, característico do regime plurifásico" (STJ, 2021). Já o regime não cumulativo permite que a empresa deduza valores pagos em operações anteriores, aplicando o princípio da não cumulatividade. Nesse caso, a tributação incide sobre o lucro real. (b) Qual o alcance da não cumulatividade do PIS-COFINS prevista no art. 195, § 12, da CF/88? Módulo Controle da Incidência Tributária Dada a controvérsia em torno do tema, diversas ações judiciais foram movidas em relação à não cumulatividade prevista no §12 do art. 195 da CF. Nesse cenário, o STF, ao julgar o Tema 7566 de Repercussão Geral, decidiu que o legislador ordinário possui autonomia para estabelecer restrições ao crédito das contribuições ao PIS/Cofins no regime não cumulativo, desde que observados os princípios da razoabilidade, isonomia, livre concorrência e proteção à confiança. A posição firmada pelo tribunal foi a de que o legislador ordinário pode regulamentar a matéria, podendo negar créditos em certas situações e concedê- los em outras, desde que respeitada a estrutura constitucional que rege essa tributação. (c) O que caracteriza “insumo” para fins da não cumulatividade do PIS e da COFINS? Valores gastos com contratação de mão de obra terceirizada geram créditos de PIS-COFINS? (Vide anexos V, VI, VII, VIII, IX, X e XI). As Instruções Normativas n. 247/02 e n. 404/04 (já revogadas) estabeleceram o conceito de insumo como “matérias-primas, produtos intermediários, materiais de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, como desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou químicas, em decorrência da ação exercida diretamente sobre o produto em fabricação”, além de “bens utilizados ou consumidos na prestação de serviços”. Entretanto, em uma decisão de 20187, o STJ concluiu que esse conceito não está em conformidade com os dispositivos do art. 3º, II da Lei 10.637/03 e da Lei 10.833/03. O tribunal defendeu que a definição de insumo deve considerar os critérios de essencialidade e relevância, avaliando a imprescindibilidade ou importância de um determinado bem ou serviço para a atividade econômica realizada pelo contribuinte. Na decisão, foi esclarecido que a essencialidade se relaciona ao grau de dependência do bem em relação ao produto ou serviço final, destacando que a ausência do insumo pode resultar em perda de qualidade, quantidade ou 6 RE 841.979. STF - Rel. Min. Dias Toffo li. DJe 09/02/23 7 (REsp 1.221.170/PR - Tema 779. STJ - Primeira seção. DJe 24/04/2018. Módulo Controle da Incidência Tributária suficiência. A relevância, por sua vez, está ligada à integração do bem no processo produtivo, seja pela singularidade da cadeia produtiva ou por imposições legais, mesmo que o bem não seja essencial para a elaboração do produto. Neste sentido, a Solução de Divergência Cosit n. 29/17 já definiu que os gastos com a contratação de mão de obra terceirizada geram créditos de PIS/Cofins. (d) A previsão do artigo 178 da Lei nº 11.033/04 é aplicada para todos contribuintes sujeitos à tributação monofásica? Fundamente. (Vide anexos XII e XIII) O artigo 17 da Lei 11.033/04 gerou interpretações contraditórias entre o fisco e os contribuintes. Os contribuintes argumentaram que esse artigo revogou tacitamente a proibição de manutenção dos créditos, conforme disposto no art. 3º, I, b das Leis 10.637/02 e 10.833/03. Em contrapartida, o fisco sustentou que a situação prevista no artigo 17 não se aplica aos contribuintes que optaram pelo regime monofásico. O entendimento prevalente na jurisprudência se alinhou à posição dos contribuintes, afirmando que a norma se destina apenas às empresas que operam sob o regime não-cumulativo. Essa conclusão é baseada no fato de que não há incidência do PIS e da Cofins sobre os bens e produtos adquiridos por meio da sistemática monofásica, o que resulta na inexistência de créditos nessas operações. 5) Sobre as contribuições de intervenção no domínio econômico, pergunta- se: (a) Que se entende por intervenção no domínio econômico? As causas de intervenção estão restritas aos arts. 170 a 181 da Constituição Federal? De acordo com o art. 173 da Constituição, a exploração direta da atividade econômica é permitida apenas em situações que atendam à segurança nacional 8 Art. 17. As vendas efetuadas com suspensão, isenção, alíquota 0 (zero) ou não incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS não impedem a manutenção, pelo vendedor, dos créditos vinculados a essas operações. Módulo Controle da Incidência Tributária ou ao relevante interesse coletivo. Assim, a intervenção econômica deve ocorrer em caráter excepcional e visando o bem-estar da coletividade. A intervenção possui uma finalidade regulatória, visando à fiscalização e à criação de normas que regulem preços, abastecimento e o combate ao abuso do poder econômico, garantindo a ordemeconômica. As Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) não têm uma materialidade definida e são estabelecidas como instrumentos de intervenção estatal em setores econômicos específicos, com a arrecadação destinada ao custeio da intervenção desejada. Portanto, as CIDE representam uma exceção ao sistema constitucional, restrita aos artigos 170 e 181. (b) O produto da arrecadação da CIDE deve ser legalmente destinado à intervenção no setor econômico de que trata a contribuição (intervenção positiva), ou pode ser instituída com finalidade de desestimular determinada atividade, ou seja, com caráter extrafiscal (intervenção negativa)? O produto da arrecadação de tributos deve ser definido previamente no ato de sua instituição, sem distinção quanto ao tipo de intervenção econômica que será realizada. Especificamente, quando se trata de uma contribuição destinada a custear atividades de intervenção estatal, é crucial ressaltar que essa arrecadação não pode, em nenhuma circunstância, possuir um caráter extrafiscal. Isso implica que a função da arrecadação é estritamente vinculada ao financiamento das ações estabelecidas e não deve ser utilizada para outras finalidades, como o controle de comportamento do contribuinte ou a promoção de políticas públicas diversas. (c) A sua materialidade e o sujeito passivo devem estar relacionados com a destinação escolhida pelo legislador como forma de intervenção no domínio econômico? (Vide anexo XIV) O STF, no julgamento do RE n. 632.832, determinou que, embora o tributo seja vinculado, a materialidade e o sujeito passivo não precisam estar diretamente relacionados à destinação da contribuição. Essa decisão indica que a vinculação Módulo Controle da Incidência Tributária tributária não é um requisito imprescindível para a validade do tributo. (d) A remuneração por direitos autorais e operações com o exterior se classificam como royalties para fins da incidência da CIDE? (Vide anexo XV) Tanto o CARF quanto o STF (REsp 1642249/SP) já se posicionaram sobre a matéria, firmando o entendimento de que a remuneração por direitos autorais em operações com o exterior se classifica como royalties CIDE. REMESSAS AO EXTERIOR. ROYALTIES. INCIDÊNCIA. POSSIBILIDADE. A partir de 1/1/2002, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incide também sobre o valor de royalties, a qualquer título, que a pessoa jurídica pagar, creditar, entregar, empregar ou remeter a residente ou domiciliado no exterior, inclusive os royalties decorrentes de licença e direito de uso na exploração e transmissão de filmes, programas e eventos em televisão por assinatura. (CARF - Acórdão n° 9303- 005.293)