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Possibilidade de substituição da garantia. Substituir dinheiro, por bens móveis e imóveis. ALINE PAULA FREITAS DE OLIVEIRA A substituição da garantia em processos tributários é uma alternativa possível em algumas situações e depende de requisitos legais e interpretação jurisprudencial. Em casos de execução fiscal, o devedor pode solicitar a substituição de uma garantia depositada em dinheiro por outras formas de garantia, como bens móveis ou imóveis. A possibilidade e os critérios para essa substituição são fundamentados na legislação e precedentes dos tribunais superiores, especialmente em processos tributários. No caso da execução fiscal, a Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80) prevê a ordem de preferência das garantias, onde o depósito em dinheiro é o meio prioritário para garantir o juízo, mas permite outras garantias, como: Penhora de bens móveis e imóveis: O devedor pode requerer a penhora de bens móveis ou imóveis de sua propriedade para substituir o depósito em dinheiro. A aceitação desta substituição geralmente é analisada pelo juiz, considerando a suficiência e liquidez do bem para cobrir o valor do débito tributário. A jurisprudência tem sido criteriosa, e em muitos casos, os tribunais privilegiam o depósito em dinheiro pela sua liquidez imediata. Contudo, reconhecem a possibilidade de bens móveis ou imóveis, desde que se comprove a suficiência da garantia para cobrir a dívida. A possibilidade de substituir a garantia em dinheiro por bens móveis e imóveis em um processo tributário é um tema complexo e que demanda uma análise cuidadosa de cada caso concreto. Legislação e Fundamentos A legislação processual civil e a Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80) estabelecem as regras gerais para a penhora de bens em processos executivos, incluindo os tributários. A princípio, a lei não impede a substituição da garantia em dinheiro por bens móveis e imóveis. No entanto, alguns critérios devem ser observados: · Valor da garantia: O bem oferecido em substituição deve ter valor equivalente ou superior ao da dívida, de forma a garantir a efetividade da execução. · Liquidez do bem: O bem oferecido deve ser facilmente avaliável e realizável, ou seja, deve ser possível convertê-lo em dinheiro de forma rápida e eficiente, caso seja necessário. · Situação financeira do devedor: A capacidade do devedor de manter o bem oferecido em garantia também é um fator relevante. · Aceitação do credor: Em alguns casos, a lei exige a concordância do credor para a substituição da garantia. · Discricionariedade do juiz: A decisão de aceitar ou não a substituição da garantia é de competência do juiz, que deverá avaliar as peculiaridades de cada caso. A jurisprudência tem se mostrado cada vez mais flexível em relação à substituição de garantia, especialmente em casos em que a penhora de dinheiro causa um grande impacto na atividade econômica do devedor. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem admitido a substituição da garantia por bens imóveis, desde que seja demonstrado que a medida é mais vantajosa para ambas as partes e não prejudica a efetividade da execução. Precedentes Superior Tribunal de Justiça (STJ): O STJ já se manifestou sobre a possibilidade de substituição da garantia em dinheiro por outros bens. Em alguns julgados, o tribunal tem entendido que é possível a substituição por bens móveis e imóveis, desde que haja liquidez e facilidade de execução. Súmula 417 do STJ relativiza a ordem de nomeação de bens à penhora Penhora é tema de súmula aprovada na Corte Especial Entre os seis projetos de súmulas aprovados, por unanimidade, pela Corte Especial, estava um sobre penhora, proposto pela ministra Eliana Calmon. Diz o texto: Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação de bens não tem caráter absoluto, diz a súmula 417. Tendo como base os artigos 620 e 656, do Código de Processo Civil (CPC), e o artigo 11 da Lei 6.830, de 1980, o desenvolvimento da tese vem se delineando desde 1990, quando foi julgado o recurso em mandado de segurança 47, do então ministro Carlos Veloso, interposto pela prefeitura de São Paulo, discutindo pagamento de tributos. Disse o acórdão: A gradação estabelecida para efetivação da penhora (CPC, artigo 656, I; Lei 6.830, artigo 11), tem caráter relativo, já que o seu objetivo é realizar o pagamento de modo mais fácil e célere. Pode ela, pois, ser alterada por força de circunstâncias e tendo em vista as peculiaridades de cada caso concreto e o interesse das partes, presente, ademais, a regra do artigo 620, CPC. Tribunais Regionais Federais (TRFs): Vários TRFs já decidiram em favor da aceitação de bens móveis e imóveis como garantia em processos tributários, desde que comprovada a sua adequação e a facilidade de realização para garantir o pagamento do tributo. Exemplos de Julgados - JURISPRUDÊNCIAS · Tribunal de Justiça do Mato Grosso TJ-MT: 1016367-36.2022.8.11.0000 MT EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO FISCAL – SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA BACENJUD POR BEM IMÓVEL – CABIMENTO – EXCEPCIONALIDADE DEMONSTRADA – PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE AO DEVEDOR – RELATIVIZAÇÃO DA ORDEM LEGAL DE PENHORA – RECURSO PROVIDO. “Em razão do princípio da menor onerosidade, o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a substituição da penhora de dinheiro por fiança bancária ou seguro-garantia em hipóteses excepcionais, desde que, comprovadamente, o bloqueio comprometa a atividade do devedor. (N.U 0140406-06.2014.8.11.0000, Vandymara G. R. P. Zanolo, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, julgado em 12/05/2015, publicado no DJE em 19/05/2015)”. (TJ-MT 10163673620228110000 MT, Relator: MARCIO VIDAL, Data de Julgamento: 31/10/2022, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 09/11/2022) Meu resumo Agravo de Instrumento em execução fiscal sobre a substituição de penhora via Bacenjud por bem imóvel, considerada cabível devido à excepcionalidade comprovada. Com base no princípio da menor onerosidade ao devedor, o Superior Tribunal de Justiça admite, em casos exclusivos, a substituição da penhora de dinheiro, especialmente quando o bloqueio compromete as atividades do devedor. PRECEDENTES “AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO FISCAL – SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA BACENJUD POR BEM IMÓVEL – CABIMENTO – EXCEPCIONALIDADE DEMONSTRADA – PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE AO DEVEDOR – RELATIVIZAÇÃO DA ORDEM LEGAL DE PENHORA – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Em razão do princípio da menor onerosidade o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a substituição da penhora de dinheiro por fiança bancária ou seguro-garantia em hipóteses excepcionais, desde que comprovadamente o bloqueio comprometa a atividade do devedor. (N.U 0140406-06.2014.8.11.0000, Vandymara G. R. P. Zanolo, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, julgado em 12/05/2015, publicado no DJE 19/05/2015).” (N.U 1006905-94.2018.8.11.0000, Câmaras Isoladas Cíveis de Direito Público, Edson Dias Reis, Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo, julgado em 18/12/2019, publicado no DJE 22/01/2020), (grifei). · Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 262158 RJ 2000/0055980-6: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. NOMEAÇÃO DE BENS À PENHORA. TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA ESTADUAL. IMPUGNAÇÃO PELO CREDOR. FUNDAMENTAÇÃO.NECESSIDADE. ARTS. 620, 655 E 656, I, CPC. DOUTRINA. PRECEDENTES.RECURSO DESACOLHIDO. I - A ordem legal estabelecida para a nomeação de bens à penhora nãotem caráter rígido, absoluto, devendo atender às circunstâncias docaso concreto, à satisfação do crédito e à forma menos onerosa parao devedor, "a fim de tornar mais fácil e rápida a execução e deconciliar quanto possível os interesses das partes". II - A gradação legal há de ter em conta, de um lado, o objetivo desatisfação do crédito e, de outro, a forma menos onerosa para odevedor. A conciliação desses dois princípios é que deve nortear ainterpretação da lei processual, especificamente os arts. 655, 656 e620 do Código de Processo Civil. III - Na espécie, as razões apresentadas pelo credor, embora apenasna contraminutado agravo, justificam a recusa dos títulos de dívidapública, tanto pela dificuldade de sua liquidez, quanto pelainsuficiência do seu valor, e também pela existência de outros bens,no caso um imóvel, capazes de solver a dívida. (STJ - REsp: 262158 RJ 2000/0055980-6, Relator: Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de Julgamento: 22/08/2000, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 09/10/2000 p. 157) Meu resumo Na execução, a nomeação de bens à penhora deve considerar a ordem legal e a satisfação do crédito de forma menos onerosa ao devedor, sem absoluta, conforme os arts. 620, 655 e 656 do CPC. No caso, o credor, na contraminuta do agravo, justificou a recusa de títulos de dívida pública estadual devido à baixa liquidez e valor insuficiente, tendo, ainda, outros bens (um imóvel) mais adequados para garantir a dívida. PRECEDENTES PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇAO. NOMEAÇAO DE BENS À PENHORA. IMPUGNAÇAO PELO CREDOR, POR DESOBEDIÊNCIA À GRADAÇAO LEGAL. FUNDAMENTAÇAO. NECESSIDADE. ARTS. 620, 655 E 656, I, CPC. DOUTRINA. PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO. I - A ordem legal estabelecida para a nomeação de bens à penhora não tem caráter rígido, absoluto, devendo atender às circunstâncias do caso concreto, à satisfação do crédito e à forma menos onerosa para o devedor," a fim de tornar mais fácil e rápida a execução e de conciliar quanto possível os interesses das partes ". II - A gradação legal há de ter em conta, de um lado, o objetivo de satisfação do crédito e, de outro, a forma menos onerosa para o devedor. A conciliação desses dois princípios é que deve nortear a interpretação da lei processual, especificamente os arts. 655, 656 e 620 do Código de Processo Civil. III - Embora na dicção legal a nomeação de bens à penhora seja ineficaz quando não observada a gradação do art. 655, CPC, o exeqüente deve justificar a sua objeção, dizendo as razões pelas quais não a aceita A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de não ser absoluta a regra de que o devedor está obrigado a obedecer à gradação estabelecida no art. 655, CPC, para a nomeação de bens à penhora. É o que se colhe do REsp 159.682-RJ (DJ 30/11/98), relator o Ministro Barros Monteiro · Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP: 2244991-53.2017.8.26.0000 AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de execução de título extrajudicial – Decisão que defere pedido formulado pela exequente de bloqueio "on line" via sistema BacenJud da quantia executada - A substituição da garantia de dinheiro por imóvel não prejudicará a eficácia da execução em andamento, pois o valor do bem oferecido à penhora ultrapassa o débito excutido – Exceção da ordem preferencial - Prevalência da menor onerosidade - Liminar confirmada - Decisão reformada. Recurso provido. (TJ-SP 22449915320178260000 SP 2244991-53.2017.8.26.0000, Relator: José Wagner de Oliveira Melatto Peixoto, Data de Julgamento: 16/03/2018, 15ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/03/2018) Meu resumo Em agravo de instrumento de ação de execução de título extrajudicial, foi reformada a decisão que deferiu o bloqueio “online” via BacenJud da quantidade alcançada. A substituição da garantia em dinheiro por um imóvel foi autorizada, considerando que o valor do bem oferecido excede o montante do subsídio, garantindo a eficácia da execução sem habilidades ou exequente. Aplicou-se a exceção à ordem preferencial de penhora em dinheiro, prevalecendo o princípio da menor onerosidade. PRECEDENTES AGRAVO DE INSTRUMENTO - ADEQUAÇÃO - CPC, art. 543-C, § 7º - IPTU e TAXAS Exercício de 1998 - Imóvel oferecido à penhora Recusa da credora Entidade beneficente Ordem de bloqueio que pode inviabilizar suas atividades Excepcionalidade Redirecionamento da constrição para recair sobre imóvel da devedora Recurso provido”. ( Agravo de Instrumento nº 0190672-82.2011.8.26.0000 14ª Câmara de Direito Público Relator Octávio Machado de Barros j. em 24.09.2015) · TJ-SE - Agravo de Instrumento: AI 70824620228250000 Agravo de Instrumento. Execução Fiscal. IPTU. Pedido de substituição da garantia em dinheiro pela penhora do bem imóvel objeto da ação indeferido na origem. Executada vencedora em Embargos a Execução que pendem de apreciação de Agravo em REsp e RE. Transparência do bom direito. Situação empresarial pós-pandemia de COVID19 que é notória. Inexistência de prejuízo à Fazenda Pública. Princípio da menor onerosidade ao devedor. Agravo de Instrumento conhecido e provido à unanimidade. - O STJ, no julgamento do REsp nº 1.337.790/PR (Tema 578), em sede de recurso repetitivo, definiu que, em regra, deve ser obedecida a ordem legal para garantia da execução fiscal prevista no art. 11 da Lei nº 6.830/80, podendo ser aceita a nomeação que não a atenda apenas se cumprido o ônus pelo executado de demonstrar as peculiaridades do caso concreto que justifiquem a necessidade de aplicar meio menos gravoso para fins de substituição do bem, cuja situação está adequada à espécie dos autos. (Agravo de Instrumento Nº 202200817855 Nº único: 0007082-46.2022.8.25.0000 - 2ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator (a): Ricardo Múcio Santana de A. Lima - Julgado em 26/08/2022) (TJ-SE - AI: 00070824620228250000, Relator: Ricardo Múcio Santana de A. Lima, Data de Julgamento: 26/08/2022, 2ª CÂMARA CÍVEL) Meu resumo Em agravo de instrumento de execução fiscal de IPTU, foi concedida a substituição da garantia em dinheiro pela penhora de bem imóvel, contrariando a decisão de origem. A vencedora, em embargos à execução ainda pendentes de agravo, justificou a necessidade de aplicar o princípio da menor onerosidade, devido à situação empresarial pós-pandemia de COVID-19, sem prejuízo à Fazenda Pública. O STJ, no Tema 578, permite a substituição da ordem legal de garantia (art. 11 da Lei nº 6.830/80) quando há justificativas específicas no caso concreto. PRECEDENTES No julgamento do REsp nº 1.337.790/PR (Tema 578), o Superior Tribunal de Justiça definiu, em sede de recurso repetitivo, que, em regra, deve ser obedecida a ordem legal para garantia da execução fiscal prevista no art. 11 da Lei nº 6.830/80, podendo ser aceita a nomeação que não a atenda apenas se cumprido o ônus pelo executado de demonstrar as peculiaridades do caso concreto que justifiquem a necessidade de aplicar meio menos gravoso para fins de substituição do bem. · Tribunal Regional Federal da 1ª Região TRF-1 - AGRAVO DE INSTRUMENTO: AG 1015096-72.2020.4.01.0000: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. SUBSTITUIÇÃO DE ATIVOS FINANCEIROS POR BEM IMÓVEL. POSSIBILIDADE. VALOR SUPERIOR AO DA CONSTRIÇÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 1. Agravo de instrumento interposto contra decisão que, nos autos de ação civil pública de improbidade administrativa promovida pelo Ministério Público Federal em desfavor do agravante e outros, indeferiu pedido de substituição da penhora em dinheiro por imóvel de propriedade de empresa de que o recorrente é sócio. 2. A pessoa jurídica Diefra Engenharia e Consultoria Ltda. e seu sócio requereram a substituição da penhora em dinheiro levada a efeito nos autos principais, pelo imóvel registrado na matrícula n.º 91.153, do cartório do 1º Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte/MG. 3. Referido imóvel, livre de gravames, foi regularmente avaliado por empresa do ramo imobiliário, alcançando o valor de R$ 1.970.000,00 (um milhão e novecentos e setenta mil reais). 4. A decisão que decretou a indisponibilidade de bens dos requeridos limitou o valor da constrição ao montante de R$ 6.496.332,77 (seis milhões, quatrocentos e noventa e seis mil, trezentos e trinta e dois reais e setenta e sete centavos). 5. Nos autos do AI 1011202-59.2018.4.01.0000, anteriormente interposto pelo mesmo recorrente, foi reduzido aquele valor para o montante de R$ 433.088,85 (quatrocentos e trinta e três mil, oitenta e oito reais e oitenta e cinco centavos), com a determinação, ainda, de exclusão da constrição dos valores bloqueados em conta corrente inferiores a 50 (cinquenta) salários mínimos oude poupança inferiores a 40 (quarenta) salários mínimos, dada a natureza alimentar da verba, mantendo o eventual bloqueio de bens móveis e imóveis. 6. Reduzido o valor do bloqueio de ativos financeiros do agravante, nada obsta que ocorra a substituição da garantia em dinheiro pelo imóvel oferecido em garantia, tendo em vista que o valor de avaliação do bem (R$ 1.970.000,00) supera, com folga, o total dos valores bloqueados tanto nas contas do agravante, quanto nas contas da empresa Diefra Ltda., da qual o recorrente é sócio. 7. A jurisprudência deste Tribunal possui entendimento no sentido de que a medida de indisponibilidade deve ser efetivada da forma menos gravosa para o requerido, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 805 do CPC. Precedentes: AG 0054469-69.2016.4.01.0000, Rel. Desembargador Ney Bello, Terceira Turma, e-DJF1 18/04/2017; AG 0031541-90.2017.4.01.0000, Rel. Desembargador Federal Olindo Menezes, Quarta Turma, e-DJF1 20/07/2018. 8. O oferecimento de bem imóvel de valor superior ao da constrição dos ativos financeiros da parte agravante garante a proteção do interesse público em caso de futura condenação. 9. Não subsiste a alegação do órgão ministerial de que o sentido da lei processual determina que a penhora (momento processual para o qual se destina a indisponibilidade) recairá sobre bem indicado pelo exequente, não pelo executado, a teor do art. 829, § 2º, do CPC. 10. Tal dispositivo da lei processual civil, que trata da execução por quantia certa, não se aplica ao rito da ação de improbidade administrativa, em razão do princípio de que a lei específica prevalece em relação à lei geral, estabelecendo o art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.429/92, apenas que a indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. 11. Agravo de instrumento a que se dá provimento para, reformando em parte a decisão agravada, ratificar a decisão liminar que determinou a substituição da indisponibilidade dos ativos financeiros do agravante pelo imóvel oferecido em garantia. (TRF-1 - AG: 10150967220204010000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON GUEDES, Data de Julgamento: 22/06/2021, QUARTA TURMA, Data de Publicação: PJe 24/06/2021 PAG PJe 24/06/2021 PAG) Meu resumo Em agravo de instrumento em ação de improbidade administrativa, foi concedida a substituição de pena de investimentos financeiros por um imóvel de valor superior ao montante da constrição, garantindo a eficácia da medida sem deficiência o interesse público. O imóvel oferecido foi avaliado em R$ 1.970.000,00, valor que supera os investimentos financeiros bloqueados, permitindo a substituição sem risco ao cumprimento futuro da sentença. O tribunal aplicou, por analogia, o princípio da menor onerosidade (art. 805 do CPC) e destacou que o dispositivo do CPC sobre a indicação de bens à penhora pelo exequente não se aplica a ações de improbidade, conforme dispõe a Lei 8.429/92 a indisponibilidade de bens necessários ao ressarcimento do dano. A jurisprudência deste Tribunal possui entendimento no sentido de que a medida de indisponibilidade deve ser efetivada da forma menos gravosa para o requerido, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 805 do CPC. PRECEDENTES PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992. PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA DECRETAÇÃO. COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL. DESNECESSIDADE. ORDEM DE PREFERÊNCIA MENOS GRAVOSA. DESBLOQUEIO DE CONTAS BANCÁRIAS NECESSÁRIAS À ATIVIDADE EMPRESARIAL. COMPROVAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DO BEM CONSTRITO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Conclusão A substituição da garantia em dinheiro por bens móveis e imóveis é possível no âmbito dos processos tributários, desde que observados os requisitos legais e as condições estabelecidas pela jurisprudência. A análise deve ser feita caso a caso, levando-se em consideração a adequação dos bens oferecidos como garantia e a aceitação pela administração tributária.