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INTRODUÇÃO A MICROBIOLOGIA Profa. Priscilla Maria Carvalho Oliveira É o estudo dos organismos microscópicos, que consiste em uma única célula, ou grupo de células, incluindo também os vírus, os quais não apresentam natureza celular, bem como o estudo de suas atividades. Microbiologia [do grego: mikros (“pequeno”), bios (“vida”) e logos (“ciência”)] Os principais grupos de microrganismos estudados em microbiologia são: os vírus, bactérias, fungos e protozoários. Preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o metabolismo e a identificação dos seres microscópicos. Inclui o estudo da sua distribuição natural, suas relações recíprocas e com outros seres vivos, seus efeitos benéficos e prejudiciais sobre os homens e as alterações físicas e químicas que provocam em seu meio ambiente. Microrganismos em ambientes naturais Os microrganismos estão presentes em qualquer lugar da Terra capaz de dar suporte à vida. Esses incluem os hábitats que já somos familiarizados – solo, água, animais e plantas –, bem como praticamente todas as estruturas feitas pelos seres humanos. No corpo humano, por si só, as células microbianas superam o número de células do nosso corpo em um fator de dez. A esterilidade (ausência de formas de vida) em qualquer amostra natural é extremamente rara. Em alguns hábitats microbianos, os organismos superiores não conseguem sobreviver devido ao fato de o hábitat ser muito quente ou muito frio, muito ácido ou muito cáustico, muito salgado ou com uma forte tensão osmótica, ou ainda apresentar pressões enormes. Embora se possa prever que esses “ambientes extremos” representem um desafio para qualquer forma de vida, esses hábitats punitivos são muitas vezes repletos de microrganismos. Estes microrganismos são chamados de extremófilos e compreendem um grupo grande e notável, principalmente de bactérias e arqueias, cujas propriedades coletivas definem os limites físico-químicos da vida Os extremófilos são abundantes em ambientes hostis como fontes vulcânicas termais; dentro ou sobre os lagos cobertos de gelo, geleiras ou os mares polares; em corpos d’água extremamente salgados; em solos e águas que possuem um pH tão baixo quanto 0 ou tão elevado quanto 12; e no fundo oceânico ou no fundo da Terra, onde as pressões podem exceder a pressão atmosférica em mais de 1.000 vezes. Equipe de pesquisa que estuda o Lago Vida, nos vales secos McMurdo da Antártida, que é permanentemente coberto de gelo, descobriu vida bacteriana imersa em uma solução salina de subcongelamento a –13°C! Ao longo dos anos, os microbiologistas tiveram grandes progressos na descoberta de como os microrganismos atuam, e a aplicação deste conhecimento trouxe grandes avanços à saúde e ao bem-estar dos seres humanos. Além de entender os microrganismos como agentes causadores de doenças, a microbiologia tem avançado bastante na compreensão do importante papel que esses microrganismos desempenham na alimentação e agricultura, de modo que os microbiologistas têm sido capazes de explorar as atividades microbianas para a produção de artigos valiosos para os seres humanos, para a geração de energia e limpeza do meio ambiente. O IMPACTO DOS MICRORGANISMOS NOS SERES HUMANOS Microrganismos e Alimentos Os micro-organismos podem desempenhar papeis muito importantes nos alimentos, sendo possível classifica-los em 3 grupos, dependendo do tipo de interação existente entre micro-organismo e alimento. CLASSIFICAÇÃO: Micro-organismos como agentes de deterioração dos alimentos. Micro-organismos como agentes patogênicos. Micro-organismos como produtores de alimentos. Micro-organismos como agentes de deterioração dos alimentos Deterioração: é o desenvolvimento de micro-organismos nos alimentos que pode levar a alterações em sua composição química, em suas propriedades organolépticas ou ainda na sua estrutura. Esses micro-organismos deteriorantes produzem no seu crescimento compostos voláteis, os quais o olfato e o paladar humano podem detectar. Durante o processo da deterioração é selecionado uma população ou tipo predominante de micro-organismos. Cada tipo de alimento deteriora-se pela ação de um tipo de concreto de micro-organismo. O tipo de deterioração depende: - Do alimento - Do micro-organismo envolvido - Do número de micro-organismos presentes. Nos processos de deterioração, os metabólitos produzidos pelos micro- organismos provocam alterações indesejadas de sabor e odor nos alimentos, que são normalmente os primeiros sinais de decomposição. Porém, com o avanço do estágio de degradação, há também o surgimento de alterações visuais como descoloração, presença de limo e alterações na própria estrutura dos produtos, como mudança na sua textura devido à degradação de matrizes poliméricas, acúmulo de gás ou formação de espuma e liberação de exsudados. A deterioração microbiana em si pode ser decorrente do crescimento dos micro-organismos ou da produção de enzimas extracelulares ou enzimas liberadas após lise celular. Micro-organismos como agentes patogênicos transmitidos por alimentos As patologias associados à transmissão alimentar podem ser de TRÊS tipos: Infecções alimentares: produzidas pelo ingestão de micro-organismos. Ex.: Salmonella sp., E.coli enteropatogênica, E.coli enteroinvasiva, E.coli enterohemorrágica Intoxicações alimentares: produzidos em consequência da ingestão de toxinas bacterianas produzidas por micro-organismos presentes nos alimentos. Ex.: Staphylococcus aureus; Bacillus cereus, Clostridium botulinum, Toxiinfecções alimentares: produzidos em consequência da ingestão de micro- organismos presentes nos alimentos que produz toxinas no trato gastrointestinal (TGI). Ex. Vibrio cholerae (cólera), E.coli enterotoxigênica A segurança alimentar requer o monitoramento constante dos produtos alimentícios para garantir que os mesmos se encontrem livres de patógenos, bem como o rastreamento dos surtos de doenças para a identificação das fontes desses patógenos. Alimentos frescos como carnes, frutas e legumes são mais vulneráveis à contaminação microbianae normalmente possuem uma “meia-vida” curta justamente pelo fato de a contaminação ser praticamente impossível de ser evitada. Micro-organismos como produtores de alimentos Desde os tempos históricos mais remotos são utilizados micro-organismos para produzir alimentos. Os processos microbianos causam alterações nos alimentos que lhes conferem mais resistência a deterioração ou algumas características organolépticas (sabor, textura, etc..) mais desejável. Neste grupo estão todos os microrganismos utilizados na fabricação de alimentos fermentados: queijo, vinhos, cerveja, pães, iogurtes, manteiga etc.. Alimento Matéria prima Principal Microrganismo Picles Pepinos Lactobacillus spp. Pediococcus spp. Leite fermentado Leite L. acidophilus Pão Farinha Saccharomyces cerevisiae Ricota Leite past. L. bulgaricus Koumiss Leite de égua L. bulgaricus Torula, Mycoderma Kefir Leite fresco, Streptococcus spp. Lactobacillus spp. Leuconostoc Acetobacter Iogurte Leite pasteurizado L. bulgaricus S. thermophilus Shoyu Arroz, Soja L. delbrueckii Aspergillus oryzae Sacharomyces rouxii Queijos Leite S. lactis, S. cremoris L. citrovorum, L. dextranicum,Outros micro- organismos Cerveja Grãos de cereais Saccharomyces spp. Vinho Suco de uva Saccharomyces cerevisiae Sacch. champagnii Salames e salsichas curadas Porco/Gado Pediococcus cerevisiae Presunto curado Porco Aspergillus, Penicillium Lactococcus lactis Lactococcus cremoris Lactobacillus citrovorum Lactobacillus dextranicum Outros: fungos Queijos Lactococcus thermophillus Lactobacillus bulgaricus Sabor: diacetil, acetaldeído http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://gastronomia.oninet.pt/Ficheiros/Imagens/nrbzsegi.jpg&imgrefurl=http://gastronomia.oninet.pt/area_tematica/area_tematica.asp?codAreaTematica=615&h=285&w=244&sz=19&hl=pt-BR&start=13&tbnid=cA8aDBxHVK4j6M:&tbnh=115&tbnw=98&prev=/images?q=iogurte&svnum=10&hl=pt-BR&rlz=1T4GGIH_pt-BRBR210BR210Creme de Leite Streptococcus cremoris, S. diacetylactis: ácido – coagulação Leuconostoc cremoris: voláteis – sabor e aroma Manteiga: mesmos microrganismos Saccharomyces cerevisiae Picles Lactobacillus spp. Pediococcus spp. Chucrute Os microbiologistas e a medicina clínica combinaram-se para controlar as doenças infecciosas nos últimos 100 anos. No início do século XX, as principais causas de morte humana correspondiam às doenças infecciosas provocadas por bactérias e patógenos virais. Microrganismos como agentes causadores de doenças Atualmente, as doenças infecciosas são muito menos letais, principalmente nos países desenvolvidos. O controle das doenças infecciosas é o resultado de uma combinação de avanços incluindo: Maior entendimento a respeito dos processos das doenças, Melhoria das práticas sanitárias e de saúde pública, Campanhas de vacinação ativas, Uso de agentes antimicrobianos, como os antibióticos. Embora várias doenças infecciosas estejam sob controle atualmente, muitas outras ainda podem ser uma grande ameaça à vida, especialmente em países em desenvolvimento. Por exemplo, doenças como a malária, tuberculose, cólera, doença do sono africana, sarampo, pneumonia e outras doenças respiratórias, bem como síndromes diarreicas, ainda são comuns em países em desenvolvimento. Além disso, os seres humanos ao redor do mundo estão sob ameaça de doenças que poderiam emergir subitamente, como a gripe aviária ou suína, ou a febre hemorrágica do Ebola; essas são fundamentalmente doenças de animais que sob determinadas circunstâncias podem ser transmitidas para os seres humanos e disseminadas rapidamente por uma população. Assim, os microrganismos ainda constituem graves ameaças à saúde humana em todas as partes do mundo. A agricultura se beneficia da ciclagem de nutrientes pelos microrganismos. Um grande número de espécies vegetais que alimentam os seres humanos e animais domésticos são as leguminosas. As leguminosas vivem em estreita associação com bactérias que formam estruturas denominadas nódulos em suas raízes. Microrganismos, agricultura e nutrição humana Nesses nódulos, essas bactérias convertem o nitrogênio atmosférico (N2) em amônia (NH3, o processo de fixação de nitrogênio), que as plantas utilizam como fonte de nitrogênio para seu crescimento. A fixação de nitrogênio também elimina a necessidade de utilização por parte dos agricultores de fertilizantes nitrogenados dispendiosos e poluentes. Também de grande importância agrícola são os microrganismos que habitam o rúmen de animais ruminantes, como o gado bovino e o ovino. O rúmen é um ecossistema microbiano no qual densas populações de microrganismos realizam a digestão e fermentação do polissacarídeo celulose, o principal componente das paredes celulares vegetais. Além dos benefícios à agricultura, os microrganismos também podem exibir efeitos negativos na indústria agrícola. Doenças microbianas de plantas e animais utilizados na alimentação humana causam grandes perdas econômicas todos os anos. Dessa forma, os microrganismos impactam significativamente a indústria agrícola em ambos os sentidos, positivo e negativo. Os microrganismos do trato gastrintestinal humano (GI) auxiliam nos processos digestores sintetizando certas vitaminas e outros nutrientes essenciais, todavia também competem por espaço e recursos com microrganismos patogênicos que podem entrar no trato GI por meio de alimentos e água contaminados. Dessa forma, a microbiota do colo por si só ajuda a prevenir que os microrganismos patógenos se estabeleçam. Interação dos microrganismos com o corpo humano – Microbiota normal A microbiota normal do trato intestinal desempenha importante papel nas doenças extraintestinais. Por exemplo, Bacteroides fragilis é uma importante causa de peritonite associada à perfuração da parede intestinal por trauma, apendicite ou diverticulite. Peritonite - inflamação do peritônio, o tecido que reveste a parede interna do abdômen e cobre e sustenta a maioria de seus órgãos abdominais.