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LG – 2o dia | Caderno 1 - Amarelo - Página 9 QUESTÃO 9 Documento Encontro um caderno antigo, de adolescente. E, em vez das simples anotações que seriam preciosas como documento, descubro que eu só fazia literatura. Afinal, quando é que um adolescente já foi natural? E, folheando aquelas velhas páginas, vejo, compungido, como as comparações caducam. Até as imagens morrem, dizia Braz Cubas. Quero crer que caduquem apenas. Eis aqui uma amostra daquele “diário”. “Era tal qual uma noite de tela cinematográfica. Silenciosa, parada, de um suave azul de tinta de escrever. O perfil escuro das árvores recortava-se cuidadosamente naquela imprimadura unida, igual, que estrelinhas azuis picotavam. Os bangalôs dormiam. Uma? duas? três horas da madrugada? Nem a lua sequer o sabia. A lua, relógio parado...” Pois vocês já viram que mundo de coisas perdidas?! O cinema não é mais silencioso. Não se usa mais tinta de escrever. Não se usam mais bangalôs. E ninguém mais se atreve a invocar a lua depois que os astronautas se invocaram contra ela. Mario Quintana A partir de um episódio do cotidiano, a crônica de Mário Quintana leva a considerações sobre o passar do tempo e as mudanças daí decorrentes. Sobre os elementos que compõem o texto, pode-se afirmar que o texto como um todo se desenvolve de forma a tornar contraditório o título conferido à crônica. a pergunta que encerra o primeiro parágrafo não é respondida no texto, como conviria. os elementos colhidos no diário documentam o passar do tempo, com seus reflexos, inclusive, no campo literário. o uso do verbo “invocar”, no final do texto, reforça, pela repetição, a importância poética conferida à lua em diferentes momentos. o trecho transcrito do diário encontrado apresenta, predominantemente, características da tipologia narrativa. QUESTÃO 10 Os níveis hierárquicos da língua A teoria da língua como uma estrutura propõe que as unidades mencionadas anteriormente se organizam em três níveis hierárquicos: o nível fonológico (= fonema), o nível morfológico (= morfema) e o nível sintático (= sintagma e sentença). Alguns modelos mais recentes incluem o nível discursivo. (...) O caráter hierárquico desses níveis decorre de que, por postulação teórica, propriedades dos fonemas terão repercussão na constituição dos morfemas, propriedades destes terão repercussão na palavra, e assim por diante. Assim, a existência em português de dois fonemas vocálicos mediais (cf. distinção entre [e] e [o] abertos e fechados) gerou o morfonema de gênero (cf. a distinção não afixal entre ele / ela), de número (cf. a distinção entre ovo / ovos) e de pessoa (cf. a distinção não afixal entre bebo / bebes). Significa que o nível fonológico, “inferior” num arranjo que vá das unidades mínimas para as unidades máximas, afeta o nível gramatical “superior” dos morfemas, fazendo da estrutura linguística uma sorte de “criação matemática” dos linguistas, “onde tudo está relacionado” (francês: “où tout se tient”), para retomar a formulação saussureana. CASTILHO, Ataliba T. de. O que se entende por língua e linguagem? Disponível em: www.museudalinguaportuguesa.org.br. Acesso em: 12 fev. 2016. O texto acima está voltado para os níveis hierárquicos que se podem identificar na organização estrutural da língua. Segundo o texto, pode-se depreender que a caracterização de três níveis como componentes hierárquicos na organização da língua é consenso na teoria linguística. essa visão hierárquica considera, de forma estanque, a existência de três níveis que se distinguem segundo critérios de importância. os assim chamados morfonemas são uma decorrência da repercussão verificada entre diferentes níveis hierárquicos. o uso das aspas nas palavras “inferior” e “superior” é recurso destinado a enfatizar o valor denotativo desses vocábulos. a tese da inter-relação entre os diversos níveis hierárquicos contraria frontalmente a teoria linguística saussureana.