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Transtornos do N
eurodesenvolvim
ento
C
arina Alice de O
liveira
ISBN 978-65-5821-278-2
9 786558 212782
Código Logístico
I000782
Transtornos do 
Neurodesenvolvimento 
Carina Alice de Oliveira
IESDE BRASIL
2024
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2024 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Macrovector/shutterstock
23-87066
CDD: 618.9285889
CDU: 616.89-008.434.3-053.2
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
O46t
 Oliveira, Carina Alice de
 Transtornos do neurodesenvolvimento / Carina Alice de Oliveira. - 1. ed. -
Curitiba [PR] : IESDE, 2024. 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-65-5821-278-2
 1. Transtornos do neurodesenvolvimento. 2. Crianças com transtorno do
neurodesenvolvimento. I. Título.
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
13/11/2023 17/11/2023 
Carina Alice de 
Oliveira
Especialista em Saúde Mental pela Faculdade 
Metropolitana de Ribeirão Preto; em Psicologia 
Positiva pela University of Pennsylvania (UPenn); em 
Cuidados Paliativos pela University of Colorado (CU); 
em Saúde Global pela Johns Hopkins University (JHU); 
em Psicologia Anormal pela Wesleyan University (WES); 
em Neuropsicologia pela Faculdade Unyleya; e em 
Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial 
pela Universidade Anhanguera (Uniderp). Graduada 
em Psicologia pelo Centro Universitário Anhanguera 
Pitágoras Ampli (Unia); e em Letras – Inglês/Português 
pelo Centro Universitário Fundação Santo André 
(FSA). Atualmente é coordenadora do Programa de 
Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva) 
da Secretaria de Educação do Governo do Estado de 
São Paulo – com atuação na Diretoria de Ensino da 
Região de Santo André. É professora há 24 anos e tem 
experiência na área de Letras com ênfase no ensino de 
língua inglesa para crianças e jovens.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
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SUMÁRIO
1 Neurodesenvolvimento 9
1.1 Sistema nervoso 10
1.2 Proteções do sistema nervoso central 14
1.3 Neurônios e suas funções 17
1.4 Etapas do neurodesenvolvimento infantil 23
2 Transtornos do neurodesenvolvimento 28
2.1 Principais transtornos do neurodesenvolvimento 29
2.2 Nature ou nurture? 35
2.3 Perspectiva epigenética do desenvolvimento humano 36
2.4 Funcionamento cerebral 39
2.5 Contribuições da neurociência cognitiva 43
3 Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 50
3.1 O que são transtornos do neurodesenvolvimento? 51
3.2 Dificuldades e transtornos de aprendizagem 62
3.3 TDAH e TEA 63
3.4 Deficiências sensoriais 67
3.5 Aspectos biológicos, cognitivos e emocionais 72
4 Prevenção e cuidado 76
4.1 Prevenção e promoção de saúde 77
4.2 Avaliação de situações de risco 82
4.3 Identificação de vulnerabilidades 85
4.4 Fortalecimento de vínculos 87
4.5 Redes de apoio 93
5 O papel da escola e da família 98
5.1 O papel da família 99
5.2 Suporte à família 102
5.3 O papel da escola 106
5.4 Desafios no ambiente escolar 109
5.5 Contribuições da neurodiversidade 114
 Resolução das atividades 120
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Nesta obra convidamos você a viajar pelo mundo 
fascinante do neurodesenvolvimento humano, explorando o 
cérebro, o único órgão capaz de estudar a si mesmo!
No primeiro capítulo conheceremos as estruturas do 
sistema nervoso e seus mecanismos de ação. Identificaremos 
as estruturas neurais e suas funções, entendendo a relevância 
de cada estrutura do sistema nervoso nas etapas do 
neurodesenvolvimento. 
No segundo capítulo apresentaremos os transtornos do 
neurodesenvolvimento, compreendendo o impacto desses no 
desenvolvimento infantil. Entenderemos também o conceito 
de nature (natureza) versus nurture (criação) na perspectiva 
da epigenética, a ciência que estuda a relação entre o meio 
ambiente e a nossa expressão genética, bem como o impacto 
dessas descobertas na atualidade.
No terceiro capítulo ampliaremos o nosso olhar sobre 
os transtornos do neurodesenvolvimento e os transtornos 
específicos de aprendizagem, identificando a sua gênese 
e conhecendo as características de cada um, tais como 
a dislexia e a discalculia. Estudaremos o transtorno do 
déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e o transtorno do 
espectro autista (TEA) analisando seus aspectos biológicos, 
cognitivos e emocionais.
No quarto capítulo teremos uma reflexão sobre a 
importância da prevenção e do cuidado, bem como a 
promoção de saúde e bem-estar. Identificaremos os 
fatores de risco para o neurodesenvolvimento infantil 
e outras questões de vulnerabilidade. Conheceremos a 
importância do fortalecimento dos vínculos afetivos para um 
neurodesenvolvimento saudável, nas relações entre família, 
escola e comunidade. 
No quinto capítulo discutiremos o papel da escola 
e da família no suporte à criança com transtornos do 
neurodesenvolvimento. Apontaremos ações e intervenções 
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Transtornos do Neurodesenvolvimento
possíveis, entendendo a relevância da comunidade escolar no acolhimento 
aos estudantes com transtornos específicos de aprendizagem, analisando as 
contribuições da neurodiversidade no contexto escolar. 
Ao final desta obra, esperamos que você amplie a sua visão sobre os 
transtornos do neurodesenvolvimento para além de laudos e diagnósticos, 
valorizando as relações humanas como potências em ação e a capacidade do 
ser humano de crescer, desenvolver-se e superar-se, reconhecendo a força 
transformadora dos vínculos afetivos e do suporte comunitário.
Um provérbio africano afirma que é preciso uma vila para criar uma 
criança. A vila, hoje, é global! Que essa obra possa contribuir para que todas 
as crianças tenham acesso à saúde, ao cuidado e ao suporte especializado, a 
fim de que possam se desenvolver e florescer, vivendo vidas plenas de sentido 
e de significado. 
Neurodesenvolvimento 9
1
Neurodesenvolvimento
O cérebro, o órgão mais incrível de todo o corpo humano, faz parte do 
sistema mais complexo que conhecemos no organismo: o sistema ner-
voso. Por isso, neste capítulo, iremos fazer uma viagem por este mundo 
fantástico de informações, sensações e sentidos que só é possível por 
meio da relação do cérebro com o sistema nervoso.
Na primeira parada de nossa viagem, iremos conhecer as estruturas 
do sistema nervoso e identificar as suas funções, além de nos debruçar 
rapidamente sobre os aspectos anatômicos e fisiológicos desse sistema, 
de modo que possamos conhecê-lo. Em seguida, identificaremos as di-
ferentes etapas de desenvolvimento humano que o transformam e apri-
moram e, consequentemente, o separam em estruturas diversas, que se 
completam e se complementam, e tornam possível experienciarmos o 
mundo ao nosso redor.
Diante da complexidade do sistema nervoso, e de sua aparente fra-
gilidade, nossa terceira parada permitirá identificarmos as estruturas e 
mecanismos de proteção do sistema nervoso2016).
A visão epigenética do desenvolvimento humano enfatiza o papel da 
epigenética no desenvolvimento e no fenótipo de um indivíduo. A epige-
nética refere-se a mudanças na expressão gênica que não envolvem alte-
rações na sequência de DNA subjacente, mas envolvem modificações no 
DNA e suas proteínas associadas que podem ativar ou desativar genes, 
influenciando sua atividade e expressão (PURVES et al., 2018).
Os mecanismos epigenéticos desempenham um papel crucial no 
desenvolvimento humano, regulando os padrões de expressão gênica 
durante vários estágios da vida, incluindo o desenvolvimento embrio-
nário, o crescimento fetal, a infância e a idade adulta. Esses mecanis-
mos ajudam a determinar quais genes são ativados ou silenciados em 
diferentes células e tecidos, permitindo a especialização e diferencia-
ção das células em tipos específicos.
As modificações epigenéticas podem ser influenciadas por uma va-
riedade de fatores ambientais, incluindo dieta, estresse, exposição a to-
xinas, interações sociais e experiências no início da vida. Esses fatores 
externos podem afetar o epigenoma, que se refere ao padrão geral de 
modificações epigenéticas no genoma de um indivíduo. O epigenoma 
atua como uma memória molecular de exposições e experiências pas-
sadas, deixando uma marca na expressão gênica que pode persistir ao 
longo do tempo (RAVEN et al., 2023).
É importante ressaltarmos que as alterações epigenéticas são reversíveis, o 
que significa que podem ser modificadas ao longo da vida. Essa maleabilida-
de do epigenoma fornece um mecanismo pelo qual as influências ambientais 
podem moldar a expressão gênica e, consequentemente, o desenvolvimento 
humano. Também implica que as intervenções destinadas a modificarem 
marcas epigenéticas têm o potencial de influenciar os resultados de saúde 
e bem-estar.
De modo geral, a visão epigenética do desenvolvimento humano des-
taca a interação dinâmica entre os genes e o meio ambiente. Ela enfatiza 
que a expressão de nossos genes não é determinada apenas por nosso 
código genético, mas também por modificações epigenéticas que respon-
dem a estímulos ambientais. Essa visão expande nossa compreensão dos 
A obra de Richard Francis, 
Epigenética: como a ciência 
está revolucionando o que 
sabemos sobre heredita-
riedade, é considerada a 
primeira sobre epigené-
tica destinada ao público 
em geral. Os estudos da 
epigenética são realmente 
intrigantes e prometem 
revolucionar a maneira 
como nós enxergamos o 
desenvolvimento infantil 
e a evolução humana. A 
leitura desse livro abrirá 
novas portas e modificará 
a maneira pela qual você 
enxerga o desenvolvimen-
to humano.
FRANCIS, R. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
Livro
Transtornos do neurodesenvolvimento 39
processos complexos envolvidos no desenvolvimento humano e oferece 
caminhos potenciais para melhorar os resultados de saúde.
O estudo da epigenética avançou nossa compreensão sobre doen-
ças complexas e distúrbios do desenvolvimento. Alterações epigené-
ticas têm sido implicadas em condições como câncer, distúrbios do 
neurodesenvolvimento, doenças cardiovasculares e distúrbios de saú-
de mental. Ao desvendar os mecanismos epigenéticos subjacentes a 
essas condições, os pesquisadores esperam desenvolver intervenções 
e terapias direcionadas.
2.4 Funcionamento cerebral 
Vídeo
Estima-se que o cérebro adulto tenha entre 86 e 100 bilhões de neurô-
nios, sendo a maioria deles compostos por células de suporte, as chama-
das células da glia. Cada neurônio se conecta diretamente com pelo menos 
outros mil neurônios, o que resulta em uma rede de circuitos e conexões 
de tal complexidade que vai além da nossa compreensão. Os neurônios 
se comunicam uns com os outros por sinais eletroquímicos. Esses sinais 
permitem a transmissão de informações dentro do cérebro – isto é, entre 
os neurônios – com o resto do corpo (NICHOLLS, 2018).
O cérebro é um órgão complexo e notável que serve como centro 
de controle do sistema nervoso, sendo responsável por coordenar e re-
gular várias funções corporais, processar informações sensoriais, gerar 
pensamentos e emoções e controlar o comportamento.
Com base nisso, a seguir abordaremos de modo mais específico cada 
uma das funções principais desempenhadas pelo cérebro, que são:
Processamento 
de informações
Redes 
cerebrais
Comunicação 
neural
Circuitos 
neurais
Plasticidade e 
aprendizagem
Feedback 
e controle
Jolygon/Shutterstock
sutadimages/Shutterstock
sutadimages/Shutterstock
O processamento de informações se refere ao processo que o cére-
bro realiza ao receber informações do corpo e do ambiente externo por 
meio de órgãos sensoriais, como olhos, ouvidos, nariz e pele. Basicamen-
te, esses estímulos são convertidos em sinais elétricos e transmitidos ao 
cérebro pelos neurônios. A organização das atividades nas regiões e re-
des cerebrais é também um processo muito importante, já que o cére-
bro é dividido em diferentes regiões, com cada uma sendo responsável 
por funções específicas, como o lobo occipital, que processa informações 
visuais; o lobo temporal, que está envolvido no processamento auditivo 
e na memória; e o lobo frontal, que desempenha um papel na tomada 
de decisões e nas funções executivas. Essas regiões cerebrais trabalham 
juntas em redes interconectadas para processar e integrar informações.
A comunicação neural permite que os neurônios se comuniquem 
entre si por meio de conexões especializadas, as chamadas sinapses. 
Quando um sinal elétrico atinge o final de um neurônio (neurônio pré-
-sináptico), ele desencadeia a liberação de mensageiros químicos – os 
neurotransmissores – que viajam pela sinapse e se ligam a receptores 
no próximo neurônio (neurônio pós-sináptico), transmitindo o sinal. 
Quanto aos circuitos neurais, eles ocorrem quando os neurônios for-
mam redes ou circuitos complexos no cérebro, permitindo assim o pro-
cessamento de informações complexas, de modo que o cérebro possa 
executar várias tarefas. Por exemplo, o processamento visual envolve 
uma rede de neurônios que analisam diferentes aspectos dos estímu-
los visuais, como cor, forma e movimento.
A plasticidade e a aprendizagem se referem ao conceito 
da neuroplasticidade, ou seja, a capacidade notável do cé-
rebro humano de mudar e se adaptar em resposta às ex-
periências, o que permite esse órgão reorganizar e formar 
novas conexões neurais. Os processos de aprendizagem 
e memória estão intimamente ligados a essa caracte-
rística, com o fortalecimento ou enfraquecimento das 
conexões sinápticas – causado pela intensidade com 
que um tipo de conhecimento é exercitado – levan-
do a alterações nos circuitos neurais.
A plasticidade cerebral é um fator muito importan-
te quando falamos em transtornos do neurodesenvol-
vimento. Isso porque a capacidade de adaptação do 
cérebro pode compensar uma área que está compro-
4040 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
Transtornos do neurodesenvolvimento 41
metida, fazendo com que outra parte do cérebro possa se reorganizar e 
realizar a função que foi perdida ou teve o seu funcionamento prejudicado.
Quanto mais as conexões entre neurônios específicos são ativadas, 
mais forte será a ligação entre elas. Os caminhos formados pelos im-
pulsos elétricos durante a comunicação entre os neurônios (a sinapse) 
são o que temos de mais importante no que diz respeito à aprendiza-
gem, memória e recuperação de lesões cerebrais. Podemos estabele-
cer um exemplo típico de neuroplasticidade ao analisarmos como um 
bebê aprende a andar: de início, a criança tenta caminhar e cai repeti-
das vezes, mas em algumas destas tentativas ela é capaz de manter o 
equilíbrio e dar um passo após o outro. Sempre que o bebê dá um pas-
so à frente com sucesso, ele está usando os mesmos caminhos neurais, 
em outras palavras, os mesmos neurônios estão trabalhando juntos 
para enviar mensagens efetivas para as diferentes partes do corpo. Por 
meio da repetição, esse caminho neural específico se fortalecee as co-
nexões entre os mesmos neurônios se torna mais fácil.
É como se pegássemos uma estrada de terra cheia de buracos e 
valetas – o carro segue devagar, com grande dificuldade. Contudo, cada 
vez que passamos novamente por essa estrada, ela se torna mais lisa 
e plana, até que conseguimos passar por ela sem maiores problemas. 
Com o passar do tempo, nosso carro seguirá cada vez mais rápido, 
como o impulso nervoso disparado pelos neurônios.
Quanto mais os caminhos neurais que levam o bebê a andar sem 
cair são ativados, menos são usados os demais caminhos neurais que 
surgiram como resultado da queda da criança, logo, as conexões entre 
esses neurônios são enfraquecidas e desaparecem. Seguindo a nossa 
analogia, é como se ninguém mais usasse aquela estrada de terra e ela 
acabasse sendo coberta pela vegetação.
A neuroplasticidade também é responsável pela recuperação de 
lesões cerebrais, sendo capaz de criar “novas estradas” ao redor das 
áreas que foram danificadas e estruturar diferentes partes do cérebro 
para novas funções. Por exemplo, nos casos de hemisferectomia, em 
que um dos hemisférios do cérebro é removido cirurgicamente, o he-
misfério remanescente do cérebro é capaz de realocar quase todas as 
funções do hemisfério que foi retirado. Com o auxílio de terapias, os 
pacientes são capazes de reaprender a linguagem, recuperar funções 
motoras e viver uma vida saudável, sem convulsões.
Resumidamente, a 
hemisferectomia, por 
ser um procedimento 
cirúrgico muito invasivo, 
é realizada apenas em 
casos de crianças que 
apresentam quadros 
consultivos graves, com 
crises frequentes, e que 
correm risco de morte.
Saiba mais
42 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Sabemos que a poda neuronal de algumas pessoas com transtor-
no do espectro autista (TEA), por exemplo, não ocorre da mesma ma-
neira nos cérebros com desenvolvimento neurotípico. É por isso que 
algumas crianças com TEA têm mais “estradas” neurais, o que pode 
resultar em altas habilidades ou mesmo habilidades extraordinárias 
em todas as áreas do conhecimento.
Pesquisas da atualidade também afirmam que certos fatores po-
dem aumentar a neuroplasticidade, tais como ambientes enriquecidos, 
experiências de aprendizado, exercícios físicos e treinamento focado. 
Dessa maneira, a neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de 
mudar sua estrutura e função ao longo da vida, possibilitando nosso 
aprendizado, nossa adaptação e nossa recuperação de lesões. Além 
disso, a neuroplasticidade enfatiza a notável flexibilidade e adaptabili-
dade do cérebro humano.
Por fim, o feedback e o controle têm uma relação mais próxima com 
a homeostase, processo pelo qual os organismos vivos mantêm um am-
biente interno estável, apesar das mudanças externas. Isso envolve a re-
gulação de diversas variáveis fisiológicas – como temperatura corporal, 
níveis de pH, níveis de açúcar no sangue, equilíbrio de fluidos, entre outros 
– dentro de uma faixa estreita e ideal para o funcionamento do organismo.
O conceito de homeostase foi proposto pela primeira vez pelo fisio-
logista francês Claude Bernard, no século XIX, e é um princípio funda-
mental que rege o funcionamento dos sistemas vivos, desde organismos 
unicelulares até organismos multicelulares complexos como os huma-
nos. A homeostase é alcançada por meio de uma série de mecanismos 
de feedback que monitoram continuamente as condições internas de 
um organismo e fazem adaptações para trazê-los de volta ao ponto de 
ajuste desejado. Esses mecanismos normalmente envolvem três compo-
nentes principais: um receptor, um centro de controle e um efetor.
Receptor
Detecta mudanças no ambiente 
interno e envia sinais para o cen-
tro de controle.
Centro de controle
Recebe informações dos recepto-
res e as compara com o ponto de 
ajuste ou faixa desejada, ativando 
o efetor apropriado se houver um 
desvio do ponto de ajuste.
Efetor
Quando ativada pelo centro de 
controle, é uma resposta que 
neutraliza o desvio e restaura 
as condições internas para ní-
veis ideais.
da
vo
od
a/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Transtornos do neurodesenvolvimento 43
O receptor detecta mudanças no ambiente interno e envia sinais 
para o centro de controle, geralmente localizado no cérebro ou em ór-
gãos específicos, que recebe as informações dos receptores e as com-
para com o ponto de ajuste ou faixa desejada. Se houver um desvio do 
ponto de ajuste, o centro de controle ativa o efetor apropriado – um 
músculo, uma glândula ou um órgão – para produzir uma resposta que 
neutraliza o desvio e restaura as condições internas para níveis ideais.
Por exemplo, se a temperatura corporal sobe acima do ponto de 
ajuste, os receptores na pele e no cérebro detectam o aumento e en-
viam sinais ao hipotálamo, o centro de controle. O hipotálamo então 
desencadeia respostas como sudorese e dilatação dos vasos sanguí-
neos para liberar calor e resfriar o corpo. Uma vez que a temperatura 
corporal retorna ao intervalo desejado, as respostas efetoras são redu-
zidas ou desligadas.
A homeostase é essencial para o bom funcionamento das células e ór-
gãos dentro de um organismo, pois garante que as reações bioquímicas, 
a atividade enzimática e os processos celulares ocorram em um ambiente 
ideal, promovendo a saúde e permitindo que os organismos se adaptem 
às mudanças nas condições externas, mantendo a estabilidade interna.
Sendo assim, o cérebro recebe continuamente feedback do corpo e 
do ambiente para monitorar e regular as funções corporais. Ele envia si-
nais para controlar as funções motoras, regular a produção de hormônios, 
manter a homeostase e modular as emoções e o comportamento.
É importante observarmos que essa é uma visão geral simplificada, 
e o funcionamento real do cérebro é muito mais intrincado e complexo. 
Os cientistas continuam a explorar e descobrir os mistérios do cérebro 
para aprofundar nossa compreensão de suas funções e dos mecanis-
mos subjacentes à cognição e comportamento humanos.
Você sabia que o cérebro 
funciona como uma 
empresa, com cada setor 
sendo responsável pelo 
processamento de um 
determinado grupo de 
informações? Com base 
nessa premissa, o vídeo Co-
nheça os setores do cérebro 
apresenta, de maneira leve 
e de fácil compreensão, 
uma explicação sobre cada 
uma das regiões cerebrais, 
contendo a sua função 
principal e como esse 
funcionamento também se 
dá de modo solidário entre 
as diversas regiões.
Disponível em: https://youtu.be/
bQvYZ0TkHjk?si=CmGd3BrSltebnUXR.
Acesso em: 10 out. 2023.
Vídeo
2.5 Contribuições da neurociência cognitiva 
Vídeo
A neurociência cognitiva é um campo interdisciplinar que se con-
centra na compreensão dos mecanismos neurais subjacentes à cog-
nição humana e aos processos mentais, e procura explorar como 
o cérebro processa as várias funções cognitivas, como percepção, 
atenção, memória, linguagem, tomada de decisão, resolução de pro-
blemas e cognição social.
https://youtu.be/bQvYZ0TkHjk?si=CmGd3BrSltebnUXR
https://youtu.be/bQvYZ0TkHjk?si=CmGd3BrSltebnUXR
44 Transtornos do Neurodesenvolvimento
In
k 
Dr
op
/S
hu
tte
rs
to
ck
O campo combina princípios e metodologias da neu-
rociência, psicologia e ciência cognitiva para investigar 
como o cérebro estrutura e processa informações, 
resultando em habilidades e comportamentos 
cognitivos complexos. Ao estudar a relação entre 
a atividade neural e os processos cognitivos, a 
neurociência cognitiva visa entender a base bioló-
gica do pensamento e do comportamento humano 
(D’SOUZA; KARMILOFF-SMITH, 2016).
Os avanços tecnológicos esclarecem como o cére-
bro funciona, embora não permitam o estabelecimento 
de alterações cerebrais associadas a um determinado es-
tágio do neurodesenvolvimento. O que algumas técnicas 
de neuroimagem têm permitido, no entanto, é a iden-
tificação de alterações associadas ao desenvolvimento 
cerebral e cognitivo (D’SOUZA; KARMILOFF-SMITH, 2016).
Pesquisadores em neurociência cognitiva empregam uma varieda-
de de técnicas para investigar o envolvimento do cérebro nacognição, 
sendo elas:
Neuroimagem
Técnicas de neuroimagem funcional, como a ressonância magnéti-
ca funcional (RMF) e a tomografia por emissão de pósitrons, são usadas 
para medir a atividade cerebral durante tarefas cognitivas, fornecendo 
informações sobre as regiões e redes cerebrais envolvidas em proces-
sos cognitivos específicos.
Go
ro
de
nk
of
f/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Transtornos do neurodesenvolvimento 45
Eletroencefalografia (EEG)
A EEG registra a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos 
colocados no couro cabeludo, que oferecem alta resolução temporal, 
permitindo que os pesquisadores estudem o tempo e a dinâmica dos 
processos cognitivos.
Estimulação magnética transcraniana (EMT)
A EMT envolve a aplicação de campos magnéticos em regiões espe-
cíficas do cérebro, interrompendo temporariamente a atividade neural 
nessas áreas. Ao prejudicar seletivamente a função cerebral, os pesqui-
sadores podem inferir o papel de certas regiões do cérebro em proces-
sos cognitivos específicos.
YA
KO
BC
HU
K 
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ck
Im
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 L
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to
ck
46 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Estudos de lesões 
Os pesquisadores estudam indivíduos com danos cerebrais, com 
lesões resultantes de acidentes vasculares cerebrais ou com doenças 
neurodegenerativas. Ao examinarem os déficits cognitivos associados 
a essas lesões cerebrais específicas, eles podem inferir as regiões cere-
brais envolvidas em funções cognitivas específicas.
Por meio da integração dessas técnicas, a neurociência cognitiva 
visa desvendar a intrincada relação entre o cérebro e a cognição para 
responder questões fundamentais sobre como o cérebro processa 
informações, como diferentes regiões do cérebro interagem para dar 
suporte a funções cognitivas e como as interrupções nos processos 
neurais podem levar a déficits e distúrbios cognitivos.
A pesquisa em neurociência cognitiva tem amplas implicações, des-
de a compreensão dos princípios fundamentais da cognição humana 
até o desenvolvimento de intervenções para distúrbios neurológicos 
e psiquiátricos. Ao elucidar os mecanismos neurais subjacentes à cog-
nição, o campo contribui para nossa compreensão da mente humana 
e fornece insights sobre o complexo funcionamento do cérebro, bem 
como quais intervenções são possíveis ou benéficas para cada um dos 
diferentes tipos de transtornos do neurodesenvolvimento.
Dessa maneira, a neurociência cognitiva e os distúrbios do neuro-
desenvolvimento são campos interconectados que estudam a relação 
entre a função cerebral e o desenvolvimento de certas condições neu-
rológicas. A neurociência cognitiva investiga como o cérebro proces-
sf
am
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ho
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/S
hu
tte
rs
to
ck
Transtornos do neurodesenvolvimento 47
sa as informações e como esse processamento contribui para várias 
funções cognitivas, como percepção, atenção, memória, linguagem e 
tomada de decisão. Os distúrbios do neurodesenvolvimento, por outro 
lado, são um grupo de condições que surge durante a primeira infância 
e afeta o desenvolvimento do sistema nervoso, resultando em padrões 
cognitivos e comportamentais atípicos.
O estudo da neurociência cognitiva fornece informações valiosas 
sobre os mecanismos neurais subjacentes aos distúrbios do neurode-
senvolvimento. Ao examinar a estrutura, a conectividade e a atividade 
do cérebro usando técnicas – como a RMF, a EEG e a neuroimagem – os 
pesquisadores podem identificar diferenças na função e organização 
do cérebro entre indivíduos com distúrbios do neurodesenvolvimen-
to e indivíduos com desenvolvimento típico. Essas técnicas ajudam a 
descobrir a base neural de deficiências cognitivas observadas em dis-
túrbios como o transtorno do espectro autista, transtorno de déficit 
de atenção/hiperatividade, deficiência intelectual e transtornos especí-
ficos de aprendizagem.
A pesquisa em neurociência cognitiva fornece evidências de conec-
tividade cerebral alterada, padrões de ativação neural aberrantes e 
anormalidades estruturais em indivíduos com distúrbios no desenvol-
vimento neurológico. Por exemplo, estudos mostram que indivíduos 
com TEA podem exibir ativação atípica em regiões cerebrais envolvi-
das na cognição social e no processamento facial. Da mesma forma, 
indivíduos com TDAH podem apresentar diferenças em áreas cerebrais 
associadas à atenção e ao controle de impulsos. Esses estudos ajudam 
a entendermos as bases neurais dos sintomas cognitivos e comporta-
mentais característicos desses distúrbios (NICHOLLS, 2018).
Além disso, a pesquisa em neurociência cognitiva dá suporte ao 
desenvolvimento de intervenções e terapias para indivíduos com dis-
túrbios do neurodesenvolvimento. Ao obter uma melhor compreen-
são dos mecanismos cerebrais subjacentes a esses distúrbios, os 
pesquisadores podem projetar intervenções direcionadas que visem 
modular ou compensar déficits cognitivos específicos. Técnicas como 
neurofeedback 1 , estimulação cerebral e treinamento cognitivo têm se 
mostrado promissoras para melhorar as funções cognitivas e aliviar os 
sintomas em indivíduos com distúrbios do neurodesenvolvimento.
Em resumo, a neurociência cognitiva e os distúrbios do neurodesen-
volvimento são campos de estudo intimamente ligados. A neurociência 
Quando foi lançado pela 
primeira vez, em 1988, o 
livro de Michael Gazzani-
ga, Neurociência cognitiva: 
a biologia da mente, mo-
dificou o modo como os 
estudantes da graduação 
enxergavam a psicologia 
cognitiva, a neurologia 
e as neurociências do 
comportamento. Essa 
é uma leitura excelente 
para quem deseja se 
aprofundar no assunto, 
fazendo conexões com 
outros campos cientí-
ficos, já que esse livro, 
além de trazer uma abor-
dagem interdisciplinar, 
oferece casos clínicos 
que ilustram e embasam 
a prática, não ficando 
restrito apenas à teoria.
GAZZANIGA, M. S. 2. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2006.
Livro
Técnica que ensina aos 
indivíduos o autocontrole 
das funções cerebrais, me-
dindo as ondas cerebrais 
e fornecendo um sinal de 
feedback. O neurofeedback 
geralmente fornece uma 
resposta em áudio ou 
vídeo, principalmente pela 
análise de gráficos gerados 
pelas ondas cerebrais que 
foram captadas durante o 
treinamento.
1
48 Transtornos do Neurodesenvolvimento
cognitiva fornece uma estrutura científica para investigar a base neural 
das deficiências cognitivas nos distúrbios do neurodesenvolvimento, 
ajudando a descobrir os mecanismos cerebrais subjacentes a essas 
condições. Esse conhecimento pode ser aplicado para desenvolver in-
tervenções e terapias eficazes para melhorar a vida dos indivíduos afe-
tados por esses distúrbios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, aprendemos um pouco mais sobre os transtornos do 
neurodesenvolvimento e sobre como as deficiências foram vistas ao longo 
da história – a morte e a segregação iniciais evoluíram para um cuidado 
familiar, social e institucional ao longo das eras. Após um período funesto 
de abusos e violações de direitos, as pessoas com transtornos do neuro-
desenvolvimento foram reconhecidas como sujeitos e reintegradas à so-
ciedade, com acesso à educação e tratamento adequados.
Devemos isso ao avanço da cultura e das neurociências, que agora 
reconhecem que todos somos não apenas o produto dos genes que rece-
bemos de nossos genitores, mas também fruto do meio no qual vivemos e 
nos movimentamos, logo, natureza e criação caminham juntas. Refletimos 
um pouco sobre o funcionamento cerebral, o processamento das infor-
mações e sobre como a neuroplasticidade revolucionou o modo como 
pensamos esse funcionamento, que não é estanque, mas é vivo e pulsan-
te, modificando-se e adaptando-se, com implicações significativas para a 
aprendizagem, memória, aquisição de habilidades e reabilitação.
Contudo, não podemos perder de vista que por trás de todo diagnós-
tico há um ser único e singular, que vivencia também de maneira única 
suas especificidades e limitações. É preciso pensar e viver a prática do 
cuidado com humanidadee inteligência, a fim de que todos possam se 
beneficiar das descobertas científicas com relação aos transtornos do 
neurodesenvolvimento.
ATIVIDADES
Atividade 1
Como as pessoas com deficiência e/ou transtornos do neurode-
senvolvimento eram tratadas na Antiguidade?
Transtornos do neurodesenvolvimento 49
Atividade 2
Quais são os transtornos do neurodesenvolvimento mais comuns 
em crianças?
Atividade 3
Descreva o conceito científico de nature versus nurture.
Atividade 4
Defina o conceito de neuroplasticidade.
REFERÊNCIAS
APA – American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos 
mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ARTIGAS-PALLARÉS, J.; GUITART, M.; GABAU-VILA, E. Bases genéticas de los trastornos del 
neurodesarrollo. Revista de Neurología, v. 56, n. 1, p. 23-33, 2013.
BROWN, I.; RADFORD, J. P. The growth and decline of institutions for people with 
developmental disabilities in ontario: 1876-2009. Journal on Developmental Disabilities, v. 
21, n. 2, p. 7-27, 2015.
D’SOUZA, H.; KARMILOFF-SMITH, A. Neurodevelopmental disorders. Wiley Interdisciplinary 
Reviews: Cognitive Science, v. 8, p.1-2, 2016.
GAUDET, I.; GALLAGHER, A. Chapter 1 – Description and classification of neurodevelopmental 
disabilities. Handbook of Clinical Neurology, v. 173, p. 3-6, 2020.
GROFF, C. A. Mental retardation: a book of readings. Nova York: MSS Information 
Corporation, 1973.
MCNABB, C. Medieval disability sourcebook: Western Europe. Goleta: Punctum Books, 2020.
NAUMOVA, A. K.; TAKETO-HOSOTANI, T. Epigenetics in human reproduction and 
development. Singapura: World Scientific Publishing Company, 2016.
NICHOLLS, C. J. Neurodevelopmental disorders in children and adolescents: a guide to 
evaluation and treatment. Abingdon: Routledge, 2018.
PURVES, D. et al. Neuroscience. 6. ed. Nova York: Oxford University Press, 2018.
RAVEN, P. et al. Biology. 13 ed. Nova York: McGraw Hill, 2023.
50 Transtornos do Neurodesenvolvimento
3
Transtornos do 
neurodesenvolvimento 
e aprendizagem
Aprendizagem é o processo pelo qual os indivíduos adquirem conhe-
cimento, habilidades, atitudes ou comportamentos por meio de experiên-
cia, estudo ou instrução. É um aspecto fundamental da cognição humana 
e animal, permitindo que os organismos se adaptem ao seu ambiente 
e melhorem seu desempenho ao longo do tempo. Mas o que acontece 
quando esse processo é prejudicado?
Neste capítulo, buscaremos definir o que são transtornos do neu-
rodesenvolvimento e aprendizagem e identificar sua gênese. Com base 
nessa definição, identificaremos os transtornos mais comuns e como 
eles impactam o processo de aprendizagem. Além disso, conheceremos 
as características que constituem os transtornos mais comuns, como a 
dislexia, a disgrafia, a disortografia, a discalculia, a anaritmia e a disnomia.
Embora não sejam caracterizados como transtornos específicos de 
aprendizagem, reconheceremos os aspectos que configuram o transtorno 
de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e o transtorno do espectro au-
tista (TEA), já que esses transtornos do neurodesenvolvimento estão intima-
mente ligados e têm um impacto direto nos processos de aprendizagem.
Ao final deste capítulo, conheceremos as estruturas das deficiências 
sensoriais e seus impactos no neurodesenvolvimento e na aprendizagem, 
identificando os aspectos biológicos, cognitivos e emocionais e sua in-
fluência nos transtornos de aprendizagem.
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• definir o que são transtornos de aprendizagem e identificar sua 
gênese;
• identificar as características que constituem a dislexia, disgrafia, 
disortografia, discalculia, anarritmia e disnomia;
(Continua)
Objetivos de aprendizagem
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 51
• entender os aspectos que caracterizam o TDAH e o TEA;
• descrever as estruturas das deficiências sensoriais e seus impac-
tos no neurodesenvolvimento;
• classificar os aspectos biológicos, cognitivos e emocionais 
e sua influência nos transtornos do neurodesenvolvimento e 
aprendizagem.
3.1 O que são transtornos do 
neurodesenvolvimento? Vídeo
Antes de abordar os transtornos de neurodesenvolvimento em si, 
é importante compreender como se dá o processo de aprendizagem, 
para que então possamos identificar com segurança as alterações que 
podem afetar esse processo. No geral, a aprendizagem pode ser com-
preendida como a habilidade e a possibilidade que os seres humanos 
têm de perceber, compreender, conhecer e reter em sua memória as 
informações que são captadas do ambiente com o qual ele interage 
(TOPCZEWSKI, 2014). Por outro lado, alguns pesquisadores têm o seu 
foco no cérebro como o órgão responsável pela cognição, onde acon-
teceria a aprendizagem, de maneira que o cérebro passa a ser a matriz 
de todo o conhecimento adquirido, sem levar em consideração as inte-
rações com o meio ambiente e as interações sociais.
Basicamente, a aprendizagem pode ocorrer baseando-se em alguns 
mecanismos, muito influenciados pelo modo como as interações acon-
tecem entre quem aprende e os mediadores desse processo:
Ocorre por meio de interações diretas do indivíduo com o 
ambiente. Os indivíduos aprendem com suas observações, 
interações e experiências e podem ajustar seu 
comportamento com base nos resultados de suas ações.
Aprendizagem 
baseada na 
experiência
Ocorre pela mediação de professores, mentores ou com 
recursos educacionais. Pode incluir educação formal em 
escolas, cursos on-line, workshops ou qualquer outra 
forma estruturada de transferência de informações.
(continua)
Aprendizagem 
baseada em 
instruções
52 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Ocorre quando os indivíduos associam um estímulo ou 
evento a outro, por exemplo: o condicionamento clássico 
é um tipo de aprendizado associativo em que um estímulo 
neutro (ver uma maçã) associa-se a um estímulo significativo 
(lembrar de ter comido uma maçã de sabor agradável) e 
provoca uma resposta semelhante (começar a salivar).
Aprendizagem 
associativa
Envolve pensamento de alto nível, resolução de problemas 
e compreensão de conceitos complexos. Esse tipo de 
aprendizado geralmente associa-se ao pensamento e ao 
raciocínio crítico.
Aprendizagem 
cognitiva
Ocorre quando os indivíduos aprendem observando os 
comportamentos dos outros e suas consequências. A 
aprendizagem social é essencial para a transmissão da 
cultura, normas e tradições de uma sociedade.
Aprendizagem 
social
Aprender habilidades – como tocar um instrumento 
musical, dirigir um carro ou dominar um esporte – envolve 
prática, repetição e refinamento.
Aquisição de 
habilidades
A aprendizagem pode ser intencional ou não intencional, além 
de poder ser influenciada por fatores internos, como motivação, 
atenção e memória, e fatores externos, como o ambiente de apren-
dizagem e os métodos de ensino. Ao longo da vida, a aprendiza-
gem desempenha um papel crucial no desenvolvimento pessoal, 
no crescimento profissional e na adaptação a novos desafios e si-
tuações. É um processo contínuo que ocorre em diferentes níveis 
e em vários domínios, moldando os indivíduos e as sociedades à 
medida que avançam no tempo.
A aprendizagem, portanto, é um processo multifacetado, no 
qual cada estrutura exerce uma função específica. De acordo com 
Sampaio e Freitas (2020), para que ocorra o processo de apren-
dizagem é necessário que cada estrutura esteja adequadamente 
integrada em sua função. Atualmente, as neurociências classificam 
esse processo integrado em três níveis de funções, como podemos 
ver na Figura 1.
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 53
Figura 1
Funções para a aprendizagem
Controle e 
integridade 
psicoemocional.
Psicodinâmicas
Recepção dos 
estímulos sensoriais; 
aprendizagem 
simbólica.
Sistema 
nervoso 
periférico
Armazenamento, 
elaboração e 
processamento das 
informações.
Sistema 
nervoso 
central
Fonte: Elaborada pela autora.
Sendo assim, qualquer alteração que envolva essas três funçõeses-
pecíficas terão um impacto direto na aprendizagem do indivíduo, que 
resultará em um transtorno ou dificuldade de aprendizagem escolar 
(SAMPAIO; FREITAS, 2020).
Os transtornos específicos de aprendizagem são um grupo de 
condições neurológicas que afetam a capacidade de um indivíduo de 
adquirir, processar ou usar informações de modo eficaz, podendo se 
manifestar em várias áreas do aprendizado e interferir no desempenho 
acadêmico, no funcionamento diário e nas interações sociais de uma 
pessoa. Os tipos mais comuns de transtornos específicos de aprendi-
zagem incluem:
Dislexia: dificuldade em ler, soletrar e reconhecer palavras escritas. 
Indivíduos com dislexia podem ter problemas para entender a relação 
entre sons e letras.
Disnomia: disfunção da linguagem caracterizada pela incapacidade 
do indivíduo de nomear objetos ou pessoas, bem como de recordar 
nomes próprios.
Disgrafia: desafios na escrita, incluindo dificuldades com caligrafia, 
ortografia e organização de pensamentos no papel.
Disortografia: dificuldade de fazer uma associação entre os fonemas 
(som das letras) e os grafemas (escrita das letras).
(Continua)
54 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Discalculia: dificuldade em compreender conceitos matemáticos, in-
cluindo dificuldades com números, operações matemáticas e resolução 
de problemas.
Distúrbio do processamento auditivo central (DPAC): desafios no 
processamento e interpretação das informações auditivas que podem afe-
tar a audição e a compreensão da linguagem falada.
É importante observar que os distúrbios de aprendizagem não são 
indicativos de falta de inteligência ou motivação, pois têm a sua gênese 
na maneira como o cérebro recebe e processa as informações rece-
bidas. A identificação precoce e as intervenções apropriadas podem 
melhorar significativamente a experiência de aprendizagem e os resul-
tados para indivíduos com transtornos de aprendizagem. O tratamento 
pode envolver apoio educacional especializado, estratégias de aprendi-
zagem individualizadas e outras terapias adaptadas aos desafios espe-
cíficos que cada pessoa enfrenta.
A seguir, abordaremos de modo mais específico cada um desses 
transtornos, trazendo sua conceituação e características.
Dislexia
Este é um distúrbio específico de aprendizagem caracterizado 
por dificuldades na leitura, ortografia e reconhecimento de palavras, 
que ocorre mesmo em indivíduos de inteligência considerada pa-
drão ou acima da média e com acesso a oportunidades educacionais 
adequadas. É um dos transtornos específicos de aprendizagem mais 
comuns e, de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), 
é o de maior incidência nas salas de aula, atingindo entre 5% e 17% 
da população mundial (DISLEXIA..., 2017).
Os indivíduos com dislexia podem enfrentar desafios em várias 
áreas relacionadas à leitura e ao processamento da linguagem, como:
 • Precisão de leitura: dificuldades em reconhecer e decodificar 
palavras com precisão, levando a uma leitura lenta e trabalhosa.
 • Fluência de leitura: indivíduos disléxicos precisam se esforçar 
para ler o texto sem problemas e podem experimentar hesita-
ções ou repetições.
No livro Transtornos e 
dificuldades de aprendiza-
gem: entendendo melhor os 
alunos com necessidades 
educativas especiais, Simaia 
Sampaio e Ivana de 
Freitas apresentam vários 
capítulos sobre cada um 
dos transtornos especí-
ficos de aprendizagem. 
As informações estão 
atualizadas e o livro traz 
uma análise de transtor-
nos ligados à infância e à 
adolescência, bem como a 
necessidade de pesquisas 
e uma reflexão sobre o 
conceito de inclusão.
SAMPAIO, S; FREITAS, I. B. (org.). 
2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 
2020.
Livro
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 55
Le
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ik
 N
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al
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tte
rs
to
ck
 • Compreensão de leitura: compreender o significado do texto 
escrito pode ser um desafio para indivíduos com dislexia, ainda 
que consigam decodificar as palavras.
 • Ortografia: os disléxicos geralmente têm problemas para sole-
trar palavras corretamente, mesmo as simples e comuns.
 • Consciência fonológica: refere-se à capacidade de reconhecer 
e manipular os sons da linguagem falada, o que é crucial para 
desenvolver habilidades de leitura e ortografia.
É essencial entender que a dislexia é uma condição neurológica, e 
não resultado de preguiça, falta de inteligência ou ensino deficiente. 
Acredita-se que a causa raiz da dislexia esteja relacionada 
a diferenças em como o cérebro processa a linguagem 
e a informação visual, particularmente nas áreas res-
ponsáveis pela leitura e habilidades de linguagem. 
A identificação e intervenção precoces são cruciais 
para indivíduos com dislexia, e com apoio adequa-
do e intervenções direcionadas, os indivíduos com 
esse transtorno podem melhorar suas habilidades 
de leitura e linguagem e levar uma vida bem-suce-
dida e gratificante.
Diferentes abordagens e estratégias educacionais 
podem ser empregadas para ajudar indivíduos disléxi-
cos a aprender a ler e escrever de modo mais eficaz, o que pode 
incluir programas estruturados de alfabetização, instrução foné-
tica, técnicas de aprendizado multissensorial e tecnologia assisti-
va. O objetivo é ajudar indivíduos disléxicos a desenvolver estratégias 
compensatórias para contornar seus desafios de leitura e explorar seus 
pontos fortes. A intervenção precoce e as acomodações adequadas po-
dem fazer uma diferença significativa na vida acadêmica e pessoal.
Disnomia
A disnomia é um distúrbio de memória que se caracteriza pela di-
ficuldade do indivíduo em se recordar de palavras e nomes de obje-
tos. As pesquisas atuais consideram que a sua causa é potencialmente 
congênita, mas também pode ter como causa doenças neurológicas 
degenerativas e, neste caso, a condição pode se agravar com o tempo.
56 Transtornos do Neurodesenvolvimento
A disnomia pode estar presente em alguns distúrbios de aprendiza-
gem, como a dislexia, influenciando a aquisição da linguagem e a me-
mória, além de também poder afetar as habilidades de fala, de escrita 
ou ambas. No que diz respeito à memória, também pode ser provoca-
da por condições médicas, como intoxicação, baixos níveis de açúcar 
no sangue, desidratação e overdose.
Indivíduos diagnosticados com esse transtorno têm conhecimento 
das palavras, mas não conseguem recuperá-las na memória quando 
precisam, e para contornar isso, podem ainda substituir a palavra por 
um sinônimo ou por palavras semelhantes em significado ou sonorida-
de. Em casos mais graves de disnomia, essa substituição ocorre por pa-
lavras inventadas que não têm qualquer correlação ou sentido com o 
objeto. A disnomia também pode interferir na capacidade de realização 
de testes cronometrados; logo, os disnômicos também podem hesitar 
ou parecer angustiados na tentativa de recordar palavras ou nomes, 
apresentando ansiedade recorrente e altos níveis de estresse.
Quando a disnomia se apresenta nos transtornos específicos de 
aprendizagem, terapias adequadas podem auxiliar as crianças a desen-
volver habilidades de enfrentamento, como colocar etiquetas com o 
nome dos objetos fixados a eles, e assim aprender a lidar com o distúr-
bio. Porém, quando a disnomia está atrelada à uma condição genética, 
ela persistirá.
Disgrafia
Este é um distúrbio específico de aprendizagem que afeta princi-
palmente as habilidades de escrita, fazendo com que indivíduos com 
disgrafia possam apresentar dificuldades significativas com a caligrafia, 
ortografia e expressão de pensamentos por escrito. Apesar de terem 
inteligência considerada padrão e não apresentarem nenhum proble-
ma físico ou neurológico que justifique essas dificuldades, indivíduos 
com esse quadro têm uma grande dificuldade em produzir uma escrita 
legível, coerente e organizada.
Existem diferentes tipos de disgrafia, e os indivíduos podem apresen-
tar sintomas variados, sendo que as características mais comuns incluem:
 • Escrita ilegível: a disgrafia geralmente leva a uma caligrafia con-
fusa,irregular ou malformada. As letras podem ser malformadas, 
de tamanho inconsistente ou difíceis de ler.
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 57
 • Dificuldades de ortografia: o distúrbio pode resultar em proble-
mas persistentes com a ortografia, incluindo erros ortográficos de 
palavras comuns e dificuldade em lembrar as regras de ortografia.
 • Gramática e sintaxe deficientes: as frases escritas podem não 
ter coerência gramatical, pontuação e estrutura de frases ade-
quadas, tornando a escrita difícil de compreender.
 • Velocidade de escrita lenta: a disgrafia pode fazer com que os 
indivíduos escrevam em um ritmo muito mais lento do que seus 
colegas, levando à frustração e à dificuldade de concluir tarefas 
escritas dentro do tempo previsto.
 • Dificuldade em organizar pensamentos no papel: esse distúr-
bio pode afetar a capacidade de planejar e organizar pensamentos 
de modo coerente ao escrever, dificultando o desenvolvimento 
de parágrafos ou ensaios bem estruturados.
 • Dificuldade com habilidades motoras finas: alguns indivíduos 
com disgrafia podem ter déficits subjacentes de habilidades mo-
toras finas, afetando ainda mais sua capacidade de controlar o 
lápis ou a caneta enquanto escrevem.
A causa exata da disgrafia não é totalmente compreendida, mas 
acredita-se que esteja relacionada à maneira como o cérebro processa 
e coordena as habilidades motoras finas necessárias para a escrita e a 
linguagem, e os processos cognitivos envolvidos na geração da lingua-
gem escrita. Dessa maneira, a criança com disgrafia apresenta dificul-
dade na coordenação visuomotora e não é capaz de traçar as linhas da 
escrita com uma trajetória predeterminada, já que, apesar de todo o 
esforço empreendido, a mão não obedece ao trajeto que foi planejado 
(SAMPAIO; FREITAS, 2020).
Como outros distúrbios de aprendizagem, a identificação e a inter-
venção precoces são cruciais para o manejo da disgrafia e várias es-
tratégias e adaptações podem ser empregadas para apoiar indivíduos 
com disgrafia em suas tarefas de escrita. A terapia ocupacional pode ser 
benéfica para melhorar as habilidades motoras finas e a proficiência na 
escrita. Além disso, o uso de tecnologia assistiva, como um software 
que converta a fala para um arquivo de texto, pode ajudar indivíduos 
com esse transtorno a expressar suas ideias sem as demandas físicas 
da caligrafia.
58 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Para que a disgrafia seja corretamente diagnosticada é essencial buscar 
uma avaliação abrangente por um profissional qualificado, pois somente 
assim será possível desenvolver um plano de intervenção personalizado 
para abordar os desafios de escrita específicos do indivíduo.
Disortografia
Este é um distúrbio de aprendizagem específico que afeta principal-
mente as habilidades de ortografia; logo, indivíduos com disortografia 
têm dificuldades persistentes e significativas com a ortografia, mesmo 
quando têm inteligência considerada padrão e acesso a oportunidades 
educacionais. De acordo com as autoras Sampaio e Freitas (2020, p. 84),
a disortografia consiste em confusões de letras, sílabas e pala-
vras, com trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas pelo 
professor. A ortografia é o conjunto das regras e das normas que 
regem o código da linguagem escrita, não é aleatória ou construí-
da individualmente, mas é fruto de um acordo coletivo entre os 
povos que compartilham uma mesma língua.
É importante distinguir a disortografia de outros distúrbios de 
aprendizagem, como dislexia e disgrafia: enquanto a dislexia afeta prin-
cipalmente a leitura e a disgrafia, sobretudo a caligrafia e a expressão 
escrita, a disortografia prejudica especificamente as habilidades de or-
tografia (SAMPAIO; FREITAS, 2020). As principais características da di-
sortografia incluem:
 • Dificuldades de ortografia: indivíduos com disortografia têm difi-
culdade para soletrar palavras corretamente, tanto em contextos es-
critos quanto orais. Eles podem ter dificuldade em lembrar padrões 
ortográficos, regras fonéticas e convenções ortográficas comuns.
 • Ortografia inconsistente: indivíduos com esse transtorno podem 
soletrar a mesma palavra de maneira diferente a cada vez que a 
escrevem, pois têm dificuldade em internalizar a ortografia correta.
 • Erros de ortografia fonética: a disortografia, geralmente, leva a 
erros de ortografia com base na forma como as palavras soam, 
em vez de sua representação visual correta.
 • Dificuldade com palavras irregulares: enquanto algumas pa-
lavras seguem regras ortográficas previsíveis, outras são consi-
deradas irregulares e não seguem padrões fonéticos típicos do 
idioma. Indivíduos com disortografia podem achar particular-
mente difícil soletrar palavras irregulares.
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 59
 • Habilidades de decodificação deficientes: a disortografia pode 
afetar a capacidade de um indivíduo de pronunciar com precisão 
e decodificar palavras durante a leitura.
As causas subjacentes da disortografia não são ainda totalmente 
compreendidas, mas acredita-se que estejam relacionadas a dificulda-
des no processamento fonológico das palavras, o que afeta a capaci-
dade de reconhecer e manipular os sons da linguagem falada e aplicar 
esse conhecimento à ortografia.
Assim como outros distúrbios de aprendizagem, a identificação 
precoce e a intervenção apropriada são cruciais para o manejo da di-
sortografia. Abordagens instrucionais que se concentram na instrução 
fonética explícita, análise de palavras e técnicas de aprendizado multis-
sensorial podem ser benéficas. O suporte educacional e as acomodações 
podem ajudar os indivíduos disortográficos a desenvolverem estratégias 
compensatórias para melhorar suas habilidades de ortografia.
Discalculia
Este é um distúrbio específico de aprendizagem que afeta a capaci-
dade do indivíduo de compreender e trabalhar com números e concei-
tos matemáticos. Pessoas com discalculia experimentam dificuldades 
persistentes e significativas em aprender e aplicar habilidades mate-
máticas, apesar de terem inteligência e oportunidades educacionais 
adequadas. As principais características desse transtorno são:
 • Dificuldade com aritmética básica: indivíduos com discalculia 
podem ter problemas para realizar operações matemáticas bási-
cas, como adição, subtração, multiplicação e divisão.
 • Sentido numérico ruim: eles podem ter dificuldade em enten-
der a magnitude dos números, seu valor relativo e o conceito de 
quantidade, por exemplo.
 • Desafios com padrões e relacionamentos numéricos: a discal-
culia pode dificultar o reconhecimento e a aplicação de padrões 
e relacionamentos matemáticos, como a compreensão do valor 
posicional ou o reconhecimento de sequências numéricas.
 • Dificuldade com símbolos e terminologia matemática: indi-
víduos com discalculia podem ter problemas para entender e 
lembrar símbolos matemáticos (+, -, ×) bem como termos e voca-
bulário matemáticos.
60 Transtornos do Neurodesenvolvimento
MrSquid/Shutterstock
 • Problemas com o raciocínio matemático: a discalculia pode afe-
tar a capacidade de um indivíduo de resolver problemas matemá-
ticos e aplicar conceitos matemáticos a situações do mundo real.
 • Dificuldade com conceitos espaciais e temporais: alguns indi-
víduos com discalculia também podem ter dificuldades para en-
tender as relações espaciais e o tempo de processamento, o que 
pode afetar ainda mais suas habilidades matemáticas.
Assim como em outros transtornos específicos de aprendizagem, a 
causa exata da discalculia não é totalmente compreendida, mas acredita-
-se que esteja relacionada a diferenças na função e no desenvolvimento 
do cérebro, particularmente nas áreas responsáveis pelo processamento 
matemático.
A discalculia é diferente das simples dificuldades matemáticas que 
podem ser melhoradas com a prática e instrução direcionada. É um 
transtorno específico de aprendizagem que afeta os 
indivíduos ao longo de suas vidas, dificultando a 
aquisiçãode habilidades matemáticas básicas 
e sua aplicação efetiva em diversas situações, e 
não somente no contexto escolar.
A identificação precoce e a intervenção apro-
priada são cruciais para o tratamento da discalcu-
lia. Abordagens instrucionais que se concentram 
em um aprendizado mais concreto e prático, bem 
como recursos visuais e técnicas multissensoriais, 
podem ser benéficas.
DPAC
Também conhecido como distúrbio do processamento au-
ditivo (DPA), esta é uma condição neurológica que afeta a capacidade 
do cérebro de processar informações auditivas de modo eficaz. Indi-
víduos com DPAC têm habilidades auditivas consideradas normais, 
ou seja, embora consigam “ouvir”, têm dificuldade de processar e in-
terpretar informações auditivas com precisão, especialmente em am-
bientes auditivos desafiadores (por exemplo, muitas pessoas falando 
ao mesmo tempo) ou ruidosos.
O sistema auditivo envolve um processo complexo que inclui a 
capacidade do ouvido de detectar ondas sonoras, a transmissão des-
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 61
treety/Shutterstock
ses sinais sonoros ao cérebro e a interpretação do cérebro desses 
sinais em informações significativas (PURVES et al., 2018). Em pes-
soas com DPAC há um problema com o processa-
mento cerebral da informação auditiva, levando 
a várias dificuldades em ouvir e compreender a 
linguagem falada.
Os sintomas do distúrbio do processamento au-
ditivo central podem incluir:
 • Dificuldade de compreensão da fala em am-
bientes ruidosos: pessoas com DPAC podem 
ter dificuldade para se concentrar e compreen-
der a fala quando há ruído de fundo ou sons concorrentes.
 • Dificuldade em seguir instruções verbais: eles podem ter pro-
blemas para lembrar e seguir instruções em várias etapas ou ins-
truções dadas verbalmente.
 • Dificuldade com a discriminação auditiva: essa condição alte-
ra a capacidade de distinguir entre sons semelhantes, como sons 
de consoantes diferentes (por exemplo, “b” e “d”) ou palavras 
com sons semelhantes.
 • Dificuldade com o sequenciamento auditivo: o DPAC envolve 
desafios no processamento e na lembrança da ordem dos sons 
ou informações verbais, como letras em uma palavra ou núme-
ros em uma sequência.
 • Dificuldade com a consciência fonêmica: pessoas com DPAC 
podem ter dificuldade em reconhecer e manipular sons de fala in-
dividuais, o que pode afetar as habilidades de leitura e ortografia.
 • Dificuldade com a memória auditiva: DPAC pode afetar a capa-
cidade de reter e recordar informações auditivas, como lembrar 
o que foi dito em uma conversa ou palestra.
É importante observar que o DPAC é uma condição complexa cujos 
sintomas podem variar de pessoa para pessoa. Pode estar presente 
em crianças e adultos e pode coexistir com outros distúrbios de apren-
dizagem e de neurodesenvolvimento, como dislexia ou transtorno do 
déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). O diagnóstico do distúrbio 
do processamento auditivo central geralmente envolve uma avaliação 
abrangente por um fonoaudiólogo, incluindo uma avaliação detalhada 
das habilidades de escuta e de processamento auditivo.
62 Transtornos do Neurodesenvolvimento
O tratamento para DPAC geralmente requer intervenções direciona-
das para melhorar habilidades específicas de processamento auditivo, 
exercícios de treinamento auditivo e estratégias para lidar com desafios 
auditivos em vários ambientes. O diagnóstico e a intervenção precoces 
são cruciais para ajudar os indivíduos com DPAC a superar as dificulda-
des e melhorar suas habilidades de comunicação e aprendizado.
3.2 Dificuldades e transtornos de aprendizagem 
Vídeo
Os termos dificuldades de aprendizagem e transtornos específicos de 
aprendizagem são frequentemente usados de modo intercambiável, 
mas existem algumas distinções entre eles: no geral, dificuldades de 
aprendizagem referem-se a desafios que os indivíduos podem enfren-
tar ao adquirir certas habilidades ou conhecimentos. Essas dificuldades 
podem ser temporárias e podem surgir devido a vários fatores, como 
falta de instrução adequada, influências ambientais, problemas de saú-
de ou fatores emocionais.
Por exemplo, a dificuldade de aprendizado pode ser causada por algum 
acontecimento ou situação frustrante, ou algo que cause alguma forma de 
sofrimento psíquico na criança – como uma mudança de escola, troca de 
professor, chegada de um irmão, morte de um familiar próximo, questões 
familiares ou separação dos pais –, de maneira que se torna necessário 
investigar quais fatores estão, de alguma forma, alterando o desempenho 
da criança na escola (GIROTTO; GIROTTO; OLIVEIRA JUNIOR, 2015).
As dificuldades de aprendizagem geralmente não são atribuídas a 
deficiências neurológicas ou cognitivas específicas, mas sim a fatores 
externos ou situacionais. Com apoio e intervenções apropriados, os 
indivíduos com dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, podem 
superar seus desafios e atingir seus objetivos de aprendizagem. De 
acordo com Moojen, Bassôa e Gonçalvez (2016), quando falamos em di-
ficuldade de aprendizagem, estamos nos referindo a problemas de or-
dem pedagógica, sociocultural, emocional ou até mesmo neurológica.
Por outro lado, os transtornos específicos de aprendizagem têm a 
sua gênese nas disfunções do sistema nervoso central e estão relaciona-
dos a problemas de aquisição e processamento da informação adquiridas 
em seu meio ambiente. Sendo assim, esses transtornos são condições 
mais específicas e duradouras que afetam a forma como os indivíduos 
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 63
processam, compreendem ou retêm informações. Eles são normalmente 
atribuídos a diferenças neurológicas ou cognitivas e podem afetar signifi-
cativamente a capacidade de uma pessoa aprender e realizar determina-
das tarefas, mesmo com instrução e suporte adequados.
Os transtornos específicos de aprendizagem são frequentemente ca-
racterizados por uma discrepância significativa entre a inteligência ou ca-
pacidade cognitiva de um indivíduo e seu desempenho acadêmico real.
Transtornos específicos de aprendizagem
São condições mais específicas e duradouras normalmente atribuídas a 
diferenças neurológicas ou cognitivas; podem afetar significativamente a 
capacidade de uma pessoa aprender e realizar determinadas tarefas.
Dificuldades de aprendizagem
Geralmente, são atribuídas a fatores externos ou situacionais, podendo ser 
temporárias.
Em resumo, a principal diferença reside na natureza e duração dos 
desafios: as dificuldades de aprendizagem são mais amplas e tempo-
rárias, enquanto os transtornos específicos de aprendizagem são con-
dições específicas e persistentes de origem neurológica ou cognitiva. 
É importante reconhecer e abordar esses dois conceitos de maneira 
adequada para fornecer o apoio e as intervenções necessárias para 
que os indivíduos tenham sucesso em suas atividades educacionais.
No livro Dificuldades de 
aprendizagem: a psicope-
dagogia na relação sujeito, 
família e escola, a autora 
Simaia Sampaio aborda 
a psicopedagogia como 
ciência norteadora da 
relação entre o estudante, 
a família e a escola. Além 
disso, trata de aspectos 
sobre a formação da 
criança como sujeito e 
apresenta uma reflexão 
dos transtornos especí-
ficos de aprendizagem, 
fazendo uma análise de 
qual é o papel da família e 
da escola nesse contexto 
desafiador.
SAMPAIO, S. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Wak Editora, 2011.
Livro
3.3 TDAH e TEA 
Vídeo
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um 
distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta crianças e adultos, ca-
racterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e 
impulsividade que interfere no funcionamento e nas atividades diárias. 
Embora o TDAH não seja um transtorno específico de aprendizagem em 
si, muitas vezes apresenta comorbidade relacionada a algum transtor-
no, o que pode aumentar seu impacto nos processos de aprendizagem.
De maneira geral, existem três tipos principais de TDAH: o chamado 
de apresentação predominantementedesatenta, em que os indivíduos 
64 Transtornos do Neurodesenvolvimento
lutam principalmente contra a desatenção. Eles podem ter dificuldade 
em manter o foco, seguir instruções, organizar tarefas e, muitas vezes, 
parecem esquecidos ou facilmente distraídos. A desatenção, principal-
mente na infância, tem um grande impacto negativo na aprendizagem.
Já os indivíduos com a denominada apresentação predominante-
mente hiperativa-impulsiva exibem sobretudo comportamentos de 
hiperatividade e impulsividade. Eles podem ter problemas para ficar 
parados, muitas vezes são inquietos, agem impulsivamente sem pen-
sar nas consequências e podem interromper os outros com frequên-
cia. Por fim, na conhecida como apresentação combinada, o tipo mais 
comum de TDAH, os indivíduos apresentam sintomas de desatenção e 
hiperatividade-impulsividade.
Apresentação predominantemente desatenta
Dificuldade em manter o foco, seguir instruções, organizar tarefas; muitas vezes, os 
indivíduos parecem esquecidos ou facilmente distraídos.
Apresentação predominantemente hiperativa-impulsiva
Comportamentos de hiperatividade e impulsividade, com problemas para ficar 
parados e a propensão a interromper os outros com frequência.
Apresentação combinada
Presença de sintomas de desatenção e hiperatividade-impulsividade, o tipo mais 
comum de TDAH.
Os sintomas do TDAH geralmente aparecem durante a infância, e 
o diagnóstico é feito comumente antes dos 12 anos de idade, embora 
alguns indivíduos não recebam um diagnóstico até a idade adulta. A 
causa exata do TDAH não é totalmente compreendida, mas acredita-se 
que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e neuroló-
gicos. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (DSM-5), não há marcadores biológicos para o diagnóstico de 
TDAH (APA, 2014).
No Quadro 1 podemos ver listados os sintomas mais comuns de 
TDAH relacionados à desatenção e à hiperatividade/impulsividade.
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 65
Quadro 1
Sintomas comuns do TDAH
Desatenção Hiperatividade e impulsividade
Dificuldade em prestar atenção aos deta-
lhes; cometimento de erros por descuido.
Inquietação intensa; o indivíduo se bate ou 
contorce quando sentado.
Dificuldade de manter o foco em tare-
fas ou atividades.
Impossibilidade de permanecer sentado, 
mesmo quando deveria.
Dificuldade em organizar tarefas e per-
tences.
O indivíduo corre ou escala excessivamen-
te quando não é apropriado.
Evitamento de tarefas que exigem es-
forço mental sustentado.
Dificuldade de brincar ou se envolver silen-
ciosamente em atividades.
Perda frequente de itens necessários 
para completar tarefas específicas.
Fala excessiva e interrupção dos outros 
com frequência.
Esquecimento frequente de tarefas ou 
atividades diárias.
Dificuldade de esperar a sua vez; deixa 
escapar as respostas ou termina as frases 
dos outros.
Fonte: Elaborado pela autora.
Jovens com TDAH podem ser hiperativos, além de tenderem a ser im-
pulsivos e propensos a acidentes. Eles podem responder perguntas antes 
de levantar a mão, esquecer coisas, inquietar-se, contorcer-se na cadeira 
ou falar muito alto. Por outro lado, alguns estudantes com esse transtorno 
podem ser quietos ou desatentos, esquecidos e facilmente distraídos.
De acordo com a Associação para Saúde Mental Infantil de Minne-
sota (Minnesota Association for Children’s Mental Health), o ambiente 
também pode influenciar os sintomas apresentados pelo TDAH, por 
exemplo: estudantes com TDAH podem não exibir alguns comporta-
mentos em casa se esse ambiente for menos estressante, menos esti-
mulante ou mais estruturado do que a escola. Mesmo lidando com a 
desatenção, estudantes com TDAH podem se concentrar na tarefa ao 
fazer um projeto de algo que gostem, como arte. Estima-se que 5% das 
crianças tenham alguma forma de TDAH, com prevalência para crian-
ças do sexo masculino (FREIRE; PONDÉ, 2005).
Estudantes com TDAH tendem a ser negligenciados ou rotulados 
como quietos e desmotivados, porque não conseguem organizar seu 
trabalho a tempo e correm maior risco de desenvolver dificuldades de 
aprendizagem, transtornos de ansiedade, conduta e humor, e até mes-
mo doenças mais sérias como a depressão. Esses indivíduos também 
podem ter dificuldade em manter amizades e sua autoestima sofrerá 
por experimentar falhas frequentes por causa do sentimento de inca-
66 Transtornos do Neurodesenvolvimento
pacidade. Sem tratamento adequado, as crianças correm um alto risco 
de fracasso escolar.
Abordagens multidisciplinares que incluem a família, escola e 
saúde mental podem ser bem-sucedidas, e crianças identificadas em 
tenra idade devem ser monitoradas, pois a mudança de sintomas 
pode indicar distúrbios relacionados, tais como transtorno bipolar, 
depressão, ou condições subjacentes, como transtorno do espectro 
alcoólico fetal 1 (TEAF).
O TDAH pode afetar vários aspectos da vida de um indivíduo, in-
cluindo desempenho acadêmico, produtividade no trabalho, relacio-
namentos e autoestima. No entanto, com diagnóstico e tratamento 
adequados, a exemplo de terapia comportamental e/ou medicação, os 
indivíduos com TDAH podem aprender a controlar seus sintomas de 
modo eficaz e levar uma vida plena e saudável.
O transtorno do espectro autista (TEA), por sua vez, é um transtorno 
do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento 
e a interação social. Ele é caracterizado por uma ampla gama de sinto-
mas e habilidades, razão pela qual é chamado de distúrbio de espectro. 
O TEA afeta os indivíduos de maneira diferente, e não há duas pessoas 
com autismo com exatamente o mesmo conjunto de características.
As principais características do transtorno do espectro autista incluem:
Dificuldades de comunicação: pessoas com TEA podem ter proble-
mas com a comunicação verbal e não verbal. Podem ter atraso no 
desenvolvimento da linguagem, dificuldade de entender e usar gestos 
e dificuldade em manter contato visual ou entender sinais sociais.
Desafios sociais: indivíduos com TEA geralmente apresentam difi-
culdade de se envolver em interações sociais típicas e podem achar 
difícil desenvolver e manter relacionamentos. Eles podem ter dificul-
dade de entender as emoções dos outros ou expressar suas próprias 
emoções de maneira adequada.
(Continua)
Comportamentos repetitivos e interesses restritos: muitos indiví-
duos com TEA se envolvem em comportamentos repetitivos, como 
bater as mãos, balançar ou repetir frases (ecolalia). Eles também 
podem mostrar intenso interesse em tópicos específicos e ter dificul-
dade em mudar seu foco para outras atividades.
O TEAF tem como 
consequência alterações 
comportamentais bem 
definidas, que incluem má 
qualidade do sono, de-
ficiência nas habilidades 
sociais e uma maior pre-
valência do TDAH. Em tor-
no de 40% dos indivíduos 
diagnosticados com TEAF 
também são diagnostica-
dos com TDAH. No TDAH 
apresentado por crianças 
com diagnóstico de TEAF, 
as maiores dificuldades 
estão relacionadas ao 
processamento visual/es-
pacial e na capacidade de 
adaptação e controle da 
impulsividade (CONANT, 
2021).
1
O documentário Em um 
mundo interior acompa-
nha a vida de famílias de 
crianças com TEA e tem 
como proposta trazer 
informação e entendi-
mento sobre o tema 
para o público de uma 
forma séria, mostrando 
toda a complexidade do 
espectro e sinalizando 
que o desenvolvimento 
integral das crianças 
com TEA varia de acordo 
com as oportunidades 
que elas receberam para 
progredir.
Direção: Flavio Frederico e Mariana 
Pamplona. Brasil: Elo Company, 
2018.
Mídia
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 67
Sensibilidades sensoriais: pessoas com TEA podem ter sensibi-
lidade aumentada ou reduzida a estímulos sensoriais, como luz, 
som, toque, paladar ou olfato. Certas texturas ou ruídos podem 
ser perturbadores ou angustiantes, enquanto outros podem ser 
calmantes ou fascinantes.
De acordo com o DSM-5, o transtorno do espectro do autista é 
tipicamente diagnosticadona primeira infância, geralmente por vol-
ta dos 2 ou 3 anos de idade, embora possa ser diagnosticado mais 
tarde, em alguns casos. Tem uma prevalência estimada de 1% na po-
pulação mundial. A causa exata do TEA não é totalmente compreen-
dida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos 
e ambientais.
Como esse é um transtorno do espectro, o nível de deficiência e o 
suporte necessário podem variar amplamente. Alguns indivíduos com 
TEA têm desafios significativos que requerem apoio substancial, en-
quanto outros podem apresentar sintomas mais leves e levar uma vida 
mais independente.
A intervenção precoce e o suporte adequado são cruciais para indivíduos 
com transtorno do espectro autista. Terapias comportamentais, fonoaudio-
logia, treinamento de habilidades sociais e terapia ocupacional podem ajudar 
os indivíduos a desenvolver seus pontos fortes e gerenciar seus desafios de 
modo eficaz. Os planos de tratamento geralmente são personalizados para 
atender as necessidades específicas do indivíduo, e quase sempre requerem 
uma equipe multiprofissional.
É essencial reconhecer que os indivíduos com TEA têm habilida-
des e perspectivas únicas. Com compreensão, aceitação e o apoio 
certo, eles podem fazer contribuições significativas para a sociedade 
e levar uma vida gratificante.
3.4 Deficiências sensoriais 
Vídeo
As deficiências sensoriais referem-se a condições que afetam um ou 
mais dos sentidos, que são os canais pelos quais os indivíduos perce-
bem e interagem com o mundo. Os principais sentidos são visão, au-
dição, paladar, olfato e tato, e quando um ou mais deles são afetados, 
68 Transtornos do Neurodesenvolvimento
temos as deficiências sensoriais. Existem vários tipos de deficiências 
sensoriais, mas as principais são:
Deficiência visual: refere-se a condições que causam perda parcial 
ou total da visão. Pessoas com deficiência visual podem ter dificul-
dade de enxergar objetos, formas, cores e detalhes; algumas deficiên-
cias visuais comuns incluem cegueira, baixa visão e várias condições 
oculares, como catarata, glaucoma e degeneração macular.
Deficiência auditiva: envolve a incapacidade, parcial ou total, de 
ouvir sons. Pessoas com deficiência auditiva podem ter dificuldade 
de entender a fala, acompanhar conversas ou perceber certos sons. 
As deficiências auditivas podem variar de leve a profunda e estar 
presentes desde o nascimento ou serem adquiridas mais tarde du-
rante a vida.
Deficiências do paladar e do olfato: afetam a capacidade de uma 
pessoa de detectar e diferenciar sabores e cheiros, que pode experi-
mentar um sentido reduzido de paladar ou olfato, ou não ser capaz de 
identificar certos sabores ou odores.
Deficiência de toque: consiste na incapacidade de sentir pressão, 
temperatura, dor e outras sensações táteis. Condições como neuro-
patias ou danos nos nervos podem levar a deficiências de toque.
As deficiências sensoriais podem ter um impacto significativo na 
vida diária de um indivíduo e podem influenciar a forma como ele inte-
rage com o ambiente e com outras pessoas. Pessoas com deficiências 
sensoriais podem enfrentar desafios de comunicação, mobilidade, au-
tocuidado, interações sociais e acesso a informações.
O suporte e as acomodações podem ajudar os indivíduos com defi-
ciências sensoriais a se adaptar e participar plenamente das atividades 
diárias e da sociedade, por exemplo: pessoas com deficiência visual po-
dem usar dispositivos auxiliares, como bengalas, cães-guia ou leitores 
de tela em computadores para acessar informações. Pessoas com de-
ficiência auditiva podem usar aparelhos auditivos ou implantes coclea-
res para melhorar sua audição e linguagem de sinais ou legendas para 
facilitar a comunicação.
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 69
Indivíduos com deficiências de paladar e olfato podem confiar em 
outros sentidos e texturas para apreciar a comida, e as deficiências de 
toque podem exigir monitoramento cuidadoso para evitar lesões e ga-
rantir a segurança.
Ambientes acessíveis, ambientes educacionais inclusivos e 
tecnologias assistivas são essenciais para apoiar indivíduos com 
deficiências sensoriais e lhes proporcionar oportunidades iguali-
tárias de participar da sociedade e atingir seu pleno potencial. É 
muito importante promover a conscientização e a compreensão 
das deficiências sensoriais para construirmos uma comunidade 
mais inclusiva e solidária para indivíduos com essas condições.
As deficiências sensoriais podem ter impactos significativos no 
neurodesenvolvimento, particularmente durante os períodos críti-
cos da primeira infância, quando o cérebro está formando conexões 
rapidamente e estabelecendo as bases para o aprendizado e desen-
volvimento futuros. Os efeitos específicos dependem do tipo e gra-
vidade da deficiência sensorial e da idade em que ocorre (PURVES et 
al., 2018).
3.4.1 Impactos no neurodesenvolvimento
Vamos agora explorar os impactos no neurodesenvolvimento dos 
tipos de deficiência sensorial, sendo que para cada um deles os im-
pactos têm características distintas, por exemplo, a deficiência visual 
pode impactar três áreas: o chamado processamento visual, em que 
– na ausência de entrada visual típica – as áreas de processamento 
visual do cérebro podem sofrer reorganização ou redirecionamento 
para aprimorar outro processamento sensorial, como processamento 
auditivo ou tátil; a denominada cognição espacial, pois indivíduos com 
deficiência visual geralmente dependem mais da cognição espacial e 
das informações auditivas para navegar em seu ambiente e interagir 
com o mundo; e por fim, a área conhecida como sentidos não visuais 
aprimorados, em que o cérebro se adapta aguçando os sentidos não 
visuais, como audição e tato, para compensar a falta de entrada visual.
A deficiência auditiva pode ter impactos no neurodesenvolvimen-
to em duas grandes áreas: no chamado processamento auditivo, devi-
do ao fato de que a ausência de entrada auditiva típica pode afetar 
o desenvolvimento de áreas de processamento auditivo no cérebro, 
Af
ric
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St
ud
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to
ck
70 Transtornos do Neurodesenvolvimento
fazendo com que o cérebro se reorganize para alocar recursos para ou-
tro processamento sensorial; e na conhecida como desenvolvimento da 
linguagem, pois a deficiência auditiva pode afetar o desenvolvimento da 
linguagem falada, levando a atrasos na aquisição da linguagem. No en-
tanto, indivíduos com deficiência auditiva podem desenvolver habilida-
des aprimoradas em linguagem de sinais ou comunicação não verbal.
Quanto às deficiências de paladar e olfato, o cérebro pode sofrer 
alterações no que chamamos de integração sensorial, pois ele depende 
de informações de todos os sentidos para criar uma percepção coesa 
do ambiente, portanto a perda do paladar e do olfato pode levar a dife-
renças no processamento sensorial.
O olfato e o paladar são sentidos químicos e os sistemas neurais que 
os compõem estão entre os mais antigos do encéfalo, do ponto de vista da 
filogenética. As sensações que sentimos provêm da interação de molécu-
las com os receptores do olfato e da gustação. Esses impulsos elétricos se 
propagam para o sistema límbico, que é a sede das nossas emoções, bem 
como para algumas áreas do córtex superior. Por isso, determinados odo-
res e sabores são capazes de desencadear respostas emocionais intensas 
e resgatar cadeias de memórias arquivadas pelo cérebro.
Sendo assim, esses distúrbios podem afetar a qualidade de vida do 
indivíduo (por não ser capaz, por exemplo, de identificar que um alimento 
esteja estragado) e sua capacidade de experimentar emoções intensas e 
vivenciar memórias afetivas por meio desses sentidos.
Por fim, a deficiência de toque impacta duas áreas, o processamento 
tátil e a propriocepção. Sobre a primeira delas, como o cérebro depende 
de informações táteis para entender e interagir com o mundo físico, ocorre 
uma perda de entrada de toque que pode influenciar a forma como o cére-
bro processa informaçõestáteis.
É pelo sistema tátil que recebemos informações sobre o mundo que 
nos rodeia logo após o nascimento, e é a capacidade de processar in-
formações táteis que possibilita que nos sintamos seguros e que crie-
mos laços de afeto com aqueles que amamos. Este fator é de grande 
importância para o nosso desenvolvimento social e emocional.
O sistema de processamento tátil tem um papel de grande impor-
tância, de caráter protetivo, cuja função é nos alertar diante de algo 
desconfortável ou perigoso. Em algumas crianças essa função do siste-
ma tátil não funciona adequadamente, o que pode causar problemas. 
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 71
Nessas crianças, o sistema tátil gera informações equivocadas para o 
cérebro, o que faz com que elas estejam sempre em um estado de aler-
ta, e qualquer toque pode causar reações extremas (gritos, reações de 
luta ou fuga ou explosões de violência), e esse comportamento pode 
ser erroneamente interpretado como “mau comportamento”.
A deficiência de toque não afeta, necessariamente, a capacidade de 
aprendizado da criança, porém o desconforto e as reações comporta-
mentais causados por essa deficiência interferem muito no processo 
de aprendizagem.
Já a propriocepção (a sensação da posição e movimento do corpo); 
nesse caso, o toque é comprometido, de modo que as habilidades mo-
toras e a coordenação são potencialmente afetadas.
Deficiência visual
Pode afetar três áreas:
 • processamento visual;
 • cognição espacial;
 • sentidos não visuais aprimorados.
Deficiência auditiva
Pode afetar duas grandes áreas:
 • processamento auditivo;
 • desenvolvimento da linguagem.
Deficiências de paladar e olfato
O cérebro pode sofrer alterações 
no que chamamos de integração 
sensorial.
Deficiência de toque
Pode afetar duas áreas:
 • processamento tátil;
 • propriocepção (a sensação da 
posição e movimento do corpo).
Como sabemos, o cérebro é altamente plástico, o que significa que 
tem a capacidade de se reorganizar e se adaptar às mudanças senso-
riais. Em resposta às deficiências sensoriais, o cérebro utiliza-se dessa 
plasticidade neural e faz com que as conexões neurais existentes sejam 
fortalecidas, ou até mesmo forma novas conexões para compensar a 
perda sensorial. Essa neuroplasticidade pode variar dependendo da 
idade em que ocorre o comprometimento sensorial e da capacidade 
de adaptação do indivíduo (PURVES et al., 2018).
A intervenção precoce é crucial para indivíduos com deficiências 
sensoriais para apoiar seu neurodesenvolvimento de modo eficaz. A 
estimulação sensorial e as terapias especializadas podem ajudar a oti-
mizar o neurodesenvolvimento e aprimorar as habilidades adaptativas. 
Além disso, as tecnologias assistivas e as adequações educacionais po-
Os sistemas sensoriais 
são responsáveis pela 
obtenção de informações 
sobre o meio ambiente 
e sobre nosso próprio 
corpo, e o cérebro é o 
órgão responsável pela 
recepção e interpretação 
dessas informações. No 
vídeo Sistemas Sensoriais - 
#01 Introdução - Neurofi-
siologia são apresentadas 
as características gerais 
dos sistemas sensoriais 
de uma forma bem didáti-
ca. Vale a pena conferir!
Disponível em: https://youtu.be/
Hv8W2UdTmiI?si=ZIlNMzaJYFlb63Il.
 Acesso em: 16 nov. 2023.
Vídeo
https://youtu.be/Hv8W2UdTmiI?si=ZIlNMzaJYFlb63Il
https://youtu.be/Hv8W2UdTmiI?si=ZIlNMzaJYFlb63Il
dem capacitar indivíduos com deficiências sensoriais a acessar infor-
mações, comunicar-se e participar plenamente de seu ambiente.
3.5 Aspectos biológicos, cognitivos 
e emocionaisVídeo
Os transtornos específicos de aprendizagem são condições complexas 
que envolvem uma combinação de fatores biológicos, cognitivos e emocio-
nais. Logo, é essencial compreender esses aspectos para desenvolver inter-
venções e suporte eficazes para indivíduos com distúrbios de aprendizagem.
Partindo para as definições em si, quanto aos aspectos biológicos, 
três fatores são influenciados por eles:
 • Diferenças neurológicas: acredita-se que os distúrbios de 
aprendizagem estejam enraizados em diferenças neurológicas 
que afetam a forma como o cérebro processa e integra informa-
ções, além de também poder afetar áreas cerebrais específicas 
responsáveis pelo processamento da linguagem, leitura, escrita, 
habilidades matemáticas e funções executivas.
 • Fatores genéticos: há evidências de que os distúrbios de apren-
dizagem têm um componente genético, o que significa que po-
dem ocorrer em famílias. Genes específicos podem influenciar o 
desenvolvimento do cérebro e as funções relacionadas ao apren-
dizado e à cognição.
 • Estrutura e função cerebral: estudos de neuroimagem identifi-
caram diferenças estruturais e funcionais nos cérebros de indiví-
duos com distúrbios de aprendizagem, apoiando a ideia de que a 
organização cerebral e a conectividade desempenham um papel 
nas dificuldades de aprendizagem.
Quando nos referimos aos aspectos cognitivos dos transtornos 
de aprendizagem, também podemos identificar alguns fatores:
 • Processamento de informações: indivíduos com 
transtornos específicos de aprendizagem podem 
ter dificuldades com processos cognitivos es-
pecíficos, como memória de trabalho, aten-
ção, velocidade de processamento e funções 
executivas (por exemplo, planejamento, or-
ganização e autorregulação).
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7272 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 73
 • Linguagem e processamento fonológico: a linguagem e o 
processamento fonológico são críticos para a leitura e a escrita. 
Transtornos como a dislexia podem estar relacionados a dificul-
dades na compreensão da relação entre sons e letras (consciên-
cia fonológica).
 • Processamento numérico: a discalculia, que, como sabemos, 
afeta as habilidades matemáticas, pode estar associada a dificul-
dades no processamento numérico e na compreensão de concei-
tos matemáticos.
Por fim, os aspectos emocionais também têm sua influência, vincu-
lando-se principalmente à relação do indivíduo com transtorno especí-
fico de aprendizagem com o mundo ao seu redor:
 • Sentimentos e sensações: os transtornos específicos de apren-
dizagem podem levar à frustração e ansiedade, especialmente 
quando os indivíduos enfrentam desafios acadêmicos e têm di-
ficuldade em acompanhar os colegas. Isso pode afetar negativa-
mente a autoestima e a motivação para aprender.
 • Interações sociais: podem ocorrer alterações nas interações so-
ciais, pois os indivíduos podem se sentir isolados. Isso pode levar 
a sentimentos de solidão e dificuldades em fazer amizades.
 • Lidar com dificuldades: alguns indivíduos com os transtornos 
específicos de aprendizagem podem desenvolver mecanismos 
de enfrentamento, como evitação ou retraimento, para admi-
nistrar suas dificuldades. Essas estratégias de enfrentamento 
podem afetar ainda mais o bem-estar acadêmico e emocional. É 
preciso manter um olhar atento e acolhedor.
É importante reconhecer que os indivíduos com transtornos especí-
ficos de aprendizagem também têm pontos fortes e talentos, por isso 
fornecer apoio, intervenções e acomodações adequados – tudo isso 
adaptado às suas necessidades específicas – pode ajudá-los a superar 
desafios e explorar seus pontos fortes.
Avaliação abrangente e intervenção precoce são cruciais para abor-
dar os aspectos biológicos, cognitivos e emocionais dos distúrbios de 
aprendizagem de modo eficaz. Uma abordagem multidisciplinar envol-
vendo educadores, psicólogos, terapeutas e outros profissionais pode 
fornecer estratégias personalizadas para promover aprendizagem, 
bem-estar e sucesso para indivíduos com distúrbios de aprendizagem.
Você quer conhecer a 
importância das emoções 
no processo de apren-
dizagem? No vídeo A 
importância das emoções 
na aprendizagem, Geraldo 
Almeida nos fala da ne-
cessidade urgente de re-
fletirmos sobre o impacto 
das emoções no processo 
educativo, chegando a 
afirmar que nãocentral e reconhecer suas 
ações no neurodesenvolvimento. Tudo no corpo humano compete para 
a nossa saúde e bem-estar, e com o sistema nervoso não poderia ser 
diferente, pois todas as suas estruturas trabalham incessantemente pela 
busca da homeostase, no caso, o equilíbrio.
Seguiremos a nossa jornada, buscando identificar as estruturas neu-
ronais e reconhecer suas funções, com foco nos neurônios, as estruturas 
vitais que nos permitem pensar, refletir, sonhar, amar, reconhecer um 
rosto querido na multidão ou cantarolar a nossa canção preferida quando 
ouvimos os seus primeiros acordes.
Finalizamos a viagem deste primeiro capítulo entendendo a relevância 
de cada estrutura do sistema nervoso nas etapas do neurodesenvolvi-
mento infantil, bem como a importância de analisarmos as questões biop-
sicossociais que permeiam e impactam esse desenvolvimento.
10 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• reconhecer as estruturas do sistema nervoso e sua formação;
• identificar as funções do sistema nervoso e as diferentes etapas 
do desenvolvimento humano;
• descrever as estruturas e mecanismos de proteção do sistema ner-
voso central e reconhecer suas ações no neurodesenvolvimento;
• classificar as estruturas neuronais e descrever suas funções;
• compreender a relevância de cada estrutura do sistema nervoso 
nas etapas do neurodesenvolvimento infantil.
Objetivos de aprendizagem
1.1 Sistema nervoso 
Vídeo
O sistema nervoso é uma rede complexa de células especializadas 
chamadas de neurônios, que transmitem sinais entre diferentes partes 
do corpo, além de serem responsáveis por controlar e coordenar as 
funções de vários órgãos e sistemas, permitindo-nos perceber e intera-
gir com o mundo que nos rodeia. Quando pensamos nas funções do 
sistema nervoso, estamos diante do sistema mais complexo de todo o 
corpo humano, isso porque suas características únicas proporcionam a 
interação com o ambiente e a regulação interna de todos os sistemas 
que garantem o desenvolvimento do organismo e a preservação da vida.
A formação do nosso sistema nervoso data de milhões de anos, perío-
do no qual ele foi se aperfeiçoando e ganhando novas e mais complexas 
funções, um processo que se deu tanto em nível anatômico (organização 
estrutural) quanto fisiológico (função orgânica), por isso a fisiologia do 
sistema nervoso é extremamente complexa (OLIVEIRA, 2005).
O sistema nervoso tem o papel de coordenar o sentir, o pensar 
e o controlar tudo o que acontece no corpo, atividades que aconte-
cem pelas informações que o sistema coleta tanto internamente (no 
corpo) quanto no ambiente externo. Essas informações são extraí-
das das terminações nervosas sensoriais que estão espalhadas pela 
nossa pele, nos tecidos internos, nos órgãos dos sentidos (olhos, 
ouvidos, nariz) e são transmitidas para a medula espinhal e para o 
encéfalo por meio dos nervos (HALL; HALL, 2021).
Todos esses estímulos que o sistema nervoso recebe do corpo e do 
ambiente que nos rodeia precisam ser processados e corretamente in-
terpretados, de maneira que sejam transformados em informações que 
tenham um sentido e sirvam de base para a tomada de decisões do sis-
tema nervoso, seja na preservação do organismo, seja na regulação das 
funções vitais, como respiração, pressão arterial e temperatura corporal.
Sendo assim, o sistema nervoso humano desempenha três funções 
principais, que podemos ver listadas no Quadro 1 (HALL; HALL, 2021).
Quadro 1
Principais funções do sistema nervoso
Função
sensorial
Coletar informações que são recebidas pelas terminações nervosas 
e transmiti-las para a medula espinhal e o encéfalo.
Função
integrativa
Interpretar as informações recebidas pelas terminações nervosas, 
incluindo os processos de pensamento e memória.
Função 
motora
Conduzir e receber as informações do sistema nervoso central para 
os músculos e glândulas do corpo.
Fonte: Elaborado pela autora.
Tratando especificamente de cada uma delas, a função sensorial 
do sistema nervoso envolve a coleta e o processamento de informações 
sensoriais de ambientes externos e internos. Ela nos permite perceber 
e interpretar vários estímulos, como toque, temperatura, dor, pressão, 
som, luz, paladar e olfato. Os receptores sensoriais em nosso corpo 
detectam esses estímulos e os convertem em sinais elétricos, que são 
transmitidos ao sistema nervoso central (SNC) para processamento.
A função integrativa do sistema nervoso envolve o processamen-
to e a integração da informação sensorial, bem como a coordenação 
das respostas motoras, e ocorre no SNC, particularmente no cérebro. 
O cérebro recebe entradas sensoriais e as integra com informações ar-
mazenadas e experiências passadas para darmos sentido ao mundo 
e tomarmos decisões. Essa função nos permite perceber, 
analisar e responder aos estímulos de maneira coor-
denada e apropriada, além de também permitir 
funções cognitivas superiores, como aprendi-
zado, memória, raciocínio e emoções.
Já a função motora do sistema nervoso 
é responsável por iniciar e controlar os 
movimentos voluntários e involuntários. 
Trata-se da transmissão de sinais do SNC 
Para quem deseja apro-
fundar-se na formação, 
no desenvolvimento e 
nas funções do sistema 
nervoso, o livro de Arthur 
Guyton, Neurociência básica 
– anatomia e fisiologia, é 
um guia completo sobre os 
aspectos estruturais e fun-
cionais mais importantes.
GUYTON, A. C. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 1993.
Livro
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NeurodesenvolvimentoNeurodesenvolvimento 1111
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para os músculos e glândulas por todo o corpo. Os neurônios moto-
res transportam esses sinais, também conhecidos como impulsos ou 
comandos motores, do SNC para os músculos ou glândulas-alvo, resul-
tando em ações ou respostas específicas. Essa função nos permite 
mover nosso corpo, manter a postura e realizar várias ações, como 
caminhar, falar ou pegar objetos.
Em resumo, a função sensorial do sistema nervoso envolve a per-
cepção e o processamento de informações sensoriais, a função motora 
controla os movimentos voluntários e involuntários e a função integrado-
ra integra as entradas sensoriais e coordena as respostas motoras, permi-
tindo a percepção, a tomada de decisões e funções cognitivas superiores.
1.1.1 Divisões do sistema nervoso
De modo geral, o sistema nervoso divide-se em dois componentes 
principais, o sistema nervoso central (SNC), que engloba o cérebro e 
a medula espinhal – isto é, os órgãos do sistema nervoso protegidos 
pelo crânio e pelas vértebras da coluna cervical – e o sistema nervoso 
periférico (SNP), formado pelos nervos e os gânglios nervosos. Além 
disso, este segundo componente tem também uma subdivisão, o cha-
mado sistema nervoso autônomo (SNA), que como o próprio nome diz, é 
responsável pelas funções autônomas do organismo.
Na Figura 1 podemos ver um resumo das principais funções 
desses componentes.
1212 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
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SNP
 • Transmite todas as 
ações do SNC para os 
respectivos receptores.
 • Responsável pelas 
ações voluntárias e 
involuntárias do corpo.
SNC
 • Centro de comando 
do sistema nervoso.
 • Processa 
informações e 
coordena todas as 
funções corporais.
Figura 1
Principal divisão do 
sistema nervoso
Fonte: Elaborada pela autora.
Neurodesenvolvimento 13
Explicando de modo mais detalhado, o SNC é formado por dois 
órgãos: o cérebro, que é o centro de comando do sistema nervoso e 
o responsável por processar informações, controlar pensamentos e 
emoções, e coordenar todas as funções corporais. Já a medula espi-
nhal é um feixe longo e cilíndrico de nervos que se estende do tronco 
cerebral por toda a coluna cervical do indivíduo, servindo como um 
caminho para os sinais entre o cérebro e o resto do corpo, além de 
desempenhar um papel crucial nas ações reflexas. No caso do SNP,há edu-
cação sem emoção. Vale a 
pena assistir!
Disponível em: 
https://youtu.be/5TdeC13looo?si
Acesso em: 16 nov. 2023.
Vídeo
https://youtu.be/5TdeC13looo?si=nslLw2UPBu10K1Yl
74 Transtornos do Neurodesenvolvimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, traçamos um panorama dos transtornos de aprendi-
zagem e dos transtornos do neurodesenvolvimento que mais afetam os 
processos educativos, como o TEA e o TDAH. Investigamos como esses 
transtornos se apresentam – isto é, seus sinais e sintomas – e como eles 
se manifestam na vida do indivíduo, gerando consequências que se ex-
pandem não apenas em nível acadêmico, mas também no campo das 
emoções, da cognição e das relações sociais.
Enfim, aprendemos que em qualquer situação – seja ela afetada por 
uma dificuldade específica de aprendizagem, um transtorno de aprendi-
zagem ou do neurodesenvolvimento –, o diagnóstico precoce e o trata-
mento adequado, com as intervenções necessárias e com profissionais 
especializados e qualificados, são um fator imprescindível para que se 
possa assegurar o pleno desenvolvimento do indivíduo e para que ele 
possa fruir uma vida gratificante, plena de sentido e de significado.
ATIVIDADES
Atividade 1
Para que o processo de aprendizagem possa ocorrer sem dificul-
dades, quais são as três funções que precisam estar preservadas?
Atividade 2
O que caracteriza o transtorno do déficit de atenção/hiperativida-
de (TDAH)?
Atividade 3
Como podemos identificar o transtorno do espectro autista (TEA)?
Transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem 75
Atividade 4
Qual é a diferença entre transtornos específicos de aprendizagem 
e dificuldades de aprendizagem?
Atividade 5
O que são deficiências sensoriais?
REFERÊNCIAS
APA – American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos 
mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
CONANT, B. J. et al. Relationships between Fetal Alcohol Spectrum Disorder, adverse 
childhood experiences, and neurodevelopmental diagnoses. Open Journal of Pediatrics, v. 
11, n. 4, out. 2021.
DISLEXIA atinge até 17% da população mundial. Edição do Brasil, 5 maio 2017. Disponível 
em: https://edicaodobrasil.com.br/2017/05/05/dislexia-atinge-ate-17-da-populacao-
mundial/. Acesso em: 16 nov. 2023.
FREIRE, A. C. C.; PONDÉ, M. P. Estudo piloto da prevalência do transtorno de déficit de 
atenção e hiperatividade entre crianças escolares na cidade do Salvador. Arquivos de 
Neuro-Psiquiatria, v. 63, n. 2, p. 474–478, 2005.
GIROTTO, P. R. C.; GIROTTO, E.; OLIVEIRA JUNIOR, I. B. Prevalência de distúrbios da escrita 
em estudantes do Ensino Fundamental: uma revisão sistemática. Revista de Ensino, 
Educação e Ciência Humanas, v. 16, n. 4, p. 361-366, 2015.
MOOJEN, S. M. P.; BASSÔA, A.; GONÇALVES, H. A. Características da dislexia de 
desenvolvimento e sua manifestação na idade adulta. Revista Psicopedagogia, v. 33, n. 100, 
p. 50-59, 2016.
PURVES, D. et al. (ed.). Neuroscience. 6. ed. Nova York: Oxford University Press, 2018.
SAMPAIO, S.; FREITAS, I. B. (org.). Transtornos e dificuldades de aprendizagem: entendendo 
melhor os alunos com necessidades educativas especiais. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak 
Editora, 2020.
TOPCZEWSKI, A. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade: uma vertente 
terapêutica. Einstein (São Paulo), v. 12, n. 3, p. 310-313, 2014.
https://edicaodobrasil.com.br/2017/05/05/dislexia-atinge-ate-17-da-populacao-mundial/
https://edicaodobrasil.com.br/2017/05/05/dislexia-atinge-ate-17-da-populacao-mundial/
76 Transtornos do Neurodesenvolvimento
4
Prevenção e cuidado
Neste capítulo discutiremos as necessidades de cuidado que envolvem os 
transtornos do neurodesenvolvimento na infância, refletindo sobre quanto 
esse cuidado impacta não apenas a fase de desenvolvimento da criança atí-
pica, uma vez que isso tem consequências que se estendem por toda a vida 
adulta. Buscaremos compreender o processo de prevenção e promoção da 
saúde para um neurodesenvolvimento saudável, pensando em estratégias 
de cuidado materno e controle de fatores externo que podem impactar o 
desenvolvimento infantil. Buscaremos analisar e identificar situações de risco 
para o neurodesenvolvimento infantil, estejam elas no contexto do histórico 
familiar, da saúde da gestante ou da situação socioeconômica familiar.
Também seremos capazes, neste capítulo, de entender os aspectos 
comportamentais e sociais envolvidos nas situações de vulnerabilidade e 
como identificá-los com segurança para que possamos pensar em inter-
venções possíveis, bem como conhecer a importância do fortalecimento 
de vínculos afetivos para um neurodesenvolvimento saudável.
Ao final deste capítulo saberemos identificar e fortalecer as redes de 
apoio à comunidade escolar, de maneira que a escola se transforme em 
um lugar seguro e acolhedor para os estudantes com transtornos do 
neurodesenvolvimento, oferecendo suporte adequado para que eles se 
desenvolvam na plenitude de suas habilidades, sonhos e esperanças.
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• compreender o processo de prevenção e promoção da saúde para 
um neurodesenvolvimento saudável;
• identificar situações de risco para o neurodesenvolvimento infantil;
• entender os aspectos comportamentais e sociais envolvidos nas 
situações de vulnerabilidade;
• reconhecer a importância do fortalecimento de vínculos afetivos 
para um neurodesenvolvimento saudável;
• identificar e fortalecer as redes de apoio da comunidade escolar.
Objetivos de aprendizagem
Prevenção e cuidado 77
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4.1 Prevenção e promoção de saúde 
Vídeo
A promoção e prevenção da saúde são dois conceitos importantes 
na saúde pública, com ambos se concentrando na manutenção e me-
lhoria da saúde e do bem-estar dos indivíduos e das comunidades, mas 
com definições e estratégias distintas.
Quando falamos em promoção de saúde, estamos nos referindo 
a uma abordagem proativa para melhorar e manter a saúde e o bem-
-estar. Ela envolve esforços a fim de capacitar indivíduos e comunida-
des a fazer escolhas mais saudáveis e se envolver em comportamentos 
que promovam uma boa saúde. A promoção da saúde visa prevenir 
o aparecimento de doenças e condições abordando os determinantes 
subjacentes da saúde, tais como fatores de estilo de vida, condições 
sociais e econômicas e o ambiente físico.
De uma maneira geral, as estratégias de promoção da saúde in-
cluem campanhas de educação e sensibilização para a saúde, incentivo 
a comportamentos saudáveis (por exemplo, exercício regular e dieta 
equilibrada), melhoria do acesso aos serviços de saúde, criação de 
ambientes de apoio à saúde e abordagem dos determinantes sociais 
da saúde, como a pobreza e a educação. Incentivar a atividade física 
regular, defender hábitos alimentares nutritivos, oferecer programas 
de cessação do tabagismo, promover práticas sexuais seguras e apoiar 
campanhas de sensibilização para a saúde mental são exemplos de ini-
ciativas de promoção da saúde.
A prevenção, no contexto dos cuidados de saúde, refere-se às 
atividades e medidas tomadas para evitar ou reduzir a ocorrência de 
doenças, lesões ou outros problemas relacionados com a saúde. Visa 
identificar e mitigar os fatores de risco, prevenir a progressão das con-
dições existentes e, em última análise, reduzir o peso das consequên-
cias de uma determinada doença ou incapacidade.
Em resumo, a promoção da saúde centra-se na capacitação dos 
indivíduos e das comunidades para que façam escolhas mais sau-
dáveis e em abordar os determinantes subjacentes da saúde, en-
quanto a prevenção abrange uma série de estratégias destinadas a 
evitar ou reduzir a ocorrência e o impacto das condições de saúde. 
Ambos os conceitos são componentes essenciais da saúde pública 
http://REDPIXEL.PL/Shutterstock
e dos sistemas de saúde, trabalhando em conjunto para promover melho-
res resultados de saúde para indivíduos e populações em geral.
Prevenção
Estratégiasdestinadas a evitar ou reduzir a ocorrência e o impacto das 
condições de saúde.
Promoção da saúde
Capacitação dos indivíduos e das comunidades para fazerem escolhas mais 
saudáveis e abordagem dos determinantes subjacentes da saúde.
Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de dis-
túrbios que afetam o desenvolvimento do sistema nervoso, principal-
mente do cérebro. Essas condições manifestam-se frequentemente 
no início da vida e podem ter um impacto significativo nas capa-
cidades cognitivas, sociais e motoras de uma pessoa. Embora os 
transtornos do neurodesenvolvimento se encaixem nos princípios 
da prevenção de saúde, é complexo falarmos da sua prevenção, já 
que todos têm a sua gênese em condições que são quase sempre 
multifatoriais.
Ainda assim, a seguir veremos algumas diretrizes gerais para 
prevenção e cuidados que têm relação com os transtornos do 
neurodesenvolvimento.
Cuidado pré-natal
O pré-natal refere-se aos cuidados médicos e ao apoio 
que uma gestante recebe antes do nascimento do seu 
bebê, algo crucial para garantir uma gravidez saudável e 
um parto seguro. O cuidado pré-natal normalmente en-
volve uma série de exames médicos e orientações sobre 
estilo de vida fornecidos por profissionais de saúde 
para monitorar a saúde da gestante e do feto em 
desenvolvimento.
Cuidados pré-natais precoces e consistentes 
permitem que os prestadores de cuidados de 
saúde detectem quaisquer problemas poten-
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7878 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
Gorodenkoff/ShutterstockGorodenkoff/Shutterstock
ciais, realizando intervenções adequadas e oferecendo suporte para 
que a gestante tenha uma experiência de gravidez e parto segura e 
saudável. Também desempenham um papel significativo na redução 
do risco de complicações e na garantia dos melhores resultados possí-
veis para a mãe e para o bebê.
Um pré-natal adequado é essencial para prevenir distúrbios do 
neurodesenvolvimento, e ele inclui: consultas regulares com um 
profissional de saúde; uma dieta equilibrada; e evitar a exposição 
a substâncias nocivas, como álcool, tabaco e certos medicamentos, 
durante a gravidez.
Aconselhamento genético
Este é um serviço de saúde especializado que fornece informa-
ções, apoio e orientação a indivíduos e famílias que estão em risco 
ou são afetados por doenças genéticas ou hereditárias. Os geneti-
cistas dessa área são profissionais treinados, com experiência em 
genética e aconselhamento, e que ajudam a compreender os aspec-
tos genéticos relacionados à saúde e a tomar decisões informadas 
sobre cuidados médicos e planejamento familiar.
O aconselhamento genético é um serviço essencial que capacita 
indivíduos e famílias com o conhecimento e apoio necessários para 
que tomem decisões informadas sobre a sua saúde genética. Ele 
desempenha um papel fundamental em testes genéticos, preven-
ção de doenças e planejamento familiar. Os conselheiros genéticos 
trabalham em colaboração com os profissionais da saúde para for-
necer cuidados e apoio abrangentes aos indivíduos afetados por 
condições genéticas.
Se houver um histórico familiar de distúrbios do neurodesen-
volvimento ou preocupações sobre o risco genético, o aconse-
lhamento pode ajudar os indivíduos e os casais a compreender 
os seus fatores de risco e tomar decisões informadas sobre o 
planejamento familiar.
Prevenção e cuidadoPrevenção e cuidado 7979
80 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Intervenção precoce
O diagnóstico e a intervenção precoces são cruciais para muitos 
transtornos do neurodesenvolvimento, pois a identificação precoce de 
sinais e sintomas pode levar a um tratamento eficaz e a estratégias de 
apoio que podem melhorar seus resultados.
Terapias e intervenções
Dependendo do distúrbio específico do neurodesenvolvimento, vá-
rias terapias e intervenções podem ser recomendadas – como fonoau-
diologia, terapia ocupacional, fisioterapia e terapia comportamental 
– para ajudar os indivíduos a desenvolver as habilidades necessárias e 
lidar com seus desafios.
Gestão de medicamentos
Em alguns casos, medicamentos podem ser prescritos para contro-
lar sintomas ou condições concomitantes, como transtorno de déficit de 
atenção/hiperatividade (TDAH) ou epilepsia. É essencial seguir as orienta-
ções de um profissional de saúde quanto ao uso de medicamentos.
Educação de apoio
As crianças com perturbações do neurodesenvolvimento frequente-
mente se beneficiam de programas educativos especializados e de ati-
vidades adaptadas às suas necessidades. Programas de intervenção na 
primeira infância e planos de educação individualizados podem ser be-
néficos, como o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e do Braille. 
Além disso, é importante a oferta de material pedagógico acessível por 
meio de tecnologias assistivas, como suporte emborrachado para que a 
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Prevenção e cuidado 81
criança consiga segurar o lápis ou o uso de tablets como recurso para a 
utilização de textos aumentados visando uma melhor visualização.
Modificações comportamentais e de estilo de vida
Os cuidadores e os familiares podem desempenhar um papel sig-
nificativo no apoio a indivíduos com perturbações do neurodesenvol-
vimento implementando estratégias comportamentais e criando um 
ambiente estruturado e de apoio em casa.
De acordo com Bowling et al. (2019), disparidades de saúde enfren-
tadas por crianças com transtornos do neurodesenvolvimento são 
consideráveis. Seus estudos apontam que as crianças com diagnósti-
cos como transtorno do espectro autista (TEA), TDAH, bipolaridade, de-
pressão e ansiedade apresentam altos níveis de hábitos de vida não 
saudáveis, como baixos níveis de atividade física, dieta pobre, rotina de 
sono interrompida e tempo de exposição a telas muito elevado. Esses 
hábitos pouco saudáveis na infância provavelmente contribuem para o 
risco elevado de doenças crônicas nessas crianças.
Pesquisas recentes começam a elucidar como os pais moldam há-
bitos de saúde das crianças que predizem o risco de doenças crônicas 
futuras, particularmente no que diz respeito a ingestão alimentar, tempo 
de exposição a telas, atividade física e higiene do sono (que são as práti-
cas e hábitos que permitem uma boa qualidade de sono noturno). Esses 
estudos também descrevem as diferenças nos comportamentos paren-
tais entre famílias com crianças com desenvolvimento típico e aquelas 
com transtornos do neurodesenvolvimento (BOWLING, 2019).
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82 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Acesso a cuidados de saúde e serviços
É preciso garantir o acesso aos cuidados de saúde, incluindo exa-
mes regulares e consultas especializadas, para monitorizar o progresso 
do indivíduo e resolver quaisquer preocupações emergentes.
Redes de apoio
Construir uma rede de apoio de familiares, amigos e grupos de 
apoio também é um passo muito importante, principalmente para for-
necer apoio emocional e prático tanto para indivíduos com transtornos 
do neurodesenvolvimento quanto para seus cuidadores. Essa rede de 
apoio é organizada por meio de encontros e reuniões periódicas entre 
a família e a escola, entre os cuidadores e professores, bem como por 
meio de terapias de grupo ou grupos de ajuda mútua. Essas reuniões 
podem ser semanais, quinzenais ou mensais, de acordo com o objetivo 
e a organização de cada grupo.
Pesquisa
É preciso manter-se sempre informado sobre as últimas pesquisas 
e esforços relacionados aos transtornos do neurodesenvolvimento. 
Advogar a favor da causa pode ajudar a aumentar a sensibilização, pro-
mover a investigação e melhorar o acesso a recursos e serviços.
É importante observar que as estratégias específicas de prevenção e 
cuidados podem variar dependendo do tipo e da gravidade do transtor-
no do neurodesenvolvimento. Consultar profissionaisde saúde – como 
pediatras, neurologistas e especialistas em desenvolvimento – é essencial 
para desenvolver um plano personalizado para cada indivíduo afetado 
por essas condições. A intervenção precoce e o apoio contínuo podem 
melhorar significativamente a qualidade de vida desses indivíduos.
4.2 Avaliação de situações de risco 
Vídeo
A avaliação do risco relativo aos distúrbios do neurodesenvolvimen-
to envolve a avaliação dos fatores que podem aumentar ou diminuir a 
probabilidade de esses distúrbios ocorrerem em indivíduos ou popula-
ções em geral. A partir de agora, analisaremos alguns aspectos-chave 
da avaliação de risco para transtornos do neurodesenvolvimento.
No vídeo Aula 3 - De-
senvolver PRÁTICAS em 
crianças com Transtorno 
do Neurodesenvolvimento, 
do canal NeuroSaber, a 
autora aborda práticas 
para desenvolver a psico-
motricidade em crianças 
com transtornos do 
neurodesenvolvimento. 
Sua abordagem é voltada 
para atividades que sejam 
totalmente inclusivas, a 
fim de que todas as crian-
ças possam participar e se 
desenvolver, levando-se 
em consideração que a 
psicomotricidade engloba 
os aspectos emocionais, 
cognitivos e motores das 
diferentes etapas do de-
senvolvimento humano.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
live/1RTtuYe18qc?si=JNt0-
HUN7_kHoMF-. 
Acesso em: 16 nov. 2023.
Vídeo
https://www.youtube.com/live/1RTtuYe18qc?si=JNt0-HUN7_kHoMF-
https://www.youtube.com/live/1RTtuYe18qc?si=JNt0-HUN7_kHoMF-
https://www.youtube.com/live/1RTtuYe18qc?si=JNt0-HUN7_kHoMF-
https://www.youtube.com/live/1RTtuYe18qc?si=JNt0-HUN7_kHoMF-
Prevenção e cuidado 83
Um dos fatores de risco mais significativos para muitos transtornos 
do neurodesenvolvimento é o histórico familiar da doença, pois, se 
parentes próximos (pais ou irmãos, por exemplo) tiverem sido diagnos-
ticados com algum transtorno, isso pode aumentar o risco para outros 
membros da família, embora não seja um fator determinante. Vários fa-
tores pré-natais também podem influenciar o risco de desenvolvimen-
to desses transtornos, incluindo a saúde materna (em casos de infecções 
durante a gravidez e diabetes gestacional, por exemplo) e exposição a 
substâncias (tabaco, álcool, drogas etc.). Não tomar os cuidados pré-na-
tais ou ter uma nutrição inadequada durante a gestação também podem 
afetar o desenvolvimento fetal, transformando-se em fatores de risco.
A exposição a toxinas ambientais como chumbo ou certos pro-
dutos químicos durante o desenvolvimento inicial do feto pode au-
mentar o risco de distúrbios do neurodesenvolvimento. Além disso, 
alguns eventos durante a gravidez, como nascimento prematuro, 
baixo peso ao nascer e complicações durante o parto também po-
dem aumentar o risco.
Os avanços na genética levaram à identificação de genes específicos 
e marcadores moleculares associados a alguns distúrbios do neurode-
senvolvimento, logo testes genéticos e a triagem podem ajudar a ava-
liar o risco para indivíduos com histórico familiar.
Marcos de desenvolvimento atrasados ou atípicos na primeira 
infância podem ser indicativos de um risco aumentado de distúrbios 
do desenvolvimento neurológico, portanto o monitoramento desses 
marcos é crucial para uma intervenção precoce. Alguns exemplos de 
marcos do desenvolvimento típico são os seguintes:
 • De 0 a 6 meses: sorri e dá risada; é capaz de virar a cabeça acom-
panhando o deslocamento de um objeto.
 • De 6 a 9 meses: responde quando é chamado pelo seu nome; 
consegue sentar-se sem apoio.
 • De 9 a 12 meses: aprende a dar tchau; consegue apontar as par-
tes do corpo quando solicitado.
Certos comportamentos e indicadores clínicos – como dificulda-
des de comunicação social, comportamentos repetitivos, desatenção 
e hiperatividade – podem sinalizar um risco aumentado de distúrbios 
do neurodesenvolvimento, por isso a avaliação precoce pelos profissio-
nais de saúde é essencial para o diagnóstico e a intervenção precoces.
84 Transtornos do Neurodesenvolvimento
A presença de outras condições médicas ou psiquiátricas, como 
epilepsia ou perturbações do humor, pode aumentar o risco de altera-
ções do desenvolvimento neurológico ou complicar o seu tratamento. 
É preciso mantar-se atento a esses fatores de risco. O status socioe-
conômico e o acesso a recursos de saúde e educacionais também 
são fatores de risco, pois a baixa condição socioeconômica pode estar 
associada a um risco aumentado devido ao acesso limitado a serviços 
de intervenção precoce.
Programas de intervenção precoce e serviços de apoio familiar 
podem mitigar alguns fatores de risco e melhorar os resultados para 
crianças em risco de perturbações do desenvolvimento neurológico.
É importante observar que, embora certos fatores de risco possam aumentar 
a probabilidade de distúrbios do neurodesenvolvimento, nem todos os indiví-
duos expostos a esses fatores desenvolverão um distúrbio.
A avaliação de riscos é um processo complexo que envolve a ava-
liação de múltiplos fatores e suas interações. A identificação e in-
tervenção precoces desempenham um papel decisivo na mitigação 
do impacto dos distúrbios do neurodesenvolvimento e na melho-
ria da qualidade de vida dos indivíduos afetados. Pais, cuidadores 
e profissionais de saúde devem trabalhar juntos para monitorar o 
desenvolvimento, identificar riscos e fornecer apoio e intervenções 
adequadas quando necessário.
Pi
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No livro Transtornos 
do desenvolvimento: da 
identificação precoce às 
estratégias de intervenção, a 
autora Sônia Rodrigues nos 
apresenta a importância 
de se estabelecer um dife-
rencial quando se trata de 
diagnosticar os transtornos 
do neurodesenvolvimento, 
trazendo uma reflexão 
sobre quais comporta-
mentos são esperados e 
considerados “normais” na 
sociedade em que vivemos, 
bem como se é possível a 
identificação precoce de 
tais transtornos.
RODRIGUES, S. D. Ribeirão Preto: 
Book Toy, 2014.
Livro
Prevenção e cuidado 85
4.3 Identificação de vulnerabilidades 
Vídeo
Identificar vulnerabilidades no momento em que surgem transtor-
nos do neurodesenvolvimento envolve reconhecer fatores de risco e 
avaliar fatores que podem aumentar a probabilidade de um indivíduo 
desenvolver tais distúrbios. A identificação precoce de vulnerabilidades 
pode ajudar na intervenção e no apoio precoces, mitigando potencial-
mente o impacto desses distúrbios.
Os transtornos do neurodesenvolvimento, como o TEA e o TDAH, 
geralmente têm causas complexas e multifatoriais e, em muitos casos, 
não podem ser completamente prevenidos. No entanto, existem algu-
mas estratégias gerais que podem ajudar a reduzir o risco ou mitigar o 
impacto desses transtornos, por exemplo: o gerenciamento de con-
dições crônicas como diabetes e hipertensão durante a gravidez pode 
ajudar a reduzir o risco de distúrbios do desenvolvimento neurológico; 
tomar suplementos de ácido fólico antes e durante a gravidez tem 
sido associado a diminuição do risco de certos distúrbios do desenvol-
vimento neurológico, como defeitos do tubo neural e algumas deficiên-
cias cognitivas.
Para famílias com histórico de distúrbios do neurodesenvolvimento 
ou predisposições genéticas, o aconselhamento genético pode aju-
dar os indivíduos a tomar decisões informadas com relação ao plane-
jamento familiar. Outra estratégia é minimizar a exposição a toxinas 
e poluentes ambientais, como chumbo, mercúrio e pesticidas, que 
têm sido associados a um risco aumentado de distúrbios do desenvol-
vimento neurológico.
A gravidez e a chegada de um novo bebê marcam um momento 
de mudanças sem precedentes e quase sempre de esperança para o 
futuro. Para muitas mulheres, porém, esse é um momento desafia-
dor; para uma parte das mães, esse período pode ser dolorosamente 
ofuscado por transtornos de ordem psicológica, sendo agravado pelo 
preconceito e pelo estigma social. Devido a isso, é preciso abordar os 
problemas de saúde mental materna, pois há um amplo es-
pectro de transtornos que podem ocorrer na gravidez e no 
pós-parto, desde transtornosmentais comuns – como 
depressão e ansiedade – até diagnósticos de mania 
e psicose no início do pós-parto, que 
SeventyFour/Shutterstock
SeventyFour/Shutterstock
86 Transtornos do Neurodesenvolvimento
podem impactar o desenvolvimento do bebê, principalmente no que 
concerne à criação do vínculo afetivo, ao desenvolvimento do apego 
seguro, ao desenvolvimento da linguagem e demais funções cognitivas.
Outra estratégia de prevenção é incentivar a amamentação, pois 
ela fornece nutrientes e anticorpos essenciais que apoiam o desenvol-
vimento saudável do cérebro dos bebês. Se surgirem preocupações ou 
dúvidas sobre o desenvolvimento de uma criança, é preciso procurar 
imediatamente serviços de intervenção precoce, uma vez que a identi-
ficação e a intervenção precoces podem ajudar a resolver os atrasos 
no desenvolvimento e melhorar os resultados.
Além desses fatores que estão mais ligados à gestante, uma das es-
tratégias direcionadas às crianças é fornecer uma dieta balanceada, 
especialmente rica em nutrientes essenciais (como os ácidos graxos 
ômega-3), que pode contribuir para o desenvolvimento cerebral mais 
saudável. Além de fornecer uma dieta rica e balanceada, é preciso dimi-
nuir o tempo de exposição excessiva a telas – smartphones, tablets, 
computadores etc. – das crianças pequenas, visto que se trata de um 
fator de vulnerabilidade quando se trata do neurodesenvolvimento. A di-
minuição do uso desses equipamentos pode ser incentivada por brinca-
deiras que desenvolvam a coordenação motora e as habilidades sociais.
A família pode se tornar um grande fator de vulnerabilidade. É pre-
ciso apoio e educação parental às famílias, especialmente àquelas 
com crianças em risco de distúrbios do desenvolvimento neurológico. 
Os programas parentais podem melhorar as habilidades de cuidado e 
criar um ambiente acolhedor.
É importante notar que, embora essas estratégias possam reduzir o risco de 
alguns distúrbios do neurodesenvolvimento, elas não garantem a prevenção 
em todos os casos, pois esses distúrbios são complexos e resultam de uma 
combinação de fatores genéticos, ambientais e de desenvolvimento. É pre-
ciso reconhecer, ainda, que as vulnerabilidades podem evoluir com o tempo.
O monitoramento regular do desenvolvimento de uma criança 
ao longo da infância e da adolescência pode ajudar a identificar 
questões emergentes e ajustar as intervenções de acordo com 
cada necessidade apresentada. É importante abordar a avaliação 
da vulnerabilidade por uma perspectiva holística, considerando 
múltiplos fatores e as suas interações. A identificação precoce de 
No livro Intervenções psico-
lógicas para promoção de 
desenvolvimento e saúde 
na infância e adolescência, 
Sônia Enumo, Tatiane 
Dias e Fabiana Ramos 
trazem uma miríade de 
intervenções possíveis 
com crianças, adoles-
centes e seus familiares, 
identificando as vulnera-
bilidades apresentadas 
para que seja possível agir 
de maneira eficaz a fim 
de promover o desen-
volvimento integral do 
indivíduo. O livro é desti-
nado aos profissionais da 
educação, da saúde e aos 
pais, no que diz respeito à 
participação da família na 
garantia da promoção da 
saúde infanto-juvenil.
ENUMO, S. R. F.; DIAS, T. L.; RAMOS, F. P. 
(org.). Curitiba: Appris, 2021.
Livro
Prevenção e cuidado 87
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vulnerabilidades é crucial para uma intervenção e um apoio opor-
tunos, o que pode melhorar significativamente os resultados para 
indivíduos em risco de transtornos do desenvolvimento neurológi-
co. A colaboração entre pais, cuidadores, educadores e profissio-
nais de saúde é essencial nesse processo.
4.4 Fortalecimento de vínculos 
Vídeo
Os laços emocionais desempenham um papel essencial no nosso 
desenvolvimento psicossocial ao longo da vida. Esses vínculos são for-
mados principalmente por meio de relacionamentos com cuidadores 
durante a primeira infância, mas continuam a evoluir e a influenciar 
o bem-estar psicológico e social de um indivíduo no decorrer da vida.
A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby, enfatiza a impor-
tância dos laços emocionais iniciais formados entre os bebês e seus 
cuidadores principais. Para o autor (BOWLBY, 2021, p. 11), “o que se 
acredita ser essencial para a saúde mental é que o bebê e a criança pe-
quena experimentem um relacionamento carinhoso, íntimo e contínuo 
com a mãe (ou mãe substituta permanente), no qual ambos encontrem 
satisfação e prazer”. Um apego seguro serve de base para um desen-
volvimento psicossocial saudável. Bebês com apego seguro tendem a 
ser mais confiantes, ter maior autoestima e a desenvolver melhores 
habilidades sociais ao longo da vida.
Dessa forma, os laços emocionais formados durante a infância têm 
uma importância crucial, pois proporcionam uma sensação de segu-
rança e proteção, permitindo à criança explorar o seu ambiente e de-
senvolver um autoconceito positivo.
Os vínculos emocionais estabelecidos durante a infância também 
ajudam as crianças a aprender a regular suas emoções. Os cuida-
dores que respondem com sensibilidade, consistên-
cia e acolhimento às necessidades da criança 
ajudam-na a desenvolver as competências de 
regulação emocional, que são importan-
tíssimas para o equilíbrio das relações 
sociais na vida adulta. As crianças que 
experimentam apoio emocional con-
88 Transtornos do Neurodesenvolvimento
sistente estarão mais bem equipadas para lidar com o estresse, a 
ansiedade e os desafios emocionais da vida adulta.
Os vínculos emocionais contribuem, ainda, para o desenvolvimento 
de habilidades sociais e a capacidade de formar relacionamentos saudá-
veis. Por meio de interações com os cuidadores, as crianças aprendem 
sobre empatia, cooperação e comunicação. A qualidade dos vínculos 
emocionais iniciais pode influenciar a capacidade de um indivíduo em 
estabelecer e manter relacionamentos positivos na idade adulta.
O autoconceito e a autoestima de um indivíduo são moldados signi-
ficamente pela qualidade dos vínculos que ele experimentou durante 
o seu desenvolvimento infantil. Experiências emocionais positivas com 
cuidadores promovem uma autoimagem saudável e ajudam os indi-
víduos a formar um senso de identidade e autoestima, que são vitais 
para o desenvolvimento psicossocial.
Vínculos saudáveis na infância são capazes de proporcionar uma 
proteção psíquica contra os desafios da vida. Indivíduos com ligações 
emocionais seguras tendem a ser mais resilientes e mais bem equi-
pados para lidar com o stress e a adversidade, permanecendo mais 
confiantes diante dos desafios existenciais. Dessa forma, o apoio emo-
cional dos entes queridos pode ajudar os indivíduos a enfrentar even-
tos difíceis da vida e a manter o bem-estar mental.
Quando nos referimos à saúde e a promoção de bem-estar, po-
demos identificar que a ausência de vínculos emocionais seguros ou 
experiências de negligência ou abuso durante a infância podem ter 
efeitos negativos duradouros no desenvolvimento psicossocial, o que 
pode impactar o desenvolvimento de modo global e não somente nas 
habilidades socioemocionais. Pesquisas apontam que o cérebro de 
uma criança institucionalizada, que recebe os cuidados de higiene e ali-
mentação apenas, sem a criação de vínculo emocional com o seu cuida-
dor, é notadamente menor do que o cérebro de uma criança da mesma 
idade que tem acesso a vínculos saudáveis, proporcionados por cuida-
dores afetivamente vinculados a ela (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Em resumo, os laços emocionais são essenciais para o desenvolvi-
mento psicossocial, pois fornecem a base para a regulação emocional, 
o desenvolvimento social, o autoconceito, a resiliência e o bem-estar 
mental geral. Conexões emocionais positivas com os cuidadores du-
Prevenção e cuidado 89
rante a primeira infância preparam o terreno para um funcionamento 
psicológico e social saudável ao longo da vida de um indivíduo.
E quando nos referimos a crianças com transtornos do neurodesen-volvimento? Será que esse vínculo fica comprometido? Qual é o papel 
do vínculo afetivo no neurodesenvolvimento dessas crianças atípicas?
Os laços emocionais para as crianças com transtornos de neurodesenvol-
vimento – assim como para aquelas com desenvolvimento típico – são de 
extrema importância, pois proporcionam um apoio crucial e transformador, 
facilitando o desenvolvimento positivo de várias maneiras.
Partindo para os vínculos em si, a seguir falaremos de alguns deles 
de modo mais específico.
Regulação emocional
Muitas crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, como 
TEA e TDAH, têm grande dificuldade com a sua própria regulação emo-
cional. O vínculo afetivo saudável com os pais ou cuidadores pode aju-
dar essas crianças a aprender a identificar, nomear, expressar e gerir 
as emoções de uma forma mais eficaz. O apoio emocional consistente 
e a compreensão oferecidos pelos cuidadores são imprescindíveis para 
ajudar as crianças a enfrentar os seus desafios emocionais.
Desenvolvimento social
Crianças com distúrbios do neurodesenvolvimento muitas vezes 
apresentam dificuldades nas interações sociais e na comunicação. Os 
vínculos emocionais com os cuidadores servem como modelo, como 
uma base segura e de apoio para que elas elaborem, experimentem, 
pratiquem e desenvolvam suas habilidades sociais. Por meio desses la-
ços, as crianças podem aprender sobre reciprocidade, empatia e o com-
portamento social adequado no ambiente e no contexto em que vivem.
Sensação de segurança
Crianças com neurodesenvolvimento atípico podem enfrentar ní-
veis elevados de ansiedade ou estresse devido a dificuldades no pro-
cessamento de informações sensoriais ou na compreensão de sinais 
sociais. Os vínculos afetivos com os cuidadores proporcionam uma 
sensação de segurança e estabilidade, o que pode ser especialmente 
90 Transtornos do Neurodesenvolvimento
importante para essas crianças na gestão da ansiedade e na constru-
ção de resiliência.
Autoestima e autoconceito
Os vínculos emocionais podem contribuir significativamente para 
a autoestima e o autoconceito de uma criança. Quando os cuidado-
res proporcionam amor e aceitação, as crianças com transtornos do 
neurodesenvolvimento têm maior probabilidade de desenvolver uma 
autoimagem positiva, mesmo frente aos desafios sociais e à estigmati-
zação relacionados à sua condição.
Resultados comportamentais e acadêmicos
Os vínculos emocionais são capazes de influenciar positivamente o 
comportamento e os resultados acadêmicos de uma criança. Quando 
as crianças se sentem intimamente conectadas e apoiadas pelos seus 
cuidadores, ficam mais motivadas para se envolver na aprendizagem e 
apresentam um comportamento de bem-estar tanto em casa como em 
ambientes educativos.
Progresso terapêutico
Os vínculos saudáveis podem aumentar a eficácia das intervenções 
terapêuticas. As crianças têm maior probabilidade de se envolver e res-
ponder positivamente às intervenções terapêuticas quando confiam e 
se sentem emocionalmente ligadas aos seus terapeutas ou profissio-
nais de saúde.
Bem-estar familiar
Os laços emocionais dentro da família são cruciais para crianças 
com distúrbios do neurodesenvolvimento. Esses laços podem ajudar 
os membros da família a compreender melhor as necessidades e os 
desafios da criança, promovendo um ambiente familiar mais solidário, 
harmonioso e acolhedor. Fortes laços emocionais na infância podem 
ter efeitos positivos que se estenderão por toda a idade adulta para 
indivíduos com distúrbios do neurodesenvolvimento, o que contribui 
para melhorar a independência, a integração social e a qualidade de 
vida geral na fase adulta.
É importante observarmos que construir e manter vínculos emo-
cionais com crianças que apresentam transtornos do neurodesen-
Prevenção e cuidado 91
volvimento pode ser mais desafiador. Exige paciência, compreensão, 
equilíbrio, consistência e adaptabilidade adicionais dos cuidadores, 
pois cada criança é única e suas necessidades e preferências podem va-
riar. Adaptar as abordagens de prestação de cuidados às necessidades 
específicas da criança é fundamental para promover um forte vínculo 
emocional e apoiar o seu desenvolvimento global.
E quanto ao contexto escolar? Como podemos fomentar a criação 
de vínculos afetivos saudáveis entre as crianças com neurodesenvolvi-
mento atípico e seus educadores? Como inserir a importância do víncu-
lo nesse contexto, que pode ser um tanto desafiador?
Apoiar estudantes com transtornos do neurodesenvolvimento re-
quer uma abordagem multifacetada que leve em consideração as 
necessidades deles e desafios individuais. No contexto escolar, esse 
aspecto ganha grandes proporções, pois estamos nos referindo a toda 
uma comunidade de estudantes, muitas vezes com necessidades com-
pletamente diferentes. Com base nisso, na figura a seguir vemos algu-
mas estratégias e considerações para que toda a comunidade escolar 
possa apoiar esses alunos.
Figura 1
Abordagens no contexto escolar
Identificar 
e avaliar 
precocemente1 Elaborar 
o PEI2
Disponibilizar 
acomodações 
adequadas3 Oferecer apoio 
social e emocional4
Criar estratégias 
de comunicação5 Colaborar com 
profissionais 
especializados6
Incentivar o apoio e 
a inclusão de pares7 Motivar por 
reforços 
positivos8
Fonte: Elaborada pela autora.
antoniodiaz/Shutterstock
antoniodiaz/Shutterstock
A identificação e o diagnóstico precoces são cruciais, e tanto os 
professores quanto os pais devem estar atentos a sinais de transtornos 
do desenvolvimento neurológico em crianças pequenas. É muito im-
portante que professores e cuidadores colaborem com os profissionais 
de saúde e especialistas para realizar testes e avaliações e determinar 
as necessidades e os pontos fortes específicos do estudante. O profes-
sor da sala de aula deve trabalhar com a equipe de educação especial 
da escola na elaboração do Plano Educacional Individualizado (PEI), 
que deve ser adequado às necessidades do estudante e moldado de 
acordo com a natureza e gravidade do transtorno apresentado. É pre-
ciso certificar-se de que o plano atenda às necessidades exclusivas do 
aluno, descreva acomodações, modificações e metas e especifique os 
serviços de apoio apropriados.
A disponibilização de acomodações adequadas na sala de aula é 
também uma abordagem muito importante. Para isso, o docente pode 
modificar o ambiente da sala a fim de minimizar distrações sensoriais 
para alunos com distúrbios de processamento sensorial. Também é 
possível fornecer suporte visual – como horários e dicas visuais – para 
ajudar os alunos com transtornos do neurodesenvolvimento a com-
preender as expectativas e rotinas. Talvez seja preciso oferecer tempo 
estendido para tarefas e testes, reduzir a carga de trabalhos de casa e 
ajustar os critérios de avaliação.
Ainda no que se refere ao ambiente da sala, é importante que o 
professor esteja disponível e preparado para oferecer apoio social e 
emocional aos seus alunos, especialmente àqueles com transtornos 
de neurodesenvolvimento, de modo a construir um ambiente favorável 
e inclusivo, promovendo a compreensão e a aceitação entre os colegas. 
É possível, por exemplo, ensinar habilidades sociais explicitamente por 
meio de atividades estruturadas e dramatizações; ou até mesmo usar 
estratégias para controlar a ansiedade e a regu-
lação emocional, como exercícios de atenção 
plena ou um espaço seguro designado.
Devido a essa relação próxima que os 
docentes têm com seus alunos, é sempre 
importante criar estratégias de comunica-
ção, adaptando os métodos de comunica-
ção às necessidades do indivíduo. Alguns 
estudantes podem se beneficiar de dispo-
9292 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
Prevenção e cuidado 93
sitivos ou ferramentas de comunicação aumentativa e alternativa, 
mas, para isso, os educadores devem procurar usar uma linguagem 
clara e concisa, fornecendo recursos visuais para reforçar as instru-
ções verbais. Além da comunidade escolar –pais, funcionários, outros 
docentes e alunos etc. –, o educador também podem colaborar com 
profissionais especializados (fonoaudiólogos, terapeutas ocupacio-
nais ou terapeutas comportamentais) conforme necessário. É possí-
vel utilizar as estratégias aprendidas pelo estudante em sessões de 
terapia em sala de aula para reforçar suas habilidades.
O educador pode incentivar o apoio e a inclusão de pares por meio 
de tutores ou sistemas de camaradagem, de modo a ajudar os alunos 
com transtornos do neurodesenvolvimento a se envolver com seus cole-
gas de maneira significativa, estabelecendo vínculos afetivos de qualida-
de. Pode-se promover a inclusão envolvendo estudantes neurodiversos 
em atividades regulares de sala de aula e extracurriculares, quando 
apropriado. Por último, mas não menos importante, o professor pode 
fazer uso das técnicas de reforço positivo e recompensas para motivar 
e reconhecer os esforços e as realizações do aluno. É importante cele-
brar pequenos sucessos para aumentar a autoestima e a confiança do 
estudante, ajudando, assim, a fortalecer os vínculos entre professores 
e alunos, para promover o sentimento de pertencimento e bem-estar.
É importante lembrar que cada aluno com transtorno do neurode-
senvolvimento é único, por isso é essencial adaptar estratégias de apoio 
aos pontos fortes e desafios específicos desses alunos. A colaboração 
regular entre professores, pais, especialistas e os próprios estudantes 
pode contribuir para uma experiência educacional mais bem-sucedida.
No vídeo Vínculos Afetivos 
e Desenvolvimento Humano 
vemos a importância 
do vínculo afetivo no 
neurodesenvolvimento 
infantil. Aprendemos que 
o desenvolvimento se dá 
por meio das relações 
que estabelecemos com o 
outro, sendo elas a chave 
para o desenvolvimento 
das crianças. É por meio 
da relação com o outro 
que vamos criando a 
nossa própria individua-
lidade e desenvolvendo 
as nossas habilidades 
socioemocionais.
Disponível em: https://youtu.
be/HhmvJZlmARs?si=Dsj6_
L1M4Tukn5P1. Acesso em: 17 
nov. 2023.
Vídeo
4.5 Redes de apoio 
Vídeo
Em 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que é 
um direito das crianças ter plena oportunidade de atividades de lazer 
e recreação, e, por meio da participação nessas atividades, as crianças 
experimentariam melhorias em sua saúde e bem-estar, o que promove-
ria o seu desenvolvimento e autoeficácia, bem como seu desempenho 
físico e emocional e habilidades cognitivas e sociais que as ajudariam 
ainda mais a serem incluídas nas redes sociais das suas comunidades e 
a construir amizades (UN, 2013).
https://youtu.be/HhmvJZlmARs?si=Dsj6_L1M4Tukn5P1
https://youtu.be/HhmvJZlmARs?si=Dsj6_L1M4Tukn5P1
https://youtu.be/HhmvJZlmARs?si=Dsj6_L1M4Tukn5P1
94 Transtornos do Neurodesenvolvimento
De acordo com Araniti (2020), diversos estudos e pesquisas relatam 
que crianças e jovens com transtornos do neurodesenvolvimento e de-
ficiências físicas participam menos de atividades de lazer do que crian-
ças com neurodesenvolvimento típico. Os programas comunitários 
tendem a apoiar essas crianças e aumentar a participação delas na co-
munidade. As intervenções educacionais e terapêuticas se concentram 
em facilitar atividades recreativas, esportivas e de lazer, aumentando a 
participação de crianças com neurodesenvolvimento atípico por meio 
da avaliação e adaptação do ambiente a elas (ARANITI, 2020).
Afirma-se, ainda, que a participação pode ser aumentada não ape-
nas pelas intervenções junto à criança como também pelas mudanças 
ambientais e sociais, reformulando o ambiente da criança para que ele 
se torne mais acessível (WHO, 2010). No entanto, as crianças com trans-
tornos do neurodesenvolvimento ainda enfrentam muitas barreiras de 
participação, uma vez que seu acesso, muitas vezes, é restrito a esses 
ambientes. Há uma necessidade notável de abordagens centradas na 
pessoa e baseadas na comunidade que foquem o seu planejamento 
de intervenção nas preferências das crianças e dos jovens e nas suas 
plenas participações nessas atividades de lazer, sejam elas esportivas 
ou recreativas (ARANITI, 2020).
Independentemente da existência ou não de deficiência, todas as 
crianças têm as mesmas necessidades e direitos de participar das suas 
atividades preferenciais de lazer, esportivas, recreativas e educacionais.
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Prevenção e cuidado 95
A participação nas atividades cotidianas em casa, na escola e na co-
munidade é uma das ações mais importantes e que têm um efeito ime-
diato no desenvolvimento de uma criança, principalmente no que se 
refere à sua saúde, ao seu bem-estar e à sua qualidade de vida. Alguns 
fatores vitais para o desenvolvimento e a transição para a idade adulta 
são alcançados durante a infância, como saúde física e mental, além 
de aquisição de competências e desenvolvimento de redes de apoio 
sociais (ARANITI, 2020).
De acordo com Araniti (2020), crianças e jovens com transtornos do 
neurodesenvolvimento sofrem restrições em suas participações na co-
munidade em comparação com seus pares neurotipicamente desenvol-
vidos. Para a Araniti (2020), a participação comunitária é caracterizada por 
dois componentes principais: presença e envolvimento. Estar envolvido 
significa que uma pessoa experimenta a participação enquanto efetiva-
mente participa de uma atividade, estando engajado e conectado social-
mente com os outros. É importante ressaltar que, para que uma pessoa 
experimente envolvimento, sua participação em uma atividade é um pré-
-requisito. Quando uma pessoa participa de uma atividade qualquer, a 
experiência de envolvimento não é garantida, pois estar fisicamente pre-
sente em um ambiente não garante que o indivíduo esteja engajado nas 
atividades que estão sendo realizadas ali.
Para identificar tanto a frequência de participação quanto o al-
cance da atividade, a diversidade de atividades de que uma pessoa 
participa pode ser medida. Para medir a importância do envolvi-
mento ou engajamento, fatores como o contexto em que a atividade 
ocorre precisam ser levados em conta a fim de se entender melhor 
o conceito de participação (IMMS et al., 2016).
De acordo com Imms et al. (2016), a competência em realizar ativi-
dades inclui competências e habilidades cognitivas, físicas e afetivas, 
sendo possível medir-se capacidade, habilidade e desempenho com 
essas atividades. Junto com a chamada atividade competência – isto é, a 
atividade que tem um caráter pedagógico –, pode ser dado ênfase ao 
sentido de identidade das crianças nas percepções dirigidas ao futuro 
(como a criança se vê no futuro?), incluindo autoeficácia, autonomia e 
satisfação. Fornecer oportunidades para as crianças experimentarem 
atividades socialmente significativas e valiosas – como um campeonato 
de futebol entre as turmas da escola – é um fator fundamental para 
aumentar a participação das crianças atípicas em atividades coletivas.
O vídeo indicado traz uma 
discussão sobre o papel 
da escola e da família na 
inclusão e desenvolvimen-
to de crianças e jovens 
com deficiência. Para falar 
sobre o tema, foram con-
vidados o presidente da 
Comissão de Defesa dos 
Direitos das Pessoas com 
Deficiência da OAB-CE, 
Emerson Damasceno, e 
o secretário executivo 
de Equidade e Direitos 
Humanos da Secretaria da 
Educação do Ceará, Hélder 
Nogueira. A apresentação 
é da jornalista Daniela 
Nogueira. Uma discussão 
necessária e muito atual 
sobre todos os atores 
envolvidos na inclusão de 
crianças e jovens.
Disponível em: https://
www.youtube.com/live/
CEGlZsCj_NI?si=sPryIEynsrJS1YZz. 
Acesso em: 17 nov. 2023.
Vídeo
https://www.youtube.com/live/CEGlZsCj_NI?si=sPryIEynsrJS1YZz
https://www.youtube.com/live/CEGlZsCj_NI?si=sPryIEynsrJS1YZz
https://www.youtube.com/live/CEGlZsCj_NI?si=sPryIEynsrJS1YZz
96 Transtornos do Neurodesenvolvimento
A comunidade é um dos ambientes do entorno das crianças ou jo-
vens que mais tem impacto imediato no seu desenvolvimento. As inter-
venções práticas baseadas na comunidadesão estratégias, programas 
ou iniciativas que visam abordar várias questões de saúde, sociais ou 
ambientais no âmbito comunitário. Essas intervenções são projetadas 
para melhorar o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida dos indi-
víduos em uma área geográfica ou comunidade específica. Elas nor-
malmente envolvem a colaboração entre membros da comunidade, 
organizações e profissionais para identificar, planejar, implementar e 
avaliar soluções para desafios locais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo aprendemos a importância da prevenção e da promo-
ção em saúde quando se trata de crianças e jovens com transtornos do 
neurodesenvolvimento, bem como a importância do suporte para a quali-
dade de vida desses indivíduos. Refletimos sobre a avaliação de situações 
de risco, buscando identificar os fatores que podem influenciar no neuro-
desenvolvimento infantil.
Aprendemos também a identificar vulnerabilidades em crianças com 
transtornos do neurodesenvolvimento e suas famílias, buscando oferecer 
acolhimento adequado, e compreendendo que o trabalho em rede – sen-
do esta formada por escola, família e equipes de saúde – é imprescindível 
entre a escola, a família e as equipes de saúde, buscando sempre o forta-
lecimento de vínculos com a comunidade na qual a criança está inserida. 
Assim, compreendemos a importância da construção de redes de apoio 
como parte fundamental no suporte às crianças e aos jovens com trans-
tornos do desenvolvimento.
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Prevenção e cuidado 97
ATIVIDADES
Atividade 1
Como podemos definir os conceitos de promoção e prevenção em 
saúde?
Atividade 2
Qual é a importância dos vínculos afetivos no desenvolvimento 
infantil?
Atividade 3
As crianças com transtornos do neurodesenvolvimento têm o 
mesmo acesso a atividades de lazer e esportes de sua preferência 
quando comparadas às crianças neurotípicas? Explique.
REFERÊNCIAS
ARANITI, A. Promoting community-based participation interventions for children and youth with 
neurodevelopmental disorders: a systematic literature review. 2020. Dissertação (Mestrado 
em Interventions in Childhood) – Escola de Educação e Comunicação, Universidade de 
Jönköping, Suécia.
BOWLBY, J. Apego e perda. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2021.
BOWLING, A. et al. Shaping healthy habits in children with neurodevelopmental and mental 
health disorders: parent perceptions of barriers, facilitators and promising strategies. The 
International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 16, n. 52, p. 1-10, jun. 
2019.
IMMS, C. et al. Participation, both a means and an end: a conceptual analysis of processes 
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PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2013.
UN – United Nations. Convention on the Rights of the Child, 29 maio 2013. Disponível em: 
https://www2.ohchr.org/english/bodies/crc/docs/gc/crc_c_gc_14_eng.pdf. Acesso em: 16 
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WHO – World Health Organization. Social component. In: WHO. Community-based 
rehabilitation: CBR guidelines. Genebra: WHO, 2010.
https://www2.ohchr.org/english/bodies/crc/docs/gc/crc_c_gc_14_eng.pdf
98 Transtornos do Neurodesenvolvimento
5
O papel da escola e da família
Neste capítulo, abordaremos com maior profundidade o papel da es-
cola e da família e como eles muitas vezes se interpõem. Analisaremos a 
importância não apenas do apoio mútuo, mas da urgência de ações afir-
mativas e políticas públicas que promovam a Educação Especial, a fim de 
que ela seja inclusiva e atenda, de fato, cada estudante com transtornos 
do neurodesenvolvimento em sua individualidade e especificidade.
De início, descreveremos o papel da família no suporte à criança com 
transtorno do neurodesenvolvimento: o que cabe à família? Quais são as 
suas responsabilidades de suporte e promoção de saúde? Como ela se 
organiza? Qual é o impacto de uma criança com necessidades especiais 
na dinâmica familiar? Em seguida, apontaremos possibilidades de ações 
que servem de suporte para a família: quais equipamentos podem ofe-
recer apoio? O conhecimento é importante para que a família ofereça à 
criança oportunidades assertivas de aprendizagem?
Como cada família está inserida em um contexto social e em uma 
comunidade específica, precisaremos entender a importância do papel 
da comunidade escolar no acolhimento dos estudantes com transtornos 
específicos de aprendizagem.
Finalizando a nossa reflexão a respeito desse tema tão complexo e 
multifacetado, identificaremos os principais desafios enfrentados pela 
escola no acolhimento dos estudantes com transtornos do neurodesen-
volvimento, a fim de que possamos, também, entender as contribuições 
da neurodiversidade no contexto escolar.
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• descrever o papel da família no suporte à criança com transtorno 
do neurodesenvolvimento;
• apontar possibilidades de ações que sirvam de suporte para a família;
• compreender a importância do papel da comunidade escolar no 
acolhimento dos estudantes com transtornos de aprendizagem;
(Continua)
Objetivos de aprendizagem
O papel da escola e da família 99
• identificar os principais desafios enfrentados pela escola e des-
crever recursos específicos que garantam a educação integral dos 
estudantes com transtornos do neurodesenvolvimento;
• entender as contribuições da neurodiversidade no contexto escolar.
5.1 O papel da família 
Vídeo
Ter um membro da família que vê e vivencia o mundo de modo di-
ferente pode colocar uma pressão muito grande nos relacionamentos 
pessoais e causar efeitos em toda a dinâmica familiar, fazendo com 
que muitos pais tenham dificuldade em estabelecer um vínculo com os 
filhos, em função da necessidade de desconstrução daquele filho que 
foi idealizado e que não correspondeu às expectativas, gerando culpa 
e dificuldade de aceitação.
Devido à necessidade maior de suporte e atenção, as crianças com 
transtornos do neurodesenvolvimento demandam mais tempo dos 
pais, o que pode gerar ressentimento entre os irmãos. O aumento do 
conflito pode gerar comportamentos desafiadores e difíceis de com-
preender e gerenciar; como consequência, podem surgir rompimentos 
de relacionamentos e, em última instância, até mesmo prejudicar o re-
lacionamento entre os pais.
Todos os comportamentos têm uma função, além disso, fatores am-
bientais, frustrações causadas por diferenças perceptivas, exigências e 
expectativas sociais podem aumentar a probabilidade e a intensidade 
do surgimento de algum tipo de comportamento específico. O papel 
da família no cuidado de crianças com transtornos do neurodesenvol-
vimento é crucial e multifacetado, pois atuam dando apoio, amor e re-
cursos para ajudar essas crianças a prosperarem.
Com base nisso, no Quadro 1 elencamos alguns aspectos-cha-
ve do papel da família no cuidado com crianças com distúrbios do 
neurodesenvolvimento.
100 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Quadro 1
Aspectos-chave do papel da família
Apoio 
emocional
Devem fornecer apoio emocional, oferecendo amor, aceitação e 
compreensão à criança, de modo a ajudarem as crianças a de-
senvolverem autoestima e confiança, enfatizando seus pontos 
fortes e conquistas.
Defesa de 
direitos
Defendem os direitos das crianças de receberem atendimen-
to adequado, tanto no sistema de saúde quanto em ambien-
tes educacionais. Isso inclui trabalhar em conjunto com pro-
fissionais de saúde, terapeutas e educadores para garantir 
que a criança receba os serviços adequados.
Educação e 
conscientização
Assumem a liderança na educação sobre o transtorno do neu-
rodesenvolvimento específico das crianças, ajudando-as a com-
preender melhor os desafios que irão enfrentar e como fornecer 
um apoio eficaz, podendo também sensibilizar as comunidades 
a reduzirem o estigma e promoverem o entendimento dessa 
condição.
Tratamento 
e terapia
São normalmente responsáveis por coordenar e facilitar diver-sas terapias e intervenções que podem ser recomendadas para 
as crianças, como terapia da fala, terapia ocupacional, terapia 
comportamental ou gerenciamento de medicamentos. Podem 
precisar participar de sessões de terapia com a criança e prati-
car em casa as técnicas recomendadas.
Ambiente 
estruturado
Criar um ambiente estruturado e consistente em casa pode ser 
benéfico para crianças com transtornos do neurodesenvolvi-
mento, por isso estabelecer rotinas e expectativas claras pode 
ajudar a reduzir a ansiedade e melhorar a capacidade da criança 
de funcionar de maneira eficaz.
Comunicação
Uma comunicação aberta e eficaz dentro da família é essencial. 
Isso inclui discutir o progresso da criança, partilhar preocupa-
ções e trabalhar em conjunto para enfrentar quaisquer desafios 
que surjam.
Apoio financei-
ro e de recursos
Podem precisar de assistência financeira ou solicitar recursos 
públicos para ajudar a cobrir os custos de terapia, educação 
especializada e outros serviços de apoio. Isso pode envolver a 
navegação em sistemas de seguros ou a procura de programas 
de assistência governamental.
Apoio aos 
irmãos
Os irmãos de crianças com transtornos do neurodesenvolvimen-
to também desempenham um papel significativo na dinâmica 
familiar, com os pais ajudando-os a compreender a condição de 
seus irmãos neurodivergentes e fornecer-lhes apoio emocional, 
buscando dedicar tempo de qualidade a todos, sem distinção.
Fonte: Elaborado pela autora.
Em resumo, as famílias são parceiras essenciais no cuidado e no 
bem-estar das crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, 
O papel da escola e da família 101
dando apoio emocional, defesa, educação e acesso aos recursos e tera-
pias necessárias. Ao se envolverem ativamente nos cuidados dos seus 
filhos e promoverem um ambiente de apoio e inclusivo, as famílias po-
dem ajudar as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento a 
atingirem o seu potencial máximo e a terem vidas plenas.
De acordo com algumas pesquisas, é possível abraçar a neurodiver-
sidade como parte da vida familiar cotidiana, utilizando algumas estra-
tégias específicas para alcançar esse objetivo, como (MCLEAN, 2022):
Conversar com os filhos sobre 
neurodiversidade, neurodivergência e 
aceitação, de modo a familiarizar as crianças 
ao tema e resolver possíveis questionamentos 
delas. Por exemplo, os pais podem dizer: “o 
cérebro de algumas pessoas funciona de 
maneira diferente do que de outras. Isso 
significa que eles também aprendem e fazem 
amigos de maneira diferente”.
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Pesquisar sobre neurodiversidade e 
neurodivergência – por meio de livros, 
artigos, notícias etc. – para responder 
corretamente aos questionamentos das 
crianças sobre esses temas. A intenção 
aqui não é realizar uma pesquisa intensa e 
consultar várias fontes diferentes, mas sim 
se preparar para responder corretamente às 
dúvidas que podem surgir.
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Incluir crianças neurodivergentes nas 
atividades sociais, como festas, brincadeiras 
etc. Entretanto, para isso é necessária uma 
preparação, por exemplo: caso uma criança 
com TEA seja convidada para uma festa de 
aniversário, deve-se perguntar aos pais dela 
como as necessidades dessa criança devem ser 
atendidas ou lhes dar maiores detalhes da festa 
(quais atividades acontecerão, se haverá ou não 
música ou barulhos muito altos etc.).
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No livro Como lidar com 
mentes a mil por hora: En-
tenda o TDAH de uma vez 
por todas e descubra como 
mentes hiperativas e desa-
tentas podem ter uma vida 
bem-sucedida, o Dr. Clay 
Brites traduz as desco-
bertas das neurociências 
para a compreensão de 
pais sobre o TDAH. Além 
disso, também responde 
a questões instigantes 
sobre como lidar com os 
comportamentos disrup-
tivos, a fim de que eles 
não tenham um impacto 
negativo no desenvolvi-
mento, com estratégias 
úteis que promovem a 
superação, de maneira 
assertiva, das dificuldades 
trazidas pelo TDAH.
BRITES, C. São Paulo: Gente, 2021.
Livro
102 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Informar às crianças qual é a melhor forma de 
se comunicar com os amigos neurodivergentes, 
seja utilizando imagens, desenhos, comunicação 
não-verbal etc. É importante também que os 
pais informem aos filhos as práticas a serem 
evitadas nesses momentos, para que as 
brincadeiras ocorram sem maiores problemas, 
sempre prezando pela inclusão da criança 
neurodivergente em todos os momentos.
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Dessa maneira, compreendemos que educar uma criança com 
transtornos do neurodesenvolvimento apresenta muitos desafios. Os 
níveis de stress e o cansaço parental são mais elevados e mais frequen-
tes, afetando o funcionamento familiar de maneira global.
É importante observarmos que a saúde psicossocial dos pais e a 
presença de qualquer disfunção no núcleo familiar influenciam o de-
senvolvimento da criança, independentemente de a criança ter trans-
torno do neurodesenvolvimento ou não.
As famílias de crianças com transtornos do neurodesenvolvimen-
to podem se beneficiar muito com programas de educação para os 
pais que devem se concentrar em melhorar as competências co-
municativas dos pais, fornecer estratégias de psicoeducação e de 
gestão comportamental. As intervenções devem também ter como 
objetivo ajudar os pais a resolverem possíveis conflitos emocionais 
associados ao diagnóstico dos seus filhos e promover o seu próprio 
bem-estar psicossocial, criando assim um suporte adequado para o 
desenvolvimento integral da criança.
5.2 Suporte à família 
Vídeo
Os pais querem o melhor para os seus filhos e querem apoiá-los 
para que possam maximizar o seu potencial e levar uma vida feliz, sau-
dável e plena. Muitas vezes, a vida familiar pode se tornar caótica e 
estressante e as frustrações e reações podem prejudicar as capacida-
des parentais, levando à ruptura de relacionamentos, ao sofrimento 
psíquico e ao aumento de comportamentos desafiadores.
Trabalhando com os pais, precisamos adotar uma abordagem foca-
da em soluções para desenvolver estratégias e abordagens adaptadas 
O papel da escola e da família 103
à dinâmica única da família. O desenvolvimento de estilos de comuni-
cação positiva capacita pais e filhos para serem capazes de expressar 
seus sentimentos, seus medos e suas necessidades de uma forma efi-
caz, respeitosa e eficiente.
Quando estamos fornecendo suporte à família, precisamos utilizar 
uma abordagem focada em soluções para apoiar os casais e seus rela-
cionamentos. A falha na comunicação, as pressões da vida cotidiana e 
as mudanças nas aspirações podem contribuir para um relacionamen-
to infeliz, sem apoio e potencialmente volátil.
Muitas vezes, os casais podem ver o mundo de maneiras diferen-
tes, fazendo com que seja muito difícil enxergar algo na perspectiva do 
outro, e por terem dificuldade em compreender alguns dos comporta-
mentos – como rigidez de pensamento ou alguma especificidade nas 
interações sociais – podem até mesmo pensar que seus companheiros 
têm algum tipo de transtorno de neurodesenvolvimento.
Por isso precisamos apoiar os indivíduos e o casal a identificarem 
problemas e estabelecer estratégias e abordagens para fortalecerem 
os seus relacionamentos por meio de uma compreensão partilhada 
das percepções de cada um, criando uma comunicação significativa, 
reduzindo assim as oportunidades de conflito.
Irmãos de crianças com transtorno do espectro autista muitas 
vezes enfrentam uma série de problemas durante a infância que 
podem impactar suas vidas e seus relacionamentos na idade adul-
ta, por exemplo: os irmãos podem sentir que lhes foi negada uma 
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Embora a obra de Débora 
Fava, Martha Rosa e Angela 
Oliva, Orientação Para 
Pais: o que é Preciso Saber 
Para Cuidar dos Filhos, 
não seja específica para a 
educação de crianças com 
transtornos de neurode-
senvolvimento, ela traz 
uma leitura rica que vale a 
pena ser explorada, dando 
ao pais a oportunidade de 
refletir sobre a parentalida-
de e seus desafios, como 
o impacto da chegada 
dos filhos e as relações de 
afetividade. A obra ainda 
aponta caminhos para o 
desenvolvimento de hábi-
tos familiares saudáveis, 
como empatia, responsabi-
lidade e saúde integral.
FAVA, D. C.; ROSA, M.; OLIVA, A. D. 
(org.). Belo Horizonte: Artesã, 2018.
Livro
104 Transtornos do Neurodesenvolvimento
infância considerada normal, pois tiveram que assumir um papel de 
cuidadores desde a tenra idade.
A autoestima dessas crianças também pode ser afetada e muitas ve-
zes pode haver ressentimento em relação aos irmãos neurodivergentes 
e aos pais, logo é necessário fornecermos acompanhamento psicológico 
e avaliarmos qual é o impacto da dinâmica familiar sobre a criança neu-
rotípica, promovendo também seu desenvolvimento e seu bem-estar.
Profissionais de saúde, educadores e demais profissionais especia-
lizados devem adotar uma abordagem focada em soluções, trabalhan-
do com irmãos neurotípicos para ajudá-los a identificar e comunicar 
seus pensamentos e sentimentos e a desenvolver estratégias que lhes 
permitam estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e definir 
aspirações de vida significativas.
Uma pesquisa financiada pelo Departamento de Serviços Sociais do 
governo australiano nos traz algumas estratégias sobre como abraçar 
a neurodiversidade na comunidade (MCLEAN, 2022):
Estar atento à linguagem utilizada nas 
interações com pessoas com transtornos 
de neurodesenvolvimento, mas em caso 
de dúvida, é possível sempre perguntar 
diretamente à pessoa: “você prefere 
‘criança autista’ ou ‘criança com autismo’?”
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Agir em situações em que uma pessoa 
neurodivergente precise de ajuda, ou para 
conscientizar os demais indivíduos, por 
exemplo: ao presenciar um adulto gritando 
com uma criança em crise em um parque, 
é necessário agir para auxiliar a criança – 
oferecendo apoio e ajuda a ela – ou para 
conscientizar o adulto em questão.2 
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O papel da escola e da família 105
Evitar suposições e possíveis comentários 
ao presenciar uma criança neurodivergente 
com comportamentos peculiares (como 
apenas comer sanduíches embalados em um 
piquenique) ou utilizando materiais incomuns 
(como fones de ouvido em supermercados ou 
alguma peça de roupa muito específica).
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Procurar formas de tornar a sua comunidade 
mais inclusiva e acolhedora, como fazer parte 
de uma petição incentivando o supermercado 
local a optar por uma hora de silêncio por 
semana, quando as luzes são reduzidas e 
nenhuma música é tocada.
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Tratar temas ligados à neurodiversidade e 
à neurodivergência com o devido respeito, 
pois sempre há chance de convivermos 
com pessoas neurodivergentes no dia a dia, 
mesmo que elas não tenham informado 
isso aos demais.
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Sendo assim, quando nos referimos ao suporte às famílias, preci-
samos melhorar a integração de cuidados e a prestação de serviços 
de saúde para crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. A 
falta de coordenação entre os setores de serviços de saúde e os edu-
cacionais infantis é uma barreira comum no sucesso do tratamento e 
do apoio a essas crianças.
106 Transtornos do Neurodesenvolvimento
A prestação de serviços fragmentados afeta negativamente os re-
sultados dos pacientes; o funcionamento familiar e a qualidade de vida 
muitas vezes levam à utilização inadequada e ineficiente dos cuidados 
em saúde. Em função dessa desconexão entre os serviços de saúde, 
quase sempre a responsabilidade pela coordenação do cuidado recai 
em grande parte sobre a família. E quando falamos de crianças com 
necessidades complexas, essa coordenação do cuidado está além da 
capacidade de coordenação das famílias, sendo necessário o apoio dos 
órgãos de saúde e educacionais para a gestão do cuidado e a promo-
ção de saúde e desenvolvimento integral.
5.3 O papel da escola 
Vídeo
As escolas desempenham um papel crucial no apoio a crianças 
com transtornos do neurodesenvolvimento, principalmente no que 
diz respeito à identificação e à avaliação desses transtornos, com pro-
fessores, psicólogos escolares e profissionais de Educação Especial 
trabalhando juntos para identificar alunos que possam estar em risco 
ou ter esses transtornos.
Para alunos com distúrbios do neurodesenvolvimento as escolas 
desenvolvem Planos Educacionais Individualizados (PEI), documen-
to criado com base em avaliações realizadas em um estudante que 
apresente necessidades educacionais específicas e descreve objetivos 
educacionais específicos, acomodações e serviços adaptados às ne-
cessidades únicas da criança, garantindo que a criança receba apoio 
e instrução adequadas.
Resumidamente, o objetivo principal do PEI é estabelecer um pla-
nejamento acerca do desenvolvimento do estudante durante toda sua 
trajetória escolar, registrando cada etapa, bem como cada progresso 
e cada área em que ele apresente alguma dificuldade. Diante desse 
documento, o professor é capaz de traçar caminhos sobre como agir 
e quais estratégias podem se tornar mais eficazes para a promoção 
de competências e habilidades do estudante.
Quanto à sua forma, o ideal é que qualquer PEI seja elaborado 
em uma colaboração entre o professor regente da sala e o profissio-
nal responsável pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) 1 , 
O AEE tem como função 
principal identificar, 
organizar e elaborar 
estratégias e recur-
sos pedagógicos para 
garantir a acessibilidade 
do estudante ao ensino 
integral, eliminando-se, 
assim, as barreiras que 
o impedem de participar 
do processo educacional, 
levando-se em conside-
ração as suas necessida-
des específicas.
1
O papel da escola e da família 107
para que as práticas desenvolvidas com o aluno em ambos os perío-
dos sejam equivalentes (AMARO, 2017). Ainda para Amaro (2017), o 
estudante – independentemente da idade – tem papel central na apli-
cação de tudo o que foi planejado, pois são suas validações e observa-
ções que legitimarão se essa equivalência está sendo cumprida.
Para qualquer profissional da área da docência, é importante com-
preender que os estudantes são o ponto de partida do processo de 
aprendizagem, algo ainda mais importante no AEE, visto que, de acor-
do com a Resolução n. 4/2009 do Conselho Nacional de Educação – 
que institui as Diretrizes Operacionais do AEE na Educação Básica:
O Atendimento Educacional Especializado tem como função com-
plementar ou suplementar a formação do aluno por meio da dis-
ponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias 
que eliminem as barreiras para sua plena participação na socieda-
de e desenvolvimento de sua aprendizagem.
O PEI precisa ter como função traçar caminhos para que sejam 
minimizadas e/ou eliminadas as barreiras aos estudantes com 
deficiência, de modo que seja factível a participação de todos os 
estudantes no processo educacional, considerando-se as especifi-
cidades de cada indivíduo nesse contexto (AMARO, 2017).
Sendo assim, as escolas precisam disponibilizar uma variedade 
de serviços de Educação Especial para atender às diversas neces-
sidades dos alunos com transtornos do neurodesenvolvimento.É 
preciso fornecer recursos acessíveis e estratégias que favoreçam 
a escolarização desses estudantes, no que tange aos processos de 
aprendizagem e ao currículo.
As escolas, muitas vezes, implementam planos de intervenção 
comportamental para abordar comportamentos desafiadores as-
sociados a distúrbios do neurodesenvolvimento, planos esses que 
envolvem métodos para promover comportamentos positivos e ge-
renciar ou reduzir comportamentos problemáticos. As instituições de 
ensino podem ainda fornecer formação a professores e funcionários 
sobre metodologias para ensinar e apoiar eficazmente os alunos com 
transtornos do neurodesenvolvimento, de modo a auxiliar os educa-
dores a compreenderem melhor essas condições e a implementarem 
práticas fundamentadas em evidências.
Esta leitura do livro de 
Augusto Galery, A escola 
para todos e para cada um, 
traz-nos uma abordagem 
crítica sobre o modelo 
de escola que temos na 
atualidade. O paradigma 
da educação é colocado à 
prova diante da necessida-
de de uma escola que seja, 
de fato, inclusiva, levan-
do-se em consideração a 
complexidade do processo 
de aprendizagem, que é 
único em cada sujeito. O 
livro também aborda a 
necessidade de analisar o 
contexto social em que o 
estudante está inserido, 
trazendo um olhar voltado 
para profissionais e 
estudantes das áreas da 
educação e da saúde.
GALERY, A. (org.). São Paulo: 
Summus Editorial, 2017.
Livro
108 Transtornos do Neurodesenvolvimento
As escolas devem colaborar com os pais e os cuidadores para 
garantir a continuidade dos cuidados e do apoio à criança, uma ação 
feita em conjunto e que precisa estar alinhada, pois quanto maior 
for o alinhamento entre a escola, os pais e os cuidadores, maiores 
serão as chances de sucesso na garantia do pleno atendimento das 
necessidades específicas do estudante, gerando assim um processo 
educacional ecológico, pleno de sentido e realização. Sendo assim, 
a comunicação regular e frequente entre a equipe escolar e as famí-
lias é essencial para abordar preocupações, monitorizar o progresso 
e ajustar as intervenções conforme necessário.
As escolas também podem desempenhar um papel crucial na sen-
sibilização da comunidade para os transtornos do neurodesenvol-
vimento e na defesa de políticas públicas que apoiem a inclusão e o 
bem-estar dessas crianças no sistema educacional. À medida que os 
alunos com transtornos do neurodesenvolvimento se aproximam da 
idade adulta, prioritariamente nos Anos Finais do Ensino Médio, as es-
colas podem auxiliar os pais no planejamento da transição para além 
da escola, avançando para o nível universitário, o primeiro emprego ou 
outros cursos profissionalizantes.
É importante observarmos que as funções e os recursos específi-
cos disponíveis nas escolas podem variar dependendo da cidade ou do 
estado, embora as legislações da Educação Especial sejam do âmbito 
federal. A colaboração entre educadores, pais, profissionais de saúde e 
especialistas é essencial para fornecer o melhor apoio possível às crian-
ças com perturbações do neurodesenvolvimento e para promover seu 
desenvolvimento global e seu bem-estar.
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O papel da escola e da família 109
5.4 Desafios no ambiente escolar 
Vídeo
As escolas enfrentam vários desafios quando se trata de atender 
às necessidades de crianças com transtornos do neurodesenvolvimen-
to. Esses desafios podem variar dependendo do tipo de transtorno, da 
gravidade e do nível de suporte necessário, dos recursos disponíveis 
e das características individuais da criança. Entre os desafios mais co-
muns presentes nos ambientes de escolares, temos:
Diagnóstico e identificação
Embora a escola não tenha a função de diagnosticar os distúrbios 
do neurodesenvolvimento, posto que qualquer diagnóstico está res-
trito à área da saúde, a falta de um diagnóstico impacta e pode ser 
um desafio no ambiente escolar. Apesar dessa importância, algumas 
crianças podem não ser diagnosticadas ou podem ter um diagnóstico 
equivocado por um longo período, levando a possíveis atrasos e prejuí-
zos na prestação de apoio e serviços adequados.
Limitações de recursos
As limitações de recursos podem ter um grande impacto na inclu-
são das crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. As esco-
las podem não ter os recursos necessários, incluindo professores de 
Educação Especial qualificados e pessoal de apoio para atender ade-
quadamente às necessidades desses estudantes. As restrições orça-
mentárias também podem limitar a disponibilidade de programas e 
serviços especializados.
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110 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Barreiras à educação inclusiva
Embora a educação inclusiva seja ideal, podem existir barreiras à 
inclusão eficaz de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento 
nas salas de aula regulares. Essas barreiras podem incluir turmas gran-
des (o que gera maiores níveis de barulho, menor possibilidade de uma 
atenção mais direcionada do professor e excesso de estímulos), for-
mação inadequada dos professores e falta de adaptações necessárias.
Desafios comportamentais
Crianças com distúrbios do neurodesenvolvimento podem apre-
sentar comportamentos desafiadores, como agressão, impulsividade 
e dificuldade de autorregulação, principalmente no que diz respeito às 
emoções. Gerenciar esses comportamentos na sala de aula pode ser 
desafiador e exige treinamento e intervenções especializadas.
Isolamento social
Crianças com transtornos do neurodesenvolvimento podem so-
frer com isolamento social e bullying por parte dos seus pares, o que 
pode ter um impacto profundamente negativo na sua autoestima e 
no seu bem-estar.
PEI
Desenvolver e implementar PEI eficazes requer tempo e experiên-
cia, e sem treinamento e formações adequadas algumas escolas po-
dem ter dificuldades para criar e atualizar regularmente esses planos 
para atender às necessidades específicas de cada criança.
Estigma e conscientização
O estigma em torno dos transtornos do neurodesenvolvimento 
pode levar a mal-entendidos e preconceitos, tanto entre estudan-
tes quanto entre pais, professores e demais funcionários da escola. 
Trabalhar a conscientização e promover uma cultura de aceitação e 
eliminação do estigma é um desafio constante, que demanda ações 
frequentes e assertivas.
Formação de professores
Nem todos os professores recebem formação adequada sobre 
como apoiar alunos com transtornos do neurodesenvolvimento. As 
O papel da escola e da família 111
oportunidades de desenvolvimento profissional podem ser limitadas e 
os professores podem ter dificuldades para implementar práticas com 
base em evidências, em função de uma formação deficitária.
Colaboração entre pais e escola
Construir parcerias fortes entre escolas e pais pode ser um desafio, 
especialmente se houver divergências sobre as necessidades da crian-
ça ou sobre a adequação das intervenções. De acordo com Snowling 
et al. (2004), os pais das crianças com dificuldades de aprendizagem 
e transtornos do neurodesenvolvimento costumam ser mais distantes 
dos professores no ambiente escolar, tendo pouco contato com eles. 
Por isso, muitas vezes esses pais não se sentem seguros em conversar 
com os professores sobre os desafios do processo educativo de seus 
filhos, criando-se assim uma imagem negativa entre docentes e pais.
Em alguns casos, os próprios pais também experimentaram di-
ficuldades na vida escolar, como dificuldade para ler, escrever ou 
se comportar da maneira esperada, e esse mal-estar pode se refle-
tir em relação a seus filhos e à escola, gerando ansiedade e culpa 
(SNOWLING et al., 2004). Precisamos entender que esse contexto 
pode gerar obstáculos na comunicação entre os pais e a escola, 
muitas das vezes um responsabilizando o outro pela falta de inicia-
tiva nesse diálogo.
A escola precisa compreender, então, a necessidade de buscar 
esses pais, considerados mais inamistosos, para que efetivamente 
seja possível trabalhar em conjunto,ele é o sistema responsável por transmitir os sinais entre o SNC e os 
órgãos, músculos e receptores sensoriais por meio de nervos, que se 
dividem em duas categorias distintas: os chamados nervos sensoriais, 
que transportam informações dos órgãos sensoriais (como olhos, ou-
vidos, pele etc.) para o SNC, permitindo-nos perceber e interpretar o 
ambiente externo; e os denominados nervos motores, que transmitem 
sinais do SNC para os músculos e glândulas, possibilitando movimen-
tos voluntários e involuntários e controlando as funções corporais 
(HALL; HALL, 2021).
Por fim, o SNA – responsável pelas funções involuntárias do 
corpo – atua como um sistema de controle que regula e mantém 
os processos corporais internos sem esforço consciente, estando 
profundamente relacionado às emoções, de maneira a responder 
de maneira rápida aos estímulos do meio externo. O SNA funciona 
de modo involuntário e contínuo, controlando atividades como fre-
quência cardíaca, digestão, respiração, secreção glandular e muitos 
outros processos essenciais para a manutenção da homeostase, ou 
seja, do equilíbrio entre todas as funções do organismo (OLIVEIRA, 
2005). Além disso, o sistema nervoso autônomo também tem suas 
subdivisões principais, quais sejam:
 • Sistema nervoso simpático (SNS): a divisão simpática prepara 
o corpo para a ação e é frequentemente associada à resposta 
de “lutar ou fugir”; logo, é responsável por aumentar a excitação 
fisiológica e o gasto de energia durante situações estressantes 
ou de emergência. A ativação do sistema nervoso simpático re-
sulta em aumento da frequência cardíaca, dilatação das pupilas, 
aumento da pressão arterial, respiração acelerada e mobilização 
das reservas de energia (OLIVEIRA, 2005).
 • Sistema nervoso parassimpático (SNP): a divisão parassimpá-
tica promove relaxamento, descanso e recuperação, ou seja, fun-
O vídeo Neuroanatomia 
– divisões anatômicas do sis-
tema nervoso explica sobre 
as divisões anatômicas do 
sistema nervoso de manei-
ra bem didática, com foco 
em todas as estruturas 
que fazem parte dessas 
divisões. Vale a pena para 
quem quiser se aprofundar 
nesse tema tão incrível!
Disponível em: https://youtu.be/
QwXYG96bzCI?si=F0YOJOLLIdzX-
N5Em. Acesso em: 31 out. 2023.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=QwXYG96bzCI
https://www.youtube.com/watch?v=QwXYG96bzCI
https://www.youtube.com/watch?v=QwXYG96bzCI
14 Transtornos do Neurodesenvolvimento
ciona em oposição à divisão simpática e é muitas vezes referido 
como o sistema “descansar e digerir” ou “alimentar e reproduzir”. 
O sistema nervoso parassimpático ajuda a conservar energia e 
promove atividades como digestão, diminuição da frequência 
cardíaca, constrição das pupilas, estimulação da secreção das 
glândulas salivares e aumento do fluxo sanguíneo para os órgãos 
digestivos (OLIVEIRA, 2005).
Essas duas divisões do SNA trabalham juntas para manter um equilí-
brio delicado e regular entre as várias funções corporais, e – a depender 
da situação e das necessidades do corpo – uma divisão pode dominar 
a outra, levando a diferentes respostas fisiológicas. O sistema nervoso 
autônomo funciona automática e inconsciente, permitindo que o corpo 
se adapte e responda às mudanças no ambiente interno e externo.
O sistema nervoso também compreende diferentes tipos de células, 
os neurônios e as células gliais. Os neurônios são as células primárias 
do sistema nervoso responsáveis pela transmissão de sinais elétricos e 
consistem – em suas principais estruturas – de um corpo celular (cha-
mado de soma), dendritos (que recebem sinais) e um axônio (que trans-
mite sinais) (OLIVEIRA, 2005). No caso das células gliais, elas fornecem 
suporte e proteção aos neurônios e auxiliam na manutenção do am-
biente químico, isolando neurônios e removendo produtos residuais.
De modo geral, o sistema nervoso funciona transmitindo impulsos elé-
tricos ou sinais pelos neurônios. Isso permite uma comunicação rápida 
entre as diferentes partes do corpo do indivíduo, além da coordenação de 
movimentos, regulação de funções corporais e integração de informações 
sensoriais, criando, assim, comportamentos e respostas complexas.
1.2 Proteções do sistema nervoso central 
Vídeo
O sistema nervoso central, por ser o responsável por coordenar 
todas as ações do corpo humano, é protegido por diversas estrutu-
ras anatômicas e fisiológicas que ajudam a proteger o delicado tecido 
neural de danos físicos e a manter seu funcionamento adequado. As 
formas de proteção do sistema nervoso são classificadas em: óssea, 
membranosa e líquida (OLIVEIRA, 2005).
A proteção óssea do sistema é composta pelo crânio, que é onde 
está alojado o cérebro, e pela coluna vertebral, que protege a medula es-
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A obra de Mark Bear, 
Barry Connors e Michael 
Paradiso, Neurociências: 
desvendando o sistema 
nervoso, ajuda a entender 
melhor as divisões e fun-
ções do sistema nervoso, 
bem como a sua forma-
ção e desenvolvimento ao 
longo de milhões de anos.
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; 
PARADISO, M. A. 4. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2017.
Livro
Neurodesenvolvimento 15
pinhal. Esses ossos fornecem uma barreira robusta e rígida que protege 
o tecido neural de traumas externos, como quedas ou batidas. A prote-
ção membranosa é composta pelas chamadas meninges, três camadas 
de membranas que envolvem o sistema nervoso central e fornecem su-
porte, absorção de choque e ajudam a prevenir o contato direto entre o 
tecido neural e os ossos circundantes (HALL; HALL, 2021).
Na Figura 2 podemos ver uma representação das diversas camadas 
da proteção óssea e membranosa do sistema nervoso.
Figura 2
Camadas das proteções óssea e membranosa
Meninges 
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Pele
Aponeurose
Periósteo
Osso
Dura-máter
Aracnoide
Pia-máter
Fonte: Elaborada pela autora.
Falando especificamente de cada uma das camadas das meninges, 
a chamada dura-máter é a camada mais externa das meninges. É uma 
membrana resistente e fibrosa que fornece força e proteção ao SNC, 
aderindo-se à superfície interna do crânio e ao canal vertebral, forman-
do uma barreira protetora entre o tecido neural e as estruturas ósseas. 
A dura-máter, por sua vez, também tem suas próprias camadas, perios-
teal externa e a meníngea interna, que são fundidas, exceto em certas 
regiões onde se separam para formar os seios durais, os quais são ca-
nais venosos especializados que permitem a drenagem sanguínea do 
cérebro (PURVES et al., 2018).
A denominada aracnoide é a camada intermediária das menin-
ges, é uma membrana fina e delicada que leva esse nome por cau-
sa de sua aparência de teia de aranha. A aracnoide é preenchida 
por uma rede de colágeno e fibras elásticas semelhante a uma 
teia, e ajuda a fornecer suporte e amortecimento ao tecido neural 
16 Transtornos do Neurodesenvolvimento
subjacente. Abaixo da camada aracnoide encontra-se o espaço su-
baracnoideo, que contém líquido cefalorraquidiano (LCR) e vasos 
sanguíneos. A aracnoide não adere firmemente à superfície interna 
da dura-máter, criando um espaço potencial conhecido como espa-
ço subdural (PURVES et al., 2018).
Por fim, a mais interna das camadas das meninges, chamada de 
pia-máter, localiza-se mais próxima do tecido neural do cérebro e 
da medula espinhal. É uma membrana fina e delicada que segue os 
contornos do SNC e cobre sua superfície, fornecendo suporte físico 
direto aos neurônios e vasos sanguíneos subjacentes. A pia-máter é 
altamente vascularizada, o que significa que contém numerosos vasos 
sanguíneos que fornecem oxigênio e nutrientes ao SNC. Também está 
intimamente associada à camada aracnoide e ajuda a fixá-la em seu 
lugar (PURVES et al., 2018).
Em conjunto, as três camadas das meninges formam uma bainha 
protetora ao redor do sistema nervoso central, fornecendo suporte, 
absorção ao choque e ajudando a manter o ambiente interno do SNC. 
As meninges desempenham um papel crucial na proteçãoem busca de uma educação in-
tegral e de qualidade.
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112 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Questões jurídicas e políticas
As escolas precisam navegar em um cenário jurídico e político 
complexo relacionado com a Educação Especial. No Brasil, a legisla-
ção que rege a Educação Especial é composta de diversos decretos, 
leis, portarias e resoluções, que podemos ver elencadas e resumidas 
no Quadro 2.
Quadro 2
Fundamentação jurídica da Educação Especial.
Decreto n. 3.298, 
de 20 de dezem-
bro de 1999.
Regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe 
sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Porta-
dora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá 
outras providências.
Decreto n. 3.956, 
de 8 de outubro 
de 2001.
Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Porta-
doras de Deficiência.
Lei n. 8.859, de 
23 de março de 
1994.
Modifica dispositivos da Lei n. 6.494, de 7 de dezembro de 
1977, estendendo aos alunos de ensino especial o direito à 
participação em atividades de estágio.
Lei n. 10.098, de 
19 de dezembro 
de 2000.
Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção 
da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou 
com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
Lei n. 10.436, de 
24 de abril de 
2002.
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras 
providências.
Portaria n. 1.793, 
de dezembro de 
1994.
Dispõe sobre a necessidade de complementar os currículos 
de formação de docentes e outros profissionais que intera-
gem com portadores de necessidades especiais e dá outras 
providências.
Resolução n. 2, 
de 11 de setem-
bro de 2001.
CEB/CNE – Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Espe-
cial na Educação Básica.
Fonte: MEC, 2023.
O AEE, além de ser instrumento previsto na Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação (LDB) e regulamentado pelo Decreto n. 7.611 – de 
17 de novembro de 2011 – foi disciplinado pelo Conselho Nacional 
de Educação (CNE) por meio da Resolução n. 4/2009.
O papel da escola e da família 113
Sensibilidades sensoriais
Algumas crianças com distúrbios do neurodesenvolvimento, como 
o transtorno do espectro autista, apresentam sensibilidades sensoriais 
que podem ser desencadeadas no ambiente escolar, logo gerenciar a 
sobrecarga sensorial ou os comportamentos de busca sensorial pode 
ser um desafio. Para enfrentar esses desafios, é essencial que as esco-
las priorizem o desenvolvimento profissional, aloquem recursos ade-
quados, promovam uma cultura de inclusão e aceitação e colaborem 
com as famílias e as agências de apoio externas.
Além disso, as políticas públicas e as práticas escolares devem ser 
continuamente revistas e adaptadas para atender às necessidades 
crescentes dos estudantes com transtornos do neurodesenvolvimen-
to. As escolas podem se ajustar para que as crianças neurodivergentes 
possam participar plenamente na aprendizagem e na socialização na 
escola, de modo a abraçarem a neurodiversidade utilizando algumas 
estratégias (MCLEAN, 2022):
Aplicar mudanças no ambiente que auxiliem 
as crianças com sensibilidades sensoriais 
ou altos níveis de ansiedade, como espaços 
silenciosos e ajustes na iluminação. É possível 
ainda permitir que as crianças usem itens 
sensoriais como bolas macias nas aulas, ou 
variações no uniforme.
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Utilizar métodos de ensino variados para 
atender a diversos estilos ou necessidades 
de aprendizagem, por exemplo: permitir 
que algumas crianças criem apresentações 
de vídeo em vez de fazerem apresentações 
em sala de aula, ou – nas práticas esportivas 
– permitir que apenas façam o registro 
ou o planejamento de tudo em vez de 
efetivamente realizarem as práticas.
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No vídeo Educação e Neuro-
diversidade, os participantes 
apresentam diversos te-
mas referentes à educação 
e à neurodiversidade, am-
pliando a discussão sobre 
as diversidades neurocog-
nitivas e como elas podem 
ser acolhidas e aproveita-
das no ambiente escolar. 
É possível promover uma 
educação que seja inclusiva 
e ao mesmo tempo ino-
vadora? Essa é a proposta 
desse projeto de extensão. 
Vale a pena conferir!
Disponível em: https://www.
youtube.com/live/hXgmNbIMX-
Y?si=khI15vW2N4YyKpSb. 
Acesso em: 17 nov. 2023.
Vídeo
http://PeopleImages.com
https://www.youtube.com/live/hXgmNbIMX-Y?si=khI15vW2N4YyKpSb
https://www.youtube.com/live/hXgmNbIMX-Y?si=khI15vW2N4YyKpSb
https://www.youtube.com/live/hXgmNbIMX-Y?si=khI15vW2N4YyKpSb
114 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Oferecer apoio e orientação a todas as 
crianças para que incluam as crianças 
neurodivergentes nas interações e nas 
brincadeiras, de acordo com as possibilidades 
e as especificidades de cada estudante, por 
exemplo: incluir aulas sobre neurodiversidade 
nas aulas de projeto de vida ou eletivas.
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Quando as crianças conversam e compreendem como as crianças 
neurodivergentes se comunicam e brincam, isso pode encorajar todas 
as crianças a interagirem de maneira respeitosa e em igualdade de con-
dições. Isso ajuda a eliminar a expectativa de que as crianças neurodi-
vergentes devam mudar ou se adequar a um padrão estabelecido.
5.5 Contribuições da neurodiversidade 
Vídeo
A neurodiversidade é um conceito que reconhece e celebra a va-
riação natural nas características neurológicas e no funcionamento da 
população humana, sugerindo que diferenças neurológicas – como o 
TEA, TDAH, dislexia e outras – não são necessariamente déficits ou dis-
túrbios, mas representam diversas formas de pensar, perceber e expe-
rimentar o mundo.
É importante notarmos que embora o movimento da neurodiversidade esteja 
recebendo reconhecimento e apoio, nem todos os membros da comunidade 
neurodiversificada ou da sociedade em geral concordam com todos os aspec-
tos desse conceito. Algumas pessoas preferem uma terminologia diferente 
ou têm perspectivas diferentes sobre até que ponto determinadas condições 
devem ser consideradas como parte do espectro da neurodiversidade.
Ainda assim, a neurodiversidade é um conceito que desafia a estig-
matização e a patologização das diferenças neurológicas, promovendo 
a ideia de que a diversidade – na forma como o nosso cérebro funciona 
– é uma parte natural e valiosa da existência humana. A neurodiversi-
dade reconhece que existe um amplo espectro de diferenças neuro-
lógicas e que o cérebro de cada indivíduo funciona de maneira única, 
além de rejeitar a ideia de que existe uma única forma normal ou ideal 
O papel da escola e da família 115
de o cérebro funcionar. Desse modo, o paradigma da neurodiversidade 
promove aceitação e respeito por indivíduos com diferenças neurológi-
cas, enfatizando a importância de acomodar e apoiar esses indivíduos, 
em vez de tentar normalizá-los.
O conceito de neurodiversidade também desafia o modelo médico 
tradicional de deficiência, que costuma patologizar as diferenças neu-
rológicas e se concentra em curá-las ou corrigi-las. Em vez disso, de-
fende um modelo social que se concentra na abordagem das barreiras 
sociais e na criação de ambientes inclusivos que permitam indivíduos 
neurodiversos se desenvolverem e prosperarem.
A neurodiversidade reconhece que diferenças neurológicas podem 
trazer pontos fortes, talentos e perspectivas únicas para a sociedade. 
Incentiva a adoção desses pontos fortes e a sua integração em vários 
aspectos da vida, incluindo a educação e o trabalho.
O estudo da neurodiversidade traz contribuições significativas para 
a nossa compreensão das diferenças neurológicas e de desenvolvimen-
to e tem um impacto positivo emvários aspectos da sociedade. Entre 
algumas das principais contribuições do estudo da neurodiversidade 
na sociedade contemporânea, temos:
Promoção da inclusão e aceitação
O conceito de neurodiversidade promove a ideia de que as diferen-
ças neurológicas e de desenvolvimento são variações naturais da expe-
riência humana, sendo assim, esse conceito incentiva a sociedade a ser 
mais inclusiva e a aceitar indivíduos com condições como TEA, TDAH, 
dislexia e outros transtornos do neurodesenvolvimento e específicos 
de aprendizagem. Esse fato levou a uma maior conscientização e à re-
dução do estigma em torno dessas condições.
Mudança de perspectiva
A neurodiversidade desafia o modelo médico da deficiência, que 
vê as diferenças neurológicas como distúrbios que precisam ser cor-
rigidos ou curados. Em vez disso, o conceito da neurodiversidade 
enfatiza um modelo social que se concentra na criação de ambientes 
e acomodações que permitem aos indivíduos prosperarem com as 
suas capacidades e seus desafios únicos, sem a necessidade de exis-
tir um único padrão de desenvolvimento, que garanta promoção de 
saúde, qualidade de vida e bem-estar.
No livro O que é neurodi-
versidade?, o autor Tiago 
Abreu traz uma breve 
história do conceito de 
neurodiversidade, que 
teve início da década de 
1990, e em seguida nos 
convida a uma discussão 
importante sobre o que 
significa ser neurodivergente 
em uma sociedade avessa 
à deficiência, traçando um 
panorama das discussões 
e das descobertas dos últi-
mos 30 anos. Embora essa 
discussão esteja longe de 
terminar, o autor nos traz 
boas reflexões a respeito 
desse tema tão atual.
ABREU, T. Goiânia: Cânone 
Editorial, 2022.
Livro
116 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Advocacia e empoderamento
O movimento da neurodiversidade capacitou indivíduos com 
condições neurodivergentes para defenderem seus direitos e suas 
necessidades. Esse empoderamento levou uma maior autonomia e au-
todeterminação para muitos indivíduos com diferenças neurológicas, 
desbravando limites do que era ou não possível de ser atingido, dentro 
da singularidade de cada indivíduo.
Inovação educacional
O estudo da neurodiversidade influenciou as práticas educacio-
nais ao destacar a importância da educação personalizada e inclusi-
va, levando ao desenvolvimento de métodos de ensino mais flexíveis 
e apoio individualizado para alunos com condições neurodivergen-
tes. Dessa forma, os professores também avançaram, no sentido 
em que precisaram aprofundar os seus conhecimentos, lutando por 
uma formação acadêmica mais sólida e de qualidade, a fim de aten-
der aos seus estudantes com necessidades específicas, promovendo 
a educação integral para todos.
Diversidade e inclusão no local de trabalho
Muitas empresas da atualidade já reconheceram o valor da neurodi-
versidade no local de trabalho, implementando práticas de contratação 
inclusivas e criando ambientes de apoio que permitem que indivíduos 
neurodivergentes se destaquem em vários campos, incluindo áreas 
como tecnologia, engenharia e indústrias criativas.
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O papel da escola e da família 117
Pesquisa e compreensão
O estudo da neurodiversidade estimulou a pesquisa sobre as cau-
sas subjacentes, os pontos fortes e os desafios associados às condições 
neurodivergentes. Essa pesquisa contribuiu para a nossa compreensão 
das diversas maneiras que o cérebro pode funcionar e apresenta novos 
campos de estudo e pesquisa na área das neurociências.
Contribuições neurodivergentes
Indivíduos neurodivergentes fizeram contribuições significativas em 
vários campos. Acredita-se que muitos cientistas, artistas, escritores e 
inovadores famosos – como Albert Einstein – tenham sido ou sejam 
neurodivergentes. O reconhecimento dessas contribuições destaca os 
pontos fortes e os talentos dos indivíduos neurodiversos.
Construção de comunidade
O estudo da neurodiversidade promoveu o desenvolvimento de co-
munidades e redes de apoio para indivíduos e famílias afetadas por 
condições neurodivergentes. Essas comunidades fornecem recursos, 
informações e apoio social valiosos. O sentimento de pertencimento é 
uma força motriz poderosa para os avanços comunitários.
Mudanças políticas e legais
A defesa fundamentada nos princípios da neurodiversidade influen-
ciou mudanças políticas e proteções legais para indivíduos com condi-
ções neurodivergentes. Isso inclui o fornecimento de um melhor acesso 
à educação, aos cuidados de saúde e às oportunidades de emprego.
Desafiando estereótipos
Ao destacar a diversidade de experiências nas comunidades neu-
rodivergentes, o estudo da neurodiversidade desafia estereótipos e 
suposições sobre o que significa ser neurodivergente. Ele enfatiza que 
não existe uma descrição única para todos os indivíduos com essas 
condições e que cada indivíduo vivenciará e experimentará a sua neu-
rodiversidade de uma maneira única e singular.
Em resumo, o estudo da neurodiversidade contribui para uma so-
ciedade mais inclusiva, receptiva e equitativa, ao reconhecer e valorizar 
os pontos fortes e as perspectivas únicas dos indivíduos com condições 
118 Transtornos do Neurodesenvolvimento
neurodivergentes. Ele traz mudanças positivas na educação, na empre-
gabilidade e nas atitudes sociais, de modo a promover, em última aná-
lise, o bem-estar e o potencial dos indivíduos neurodiversos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, pudemos refletir um pouco mais sobre o papel da fa-
mília, da escola e da comunidade no que diz respeito às crianças com 
transtornos do neurodesenvolvimento. Pudemos identificar que todos es-
tão interligados e que uma ação conjunta é a única possível para que seja 
factível o desenvolvimento pleno de todas as crianças com necessidades 
educacionais especiais.
Foi possível identificarmos que somente quando as famílias e as 
comunidades abraçam a neurodiversidade podemos falar de saúde 
mental, bem-estar, sentido e identidade das crianças neurodivergen-
tes. Abraçar a neurodiversidade elimina a pressão para que as crianças 
neurodivergentes se comportem de maneiras neurotípicas, escondam 
seus comportamentos diferentes, mascarem ou escondam quem são, 
ou tenham que lidar e suportar a superestimulação sensorial. Esse tipo 
de pressão pode ser física e mentalmente desgastante, o que pode 
dificultar que as crianças se concentrem nos trabalhos escolares e par-
ticipem de atividades sociais.
Pessoas neurodivergentes trazem muitos pontos fortes para a socie-
dade, como pensamento criativo, inovador e analítico e experiência em 
áreas de interesse especial. Abraçar a neurodiversidade é bom para nós, 
como sociedade; e tal como o planeta precisa de uma diversidade de 
plantas e animais para sobreviver, a sociedade precisa da neurodiversi-
dade para prosperar. Aprender a respeitar o outro, em sua singularidade, 
também faz com que aprendamos a respeitar a nós mesmos, em nossas 
próprias singularidades e dificuldades.
ATIVIDADES
Atividade 1
Qual é o papel da família na garantia da aprendizagem das crian-
ças com transtornos do neurodesenvolvimento?
O papel da escola e da família 119
Atividade 2
O que são os Planos Educacionais Individualizados (PEIs)? Quem é 
responsável por eles?
Atividade 3
Quais são as contribuições da neurodiversidade no ambiente escolar?
REFERÊNCIAS
AMARO, D. G. Desenvolvimento, aprendizagem e avaliação na perspectiva de diversidade. 
In: GALERY, A. (org.). A escola para todos e para cada um. São Paulo: Summus Editorial, 2017.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 4, de 2 de outubro de 2009. 
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso em: 17 nov. 2023.
MCLEAN, S. Supporting children with neurodiversity. Southbank: Australian Institute of 
Family Studies, 2022. Disponível em: https://aifs.gov.au/sites/default/files/publication-
documents/2112_cfca_64_supporting_children_with_neurodiversity_0.pdf. Acesso em: 
17 nov. 2023.
MEC– Ministério da Educação. LEGISLAÇÃO de Educação Especial. MEC, 2023. Disponível em: 
http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/323-secretarias-112877938/orgaos-
vinculados-82187207/13020-legislacao-de-educacao-especial. Acesso em: 17 nov. 2023.
SNOWLING, M. J. et al. Dislexia, fala e linguagem: um manual do profissional. Porto Alegre: 
Artmed, 2004.
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf
https://aifs.gov.au/sites/default/files/publication-documents/2112_cfca_64_supporting_children_with_neurodiversity_0.pdf
https://aifs.gov.au/sites/default/files/publication-documents/2112_cfca_64_supporting_children_with_neurodiversity_0.pdf
http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/13020-legislacao-de-educacao-especial
http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/13020-legislacao-de-educacao-especial
Resolução das atividades
1 Neurodesenvolvimento
1. Descreva as funções que compõem o sistema nervoso.
A função sensorial busca coletar informações que são recebidas 
pelas terminações nervosas e transmiti-las para a medula espinhal e 
o encéfalo. Já a função integrativa busca interpretar as informações 
recebidas pelas terminações nervosas, incluindo os processos de 
pensamento e memória. Por fim, a função motora conduz e recebe as 
informações do sistema nervoso central para os músculos e glândulas 
do corpo.
2. Comente sobre as principais funções dos neurônios.
Os neurônios desempenham três funções principais dentro do sistema 
nervoso: a primeira função é a de recepção e transmissão de sinais, 
processo em que os neurônios recebem sinais de outros neurônios ou 
receptores sensoriais pelos dendritos, sinais esses que são transmitidos 
para os terminais axônicos na forma de impulsos elétricos. A segunda 
função é a integração de informações, em que são processados e 
integrados os impulsos vindos das diferentes partes do corpo e em 
que se determina também se esses sinais devem ser transmitidos para 
outros neurônios. Essa integração de informações e sinais permite 
que os neurônios modulem e regulem o fluxo de informações dentro 
do sistema nervoso. A terceira e última função é a de transmissão de 
sinais para as células-alvo, que ocorre quando um impulso elétrico 
atinge os terminais axônicos e desencadeia uma liberação de sinais 
mensageiros nos neurotransmissores, que, por sua vez, ligam-se – por 
meio da lacuna sináptica – aos receptores das células-alvo. É justamente 
essa transmissão de sinais entre os diferentes neurônios que permite a 
coordenação e comunicação das diversas funções do corpo.
3. Na idade adulta, o cérebro tem uma estrutura rígida, pois seu 
desenvolvimento já se completou na infância. Essa afirmação é 
verdadeira? Comente.
Essa afirmação não é verdadeira. Na idade adulta, o cérebro pode, sim, 
desenvolver-se e aprimorar-se. Isso é possível por meio do conceito da 
neuroplasticidade, que se refere à capacidade do cérebro de mudar 
e se adaptar, formando novas conexões, modificando as existentes 
e realocando funções. É um mecanismo essencial que fundamenta 
o aprendizado, a memória, a recuperação de lesões cerebrais e a 
capacidade do cérebro de se adaptar a novas experiências e desafios.
120 Transtornos do Neurodesenvolvimento
2 Transtornos do neurodesenvolvimento
1. Como as pessoas com deficiência e/ou transtornos do 
neurodesenvolvimento eram tratadas na Antiguidade?
As pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento foram 
discriminadas e viveram sob opressão durante todo o período antigo. 
Na Grécia Antiga, por exemplo, os bebês nascidos com deficiência 
eram jogados do topo de montanhas e não tinham qualquer chance 
de sobrevivência. O nascimento de uma criança com deficiência era 
considerado uma maldição, um castigo dos deuses para os pais.
2. Quais são os transtornos do neurodesenvolvimento mais comuns 
em crianças?
Os transtornos mais comuns em crianças são: transtorno do 
espectro do autismo (TEA), transtorno do déficit de atenção/
hiperatividade (TDAH), deficiência intelectual (DI), transtorno 
específico de aprendizagem, transtorno da comunicação, transtorno 
do desenvolvimento da coordenação (TDC) ou transtornos motores, 
e transtornos de tique (síndrome de Tourette).
3. Descreva o conceito científico de nature versus nurture.
O conceito científico de nature (natureza) versus nurture (criação) é um debate 
de longa data que busca entender quanto dos traços e características de 
um indivíduo são influenciados por sua genética (natureza) versus seu 
ambiente e suas experiências (criação). Na atualidade, é amplamente 
aceito entre os cientistas que o debate da natureza versus criação não é 
uma dicotomia, mas sim uma interação complexa entre fatores genéticos 
e ambientais. Na realidade, a maioria dos traços e características é 
influenciada por uma combinação de natureza e criação.
4. Defina o conceito de neuroplasticidade.
O cérebro tem uma capacidade notável de mudar e se adaptar 
em resposta às experiências. Essa capacidade, conhecida como 
neuroplasticidade, permite que o cérebro reorganize e forme novas 
conexões neurais. Os processos de aprendizagem e memória 
envolvem o fortalecimento ou enfraquecimento das conexões 
sinápticas, levando a alterações nos circuitos neurais. A plasticidade 
cerebral, ou neuroplasticidade, é um fator muito importante quando 
falamos em transtornos do neurodesenvolvimento, isso porque a 
capacidade de adaptação do cérebro pode compensar uma área 
que está comprometida, fazendo com que outra parte do cérebro 
possa se reorganizar e realizar a função que foi perdida ou teve o seu 
funcionamento prejudicado.
Resolução das atividades 121
3 Transtornos do neurodesenvolvimento 
e aprendizagem
1. Para que o processo de aprendizagem possa ocorrer sem 
dificuldades, quais são as três funções que precisam estar 
preservadas?
A aprendizagem é um processo multifacetado, no qual cada estrutura 
exerce uma função específica. Para que ocorra o processo de 
aprendizagem é necessário que cada estrutura esteja adequadamente 
integrada em sua função, quais sejam: funções psicodinâmicas; funções 
do sistema nervoso periférico e funções do sistema nervoso central.
2. O que caracteriza o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade 
(TDAH)?
O TDAH é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, 
hiperatividade e impulsividade que interfere no funcionamento e 
nas atividades diárias. Os sintomas do TDAH geralmente aparecem 
durante a infância, e o diagnóstico é feito comumente antes 
dos 12 anos de idade, embora alguns indivíduos não recebam 
um diagnóstico até a idade adulta. A causa exata do TDAH não 
é totalmente compreendida, mas acredita-se que seja uma 
combinação de fatores genéticos, ambientais e neurológicos.
3. Como podemos identificar o transtorno do espectro autista (TEA)?
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta 
a comunicação, o comportamento e a interação social. Ele é 
caracterizado por uma ampla gama de sintomas e habilidades, 
razão pela qual é chamado de distúrbio de espectro. O TEA afeta os 
indivíduos de maneira diferente, e não há duas pessoas com autismo 
com exatamente o mesmo conjunto de características. As principais 
características do transtorno do espectro autista são: dificuldades 
de comunicação, desafios sociais, comportamentos repetitivos, 
interesses restritos e sensibilidades sensoriais.
4. Qual é a diferença entre transtornos específicos de aprendizagem 
e dificuldades de aprendizagem?
Dificuldades de aprendizagem referem-se a desafios que os 
indivíduos podem enfrentar ao adquirir certas habilidades ou 
conhecimentos. Essas dificuldades podem ser temporárias e podem 
surgir devido a vários fatores, como falta de instrução adequada, 
influências ambientais, problemas de saúde ou fatores emocionais. 
Já os transtornos específicos de aprendizagem são condições que 
122 Transtornosdo Neurodesenvolvimento
têm como base diferenças neurológicas, cognitivas ou genéticas e 
que podem afetar de modo significativo a capacidade de aprender e 
realizar determinadas tarefas.
5. O que são deficiências sensoriais?
As deficiências sensoriais referem-se a condições que afetam um 
ou mais dos sentidos, que são os canais pelos quais os indivíduos 
percebem e interagem com o mundo. Os principais sentidos são visão, 
audição, paladar, olfato e tato. Quando um ou mais desses sentidos 
são afetados, temos as deficiências sensoriais.
4 Prevenção e cuidado
1. Como podemos definir os conceitos de promoção e prevenção em 
saúde?
Quando falamos em promoção de saúde, estamos nos referindo 
a uma abordagem proativa para melhorar e manter a saúde e o 
bem-estar. Ela envolve esforços a fim de capacitar indivíduos e 
comunidades para fazerem escolhas mais saudáveis e se envolverem 
em comportamentos que promovam uma boa saúde. A promoção 
da saúde visa prevenir o aparecimento de doenças e condições, 
abordando os determinantes subjacentes da saúde, tais como fatores 
de estilo de vida, condições sociais e econômicas e o ambiente 
físico. A prevenção, no contexto dos cuidados de saúde, refere-se às 
atividades e medidas tomadas para evitar ou reduzir a ocorrência de 
doenças, lesões ou outros problemas relacionados com a saúde. Visa 
também identificar e mitigar os fatores de risco, prevenir a progressão 
das condições existentes e, em última análise, reduzir o peso das 
consequências de uma determinada doença ou incapacidade.
2. Qual é a importância dos vínculos afetivos no desenvolvimento 
infantil?
Os laços emocionais desempenham um papel crucial no nosso 
desenvolvimento psicossocial ao longo da vida. Esses vínculos 
são formados principalmente por meio de relacionamentos com 
cuidadores durante a primeira infância, mas continuam a evoluir 
e a influenciar o bem-estar psicológico e social de um indivíduo 
no decorrer da vida. Esses laços podem proporcionar um apoio 
fundamental e transformador, facilitando o desenvolvimento positivo 
em vários aspectos: regulação emocional, desenvolvimento social, 
sensação de segurança, autoestima, resultados comportamentais e 
acadêmicos positivos, progresso terapêutico e bem-estar familiar.
Resolução das atividades 123
3. As crianças com transtornos do neurodesenvolvimento têm o 
mesmo acesso a atividades de lazer e esportes de sua preferência 
quando comparadas às crianças neurotípicas? Explique.
Crianças e jovens com transtornos do neurodesenvolvimento 
sofrem restrições em suas participações na comunidade em 
comparação com seus pares neurotipicamente desenvolvidos. De 
acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio 
da participação nessas atividades, as crianças experimentariam 
melhorias em sua saúde e no seu bem-estar, o que promoveria o 
seu desenvolvimento, autoeficácia, bem como seu desempenho 
físico, emocional, habilidades cognitivas e sociais que os ajudariam 
ainda mais a serem incluídos nas redes sociais das suas comunidades 
e a construir amizades. No entanto, as crianças com transtornos 
do neurodesenvolvimento ainda enfrentam muitas barreiras de 
participação, uma vez que seu acesso, muitas vezes, é restrito a esses 
ambientes. Há uma necessidade notável de abordagens centradas na 
pessoa e baseadas na comunidade que foquem o seu planejamento 
de intervenção nas preferências das crianças e dos jovens e nas suas 
plenas participações em atividades de lazer, sejam elas esportivas ou 
recreativas.
5 O papel da escola e da família
1. Qual é o papel da família na garantia da aprendizagem das crianças 
com transtornos do neurodesenvolvimento?
O papel da família no cuidado de crianças com transtornos do 
neurodesenvolvimento é crucial e multifacetado. Ela desempenha 
um papel central no fornecimento de apoio, amor e recursos para 
ajudar essas crianças a prosperarem. A família deverá prover 
apoio emocional; defender os diretos da criança em quaisquer 
circunstâncias; cooperar para a conscientização e educação popular 
à respeito dos transtornos do neurodesenvolvimento; oferecer 
tratamento e terapias adequadas às necessidades dela; oferecer um 
ambiente acolhedor e estruturado, no qual ela possa se desenvolver 
com segurança; prezar pela comunicação aberta; e oferecer apoios 
aos irmãos neurotípicos, para que não se sintam estigmatizados 
ou ignorados perante as demandas do irmão com transtorno do 
neurodesenvolvimento.
124 Transtornos do Neurodesenvolvimento
2. O que são os Planos Educacionais Individualizados (PEIs)? Quem é 
responsável por eles?
Os PEIs são produzidos pela escola para os alunos que apresentam 
necessidades educacionais especiais, como transtornos do 
neurodesenvolvimento, e são utilizados para descrever objetivos 
educacionais específicos, acomodações e serviços adaptados às 
necessidades únicas da criança. Esses planos ajudam a garantir que a 
criança receba apoio e instrução adequadas.
3. Quais são as contribuições da neurodiversidade no ambiente escolar?
O estudo da neurodiversidade traz contribuições significativas 
para a nossa compreensão das diferenças neurológicas e de 
desenvolvimento e tem um impacto positivo em vários aspectos 
da sociedade, contribuindo, principalmente, para uma sociedade 
mais inclusiva, receptiva e equitativa, ao reconhecer e valorizar os 
pontos fortes e as perspectivas únicas dos indivíduos com condições 
neurodivergentes. Também traz mudanças positivas na educação, nas 
condições de emprego e nas atitudes sociais, promovendo, em última 
análise, o bem-estar e o potencial dos indivíduos neurodiversos.
Resolução das atividades 125
Transtornos do N
eurodesenvolvim
ento
C
arina Alice de O
liveira
ISBN 978-65-5821-278-2
9 786558 212782
Código Logístico
I000782
	Página em branco
	Página em brancodo delicado 
tecido neural de traumas externos e na manutenção de seu funciona-
mento adequado.
No Quadro 2 vemos um resumo da função de cada uma das cama-
das das meninges.
Quadro 2
As meninges
Dura-máter Aracnoide Pia-máter
É a camada mais 
externa das meninges, 
e por ser mais resis-
tente e fibrosa, forma 
uma barreira protetora 
entre o tecido neural e 
as estruturas ósseas.
É a camada intermediária 
das meninges. É uma 
membrana fina e delicada, 
preenchida por uma rede 
de colágeno e fibras elásti-
cas semelhante a uma teia. 
Ajuda a fornecer suporte e 
amortecimento ao tecido 
neural subjacente.
É a camada mais interna das 
meninges, mais próxima do 
tecido neural do cérebro e 
da medula espinhal. É uma 
membrana fina e delicada 
que segue os contornos do 
SNC e cobre sua superfície, 
fornecendo suporte físico 
direto aos neurônios e vasos 
sanguíneos.
Fonte: Elaborado pela autora.
Neurodesenvolvimento 17
Quanto à proteção líquida, temos o líquido cefalorraquidiano 
(LCR), que envolve todo o SNC e atua como um fluido protetor e de 
amortecimento. O LCR é produzido por estruturas especializadas cha-
madas de plexos coroides que ficam dentro dos ventrículos do cérebro, 
circula pelos ventrículos e flui ao redor do cérebro e da medula espi-
nhal, proporcionando flutuabilidade e ajudando a absorver choques e 
impactos. Dessa maneira, o cérebro permanece flutuando dentro do 
crânio, o que faz com que fique mais protegido na ocorrência de trau-
ma (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
A barreira hematoencefálica é uma barreira altamente seletiva 
e semipermeável que separa o sangue circulante do cérebro e do 
tecido da medula espinhal. É uma membrana formada por junções 
apertadas entre as células dos vasos sanguíneos no SNC que res-
tringem a passagem de substâncias da corrente sanguínea para o 
tecido neural como se fosse uma peneira ou um filtro, permitindo 
que apenas moléculas de tamanho reduzido consigam passar. Os 
neurônios que formam o encéfalo precisam de um ambiente ex-
tremamente controlado a fim de não sofrerem lesões (OLIVEIRA, 
2005), por isso essa barreira ajuda a manter um ambiente interno 
estável dentro do SNC e o protege de substâncias e patógenos po-
tencialmente nocivos.
Dessa maneira, todos esses mecanismos de proteção trabalham 
juntos para proteger o sistema nervoso central de lesões físicas, man-
ter sua integridade estrutural e regular seu ambiente interno. Eles 
desempenham um papel crucial na preservação do funcionamento 
normal do cérebro e da medula espinhal e garantem a saúde geral do 
sistema nervoso.
O vídeo Meninges – aspec-
tos funcionais, localização 
e espaços oferece uma 
explicação mais detalhada 
sobre o funcionamento 
das meninges como 
estrutura protetiva do 
sistema nervoso.
Disponível em: https://
youtu.be/AekLT_
Uuqmc?si=UpzaZeEYXmsNl4OG. 
Acesso em: 31 out. 2023.
Vídeo
1.3 Neurônios e suas funções 
Vídeo
Um neurônio é uma célula especializada e compõe a unidade fun-
damental do sistema nervoso. Ele é responsável por transmitir sinais 
elétricos e químicos, permitindo a comunicação dentro do sistema ner-
voso. Os neurônios são altamente especializados em suas funções e 
contam com propriedades estruturais e funcionais únicas. Vejamos na 
Figura 3 como se apresenta a estrutura de um neurônio.
https://youtu.be/AekLT_Uuqmc?si=UpzaZeEYXmsNl4OG
https://youtu.be/AekLT_Uuqmc?si=UpzaZeEYXmsNl4OG
https://youtu.be/AekLT_Uuqmc?si=UpzaZeEYXmsNl4OG
18 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Figura 3
Estrutura do neurônio
lo
gi
ka
60
0/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Núcleo
Dendritos
Corpo celular
Axônio
Bainha de mielina
Nó de Ranvier
Terminais de axônio
Sinapse
Um neurônio típico consiste em três partes principais, o soma – 
também chamada de corpo celular –, os dendritos e o axônio. O corpo 
celular é a principal região do neurônio e onde se localiza o núcleo, 
que abriga o material genético e outras organelas celulares necessárias 
para as funções metabólicas e sintéticas do neurônio. Os dendritos 
são extensões semelhantes a ramificações que recebem sinais de ou-
tros neurônios ou receptores sensoriais. Eles desempenham um papel 
crucial na coleta de informações recebidas e na transmissão para o cor-
po celular.
Quanto ao axônio, ele é uma extensão longa e delgada que trans-
porta impulsos elétricos para longe do corpo celular e os transmite 
para outros neurônios, músculos ou glândulas. O axônio é coberto por 
uma bainha de mielina, um isolante gorduroso que acelera a condução 
de sinais elétricos. No final do axônio, existem pequenos ramos conhe-
cidos como terminais axônicos ou terminais sinápticos, que formam co-
nexões especializadas – chamadas de sinapses – com outros neurônios 
ou células-alvo (HALL; HALL, 2021).
A bainha de mielina é outro componente vital do sistema ner-
voso e desempenha um papel crucial na facilitação da transmissão 
Neurodesenvolvimento 19
eficiente de sinais elétricos ao longo dos neurônios. É uma cobertu-
ra protetora, tal como uma camada isolante, que envolve e isola os 
axônios de muitos neurônios. Essa cobertura é composta por células 
especializadas chamadas de células gliais ou oligodendrócitos, quan-
do estão no SNC, e de células de Schwann, quando presentes no SNP 
(HALL; HALL, 2021).
A principal função da bainha de mielina é aumentar a velocidade 
e a eficiência da condução do impulso nervoso, isto é, atua como um 
isolante elétrico e impede a perda de sinal, permitindo que os impulsos 
elétricos se propaguem rapidamente ao longo do axônio. A bainha de 
mielina atinge esse objetivo formando uma estrutura segmentada ao 
longo do comprimento do axônio, com pequenos espaços denomina-
dos nódulos de Ranvier entre os segmentos de mielina. Esses nódulos 
desempenham um papel crucial na condução saltatória dos impulsos 
nervosos (OLIVEIRA, 2005).
A condução saltatória refere-se ao salto rápido do impulso elétrico 
de um nódulo de Ranvier para o seguinte. Esse modo de transmissão 
acelera significativamente a propagação do impulso nervoso, permitin-
do que ele viaje de modo mais rápido e eficiente ao longo do axônio. 
Sem a bainha de mielina, os sinais nervosos viajariam muito mais deva-
gar e de maneira mais difusa (OLIVEIRA, 2005).
Figura 4
Impulso saltatório
De
si
gn
ua
/S
hu
tte
rs
to
ck
Axônio com a bainha de mielina normal
Impulso saltatório (~400 km/h)
Fonte: Elaborada pela autora.
Além disso, a bainha de mielina fornece suporte estrutural e pro-
teção aos axônios, ajudando a manter sua integridade e estabilidade 
e evitando, assim, danos ou perda de sinais elétricos. Além disso, a 
bainha de mielina contribui para a aparência branca de regiões do 
cérebro e da medula espinhal – daí a origem do termo substância 
Quer conhecer um pouco 
mais sobre as células da 
glia, também chamadas 
neuroglias? O artigo Glia: 
dos velhos conceitos às novas 
funções de hoje e as que ain-
da virão traz as descobertas 
mais atuais sobre essas 
importantes estruturas.
Disponível em: https://www.scielo.
br/j/ea/a/DZKjD5QGZFfP3bVJ6H-
jGggL/?format=pdf&lang=pt. 
Acesso em: 31 out. 2023.
Leitura
https://www.scielo.br/j/ea/a/DZKjD5QGZFfP3bVJ6HjGggL/?format=pdf
https://www.scielo.br/j/ea/a/DZKjD5QGZFfP3bVJ6HjGggL/?format=pdf
https://www.scielo.br/j/ea/a/DZKjD5QGZFfP3bVJ6HjGggL/?format=pdf
20 Transtornos do Neurodesenvolvimento
branca, que é mais notada nas regiões em que os axônios mielini-
zados são densamente compactados. O processo de mielinização é 
um processo demorado, e as pesquisas da atualidade afirmam que 
ele só é finalizado em humanos por volta dos 25 a 30 anos de idade 
(PURVES et al., 2018).
Distúrbios ou condições que afetam a bainha de mielina podem 
ter consequências neurológicas significativas, por exemplo, na es-
clerose múltipla (EM), o sistema imunológico ataca por engano 
e danifica a bainha de mielina no SNC, levando a interrupções na 
transmissão do sinal nervoso. Essa falha de transmissão resulta em 
uma ampla gama de sintomas, incluindo disfunção motora, distúr-
bios sensoriais edeficiências cognitivas.
Em resumo, a bainha de mielina é uma estrutura especializada que 
desempenha um papel importantíssimo na transmissão rápida e efi-
ciente dos sinais elétricos ao longo dos neurônios. Fornece isolamento, 
aumenta a velocidade de condução e contribui para a integridade es-
trutural do sistema nervoso.
Outra estrutura importante que encontramos nos neurônios são 
os nódulos de Ranvier, também conhecidos como lacunas de Ranvier, 
estruturas que compõem pequenas regiões não mielinizadas (sem a 
bainha de mielina) ao longo do comprimento dos axônios mielinizados. 
Eles receberam esse nome em homenagem ao histologista francês 
Louis-Antoine Ranvier, que os descreveu pela primeira vez no século 
XIX. Em cada nódulo de Ranvier o axônio está exposto e em contato 
direto com o líquido extracelular (PURVES et al., 2018)
Os nódulos de Ranvier desempenham um papel essencial na con-
dução dos impulsos nervosos ao longo dos axônios mielinizados, algo 
fundamental no processo de condução saltatória, em que, como vi-
mos na Figura 4, o impulso nervoso “pula” de um nódulo de Ranvier 
para o outro, contornando as regiões isoladas do axônio cobertas 
pela bainha de mielina. Esse salto acelera significativamente o pro-
cesso de condução em comparação com a condução contínua ao lon-
go de axônios não mielinizados. Ao permitir a condução rápida, os 
nódulos de Ranvier são fundamentais para garantir o funcionamento 
eficaz do sistema nervoso.
Neurodesenvolvimento 21
1.3.1 Principais funções
Agora que já analisamos as estruturas funcionais mais importantes 
dos neurônios, vejamos quais são as principais funções que essas célu-
las especializadas desempenham no sistema nervoso. São elas:
Recepção e transmissão de sinais: os neurônios recebem sinais de 
outros neurônios ou receptores sensoriais por meio de seus dendritos. 
Esses sinais, que chegam na forma de impulsos elétricos – também 
chamados de potenciais de ação – são transmitidos ao longo do axônio 
para os terminais axônicos.
Integração de informações: os neurônios integram e processam os 
sinais recebidos de várias fontes. No corpo celular, os sinais recebidos 
de diferentes dendritos são combinados e integrados para determinar 
se o neurônio deve ou não transmitir um sinal para outros neurônios. 
Esse processo de integração permite ao neurônio modular e regular o 
fluxo de informações dentro do sistema nervoso.
Transmissão de sinais para células-alvo: quando um potencial de 
ação (impulso elétrico) atinge os terminais axônicos, ele desenca-
deia a liberação de mensageiros químicos – chamados de neuro-
transmissores – que atravessam a lacuna sináptica e se ligam a 
receptores nas células-alvo, como outros neurônios, músculos ou 
glândulas. Essa transmissão de sinais entre neurônios ou de neurô-
nios para outras células permite a comunicação e coordenação de 
várias funções no corpo.
Os neurônios desempenham um papel crítico na transmissão e 
processamento de informações, permitindo a comunicação e a coor-
denação dentro do sistema nervoso. Eles formam redes e caminhos 
complexos que fundamentam o funcionamento de nossos sentidos, 
pensamentos, movimentos e processos fisiológicos gerais.
Antigamente, acreditava-se que nascíamos com uma certa quanti-
dade de neurônios e que, “morrendo” ao longo da vida, eles não eram 
substituídos por outros, o que aparentemente justificava a perda cog-
nitiva com o avançar da idade cronológica. Porém, pesquisas atuais 
22 Transtornos do Neurodesenvolvimento
afirmam que o nosso cérebro funciona como se fosse um músculo do 
corpo: quanto mais você o utiliza, mais ele cresce e se desenvolve. Logo, 
quanto mais utilizamos nosso cérebro em atividades que o desafiam, 
como estudos, leituras, jogos e atividades físicas, mais ele se desenvol-
ve. Novos neurônios nascem na região do hipocampo, e os neurônios 
antigos são capazes de ampliar os seus axônios, criando redes cada vez 
maiores e mais complexas (PURVES et al., 2018).
Esse conceito é denominado de neuroplasticidade, que nada mais é 
do que a capacidade do cérebro de mudar e de se reorganizar ao longo 
da vida de um indivíduo em resposta a experiências, aprendizado e in-
fluências ambientais. É a capacidade do cérebro de se adaptar, formar 
novas conexões neurais e modificar as existentes.
Tradicionalmente, acreditava-se que a estrutura e a função do cé-
rebro eram relativamente fixas e rígidas após uma certa idade. No 
entanto, pesquisas recentes demonstraram que o cérebro é altamen-
te maleável e tem a capacidade de reorganizar suas vias neurais e se 
adaptar a novas circunstâncias. A neuroplasticidade permite que o cé-
rebro modifique suas conexões, fortaleça ou enfraqueça sinapses e até 
gere novos neurônios (PURVES et al., 2018).
Existem duas formas primárias de neuroplasticidade, a estrutural e 
a funcional:
Plasticidade estrutural
Capacidade do cérebro de 
reorganizar fisicamente 
sua estrutura.
Plasticidade funcional
Capacidade do cérebro de 
mudar funções de áreas 
que foram danificadas para 
áreas não danificadas.
Ri
bk
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Sh
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ck
A plasticidade estrutural refere-se à capacidade do cérebro de reor-
ganizar fisicamente sua estrutura. Envolve mudanças no tamanho e na 
forma dos neurônios, a formação de novas conexões entre os neurônios 
(sinaptogênese) e a eliminação das conexões existentes (poda sináptica). 
A plasticidade estrutural é particularmente proeminente durante o de-
senvolvimento inicial do cérebro nos primeiros anos de vida, mas conti-
nua ao longo da vida em menor grau (PURVES et al., 2018).
Neurodesenvolvimento 23
Já a plasticidade funcional corresponde à capacidade do cérebro 
de mudar funções de áreas que foram danificadas para áreas não dani-
ficadas. Quando uma determinada região do cérebro é lesionada ou so-
fre alterações, outras regiões podem assumir ou compensar as funções 
perdidas (PURVES et al., 2018). Por exemplo, após um acidente vascular 
cerebral (AVC), as áreas não afetadas do cérebro podem se reorganizar e 
assumir as funções anteriormente desempenhadas pela área danificada.
A neuroplasticidade tem implicações muito significativas para o 
aprendizado, memória, aquisição de habilidades e recuperação de le-
sões cerebrais ou distúrbios neurológicos. Ela permite a aquisição de 
novos conhecimentos e habilidades, bem como a capacidade de adap-
tação a ambientes em mudança, além do potencial de reabilitação após 
danos cerebrais. É por meio da neuroplasticidade que o cérebro con-
segue recuperar e readquirir funções após um trauma ou compensar 
déficits cognitivos.
Fatores que influenciam a neuroplasticidade incluem enriquecimen-
to ambiental, experiências ricas de aprendizagem, exercício físico e in-
terações sociais. Escolhas positivas de estilo de vida e atividades que 
desafiem o cérebro podem promover e aumentar a neuroplasticidade 
do cérebro.
Por outro lado, tudo aquilo que não utilizarmos em nosso cérebro 
pode fatalmente se perder, é o conceito de use it or lose it – que, em 
uma tradução livre, significa use ou perca. Por exemplo, se aprende-
mos uma segunda língua, mas não fazemos uso dela regularmente, 
esse conhecimento vai se perdendo aos poucos, em função do enfra-
quecimento das redes neurais que dão suporte a esse aprendizado ad-
quirido que não é exercitado.
1.4 Etapas do neurodesenvolvimento infantil 
Vídeo
Quando falamos em desenvolvimento humano, nos referimos 
ao estudo dos processos sistemáticos de mudança que ocorrem nas 
pessoas. Os pesquisadores do desenvolvimento humano afirmam que 
nos transformamos desde a nossa concepção até a maturidade, em 
um processo que se desenvolve ao longo de toda a vida conhecido 
como desenvolvimento do ciclo de vida. De acordo com as pesquisadoras 
Diane Papalia e Ruth Feldman (2013, p. 37):
24 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Quase desde o começo, o estudo do desenvolvimento humano 
tem sido interdisciplinar. Alimenta-se de um amplo espectro de 
disciplinas que incluem psicologia, psiquiatria, sociologia, antro-pologia, biologia, genética, ciência da família (estudo interdiscipli-
nar sobre as relações familiares, educação, história e medicina).
Ainda segundo as referidas autoras, os ciclos da vida referem-se 
aos diferentes estágios ou períodos pelos quais os indivíduos passam 
à medida que progridem desde o nascimento até a velhice. Do ponto 
de vista do neurodesenvolvimento, o desenvolvimento infantil também 
pode ser dividido em várias fases, cada uma caracterizada por mudan-
ças significativas na estrutura e nas funções cerebrais.
O período pré-natal abrange desde a concepção até o nascimento. 
Papalia e Feldman (2013) caracterizam o desenvolvimento pré-natal in-
cluindo os estágios germinativo, embrionário e fetal, destacando-se o rá-
pido crescimento e diferenciação de órgãos e sistemas durante essa fase:
Hs
tro
ng
AR
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te
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Inicia-se na concepção e dura aproximadamente duas 
semanas. Durante esse período, o óvulo fertilizado 
sofre divisão celular e forma um blastocisto, que even-
tualmente se implanta na parede uterina.
Inicia-se por volta das semanas três a oito da gravidez. 
É caracterizado pelo rápido desenvolvimento dos princi-
pais órgãos, tecidos e sistemas do corpo. O tubo neural 
se forma, dando origem ao cérebro e à medula espinhal.
Inicia-se na semana 9 de gestação até o nascimento. O 
feto experimenta crescimento e desenvolvimento cere-
bral significativo, refinamento das conexões neurais e 
formação de estruturas mais especializadas.
Estágio 
germinal
Estágio 
embrionário
Estágio 
fetal
Em seguida, o ciclo da primeira infância refere-se ao período desde 
o nascimento até aproximadamente os 3 anos de idade. Esse período é 
caracterizado pelo crescimento físico, desenvolvimento motor, aumen-
to das capacidades sensoriais e o desenvolvimento inicial de apego e 
das interações sociais. Durante essa fase, que abrange os primeiros 
anos de vida, há um crescimento cerebral significativo e a poda sináp-
tica, além de surgirem as habilidades motoras, o desenvolvimento da 
linguagem e as habilidades cognitivas. Experiências sensoriais e moto-
O vídeo O neurodesenvolvi-
mento infantil mostra como 
os estímulos dos pais têm 
influência no neurodesen-
volvimento do bebê.
Disponível: https://youtu.be/4ywP-
KOo9W9g?si=0ESC0no5VHTFRfs9. 
Acesso em: 31 out. 2023.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?si=0ESC0no5VHTFRfs9.&v=4ywPKOo9W9g&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?si=0ESC0no5VHTFRfs9.&v=4ywPKOo9W9g&feature=youtu.be
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ras desempenham um papel crucial na formação de conexões neurais 
(PAPALIA; FELDMAN, 2013).
A segunda infância abrange o período de cerca de 3 aos 6 anos 
de idade. Durante essa fase, apreciamos o desenvolvimento de habi-
lidades de linguagem, habilidades cognitivas e pensamento simbólico. 
As crianças já são capazes de explorar o surgimento do autoconceito, 
identidade de gênero e interações sociais com os pares. A imaturidade 
cognitiva é responsável por algumas ideias ilógicas, porém a inteligên-
cia se torna mais previsível (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
O ciclo da terceira infância compreende o período dos 6 aos 11 
anos de idade. Nessa fase podemos identificar o desenvolvimento con-
tínuo de habilidades cognitivas, incluindo memória, resolução de pro-
blemas e pensamento lógico, embora concretamente. É o período em 
que o cérebro continua a amadurecer e há um maior refinamento das 
habilidades motoras, de memória e linguagem. Há uma crescente im-
portância nas relações sociais, amizades e o desenvolvimento do senso 
de diligência e competência (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
A adolescência é o ciclo que vai aproximadamente dos 11 aos 20 
anos de idade, caracterizado por mudanças físicas, cognitivas e socioe-
mocionais. Nesse período apresenta-se a formação da identidade, as 
relações entre pares, o desenvolvimento do pensamento abstrato e os 
desafios e oportunidades da adolescência (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
Do ponto de vista do neurodesenvolvimento, a fase é caracterizada 
pelo início de mudanças hormonais significativas e pela maturação do 
córtex pré-frontal, que desempenha um papel fundamental nas fun-
ções executivas, na tomada de decisões e no controle dos impulsos. O 
desenvolvimento do cérebro continua, particularmente em áreas asso-
ciadas ao julgamento, raciocínio e regulação emocional. Os adolescen-
tes ganham mais independência, refinam suas habilidades cognitivas e 
se preparam para a vida adulta.
É importante observar que essas fases são aproximadas e podem 
ocorrer variações individuais no desenvolvimento. Além disso, o neu-
rodesenvolvimento é influenciado por fatores genéticos, experiên-
cias ambientais, nutrição e vários outros fatores, todos 
os quais contribuem para a trajetória única de cres-
cimento e desenvolvimento de uma criança.
O livro de Diane Papalia e 
Ruth Feldman, Desen-
volvimento humano, é 
considerado referência no 
desenvolvimento humano 
e traz uma base teórica 
sólida sobre o desenvolvi-
mento infantil. Uma leitura 
imperdível para quem 
deseja aprofundar-se 
neste tema.
PAPALIA, D.; FELDMAN, R. D. Porto 
Alegre: Artmed, 2013.
Livro
NeurodesenvolvimentoNeurodesenvolvimento 2525
26 Transtornos do Neurodesenvolvimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, aprendemos que o sistema nervoso é uma rede com-
plexa de células e estruturas que desempenham um papel vital na coor-
denação e regulação das funções corporais. É por meio dele que se dá 
a comunicação entre diferentes partes do corpo e o processamento e 
a interpretação da informação sensorial, por isso o sistema nervoso é 
essencial para a cognição, movimento, percepção sensorial e homeostase 
fisiológica geral. É por meio dele que interagimos com o mundo e o inter-
pretamos, desenvolvendo nossas habilidades cognitivas e sociais. Além 
disso, é com esse sistema que construímos o nosso psiquismo e estabele-
cemos o nosso lugar no mundo e na sociedade em que vivemos.
Para desempenhar essas funções, o sistema nervoso é protegido por 
vários mecanismos de garantia de sua integridade e bom funcionamento. 
Essas medidas de proteção incluem o crânio e a coluna vertebral, que 
protegem o cérebro e a medula espinhal, respectivamente. Além disso, 
o SNC é cercado por membranas protetoras chamadas meninges e é ain-
da amortecido pelo líquido cefalorraquidiano. Essas proteções ajudam a 
proteger o delicado tecido neural de lesões ou danos. Ao longo do ca-
pítulo, também aprendemos sobre a importância dos neurônios como 
blocos de construção fundamentais do sistema nervoso. Os neurônios 
desempenham um papel crucial no processamento de informações, per-
cepção sensorial, controle motor e funções cognitivas; são responsáveis 
por transmitir e integrar sinais, permitindo pensamentos, emoções e com-
portamentos complexos.
Quando analisamos o desenvolvimento infantil do ponto de vista da 
neurociência, observamos que o neurodesenvolvimento se refere às mu-
danças progressivas que ocorrem no sistema nervoso durante a infância 
e a adolescência. O neurodesenvolvimento envolve o crescimento, ama-
durecimento e refinamento das conexões neurais que moldam o desen-
volvimento cognitivo, motor e socioemocional. Compreender os estágios 
do neurodesenvolvimento infantil é essencial para identificar possíveis 
atrasos, fornecer intervenções apropriadas e promover crescimento e 
bem-estar ideais.
Nesse contexto, observamos que a questão biopsicossocial permeia o 
neurodesenvolvimento infantil em toda a sua extensão. O ambiente que 
envolve a criança tem um impacto relevante no neurodesenvolvimento 
saudável, bem como as interações sociais e a qualidade do vínculo de 
afetividade que os adultos estabelecem com ela.
Neurodesenvolvimento 27
Sendo assim, o sistema nervoso é vital para coordenar as funções cor-
porais e permitir a comunicação entre as diferentes partes do corpo. As 
divisões do sistema nervoso, as proteções do sistema nervoso central e as 
funções dos neurônios contribuem para o seu funcionamentoadequado. 
Além disso, compreender os estágios do neurodesenvolvimento infantil 
ajuda a identificar e apoiar o crescimento e o desenvolvimento saudável 
das crianças.
ATIVIDADES
Atividade 1
Descreva as funções que compõem o sistema nervoso.
Atividade 2
Comente sobre as principais funções dos neurônios.
Atividade 3
Na idade adulta, o cérebro tem uma estrutura rígida, pois seu 
desenvolvimento já se completou na infância. Essa afirmação é 
verdadeira? Comente.
REFERÊNCIAS
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema 
nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
HALL, J. E.; HALL, M. E. Guyton & Hall – Tratado de Fisiologia Médica. 14. ed. Rio de Janeiro: 
Gen/Guanabara Koogan, 2021.
OLIVEIRA, M. A. D. Neuropsicologia básica. Canoas: Ulbra, 2005.
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2013.
PURVES, D. et al. (ed.). Neuroscience. 6. ed. Nova York: Oxford University Press, 2018.
28 Transtornos do Neurodesenvolvimento
2
Transtornos do 
neurodesenvolvimento
Neste capítulo, iremos conhecer os transtornos do neurodesenvolvi-
mento e como eles reverberam em todo o desenvolvimento psicossocial 
da criança e do adolescente, perpassando as expectativas dos pais e pro-
fessores. É importante mantermos um olhar atento e gentil, compreenden-
do que para além de um diagnóstico, seja ele qual for, há um ser humano 
único que vivencia tal diagnóstico de modo único e singular.
Aprenderemos a identificar os transtornos do neurodesenvolvimento 
mais comuns e a compreender suas consequências para o desenvolvi-
mento infantil. Também refletiremos sobre o conceito da atualidade cha-
mado de nature versus nurture, que utiliza termos da língua inglesa para 
abordar uma ciência que estuda até que ponto nosso comportamento 
tem suas bases na natureza (nature), ou seja, nos nossos genes, e até que 
ponto esse mesmo comportamento pode ser modificado pelo conceito 
de criação (nurture), ou seja, aquilo que nos é ensinado em nosso ambien-
te durante nosso desenvolvimento.
Conheceremos a perspectiva da epigenética na compreensão do desen-
volvimento humano e como se dá o funcionamento cerebral no que tange o 
processamento de informações. Ao final deste capítulo, refletiremos sobre 
as contribuições da neurociência cognitiva para a compreensão dos trans-
tornos do neurodesenvolvimento e como esses estudos podem auxiliar na 
melhoria da qualidade de vida daqueles que são afetados por eles.
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• identificar os transtornos do neurodesenvolvimento mais comuns e 
compreender suas consequências para o desenvolvimento infantil;
• refletir sobre o conceito de nature ou nurture e as pesquisas que o 
embasam na atualidade;
• conhecer a perspectiva da epigenética na compreensão do desen-
volvimento humano;
(Continua)
Objetivos de aprendizagem
Transtornos do neurodesenvolvimento 29
• entender como se processa o funcionamento cerebral;
• validar as contribuições da neurociência cognitiva para a com-
preensão dos transtornos do neurodesenvolvimento.
2.1 Principais transtornos do 
neurodesenvolvimento Vídeo
Para iniciarmos nossa discussão sobre os transtornos do neurode-
senvolvimento, é preciso antes fazermos uma viagem ao passado. Ao 
longo da história, as pessoas com deficiências ou transtornos de neu-
rodesenvolvimento foram chamadas de diversos nomes pejorativos, 
que não são mais utilizados na atualidade – como deficientes mentais, 
mente fraca, idiotas, tolos etc. Esses nomes têm base em um modelo 
de defectologia, que afirmava que as pessoas com deficiências e/ou 
limitações em suas áreas intelectuais, socioculturais ou comportamen-
tais ficavam para trás em comparação com as pessoas chamadas neu-
rotípicas durante o período de desenvolvimento. Logo, indivíduos com 
qualquer tipo de transtorno ou déficit eram classificados apenas com 
base em suas fragilidades (MCNABB, 2020).
As pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento foram discri-
minadas e viveram sob opressão durante todo o período antigo. Na Gré-
cia Antiga, por exemplo, os bebês nascidos com deficiência eram jogados 
de topos de montanhas ou abandonados ao relento, não tendo qualquer 
chance de sobrevivência. O nascimento de uma criança com deficiência 
era considerado uma maldição, um castigo dos deuses para os pais, e, 
segundo as literaturas, as mulheres eram proibidas de engravidarem se 
houvesse alguma possibilidade de terem um filho com algum tipo de de-
ficiência. Aristóteles recomendou o infanticídio e Platão sugeriu que mu-
lheres com mais de quarenta anos deveriam praticar o aborto. Na antiga 
região de Esparta, havia uma responsabilidade legal de abandonar crian-
ças deformadas e doentes (GROFF, 1973).
Durante a Idade Média, as pessoas com transtornos do neurode-
senvolvimento eram cuidadas, principalmente, por seus familiares 
ou pela sociedade na Europa até o período de industrialização, ini-
ciado no século XVIII.
30 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Tavrius/Shutterstock
Na Era Moderna, com as mudanças sociais, surgiram novos desafios 
para as pessoas com deficiência, principalmente com o surgimento do 
conceito de instituições para pessoas com deficiências intelectuais e fí-
sicas, que se tornaram muito populares e se desenvolveram em vários 
lugares durante esse período. Embora inicialmente o conceito fosse 
dar apoio às pessoas com deficiência, essas instituições ficaram super-
lotadas e se transformaram em um palco para várias formas de abuso, 
especialmente as instituições financiadas com recursos públicos.
Havia também outra ideia, conhecida como eugenia, que 
surgiu de uma interpretação deturpada da teoria de 
Charles Darwin sobre a evolução e sobrevivência do 
mais apto. Introduzida pela primeira vez pelo primo 
de Darwin, Sir Arthur Galton, em 1880, os defensores 
da eugenia acreditavam que era possível melhorar a 
qualidade genética da população humana por meio 
da reprodução seletiva, ou seja, pelo encorajamento 
da reprodução de indivíduos com características ditas 
desejáveis e o desencorajamento – ou simplesmente im-
pedimento – da reprodução daqueles com características consi-
deradas indesejáveis por eles (BROWN; RADFORD, 2015).
O conceito de eugenia se dividia em dois: a eugenia positi-
va envolvia encorajar indivíduos com características consideradas 
desejáveis – como inteligência, força física e boa saúde – a terem mais 
filhos, algo que poderia ser alcançado pela promoção do casamento 
e da reprodução entre tais indivíduos; a eugenia negativa, por outro 
lado, focava em prevenir que indivíduos com características conside-
radas indesejáveis – como doenças, deficiências ou comportamento 
criminoso – tivessem filhos. Para Galton, isso poderia envolver a imple-
mentação de políticas como esterilização, segregação ou até mesmo 
eutanásia (BROWN; RADFORD, 2015).
Numerosos métodos evoluíram para desencorajar esses indiví-
duos de grupos segregados a criarem suas famílias, um conceito que 
foi amplamente aceito nos países industrializados, que promoviam 
essas práticas ao separarem homens e mulheres internados em asi-
los. Programas de esterilização foram estabelecidos para pessoas com 
deficiência, em que métodos perversos de esterilização forçada foram 
realizados (BROWN; RADFORD, 2015). Apesar de ter sido amplamente 
utilizada em vários países – levando a abusos de direitos humanos, dis-
Transtornos do neurodesenvolvimento 31
criminação e violação da autonomia individual –, a teoria de eugenia de 
Galton foi completamente desacreditada e rechaçada pela comunidade 
científica devido a sua natureza antiética e a falta de validade científica.
Avançando pela Era Contemporânea, desde meados do século XIX, 
algumas das instituições focadas em acolherem indivíduos com defi-
ciências começaram a fechar. Com o avanço do conhecimento sobre de-
ficiências intelectuais e físicas, a percepção das pessoas com relação às 
deficiências começou a mudar. Como resultado, programas para treinaresses indivíduos, para torná-los parte da sociedade – não mais segre-
gando-os –, lentamente se desenvolveram. As pessoas com deficiência e 
suas famílias tornaram-se mais conscientes de seus direitos, o que tam-
bém contribuiu para essas mudanças. A partir desse período, pessoas 
com deficiência foram autorizadas a fazerem parte do sistema escolar e 
receberem educação e treinamento especial (BROWN; RADFORD, 2015).
Grécia Antiga
O nascimento de uma criança com deficiência era considerado uma maldição, um 
castigo dos deuses para os pais.
Idade Média
Pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento eram cuidadas principal-
mente por seus familiares ou pela sociedade.
Era Moderna
O conceito de instituições para pessoas com deficiências intelectuais e físicas tor-
nou-se popular. Também surgiu a ideia de eugenia, que encorajava a reprodução 
de indivíduos com características ditas desejáveis e buscava prevenir a repro-
dução daqueles com características indesejáveis, como doenças, deficiências ou 
comportamento criminoso.
Era Contemporânea
Começaram a ser desenvolvidos programas para treinar pessoas com deficiência. 
Além disso, pessoas com deficiência foram autorizadas a fazerem parte do siste-
ma escolar e receberem educação e treinamento especial.
32 Transtornos do Neurodesenvolvimento
Voltando da nossa viagem ao passado para os dias atuais, podemos 
dizer que os distúrbios do neurodesenvolvimento são um grupo de con-
dições que afeta o desenvolvimento e o funcionamento do sistema ner-
voso, principalmente do cérebro. Esses distúrbios geralmente surgem 
durante a primeira infância e são caracterizados por deficiências em vá-
rios aspectos do desenvolvimento neurológico, incluindo cognição, com-
portamento, interação social, comunicação e habilidades motoras.
Acredita-se que os distúrbios do neurodesenvolvimento resultem de uma 
combinação de fatores genéticos e ambientais que perturbam o crescimento 
e a organização típicos do cérebro. As causas específicas desses distúrbios 
costumam ser complexas, multifatoriais e não totalmente compreendidas, 
mas as pesquisas da atualidade sugerem que tanto as predisposições gené-
ticas quanto as influências ambientais desempenham um importante papel.
As classificações dos transtornos do neurodesenvolvimento foram 
feitas com base em suas apresentações clínicas, e há muitas sugestões 
para mudanças nessas classificações. Existe uma sobreposição signi-
ficativa de sintomas entre os vários transtornos do neurodesenvolvi-
mento e eles compartilham características comuns, como o TEA e o 
TDAH. Portanto, usar o termo geral transtornos do neurodesenvolvimen-
to ajuda a reconhecer as semelhanças e a sobreposição de sintomas 
entre esses distúrbios (GAUDET; GALLAGHER, 2020).
Embora exista uma ampla classificação dos transtornos do neuro-
desenvolvimento, de acordo com Artigas-Pallarés, Guitart e Gabau-Vila 
(2013), eles podem ser divididos em três grandes grupos:
transtornos sem causa específica;
transtornos que residem em um gene específico;
transtornos que residem em uma causa ambiental conhecida.
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Transtornos do neurodesenvolvimento 33
Os transtornos do neurodesenvolvimento que não têm uma 
causa específica – isto é, não têm base genética – compreendem 
todos os transtornos encontrados na quinta edição do Manual diag-
nóstico e estatístico de transtornos mentais sob a denominação de 
distúrbios do neurodesenvolvimento, e são (APA, 2014): Deficiência 
Intelectual (DI), transtornos da comunicação, transtorno do espec-
tro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção/hiperatividade 
(TDAH), transtornos específicos de aprendizagem, transtornos mo-
tores e transtornos de tique.
No segundo grupo, encontramos os transtornos do neurodesenvol-
vimento que residem em um gene específico e que estão ligados a 
alterações estruturais, como a síndrome de Down, a síndrome de Rett, 
a síndrome de Williams, entre outras. Quanto ao terceiro grupo, nele 
estão os transtornos do neurodesenvolvimento que residem em uma 
causa ambiental conhecida, como a síndrome alcoólica fetal, altera-
ções embrionárias por ácido valproico etc.
Os sintomas e a gravidade dos distúrbios do neurodesenvolvi-
mento podem variar amplamente, com algumas crianças tendo de-
ficiências leves, que afetam apenas ligeiramente suas vidas diárias, 
enquanto outras podem enfrentar desafios significativos, que re-
querem apoio e intervenções contínuas. A identificação precoce e 
o diagnóstico de distúrbios do neurodesenvolvimento são cruciais 
para intervenção e suporte oportunos, pois com intervenções apro-
priadas, como terapia comportamental, apoio educacional e, por ve-
zes, medicamentos, os indivíduos com essas especificidades podem 
levar uma vida plena e produtiva, alcançando todo o seu potencial 
dentro de suas capacidades individuais.
É importante observarmos que a identificação ou não de distúrbios do neu-
rodesenvolvimento não é indicativo da inteligência ou do potencial de uma 
pessoa, pois cada indivíduo tem pontos fortes e desafios únicos e, com o 
apoio e a compreensão adequados, eles podem prosperar e contribuir para a 
sociedade de modo significativo.
Partindo dessa conceituação, no Quadro 1 vemos os transtornos 
do neurodesenvolvimento mais comuns em crianças e suas respec-
tivas características.
O livro de Emanoele 
Freitas, Transtornos do 
neurodesenvolvimento: co-
nhecimento, planejamento 
e inclusão real, traz uma 
abordagem humanizada 
da real condição da pes-
soa com transtornos do 
neurodesenvolvimento e 
como este diagnóstico se 
manifesta no processo 
de aprendizagem. A 
obra tem uma linguagem 
acessível aos profis-
sionais da educação e 
contempla os processos 
de adaptação em todas 
as etapas de ensino.
FREITAS, E. Rio de Janeiro: WAK, 2019.
Livro
Aquarius Studio/Shutterstock
Aquarius Studio/Shutterstock
Quadro 1
Principais transtornos e suas características
Transtorno Descrição
Transtorno do espectro 
autista (TEA)
O TEA é um transtorno do desenvolvimento caracteriza-
do por dificuldades na interação social e comunicação, 
além de comportamentos restritos e repetitivos.
Transtorno do déficit 
de atenção/hiperativi-
dade (TDAH)
O TDAH é uma condição que afeta a capacidade da 
criança de prestar atenção, controlar comportamentos 
impulsivos e pode incluir hiperatividade.
Deficiência intelectual 
(DI)
A DI refere-se a limitações significativas no funciona-
mento intelectual e no comportamento adaptativo. Ge-
ralmente se manifesta antes dos 18 anos.
Transtornos específicos 
de aprendizagem
Esses transtornos afetam a aquisição e o uso de habi-
lidades acadêmicas específicas, como leitura, escrita ou 
matemática. A dislexia, por exemplo, é um distúrbio es-
pecífico de aprendizagem que afeta as habilidades de 
leitura.
Distúrbios da comuni-
cação
Esses distúrbios envolvem dificuldades na fala, lingua-
gem e comunicação, e incluem condições como distúr-
bio do som da fala, distúrbio da linguagem e gagueira.
Transtorno do desen-
volvimento da coorde-
nação (TDC)/Transtor-
nos motores
Também conhecido como dispraxia, o TDC afeta a coor-
denação motora da criança e pode levar a dificuldades 
com habilidades motoras finas e grossas.
Transtornos de tique/
síndrome de Tourette
A Síndrome de Tourette é um distúrbio neurológico 
caracterizado pelos chamados tiques, que podem ser 
movimentos repetitivos e involuntários e vocalizações.
Fonte: Elaborado pela autora.
É importante observarmos que a prevalência e a 
categorização específica dos transtornos do neu-
rodesenvolvimento podem variar entre estudos 
e critérios diagnósticos. Além disso, existem ou-
tros distúrbios do neurodesenvolvimento que 
são menos comuns. O diagnóstico e o tratamen-
to devem ser conduzidos por profissionais de 
saúde qualificados, com base em uma avalia-
ção minuciosa dos sintomas e das necessida-
des da criança. Também devem ser avaliados 
os impactos psicossociais do transtorno na 
vida da criança para que ela possareceber o 
tratamento adequado, que leve em conside-
ração o ser integral e não apenas o diagnós-
tico ou suas limitações.
3434 Transtornos do NeurodesenvolvimentoTranstornos do Neurodesenvolvimento
Transtornos do neurodesenvolvimento 35
2.2 Nature ou nurture? 
Vídeo
O conceito científico de nature (natureza) versus nurture (criação) 
é um debate de longa data que busca entender quanto dos traços e 
características de um indivíduo são influenciados por sua genética 
(natureza) e o quanto deles é influenciado pelo ambiente e suas expe-
riências (criação). O debate gira em torno das contribuições relativas 
dos fatores genéticos e ambientais na formação de várias característi-
cas do desenvolvimento humano, como comportamento, personalida-
de, inteligência e saúde.
O lado da natureza do debate argumenta que nossa composição 
genética desempenha um papel significativo na determinação de quem 
somos. Isso sugere que traços e características são amplamente prede-
terminados por nossos genes herdados, que foram transmitidos pelos 
nossos pais biológicos. De acordo com essa perspectiva, nosso código ge-
nético fornece o modelo para nossos atributos físicos e psicológicos.
Por outra perspectiva, o lado da criação do debate enfatiza a impor-
tância das influências ambientais. Essa perspectiva afirma que fatores ex-
ternos, como educação, interações sociais, contexto cultural, educação e 
experiências, têm um impacto substancial na formação e no desenvolvi-
mento de um indivíduo. Os defensores desse ponto de vista acreditam que 
os indivíduos são moldados pelo ambiente e que seu comportamento e 
características são aprendidos por meio da interação com esse ambiente.
Lado da natureza (nature)
Argumenta que o nosso código genético 
fornece o modelo para nossos atributos 
físicos e psicológicos.
Lado da criação (nurture)
Afirma que o ambiente, ou seja, os fatores 
externos, tem um impacto substancial na 
formação e no desenvolvimento de um indivíduo.
No entanto, na atualidade, é amplamente aceito entre os cientistas 
que o debate da natureza versus criação não é uma dicotomia, mas sim 
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36 Transtornos do Neurodesenvolvimento
uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais. Na reali-
dade, a maioria dos traços e características é influenciada por uma com-
binação de natureza e criação. De acordo com Dr. Raymond St. Leger, em 
seu curso Genes and the human condition – from behavior to biotechnology 
(traduzido do inglês, Os genes e a condição humana – do comportamento à 
biotecnologia), quando comparamos os conceitos de natureza – herança 
genética que recebemos de nossos pais biológicos – versus criação – am-
biente onde crescemos e nos desenvolvemos –, cada qual fica com 50% 
daquilo que nos tornamos ao longo da nossa história de vida.
Pesquisas modernas em áreas como genética comportamental, biolo-
gia molecular e epigenética revelaram que os genes fornecem a base para 
nosso potencial, mas eles interagem com o ambiente para moldar a ex-
pressão desses genes. Fatores ambientais podem influenciar a expressão 
gênica por meio de vários mecanismos, incluindo modificações epigenéti-
cas que podem ativar ou desativar os genes. Mas o que isso, de fato, sig-
nifica? Isso significa que a nossa genética pode ser representada por uma 
parede cheia de interruptores: cada interruptor representa um gene do 
nosso organismo, e a interação com o ambiente durante o nosso processo 
de desenvolvimento é capaz de ligar ou desligar cada um desses interrup-
tores. Assim sendo, o ambiente onde nos movemos é capaz de ativar ou 
desativar os nossos genes, incluindo os genes que nos causam doenças.
Compreendermos a interação entre natureza e criação é importan-
te para estudarmos o desenvolvimento e o comportamento humano. 
Esse conceito amplia a nossa compreensão a respeito das interações 
complexas e dinâmicas entre nossos genes e os ambientes que habita-
mos, enfatizando que ambos os fatores contribuem para moldar quem 
somos como indivíduos.
2.3 Perspectiva epigenética do 
desenvolvimento humano Vídeo
A epigenética refere-se ao estudo das mudanças na expressão gêni-
ca ou no fenótipo celular que ocorrem sem alterações na sequência de 
DNA subjacente, envolvendo modificações no DNA e suas proteínas as-
sociadas, que podem influenciar a atividade do gene, ativando-os ou de-
sativando-os. Essas modificações atuam como um mecanismo regulador, 
determinando quais genes são expressos e quando (PURVES et al., 2018).
O vídeo Nosso comporta-
mento vem dos genes ou 
da criação? O caso dos 
trigêmeos separados traz 
uma boa reflexão sobre 
a influência genética e do 
ambiente no desenvol-
vimento humano. Para 
ilustrar os conceitos de 
nature versus nurture, o 
professor apresenta um 
caso de irmãos trigêmeos 
que foram adotados e 
criados separadamente, 
buscando identificar em 
cada um dos irmãos os 
traços que eram oriundos 
da natureza (genéticos) e 
da criação (ambiente).
Disponível em: https://youtu.
be/L1ad1NO7f_g?si=Bo5-
mwmuwyk2In_J. Acesso 
em: 10 out. 2023.
Vídeo
https://youtu.be/L1ad1NO7f_g?si=Bo5-mwmuwyk2In_J
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O termo epigenética é derivado da palavra grega epi, que significa 
acima ou em cima de, indicando que as modificações epigenéticas ocor-
rem acima ou além da própria sequência de DNA. Essas modificações 
podem ser hereditárias, o que significa que podem ser transmitidas de 
uma geração para outra, potencialmente levando a efeitos duradouros 
na expressão gênica e na função celular (PURVES et al., 2018).
As modificações epigenéticas podem ocorrer por meio de vários 
mecanismos, mas existem dois que são os mais bem estudados. O pri-
meiro é a metilação do DNA, que envolve a adição de um grupo metil 
à molécula de DNA. Essa modificação geralmente ocorre em regiões 
específicas, chamadas ilhas CpG, que são trechos de DNA em que um 
nucleotídeo citosina (C) é seguido por um nucleotídeo guanina (G). A me-
tilação do DNA pode bloquear a expressão do gene, inibindo a ligação 
dos fatores de transcrição ao DNA, silenciando efetivamente a atividade 
do gene (PURVES et al., 2018). O segundo método são as modificações 
de histonas, em que as histonas – proteínas em torno das quais o DNA 
é enrolado – formam uma estrutura chamada de cromatina. Diferentes 
modificações químicas, como acetilação, metilação, fosforilação e ubi-
quitinação, podem ocorrer nas histonas, alterando a acessibilidade do 
DNA à maquinaria transcricional. Por exemplo, a acetilação de histonas 
está associada à ativação de genes, enquanto a metilação pode estar 
ligada ao silenciamento de genes (PURVES et al., 2018).
As modificações epigenéticas são dinâmicas e podem ser influencia-
das por uma variedade de fatores, incluindo exposições ambientais, 
escolhas de estilo de vida, envelhecimento e processos de de-
senvolvimento. Elas podem ser reversíveis, o que significa que 
podem ser alteradas ao longo da vida de um indivíduo, per-
mitindo a adaptação e resposta a ambientes em mudança.
Essas modificações têm sido aplicadas em vários processos 
biológicos, incluindo desenvolvimento, diferenciação celular, enve-
lhecimento e doenças. Elas desempenham um papel crítico na 
orquestração de padrões de expressão gênica, garantin-
do a ativação e o silenciamento apropriados de genes 
em diferentes tipos de células e tecidos.
O estudo da epigenética fornece informações so-
bre como o ambiente pode interagir com nosso ma-
terial genético e influenciar os padrões de expressão 
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gênica, moldando o desenvolvimento humano, a saúde e a suscetibili-
dade a doenças. Esses estudos também oferecem caminhos potenciais 
para entender e potencialmente modificar a expressão gênica, melho-
rando os resultados de saúde (NAUMOVA; TAKETO-HOSOTANI,

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