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Os autores Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) mencionam que a violência contra a mulher ocorre em diversas comunidades e apresenta questões sócio-cultural, isto por conta da mesma possuir um papel de submissa ao homem e não possuir direitos perante a sociedade. Este ponto de vista começa a mudar, após guerras mundiais e revoluções industriais, onde a mão de obra feminina passa a ser validada. Mesmo as mulheres se posicionando em cargos que eram pejorativamente masculinos, ainda se enfrenta altos índices de violência contra às mulheres. Desse modo, os pensadores Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) citam: “Compreende violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada.” Santos e Moré (2011), também trazem o patriarcado, ao qual é visto como um modo de organização sociocultural que estrutura as relações sociais e a divisão de papeis entre homens e mulheres. Mesmo com o patriarcado se desfazendo aos poucos, ele ainda serve para alimentar a diferença entre os gêneros. Associado com o patriarcado e o machismo, existe também a educação diferenciada que se é oferecida as crianças, pois elas aprendem o que é ser homem e o que é ser mulher. Com isso é possível concluir que é no processo de desenvolvimento psicossocial que os sujeitos estabelecem as bases para agir de acordo com as diferenças de gênero. Para as autoras Santos e Moré (2011), a discussão de gênero se torna necessária para compreender os efeitos da violência contra a mulher, tendo como foco principal, as reações comportamentais, emocionais e sociais das mulheres, as quais ficaram por muito tempo subjugadas a preconceitos e incompreensões, de modo que as impede de aprofundar e explorar as estratégias de enfrentamento utilizadas por elas. Como já supracitado ao decorrer desta pesquisa Pereira, Dantas e Araujo (2022) trazem o pensamento de Day et. al. (2003) que: "[...]A maioria dos casos de violência contra a mulher são praticados por parceiros íntimos, ou que tenha relação afetiva das mulheres, havendo um padrão repetitivo de dominação sobre a parceira, culminando em um ato de violência que, em sua maioria é agressão física, em situações mais graves, este tipo de violência pode causar morte". Santos e Moré (2011), observa que o uso do poder dos homens sobre as mulheres é encontrado na base da violência exercida contra elas e transcorre como um modo de dominá-las e controlá-las, singularmente se a mesma for sua parceira conjugal. Neste contexto, podemos evidenciar estudos sobre a influência das diferenças de gênero, enquanto desigualdades histórica e socialmente construídas entre homens e mulheres, ao qual nos ajuda compreender a complexidade do fenômeno da violência exercida contra a mulher. Em seu estudo, Santos e Moré (2011), vem nos relatar que: [...] “Existem certos fatores que servem de base para a ocorrência das desigualdades entre os gêneros e para a sua perpetuação. Entre esses, estudos como os de Alberdi (2005), Azevedo (1985) e Cantera (2007) apontam para o machismo como um dos componentes que fazem parte da nossa sociedade, o que contribui para a compreensão de que o homem é essencialmente mais forte e mais competente do que a mulher, não apenas fisicamente, mas também psicologicamente mais bem preparado do que a mesma, ideologia esta que serve para naturalizar uma situação que é socialmente construída.” Para Menezes, Amorim, Santos e Faúndes (2003), o termo violência doméstico tem sido utilizado para se referir a todas as formas de violência praticada no ambiente familiar, porém reflete, geralmente, a violência contra a mulher perpetrada por seu parceiro íntimo. Com isso, Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) mencionam que a violência contra a mulher passou de ser uma questão cultural e familiar para uma discussão social, tornando-se parte da política por conta da violação de direitos humanos. Eles citam que: “A violência doméstica, a mais comum das violências contra a mulher, deve ser detectada pelo profissional de saúde e encarada como questão de saúde pública.” Pereira, Dantas e Araujo (2022) trazem o pensamento de Miranda Coêlho et al. (2021): “[…] grande parte das violências cometidas contra as mulheres são efetuadas em âmbito privado, e o tipo principal empregado contra a mulher é efetuado dentro de seus lares, praticados por pessoas próximas de sua convivência, por companheiros/ maridos. Essas agressões são efetuadas de inúmeras formas, desde agressões verbais, físicas e psicológica, sendo a violência doméstica a junção de todas elas, a violência doméstica pode ser considerada como toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicologia ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outra pessoa da família (...)" No estudo de Santos e Moré (2011), se utiliza o termo vítima e agressor, isto evidencia a situação das mulheres quando recorrem aos mecanismos legais de suporte psicossocial e de proteção aos direitos da mulher, isto é, refere-se a posição que as mulheres agredidas assumem, assim como as de quem as agride. Para Santos e Moré (2011): [...] “a violência física perpetrada pelo próprio marido/companheiro ou por algum membro da família (pai, irmão) é considerada a principal configuração que a violência assume quando é praticada contra a mulher.” (...) Ademais, Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) através do pensamento de Ângulo Tuesta (1997) informa de que a mulher vítima de algum tipo de agressão procura a unidade de saúde após essa vivência de violência começa a afetar sua vida de modo físico, mental e reprodutor. Mas que é possível notar nos funcionários que ainda possuem dificuldade de abordar casos com essas demandas e acabam não investigando o motivo da queixa ou dos hematomas. Esta ausência de investigação pode-se dar por despreparo dos profissionais, falta de tempo para escutar o paciente e razões culturais, onde em discussão de casal quem é de fora não se intrometa. Segundo Menezes, Amorim, Santos e Faúndes (2003): “A real extensão da violência doméstica é ainda difícil de ser averiguada, em razão de variações metodológicas quanto à definição de violência, tamanho amostral e metodologia de inquérito. Além disso, os profissionais de saúde não estão em geral habilitados para diagnosticar a presença de violência doméstica, e dificilmente irão introduzir perguntas sobre o assunto durante a anamnese. No estudo de Rodriguez et al. (1999), apenas 9 a 11% dos médicos investigaram sobre VD em pacientes procurando serviços de assistência primária à saúde.” Dessa maneira, Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) por meio de pensar de Biagioni (2000) menciona que normalmente os agressores dessas mulheres são maridos, pais ou filhos, namorados ou ex-companheiros. Sendo a violência de dentro de casa a maior encarregada por lesões corporais. Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) citam Langley & Levy (1980) por meio de: “[…] as razões da violência doméstica são divididas em nove categorias: doença mental; álcool e drogas; aceitação da violência por parte do público; falta de comunicação; sexo; uma auto-imagem vulnerável; frustração; mudanças; violência como recurso para resolver problemas. (…)” Complementando o pensamento acima, os autores Pereira, Dantas e Araujo (2022) em sua pesquisa menciona Day et Al (2003): "[...]A maioria dos casos de violência contra a mulher são praticados por parceiros íntimos, ou que tenha relação afetiva das mulheres, havendo um padrão repetitivo de dominação sobre a parceira, culminando em um ato de violência que, em sua maioria é agressão física, em situações mais graves, este tipo de violência pode causar morte". Ademais os autores Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) integralizar com o pensar de Santin el. at. (2002): “[…] são os fatos corriqueiros e banais os responsáveis pela conversão de agressividade em agressão, o sentimento de posse do homem em relação à mulher e seus filhos e a impunidade são fatoresque generalizam a violência (…)” Sendo assim, para Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) o que leva a mulher ter resistência de procurar ajuda e denunciar são por fatores de medo, dependência emocional, condição econômica e vergonha disso tornar público em seu meio social. Os autores Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) expõe o Código Penal Brasileiro (2002) com a informação de que a lesão corporal pode ser classificada como natureza leve, quando não causa grande prejuízos a sua integridade, mas deixa um trauma psicológico. Em casos de natureza grave, envolve a incapacidade de fazer atividades cotidianas por mais de trinta dias, perigo de vida, ausência no trabalho, perca de membro, entre outros. Assim como, os locais do corpo que mais são agredidos são cabeça e pescoço, ocasionando fraturas, contusões, entre outros. De acordo com o estudo de Santos e Moré (2011), as estatísticas de violência contra a mulher são alarmantes e o número de denúncias vem aumentado em decorrência da aplicação e divulgação da Lei No. 11.340/06 (2006) também chamada de Lei Maria da Penha. Essa lei facilitou a proteção das mulheres para realizarem as denúncias, porém dificilmente podemos obter o número real de mulheres que são agredidas diariamente, pois muitas das mulheres são agredidas em suas próprias casas, começando pelo pai, pelo irmão e posteriormente pelo marido/companheiro. Por meio disso, as mulheres se calam por temerem sofrer um ato violento ainda mais grave. Segundo Pereira et al. (2020), Maria da Penha foi a pioneira para criação da lei n 11.304, no qual foi batizada com seu nome, após lamentavelmente ser agredida diversas vezes por seu companheiro, e em uma das agressões por pouco quase não perdeu a vida por disparo de arma de fogo, causando dependência para se locomover. Diante de diversas queixas na delegacia nada, não havia punição rígida que impossibilitasse a repetição das agressões. Entretanto, com a criação da lei seu legado foi fundamental para o combate do feminicídio no Brasil. O presente artigo de Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) fez uma análise de 204 inquéritos registrados em 2002 na Delegacia de Defesa da Mulher de Araçatuba (SP). Sendo atendido aos critérios de lesão corporal ou maus tratos 33 inquéritos. Onde foi possível verificar que a maior faixa etária é de 0-15 anos com 51,5%. A maior parte foram de natureza leve com 54,5% (18 inquéritos), graves 18,2% (6 inquéritos) e 27,3% (9 inquéritos) não possível caracterização. Já para Moroskoski, Brito, Queiroz, Higarashi e Oliveira (2021) dos parceiros íntimos, o cônjuge foi o principal agressor. Todavia, no estado do Paraná, houve crescimento de 20,9% das agressões por ex-cônjuges e 18,7% por namorados(as). Na macrorregional Noroeste, esses dados são ainda mais alarmantes, uma vez que houve aumento de 48,8% das agressões por ex-cônjuges e 24,0% por namorados(as). Chama atenção também o aumento de 23,1% nos casos de agressão por ex-namorados(as) na macrorregional Oeste, um dado divergente das demais macrorregionais de saúde e do estado. Os conceitos do presente estudo mostram tendência crescente nas taxas de notificação de violência física contra a mulher perpetrada por parceiro íntimo no Paraná e em todas as macrorregionais de saúde. A macrorregional Oeste destacou-se com o maior índice, fato que indica a necessidade de novos estudos para identificar os fatores associados nesta região. Seguindo a mesma linha de raciocínio Santos e Moré (2011) citam que: “[...] a probabilidade de sofrer uma agressão ainda maior do parceiro, incluindo o homicídio, aumenta significativamente, depois que a mulher decide abandonar a relação conjugal (Ferrari & Vecina, 2002).” Além de que, Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) informam: “As mulheres maltratadas têm sua saúde prejudicada tanto pelas lesões resultantes do espancamento, quanto por desenvolverem dores crônicas, depressão e baixa estima, causas que muitas vezes as levam ao suicídio. As consequências da violência contra a mulher refletem desequilíbrios em todas as esferas da sociedade: econômica, emocional e familiar.” Santos e Moré (2011), também nos mostra que mulheres agredidas dentro da própria família tendem a minimizar o problema, desenvolvendo um desejo de acreditar que o marido/companheiro, pai ou irmão não é tão violento como aparenta ser. Com as agressões as vítimas também sentem vergonha, culpa e baixa autoestima por viverem nessa situação, além do medo de ficarem sozinhas. Santos e Moré (2011) acrescentam que: “Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito à condição social e econômica das mulheres, ou seja, muitas delas ainda recebem menores salários do que os homens, apesar de realizarem a mesma função que os mesmos (Azevedo, 1985). Elas também trabalham mais horas e muitas vezes em atividades não remuneradas, como é o caso dos afazeres domésticos. Depender economicamente do marido/companheiro, ou ganhar menos do que ele, serve para aumentar a fragilidade, a vulnerabilidade e a desvalorização na qual a mulher se encontra (Alberdi, 2005; Carneiro & Oliveira, 2008).” Para Moroskoski, Brito, Queiroz, Higarashi e Oliveira (2021) Apontam que entre os fatores associados à violência física contra a mulher por parceiro íntimo estão a menor escolaridade e renda, pertencer a minorias étnicas e exposição à violência durante a infância. Em contrapartida, a inserção de mulheres no mercado de trabalho e na comunidade, bem como o apoio social e de redes, agem como fatores de proteção para esse tipo de violência. Já Santos e Moré (2011), citam dados dos estudos de Alberdi, 2005; Schraiber e cols., (2007), ao qual mostram que, normalmente as mulheres vítimas de violência doméstica possuem o ensino fundamental ou médio, o que acaba limitando as possibilidades de escolha profissional, coagindo as mesmas a optarem por profissões pouco valorizadas e de baixa remuneração, mantendo-a dependente do homem e/ou na condição de subalterna a eles. Anexados a esses fatores, Santos e Moré (2011), acrescentam em seu estudo dados listados pela pesquisa de Ministério da Saúde (2002); Silva, Coelho, & Caponi, (2007), onde listam outros possíveis motivos para as mulheres permanecerem em uma relação em que há violência. Os motivos são: “[...] (a) história familiar onde havia agressão entre os pais ou pessoas próximas a ela, o que propicia com que repita esse modelo na sua própria relação conjugal; (b) crença na mudança de atitude do marido/companheiro; (c) crença na incapacidade de viver sem o marido/companheiro e sem um pai para os filhos; (d) medo de que, com a separação, perca a guarda dos filhos ou tenha de sair de casa; entre outros. (...)”. Menezes, Amorim, Santos e Faúndes (2003) menciona que, por outro lado, mulheres que apresentam história de violência na família, ou seja, testemunharam atos violentos entre seus pais ou substitutos, tendem a apresentar maior tolerância à violência dos seus parceiros, por aceitarem como normalidade formas violentas para a resolução de conflitos, perpetuando o comportamento violento no ambiente familiar. É possível também que a violência familiar na infância, alterando a estrutura da personalidade e contribuindo para a destruição da auto-estima, permita o exagero da tendência à repetição dos padrões, fazendo com que as mulheres procurem parceiros que se assemelhem, em vários quesitos (consumo de álcool, comportamento violento) aos seus pais agressores. Na pesquisa realizada por meio de entrevistas, pelas autoras Santos e Moré (2011), é possível obter que, o agressor de nove das dez entrevistadas foi o próprio marido/companheiro. Se destaca também que duas dessas mulheres além dos maridos/companheiro, também foram agredidas fisicamente por seus filhos. Santos e Moré (2011) nos mostra estudos ao qual nos revela que: “[...] a trama relacional dessas mulheres, em que a relação familiar e conjugal constitui vínculo de risco potencial, diante das manifestações de violência, por um lado, e a necessidade de sobrevivência como condição de vida, por outro, deixaram em evidênciaum contexto que se sustenta pela presença de situações antagônicas.” No decorrer do estudo, Santos e Moré (2011), destaca que a violência conjugal é de certa forma naturalizado pelas vítimas, no sentido de não haver um movimento na direção do parar e uma falta de atitude previa frente a violência cometida. O estudo ainda aponta que embora as mulheres admitam serem agredidas verbalmente e até fisicamente pelo marido/companheiro, muitas não identificam tais atos como uma violência, mas sim, como uma ação valida de ser utilizada no momento de resolver o conflito. Menezes, Amorim, Santos e Faúndes (2003) o consumo de álcool tem sido frequentemente associado a comportamentos violentos, não necessariamente de forma direta, mas por influenciar padrões de comportamento que facilitam a violência. Essa influência pode acentuar o desequilíbrio de controle e poder nas relações, embora os mecanismos exatos dessa associação ainda não estejam completamente esclarecidos. A dúvida persiste se o abuso de álcool atua como um fator causal direto, indireto ou como um modificador de outros fatores. De acordo com Menezes, Amorim, Santos e Faúndes (2003) associando-se a estes fatores, o álcool parece corroborar a conduta violenta, não de forma direta, mas provavelmente por interferir nos padrões de comportamento facilitando a violência, uma vez que acentua o desequilíbrio de controle e poder exercidos pelo parceiro. No entanto, os reais mecanismos responsáveis por essa associação ainda estão por ser elucidados, não estando claro se o abuso de álcool funciona como um fator causal direto ou indireto, ou ainda como um modificador do efeito de outros fatores. Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) também alegam: “No que se refere ao sítio das lesões, encontramos que a região de cabeça e pescoço é o local mais atingido, preponderando em 30% dos casos, seguidos pelos membros superiores em 24,4%, membros inferiores em 23,3% e tronco em 16,7%. (…)” Portanto, Garbin, Garbin, Dossi e Dossi (2006) argumenta a ideia de Jong (2000) em que o local mais agredido das vítimas são o rosto por causar humilhação e prejudicar a imagem feminina, que é algo considerável perante sociedade. Com isso, o tipo de violência de maior índice é a corporal, por meio de agressões física com socos, chutes ou que envolva objetos cortantes e violência sexual.