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PSICOLOGIA DAS RELAÇÕES FAMILIARES 
 
A INSTITUIÇÃO FAMILIAR 
A família também é entendida como uma instituição social, e pode ser considerada a principal fonte 
de socialização do ser humano ao proporcionar a aprendizagem de quais padrões e normas 
culturais seguir e quais devem ser internalizados e reproduzidos nas relações. Assim, a família 
influencia os pensamentos e comportamentos aceitos ou não, por meio de internalizações pela 
criança de normas e papéis sociais em seu desenvolvimento (RAMOS; NASCIMENTO, 2008). Nesse 
sentido, a família é a primeira instituição que o sujeito tem contato e serve de base para formação 
de todas as outras, já que através dela o ser humano se torna um ser social, inserido em uma cultura 
e valores propagados. De acordo com Campos (2011), a instituição familiar teria, dentre as suas 
características, a mutabilidade e a elasticidade. Para Bruschini (1989, p. 5, apud CAMPOS, 2011, 
p. 72), “[...] a existência de um modelo numa sociedade ou momento histórico determinado não 
significa que este conjunto de regras e padrões de comportamentos não seja passível de 
transformações.". Esses movimentos sociais influenciam as funções básicas da família, como 
exemplo, a educação e a saúde, em que a família pode não dar conta de transmitir os valores que 
estão em constante mudanças na sociedade contemporânea (RAMOS; NASCIMENTO, 2008). 
De acordo com Minuchin (1985,1988 apud FACO; MELCHIORI, 2009) a família é um sistema 
complexo, em que se organiza a partir de crenças, valores e práticas relacionadas às modificações 
sociais, a fim de encontrar a melhor adaptação para a sobrevivência de seus integrantes e da 
instituição em si. Portanto, dentro da teoria de Minuchin, a família pode ser considerada “um 
sistema aberto em constante transformação com os sistemas extrafamiliares” (STRÜMER et al, p. 
56, 2016). Dessa forma, as ações dos membros da instituição familiar são direcionadas a partir dos 
aspectos específicos do próprio sistema familiar, como também, das necessidades e das 
preocupações fora do núcleo familiar (STRÜMER et al, 2016). 
Assim, Minuchin (p. 57, 1982 apud STRÜMER et al, p. 56, 2016) colocará que a estrutura familiar 
é formada por um “conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a maneira pela qual os 
membros da família interagem”. A família pode ser definida, então, como um sistema associado a 
padrões passados pelos membros, que regulamentaram o comportamento deles, de acordo com 
as relações desenvolvidas entre eles. As interações formadas, por sua vez, influenciaram a 
constituição e a determinação dos papéis familiares, mantendo a dinâmica familiar. Além disso, 
outro ponto a destacar-se é a organização familiar, que é conduzida por negociações e acordos 
entre os membros, que são constituídos a partir de subsistemas, quais são “agrupamentos 
familiares baseados em gerações, gêneros e interesses comuns” (NICHOLS; SCHWARTZ, p. 184, 
2007 apud STRÜMER et al, p. 57, 2016). Portanto, os membros se organizam e desenvolvem 
papéis específicos em cada um desses subsistemas, os quais podem ser conjugais, parentais e/ou 
fraternos. A partir disso, pode-se analisar a família como um sistema, que se baseia em uma 
estrutura hierárquica, devido a formação de subsistemas com regras que regulamentam as relações 
entre os membros (STRÜMER et al, 2016). 
A família como instituição não está isolada das mudanças sociais e históricas. Ela é alvo de 
processos de mudanças contínuas e constitui um grupo com potencial social, dinâmico e flexível 
(CAMPOS, 2011). Apesar de todos os agentes influenciadores que atuam sobre a família, ela 
apresenta grande habilidade de adaptação e permanece existindo, mesmo com todas as alterações 
que sofre com as crises sociais. Nesse contexto, a instituição familiar abarca grande importância no 
processo de formação de identidade e promoção de saúde de seus integrantes e indica um grande 
poder para as relações intrafamiliares. 
 
UM BREVE HISTÓRICO SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA 
Segundo a teoria de Engels (apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003), há três fases de 
desenvolvimento da cultura que fazem alusão à formação familiar: o Estado Selvagem 
corresponderia a um período em que todos pertenciam a todos, sem nenhum tipo de compromisso 
estabelecido; o Estado Barbárie consistiria em um momento em que os grupos, antes amplos, 
passaram a se delimitar e se dividir em pares; e o Estado de Civilização, em que predomina a 
monogamia com o objetivo de procriação e preservação de bens. 
A família, em sua tradicionalidade, por muito tempo configurou-se da seguinte maneira: a figura 
paterna, responsável por sustentar a família, do ponto de vista financeiro; a figura materna, 
responsável pelos cuidados domiciliares e pela criação das crianças, e o(a) filho(a), que deveria ser 
obediente as figuras de autoridade (o pai e a mãe). 
Assim, a família tradicional possuía funções delimitadas à procriação e à legitimação da 
transmissão do patrimônio, influenciadas pelas características da sociedade patriarcal e hierárquica 
(WAQUIM; SOUSA, 2015). Havia, com maior intensidade, a hierarquização e a divisão de funções 
sexualmente definidas, constituídas pelo marido e pela mulher. O homem era colocado no papel 
de provedor, responsável pelo sustento e manutenção, enquanto a mulher era responsável por 
educar os filhos e gerenciar o lar. Zeladora pelo bem-estar da família, a mãe desempenhava o papel 
de principal responsável pela criação e pelo cuidado dos filhos, sendo responsável pelo 
desenvolvimento e pela socialização deles. Assim, nesse modelo nuclear havia maior ordenamento 
e forte diferenciação na relação de gênero. (RAMOS; NASCIMENTO, 2008). 
Dentre os episódios importantes no processo de transformação da configuração e estruturação 
familiar, encontram-se o êxodo rural – no qual as famílias deixavam de lado o trabalho no campo, 
mais conservador e patriarcal, para desenvolver um trabalho voltado à indústria, o que acarretou 
diversas mudanças sociais e culturais no modelo de estrutura familiar. 
A partir do século XIX, com o advento da industrialização, do capitalismo e dos movimentos 
feministas, ocorreram profundas mudanças na instituição familiar. Houve a diminuição do número 
de membros da família e o ingresso da mulher no mercado de trabalho. Quando a mulher é inserida 
no mercado de trabalho, há um rompimento com o modelo institucional familiar. Surgem novos 
valores e papéis sociais que influenciam a ressignificação do núcleo familiar, uma vez que há a 
interiorização deles e, consequentemente, uma reestruturação dos papéis entre os membros da 
família: a mãe passa a ter um papel além do de educadora, para de trabalhadora; enquanto o 
homem começa a assumir tarefas, antes colocadas como femininas, dentro de casa (SIMIONATO; 
OLIVEIRA, 2003). 
Da mesma maneira, o século XX trouxe diversas mudanças, ainda que carregasse uma herança 
conservadora – o homem como figura de autoridade, o casamento como algo sagrado e a 
característica de servir ao outro e ser solidário dentro das relações. Os anos 60, mais 
especificamente falando, trouxeram novas concepções de família com o aumento na incidência de 
divórcios, enfraquecimento do poder religioso sobre o casamento e lutas pela igualdade dentro do 
matrimônio. 
No século XXI, a família passa a ser considerada “pluralista”, pois contempla inúmeras maneiras de 
se constituir e de se expressar. Hoje, tem se tornado cada vez mais comum o surgimento de famílias 
monoparentais, homoafetivas, famílias com ou sem filhos, sem registro civil de casamento, 
casamentos múltiplos, entre outras configurações. A crise familiar é tida como uma preocupação 
ao que se refere “à baixa taxa de fecundidade, ao aumento da expectativa de vida e, 
consequentemente, à crescente proporção da população com mais de 60 anos” (SIMIONATO; 
OLIVEIRA, 2003, p. 61), além do “declínio do casamento e da banalização das separações”(PEIXOTO; CICCHELLI, apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 61). Os autores, contudo, não 
consideram uma crise de fato, mas sim como um período de transição de um tipo de família mais 
tradicional para várias formas de ser família. 
No contexto da cultura brasileira, segundo Senna e Antunes (apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003), 
as últimas três décadas permitiram que se percebesse essas alterações com mais clareza – 
observa-se que, em certas regiões, as taxas de natalidade e mortalidade se reduziram, contando 
com a presença de membros de idade mais avançada e de quantidade reduzida nas famílias; 
contudo, em camadas mais vulneráveis da sociedade – do ponto de vista econômico – nota-se 
aumento da taxa de natalidade, com presença cada vez maior de mães solteiras e famílias vivendo 
em situação de rua. Essas pessoas em situação de risco sofrem por diversas condições, sejam 
“doenças, desemprego, conflitos conjugais intensos, envolvimento em atividades ilícitas e 
problemas com a polícia, dependência de drogas, distúrbios mentais etc” (SIMIONATO; OLIVEIRA, 
2003, p. 61), que não lhes permitem usufruir das ferramentas necessárias para atentar-se aos 
cuidados dos integrantes, carecendo, dessa forma, da elaboração de políticas públicas de saúde 
pelo Estado para satisfação de suas necessidades. Nas regiões mais urbanas, observa-se que as 
famílias são formadas por várias gerações e os filhos adultos tendem a permanecer com os pais, 
mesmo depois de casados, para auxiliar nos gastos da casa. 
 
REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA E SUAS HIERARQUIAS 
Atualmente, percebe-se uma maior variedade ao que se refere às formas de estruturação familiar. 
Não existe mais um padrão ou regra do que é família, pois essa “sofre fortes influências políticas, 
econômicas, sociais e culturais, ocasionando mudanças nos papéis e nas relações em seu interior, 
bem como alterando sua estrutura no que diz respeito à composição familiar” (SIMIONATO; 
OLIVEIRA, 2003, p. 59). Dessa maneira, pesquisadores têm dado mais enfoque nessas diferenças 
e como elas se constroem ao longo do tempo. 
Analisa-se, portanto, a relevância de considerar o gênero como uma construção cultural e histórica, 
a qual implica categorias simbólicas que a sociedade coloca intrinsecamente o conceito de 
“homem” e “mulher” aos papéis sociais, sendo produtos da atividade humana. Entender essas 
construções facilita o entendimento das interações sociais, além das diferenças e desigualdades, 
que atuam sobre os papéis dos membros da família, como das funções dessa instituição 
(SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003). Dessa forma, dentro das dinâmicas familiares pode-se observar a 
mudança em relação ao gênero, em busca de equidade, apesar das mulheres ainda serem as 
principais responsáveis pelo cuidado dos filhos e de funções domésticas. 
A crise da instituição familiar se dá no modelo familiar monárquico, em que há uma mudança no 
exercício de poder da família como um enfraquecimento da questão de hierarquia entre pais e 
filhos, além dos cônjuges (MORAES, 2013). O amor se torna condição e justificativa para que os 
cônjuges permaneçam juntos, além da atenção aos filhos. A família contemporânea tenta romper 
com o padrão hierárquico, através do aspecto de equivalência nas relações, com igualdade e 
respeito, além da ideia normativa das categorias de gênero e papéis serem intrinsecamente 
diferentes. Assim, os cuidadores podem sair de seu papel tradicional de autoridade, principalmente 
a relação de autoridade e figura paterna, para a tentativa de um estilo baseado na afeição, 
compreensão e diálogo, através do qual se possibilita a visibilidade das necessidades e questões 
dos filhos, uma vez que podem ser colocados como os membros mais vulneráveis às situações de 
conflitos e de expectativas projetadas pelo contexto familiar e pela inserção social (SIMIONATO; 
OLIVEIRA, 2003). 
Nos dias de hoje, observa-se divergentes constituições de famílias, como uniões instáveis, 
divórcios, uniões homossexuais, ausência de filhos nos casamentos, dentre outras. Verifica-se 
também um processo de desfragmentação, instabilidade e individualização em relação às famílias 
(CAMPOS, 2011). A maior autonomia e individuação dos filhos segue-se pelo afrouxamento de 
poder e autoridade pelos pais; ao passo que há uma proximidade nas relações entre pais e filhos 
na dinâmica familiar. A valorização do diálogo com os filhos é um indício da mudança na distribuição 
de poderes na dinâmica familiar. Isso possibilita que os filhos se expressem e coloquem os seus 
pontos de vista aos cuidadores, o que favorece um espaço democrático na família, no qual todos 
teriam o direito e o acesso às decisões e às palavras (BRIOSCHI; TRIGO, 1989). 
Outro conceito que se pode observar é da família como uma unidade de interação entre pessoas 
em que cada um tem tarefas específicas. Há uma tendência de cada vez mais a família se tornar 
um grupo fundado nos aspectos de afeição, deixando de lado a hierarquização e a organização, o 
que apresenta uma evolução no conceito de família. Dentre os diversos conceitos de família, pode-
se destacar um ponto em comum: a intimidade, o respeito mútuo, a troca e a amizade como fatores 
essenciais para a união dos membros (SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003). Importante ressaltar que os 
laços familiares não se restringem às relações consanguíneas, uma vez que se relaciona com as 
relações territoriais, amizades, adoções e pela identificação entre os sujeitos que reconhecem 
direitos e obrigações mútuas (CAMPOS, 2011). É essencial nesse meio as conversas familiares, as 
quais possibilitam os membros de se expressarem, compartilharem sentimentos, necessidades e 
experiências, como expressar sua individualidade. 
Para Singly (apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003), a família é uma contradição ambulante, pois ao 
mesmo tempo em que é relacional, é individualista, já que busca ser independente e 
interdependente simultaneamente. É relacional, pois se fundamenta no princípio do amor – deve-
se cuidar das necessidades um dos outros – e refere-se ao grupo de maneira geral, porém, é 
também individualista, pois as responsabilidades dentro de um relacionamento podem ser usadas 
como uma maneira de manipular o outro para que este sacie sua vontade — o foco são os 
integrantes do grupo e suas necessidades pessoais. 
 Infelizmente, a proximidade afetiva não pode ser colocada como algo constante nas famílias, 
devido à variação sociocultural. Além da livre escolha de parceiros, como o sentimento de afeto na 
dinâmica familiar, há também a concepção da família como apoio material, ajuda mútua e 
sobrevivência econômica. Contudo, observa-se na família contemporânea desvinculação afetiva do 
grupo familiar, a fim de uma trajetória individual e de realização pessoal. Além disso, o 
individualismo também aparenta afetar a relação conjugal, já que há um aumento da valorização 
da realização pessoal, como o bem-estar dos membros do grupo. 
Assim, o conceito de família se materializa na convivência entre os seus familiares. É nesse meio 
que a família se confronta com as exigências sociais e as resistências às mudanças. Em uma 
sociedade desigual, necessita-se analisar as diferentes composições familiares, que estão inseridas 
em determinado contexto socioeconômico e político. (WAGNER; PREDBON; MOSMANN; VERZA, 
2005). 
 
FUNÇÕES E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA AO LONGO DA HISTÓRIA 
Referente às suas funções, a família tem efeito abrangente sobre o grupo familiar e os indivíduos 
que a compõem. Os papéis de gênero, por exemplo, sofreram muitas alterações com o passar dos 
anos – como, por exemplo, a mulher tem explorado e se descoberto mais no ambiente de trabalho 
e o homem tem se voltado mais aos cuidados domésticos. A contribuição feminina no lar pode 
gerar grande sobrecarga e sofrimento psíquico, pois frequentemente além de trabalhar, a mulher 
é responsável por várias tarefas domésticas. Para o homem, deixar de ser oprovedor e protetor da 
família, pode da mesma forma acarretar danos à autoestima e gerar estresse – por isso a 
importância de se estudar a maneira com a qual são consolidados os conceitos de papel de gênero, 
para que se entenda as consequências geradas na vida das pessoas quando este paradigma é 
“ameaçado” de alguma forma. A família tem também o papel de cuidar de grupos mais frágeis 
socialmente falando, como as crianças – que não possuem maturação suficiente para serem 
independentes –, os adolescentes – que ainda que possuam certo grau de independência, ainda 
não estão completamente desenvolvidos e sofrem com esse período de transição, cheio de 
expectativas e cobranças dos pais e responsáveis – e os idosos – que muitas vezes são vistos como 
estorvos por não serem mais capazes de contribuir tão ativamente nas finanças. Chauí também 
parece entender a família de maneira contradita, pois ao mesmo tempo que subjuga seus membros 
a seguirem determinados códigos de conduta, também parece agir como núcleo opositor das regras 
sociais, “Mantém a subordinação feminina e dos filhos, mas protege mulheres, crianças e velhos 
contra a violência urbana; cria condições para a dominação masculina, mas garante aos homens 
um espaço de liberdade contra sua subordinação no trabalho; conserva tradições, mas é o espaço 
de elaboração de projetos para o futuro, é não só núcleo de tensões e de conflitos, mas também o 
lugar onde se obtém prazer (CHAUÍ, 1986 apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 64)”. 
Dessa forma, a família possui vários tipos de organização, estrutural e funcional, que se relaciona 
não apenas com seus integrantes, mas também com o Estado, e é de extrema relevância no 
desenvolvimento afetivo, identitário, de saúde, na promoção de autonomia e no processo de 
integração e inclusão de seus membros, independentemente de seu gênero, etnia, sexualidade etc. 
As mudanças de função e papéis na instituição familiar não ocorrem de maneira homogênea, na 
mesma frequência e intensidade, sendo assim, importante conhecer o contexto e as influências de 
crenças, valores e atitudes colocadas na dinâmica familiar (WAGNER; PREDBON; MOSMANN; 
VERZA, 2005), a fim de compreender seu significado e transformações. 
As funções parentais fazem parte de funções simbólicas, que são materializadas através da 
vivência do sujeito (KAMERS, 2006). A instituição familiar na contemporaneidade decorre de longo 
processo de construção e reconstrução da função da família ao longo da história, pois em cada 
momento vivido na sociedade houve influência dos aspectos sociais, culturais, os quais dão base 
para os papéis dos membros da família. 
 
A FAMÍLIA DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO: UM LUGAR SEGURO PARA CRESCER 
De acordo com a autora Rosa Maria Macedo (1994, p. 63), a família é vista como unidade social 
cuja função é a socialização das crianças por meio da educação e da transmissão da cultura, 
portanto, um poderoso agente para manutenção da continuidade cultural, isto é, um valor social 
universal. Nessa perspectiva, a família é, para a Psicologia, revestida de uma importância capital, 
dado que é o primeiro ambiente no qual se desenvolve a personalidade nascente de cada novo ser 
humano. Assim, a família é vista como o primeiro espaço psicossocial, protótipo das relações a 
serem estabelecidas com o mundo. É a matriz identidade pessoal e social, uma vez que nela se 
desenvolve o sentimento de pertinência que vem com o nome e fundamenta a identificação social, 
bem como o sentimento da independência e autonomia, baseado no processo de diferenciação, que 
permite a consciência de si mesmo como alguém diferente a consciência de si mesmo como alguém 
diferente e separado do outro. 
Nesse sentido, o propósito da família seria promover um contexto que supra as necessidades 
primárias de seus membros, referentes à sobrevivência (segurança, alimentação e um lar), ao 
desenvolvimento (afetivo, cognitivo e social), e ao sentimento de ser aceito, cuidado e amado. 
Considera-se suficientemente boa a família que provê um ambiente saudável em termos do 
impacto das relações mãe-criança, pai-criança, enfim relações entre todos os que são significativos. 
Dessa forma, a criança terá na família suficiente suporte e provimento afetivo (além, claro, do de 
subsistência), o que a torna um lugar seguro para crescer. 
A partir do século XVI, com o aparecimento do sentimento de infância e com o advento da 
burguesia, delineia-se uma organização de família nuclear, centrada na privacidade e na educação 
das crianças. Essa família serviu de base para que “os tradicionalistas” do século XIX inventassem 
a conhecida família patriarcal – “a família margarina”. São características dessa família: o amor 
conjugal e entre pais e filhos, a monogamia, fidelidade, cuidado intenso da prole no sentido de 
protegê-la e educá-la de acordo com os princípios da moral, higiene e bons costumes. Enfim, é um 
lugar de refúgio, proteção, lealdade e amor, respeito à autoridade do pai, provedor e responsável 
pelo bem-estar da família (POSTER, 1979). Esse modelo, incialmente restrito à burguesia, passa a 
ser um ideal para a classe operária após o primeiro período da industrialização e se dissemina como 
representação social da família e modelo idealizado da mesma. 
Em complemento, supõe-se que as grandes mudanças ocorridas nas últimas décadas tenham 
influenciado diretamente a chamada família tradicional no sentido da modernização (FIGUEIRA, 
1986). Entre elas são fundamentais as questões de gênero, envolvendo modificações na posição 
da mulher na sociedade e na família, as relações de casamento, com a legalização do divórcio, 
relações homossexuais, o comportamento reprodutivo que permite não só o controle da natalidade 
mas possibilita ao casal ter filhos se e quando quiser, a divisão do trabalho com a ocupação do 
espaço profissional pelas mulheres. 
O trabalho clínico com famílias implica compartilhar com elas seus constructos, compreendê-los, 
elucidá-los e com elas co-construir visões alternativas, contextualizadas, promotoras de mudanças 
que sejam de molde a dissolver os problemas que fazem parte da história que contam. A família é 
um “sistema aberto em transformação: quer dizer que está constantemente recebendo e emitindo 
inputs do e para o extrafamiliar” (MINUCHIN, 1976, p. 50). Isso significa que se pode aplicar à 
família todas as características dos sistemas: 
- É um todo organizado cujas partes são interdependentes, isto é , na família como sistema não se 
enfocam os indivíduos como tais, mas como “eus” relacionais interatuantes, construtivos desse 
sistema familiar: cada um é filho, o irmão mais velho, mais novo, pai, marido, mãe, etc.; 
- Todo sistema é formado de subsistemas que são holons, isto é, ao mesmo tempo que funcionam 
como parte de um sistema, possuem também as qualidades de sistemas, como por exemplo, o 
subsistema de irmãos, o parental, conjugal, subsistema masculino (pai e filhos); 
- As relações entre subsistemas são governadas por regras e constituem padrões de interação. 
Estes seriam os modos resultantes das interações, tanto intra como inter-sistemas, incluindo aqui 
o sistema amplo (MINUCHIN e FISHMAN, 1976); 
- Portanto, as regras são formadas nas próprias relações, envolvendo todos os participantes; são 
recorrentes e tendem à estabilidade, sendo mantidas por todo o sistema; 
- Como há limites ou fronteiras entre os subsistemas, geralmente as regras para as relações através 
das fronteiras são implícitas; 
- Como diz Minuchin (1976), as expectativas mútuas entre os membros de uma família são um dos 
maiores freios a mudanças de padrões comportamentais e, quando algum membro da família 
quebra alguma regra já estabelecida como padrão, há reações contrárias no sistema, no sentido de 
resistência a mudanças. Da mesma forma, quando ocorrem situações difíceis, de desequilíbrio, 
como uso de droga, por exemplo, são comuns os apelos à lealdadefamiliar ou cobranças de não-
cumprimento das expectativas quanto aos papéis desempenhados, como manobras para restaurar 
o equilíbrio (situação conhecida, habitual); 
- A circularidade é uma característica básica dos padrões de interação, isto é, tais padrões não são 
as resultantes de sequências lineares de comportamento-causa/comportamento-efeito, mas sim 
de um conjunto de feedbacks recursivos, formando uma teia de relações em que as mesmas 
pessoas ocupam diferentes posições nas relações com cada uma das outras, resultando padrões 
transacionais diferentes, como as figuras de um caleidoscópio. Por exemplo, uma posição de 
autoridade em relação a um filho: nesta posição, ele deve ceder à mesma espécie de poder que 
provavelmente sente quanto interage com o irmão menor (MINUCHIN, 1976); 
- Os sistemas tendem à estabilidade, enquanto, por outro lado, são dotados de um grande 
potencial de mudança. Estabilidade e mudança dizem respeito a uma qualidade inerente dos 
sistemas; a auto-organização, que, por sua vez, é expressão do alto potencial de flexibilidade, 
plasticidade e adaptabilidade que pode resultar em uma auto-renovação criativa do sistema. Ser 
estável não significa ser estático, pois o sistema flutua o tempo todo corrigindo os desvios através 
de mecanismos de feedbacks negativos para manter a estabilidade dos padrões, ou ampliando os 
desvios, para criar novos padrões (WATZLAWICK, 1967). Esses dois tipos de mudança são 
conhecidos respectivamente como mudança de primeira e segunda ordens; 
- Estabelecer regras para limitar a hora de chegada de um adolescente em casa é uma mudança 
de primeira ordem; dar a chave da casa e discutir princípios de responsabilidade pessoal, quanto a 
sair de ou chegar em casa, é uma mudança de segunda ordem porque supõe um salto qualitativo 
em direção à autonomia do jovem. 
REFERÊNCIAS 
BRIOSCHI, L. R.; TRIGO, M. H. B. FAMÍLIA: REPRESENTAÇÃO E COTIDIANO. Reflexão sobre um trabalho de campo. 
Centro de Estudos Rurais e Urbanos, 1989. Disponível em: 
. Acesso em: 20 nov. 2023. 
CAMPOS, A. R. Problematizando a família sob novas lógicas de constituição e interação. Pedagógica: Revista do 
programa de Pós-graduação em Educação - PPGE, v. 13, n. 26, p. 59–86, 2011. Disponível em: 
. Acesso em: 21 nov. 2023. 
FACO, V. M. G.; MELCHIORI, L. E. Conceito de família: adolescentes de zonas rural e urbana. Aprendizagem e 
desenvolvimento humano: avaliações e intervenções. São Paulo: Cultura Acadêmica, p. 1-16, 2009. Disponível em: 
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/2642/2/20409743.pdf. Acesso em: 20 nov. 2023. 
MACEDO, Rosa Maria. A família do ponto de vista psicológico: lugar seguro para crescer?. Cadernos de Pesquisa, n. 
91, p. 62-68, 2013. 
Revista de Psicologia, v. 20, p. 461–472, 2008. Disponível em: 
. Acesso em: 20 nov. 2023. 
SILVA, C. A. et al. O CONCEITO DE FAMÍLIA SOB AS NOVAS PERSPECTIVAS SOCIAIS. v. 19, n. 2, p. 126-141, 
Araras, 2019. Disponível em: 
. Acesso em: 20 nov. 2023. 
SIMIONATO, M. A. W.; OLIVEIRA, R. G. Funções e transformações da família ao longo da história. I Encontro 
Paranaense de Psicopedagogia, ABPppr, p. 57- 66, 2003. Disponível em: 
. Acesso em20 nov. 2023.

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