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241 Capítulo 14 Gestão do conhecimento Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação? – T.S. Eliot 1934 PALAVRAS-CHAVE Gestão do conhecimento Conflito de interesse Má conduta científica Point of care (no momento do atendimento) Aprendizado sob demanda (just-in- -time learning) Diretrizes para a prática clínica MEDLINE EMBASE PubMed Revisão por pares Resumos estruturados Descobrir a melhor resposta para uma determina- da questão clínica é como encontrar uma agulha no palheiro. As informações essenciais estão mis- turadas com uma vasta quantidade de dados me- nos confiáveis e opiniões, e é um desafio separar o joio do trigo. Ainda assim, é justamente isso que os clínicos precisam fazer, pois a qualidade da lei- tura crítica depende diretamente da qualidade das informações encontradas. A gestão do conhecimento é a organização efi- caz e eficiente do conhecimento. Isso era difícil na época em que dispúnhamos somente da mídia impressa. Felizmente, gerenciar o conhecimento é muito mais fácil na era da informação eletrôni- ca. Existem mais estudos, e de maior qualidade, sobre uma grande variedade de questões clínicas, além de amplo acesso aos resultados dos estudos e formas eficientes de classificá-los rapidamente por tópicos e por força científica. Essas oportunidades se seguiram à crescente disponibilidade dos com- putadores, da internet e das informações eletrôni- cas para propósitos clínicos. Encontrar informações muitas vezes parece ter uma prioridade baixa para os clínicos ainda em formação. Eles estão cercados por informações, muito mais do que é possível manejar conforta- velmente, além de terem incontáveis especialistas para ajudá-los a selecionar quais informações de- vem levar mais a sério e quais podem ser descar- tadas. Contudo, o desenvolvimento de um plano próprio para gerenciar o conhecimento torna-se crucial mais tarde, seja na prática clínica ou no mundo acadêmico. Mesmo com o progresso recente, a gestão efi- caz e eficiente do conhecimento é um desafio. Neste capítulo, revisamos abordagens modernas para a gestão do conhecimento clínico. Vamos discutir quatro tarefas básicas: procurar informa- ções, manter-se atualizado sobre os novos desen- volvimentos em sua área, permanecer conectado à medicina como profissão e ajudar os pacientes a encontrar, eles próprios, boas informações so- bre sua saúde. PRINCÍPIOS BÁSICOS Diversos aspectos da gestão do conhecimento per- passam todas as atividades. Fazer você mesmo ou delegar? Os clínicos precisam primeiro se perguntar: “De- vo buscar e julgar os resultados da pesquisa clíni- ca eu mesmo ou delegar essa tarefa a outra pes- soa?”. A resposta é ambos. Os clínicos devem ser 242 Epidemiologia clínica: elementos essenciais capazes de encontrar e criticar as informações por conta própria; esta é uma habilidade clínica bási- ca. Mas, por uma questão prática, não é possível fa- zer tudo sozinho, com todas as informações neces- sárias. Surgem muitas questões em um único dia e há muito pouco tempo para respondê-las sozinho. Portanto, os clínicos precisam encontrar fontes confiáveis para ajudá-los a gerir o conhecimento. Que meio devo usar? Hoje dispomos de uma vasta gama de meios para obter informações. Eles variam desde livros e pe- riódicos impressos até informações digitais na in- ternet, acessadas por meio de plataformas fixas e portáteis. Existem arquivos de áudio e de vídeo e muito mais. O meio pelo qual você recebe a in- formação não determina se ela é mais ou menos confiável. A validade depende dos autores, dos re- visores e dos editores, não dos meios. Contudo, a disponibilidade de diversos meios, com vantagens e desvantagens complementares, facilita a locali- zação daqueles que agradam mais a cada usuário. Um plano moderno de gestão do conhecimen- to deve se basear em informações eletrônicas dis- poníveis na internet. A base de informações para a prática médica está mudando tão rapidamente que a mídia exclusivamente impressa não é mais suficiente. Por exemplo, descobertas clinicamen- te importantes na terapia antirretroviral para HIV, tecnologias de imagem inovadoras e tratamentos quimioterápicos de ponta surgem a cada ano, às vezes a cada mês. A internet pode se manter em dia com tais mudanças rápidas e também complemen- tar, mas não substituir, as fontes tradicionais. Graduando as informações Graduar as informações permite que, em segun- dos, os clínicos tenham uma noção básica do va- lor que elas carregam. Geralmente a qualidade das evidências (confiança nas estimativas dos efeitos) e a força das recomendações são avaliadas sepa- radamente. A Tabela 14.1 mostra o exemplo de um esquema de graduação amplamente utilizado, chamado de GRADE, que apresenta princípios semelhantes a outras abordagens de uso corriquei- ro. Esse sistema de graduação é voltado para inter- venções; a graduação de outros tipos de informa- ção não está tão bem desenvolvida. Observe que as recomendações são baseadas na força das evi- dências da pesquisa, dependem do equilíbrio dos benefícios e danos e variam na força e no alcance com que a intervenção deve ser oferecida aos pa- cientes. Embora os critérios para a graduação se- jam explícitos, o processo de atribuir um grau ain- da depende em parte de um julgamento de valor. Relatos enganosos de achados de pesquisa Pela discussão feita até agora, poderia parecer que as únicas ameaças à validade das pesquisas clíni- cas publicadas decorrem das dificuldades de apli- car bons princípios científicos ao estudo das doen- ças humanas. Isto é, a validade dependeria apenas do bom manejo do viés e do acaso. Infelizmente há outras ameaças à validade dos resultados, que estão relacionadas aos próprios pesquisadores e ao ambiente social, político e econômico em que tra- balham. Estamos nos referindo à tendência mui- to humana de relatar os resultados da pesquisa se- gundo seus interesses particulares nos resultados. O conflito de interesses existe quando os in- teresses particulares dos pesquisadores concorrem com suas responsabilidades de serem pesquisado- res não enviesados. Há múltiplas possibilidades de conflitos de interesses: • Conflito de interesse financeiro: quando a renda pessoal ou da família está relaciona- da aos resultados da pesquisa (esse conflito é geralmente considerado o mais poderoso e o mais difícil de detectar). • Relacionamentos pessoais: apoiar amigos e desfavorecer rivais. • Paixão intelectual: defender suas próprias ideias e ser contra ideias concorrentes. • Lealdades institucionais: colocar os interesses da própria instituição de ensino, empresa ou organização acima dos demais. • Avanço na carreira: os pesquisadores recebem mais crédito acadêmico por publicar resulta- dos interessantes em revistas prestigiadas. O conflito de interesses existe em relação a uma questão específica, e não geral, e independe de ter ou não mudado o comportamento. Como o conflito de interesses é expresso? Má conduta científica – fraude, fabricação e plágio são exemplos extremos. Menos extremo é o relato se- letivo de resultados de pesquisa, seja ao não rela- tar resultados indesejados (viés de publicação) ou ao relatar aqueles resultados que parecem ser os “certos”. Quando a indústria farmacêutica finan- Capítulo 14: Gestão do conhecimento 243 cia pesquisas, algumas vezes ela pode bloquear a publicação ou alterar a forma como os resultados são relatados. Para criar um registro público que permita averiguar se isso ocorreu, os ensaios clíni- cos randomizados são agora registrados em por- tais de livre acesso na internet antes da coleta de dados, possibilitando posteriormente verificar se os resultados foram publicados quando esperado e se os desfechos relatados foram os mesmos que os planejados quando o ensaio clínico começou (1). Mais sutis e difíceis de detectar são os esforços para distorcer os resultados pela forma como sãodescritos, por exemplo, sugerindo que um valor P muito baixo significa que os valores são clinica- mente importantes ou descrevendo efeitos como “grandes” quando a maioria de nós pensaria que não são (2). Todos nós dependemos da revisão por pares e de editores para limitar o pior desse tipo de manipulação em artigos científicos. Mencionamos essas influências um tanto sór- didas sobre as informações das quais dependem os clínicos (e seus pacientes), porque elas são, em algumas situações, tão reais e importantes quan- to a aplicação bem informada dos intervalos de confiança e o controle do confundimento, o do- mínio habitual da epidemiologia clínica. A pes- quisa e sua interpretação são esforços humanos e serão, portanto, sempre tingidas por resultados de interesse próprio. Existem esforços contínuos pa- ra limitar o viés relacionado a conflitos de interes- se, principalmente ao insistir na revelação integral dessas informações, mas também excluindo os in- divíduos que têm conflitos de interesse óbvios da revisão por pares de manuscritos e auxílios de fi- nanciamento, da autoria e revisão de artigos e edi- toriais, além da participação em grupos que ela- boram diretrizes. BUSCA DE RESPOSTAS PARA QUESTÕES CLÍNICAS Os clínicos precisam ser capazes de encontrar res- postas para as perguntas que surgem durante o cuidado de seus pacientes. Isso é necessário não apenas para buscar dados sobre aquilo que os clí- nicos não sabem, mas também para verificar fatos que eles pensam conhecer, mas que talvez não sai- bam, já que a base de informações para o cuidado dos pacientes está sempre em constante mudança. É necessário obter respostas para questões no momento e no local em que surgem durante o cuidado com o paciente. Isso é conhecido em in- glês como point of care (no momento do aten- dimento), e o aprendizado relacionado é deno- minado aprendizado sob demanda (just-in-time learning). As respostas podem então ser utilizadas para orientar a tomada de decisão para o pacien- te em questão. O que é aprendido dessa forma tem maior probabilidade de ficar retido do que informações obtidas fora de contexto, em uma sa- la de aula, durante uma palestra, em um livro ou periódico, não considerando a necessidade de sa- ber aquela informação para um paciente específi- co. Além disso, postergar a resposta das questões para depois muitas vezes significa que elas não se- rão respondidas. Para o aprendizado sob demanda ocorrer, di- versas condições precisam estar acontecendo (Ta- bela 14.2). Na maioria dos ambientes de atendi- mento clínico, o tempo é escasso, então a resposta precisa vir rapidamente. Como um pediatra sa- lientou, “Se eu ficasse um ou dois minutos a mais com cada paciente, chegaria em casa uma hora mais tarde no final do dia!”. O que os médicos precisam não é de uma resposta, mas sim da me- lhor resposta disponível, dado o estado do conhe- cimento no momento. Eles precisam de informa- ções que correspondam o mais próximo possível à situação clínica em que seu paciente se encontra. Se o paciente for idoso e apresentar diversas doen- ças, as informações pesquisadas deverão ser sobre pacientes idosos com comorbidades. Os clínicos precisam de fontes de informação que os acom- panhem enquanto se deslocam do escritório pa- ra casa (onde podem receber chamados à noite e nos finais de semana) e para hospitais e clínicas geriátricas. Quando tudo isso acontece, e certamente é possível, os resultados são extraordinariamente poderosos. EXEMPLO Um paciente vai ao seu consultório porque irá via- jar para Gana e quer conselhos sobre profilaxia pa- ra malária. Você sabe que a suscetibilidade do parasi- ta da malária aos fármacos antimaláricos varia e que está continuamente se alterando. Os Centros de Pre- venção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) têm uma página na Internet (http://www.cdc. gov) com informações atualizadas para os viajantes para todas as partes do mundo. Utilizando o compu- tador em sua clínica, você rapidamente descobre qual 244 Epidemiologia clínica: elementos essenciais TABELA 14.1 Graduando recomendações terapêuticas de acordo com a qualidade das evidências (confiança na estimativa do efeito, A-C) e força da recomendação (1-2), bem como suas implicações. Baseado nas diretrizes do GRADE Grau de Clareza do risco/ Qualidade das recomendação benefício evidências Implicações 1A. Recomendação forte, evidências de alta qualidade 1B. Recomendação forte, evidências de qualidade moderada 1C. Recomendação forte, evidências de baixa qualidade 2A. Recomendação fraca, evidências de alta qualidade 2B. Recomendação fraca, evidências de qualidade moderada 2C. Recomendação fraca, evidências de baixa qualidade (Adaptada a partir de Guyatt GH, Oxman AD, Vist GE, et al. for the GRADE Working Group. GRADE: an emerging consensus on rating quality of evidence and strength of recommendations. BMJ 2008;336:924–926.) Benefícios claramente superam os riscos e o ônus, ou vice-versa. Benefícios claramente superam os riscos e o ônus, ou vice-versa. Benefícios parecem superar os riscos e o ônus, ou vice- -versa. Os benefícios se equiparam ao risco e ao ônus. Os benefícios se equiparam ao risco e ao ônus, com alguma incerteza nas estimativas de benefício, risco e ônus. Incerteza nas estimativas de benefícios, riscos e ônus; os benefícios podem se equiparar ao risco e ao ônus. Evidências consistentes de ensaios clínicos randomizados de boa qualidade ou evidências irrefutáveis produzidas de outra forma. É pouco provável que pesquisas futuras alterem a confiança nas estimativas dos benefícios e riscos. Evidências de ensaios clínicos randomizados com importantes limitações (resultados inconsistentes, falhas metodológicas ou imprecisão) ou evidências muito fortes de algum outro delineamento de pesquisa. Outras pesquisas (se realizadas) poderão alterar nossa confiança nas estimativas de benefício e risco. Evidências de estudos observacionais, experiência clínica não sistematizada ou ensaios clínicos randomizados com falhas graves. Qualquer estimativa de efeito é incerta. Evidências consistentes de ensaios clínicos randomizados de boa qualidade ou evidên- cias irrefutáveis produzidas de outra forma. É pouco provável que pesquisas futuras alterem a confiança nas estimativas dos benefícios e riscos. Evidências de ensaios clínicos randomizados com importantes limitações (resultados inconsistentes, falhas metodológicas ou imprecisão) ou evidências muito fortes de algum outro delineamento de pesquisa. Outras pesquisas (se realizadas) poderão mudar nossa confiança nas estimativas de benefício e risco. Evidências de estudos observacionais, experiência clínica não sistematizada ou ensaios clínicos randomizados com falhas graves. Qualquer estimativa de efeito é incerta. Recomendações fortes se aplicam à maioria dos pacientes na maioria das circunstâncias, sem reservas. Os clínicos devem seguir uma recomendação forte, a menos que haja uma justificativa clara e inegável para uma abordagem alternativa. Recomendações fortes que se aplicam à maioria dos pacientes. Os clínicos devem seguir uma recomendação forte, a menos que haja uma justificativa clara e inegável para uma abordagem alternativa. Recomendação forte que se aplica à maioria dos pacientes. Algumas das evidências que apoiam a recomendação são de baixa qualidade. Recomendações fracas. A melhor ação pode ser diferente, dependendo das circunstâncias ou dos valores do paciente ou da sociedade. Recomendação fraca. Abordagens alternativas provavelmente serão melhores para alguns pacientes sob algumas circunstâncias. Recomendação muito fraca. Outras alternativas podem ser igualmente razoáveis. Capítulo 14: Gestão do conhecimento 245 Soluções Colegas clínicosUma rede de colegas com experiências diversas e complementares é uma forma consagrada para descobrir informações de forma rápida. Muitos clínicos identificaram líderes de opinião local para esse propósito. É claro que esses líderes de opinião precisam ter suas próprias fontes de informações, presumidamente mais do que apenas a opinião de outros colegas. Livros-texto eletrônicos Livros-texto, e até mesmo bibliotecas, podem ser encontrados na internet e são disponibilizados pa- ra os médicos por meio das faculdades de medici- na, dos sistemas de saúde e das sociedades profis- sionais. Por exemplo, o UpToDate (http://www. uptodate.com) é um recurso de informações ele- trônicas para clínicos, produzido por milhares de médicos-autores e editores, cobrindo nove mil tó- picos, no equivalente a 90 mil páginas impressas (se fossem, de fato, impressas)†. As informações são atualizadas continuamente, revisadas por pa- res, pesquisáveis e ligadas a resumos da pesquisa original, e as recomendações são graduadas con- forme o nível de evidência. O UpToDate está dis- ponível para consulta imediata em qualquer lugar onde a internet puder ser acessada em computa- dores ou plataformas móveis. fármaco profilático esse paciente deve utilizar e por quanto tempo antes, durante e depois da viagem. Você também é relembrado de que ele deve tomar um reforço da vacina para pólio e ser vacinado contra hepatite A e B, febre tifoide e febre amarela. A pági- na lista clínicas onde essas vacinas estão disponíveis. A página também mostra que o norte de Gana, onde seu paciente irá visitar, fica no “cinturão da meningi- te”, de forma que ele também deve ser vacinado con- tra a doença meningocócica. As informações em que você está se baseando são uma síntese do que há de melhor disponível no mundo, porque são constante- mente atualizadas e estão disponíveis para você em questão de segundos. †Robert e Suzanne Fletcher estão entre as centenas de editores do UpToDate. EXEMPLO Um dos autores deste livro estava atendendo pacien- tes em Boston durante o ataque com antraz em 2001. Em torno dessa época, terroristas biológicos espalha- ram esporos de antraz pelo sistema postal dos Esta- dos Unidos, resultando em dezenas de casos e cinco mortes. Uma jovem buscou cuidado urgente porque estava preocupada que uma lesão recente na pele ti- vesse sido causada por antraz. Quando informada de que a causa não era essa, ela respondeu (de forma um tanto grosseira): “Como você sabe, se você nunca viu?”, ao que o médico respondeu: “Claro que nun- ca vi, nenhum de nós viu. Mas sabemos como se pa- rece. Venha comigo que vou te mostrar.”. Utilizando o UpToDate em um computador do consultório, ele mostrou à paciente diversas imagens de lesões na pe- le causadas por antraz, que eram muito diferentes da que ela tinha, e ela ficou confiante de que não era, de fato, mais uma vítima do antraz. Outros livros-texto, como o ACP Medicine, o Harrison’s Textbook of Medicine e muitos outros também estão disponíveis em formato eletrônico. TABELA 14.2 Critérios necessários para que as informações disponíveis sejam úteis para aprendizado sob demanda Critério Justificativa Acesso rápido As informações devem estar disponíveis em poucos minutos para se encaixarem na agenda corrida da maioria dos cenários de cuidado com pacientes. Atualização Uma vez que a melhor base de informação para as decisões clínicas está em constante mudança, a informação normalmente precisa ser eletrônica (em termos práticos, na internet). Customizada para a Os clínicos precisam de questão específica informações que sejam o mais próximo possível da situação real de seus pacientes individuais. Organizada segundo Há uma vasta quantia de a força científica informações para quase todas as questões clínicas, mas somente uma pequena proporção delas é cientificamente forte e clinicamente relevante. Disponível em Os clínicos não podem deixar seus situações clínicas postos de trabalho para procurar por respostas. Eles precisam ter acesso a elas no local onde trabalham. 246 Epidemiologia clínica: elementos essenciais Diretrizes para a prática clínica As diretrizes para a prática clínica são recomen- dações aos clínicos sobre o cuidado de pacien- tes com condições específicas. Além de fazer re- comendações, as boas diretrizes também tornam explícitas a base das evidências e a justificativa pa- ra as recomendações. Como a medicina baseada em evidências, as diretrizes deveriam ser um pon- to inicial para a tomada de decisão sobre os pa- cientes, devendo ser modificadas de acordo com o julgamento clínico, isto é, são diretrizes, não re- gras. As diretrizes de alta qualidade representam uma aplicação criteriosa das evidências de pes- quisa à realidade da prática clínica. Mas as dire- trizes variam em qualidade. A Tabela 14.3 resu- me alguns critérios para diretrizes confiáveis que foram desenvolvidos pelo Institute of Medicine dos Estados Unidos. Uma listagem relativamen- te abrangente de diretrizes pode ser encontrada no National Guideline Clearinghouse, disponível no endereço http://www.guidelines.gov. The Cochrane Library Cientistas clínicos de todo o mundo se oferece- ram para revisar a literatura mundial sobre ques- tões clínicas específicas, sintetizar essas infor- mações, armazená-las em uma página central e mantê-las atualizadas. A coleção de todas essas re- visões está disponível no endereço http://www.co- chrane.org (no Brasil, acesso gratuito pelo ende- reço http://cochrane.bireme.br). Embora o The Cochrane Library seja incompleto, devido à gran- de quantidade de questões de que pode tratar, é uma excelente fonte de revisões sistemáticas, com metanálises quando justificadas, sobre os efeitos de intervenções e, mais recentemente, sobre o de- sempenho de testes diagnósticos. Bancos de dados de citações (PubMed e outros) O MEDLINE é uma base de dados compilada pe- la Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, cobrindo aproximadamente cinco mil periódicos mundiais sobre biomedicina e saúde, a maioria publicada em inglês. Está disponível sem custos, utilizando uma ferramenta de busca, ge- ralmente o PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed). O MEDLINE pode ser pesquisa- do por assunto, periódico, autor, ano e delinea- mento de pesquisa. Além das citações, há também resumos disponíveis. O EMBASE (http://www.em- base.com) também é utilizado e complementa o que se encontra no MEDLINE. Além desses dois, existem muitos outros bancos de dados bibliográ- ficos para propósitos mais especializados. TABELA 14.3 Padrões de confiabilidade para as diretrizes para a prática clínica Padrão Justificativa Transparência É explicitado como as diretrizes foram desenvolvidas e financiadas, e essas informações estão acessíveis publicamente. Conflitos de Os conflitos de interesse dos interesses membros do grupo com relação a atividades financeiras, intelectuais, institucionais e voltadas para pacientes/público, ligados às diretrizes, são divulgados. Composição Os membros do grupo são do grupo multidisciplinares e equilibrados, incluindo uma variedade de especialistas de metodologia e clínicos, além de populações que se espera sejam afetadas pelas diretrizes. Revisão sistemática As recomendações são baseadas em revisões sistemáticas que satisfazem padrões elevados de qualidade. Evidências e força Cada recomendação está da recomendação acompanhada por sua justificativa, pelo nível de confiança nas evidências e pela força da recomendação. Descrição das As diretrizes expressam recomendações precisamente qual é a ação recomendada e sob que circunstâncias ela deve ser utilizada. Revisão externa As diretrizes foram revisadas pelo espectro completo das partes interessadas (por exemplo, especialistas científicos e clínicos, organizações e pacientes). Atualização As diretrizes relatam adata da publicação e da revisão das evidências, além dos planos para atualização quando surgirem novas evidências que alterarem substancialmente as diretrizes. Modificada do Institute of Medicine. Clinical Practice Guideli- nes We Can Trust. Washington, DC: National Academies Press; 2011. Os padrões são para desenvolvimento de diretrizes e fo- ram modificados para orientar os usuários para reconhecer dire- trizes em que podem confiar.