Prévia do material em texto
Fernanda Rodrigues — T 07 SP 14 — “Mas que estrago!” 1. Discorra sobre os parasitas que envolvem o ciclo pulmonar. (etiologia, ciclo, sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção) Ascaridíase A ascaridíase – também conhecida por ascaridiose, ascaríase ou ascariose – é uma enfermidade provocada pelo helminto Ascaris lumbricoides. Nematódeo, popularmente conhecido como lombriga. FIGURA 13.5 Morfologia de exemplares adultos de Ascaris lumbricoides. A fêmea (A) apresenta extremidade posterior retilínea, enquanto o macho (B), um pouco menor, apresenta extremidade posterior curva, com uma espícula. Etiologia Taxonomia A ascaridíase é causada por parasitos do gênero Ascaris e espécie Ascaris lumbricoides (Quadro 42.1). A classificação sistemática do nematoide A. lumbricoides foi descrita por Linnaeus em 1758; antes, porém, outros estudiosos, como Tyson (1683), já haviam pesquisado acerca de tal metazoário e elaborado relatos que se aprimoraram, posteriormente, com os avanços da ciência (Camillo-Coura; Carvalho, 2010; Rey, 2008; Neto, 2008). Aspectosmorfológicos As principais características que definem esse helminto são: corpo alongado, cilíndrico, fino e com extremidades afiladas; cobertura de cutícula lisa, brilhante e que contém duas linhas claras distribuídas longitudinalmente; ausência de segmentação e de ventosas; coloração que geralmente admite um branco-marfim ou um leve rosado, quando localizado no lúmen intestinal do 1 Fernanda Rodrigues — T 07 hospedeiro; e duas extremidades, uma anterior e outra posterior. Em geral, tem um comprimento que varia de 20-40 cm. Transmissão Ingestão de ovos em estágio L3 (oral - fecal). FIGURA 13.6 Ovos de Ascaris lumbricoides. Os ovos eliminados nas fezes (A) tornam-se embrionados (B) em cerca de 3 semanas; alguns ovos inférteis, que contêm em seu interior uma massa amorfa de protoplasma, são também eliminados (C). As imagens mostram três ovos férteis (D, E e F); o terceiro (F) está decorticado; e um ovo infértil de A. lumbricoides (G). Fotografias de Cláudio Santos Ferreira e Marcelo Urbano Ferreira. Ciclo Biológico O ciclo evolutivo do A. lumbricoides é monoxênico, isto é, envolve apenas um hospedeiro. O ovo liberado pelas fezes humanas ainda não está embrionado: para isso, precisa de condições favoráveis como temperaturas em torno de 27º C, umidade e presença de oxigênio. Os ovos embrionados dão origem ao primeiro estágio larval (L1) em cerca de 15 dias; após mais 7 dias, acontece a evolução para o segundo estágio larval (L2). Nessas duas primeiras etapas, as larvas são rabditoides e ainda não são infectantes. Somente após a evolução para o terceiro estágio (L3), que é filarioide, as estruturas larvares tornam-se infectantes, podendo permanecer no solo por até sete anos. Para que isso aconteça, a larva, ainda no interior do ovo, reduz significativamente seu metabolismo e somente completa o seu ciclo quando ingerida pelo homem. FIGURA 42.1 Ciclo biológico do helminto Ascaris lumbricoides. 2 Fernanda Rodrigues — T 07 FIGURA 13.8 Ciclo vital de Ascaris lumbricoides. Imunologia e patologia A ascaridíase apresenta mecanismo de infecção relacionado com as fases evolutivas do helminto, que pode se desenvolver, na maioria dos casos, sem provocar manifestações clínicas no hospedeiro. Sua fisiopatologia envolve os danos teciduais, a resposta imunológica desencadeada pelo hospedeiro e a obstrução mecânica provocada pelo parasito. A migração das larvas descrita no ciclo evolutivo do A. lumbricoides pode provocar lesões teciduais. Isso porque, quando o número de larvas não é muito grande e o hospedeiro é imunocompetente, a reação imunológica permanece restrita ao sítio de ação, e muitas larvas são destruídas pela ação de macrófagos e eosinófilos. Porém, se o enfermo está imunodeprimido ou a infestação tem maior magnitude, lesões mais graves podem ser observadas nos locais de passagem e instalação do metazoário. Nesse contexto, são destacadas micro-hemorragias e reações de hipersensibilidade do tipo I, desencadeadas pelo sistema imune em resposta à presença do helminto no organismo. Além disso, pode-se observar hepatomegalia, que, em geral, regride em poucos dias nos casos com passagem de grande número de larvas pelo fígado. Os danos teciduais no pulmão – causados pela migração larval – ativam as respostas imunológicas inata, celular e humoral. Nesse processo, um intenso processo inflamatório eosinofílico se desenvolve no local da migração. A degranulação dessas células, com a liberação de mediadores inflamatórios e com a consequente reação inflamatória, caracteriza uma pneumonite no hospedeiro, expressa clinicamente como síndrome de Löffler. O Ascaris lumbricoides adulto, ao se fixar à mucosa da parede intestinal, pode causar úlceras ou erosões, que justificam a espoliação por meio de perda de sangue e de proteínas. Também acontece a liberação de substâncias antigênicas no trato intestinal, mas estas são mais toleradas pelo sistema imunológico do hospedeiro. A resposta imunológica dirigida ao A. lumbricoides adulto, à semelhança do que ocorre nas fases larvárias, também envolve reação eosinofílica, periférica e tecidual, além de mediações por células Th1. As alterações patológicas mais características da ascaridíase relacionam-se com a capacidade de o helminto migrar para outros locais, causando a obstrução mecânica total ou parcial no intestino delgado, nas vias biliares e no ducto pancreático principal. Também são descritos, com menor frequência, geralmente em infecções maciças, casos de obstrução nos ouvidos, no nariz e nos canais lacrimais. Além disso, já foram relatados raríssimos 3 Fernanda Rodrigues — T 07 casos de invasão renal por vermes adultos e de abscesso cerebral pela migração de larvas. Sinais e Sintomas Em geral é assintomático, porém, nos casos sintomáticos as manifestações clínicas mais frequentes são: desconforto abdominal, que se manifesta geralmente sob forma de cólicas intermitentes, dor epigástrica e má digestão; náuseas, perda de apetite e emagrecimento; sensação de coceira no nariz, irritabi- lidade, sono intranqüilo e ranger dos dentes à noite. Pessoas hipersensíveis podem ter manifestações alérgicas diversas, como urticária, edemas ou crises de asma brônquica. Em crianças, é comum a apresentação de alterações cutâneas comomanchas esbranquiçadas e circulares no corpo, conhecidas popularmente como “pano branco” (deve-se destacar que há outras enfermidades, como a ptiríase versicolor, que também são conhecidas popularmente pela denominação “pano branco”). Outros sintomas atribuídos à ação tóxica, à hipersensibilidade ou a fenômenos de irritação nervosa reflexa costumam ser relacionados por alguns autores com o parasitismo por Ascaris: convulsões, crises epileptiformes, meningite etc. Posto que as populações mais expostas ao risco de infecção são em geral constituídas por famílias de baixa renda e crianças subnutridas, o parasitismo por Ascaris acarreta muitas vezes um agravamento da situação nutricional dos pacientes. Nesse contexto, os grupos de alto risco compreendem as gestantes e as crianças pequenas, de zonas rurais e de favelas. Diagnóstico Os quadros clínicos não permitem distinguir a ascaríase de outras verminoses intestinais, e suas complicações obstrutivas assemelham-se às produzidas por outras causas. Muitas vezes, é a eliminação espontânea de algum espécime, pelo ânus ou pela boca, que esclarece o caso. Radiografias, feitas talvez com outros objetivos, produzem imagens muito sugestivas: o perfil dos áscaris é facilmente reconhecível em radiografias contrastadas do estômago (Fig. 43.10), dos intestinos (Fig. 43.11) ou da vesícula biliar. 4 Fernanda Rodrigues — T 07 Exame de Fezes. Na generalidade dos casos, porém, o diagnóstico é feito pelo encontro de ovos nas evacuações do paciente. Dada a prolificidade das fêmeas de Ascaris, basta um exame direto da matéria fecal, diluída e colocada entre lâmina e lamínula, para permitir o encontro dos ovos emmais de 90% dos exames.Melhor ainda é a técnica de sedimentação espontânea na água, em cálice cônico, para que, em virtude de sua densidade relativamente alta, os ovos se concentrem no vértice e o sedimento enriquecido seja levado ao exame microscópico. Nessas condições, os resultados positivos aproximam-se de 100% dos casos. O exame coproscópico é negativo nas infecções exclusivas por machos, mas uma única fêmea pode ser reconhecida pela presença de ovos inférteis nas fezes. Tratamento O tratamento da ascaridíase deve incluir, além dos medicamentos anti-helmínticos, medidas de educação e melhoria das condições de acesso à saúde, sem as quais as taxas de reinfecção permanecerão elevadas, anulando a médio prazo os efeitos do tratamento farmacológico. Para a obstrução intestinal por A. lumbricoides, deve-se inicialmente tentar o tratamento conservador com as seguintes medidas: (1) dieta suspensa; (2) passagem de cateter nasogástrico (CNG) seguida de administração de piperazina (100 mg/kg/dia), antiespasmódico e óleo mineral (40 a 60 mℓ/dia). Concomitantemente a esses procedimentos, realiza-se a reposição hidroeletrolítica necessária para a situação clínica. Em caso de insucesso, está indicada a laparotomia exploradora com enterotomia para retirada mecânica do bolo de A. lumbricoides. 5 Fernanda Rodrigues — T 07 Prevenção Com o intuito de reduzir a transmissão desta parasitose, devem-se desenvolver estratégias de controle que incluem melhorias no saneamento básico, educação em saúde, atenção aos hábitos de higiene, principalmente no que tange ao preparo e manipulação de alimentos, tratamento e conservação da água e uso de fertilizantes. Em regiões onde os vermes Ascaris são abundantes no solo, a prevenção de reinfecção é extremamente difícil, e nesses casos o tratamento anti-helmíntico em massa pode ser uma boa estratégia para quebrar o elo de transmissão. Outra medida é o tratamento das fezes humanas e suínas que serão utilizadas como fertilizantes com ovicidas. Tabela resumo: Epidemiologia • Distribuição mundial, particularmente em regiões tropicais onde o saneamento é precário • Humanos são os únicos hospedeiros das lombrigas; não há reservatório animal ou inseto vetor • Infecção humana por ingestão de ovo embrionado, principalmente alimentos cultivados em solo contaminado com fezes humanas • Os ovos eclodem no intestino delgado, liberando as formas larvais que invadem a mucosa intestinal, sendo transportadas pelo sistema circulatório até os pulmões, onde amadurecem em aproximadamente 2 semanas; elas, então, atravessam as paredes alveolares, ascendem até a garganta e são engolidas; as larvas transformam-se em adultos no intestino delgado e iniciam a produção de ovos aproximadamente 3 meses após a ingestão daqueles responsáveis pela infecção. Doenças • A infecção assintomática é a condição mais comum em áreas endêmicas • A migração das larvas para os pulmões pode causar irritação (pneumonite) com tosse e eosinofilia • A ascaridíase sintomática pode manifestar-se como um desconforto abdominal leve (infecções leves) ou obstrução intestinal (no caso de infecções massivas com esses vermes enormes) Diagnóstico • Detecção, por meio de microscopia, de ovos característicos em amostras de fezes • A eliminação dos vermes adultos pode ser assustadora pelo tamanho (20 a 35 cm), mas é uma dado de diagnóstico porque a lombriga é o maior dos helmintos intestinais Tratamento, controle e prevenção • A droga de escolha é o albendazol; as alternativas são mebendazol ou pamoato de pirantel • Boa higiene pessoal, manutenção de condições sanitárias e evitar o uso de fezes humanas como adubo 6 Fernanda Rodrigues — T 07 Ancilostomose A ancilostomose é uma doença causada por parasitos das espécies Ancylostoma duodenale e Necator americanus, cujo hábitat, no ser humano, é o intestino delgado. Também conhecida por “amarelão”, “opilação”, “uncinaríase”, “cloroso”, “mal dos mineiros”, “mal dos agricultores”, “doença de Perroncito”, “caquexia africana”, “clorose do Egito”, “anemia tropical” e “mal do coração e do estômago da África”. Etiologia Taxonomia A ancilostomose é causada por parasitos do super-reino Eukaryota – espécies Ancylostoma duodenale e Necator americanus. Aspectos Morfológicos Os agentes etiológicos da ancilostomíase pertencem à ordem Strongylida. Os principais gêneros que afetam humanos são Ancylostoma e Necator, ambos com estruturas na cápsula bucal, usadas para fixação do parasito ao hospedeiro. Essa característica serve para diferenciar os patógenos em questão: ■As espécies pertencentes ao gênero Ancylostoma (Ancylostoma duodenale, Ancylostoma braziliense, Ancylostoma caninum) são providas de dentes na cápsula bucal ■A espécie incluída no gênero Necator (Necator americanus) possui lâminas ou placas cortantes na cápsula bucal. ■Ancylostoma duodenale É adquirido a partir da penetração cutânea. Além disso, estudos realizados na Ásia e na África mostram ocorrência de casos de ancilostomíase neonatal, devido à migração do helminto para as glândulas mamárias das lactantes. Costumeiramente, é encontrado no Oriente Médio, norte da África e sul da Europa. Quando adulto, o parasito é cilindriforme, com cor branco-rosada e um par de dentes ventrais. A fêmea é maior que o macho, medindo entre 10 e 18 mm de comprimento por 600 µm de largura. O macho mede entre 8 e 11 mm de comprimento e 400 µm de largura, com bolsa copuladora desenvolvida. Ambos têm a extremidade curvada (Figura 39.1). FIGURA 39.1 Ovo de ancilostomídeo (não é possível a distinção, morfológica, entre os gêneros Ancylostoma ou Necator). A. Ovo no interior do qual é possível observar a massa embrionária. B. Ovo embrionado, no qual é possível identificar a larva em formação. Reproduzida de CDC, 2019, com permissão. Espécies como Ancylostoma braziliense e Ancylostoma caninum são parasitos de caninos e felinos e, quando infectam hospedeiros humanos, causam quadros de larva migrans cutânea (Iowa State University, 2013) (ver Capítulo 70, Larva Migrans Cutânea). ■Necator americanus 7 Fernanda Rodrigues — T 07 A aquisição do N. americanus só ocorre através de penetração cutânea (Brooker, 2004), pois o parasito, para se desenvolver, necessita realizar o ciclo transpulmonar. É mais prevalente em regiões tropicais e subtropicais (OMS, 2010), como no continente americano e na Austrália (CDC, 2013). Quando adulto, o nematódeo é cilíndrico e tem a extremidade dorsal curvada. Na cápsula bucal, estão presentes dois pares de lâminas cortantes. Essa espécie é mais fina do que a Ancylostoma duodenale, medindo cerca de 300 µm de largura; ademais, não apresenta significativa desproporção quanto ao tamanho da fêmea e do macho, comparando-se às larguras. A primeira tem entre 9 e 11 mm de comprimento, e o segundo, de 5 a 9 mm. Ciclo Biológico A fisiopatologia do Ancylostoma também tem o "ciclo pulmonar de Loss" - que leva a um quadro de eosinofilia (Loeffler) por passar pelo pulmão. Fêmeas parasitando o intestino liberam ovos que saem pelas fezes do doente. No solo, há eclosão do ovo após cerca de 48 horas, com liberação de uma larva chamada "rabditoide" (fase L1. Essa larva fica no solo e se movimenta, alimentando-se e se desenvolvendo, passando para o estágio 2 da larva ainda "rabditoide" (fase L2). Após isso, ela se matura ainda mais e se transforma em uma larva "filarioide"(fase L3).. Essa forma então é a infectante possui movimentos serpentiformes e pode penetrar na pele do ser humano (principalmente pelos pés - folículos pilosos ou espaços interdigitais). Essa larva então chega até o sistema circulatório, passa pelo coração direito, vai até os vasos pulmonares atraídos pelo alto nível de 02. Ocorre então rupturas dos capilares sanguíneos com liberação de formas parasitárias nos alvéolos (esse ciclo pulmonar é o tal do ciclo de Loss). Nos alvéolos ocorre a maturação por cerca de 10 dias. Após a maturação (fase L4), as larvas vão subir pela árvore traqueobrônquica (movimentos ciliares do epitélio respiratório) até a glote, para então serem deglutidas.Passam então pelo estômago e são amadurecidas no intestino delgado se fixando à mucosa intestinal, utilizando ventosas que parecem dentes - sugando sangue do paciente. Reiniciando assim o ciclo. FIGURA 39.2 Ciclo biológico dos helmintos das espécies Ancylostoma duodenale e Necator americanus. Sinais e Sintomas Manifestação cutânea: pela penetração da larva. Alguns pacientes podem referir um rash maculopapular pruriginoso no local de penetração da larva. 8 Fernanda Rodrigues — T 07 Manifestação pulmonar: Nesse caso, o paciente pode apresentar a síndrome de Loeffler, assim como o A. lumbricoides. Manifestações gastrointestinais: Ao migrarem para o intestino, as larvas podem ocasionar um quadro de epigastralgia, náuseas, vômitos, diarreia e flatulência. Manifestações nutricionais: Eis aqui a principal apresentação clínica da ancilostomíase! Esses vermes laceram a mucosa intestinal, levando à perda de sangue, ferro e albumina. Diagnóstico O médico deve realizar um exame físico completo, com anamnese questionando fatores de risco relacionados com a doença (exposição). A confirmação diagnóstica é feita por exames: Exame coprológico - parasitológico: Métodos de Lutz. Willis ou Faust e contagem de ovos pelo método de Kato-Katz. Na prática se solicita simplesmente 'exame parasitológico de fezes’. COMPLICAÇÕES: - Anemia grave (pode perder cerca de 5ml de sangue por dia - quando há cerca de 100 vermes). - Sindrome disabsortiva. - Anasarca. - Insuficiência Cardíaca. - Pneumonia. - Asma. - Hipoproteinemia. - Desnutrição e consequente prejuízo no desenvolvimento psicomotor de crianças. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: - Apendicite - Diverticulite - Câncer colorretal - Gastroenterocolite infecciosa por diversos agentes - Campylobacter: E.coli etc - Doença inflamatória Intestinal - Doença Celíaca - Intolerância à Lactose - Síndrome do Intestino Irritável - Isquemia Intestinal - Peritonite - Pneumonia - Asma - Outras parasitoses intestinal Tratamento Albendazol 400mg dose única; Outras opções alternativas incluem o mebendazol 100mg 12/12h por 3 dias (é mais eficaz do que a dose única) e o pamoato de pirantel por 3 dias. A ivermectina não tem ação contra os ancilostomídeos. Estrongiloidíase Etiologia Taxonomia 9 Fernanda Rodrigues — T 07 A estrongiloidíase é uma doença causada pelo Strongyloides stercoralis. Esse verme consegue completar todo seu ciclo de vida no homem, por isso sua infecção pode perpetuar-se por vários anos. O maior problema a respeito dessa parasitose é que ela pode levar a quadros graves e sistêmicos em pacientes imunocomprometidos. TRANSMISSÃO: A transmissão da estrongiloidíase ocorre da mesma forma que a ancilostomíase: por meio da penetração ativa de larvas pela pele íntegra do hospedeiro. Geralmente, ocorre após o contato direto com o solo contaminado por fezes humanas. Outras formas de transmissão menos comuns incluem a transmissão fecal-oral, de pessoa a pessoa, e durante o transplante de órgãos. Ciclo Biológico O ciclo de vida do S. stercoralis começa quando as larvas filariformes (forma infectante do parasita que pode ser encontrada no solo ou outros materiais contaminados com fezes) entram em contato com a pele do hospedeiro. Elas migram pelos vasos sanguíneos e linfáticos até chegarem no pulmão, quando penetram nos alvéolos e ascendem pela árvore brônquica até a traquéia, quando são deglutidas. Ao chegarem no intestino delgado, essas larvas amadurecem para vermes adultos que podem viver por até 5 anos. As fêmeas produzem ovos que eclodem em larvas rabditoides, que não são infectantes e podem passar pelas fezes, chegando no ambiente. Elas transformam-se em larvas filariformes e perpetuam o ciclo de transmissão. O problema acontece quando essa larva rabditoide se transforma em filariforme no próprio intestino do hospedeiro e dá seguimento ao seu ciclo de vida com a penetração nos vasos sanguíneos e linfáticos. Chamamos isso de autoinfecção. Essa transformação de larva rabditoide em filariforme no intestino do hospedeiro pode ser ocasionada por constipação, uso de corticoides e outros imunossupressores. Os pacientes imunocomprometidos são os de maior risco para desenvolverem um quadro disseminado ou de hiperinfecção da estrongiloidíase. FIGURA 59.1 Ciclo biológico dos helmintos da espécie Strongyloides stercoralis. Sinais e Sintomas Manifestação pulmonar: Como esse parasita faz ciclo pulmonar, ele pode causar a síndrome de Loeffler. Manifestações gastrointestinais: Ao migrarem pro intestino, as larvas podem ocasionar um quadro 10 Fernanda Rodrigues — T 07 de diarreia ou constipação, dor abdominal e anorexia. Manifestação cutânea: que é uma dermatite larvária mais conhecida como larva currens. Nos casos de autoinfecção, quando a larva filariforme penetra na mucosa intestinal ou pele perianal, ela pode migrar para o tecido subcutâneo e formar um rastro pruriginoso. Como o nome já diz, essa larva “corre” e pode percorrer cerca de 1 cm em 5 minutos. Manifestações sistêmicas graves: Essas manifestações ocorrem principalmente em imunocomprometidos que podem desenvolver uma infecção disseminada. Essa infecção disseminada é consequência da hiperinfecção (que nada mais é do que uma autoinfecção acelerada), e consiste na presença de larvas em diversos órgãos do corpo, levando a manifestações intestinais, respiratórias, dermatológicas etc. Como muitas larvas migram do intestino, alguns pacientes podem desenvolver um quadro de sepse por translocação intestinal de bactérias Gram-negativas. Diagnóstico O diagnóstico laboratorial é realizado pelo achado das larvas rabditoides no exame parasitológico de fezes, pelo método de Baermann-Moraes. A sensibilidade é superior a 90%, quando utilizadas amostras repetidas. O estudo radiológico baritado do duodeno e jejuno proximal, bem como a endoscopia digestiva alta podem auxiliar no diagnóstico. As larvas podem também ser encontradas no aspirado duodenal. Na estrongiloidíase disseminada podem-se identificar larvas de estrongiloides em qualquer tecido ou fluido orgânico, inclusive o líquor. Testes sorológicos, como ELISA, hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta, podem ser usados tanto nas formas complicadas quanto nas não complicadas, apresentando uma alta sensibilidade. Indicados geralmente quando existe a suspeita específica de infecção por esse verme ou quando há necessidade de excluí-la, como, por exemplo, nos pacientes que iniciarão tratamento com corticoides. TRATAMENTO: A droga de escolha para tratamento da estrongiloidíase é a ivermectina. Em pacientes imunocompetentes, ela deve ser feita na dose de 200mcg/kg por dia, por 2 dias consecutivos. Em pacientes imunocomprometidos, devemos repetir esse ciclo de 2 dias de ivermectina após duas semanas. No caso de uma doença disseminada com hiperinfecção, a ivermectina deve ser feita diariamente por cerca de 14 dias e além disso, devemos iniciar empiricamente antibióticos para cobertura de bactérias Gram-negativas. Como a estrongiloidíase pode se agravar em pacientes imunocomprometidos e o Brasil é um país endêmico dessa parasitose, sempre antes de uma terapia imunossupressora devemos iniciar a ivermectina por dois dias e repetir esse esquema em duas semanas. Outras drogas, como o tiabendazol via oral e albendazol, podem ser usadas como alternativas, afinal quem tem a maior taxa de cura é a ivermectina e ela é a medicação de primeira escolha. 11 Fernanda Rodrigues — T 07 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. E-book. pág.427. ISBN 9788527736473. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/b ooks/9788527736473/. Acesso em: 12 nov. 2024. FEREIRA, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea . 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. E-book. pág.167. ISBN 9788527737166. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/b ooks/9788527737166/. Acesso em: 12 nov. 2024. 2. Entenda sobre a Giardia lamblia e Tênia.Giardia lamblia É um protozoário capaz de colonizar o intestino dos animais, causando desconfortos abdominais. Ela causa a doença chamada de Giardíase. Sua transmissão ocorre pela ingestão do cisto. TRANSMISSÃO A transmissão pode ocorrer por meio de 3 vias: - Água contaminada com cistos; - Alimentos contaminados com cistos; - De pessoa para pessoa, por falta de higiene pessoal ou via sexo anal-oral. Ciclo biológico 1- Ocorre a ingestão do cisto 2- Quando o cisto entra no intestino ocorre o desencistamento, ou seja, o rompimento da parede cística devido o PH ácido do estômago. 3- Cada cisto libera 2 trofozoítos que colonizam o intestino delgado, sofrendo uma reprodução assexuada chamada de divisão binária. 4- Alguns trofozoítos se destacam e passam pelo processo de encistamento (perda de flagelos, arredondamento, divisão nuclear e formação da parede cística). 5- Os cistos maduros são eliminados nas fezes, caem no ambiente, e reiniciam o ciclo. Sintomas - Diarreia aquosa com esteatorreia - Perda de peso - Dor gástrica - Gases Diagnóstico parasitológico -EPF (Exame Parasitológico de Fezes) -Testes imunológicos - ELISA -Testes moleculares - PCR OBS: O transporte de fezes diarréicas deve ser feito em 30 min. e o de fezes normais em 2 horas, podendo aumentar o tempo se estiver refrigerada ou com conservantes. Em fezes diarréicas procura os trofozoítos, em normais os cistos. 12 Fernanda Rodrigues — T 07 Tabela resumo: Epidemiologia • Distribuição mundial • Animais como castor e rato-almiscarado servem como reservatórios • Portadores humanos assintomáticos também servem como reservatórios • Apresenta-se em duas formas: cistos infecciosos e trofozoítos não infecciosos que se replicam. • A infecção em humanos ocorre, mais frequentemente, pela ingestão de água ou alimentos contaminados por cistos • A disseminação entre os indivíduos acontece por meio de contaminação fecal-oral • Surtos em creches, enfermarias e instituições de cuidados por longo prazo têm sido registrados Doenças • Assintomática • Infecção do intestino delgado (giardíase), com sintomas que vão de diarreia até síndrome da má absorção • Período de incubação, em média 10 dias; manifestação repentina de diarreia aquosa e fétida, dores abdominais e flatulência • Sintomas persistem por 1 a 2 semanas, embora manifestações crônicas possam ocorrer Diagnóstico • Giardíase intestinal mais frequentemente diagnosticada pela detecção de trofozoítos e cistos em amostras de fezes, por meio de microscopia • NAATs estão disponíveis atualmente para detecção de G. duodenalis nas fezes • Imunoensaios e imunofluorescência estão disponíveis, porém são menos sensíveis do que NAATs Tratamento, controle e prevenção • Droga de escolha é metronidazol ou nitazoxanida; alternativas são furazolidona, paromomicina e quinacrina • Evitar água e alimentos contaminados • Apenas cloração da água é insuficiente, pois os cistos são relativamente resistentes ao cloro; a água deve ser filtrada ou fervida REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MURRAY, Patrick R. Microbiologia Médica Básica . Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2018. E-book. pág.163. ISBN 9788595151758. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/b ooks/9788595151758/. Acesso em: 12 nov. 2024. 3. Compreenda sobre a síndrome de Loiffler. Essa síndrome pode ser causada por nematódeos que fazem o ciclo pulmonar. Ela ocorre quando as larvas alcançam os pulmões por via hematogênica e, em seguida, penetram no alvéolo, ascendendo pela árvore brônquica para serem deglutidas e alcançarem o intestino. Quando as larvas realizam o ciclo pulmonar, podem desencadear sintomas como tosse irritativa, desconforto subesternal, dispneia e febre. São sintomas autolimitados que tendem a melhorar dentro de 5 a 10 dias. A radiografia de tórax pode mostrar opacidades ovais migratórias e infiltrados difusos bilaterais. A eosinofilia geralmente está presente e comumente está acima de 10%. Para o diagnóstico,devemos solicitar a pesquisa de larvas no escarro. Não adianta fazer exame de fezes, afinal, nessa fase do ciclo, geralmente não há vermes adultos no intestino que produzem ovos. O tratamento da síndrome de Loeffler é feito com broncodilatadores que auxiliam na melhora da tosse, e corticoide oral, se o quadro for moderado a grave e caso seja descartada infecção por Strongyloides stercoralis (com exame de fezes e de escarro). 13 Fernanda Rodrigues — T 07 O uso de anti-helmínticos não deve ser indicado, afinal essas drogas não apresentam atividade contra as larvas. Após 1 a 2 meses, devemos realizar o exame parasitológico de fezes para identificar e tratar o parasita adequadamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: David Pereira Neves. Parasitologia Humana. 13ª edição. 4. Explique o mecanismo de ação dos corticóides em relação à infecção parasitária. Os corticoides, como os glicocorticóides (ex: prednisona), possuem um papel complexo em relação às infecções parasitárias. Seu principal mecanismo de ação envolve efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores, que se manifestam por meio de várias vias. ● Supressão da resposta inflamatória: Corticóides inibem a produção de citocinas inflamatórias (como IL-1, IL-6 e TNF-α), reduzindo a inflamação em geral. No contexto de infecções parasitárias, essa inibição pode atenuar os sintomas inflamatórios associados à resposta do hospedeiro ao parasita. Quando o organismo é invadido por parasitas, o sistema imunológico desencadeia uma resposta inflamatória para combatê-los. Essa resposta envolve a liberação de várias substâncias, incluindo citocinas inflamatórias como a interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Essas moléculas sinalizam e recrutam células do sistema imunológico para o local da infecção, com o objetivo de destruir ou limitar o crescimento do parasita. No entanto, em algumas situações, a resposta inflamatória pode ser desproporcional, levando a danos aos próprios tecidos do hospedeiro devido ao excesso de inflamação. É aqui que os corticoides entram em ação: eles suprimem a produção dessas citocinas inflamatórias. Os corticoides agem principalmente ao se ligar a receptores dentro das células, que então se deslocam para o núcleo e modulam a expressão de genes que regulam a inflamação. Com essa supressão: ● IL-1, IL-6 e TNF-α são reduzidos, resultando em menos recrutamento de células inflamatórias e menor produção de outras substâncias inflamatórias. ● A inflamação nos tecidos afetados pelo parasita pode ser atenuada, diminuindo sintomas como febre, dor e inchaço. Embora isso possa ser benéfico em reduzir sintomas e complicações relacionadas ao processo inflamatório, há um “custo” potencial: essa supressão da resposta inflamatória pode prejudicar a eficácia do sistema imunológico em combater e eliminar o parasita. Ou seja, enquanto os sintomas inflamatórios diminuem, há o risco de que o parasita sobreviva ou até se prolifere mais, devido à menor atividade de células imunes. Portanto, os corticóides são usados com cautela em infecções parasitárias, equilibrando o alívio dos sintomas com o risco de comprometimento da capacidade do corpo de combater a infecção. 14 Fernanda Rodrigues — T 07 ● Modulação da resposta imune: Os corticoides suprimem a atividade de células imunológicas, como macrófagos, células dendríticas e linfócitos T, o que pode alterar a capacidade do organismo de combater a infecção. Isso pode levar à diminuição da resposta imune adaptativa e inata, prejudicando a eliminação do parasita em alguns casos. ● Impacto na resposta alérgica: Em parasitas que desencadeiam reações alérgicas (como helmintos), os corticoides podem reduzir a produção de IgE e a ativação de mastócitos e eosinófilos, diminuindo a resposta inflamatória exacerbada. No entanto, o efeito dos corticóides em infecções parasitárias é uma “faca de dois gumes”. Embora possam ser úteis em controlar sintomas inflamatórios ou alérgicos graves, eles podem também facilitar a disseminação de parasitas ou prolongar a infecção,já que diminuem a eficácia da resposta imune. Um exemplo prático é o uso de corticoides em infecções parasitárias graves, como a estrongiloidíase disseminada, onde a imunossupressão pode permitir que o parasita se dissemine amplamente no corpo. Por isso, o uso de corticoides nesses casos requer atenção e, frequentemente, terapia antiparasitária concomitante. 15