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BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO Unidade 4 O metabolismo humano CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ALESSANDRA FERREIRA Gerente Editorial LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria JORDANNA SANTOS MONTEIRO 4 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A U TO RI A Jordanna Santos Monteiro Olá. Sou formada em Nutrição, pela Universidade de Bra- sília. Mestra em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília, com experiência técnico-profissional na área de nutrição e dieté- tica há mais de um ano. Sou técnica em Nutrição e Dietética da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Além disso, fui docente da Faculdade Sena Aires da disciplina Nutrição Humana. Sou apaixo- nada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui con- vidada pela Editora Telesapiens para integrar seu elenco de auto- res independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 5BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 ÍC O N ES Esses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos: OBJETIVO No início do desenvolvimento de uma nova competência. DEFINIÇÃO Caso haja a necessidade de apresentar um novo conceito. NOTA Quando são necessárias observações ou complementações. IMPORTANTE Se as observações escritas tiverem que ser priorizadas. EXPLICANDO MELHOR Se algo precisar ser melhor explicado ou detalhado. VOCÊ SABIA? Se existirem curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo. SAIBA MAIS Existência de textos, referências bibliográficas e links para aprofundar seu conhecimento. ACESSE Se for preciso acessar sites para fazer downloads, assistir vídeos, ler textos ou ouvir podcasts. REFLITA Se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido. RESUMINDO Quando for preciso fazer um resumo cumulativo das últimas abordagens. ATIVIDADES Quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada. TESTANDO Quando uma competência é concluída e questões são explicadas. 6 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Compreendendo o metabolismo energético ........................ 10 A gliconeogênese ...............................................................................................10 Reações de gliconeogênese ..............................................................10 Uso de aminoácidos como substratos gliconeogênicos ............................ 13 Glicerol como substrato gliconeogênico ......................................................14 Regulação das enzimas gluconeogênicas .....................................................15 Análise da glicólise e gliconeogênese ............................................................16 Ciclo de glicose/ácidos graxos .........................................................................16 Metabolismo do glicogênio ..............................................................................17 Glicogênese .........................................................................................19 Glucogenólise ......................................................................................20 Controle do metabolismo hormonal de glicogênio ..................... 21 Via de pentose fosfato ......................................................................................22 Características da VIA .........................................................................23 Metabolismo dos lipídios ....................................................... 25 Oxidação de ácidos graxos e cetogênese ..................................................... 25 Oxidação de ácidos graxos nas mitocôndrias .............................................. 26 Ativação de ácidos graxos e entrada nas mitocôndrias .............. 26 β-Oxidação mitocondrial dos ácidos graxos com número par ímpar de carbonos, dentro das mitocôndrias ............................... 28 β-Oxidação de ácidos graxos insaturados ..................................... 30 Corpos cetônicos ...............................................................................................31 Síntese de lipídios ..............................................................................................32 Metabolismo das proteínas .................................................... 34 Catabolismo dos aminoácidos ........................................................................34 SU M Á RI O 7BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Destino do grupo amino ....................................................................34 Ciclo de ureia .......................................................................................36 Catabolismo da cadeia carbonada .................................................................38 Síntese de aminoácidos ...................................................................................39 Metabolismo mineral .............................................................. 41 Cálcio ....................................................................................................................41 Fósforo .................................................................................................................43 Magnésio .............................................................................................................44 Sódio ....................................................................................................................45 Potássio ..............................................................................................................46 Ferro .....................................................................................................................47 8 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A PR ES EN TA ÇÃ O Você sabia que a Bioquímica Humana Aplicada a Nutrição é uma das mais importantes áreas da nutrição? Ela é responsável pelo entendimento de como o metabolismo enérgico e dos nutrientes atua na saúde humana e como esse está associado as desordens metabólicas, possibilitando o aumento das doenças crônicas não transmissíveis. Dessa forma, a nutrição atua como medicina preventiva, e a bioquímica como ferramenta para melhor compreensão da atuação do alimento e suas substâncias na saúde humana. Portanto, a bioquímica é uma disciplina primordial para a prática do nutricionista ou profissional de saúde, seja o que irá atuar em prática clínica, hospitalar, funcional, esportiva ou em gestão de produção de refeições. Entendeu? Ao longo dessa unidade letiva, você vai mergulhar nesse universo! 9BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendiza- gem até o término desta etapa de estudos: 1. Entender como funciona a gliconeogênese e síntese de glicogênio. 2. Compreender como se processa o metabolismo dos li- pídios. 3. Discernir sobre o modus operandi do metabolismo das proteínas. 4. Entender como ocorre o metabolismo e as funções dos minerais. 10 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Compreendendo o metabolismo energético OBJETIVO Ao término desse capítulo, você será capaz de en- tender como ocorre todo o mecanismo do metabo- lismo dos macronutrientes (carboidratos, proteína e lipídios) e seus processos regulatórios. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. Os nutricionistas são os únicos profissionais aptos para prescrever uma dieta, logo, a compreensão do metabolismo é a base para o entendimento da composição corporal, bem como a fisiologia e al- gumas patologias associadas a nutrição. E então? Motivado para desenvolver esta competência? En- tão vamos lá. Avante! Aeritrócitos se- nescentes. No fagócito, o ferro heme é metabolizado pela hemoxi- genase. O ferro liberado é exportado para o citoplasma, por meio da ação da proteína-resistência natural, associada aos macrófa- gos, que é uma proteína transportadora semelhante à DMT-1. O ferro liberado da heme pelo macrófago retorna à cor- rente sanguínea para ser reutilizado, principalmente, pela medula eritróide. Esta reciclagem de ferro é crítica, uma vez que a quan- tidade de ferro que entra no organismo pela dieta é, geralmente, insuficiente para requisitos eritróides. O fígado é outro órgão principal de depósito de ferro. O ferro é armazenado nos hepatócitos, principalmente sob a forma de ferritina. Adaptação de ferro ligada à transferrina pelo fígado do plasma é mediada por TfR1 (Transferrin Classical Receptor) e TfR2 (segundo receptor de transferência). Nos Cardiomiócitos, o excesso de ferro pode produzir estresse oxidativo e distúrbios da função miocárdica. A importância fundamental do ferro no organismo con- siste em sua capacidade de consertar, transportar, armazenar e produzir. Portanto, sua principal intervenção ocorre nos proces- sos de respiração celular e, em particular, como componente da hemoglobina e mioglobina. Também participa do metabolismo aeróbico, como componente de citocromos. O ferro também está presente nas hemoproteínas. E, por fim, o ferro é um cofator essencial para algumas enzimas. A eficiência do uso de ferro endógeno é de tal ordem que, no estado normal são perdidas quantidades muito pequenas, em média entre 0,5 e 1,5mg/dia nos homens e 1,0 a 3,0mg/dia na mu- lher (perda menstrual). Eles são excretados em pequenas quanti- 50 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 dades no suor (0,05 ou 1,0mg); uma pequena quantidade é perdi- da pelo cabelo; o restante é perdido pelas fezes (de 0,3 a 0,75mg), provenientes das células mucosas, bile e pequenas quantidades de hemoglobina, em perdas de sangue gastrointestinal. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido como ocorre o metabolis- mo e as funções dos minerais. 51BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 KRAUSE, M. V.; MAHAN, L. Alimentos, nutrição e dietoterapia. [s.l.]: Roca, 2010. LIMA, V. Aula 07: oxidação de ácidos graxos. Blog Bioquímica, 2012. Disponível em: http://bioquimicaufal.blogspot.com/2012/11/ aula-07.html. Acesso em: 01 fev. 2024. LIMA, V. Aula 09: oxidação de aminoácidos e ciclo da uréia. Blog Bioquímica, 2012. Disponível em: http://bioquimicaufal.blogspot. com/2012/12/aula-09.html. Acesso em: 01 fev. 2024. MACEDO, G. Metabolismo de lipídios. Slideplayer, [s.d.]. Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/375062/. Acesso em: 01 fev. 2024. MARZZOCO A., TORRES B. B. Bioquímica básica. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koohan, 1999. SHILS, M. E. et al. Nutrição Moderna na saúde e na doença. 10. ed. [s.l.]. 2009. USFC. Tira dúvidas. Slideplayer, [s.d.]. Disponível em: https:// slideplayer.com.br/slide/1584569/. Acesso em: 01 fev. 2024. RE FE RÊ N CI A S http://bioquimicaufal.blogspot.com/2012/11/aula-07.html http://bioquimicaufal.blogspot.com/2012/11/aula-07.html http://bioquimicaufal.blogspot.com/2012/12/aula-09.html http://bioquimicaufal.blogspot.com/2012/12/aula-09.html https://slideplayer.com.br/slide/375062/ Compreendendo o metabolismo energético A gliconeogênese Reações de gliconeogênese Uso de aminoácidos como substratos gliconeogênicos Glicerol como substrato gliconeogênico Regulação das enzimas gluconeogênicas Análise da glicólise e gliconeogênese Ciclo de glicose/ácidos graxos Metabolismo do glicogênio Glicogênese Glucogenólise Controle do metabolismo hormonal de glicogênio Via de pentose fosfato Características da VIA Metabolismo dos lipídios Oxidação de ácidos graxos e cetogênese Oxidação de ácidos graxos nas mitocôndrias Ativação de ácidos graxos e entrada nas mitocôndrias β-Oxidação mitocondrial dos ácidos graxos com número par ímpar de carbonos, dentro das mitocôndrias β-Oxidação de ácidos graxos insaturados Corpos cetônicos Síntese de lipídios Metabolismo das proteínas Catabolismo dos aminoácidos Destino do grupo amino Ciclo de ureia Catabolismo da cadeia carbonada Síntese de aminoácidos Metabolismo mineral Cálcio Fósforo Magnésio Sódio Potássio Ferrogliconeogênese A gliconeogênese, ou síntese de glicose, ocorre preferen- cialmente no fígado e no córtex renal, embora o jejum também ocorra no intestino delgado. A gliconeogênese é fabricada com precursores não glicídicos e satisfaz as necessidades de glicose quando sua disponibilidade derivada da dieta e do estoque de gli- cogênio é escassa. Na verdade, o suprimento de glicose em quan- tidade suficiente é essencial, principalmente para o tecido nervoso e os eritrócitos, para que a hipoglicemia não altere a funcionalida- de do tecido nervoso e possa desencadear um coma e até a morte. Reações de gliconeogênese Considerando a gliconeogênese a partir do piruvato, a via compartilha as mesmas reações reversíveis com a glicólise. No entanto, globalmente, ambas as rotas não são reversíveis, graças às reações irreversíveis das duas. 11BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A piruvato carboxilase catalisa a carboxilação do piruvato em oxaloacetato em uma reação dependente de biotina. Essa reação foi vista anteriormente no ciclo do ácido cítrico, mas sua principal função é o início da gliconeogênese. Consome uma molécula de ATP como fonte de energia e requer acetil-CoA como ativador alostérico. A segunda reação da gliconeogênese, catalisada pela fosfoenolpiruvato carboxiquinase, ocorre fora das mitocôndrias. Isso força o oxaloacetato formado pela piruvato carboxilase a deixar as mitocôndrias. Como a membrana mitocondrial necessita de um transportador de oxaloacetato, sua produção é realizada por várias rotas alternativas. Uma destas vias é a conversão de oxaloacetato em malato, pela malato desidrogenase do ciclo do ácido cítrico. Esta reação é reversível e, nesta direção da formação do malato, ocorre a perda do potencial redutor de uma molécula de NADH + H +, que é regenerada no citosol quando a mesma reação funciona na direção oposta. Outra maneira de deixar o oxaloacetato dentro das mitocôndrias é o aspartato, por meio da reação catalisada pelo AST de maneira semelhante ao transporte de malato-aspartato. A fosfoenolpiruvato carboxiquinase catalisa a descarboxi- lação e a fosforilação do oxaloacetato, usando GTP como doador do grupo fosforil. No fígado e no córtex renal, a reação de succina- to do ciclo do ácido cítrico usa o GDP na formação de GTP, diferen- temente de outros tecidos, em que a mesma reação fosforila ADP para a formação de ATP. Por meio do sistema de translocases, esse GTP deixa o ci- toplasma, onde é usado na reação da fosfoenolpiruvato carboxi- quinase, e isso implica uma conexão entre o ciclo do ácido cítrico e a gliconeogênese. Depois que o fosfoenolpiruvato é sintetizado, a gliconeogênese passa pelas reações reversíveis dos trioses co- muns, portanto, para glicólise e gliconeogênese, até atingir 1,6-bi- fosfato de frutose. 12 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A 1,6-bisfosfatase de frutose (F16BPase) resulta na forma- ção de 6-fosfato de frutose. Esta enzima é controlada quase in- versamente à fosfofructoquinase-1, e determina o treinamento de um tecido para sintetizar a glicose não apenas do piruvato, mas também de alguns dos trioses de fosfato. A última reação espe- cífica e irreversível da gliconeogênese é a catalisada pela glicose 6-fosfatase, que transforma a glicose 6-fosfato em glicose livre. Esta enzima é encontrada no fígado e no córtex renal, e não em outros tecidos, como músculo esquelético ou tecido adiposo, o que os impede de exportar glicose para a circulação. Além do piruvato, no fígado, outros substratos importantes da gliconeogênese são lactato, glicerol e alanina, enquanto no córtex renal há glicerol e glutamina. Na realidade, as concentrações fisiológicas de todos esses substratos estão bem abaixo do nível de saturação da via, portanto, tanto a concentração quanto a natureza influenciam profundamente a velocidade e a eficiência da síntese de glicose. O mais importante substrato, quantitativamente, da gliconeogênese é o lactato. No sangue, deriva principalmente do músculo esquelético e em uma proporção menor de eritrócitos e da medula renal. Nestes tecidos, o lactato provém da glicólise anaeróbica, e neles não pode ser metabolizada, mas sai para a circulação, de onde é capturada pelo fígado ou córtex renal através de um transportador saturável (difusão facilitada), em um processo dependente da concentração. No citoplasma, o lactato é oxidado em piruvato pela ação da lactato desidrogenase (LDH), devido à baixa relação NADH + H+/ NAD+ no citoplasma nesses tecidos gliconeogênicos. 13BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Uso de aminoácidos como substratos gliconeogênicos A maioria dos aminoácidos pode ser usada como subs- tratos gliconeogênicos, mas aqui vamos nos ater à alanina, pois, quantitativamente, o principal precursor de aminoácido da glicose é glutamina, porque desempenha um papel importante na glico- neogênese renal. A alanina é liberada na circulação por vários tecidos, in- cluindo o músculo esquelético. A liberação de alanina para a cir- culação pelo músculo esquelético é superior ao que se esperaria com base em sua concentração nas proteínas musculares. Isso ocorre porque, a liberação da alanina muscular não é apenas o re- sultado direto da proteólise, mas também porque outros aminoá- cidos, como glutamato e aminoácidos de cadeia ramificada, como valina e isoleucina, são transformados em alanina. Neste processo de formação de alanina no músculo de outros aminoácidos da proteólise, o piruvato, derivado da glicóli- se, desempenha um papel essencial como um aceitador do grupo amino da transaminação destes outros aminoácidos, na reação catalisada pela alanina amino transferase ou alanina transamina- se (ALT). Por sua vez, o processo levou à formulação do ciclo glico- se-alanina, de modo que a glicose, captada pelo músculo desde a circulação, serve como fonte glicolítica de piruvato para síntese de alanina. Isso é liberado para a circulação, capturado pelo fígado e convertido novamente em piruvato, que é usado no gliconeogê- nese, para que a glicose retorne à circulação. A velocidade deste processo parece ser cerca de metade do que o ciclo glicose-lacta- to, mas tem um papel fisiológico essencial, como o transporte de nitrogênio do músculo esquelético para o fígado, onde é removido na forma de ureia. 14 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 No caso da glutamina, o principal tecido responsável de sua liberação para a circulação é o músculo esquelético, em si- tuações de jejum ou acidose, seu principal consumidor é o córtex renal. Sua passagem pela membrana interna das mitocôndrias re- quer certos transportadores para formar glicose, a glutamina so- fre a ação da glutaminase e glutamato desidrogenase, formando o alfa-cetoglutarato no interior das mitocôndrias. Este composto já faz parte do ciclo do ácido cítrico, através do qual é transformado em malato, que atravessa a membrana das mitocôndrias internas e no citoplasma dão origem ao oxaloacetato, que é transformado em glicose. Glicerol como substrato gliconeogênico O glicerol no sangue é derivado da lipólise (quebra) dos triacilglicerídeos do tecido adiposo. Seus níveis plasmáticos são geralmente muito baixos, pois são rapidamente metabolizados no fígado e no córtex renal. Assim que entra na célula, o glicerol é fosforilado pela ação da enzima citoplasmática do glicerol cinase. A glicerol quinase é especialmente ativa no fígado e no cór- tex renal, e seu funcionamento parece depender exclusivamente da disponibilidade de seu substrato, o glicerol. O glicerol 3-fosfato é oxidado pela ação catalítica da glicerol 3-fosfato desidrogenase, que requer NAD + como uma coenzima. O fosfato de di-hidroxiacetona já faz parte da gliconeogê- nese; portanto, os átomos de carbono derivados do glicerol não precisam passar para a mitocôndria para sintetizar a glicose. Tudo isso, implica que, embora a disponibilidade de glicerol para a gli- coneogênesedependa da atividade lipolítica do tecido adiposo, 15BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 sua incorporação na glicose é muito eficaz, tornando-se a glicose mais efetivamente do que quantidades equimoleculares de outros substratos gliconeogênicos, como lactato, piruvato ou alanina. Regulação das enzimas gluconeogênicas Uma forma eficaz de regulação da gliconeogênese ocorre quando há alterações na disponibilidade de substratos e coenzi- mas. Com relação às coenzimas, ATP e NADH+ + H+ são necessá- rios para que a rota funcione corretamente. A necessidade destas duas coenzimas consiste no nível de duas reações reversíveis das trioses: o caso do ATP, na fosfoglicerato quinase e NADH+ + H+ na gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase, de modo que as reações catalisadas por ambas as enzimas se movam na direção da sín- tese da glicose, quando há disponibilidade suficiente destas duas coenzimas no citoplasma. No entanto, o controle instantâneo da via ocorre no nível alostérico, em enzimas que catalisam reações irreversíveis. A piruvato carboxilase, que catalisa a síntese de oxaloa- cetato a partir do piruvato, é ativada alostericamente pelo acetil- -CoA. Sob condições que ocorre uma ativação da beta-oxidação de ácidos graxos e, consequentemente, quantidades significativas de acetil-CoA são formadas nas mitocôndrias, acontece uma inibição da piruvato desidrogenase e a ativação da piruvato carboxilase, com a consequente ativação da gliconeogênese. A frutose 1,6-bifosfatase é inibida alostericamente por dois efetores, que, por sua vez, são ativadores da enzima glico- lítica, que catalisa a reação oposta, a fosfofructoquinase-1; estes efetores são AMP e 2,6-bifosfato de frutose. Por sua vez, a frutose 1,6-bifosfatase também é inibida pela frutose 1,6-bifosfato. 16 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Análise da glicólise e gliconeogênese O controle global da glicólise e a gliconeogênese são, preferencialmente realizados por ciclos enzimáticos com funções catalíticas opostas: a da hexocinase e glicose 6-fosfatase, a da fosfofructoquinase-1 e frutose 1,6-bifosfatase e a da piruvato quinase, piruvato carboxilase e fosfoenolpiruvato carboxiquinase. É óbvio que estas enzimas são reguladas de tal maneira que, quando as que fazem parte da glicólise estão ativas, as da gliconeogênese são inibidas e vice-versa, pois, se esse não fosse o caso, o ciclo de compostos fosforilados e desfosforilados levaria à hidrólise líquida de ATP não controlado. Embora seja o caso na maioria dos tecidos, no músculo, a fosfofructoquinase-1 e a frutose 1,6-bisfosfatase mantêm permanentemente uma pequena atividade, de modo que sempre há uma certa perda de substrato. Isso permite um aumento muito rápido da glicólise quando necessário para a contração muscular. Ciclo de glicose/ácidos graxos Os ácidos graxos não esterificados (AGNE) provêm prefe- rencialmente da lipólise dos triacilglicerídeos (TG) do tecido adi- poso, enquanto os corpos cetônicos são formados no fígado dos referidos ácidos graxos. Estes compostos circulam no sangue e atingem o músculo, ao passo que seu metabolismo levam a um aumento na concentração de acetil-CoA no interior das mitocôn- drias. Por meio do efeito inibitório da acetil-CoA na piruvato de- sidrogenase e ativador na piruvato carboxilase, este acúmulo de acetil-CoA facilita a canalização do piruvato em direção à formação de oxaloacetato, que juntamente com o referido acetil-CoA dá ori- gem à formação de citrato na primeira reação do ciclo do ácido cí- trico, por sua completa oxidação em CO2 e H2O. Contudo, a maior 17BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 formação de citrato pode facilitar sua saída para o citoplasma, causando a inibição da fosfofructoquinase-1 (PFK-1) e, portanto, a taxa de glicólise. A inibição da PFK-1 aumenta os níveis de frutose 6-fosfa- to e sua isomerização fica reversível a glicose-6-fosfato, resultan- do em uma inibição da hexoquinase, e, por sua vez, diminuindo a taxa de utilização de glicose por meio do tecido. Consequente- mente, quando há um aumento na disponibilidade de ácidos gra- xos e/ou corpos cetônicos, como jejum, após dieta gordurosa ou diabetes, o músculo esquelético tende a preservar o consumo de glicose. Por outro lado, quando ocorre um aumento na disponibi- lidade de glicose em condições normais, a produção de insulina no pâncreas aumenta. A insulina, além de facilitar a captação de glicose no nível GLUT4 e aumentar a atividade da glicólise, tem efeitos antilipolí- ticos no tecido adiposo, diminuindo, assim, os níveis circulantes dos corpos cetônicos e ácidos graxos. Tudo isso acaba tendo um aumento no uso de glicose pelos tecidos e, assim, consequente diminui a glicose no sangue. Sob estas condições de hipoglicemia, a produção de insulina do pâncreas diminui, o que aumenta no- vamente a lipólise e os níveis de ácidos graxos e corpos cetônicos no sangue, o que supõe o fechamento deste ciclo de regulação metabólica, embora não de interconversão. Metabolismo do glicogênio A glicose, principal combustível metabólico das células, é um metabólito essencial para tecidos como o cérebro e os eritrócitos, que têm um requisito absoluto de glicose como fonte de energia, responsável por aproximadamente 80% da glicose consumida diariamente. Para evitar a ocorrência de episódios de hipoglicemia, como ocorre em curtos períodos de jejum (entre 18 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 as refeições), eles armazenam glicose quando há excesso, como ocorre no estado pós-prandial. O glicogênio é o principal polissacarídeo de reserva de gli- cose em nosso corpo. É um polímero de peso molecular alto, mas variável, e composto de moléculas de D-glicose ligadas por O-glico- sídicas a (1 → 4), com numerosas ramificações para (1 → 6), apro- ximadamente a cada 8-14 resíduos de glicose. Este polissacarídeo é fácil e rapidamente hidrolisado, em situações em que a demanda por glicose excede a contribuição externa; também é rapidamente sintetizado após a ingestão de carboidratos. O glicogênio é armazenado no citoplasma celular, na for- ma de grânulos, que também contém todo o conjunto de enzi- mas necessárias para sua síntese e degradação, bem como, para a regulação de ambos os processos. Embora praticamente todos os tecidos do corpo humano possam conter glicogênio, os que o armazenam e usam são preferencialmente o fígado e os músculos esqueléticos. No entanto, em ambos os tecidos, o metabolismo do glicogênio mostra algumas diferenças em seus mecanismos de controle, bem como, no papel que o glicogênio desempenha no organismo. A função do glicogênio hepático é armazenar glicose, para que possa ser exportada para a corrente sanguínea e manter a concentração adequada de glicose no sangue, em situações como o jejum. Isso ocorre porque o fígado e, em menor grau, o intestino, são os únicos tecidos que podem não apenas contribuir direta- mente com a glicose para o sangue e, assim, facilitar seu uso pelo restante dos tecidos, mas também removê-lo da corrente sanguí- nea após alta ingestão de carboidratos, armazenando-o na forma de glicogênio. Portanto, o glicogênio hepático depende da inges- tão e é pouco afetado pelo exercício. 19BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 O glicogênio muscular, por outro lado, tem como principal função armazenar glicose para consumo próprio, no processo de contração muscular. A diferença do fígado para as células muscu- lares é que elas carecem de atividade da glicose-6-fosfatase (G6P), o que as impede de liberarem glicose para a circulação e exerce- rem um papel na manutenção da glicose no sangue. O glicogênio muscular, portanto, tem menos dependência da ingestão e é afe- tado principalmente pelo exercício. Nos dois tecidos, a quantidade de glicogênio que pode ser acumulada é limitada. O músculo em repouso acumula cerca de 1%, que é esgotado após exercícios intensos e prolongados(cerca de uma hora), enquanto no fígado, o glicogênio pode atingir até 6% do seu peso úmido, e ele termina após um período de jejum, que pode variar de 12 até 18 horas. O excesso de glicose, uma vez atingidos estes limites, torna-se gordura, a qual é armazenada em outros tecidos sem limites, até ser usada. As vias de síntese e degradação do glicogênio, chamadas, respectivamente, glicogênese e glicogenólise são integradas no conjunto de reações metabólicas da célula, por meio de um metabólito comum, a glicose 6-fosfato, que as relaciona a outras vias, como glicólise, gliconeogênese e a via da pentose fosfato. O glicogênio e a glicogenólise mantêm um controle eficaz, de modo que, quando a síntese de glicogênio é muito ativa, a degradação é relativamente inativa e vice-versa. Glicogênese A síntese de glicogênio é realizada a partir de moléculas de glicose 6-fosfato, formadas, anteriormente, a partir de glicose, que serão incorporadas a uma cadeia de glicogênio pré-existente. De fato, embora a taxa de degradação do glicogênio seja muito 20 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 alta, sua hidrólise nunca é total. Assim, núcleos muito ramificados, chamados dextrinas de fronteira, são sempre mantidos no teci- do, ao qual são adicionadas novas moléculas de glicose. Somente sob condições extremas que começa a síntese de glicogênio nova- mente, mas sempre a partir de um primer, chamado glicogenina. A glicogenina é um polipeptídeo de 332 aminoácidos, que é auto- glucosilado usando UDP-glicose para ligar a glicose a um de seus resíduos Tyr, servindo como núcleo para a síntese de glicogênio. A síntese de glicogênio ou gliconeogênese envolve a formação de ligações glicosídicas em (1 → 4), para a incorporação do novo resíduo de glicose no glicogênio pré-existente e em (1 → 6), para gerar ramificações na molécula. Glucogenólise A degradação do glicogênio ocorre quando o corpo necessita de glicose como substrato energético, como em situações de jejum, exercícios mais ou menos prolongados e intensos. Para que a glicose armazenada na forma de glicogênio seja usada por si ou por outros tecidos (glicogênio hepático), os resíduos de glicose devem ser mobilizados a partir do polissacarídeo existente. Existe uma coordenada e perfeita regulação para a sínte- se e degradação do glicogênio, de acordo com as necessidades do organismo. A regulação do metabolismo do glicogênio implica tan- to uma regulação alostérica, por meio de efetores intracelulares, quanto uma regulação por modificação covalente (fosforilação/des- fosforilação) das enzimas principais de ambas as vias. Ambos pro- cessos são controlados por sinais extracelulares, como hormônios. As principais enzimas envolvidas em tal regulação são: a glicogênio sintase e a glicogênio fosforilase, e ambas têm ambos os tipos de regulação, tanto alostéricos quanto modificados covalentemente. 21BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Controle do metabolismo hormonal de glicogênio O metabolismo do glicogênio é controlado por diferentes hormônios, dependendo do tecido. Assim, no fígado, é controlado principalmente por hormônios como insulina e glucagon, enquanto no músculo este controle é exercido por insulina e hormônios adrenais, como adrenalina e noradrenalina. Os hormônios agem por meio da ligação aos seus receptores correspondentes em diferentes tipos de células, aumentando dentro da célula os chamados segundos mensageiros, como o cAMP, sintetizado a partir de ATP, por meio da ação do adenilato ciclase e Ca2+, liberados a partir de reservatórios intracelulares para o citosol. Quando a estimulação hormonal aumenta, nos níveis AMPc ocorre uma ativação da proteína quinase A (PKA), levando ao aumento da velocidade das reações de fosforilação de muitas proteínas e diminuição taxa de desfosforilação. O fato de uma boa parte das enzimas envolvidas no metabolismo do glicogênio fos- forilados, supõe um aumento da degradação líquida de glicogênio, uma vez que a glicogênio fosforilase é ativa e a glicogênio sintase é inativa, tendo o efeito oposto no caso de diminuição dos níveis de AMPc. Nas células hepáticas, o glucagon, liberado pelo pâncreas em resposta a baixos níveis de glicose circulante (como o jejum), liga-se ao seu receptor, produzindo ativação e geração de adenila- to ciclase AMPc. Isso, por meio da ativação da PKA, causa a mobi- lização hepática de glicogênio, liberando glicose, que passa para a corrente sanguínea. O glucagon, portanto, é essencial para a fun- ção do fígado, de fornecer tecidos de glicose, especialmente para 22 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 aqueles que dependem dela como principal substrato energético. As células do fígado também respondem à adrenalina, liberada pelas glândulas suprarrenais em resposta ao estresse, que se liga aos receptores alfa e beta adrenérgicos. Os primeiros receptores causam um aumento na concentração intracelular de Ca2+, e os segundos são ativados, como o receptor de glucagon, adenilato ciclase, aumentando os níveis de AMPc, promovendo, assim, a de- gradação de glicogênio. As células musculares não respondem ao glucagon, já que eles não tem receptores específicos; porém, eles têm receptores beta-adrenérgicos, então, respondem à adrenalina, promovendo a degradação do glicogênio para obtenção de ATP por glicólise. Quando os níveis circulantes de glicose são altos, a insulina estimula a captação de glicose e, portanto, a síntese de glicogênio nas células musculares, enquanto o fígado responde diretamente ao referido aumento de glicose, sintetizando glicogênio. A insulina também promove diminuição dos níveis de AMPc acarretando na diminuição na fosforilação de enzimas e, portanto, um aumento na síntese de glicogênio. Via de pentose fosfato A via da pentose fosfato, ou a via da pentose, constitui uma via alternativa para a oxidação da glicose, embora não seja sua função principal. A principal diferença da via das pentoses em relação com outras vias metabólicas, é que as reações que ela compreende não possuem uma sequência única, mas podem ser ordenadas de diferentes maneiras, dependendo de órgãos ou situações fisiológicas. Portanto, o caminho das pentoses não é um caminho que leva a um único produto final, mas, graças a uma organização em ramos divergentes, possui grande flexibilidade metabólica. 23BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Globalmente, é um processo multicíclico, que pode ser resumido na transformação, em uma primeira fase – chamada de oxidativa – seis moléculas de glicose-6-fosfato em seis moléculas de CO2; e seis resíduos de cinco átomos de carbono, resíduos que, em uma segunda fase - chamada de não oxidativa – é reorganizada para regenerar quatro moléculas de glicose 6-fosfato e duas de gliceraldeído 3-fosfato, intermediário glicolítico. A via das pentoses é uma parte do metabolismo de carboidratos, que permite que a glicose seja ligada à síntese de pentoses (ribose, ribulose, etc.) e outros açúcares. O fato de ser uma rota altamente flexível oferece funções muito funcionais. É a principal via de síntese do NADPH + H+ citoplasmático, utilizada para processos biossintéticos. É a via de síntese de intermediários, pentoses fosfato, em particular, ribose 5-fosfato e desoxirribose, que são necessários para a biossíntese de nucleotídeos e seus derivados. Dada a reversibilidade de suas reações, é também a via de degradação da ribose e da desoxirribose. Permite a interconversão de tipos muito diferentes de monossacarídeos de diferentes números de carbono (3 a 8) e, portanto, pode entrar na via glicolítica ou derivar para outros destinos metabólicos. Características da VIA É conveniente destacar uma série de características da via metabólica, que lhe conferem peculiaridades, entre sua versatilidade: Não há compartimentação entre as reações da via e todas elas passam no citoplasma. Todas as enzimas envolvidas no caminhosão solúveis. A fase oxidativa é irreversível em condições fisiológicas, mas, ao contrário, na fase não oxidativa todas as 24 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 enzimas catalisam reações reversíveis sob condições celulares, com exceção da frutose 1,6-bisfosfatase, cuja reação pode ser revertida por outra enzima, a fosfofructoquinase-1. As enzimas envolvidas no caminho não são todas exclusivas para esta rota. A rota das pentoses é uma estrada aberta. A imagem a seguir apresenta os mecanismos que ocorrem na via das pentoses fosfato. Imagem 4.1 – Via das pentoses fosfato Via das pentoses fosfato Fase não-oxidativa Fase oxidativa Glicose 6-fosfato 6-Fosfogliconato Ribulose 5-fosfato CO2 Nucleotídios, coenzimas, DNA, RNA transcetolase transaldolase biossíntese redutora glutationa redutase Precursores Ácidos graxos, esteróis etc. 2 GSH GSSG Ribose 5-fosfato NADPH NADP+ NADP+ NADPH Fonte: UFSC ([s.d.], on-line). RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido como funciona a gliconeogênese e síntese de glicogênio. 25BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Metabolismo dos lipídios OBJETIVO Ao término desse capítulo, você será capaz de en- tender como ocorre todo o mecanismo do meta- bolismo dos lipídios e seus processos regulatórios. Isso será fundamental para o exercício de sua pro- fissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! Oxidação de ácidos graxos e cetogênese A oxidação beta dos ácidos graxos é a principal via de catabolismo (degradação/síntese) dos ácidos graxos, e unidades de dois átomos de carbono na forma de acetil-CoA são liberadas sequencialmente, a partir do terminal carboxílico. A acetil-CoA também é o substrato inicial para a biossínte- se de ácidos graxos, mas, ambas as vias não são simplesmente in- versas uma da outra, uma vez que ocorrem mesmo em diferentes compartimentos dentro da célula: a beta oxidação ocorre dentro da célula, nas mitocôndrias ou peroxissomos, enquanto a bios- síntese é completamente citosólica. Ambas as vias usam enzimas diferentes e são controladas independentemente, embora dentro do mesmo tecido: quando uma é ativada, a outra é inibida. Cada etapa da oxidação dos ácidos graxos envolve a participação de derivados acil-CoA, que é catalisada por enzimas que usam NAD+ ou FAD como coenzimas, dando origem às suas formas reduzidas NADH + H+ ou FADH2. O Acetil-CoA, formado como o produto final da β-oxidação nas mitocôndrias, normalmente é oxidado por meio do ciclo do ácido cítrico, que, juntamente com a redução das coenzimas 26 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 mencionadas, implica em um importante potencial redutor que, quando reoxidado na cadeia respiratória, é utilizado para a síntese de ATP, o que significa alta eficiência energética para a célula. Portanto, a oxidação β dos ácidos graxos é um processo aeróbico, que requer a presença de oxigênio como aceitador final de elétrons derivados do referido potencial. Embora a oxidação beta ocorra nos diferentes tecidos do organismo, ela é especialmente ativa no fígado, nas condições em que a atividade é alta e as moléculas de acetil-CoA formadas excedem as possibilidades de entrada no ciclo de Krebs, como acontece com o estômago vazio ou em casos de diabetes, é derivado para a síntese de corpos cetônicos. Este processo é chamado cetogênese, que, diferentemente da oxidação beta, ocorre apenas no fígado. Oxidação de ácidos graxos nas mitocôndrias Ativação de ácidos graxos e entrada nas mitocôndrias Os ácidos graxos não esterificados (NEFA, também chamados ácidos graxos livres ou AGL) que circulam no plasma sanguíneo, associados com uma proteína, a albumina, entram nas células por meio de transportadores de membrana celular. São conhecidos vários destes transportadores, que diferem entre si nos pesos moleculares, em suas modificações pós-transicionais e até em sua distribuição tecidual. No ambiente intracelular, os ácidos graxos se ligam a uma proteína, chamada de proteína que se liga a ácidos graxos (FABP, proteína de ligação a ácidos graxos). Dentro da célula, os ácidos graxos precisam entrar em sua forma ativa, unindo a coenzima A 27BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 em uma reação que requer ATP, catalisada pela acil-CoA sintetase (também chamada FACS ou tioquinase). O pirofosfato (PPi) é, subsequentemente, hidrolisado em fosfato inorgânico pela ação de uma pirofosfatase. Dessa maneira, a reação catalisada pela acil-CoA sintetase acaba sendo praticamente irreversível. A acil-CoA sintetase é encontrada no retículo endoplasmático, nos peroxissomos e nas membranas interna e externa das mitocôndrias. O acil-CoA deve entrar nas mitocôndrias, onde ocorre a beta oxidação. Embora possam entrar no espaço intermembranar das mitocôndrias, eles não possuem um sistema de transporte que lhes permite atravessar a membrana interna das mitocôndrias. A entrada é alcançada juntando-se à carnitina (b-hidroxi-g-trimetilamino butirato) pela acil-carnitina transferase-I, também conhecida como carnitina palmitoil (acil) transferase-I (CPT-I), encontrada na membrana externa das mitocôndrias, onde catalisa a reação apresentada na imagem a seguir. Imagem 4.2 – Metabolismo oxidação dos lipídios I II I II citosol VDAC porina Acil-CoA espacio intermembrana Acil-CoA matriz mitocondrialna CARNITINA Acil-CoA ACIL- CARNITINA CARNITINA CoA CoA ACIL- CARNITINA CARNITINA membrana mitocondrial externa CARNITINA PALMITOIL- TRANSFERASA I (CPT1) CARNITINA PALMITOIL- TRANSFERASA II (CPT2) SLC25A20 Translocasa de carnitina / acilcarnitina membrana mitocondrial interna β-OXIDACIÓN + + + + + + + + + + + - - - - - - - Fonte: Macedo ([s.d.], on-line). 28 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A carnitina é encontrada em diferentes tecidos, onde é sintetizada, embora seja especialmente abundante no músculo. A acil-carnitina, por meio de um sistema de translocação com carnitina livre, com a carnitina acilcarnitina translocasa (CAT), atravessa a membrana interna da mitocôndria, trocando com carnitina livre. Aqui, pela carnitina palmitoil (acil) transferase II (CPT-II), localizada na membrana interna das mitocôndrias, a acilcarnitina é transformada em acil-CoA, com liberação de carnitina, que retorna ao espaço intermembranar com o CAT, para iniciar o ciclo novamente. β-Oxidação mitocondrial dos ácidos graxos com número par ímpar de carbonos, dentro das mitocôndrias A oxidação beta de um ácido graxo na forma de acil-CoA, dentro da mitocôndria ocorre dois por dois átomos de carbono, entre as posições 2 e 3 da sua cadeia (carbonos a e b), até que formação de acetil-CoA, por meio da ação catalítica de várias enzimas, juntas, chamadas de ácidos graxos oxidase. Estas enzimas são bem encontradas na matriz das mitocôndrias ou em sua membrana interna, estando próximo à cadeia respiratória e fosforilação oxidativa, com as quais eles se envolvem na formação de ATP. 29BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Imagem 4.3 – Beta oxidação dos lipídios Em cada passagem por esta sequência de quatro etapas, um resíduo acetil (caixa vermelha) é removido na forma de acetil-CoA a partir da extremidade da carboxila Neste exemplo palmitato (C16), que entra como palmitoil-CoA. Fonte: Lima (2012, on-line). Na imagem 4.3, todos são mostradas, esquematicamente, as etapas do processo, que começa com uma oxidação envolvendo a eliminação de dois átomos de hidrogênio nas posições 2 e 3 do acil-CoA. Esta reação é catalisada pela a acil-CoA desidrogenase, e nela participa o FAD, que passa à sua forma reduzida (FADH2), com a formação de Δ2-transenoilacil- CoA Por meio da intervençãode uma flavoproteína chamada flavoproteína de transferência eletrônica. O FADH2 é reoxidado na cadeia respiratória. Por sua vez, no próximo passo, ocorre a incorporação de uma molécula de água pela ação da Δ2-enoil-CoA hidratase, com a formação de L (+) - 3-hidroxiacil-CoA. Na última etapa, ocorre a quebra da cadeia de hidrocarbonetos de ácidos graxos na ligação dos carbonos 2 e 3, com a incorporação de uma coenzima A e a ação catalítica 30 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 da tiolase. Nesta reação, forma um acetil-CoA e um acil-CoA com dois átomos de carbono menores que o acil-CoA inicial. O acil- CoA formado retorna a iniciar o processo, para que, por esta via, qualquer ácido graxo com número par de átomos de carbono seja completamente degradado em moléculas de acetil-CoA. A entrada deste acetil-CoA no ciclo do ácido cítrico causa a oxidação completa do ácido graxo na formação de CO2 e água. A oxidação de ácidos graxos com número ímpar de átomos de carbono também é realizada dentro das mitocôndrias, em que eles entraram em um processo igual ao descrito anteriormente. Da mesma forma, a oxidação desses ácidos graxos ocorre como para ácidos graxos com número par de átomos de carbono, liberando moléculas de acetil-CoA até formar um resíduo de três átomos de carbono, propionil-CoA. Este composto é o mesmo que o formado a partir do propionato, e seu metabolismo produz succinil- CoA, que já faz parte do ciclo do ácido cítrico. O succinil-CoA dá origem ao oxaloacetato, que pode deixar as mitocôndrias por vias alternativas e, no citosol, pode levar à glicose. Consequentemente, o propionil-CoA, derivado da beta oxidação de ácidos graxos e com um número ímpar de átomos de carbono é a única parte destes ácidos graxos que pode se tornar glicose. β-Oxidação de ácidos graxos insaturados Os ácidos graxos insaturados são tão abundantes ou mais que os saturados nos lipídios da dieta e nos próprios tecidos dos animais. Portanto, eles contribuem de maneira ativa e importante para o metabolismo do indivíduo. A oxidação b da acil-CoA dos ácidos graxos insaturados é realizada da mesma maneira que os saturados, até atingir um Δ3-cis-enoil-CoA ou um Δ4-cis- enoil-CoA, 31BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 dependendo da a posição das ligações duplas, que continua a β-oxidação até a formação de acetil-CoA. Corpos cetônicos Os corpos cetônicos, também chamados cetonas, são aceto e beta-hidroxibutirato). Estes dois compostos são interconversíveis pela ação da 3-hidroxibutirato desidrogenase intramitocondrial. Além disso, o acetoacetato pode perder espontaneamente seu grupo carboxil, transformando-o em acetona, que também é considerada um corpo cetônico. Assim, os corpos cetônicos são um veículo para transfe- rência de carbonos oxidáveis, obtidos por meio de Acetil CoA, do fígado para outros órgãos. Em situações normais, somente uma pequena quantidade de Acetil CoA é convertida em corpos cetônicos no fígado, visto que os seus destinos metabólicos prin- cipais são a oxidação (pelo ciclo do ácido cítrico e a cadeia trans- portadora de elétrons) ou o consumo pela síntese de lipídios. A decisão ente os dois caminhos depende das necessidades fisio- lógicas do organismo. A produção de corpos cetônicos é anormalmente elevada, quando a degradação de triglicerídeos não é acompanhada pela degradação ou quebra de carboidratos. Para oxidação eficiente de Acetil CoA pelo ciclo de Krebs, ocorre a necessidade de níveis compatíveis de oxaloacetato, para a reação de condensação que inicia o ciclo. Ainda mais quando não há oferta de glicose, o organismo faz uso da gliconeogênese, que consome oxaloacetato obtido pelos aminoácidos, principalmente. A oxidação de Acetil CoA pelo ciclo de Krebs fica, nesse sentido, impedida. Este impedimento leva a condensação do Acetil CoA, formando os corpos cetônicos. É o que ocorre quando há redução drástica da ingestão de carboidratos (jejum ou dieta) ou distúrbios no metabolismo 32 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 (diabetes). Quando a produção ultrapassa o aproveitamento pelos tecidos extra-hepáticos, estabelece-se a condição chamada de cetose, caracterizada por uma elevada concentração de corpos cetônicos no plasma (cetonemia) e na urina (cetonúria). Indivíduos com cetose apresentam hálito com odor de acetona. A cetonemia reduz o pH sanguíneo, acarretado em acidose. Em casos de cetose acentuada, o cérebro obtém uma parte considerável da energia, que necessita pela oxidação dos corpos cetônicos. Síntese de lipídios A síntese de ácidos graxos sempre começa com acetil-CoA e gera vários produtos finais. É, portanto, um processo divergente, cujo tronco inicial é a lipogênese, que forma ácido palmítico (C16), a partir de acetil-CoA (C2). A partir do ácido palmítico, os outros são sintetizados por alongamento (alongamento da cadeia em unidades de 2 C) e/ou dessaturação (processo de oxidação que envolve a introdução de ligações duplas C = C). Desta forma, os diferentes ácidos graxos que cada espécie pode sintetizar são gerados. Os ácidos graxos essenciais não podem ser sintetizados e são obtidos pela dieta. No entanto, é possível modificar os ácidos graxos essenciais por alongamento e dessaturação. Um exemplo disso é o caso do ácido araquidônico, que é escasso na dieta. A síntese de ácidos graxos não envolve apenas processos metabólicos diferentes, mas também requer a participação de vários compartimentos citoplasmáticos. Enquanto a lipogênese é realizada no citosol, o alongamento pode ocorrer nas mitocôndrias e no retículo endoplasmático, e a dessaturação é realizada apenas no retículo endoplasmático. Por sua vez, nem todas as células do corpo têm a capacidade de sintetizar ácidos graxos e, a maior capacidade lipogênica está no fígado e no tecido adiposo. As glândulas mamárias têm alta capacidade de sintetizar ácidos graxos durante a gravidez e, principalmente, durante a amamentação. Do 33BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 ponto de vista de todo o organismo, além do fígado, do tecido adiposo e das glândulas mamárias, também podemos sintetizar ácidos graxos em outros locais que a lipogênese é muito ativa, mas pouco contribui para a síntese geral de ácidos graxos. A lipogênese é uma via citosólica, que utiliza como substra- to acetil-CoA gerado nas mitocôndrias. A transferência de acetilas da mitocôndria para o citosol supõe um gasto energético adicio- nal ao próprio lipogênese. Sua primeira reação é a carboxilação acetil-CoA, que gera uma molécula de malonil- CoA, cuja descar- boxilação subsequente libera energia, a qual necessária para con- densação e, portanto, para o crescimento de acila no processo de lipogênese. Condensação de unidades de dois átomos de carbono e todos os processos de redução, que levam à síntese de ácido palmítico de um primer acetil-CoA e 7 malonil-CoA, os quais ocor- rem pela ação de uma única enzima multifuncional, ácido graxo sintase. A síntese de ácidos graxos ocorre principalmente no fíga- do e/ou tecido adiposo (dependendo das espécies) e também nas glândulas mamárias de fêmeas em lactação. A regulamentação desta rota é intimamente ligada ao estado nutricional e, por isto, a insulina é o hormônio ativador mais importante. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido como se processa o metabolismo dos lipídios. 34 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Metabolismo das proteínas OBJETIVO Ao término desse capítulo, você será capaz de entender como ocorre todo o mecanismo do me- tabolismo das proteínas e seus processos regula- tórios. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Catabolismodos aminoácidos Alguns aminoácidos servem para produzir moléculas ati- vas, como hormônios e neurotransmissores; outros são usados diretamente para sintetizar proteínas novas. Tendo cumprido es- tas finalidades, os aminoácidos excedentes não são armazenados como tal, nem como proteínas de reserva. Isso faz uma diferença notável em relação aos carboidratos e lipídios, dos quais existem depósitos importantes em alguns tecidos (glicogênio e triglicerí- deos). Além disso, os aminoácidos nem podem ser excretados. Consequentemente, os aminoácidos degradados em excesso ge- ram energia metabólica, contribuindo com 10-15% do total produ- zido pelo organismo; de fato, em algumas condições, com o jejum prolongado, esta proporção aumenta. Além de tudo isso, uma par- te da cadeia de carbono pode ser um precursor da glicose e/ou corpos cetônicos. O destino e o metabolismo do grupo R-amino e cadeia de carbono são muito diferentes, além de ter significados diferentes para o organismo. Destino do grupo amino A primeira reação que os aminoácidos sofrem no seu ca- tabolismo consiste na separação do seu grupo amino. Em termos quantitativos, isso ocorre principalmente no fígado, onde os ami- noácidos liberados nos tecidos diferentes. Há uma boa razão para 35BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 isso: quando o grupo amino é separado do aminoácido, conver- tido transitoriamente em amônio. Esta é uma espécie neurotóxi- ca, que somente o fígado pode efetivamente se transformar em ureia, substância não tóxica que é excretada na urina. No geral, a perda do grupo a-amino ocorre por reações de transaminação, que o transferem do aminoácido para um 2-oxoá- cido; então, o aminoácido do doador é converte em seu 2-oxoá- cido, enquanto o aceitador de 2-oxoácido torna-se o aminoácido correspondente. Estas são reações reversíveis catalisadas por aminotrans- ferases (ou comumente transaminases), enzimas cujo cofator é o fosfato de piridoxal, um derivado da vitamina B6. Embora existam transaminases específicas para quase todos os aminoácidos, na maioria dos casos, o aceitador do grupo amino é 2-oxoglutarato, que é convertido em glutamato. Portanto, o 2-oxoglutarato é o principal aceitador de os grupos amino que se separam dos aminoácidos. Uma vez formado, o glutamato é transferido para as mitocôndrias. Há transaminases no citosol e nas mitocôndrias, mas são mais ativas no primeiro, então, a maioria das transaminações ocorrem no citosol. Importante destacar, que há uma exceção importante: o oxaloacetato, que é um oxoácido intermediário do ciclo do ácido cítrico, recebe o grupo amino glutamato essencialmente nas mitocôndrias, tornando-se em aspartato; a reação é catalisada pela aspartato aminotransferase (AST). Aproximadamente metade do glutamato transferido nas mitocôndrias, perde o grupo amino, transferindo-o para o oxaloacetato que, como indicado, se torna aspartato. A outra parte das experiências ocorre com glutamato mitocondrial em um processo diferente. Seu grupo amino se separa por meio de 36 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 uma reação conhecida como desaminação oxidativa. O grupo amino é diretamente derivado como amônio, sendo regenerado a 2-oxoglutarato (que pode ser exportado para o citosol participar de novas transaminações). A Glutamato desidrogenase (GDH) catalisa este processo, uma enzima da matriz mitocondrial que utiliza os cofatores NAD+ ou NADP+ alternadamente. O GDH é regulado alostericamente, por vários efetores, que adaptam a atividade dessa enzima ao conteúdo energia quanto à disponibilidade de aminoácidos pela célula. Assim, quando o conteúdo energético é alto, o GTP atua como um modulador negativo, inibindo o GDH. Contrariamente, com a diminuição da energia diminuir, o ADP aumenta, funcionando como um ativador. Leucina, um aminoácido que é abundante após uma alta ingestão de proteínas, aumenta a atividade do GDH, favorecendo o catabolismo dos muitos aminoácidos fornecidos por este tipo de dieta. A reação de desaminação oxidativa no fígado é essencialmente deslocado para a liberação de amônia, porque se converte rapidamente em ureia. Ciclo de ureia A síntese de ureia ocorre por meio de um conjunto de rea- ções que formam um ciclo metabólico. A maioria das enzimas en- volvidas no ciclo, são expressas tanto no fígado quanto nos tecidos extra-hepáticos; neste último, as enzimas desempenham funções diferentes da ureogênese, por exemplo, a síntese de arginina. O ciclo completo da ureia ocorre quase que exclusivamente no fíga- do, desde que uma das enzimas necessárias, arginase, é expressa apenas de uma maneira notável nos hepatócitos, especialmente nos periportais. Parte da ureogênese ocorre nas mitocôndrias e no citosol. A primeira reação não pertence adequadamente ao ciclo da ureia, 37BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 mas é um processo crucial, pois origina o substrato que inicia e, além disso, constitui uma etapa fundamental para sua regulamen- tação. Nesta reação, que ocorre na matriz mitocondrial, é incor- porada ao processo que um dos nitrogênios que a ureia contém, de amônia da desaminação oxidativa (isto é, da ação de GDH em glutamato; imagem 4.4) O íon amônio (NH4+) reage com CO2 (hi- dratado como bicarbonato, HCO3-) do metabolismo oxidativo ou descarboxilação de aminoácidos, que é a espécie que fornece o carbono que contém ureia. Esta reação é catalisada por fosfato de carbamoílo e sintetase I (CPS-I), que formam fosfato de carba- moil. Duas moléculas de ATP participam da reação, uma para ati- var o bicarbonato e outra para fornecer o resíduo de fosfato de carbamoílo, passando por um estágio formação intermediária de carbamato após ligação de NH4+. Ao final, a ureia produzida se es- palha para o sangue e atinge os rins para ser excretado. Imagem 4.4 – Ciclo da ureia Fonte: Lima (2012, on-line). 38 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Catabolismo da cadeia carbonada Cerca de 400g de proteínas são renovadas diariamente; e, portanto, degradadas, porém, a mesma quantidade está sendo produzida, garantindo uma certa estabilidade na quantidade total de proteínas no organismo. Esta taxa de renovação, denominada de taxa de turnover, implica na necessidade da obtenção de ami- noácidos essenciais na dieta, além da síntese dos não-essenciais. Apenas 11 aminoácidos são sintetizados no organismo, porém, a arginina é totalmente consumida no ciclo da ureia, tor- nando-a indispensável na dieta; a cisteína e a tirosina são sinte- tizadas a partir da metionina e fenilalanina (aminoácidos essen- ciais). Assim, apenas 9 são verdadeiramente independentes da alimentação. Entretanto, uma alimentação completa apresenta uma grande quantidade de aminoácidos, sejam essenciais ou não, favorecendo a uma absorção de aminoácidos sempre acima das necessidades diárias. O catabolismo dos aminoácidos é intenso após uma re- feição proteica, permitindo a formação de grande quantidade de ureia, resultado da degradação do grupamento amino, como visto anteriormente. O cetoácido, resultado das reações de transaminação e desaminação, possuem diversos destinos metabólicos, que po- dem ser reunidos em dois grandes grupos: 1) os cetogênicos; e 2) os glicogênicos. O primeiro grupo (os cetogênicos) corresponde aos que são degradados em acetil-CoA (de forma direta ou indi- reta, na forma de acetoacetil-CoA) e fornecem energia de forma imediata no ciclo de Krebs. Sendo: fenilalanina, tirosina, triptofano, lisina, isoleucina, treonina e leucina. 39BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 A acetil-CoA, produzida pelos aminoácidos cetogênicos, não pode ser convertida em glicose, o que induz a entrada obriga- tória no Ciclo de Krebs para a produção de energia. Portanto, um excesso de catabolismo destes aminoácidos levará ao desvio para a produção de ácidos graxos, colesterol e corpos cetônicos, de ma- neira idêntica, com exceção de acetil-CoA, oriundodo catabolismo de carboidratos e lipídios. Os demais fornecem intermediários do ciclo de Krebs (oxalacetato, fumarato, succcinil-CoA e αcetoglutara- to), bem como o piruvato. Alguns aminoácidos cetogênicos (fenilalanina, tirosina, triptofano, isoleucina e teronina), podem ser utilizados como subs- tratos para a gliconeogênese, além de produzir acetil-CoA, sendo chamados, portanto, de glicocetogênicos. Síntese de aminoácidos O glutamato, a glutamina e a prolina são sintetizados a partir do α-cetoglutarato. O aspartato é sintetizado a partir do oxalacetato (recebendo o grupo amino do glutamato). A asparagina é sintetizada a partir do aspartato, e o grupo amino provém da glutamina. A alanina é oriunda da transaminação do piruvato e glutamato. A serina é sintetizada a partir do gliceraldeído-3- fosfato, ao passo que a glicina e a cisteína derivam da serina. A arginina é utilizada durante o ciclo da ureia. A tirosina origina-se a partir da hidroxilação da fenilalanina. 40 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre o modus operandi do metabolismo das proteínas. 41BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Metabolismo mineral OBJETIVO Ao término desse capítulo, você será capaz de entender como ocorre todo o mecanismo do me- tabolismo mineral e seus processos regulatórios. Isso será fundamental para o exercício de sua pro- fissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! Os principais minerais constituem 60 a 80% de todo o ma- terial inorgânico do corpo, sendo eles: cálcio (Ca2+), fósforo (P), magnésio (Mg2), sódio (Na+), cloro (Cl-), potássio (K+), enxofre e lí- tio. Os oligoelementos estão presentes em quantidades de mg/g, sendo eles: ferro, cobalto, cobre, cromo, flúor, manganês, molib- dênio, silício e zinco. Foi sugerido que elementos traços (arsênico, boro, níquel, silício e vanádio) são essenciais para o ser humano, embora sua importância nutricional não tenha sido claramente estabelecida. Cálcio A maioria dos elementos minerais são fornecidos em qual- quer dieta mista. Leite e produtos lácteos são as principais fontes de cálcio. A maioria dos vegetais é rica em cálcio, mas a presença de certos compostos (ácidos fítico e oxálico), os faz formar sais de cálcio insolúveis, que impedem sua absorção. Também, um exces- so de magnésio na dieta diminui a absorção de cálcio. Águas ricas em cálcio (águas duras) constituem uma importante contribuição deste mineral. As necessidades diárias de cálcio são estimadas en- tre 1.000 e 1.500 mg, dependendo da idade e de outros fatores, como gravidez, lactação, etc. O mecanismo mais importante para a absorção de Ca2+ no intestino é pelo transporte ativo. Três etapas estão envolvidas 42 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 neste processo: absorção de Ca2+ do lúmen intestinal, transporte transcelular e saída de Ca2+ por meio da membrana basolateral. A entrada de Ca2+ no enterócito é favorecida pelo gradiente de concentração entre o lúmen intestinal, o citosol e o gradiente elétrico, presente em ambos os lados da membrana. Quando o Ca2+ atinge o compartimento intracelular, a difusão citosólica é fa- cilitada pelas proteínas. Essas proteínas se ligam ao Ca2+ e, assim, mantêm uma baixa concentração de Ca2+ no nível do citoplasma, mantendo seu gradiente favorável entre o lúmen intestinal e o en- terócito. Finalmente, na superfície basolateral, a saída de Ca2+ é facilitada por uma ATPase, transportadora de AT2 dependente de ATP) e por uma bomba. O primeiro deles é o mais importante no intestino; o segundo, no rim. No intestino delgado, existem recep- tores de vitamina D, o que aumenta a absorção de Ca2. O transporte paracelular ocorre por meio de junções es- treitas entre as células, facilitado por várias proteínas. Quando o cálcio entra no citosol a partir da célula externa ou pela liberação de organelas intracelulares, liga-se reversivelmente às proteínas fixadoras de cálcio, ao passo que modulam a ação de outras pro- teínas ou enzimas. Entre as funções do cálcio no nível celular, seu papel no crescimento e na divisão celular, contração muscular, estabiliza- ção, excitabilidade e permeabilidade da membrana plasmática, expressão gênica, neurotransmissão, regulação enzimática, secre- ção e ação endócrina e exócrina dos hormônios, bem como, no transporte de íons por meio da membrana. Finalmente, o cálcio extracelular é essencial na mineralização óssea e dentária, na coa- gulação sanguínea (é um cofator dos fatores de coagulação VII, IX e X) e no reconhecimento e adesão celular. A urina excreta cerca de 1% (200 mg) de cálcio, que é igual à quantidade líquida absorvida diariamente no trato digestivo. A 43BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 maioria do cálcio removido pelas fezes corresponde ao cálcio não absorvido (300-600 mg/dia); o restante, ao cálcio excretado no lú- men intestinal. Finalmente, entre 20 e 350mg de cálcio são perdi- dos diariamente pelo suor. Fósforo O fósforo é normalmente encontrado em tecidos animais e vegetais apenas na forma de radicais fosfato, mas nunca como fosfito, fósforo elementar ou outra forma. Os termos fósforo e fosfato são frequentemente usados de forma intercambiável; porém, o termo fosfato (Pi), na verdade, indica a forma inorgânica, disponível gratuitamente. As principais fontes de fósforo são: leite, laticínios, ovos, peixe e carne. Entre os vegetais, feijão, cenoura, trigo, ervilha, batata e banana são ricos neste elemento. A ingestão diária recomendada de fósforo é de 800mg/dia. Sob condições normais, é alcançada uma absorção de 80 a 90% do fósforo ingerido. A fosfatase alcalina do intestino degrada os ésteres de fosfato da dieta. O fósforo é absorvido no intestino delgado, predominantemente no jejuno, por processos transcelu- lares e paracelulares. O primeiro processo é ativo e direcionado pelo gradiente eletroquímico de Na+, uma vez que o fosfato carre- gado negativamente não tende a entrar nas células, dada a carga negativa presente na face interna da membrana celular. O fosfato deixa o enterócito por meio de sua membrana basolateral, por um mecanismo passivo, em favor de seu gradiente elétrico e de concentração. A via paracelular, na absorção de fósforo no intestino, depende da concentração de fósforo presente no lúmen intestinal. Qualquer que seja o processo, transcelular ou paracelular, Pi entra no espaço do líquido extracelular e da circulação sanguínea; e dali, para os tecidos. 44 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 O ânion Pi é o intracelular mais abundante. A concentração de fosfatos nos compartimentos intracelulares é alta. O transporte de Pi realizado pelas membranas é conduzido por mecanismos de transporte ativo dependentes de Na+. Cerca de 80% do fosfato corporal é combinado com cálcio, como hidroxiapatita no esqueleto. O fosfato restante está presente em muitos compostos orgânicos, como ésteres de fosfato e anidrido, como ácidos nucleicos, nucleotídeos (particularmente ATP), fosfolipídios de membrana e metabolitos de açúcar e fosfato. O fosfato inorgânico é um substrato na fosforilação oxida- tiva, na degradação do glicogênio, na formação de 2,3-bisfosfogli- cerato, que facilita a liberação de O2 da hemoglobina e na conver- são de nucleotídeos em base livre. O fosfato também é necessário em quase todos os processos enzimáticos e na regulação de mui- tas proteínas; o tampão fosfato é o principal tampão intracelular e urinário. No plasma, o Pi não ligado às proteínas plasmáticas é fil- trado por meio dos capilares glomerulares do rim. Os rins mantêm constante o equilíbrio total de Pi no corpo, por meio da excreção de uma quantidade de Pi na urina, igualà quantidade de Pi que é absorvida pelo trato gastrointestinal. Assim, a excreção renal de Pi é o principal mecanismo pelo qual o corpo regula seu equilíbrio. Nas fezes, é excretada uma quantidade mínima de fosfato, o que representa mais o fosfato não absorvido do que o secretado pelo trato gastrointestinal. Magnésio O Mg2+ é encontrado principalmente em cereais integrais, nozes, legumes, carne, frutos do mar, derivados de cacau e leite (4 e 12mg de Mg2+/100ml no leite humano e de vaca, respectivamente). 45BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 Existe uma relação inversa entre a absorção de Mg2+ e seu conteúdo na dieta, atingindo 65% do total ingerido, se o conteúdo for baixo e apenas 10% se for alto. A absorção de Mg2+ ocorre no intestino delgado, por mecanismos muito semelhantes aos do Ca2+. O magnésio também é absorvido pela via paracelular, direcionada por seu gradiente eletroquímico, mais perceptível quando o conteúdo de Mg2+ nos alimentos é alto. O Ca2+ afeta a absorção de Mg2+, talvez, competindo com o seu local de captação. O Mg2+ é crucial para a função de enzimas importantes, in- cluindo as da transferência do grupo fosfato. Além disso, o Mg2+ participa da síntese de proteínas, síntese e estabilidade de ácidos nucléicos e excitabilidade neuromuscular. Por seu papel em ou- tros sistemas de transporte de íons, o Mg2+ afeta na condução do impulso nervoso, na contração muscular e no ritmo cardíaco nor- mal. O Mg2+ é necessário para a síntese de ATP nas mitocôndrias, formando um complexo com ATP (MgATP). A sinalização celular requer o complexo Mg2+ATP para fosforilação de proteínas e sínte- se de cAMP, envolvido em muitos processos bioquímicos. O rim é o principal órgão responsável por manter a concentração plasmática de Mg2+dentro dos limites normais. A maior parte do magnésio sérico que vaza para o glomérulo é reabsorvido, e apenas cerca de 3-5% é excretado na urina. Sódio O Na+ é normalmente ingerido em alimentos como sal comum (NaCl) e, portanto, está sujeito a grandes flutuações. Muitos dos alimentos e das bebidas industrializadas que sofrem processamento, contêm quantidades consideráveis de Na+. Uma fonte, muitas vezes esquecida, de Na+ é o bicarbonato de sódio. Os enterócitos, como o restante das células intactas, man- têm um importante gradiente eletroquímico de Na+, por meio da 46 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 membrana plasmática, graças à ação da Na+/K+ -ATPase, de modo que o Na+ tende a entrar em favor de seu gradiente eletroquímico. Outros transportadores, localizados na membrana da borda da es- cova das células epiteliais também participam da absorção de Na+ no intestino delgado. Células epiteliais da seção inferior do intestino grosso têm um canal luminal de Na+, que permite uma entrada de- sacoplada de Na+ em favor de seu gradiente eletroquímico. O intestino delgado absorve a maior parte do NaCl da dieta e das secreções das glândulas exócrinas após cada refeição, enquanto o intestino grosso participa regulação fina da retenção de NaCl, de acordo com o balanço eletrólito global do organismo. Grande parte das células epiteliais do trato gastrointesti- nal têm a capacidade de secretar líquidos e eletrólitos. Os íons secretados mais importantes são Na+e Cl-. Há um movimento de NaCl, do lado capilar para o lúmen intestinal. O modelo de secre- ção epitelial de NaCl ocorre por meio de o acoplamento elétrico da secreção Cl, junto com a membrana plasmática luminal e os movimentos de Na+, seguindo a via paracelular. A secreção de Cl depende da captação acoplada de íons Cl com Na+ e K+, por meio de um cotransportador específico (Na+ / K+ / 2Cl-), localizado na membrana plasmática e nos canais de cloro específicos, localiza- dos na membrana luminal O Na+ é o principal cátion do líquido extracelular e intervém, entre outros, nas seguintes funções: balanço ácido- base; excitabilidade celular; fluxos de solutos transmembranares; pressão osmótica; volume extracelular. Potássio O K+ está presente nos alimentos, tanto de origem animal quanto vegetal. Carne e leite são fontes adequadas de K+. Além disso, a maioria das frutas, tomates e vegetais de folhas verdes são 47BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 fontes excepcionais de K+. A ingestão diária de K+ varia entre 50 e 150mmol. A maior parte do K+ ingerido é absorvido no intestino delgado. A maior parte do K+ do organismo (três quartos do total) está localizada no tecido muscular. As funções do potássio são essenciais para certas funções celulares, incluindo a regulação do volume e pH celular, a síntese de DNA e das proteínas, crescimento, potencial de repouso da membrana e atividade neuromuscular e cardíaca. Ferro É um elemento que, devido sua baixa concentração, faz parte do grupo de oligoelementos do organismo. No entanto, ele executa funções importantes, para que possa ser considerado es- sencial. Nos alimentos, há o ferro heme (10%) e o ferro não heme (90% iônico). O ferro heme é encontrado principalmente em car- nes, aves e peixes. Já cereais, frutas, legumes, nozes, pães e legu- mes contêm principalmente ferro não-heme (Fe3+). Aproximada- mente 20 até 30% do ferro heme é absorvível, enquanto apenas 3% do ferro não heme é absorvido. Quase todo ferro dietético é absorvido no duodeno atra- vés dos seguintes mecanismos. O ferro não-heme da dieta exis- te principalmente na forma oxidada (Fe3+), que deve ser reduzida para Fe2+ pela enzima redutase férrica. Em seguida, o Fe2+(heme) é transportado através da membrana do enterócito por um trans- portador dependente de energia chamado de proteína transpor- tadora de metal divalente 1 (DMT-1) para também transportar ou- tros íons de metal divalente. O ferro heme é provavelmente transportado nos enteró- citos, por uma proteína transportadora de heme (HCP1), a qual é de uma membrana receptora heme. Ela pode ser encontrada no intestino proximal, onde a absorção do ferro heme é maior. Uma 48 BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 vez ingressado no ferro heme para HCP1, o complexo é internali- zado por um processo chamado endocitose, mediado por recep- tor, e, finalmente exportado para a circulação. Embora o Fe2+ seja transportado com maior eficiência por DMT1, o Fe2+ e o Fe3+ também podem ser inseridos no enterócito de outras maneiras. Um complexo de membrana chamado para- ferritina, que contém beta integrina, mobilferrina (um homólogo de calreticulina) e flavina monooxigenase, participam da captação de ferro, mediado por mucina no lúmen intestinal. Depois da sua adesão, dependente da flavina monooxigenase de NADPH + H+, associado com este complexo, reduz Fe3+ para Fe2+. O ferro ferroso (Fe2+) é exportado do enterócito no sangue por meio da membrana basal, pelo transportador de ferroportina 1. O referido ferro é oxidado por uma proteína que contém cobre oxidado, hefaestina, incorporado como Fe3+ à transferrina plasmá- tica. Após a absorção no duodeno, o ferro entra no corpo por meio da veia porta, a qual atinge o fígado, e lá, atua em várias funções hepáticas, além de também ser armazenado. O principal fluxo de ferro do fígado é para a medula óssea, onde é incorporado nas células precursoras eritróides, que são utilizados na eritropoiese para formar hemoglobina, em que car- regam os eritrócitos circulantes por cerca de 120 dias. O ferro liberado pelos tecidos, no sangue, se liga à trans- ferrina (ou siderofilina) e é transportado para seus locais de uso e armazenamento A transferrina tem dois meios de ligação; cada um está ligado um átomo de ferro. Enfim, a maior parte do ferro no sangue não está ligado à transferrina, mas está dentro hemo- globina dos eritrócitos, onde pode apenas ser reutilizada pelos eri- trócitos senescentes se forem destruídos. 49BIOQUÍMICA HUMANA APLICADA À NUTRIÇÃO U ni da de 4 O armazenamento de ferro corre pelo sistema de macró- fagos do sistema retículo-endotelial, que fagocitam