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A carta de São Paulo aos 
ROMANOS 
, 
CADERNOS DE ESTUDO BIBLICO 
A carta de São Paulo aos 
ROMANOS 
Com introdução, comentários e notas de 
Scott Hahn e Curtis Mitch 
e questões para estudo de 
Dennis Walters 
Tradução de Giuliano Bonesso 
ECCLESIAE 
A carta de São Paulo aos romanos: Cadernos de estudo bíblico 
ia edição - julho de 2016 - CEDET 
Título original: Catholic Study Bible: The Letter of Saint Paul to the Romans - © Ignatius Press. 
Os direitos desta edição pertencem ao 
CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico 
Rua Ângelo Vicentin, 70 • CEP: 13084-060 - Campinas - SP 
Telefone: 19-3249-0580 
e-mail: livros@cedet.com.br 
Editor: 
Diogo Chiuso 
Editor-assistente: 
Thomaz Perroni 
Tradução: 
Giuliano Bonesso 
Revisão: 
Roger Campanhari 
Editoração: 
Virgínia Morais 
Capa 
J. Ontivero 
Conselho Editorial: 
Adelice Godoy 
César Kyn d'Ávila 
Diogo Chiuso 
Silvio Grimaldo de Camargo 
Thomaz Perroni 
� ECCLESIAE - www.ecclesiae.com.br 
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer 
meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. 
SUMÁRIO 
I N T RODUÇÃO A E S T E E S TUDO • 7 
Inspi ração e i n errân cia bíblica • 8 
Auto ridade b íb lica • 9 
Os sen tidos da Sagrada Escritu ra • I o 
Critérios para a i n terp retação da bíblia • I 3 
Usando este estudo • I 5 
Colocando tudo em perspectiva • I 7 
Uma n o ta final • I 7 
I N T R ODUÇÃO À CA RTA DE SÃO PAULO AOS RO M A N O S • I 9 
Auto ria e data • I 9 
Destinatários • I 9 
Finalidade • 20 
Temas e ca racterís ticas • 20 
E S QUEMA DA CARTA DE SÃO PAULO A O S RO MAN O S • 23 
A CA RTA DE S ÃO PAULO A O S RO MAN O S • 2 5 
Estudo da palav ra: J u s t i fi cado ( Rm 2 , 1 3 ) • 32 
Estudo da palavra: F i g u r a ( Rm 5 , 1 4 ) • 42 
Estudo da palavra: Res t o ( Rm 1 1 , 5 ) • 5 9 
Ensa io s ob re u m tóp ico: A sa lvação de t o d o o I s rae l • 63 
Mapa: A i n fl u ê n c i a de São Paulo • 7 5 
QUE S TÕES PA RA E S TUDO • 79 
INTRODUÇÃO A ESTE ESTUDO 
Você está se aproximando da "palavra de Deus" . Esse é o título mais freqüente­
mente atribuído à Bíblia pelos cristãos e é uma expressão rica em significado. Esse é 
também o título atribuído à segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Filho 
- Jesus Cristo, que se encarnou para a nossa salvação "e é chamado pelo nome de 
Palavra de Deus" (Ap 19, 13; cf. Jo 1, 14) .' 
A palavra de Deus é a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é Jesus. Essa associa­
ção sutil entre a palavra escrita de Deus e sua Palavra eterna é intencional e presente 
na tradição da Igreja desde a primeira geração de cristãos. "Toda a Escritura divina 
é um único livro, e este livro é Cristo, 'já que toda Escritura divina fala de Cristo, 
e toda Escritura divina se cumpre em Cristo"" (CIC 134) . Isto não significa que a 
Escritura é divina da mesma maneira que Jesus é divino. Ela é, antes, divinamente 
inspirada e, como tal, é única na história da literatura universal, assim como a En­
carnação da Palavra eterna é única na história da humanidade. 
Podemos dizer ainda que a palavra inspirada assemelha-se à Palavra encarnada 
em muitos e importantes aspectos. Jesus Cristo é a Palavra de Deus encarnada; em 
sua humanidade, Ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado. A Bíblia, 
enquanto obra escrita pelo homem, é como qualquer outro livro, exceto pelo fato 
de não conter erros. Tanto Cristo quanto a Sagrada Escritura nos são dados "para 
nossa salvação" ,3 diz o Concílio Vaticano II, e ambos nos fornecem a revelação defi­
nitiva de Deus. Portanto, nós não podemos conceber um sem o outro - a Bíblia sem 
Jesus, ou Jesus sem a Bíblia. Um é a chave interpretativa do outro. É por que Cristo 
é o sujeito e o assunto de toda a Escritura que São Jerônimo afirma que "ignorar as 
Escrituras é ignorar a Cristo" 4 (CIC 133) . 
Ao aproximarmo-nos da Bíblia, então, nós nos aproximamos de Jesus, a Palavra 
de Deus; e para que o encontremos de fato, devemos abordá-lo através de um estudo 
devoto e piedoso da palavra inspirada de Deus, a Sagrada Escritura. 
]o l, 14: "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, 
cheio de amor e fidelidade". A traduçáo brasileira dos textos bíblicos utilizada ao longo de todo este estudo é a da Bíblia 
da CNBB-NE. 
2 Cf. Hugo de Sáo Vítor, De arca Noe, 2, 8: PL 176, 642; cf. ibid., 2, 9: PL 176, 642-643. 
3 Cf. Dei Verbum, 11. 
4 Dei Verbum, 25; cf. S. Jerônimo, Commentarii in !saiam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17). 
7 
Cadernos de estudo bíblico 
INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA BÍBLICA5 
A Igreja Católica faz afirmações admiráveis em relação à Bíblia. É essencial para 
nós, se quisermos ler a Escritura e aplicá-la à nossa vida do modo como a Igreja pre­
tende que o façamos, que reconheçamos essas afirmações e as admitamos. Não basta 
que simplesmente concordemos, acenando positivamente com a cabeça, quando 
lemos as palavras "inspirada" , "únicà' ou "inerrante" . É preciso que saibamos o que 
a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar pessoal essa 
compreensão. Afinal de contas, a forma como cremos na Bíblia influenciará inevita­
velmente o modo como vamos lê-la. E o modo como lemos a Bíblia, por sua vez, é 
o que determina o que nós "tiramos" de suas páginas sagradas. 
Esses princípios são válidos independentemente do que estamos lendo - uma 
reportagem de jornal, um aviso de "procura-se" , uma propaganda, um cheque, uma 
prescrição médica, uma nota de despejo . . . O modo como lemos essas coisas (ou até, 
se as lemos ou não) depende muito de nossas noções pré-conceituadas a respeito 
da autoridade e confiabilidade de suas fontes - e também do potencial que têm de 
afetar diretamente nossa vida. Em alguns casos, a má interpretação da autoridade 
de um documento pode levar a conseqüências terríveis; noutros casos, pode nos im­
pedir de desfrutar certas recompensas das quais temos o direito. No caso da Bíblia, 
tanto as conseqüências quanto as recompensas envolvidas têm valor definitivo. 
O que quer dizer a Igreja, então, ao endossar as palavras de São Paulo - "Toda 
Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3, 16) ? Uma vez que, nessa passagem, o termo 
"inspiradà' pode ser entendido como "soprada por Deus" , segue-se então que Deus 
soprou sua palavra na Escritura assim como você e eu sopramos ar quando falamos. 
5 Na linguagem cotidiana, o termo "errante" costuma significar "andar a esmo", "andar sem rumo" ou "vaguear"; "iner­
rante'', nesse sentido, se diria de algo que "anda com propósito", "com destino certo". No entanto, o termo é empregado 
aqui no sentido estrito de "sem erros", mesmo. Poder-se ia dizer "infalível", porém o autor faz uma clara distinção entre 
esses dois termos - "inerrante" e "infalível" - quando diz, mais à freme, que "o mistério da inerrância bíblica é de âmbito 
ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade". A distinção esclarece que o autor está se referindo à escrita da Bíblia 
como inerrante, enquanto que se refere à interpretação do que foi escrito como infalível - dois adjetivos distintos para 
duas etapas distintas da relação com o texto sagrado: a escrita e a interpretação da escrita. Ambas são feitas pelo próprio 
Espírito Santo e, portanto, não podem falsear. 
Na Carta Encíclica Divino Ajflante Spiritu, de setembro de 1943, o Papa Pio XII diz da doutrina da inerrância bíblica: 
"O primeiro e maior cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques 
contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo, falando de coisas 
físicas, 'se atém ao que aparece aos sentidos; como escreveu o Angélico [Sto. Tomás de Aquino], exprimindo-se 'ou de modo 
metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação 
ordinária mesmo pelosque daí resulte o bem, como alguns caluniosamente 
afirmam que nós dizemos? (Esses merecem a condenação!) 
3, 2: 51 1 47, 1 9 ; Rrn 9, 4. 3, 4: Sl 5 1 , 4 . 3, 5: Rrn 5, 9; 6, 1 9 ; 1 Cor 9, 8 ; Gl 3 , 1 5 . 3, 8: Rrn 6. 1 . 1 5 . 
COMENTÁRIOS 
3, 2: "os oráculos de Deus" - A Torá di­
tada a Moisés, escrita para o povo de Israel. A 
lei mosaica deu grandes vantagens ao povo da 
Aliança em comparação com o resto do mun­
do, pois organizou sua adoração, lhes forne­
ceu diretrizes claras para a conduta e convi­
vência cotidiana, e os aproximou de Deus. 
Um rol desses benefícios é listado em 9, 4-5 . 
3, 3: "fidelidade" - Apesar das trans­
gressões de Israel, Javé nunca renunciou seu 
compromisso com seu povo ou sua obriga-
ção de manter os acordos de suas alianças 
( 1 1 , 1 ) . 
lJJ 3 , 4 "que sejas reconhecido justo" 
- Uma citação de Sl 5 1 , 4 . 
No Salmo, Davi suplica pela misericórdia 
divina. Embora esmagado pelo peso de seus 
pecados, ele não ousa acusar Deus de iniqüi­
dade, mas insiste que o Senhor é perfeitamen­
te justo quando pune o pecador e o torna res­
ponsável por seu mau comportamento. 
3 3 
Cadernos de estudo bíblico 
Não há justo - 9Que diremos pois? Será que nós, judeus, levamos alguma vantagem? De modo algum! 
De fato, já denunciamos que todos, judeus e gregos, estão sob o domínio do pecado, 'ºcomo está escrito : 
"Não há justo, nem mesmo um só; "não há quem seja sensato, não há quem busque a Deus. 1 2 Todos se 
desviaram, degeneraram todos juntos. Não há ninguém que faça o bem, nem mesmo um só. 13 Um sepulcro 
aberto, sua garganta, suas línguas sempre a enganar; sob seus lábios, veneno de víbora; 14sua boca é cheia de 
imprecações e amargor;'5velozes são seus pés para derramar sangue, 16seus caminhos são cobertos de ruína e 
desgraça; 17 desconheceram o caminho da paz; 1 8diante de seus olhos não existe temor de Deus". 1 90ra, sabemos 
que tudo quanto diz a Lei, ela o diz para os que a ela estão sujeitos. Assim, toda boca se cala e todo o 
mundo se reconhece culpável diante de Deus, 2ºporquanto ninguém será justificado diante dele pela 
prática da Lei. Pois a Lei dá apenas o conhecimento do pecado. 
A retidão através da fé - 21Agora, sem depender da Lei, a justiça de Deus se manifestou, atestada pela Lei 
e pelos Profetas, 22justiça de Deus que se realiza mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; 
pois não há diferença: 23todos pecaram e estão privados da glória de Deus . 24E só podem ser justificados 
gratuitamente, pela graça de Deus, em virtude da redenção no Cristo Jesus. 25É ele que Deus destinou a 
ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a fé. Assim, Deus demonstrou sua justiça, 
deixando sem castigo os pecados cometidos outrora, 26no tempo de sua tolerância. Assim também, ele 
demonstra sua justiça, no tempo presente, a fim de ser justo, e tornar justo todo aquele que se firma na fé 
em Jesus. 270nde fica então o orgulho? Fica excluído. Por qual lei? Pela lei das obras? Não, mas sim pela lei 
da fé. 28Pois julgamos que a pessoa é justificada pela fé, sem a prática da Lei. 29Acaso Deus é só dos judeus? 
Não é também Deus dos pagãos? Sim, é também Deus dos pagãos. 30De faro, Deus é um só: ele justificará 
os circuncisos em virtude da fé, e os incircuncisos, mediante a fé. 3 1Então, pela fé anulamos a Lei? De modo 
algum. Pelo contrário, a confirmamos. 
3, 9: Rm 1 , 1 8-32; 2 , 1 -29; 1 I . 32 ; 3, 23. 3, 10-12: SI 14 , 1 -3 . 3, 13: SI 5 , 9 ; 1 40, 3. 3, 14: SI 1 0 , 7 . 3, 1 5-17: Is 59, 7-8. 3, 18: SI 36, 1 . 3, 
19: Rm 2 , 1 2. 3, 20: SI 1 43 , 2 ; Anova aliança (Jr 3 1 , 3 1 -34) . 
3, 23: "todos pecaram" - Não todos sem 
exceção (toda a humanidade) , mas todos 
sem distinção (tanto judeus quanto gentios, 
3, 9 ; 1 0 , 1 2) . Não há dúvidas de que existem 
exceções : Jesus era imaculado; crianças an­
tes da idade da razão não cometem pecado 
conscientemente; e a Tradição também afir­
ma que Maria, por dom de Deus, viveu toda 
a sua vida sem as manchas do pecado. 
3, 24: "redenfáo" - O valor pago para a 
libertação de um escravo. Ver nota em nosso 
estudo bíblico sobre a Carta de São Paulo aos 
Efésios, 1 , 7. 
3 5 
Cadernos de estudo bíblico 
lJJ � 3, 25 "expiação" - Um sacrifí­
.. cio que limpa os pecados . 
• Esse termo é usado muitas vezes na versão 
grega do AT para referir-se ao propiciatório, a 
rampa dourada que cobria a Arca da Aliança 
(Ex 25 , 1 7; Hb 9, 5 ) . No Dia da Expiação, o 
sumo sacerdote de Israel aspergia o propicia­
tório com sangue para expiar os pecados do 
povo e restabelecê-lo na irmandade com Javé 
(Lv 1 6, 1 -34) . Para Paulo, o propiciatório re­
presenta Cristo - o altar vivo da presença de 
Deus, onde o perdão ocorre pelo derrama­
mento de seu sangue em sacrifício (CIC 433) . 
• Cristo, que expiou os pecados do mun­
do com seu sangue, nos ensina a seguir seu 
exemplo pela mortificação de nossos mem­
bros (Gregório de Nissa, Da perfeição). 
� 3, 28 "justificada pela fé" - A fé é 
.. um dom gratuito que atua em nós, 
aproximando-nos de Deus (Fl 1 , 29) . Ela 
leva à justificação porque leva ao Batismo 
(6, 3-4; 1 Cor 6 , 1 1 ) . O objeto da fé que nos 
justifica é a pessoa de Deus juntamente 
com os dogmas revelados no evangelho. A 
teologia católica sustenta que a fé não opera 
sozinha, mas trabalha junto coma esperan­
ça pela misericórdia divina e com o amor 
pelo Senhor. A fé se manifesta nas vidas dos 
fiéis através da obediência ( 1 , 5 ) , do amor 
(Gl 5, 6) e das boas obras (Ef 2 , 1 0) . Ver 
ensaio sobre um tópico: Fé e obras, em nos­
so estudo bíblico sobre as Cartas de Tiago, 
2 . 
"A prática da Lei" - Para significados 
possíveis dessa expressão, ver nota neste es­
tudo, 3, 20 . 
• O Concílio de Trento decretou em 1 547 
que o homem, mesmo que pratique boas 
obras e seja reto , nunca é digno de receber 
a graça inicial da j ustificação, que o roma 
filho de Deus e membro da Nova Aliança . 
Essa graça é um dom gratuito que Jesus 
Cristo nos confere no Batismo (Seção 6, 
cap. 8; CIC 1 987-200 1 ) . 
3 , 30: "Deus é um só" - O credo mo­
noteísta antigo de Israel (Dt 6 , 4) . Paulo 
extrai uma lição importante dele: visto que 
Deus é um só, o mesmo para judeus e gen­
tios, todos serão j ustificados pela mesma 
via, ou seja, por meio da fé. 
NOTAS 
A carta de São Paulo aos romanos 
40 exemplo de Abraão - 1Que diremos de Abraão, nosso Pai segundo a carne? Que terá ele 
conseguido? 2Pois, se Abraão se tornou justo em virtude das obras, ele tem de que se gloriar . . . mas 
não aos olhos de Deus! 3Com efeito, que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi 
levado em conta como justiça". 40ra, para quem faz determinada obra, o salário não é contado como 
um presente, mas como coisa devida; 5ao contrário, quem, sem fazer obras, crê naquele que torna justo o 
ímpio, a sua fé é levada em conta como justiça. 6É assim que Davi declara feliz aquele a quem Deus atribui a 
justiça independentemente das obras: 7"Felizes aqueles cujas transgressões foram perdoadas e cujos pecados 
foram cobertos; 8feliz aquele cujo pecado o Senhor não leva em conta". 9Essa declaração de felicidade diz 
respeito só aos circuncisos ou também aos incircuncisos? Pois dizemos : "Para Abraão a fé foi levada em 
conta como justiça'' . 1 0Em que circunstâncias se deu isso: para Abraão circuncidado ou não? Não quando 
já estava circuncidado, mas quando era ainda incircunciso. 1 1E ele recebeu o sinal da circuncisão como 
selo da justiça que possuía, pela fé, quando ainda incircunciso. Assim, tornou-se pai de todos os crentes 
incircuncisos, aos quais foi conferida a justiça; 1 2tornou-se pai, também, daqueles circuncisos que, além 
de circuncidados fisicamente, seguem as pegadas da fé do nosso pai Abraão quando ainda incircunciso. 
4, 2: ! Cor l, 3 1 . 4, 3: Gn 1 5 , 6; Rm 4, 9 . 22; Gl 3, 6; Tg 2, 23. 4, 4: Rm 1 1 , 6. 4, 5: Rm 3, 22. 4, 7: SI 32, 1 -2 . 4, I I : Gn 1 7, 10; Rm 3, 
22. 30. 
COMENTÁRIOS 
4, 1 -25: Paulo explica a paternidade es­
piritual de Abraão. Seu objetivo é demons­
trar pelas Escrituras que é por meio da fé, e 
não pela circuncisão ou observância da lei de 
Moisés que nos tornamos filhos de Abraão. 
4, 1 : "nosso Pai" - Paulo continua a en­
volver seu oponente judeu em seu artifício 
retórico. 
� 4, 2 "se gloriar" - Orgulhar-se de 
a. uma conquista pessoal . 
Aquele que se gloria em suas obras gloria 
a si próprio, mas aquele que se gloria em 
sua fé gloria a Deus. Observar os manda­
mentos que proíbem o roubo e o assassi­
nam é pouca coisa perto de crer que Deus 
é todo poderoso (São João Crisóstomo, 
Homilias sobre a Carta aos Romanos, 8) . 
fT1 4, 3 "Abraão creu em Deus" - Cita­
IJU ção de Gn 1 5 , 6 . 
Quando Deus promete que lhe daria 
descendentes, Abraão, que era estéril e já 
estava idoso, confia em sua promessa (Gn 
1 5 , 1 -5) . O Senhor aceita a sua fé reco­
nhecendo sua justiça. Paulo argumenta 
depois dessa passagem para demonstrar 
em Rm 4, 9- 1 O que a seqüência narrativa 
da história de Abraão no Gênesis possui 
a chave para o entendimento correto da 
justificação: ela nos mostra que Abraão 
foi justificado por sua fé muito antes de 
ter sido circuncidado fisicamente (Gn 
1 7, 24) . Paulo derruba a noção judai­
ca prevalecente de que a circuncisão e a 
obrigação de observar a lei de Moisés de­
corrente dela eram imprescindíveis para a 
integração na aliança com Deus (At 1 5 , 
1 -5 ; CIC 1 44-46) . 
4, 4: "quem faz determinada obra'' -A 
justificação é um dom gratuito da graça, e 
não uma recompensa por um trabalho ou 
serviço prestado (6, 23; Tt 3 , 5 ) . 
"Pagamento": Em grego antigo, o verbo 
logozimai é um termo comercial usado para 
designar o registro de créditos ou débitos. 
3 7 
Cadernos de estudo bíblico 
Também pode significar "contar" . Quando 
Paulo diz que a justiça foi registrada em nosso 
crédito como um presente, isso não quer dizer 
que esse presente nos foi atribuído de maneira 
simplesmente externa. Segundo Paulo, nosso 
registro divino corresponde à realidade, ou 
seja, que Deus nos contou como justos porque 
Cristo nos tornou justos. (5 , 1 9) . 
IT1 4, 7-8 - Paulo cita Sl 32, 1 -2 para dar 
LlU suporte à sua leitura de Gn 1 5 , 6, de­
monstrando novamente que a justificação 
ocorre independentemente da circuncisão e 
da observância da Torá. Ele usa aqui uma 
técnica exegética judaica que relaciona passa­
gens da Escritura com um vocabulário em 
comum. Note como os excertos de Gênesis e 
dos Salmos têm em comum a expressão "le­
var em conta" . 1 2 
• O Salmo 32 é uma celebração d a misericór­
dia divina. Como Paulo nos mostra, o salmis­
ta não restringe as bênçãos de Javé somente 
ao povo da aliança de Moisés , ou seja, aos 
circuncidados (4, 9 ) , descendentes de Abraão 
segundo a carne (4, 1 2) . Na teologia paulina, 
o perdão é um componente fundamental da 
j ustificação (At 1 3 , 38-39) . 
4, 1 1 : "pai de todos os crentes" - A fi­
liação a Abraão é determinada antes por imi­
tação do que por geração. Fazer parte de sua 
família é compartilhar da sua fé, e não ne­
cessariamente descender fisicamente de sua 
linhagem (4, 1 2 . 1 6) . 
"Incircuncisos" - Já tendo discursado 
sobre a verdadeira circuncisão em 2, 25-29, 
Paulo agora afirma que Abraão é o pai dos 
judeus verdadeiros, e não de todos. Jesus faz 
um comentário similar em Jo 8, 39. 
A promessa de Deus se realiza pela fé - ' 3Náo foi por causa da Lei, mas por causa da justiça que vem 
pela fé, que Deus prometeu a Abraão ou à sua descendência ser herdeiro no mundo. 14Portanto, se 
forem herdeiros os que se contentam com a Lei,a fé é esvaziada e a promessa fica sem efeito. 15Pois a Lei 
produz a ira: onde náo há lei, também náo há transgressão. 16Por conseguinte, é em virtude da fé que 
se dá a herança como dom gratuito; assim, a promessa continua firme para roda a descendência: não só 
para os que se firmam na Lei, mas para todos os que, acima de tudo, se firmam na fé, como Abraáo, que 
é o pai de rodos nós. 17Pois é assim que está escrito: "Eu te constituí pai de muitos povos". Pai diante 
de Deus, porque creu em Deus que vivifica os mortos e chama à existência o que antes náo existia. 
18Esperando contra roda esperança, ele firmou-se na fé e, assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme 
lhe fora dito: "Assim será tua posteridade". 19Náo fraquejou na fé, à vista de seu físico desvigorado por sua 
idade, quase centenária, ou considerando o útero de Sara já incapaz de conceber. 20Diante da promessa 
divina, náo vacilou por falta de fé, porém, revigorando-se na fé, deu glória a Deus: 21estava plenamente 
convencido de que Deus tem poder para cumprir o que prometeu. 22Esta sua disposiçáo foi levada em 
conta como justiça para ele. 23Afirmando que "foi levada em conta para ele", a Escritura visa náo só a 
Abraão, 24mas também a nós: a fé será levada em conta como justiça para nós que cremos naquele que 
ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor, 25entregue por causa de nossos pecados e ressuscitado para 
nossa justificação. 
4, 13: Gn 1 7 . 4-6; 22, 1 7- 1 8 ; GI 3, 29. 4, 14: GI 3, 1 8. 4, 15 : GI 3, 10 . 4, 17: Gn 17 , 5; Jo 5, 2 1 . 4, 18: Gn 1 5 , 5. 4, 19: Hb 1 1 , 1 2; Gn 17 , 
1 7; 1 8 , 1 1 . 4, 22: Rm 4, 3 . 4, 23-24: Rm 1 5 , 4 ; 1 Cor 9, 1 0; 1 0, l l . 4, 25: Rm 8, 32. 
12 Na Bíblia da CNBB, usada nesta versão deste estudo, as passagens infelizmente não apresentam os termos em comum, 
somente a idéia geral de "levar em conta" - NT. 
4, 13: "herdeiro no mundo" - Deus 
prometeu fazer da família de Abraão uma 
família universal (Gn 22, 1 6- 1 8) muito an­
tes da Lei ser entregue ao povo de Israel (Gl 
3, 1 7- 1 8) . Essa é a promessa de bênção para 
rodas as nações da Terra que Deus fez ao pa­
triarca depois de testar e reconhecer sua fide­
lidade (Eclo 44, 2 1 ; CIC 705-6) . 
4, 1 5: "a Lei produz a irà' - A violação 
da Lei move as maldições da aliança de Moi­
sés sobre seus transgressores (Lv 26, 1 4-33; 
De 27, 1 5-26) . 
fT1 4, 17 "Eu te constituí" - Uma cita­
LJ.U ção de Gn 1 7, 5 . 
• A passagem mostra que Deus já havia fei­
co Abraão pai das nações antes de estabele­
cer a aliança da circuncisão (Gn 1 7, 9- 1 4) . 
De acordo com Paulo, a promessa d a família 
universal foi feita em Gn 1 5 , 5-6, quando o 
patriarca creu pela primeira vez que Deus o 
faria pai . Segue que a circuncisão , feita depois 
que sua paternidade já havia sido instituída 
por meio da fé, não pode ser o sinal da família 
de Abraão. 
"Chama à existêncià': Relembra a cren­
ça de que Deus criou todas as coisas a partir 
"do nada" (2Mc 7, 28; CIC 296) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
4, 18-24: Paulo faz um paralelo entre a fé 
cristã e a fé de Abraão. Abraão tinha fé que 
Deus iria fazer nascer nova vida (Isaac) em cor­
pos mortos (Abraão e Sara) . Os cristãos crê­
em que Deus trouxe nova vida ao corpo cru­
cificado de Jesus ao ressuscitá-lo dos mortos. 
fT1 4, 18 ''Assim será tua posteridade" 
LJU _ Uma citação de Gn 1 5 , 5 . 
• Deus prometeu a Abraão que seus descen­
dentes seriam mais numerosos que as estrelas 
do céu. 
4, 19: "incapaz de conceber" - Em gre­
go, literalmente "morto" . 
4, 25: "ressuscitado para nossa justifi­
cação" - A ressurreição de Cristo é muito 
mais do que um milagre para inspirar fé nos 
fiéis. É um ato de salvação, visco que a morte 
e a ressurreição de Jesus juntas constituem 
sua vitória sobre o pecado e a morte ( 1 Cor 
1 5 , 1 7-22) . O Batismo nos dá uma parte 
nessa dupla vitória. Através dele morremos 
para o pecado e ressuscitamos para uma nova 
vida com Cristo (6, 3-4) . A morte e ressur­
reição de nossas almas serão acompanhadas 
pela morte e ressurreição de nossos corpos 
(8 , 1 0- 1 1 ; CIC 654-5 5) . 
3 9 
Cadernos de estudo bíblico 
5 Conseqüências da justificação - 1Assim, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por 
nosso Senhor Jesus Cristo. 2Por ele, não só tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes, 
mas ainda nos ufanamos da esperança da glória de Deus. 3E não só isso, pois nos ufanamos também 
de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, 4a constância leva a uma virtude provada 
e a virtude provada desabrocha em esperança. 5E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi 
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6Com efeito, quando éramos ainda 
fracos, foi então, no devido tempo, que Cristo morreu pelos ímpios. 7Dificilmente alguém morrerá por 
um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. 8Pois bem, a prova de que Deus 
nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores. 9Muito mais agora que já estamos 
justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos da ira, por ele. 1 0Se, quando éramos inimigos de Deus, 
fomos reconciliados com ele pela morte de seu Filho, quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos 
salvos por sua vida! 1 1Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, 
já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação. 
5, l: Rm 3 , 28. 5, 2: Ef 2, 1 8 ; 3 , 1 2; Hb 1 0 , 1 9-20. 5, 3: Rm 5, 1 1 ; 2Cor 1 2, 1 0 ; Tg l , 3 . 5, 9: Rm 3, 5. 24-25; Ef 1 , 7; I Ts 1 . 1 0 . 5, 10: Cl 
1 , 2 1 . 5, 1 1 : Rm 5 . 3. 
COMENTÁRIOS 
5, 1 -5: Os justificados recebem as vir­
tudes teologais . Pela fé, vivem em paz com 
Deus e têm acesso à sua graça; pela espe­
rança, aguardam a glória de Deus que lhes 
foi prometida; e pelo amor, mostram que a 
caridade do Espírito habita em seus corações 
(CIC 1 8 1 3) . Dotados dessas virtudes, os fi­
éis podem se tornar mais semelhantes a Cris­
to através da perseverança e do sofrimento 
(CIC 6 1 8) . Ver nota em nosso estudo bíbli­
co sobre a Primeira Carta de São Paulo aos 
Coríntios, 1 3 , 1 3 . 
5, 8: "a prova de que Deus nos ama'' 
- A morte de Cristo nos revela a magnitude 
do amor incondicional de Deus pelo mundo 
( IJo, 3, 1 6) . Esse amor se torna ainda mais 
extraordinário quando entendemos que o 
mundo, sendo "ímpio" ( 5 , 6) e "inimigo" de 
Deus (5 , 1 0) , não o merecia (CIC 603-4) . 
5, 10: "seremos salvos" - A salvação 
ocorre nos tempos passado, presente e futu­
ro. Ela ocorre no passado quando nos lim­
pamos das máculas de nossos pecados no 
Batismo ( I Pd 3, 2 1 ) . É uma realidade pre­
sente quando permitimos que a graça nos 
fortifique e nos torne mais virtuosos e santos 
( l Cor 1 , 1 8) . E é a esperança futura que te­
mos de viver eternamente com o Senhor na 
glória (Hb 9 , 28 ; CIC 1 69; 1 026) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
Adão pecador, Cristo salvador - 12Pois como o pecado entrou no mundo por um só homem e, por meio 
do pecado, a morte; e a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram . . . - 13De fato, antes 
de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado quando não há lei. 
1 4No entanto, a morte reinou no período de Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram à maneira 
da transgressão de Adão, o qual era figura daquele que devia vir. 1 5Entretanto, o dom da graça foi sem 
proporção com o pecado. Pois, se pelo pecado de um só toda a multidão humana foi ferida de morte, muito 
mais copiosamente se derramou, sobre a mesma multidão, a graça de Deus, concedida na graça de um só 
homem, Jesus Cristo. 16Existe também uma grande diferença, quanto ao efeito, entre o dom da graça e o 
pecado de um só: este, o pecado de um só, provocou um julgamento de condenação, ao passo que o dom 
da graça, a partir de inúmeras faltas, frutifica em justificação. 17Por um só homem que pecou, a morte 
começou a reinar. Muito mais reinarãona vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o 
dom gratuito e transbordante da justiça. 1 8Como a falta de um só acarretou condenação para todos os seres 
humanos, assim a justiça de um só trouxe para todos a justificação que dá a vida. 1 9Com efeito, como, pela 
desobediência de um só homem, a humanidade toda tomou-se pecadora, assim também, pela obediência 
de um só, todos se tomarão justos. 20Quanto à Lei, ela interveio para que se multiplicassem as transgressões. 
Onde, porém, se multiplicou o pecado, a graça transbordou. 2 1Enfim, como o pecado reinou pela morte, 
assim também a graça reina pela justiça, para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor. 
5, 12: ! Cor 1 5 , 2 1 -22; Rm 6, 23; Tg 1 , 1 5 . 5, 14: ! Cor 1 5 , 22. 45 . 5, 15 : Ar 1 5 , l l . 5, 16: Rm 8, 1. 5, 19: Fl 2, 8 . 5, 20: Rm 7, 7-8; Gl 3, 
1 9 ; ! Tm ! , 1 4 . 5, 21: Rm 6, 23 . 
5 , 12-21 : Paulo compara Adão com Cris­
to. Podemos dizer que os dois se assemelham 
pelo impacto de suas ações no mundo, no 
entanto há um contraste radical entre as 
ações de Adão, que espalharam a miséria 
pelo mundo, e a ação salvadora de Cristo, 
que libertou toda a humanidade da escravi­
dão do pecado. Paulo está salientando que a 
graça de Cristo é muito maior do que era ne­
cessário para reparar os danos causados pela 
rebelião de Adão (CIC 385 ; 388) . 
� 5, 12 "um só homem" - O pecado 
.. invadiu o mundo por meio de Adão, 
que permitiu que as tentações de sua mulher 
e do diabo minassem seu comprometimento 
com Deus (Gn 3, 1 -7; Sb 2, 24) 
"Por meio do pecado, a morte" - Deus 
advertiu Adão de que a pena para a desobe­
diência era a morte (Gn 2, 1 7) . Mesmo com 
conhecimento da punição, Adão rebelou-se 
obstinadamente, causando a morte quase 
imediata de sua alma e a futura morte de seu 
corpo (Gn 3, 1 9) . 
"Todos pecaram" - Sendo o pai da fa­
mília humana, Adão afastou-se de Deus por 
todos nós. Sua rebelião foi, portanto, um ato 
simbólico que não somente o lesou, mas le­
vou toda a família humana ao sofrimento e 
afastou-a de Deus (CIC 402-5) . 
O Concílio de Trento apelou a Rm 5 , 1 2 
quando definiu a doutrina do pecado ori­
ginal em 1 546 (Seção 5 ) . A doutrina sus­
tenta que todos os descendentes de Adão 
nasceram para o mundo num estado de 
morte espiritual e em desesperada neces­
sidade de salvação. Essa condição decaída 
propaga-se não por imitação (pela repe­
tição dos erros de Adão) , mas por propa­
gação (por virtude de nossa descendência 
a Adão) . 
Cadernos de estudo bíblico 
ESTUDO DA PALAVRA: FIGURA (RM 5, 14) 
T
ypos (Grego) : "Figurà' , "modelo" ou "padrão" . O termo, que aparece duas 
vezes na Carta aos Romanos e 1 3 vezes no resto do NT, é normalmente 
aplicado para designar uma impressão ou marca deixada na superfície de 
um objeto pelo golpe de uma ferramenta. No NT esse termo é usado em contextos 
variados e possui muitos significados. Foi aplicado para descrever as "marcas" de 
unha nas mãos de Jesus Oo 20, 25 ) , um "padrão" de ensino catequético (Rm 6, 
1 7) , e para designar fiéis considerados "modelos" de santidade (Fl 3, 1 7; l Ts l , 
7 ; Tt 2 , 7) . Em teologia bíblica, uma figura é uma pessoa, local, coisa, evento, 
ou instituição da Escritura que aponta para um mistério futuro. Rm 5, 1 4 é um 
exemplo clássico disso: Paulo nos mostra que Adão, que destinou o Homem a 
coisas terríveis, era uma figura de Cristo, que reverteu a situação estabelecida 
por Adão por meio de sua j ustiça. Adão, portanto, nos mostrou de maneira 
antecipada como a obra salvadora de Jesus, o novo Adão, iria afetar o mundo 
inteiro. Paulo também interpreta as experiências de Israel no deserto como figuras 
das experiências da Igreja no mundo ( 1 Cor 1 O, 1 -6) . Pedro vê o dilúvio bíblico 
como uma figura profética do Batismo ( I Pd 3, 2 1 ; CIC 1 28-30) . 
� 5, 20: "multiplicassem as transgres­
.. sões" - A Torá agravou o problema 
do pecado porque definiu suas fronteiras (7, 
7) , mas não podia impedir Israel de cruzá-las 
(7, 1 2-24) . Seu objetivo era induzir o povo 
Israel a reconhecer sua fraqueza e suplicar 
pela aj uda divina. 
r------
4 2 
A Lei foi dada para que a graça pudesse 
ser solicitada; a graça foi dada para que 
a Lei fosse cumprida (Sto. Agostinho, O 
espírito e a letra, 34) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
6 Morte e vida com Cristo - 1 Que diremos? "Vamos permanecer no pecado para que a graça aumente"? 
De modo algum. 2Nós que já morremos para o pecado, como vamos continuar vivendo nele? 3Acaso 
ignorais que todos nós, batizados no Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? 4Pelo batismo 
fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos morros pela ação gloriosa 
do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova. 5Pois, se fomos, de cerro modo, identificados a ele por 
uma morre semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. 6Sabemos que o nosso 
homem velho foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo sujeito ao pecado, de maneira 
a não mais servirmos ao pecado. 7Pois aquele que morreu está livre do pecado. 8E, se já morremos com 
Cristo, cremos que também viveremos com ele. 9Sabemos que Cristo, ressuscitado dos morros, não morre 
mais. A morte não tem mais poder sobre ele. 'ºPois aquele que morreu, morreu para o pecado, uma vez 
por todas, e aquele que vive, vive para Deus. "Assim, vós também, considerai-vos morros para o pecado 
e vivos para Deus, no Cristo Jesus. 12Que o pecado não reine mais em vosso corpo mortal, levando-vos a 
obedecer às suas paixões. 13Não ofereçais mais vossos membros ao pecado como armas de injustiça. Pelo 
contrário, oferecei-vos a Deus como pessoas que passaram da morre à vida, e ponde vossos membros a 
serviço de Deus como armas de justiça. 14De fato, o pecado não vos dominará, visto que não estais sob a 
Lei, mas sob a graça. 
6, 1: Rm 3, 8; 6, 1 5 . 6, 2: Rm 7, 4. 6; GI 2, 1 9; l Pd 2, 24. 6, 3: Ar 2, 38; 8, 1 6 ; 1 9, 5. 6, 4: CI 2, 1 2. 6, 5: 2Cor 4, 1 0; CI 2, 1 2 . 6, 6: Rm 7, 
24; CI 2, 1 3 . 6, 7: 1 Pd 4 . 1 . 6, 8: 2 Tm 2, 1 1 . 6, 9: At 2. 24; Ap 1 , 1 8 . 6, 1 1 : Rm 7, 4 . 6 ; GI 2, 1 9 ; 1 Pd 2, 24. 
COMENTÁRIOS 
6, 1 -23: Paulo discorre sobre uma pos­
sível confusão: se os seus pecados acarretam 
uma enxurrada de graça divina ( 5 , 20) , então 
por que não continuar a pecar para produ­
zir ainda mais graça? Essa lógica vai contra 
o próprio objetivo da graça, que é o de nos 
perdoar de nossos pecados passados e nos 
ajudar a evitar os futuros. Para Paulo, a li­
berdade em Cristo não é uma licença para o 
pecado (Gl 5 , 1 3) . 
6 , 1 : "de modo algum" - Uma objeção 
enérgica, muito freqüente na Carta aos Ro­
manos (3, 4. 3 1 ; 6, 1 5 ; 7, 7; 9, 1 4; 1 1 , 1 ) . 
6 , 2 : "morremos para o pecado" - Os 
batizados são libertos das amarras da culpa 
e morrem para sua vida antiga, separada de 
Cristo. 
6, 4: "pelo batismo fomos sepultados 
com ele" - O batismo nos une ao Cristo 
crucificado e ressuscitado, para que, unidos à 
sua morte, nossos pecados também morram, 
e, unidos à sua ressurre1çao, nossas almas 
sejam preenchidas com nova vida (4, 25 ) . 
Paulo está fazendo uma alusão à liturgia do 
Batismo, onde o fiel, como um corpo que é 
enterrado numa cova, é submerso em água, 
para depois ressuscitar para uma nova vida 
com Deus (CIC 537; 628; 1 2 14) . 
6 , 6: "nosso homem velho" - A expres­
são "homem velho" é usada também em Ef 
4, 22 e Cl 3, 9 . 
"Crucificado com Cristo" - Paulo faz 
um comentário pessoal sobre essa expressão 
em Gl 2, 20. 
6, 7: "está livre do pecado" - Lite­
ralmente, "é justificado do pecado" (CIC 
1 990) . Ver estudo da palavra: justificado nes­
te estudo, 2, 1 3 . 
6 , 9 : "não morre mais" - Cristo venceu 
a morte por meio de sua própria morte, por­
tanto sua humanidade ressuscitada é para 
sempre vitoriosa (CIC 1 085) . 
4 3 
Cadernos de estudo bíblico 
Escravos ou do pecado ou da justiça - 1 5Entáo, iremos pecar, porque não estamos sob a Lei,mas sob a 
graça? De modo algum! 16Acaso não sabeis que, oferecendo-vos a alguém como escravos, sois realmente 
escravos daquele a quem obedeceis, seja escravos do pecado para a morte, seja escravos da obediência para a 
justiça? 17Graças a Deus que vós, depois de terdes sido escravos do pecado, passastes a obedecer, de coração, 
ao ensino ao qual Deus vos confiou. 1 8Libertados do pecado, vos tornastes servos da justiça. 19Devido a 
vossas limitações naturais, falo de maneira bem humana: assim como outrora oferecestes vossos membros 
como escravos à impureza e à iniqüidade, para viverdes iniquamente, agora oferecei-os como escravos à 
justiça, para a vossa santificação. 2ºQuando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. 
2 1Que fruto colhíeis, então, de ações das quais hoje vos envergonhais? Pois o fim daquelas ações era a morte. 
22Agora, porém, libertados do pecado e como servos de Deus, produzis frutos para a vossa santificação, 
tendo como meta a vida eterna. 23Com efeito, a paga do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida 
eterna no Cristo Jesus, nosso Senhor. 
6, 13: Rm 6, 1 9 ; 7, 5; 1 2, 1 . 6, 1 4: Rm 8, 2. 6, 15: Rm 3 , 8 ; 6, !. 6, 16: Me 6, 24; Jo 8 , 34; Rm 1 2, ! . 6, 18: Rm 8, 2. 6, 19: Rm 3, 5 ; 6, 
1 3 ; 1 2, 1. 6, 20: Mse tornar conhecido como pecado, se serviu do que é bom 
para me matar. E assim, por meio do preceito, o pecado mostrou ao extremo seu caráter pecaminoso. 
O conflito interior entre o Bem e o Mal - 14Sabemos que a Lei é espiritual; eu, porém, sou carnal, 
vendido ao pecado como escravo. '5De fato, não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas o que 
detesto. 160ra, se faço o que não quero, estou concordando que a Lei é boa. 17No caso, já não sou eu que 
estou agindo, mas sim o pecado que habita em mim. 18De fato, estou ciente de que o bem não habita em 
mim, isto é, na minha carne. Pois querer o bem está ao meu alcance, não, porém, realizá-lo. 19Não faço o 
bem que quero, mas faço o mal que não quero. 200ra, se faço aquilo que não quero, então já não sou eu 
que estou agindo, mas o pecado que habita em mim. 21Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero 
fazer o bem, é o mal que se me apresenta. 22Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na Lei 
de Deus; 23mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei de minha mente e me aprisiona na 
lei do pecado, que está nos meus membros. 24Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? 
25Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Em suma: pela minha mente sirvo à Lei de 
Deus, mas pela carne sirvo à lei do pecado . 
7,7: Rm 3. 20; 5. 20; Ex 20, 1 7 ; Dr 5, 2 1 . 7, 8: ! Cor 1 5 , 56. 7, 10: Lv 1 8 , 5; Rm 1 0 , 5. 7, 12 : Tm 1 , 8. 7, 14: ! Cor 3, ! . 7, 15: GI 5, 1 7. 7, 
22: SI 1 , 2. 7, 23: GI 5 , 1 7 . 7, 24: Rm 6, 6; CI 2, 1 1 . 
Q 7, 7-25 - Paulo contempla o mistério 
.. do pecado e da incapacidade natural 
do homem de resistir a ele. Ele defende a lei 
de Moisés, declarando-a justa e boa (7, 1 2) , 
mas acusa o pecado de assassinato e domina­
ção (7, 1 1 . 23) . Dramatizando seu discurso, 
membros, engana, mata, e declara guerra ao 
nosso desejo de seguir a Deus . Paulo aborda 
esses assuntos sob uma ótica cristã, na qual a 
experiência da graça amplia a realidade do 
pecado. Quando ainda era um fariseu, sua 
ele personifica o "pecado" , descrevendo-o consciência do pecado não era tão perspicaz 
como um predador, que embosca nossos (Fl 3, 5 ) . 
• A Lei não foi conferida a Israel para criar 
ou eliminar pecados, mas apenas para fazê-los 
conhecidos. Dando à alma um senso maior 
de culpa do que de inocência, a Lei habilita o 
fiel para receber a graça (Sto. Agostinho, So­
bre diversas questões a Simpliciano 1 , 1 ) . 
lIJ 7, 7 "não cobiçarás" - A introdução 
dos dois mandamentos finais do De­
cálogo (Ex 20, 1 7) . 
• As leis que condenam o ato de cobiçar a 
mulher e a propriedade alheia mostram que a 
Torá censura não só ações externas, mas tam­
bém ações internas, escondidas no coração 
do fiel. Os mandamentos, portanto, não só 
aumentam nossa consciência do pecado (3 , 
20) , mas nos revelam que nossa vulnerabi­
lidade ao pecado habita profundamente em 
nosso interior. 
7, 9: "Outrora, sem lei, eu vivià' - Pau­
lo discursa seguidamente em primeira pes­
soa ("Eu" , ou "me") nesse capítulo da Carta 
aos Romanos . As implicações retóricas dessa 
escolha já foram amplamente discutidas por 
estudiosos antigos e modernos. Paulo pode 
estar (1) referindo-se à sua história pessoal, 
quando judeu, em confronto com as deman­
das desafiadoras da Torá, ou quando cristão, 
ainda lutando contra a inclinação ao pecado 
para poder seguir a Lei . (2) Paulo pode estar 
aludindo à história bíblica, quando o peca­
do foi pela primeira vez cometido por Adão, 
que viveu inocente até desobedecer ao man­
damento, correndo o risco de perder a pró­
pria vida (Gn 2, 1 7) , ou quando o povo de 
Israel pecou pela primeira vez, transgredindo 
a Lei imediatamente após recebê-la (Ex 32, 
1 -28) . Para a inserção de mandamentos divi­
nos nesses dois momentos históricos, confe­
rir 5 , 1 3- 1 4. (3) Paulo pode estar aludindo à 
A carta de São Paulo aos romanos 
história humana em geral, referindo-se, deste 
modo, ao apuro universal de todos que es­
tão apartados da graça salvadora de Cristo. 
No fim, a terceira possibilidade parece ser a 
que mais se aproxima do que Paulo desejava 
comunicar, mas as duas possibilidades ante­
riores, referentes aos aspectos pessoais e bí­
blicos, não devem ser descartadas. 
lIJ 7, 1 1 "me seduziu" - O mesmo ver­
bo é usado na versão grega de Gn 3 , 
13 , onde Eva acusa a serpente de lhe ter "se­
duzido" e conduzido ao pecado. Paulo tam­
bém reflete sobre essa tragédia em 2Cor 1 1 , 
3 e l Tm 2, 1 4 . 
7, 12: "a Lei é Santà' - Porque promove 
a virtude e proíbe o vício. É também "a lídi­
ma expressão do conhecimento da verdade" 
(2, 20) ; é "espiritual" (7, 1 4) e exige a justiça 
(8, 4) . Paulo está aqui constatando a perfei­
ção dos mandamentos morais. 
7, 13 "morte para mim" - A Torá não 
leva morte às almas . O pecado é a verdadeira 
causa da morte (5 , 1 2) , que usou a Lei como 
uma espada e nos matoupor causa de nossas 
transgressões . 
7, 15-20: Sozinho, o homem é incapaz 
de elevar-se de sua condição decaída ou de 
encurtar a distância entre o que deve fazer 
e o que realmente faz. Essa impotência cau­
sa a esmagadora sensação de desamparo que 
Paulo descreve nesses versículos (CIC 2542) . 
7, 23: "a lei do pecado" - Tradicional­
mente chamada concupiscência, que é a in­
clinação do homem decaído para o mau uso 
de sua liberdade em maneiras pecaminosas e 
egoístas . Ela causa um incessante desejo pelo 
prazer, poder e possessão. Mesmo os batiza­
dos têm de lutar contra essa força interior, 
4 7 
Cadernos de estudo bíblico 
embora Paulo insista que o Espírito pode nos 
dar a vitória sobre esses impulsos ingoverná­
veis (8 , 2. 1 3) . A concupiscência, portanto, 
permanece no fiel, mas não necessariamente 
o governa como um tirano (6, 1 2- 1 4; CIC 
405 ; 1 426; 2520) . 
7, 24: "quem me libertará [ . . . ] ?" - O 
grito desesperado da humanidade apartada 
de Cristo. 
7, 25: "sirvo à lei do pecado" - Insinua 
que os fiéis continuarão a lutar contra o pe­
cado até o fim de suas vidas. É necessário que 
o fiel, portanto, confesse ( lJo 1 , 9) e receba o 
perdão (Mt 6, 1 2) . 
8 A vida no Espírito - 1Agora, portanto, j á não há condenação para o s que estão no Cristo Jesus. 2Pois 
a lei do Espírito, que dá a vida no Cristo Jesus, te libertou da lei do pecado e da morte. 3Com efeito, 
aquilo que era impossível para a Lei, em razão das fraquezas da carne, Deus o realizou enviando seu 
próprio Filho em carne semelhante à do pecado, e por causa do pecado. Assim, Deus condenou o pecado 
na carne, 4a fim de que a justiça exigida pela Lei seja cumprida em nós, que não procedemos segundo a 
carne, mas segundo o Espírito. 50s que vivem segundo a carne se voltam para o que é da carne; os que 
vivem segundo o Espírito se voltam para o que é espiritual. 6Na verdade, as aspirações da carne levam à 
morte e as aspirações do Espírito levam à vida e à paz. 7Portanto, as aspirações da carne são uma rebeldia 
contra Deus: não se submetem - nem poderiam submeter-se - à Lei de Deus. 80s que vivem segundo a 
carne não podem agradar a Deus. 9Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o 
Espírito de Deus mora em vós. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo. 10Se, porém, 
Cristo está em vós, embora vosso corpo esteja morto por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, 
graças à justiça. 1 1E, se o Espírito daquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos habita em vós, aquele que 
ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita 
em vós . 12Portanto, irmãos, estamos em dívida, mas não com a carne, como devendo viver segundo a carne. 
1 3Pois, se viverdes segundo a carne morrereis; mas se, pelo Espírito, matardes o procedimento carnal, então 
vivereis. 14Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 1 5De fato, vós 
não recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espíritoque, por adoção, vos 
torna filhos, e no qual clamamos: "Abbá, Pai!"160 próprio Espírito se une ao nosso espírito, atestando que 
somos filhos de Deus. 17E, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de 
Cristo, se, de fato, sofremos com ele, para sermos também glorificados com ele. 
8, l: Rm S , 1 6. 8, 2: I Cor I S , 45; Rm 6, 14. 1 8. 8, 3: Ar 1 3 , 39; Hb 7, 1 8 ; 1 0 , 1 -2 ; FI 2 , 7; Hb 2 , 14. 8, 4: Rm 3, 3 1 ; Gl S . 1 6. 25. 8, 5: Gl 
S , 1 9-25 . 8, 6: Rm 6, 2 1 ; 8 , 1 3 . 27; Gl6, 8 . 8, 8: Rm 7, S. 8, 9: I Cor 3, 16; 6, 1 9 ; 2Cor 6 , 1 6; 2Tm 1 . 1 4 . 8, 10: Gl 2 , 20; Ef 3, 17. 8, l l : Jo 
S, 2 1 . 8, 13: Rm 8, 6; Cl 3. S. 8, 14: Gl S. 1 8 . 
COMENTÁRIOS 
8, 1 - 1 1 : O capítulo 8 da Carta aos Ro­
manos traz a solução para o problema apre­
sentado no capítulo anterior. É uma solução 
divina, que envolve toda a Trindade: O Pai 
enviou o Filho para redimir o mundo do 
pecado (8 , 3) e o Espírito para ressuscitar o 
mundo da morte, conferindo-lhe nova vida 
(8 , 9- 1 3) . 
fT'I � 8, 2: "a Lei do Espírito" - O 
LJ.U la.il poder da graça que recebemos 
para neutralizar a força descendente da concu­
piscência, chamada por Paulo de "lei do peca­
do" (7, 23) . É também a força positiva do amor 
divino que o Espírito derrama em nossos cora­
ções (5 , 5) e que nos torna capazes de cumprir 
a justa lei de Deus (8, 4; 13 , 8- 1 0) . Paulo men­
c10na o Espírito 1 8 vezes nesse capítulo. 
O profeta Ezequiel teve a visão de Javé 
derramando o Espírito sobre seu povo e con­
duzindo-o por seus caminhos (Ez 36, 27) . 
O Espírito mata o pecado e nos dá au­
xílio na batalha cotidiana contra ele. Ele 
nos liberta não da lei de Moisés, mas da 
lei do pecado. (São João Crisóstomo, Ser­
mões sobre Romanos 1 3) . 
fT1 8, 3 "em carne semelhante à do pe­
LlU cado" - Cristo assumiu nossa condi­
ção humana, mas não se tornou pecador (Jo 
1 , 1 4) . Fez-se mortal para, por meio da mor­
te, vencer a morte e o demônio para sempre 
(Hb 2, 14) . 
"Por causa do pecado" - Em grego, a 
expressão é idêntica a uma abreviatura usa­
da na versão grega de Levítico para designar 
uma oferta de sacrifício pela remissão dos 
pecados (Lv 4, 24; 6, 1 8 ; 1 4, 1 9) . Se Pau­
lo sabia disso , como muitos sustentam, ele 
está afirmando que Jesus foi enviado pelo Pai 
para ser uma oferta sacrificial pelos pecados 
do mundo. Ver nota em nosso estudo bíbli­
co sobre a Segunda Carta de São Paulo aos 
Coríntios, 5, 2 1 . 
8, 4: "a justiça exigida pela Lei" - Pro­
vavelmente os preceitos morais da lei de 
Moisés ( 1 3 , 8- 1 0) . Esse termo grego tam­
bém aparece com o mesmo sentido em ou­
tras passagens da Carta aos Romanos ( 1 , 32; 
2 , 26; 5 , 1 8) . 
8 , 5-8: Um contraste entre duas menta­
lidades, uma carnal, ligada ao indivíduo ( 1 , 
2 1 ) , e outra espiritual, ligada a Deus (Cl 3, 
1 ) . Paulo explica que o fiel não irá automa­
ticamente seguir o Espírito, mas terá de es­
colher um dos dois caminhos, sabendo para 
onde cada um leva (8 , 1 3) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
8, 9: "o Espírito de Deus [ . . . ] de Cris­
to" - O Espírito procede do Pai e do Filho 
na eternidade e também na História (Jo 1 4, 
26; 1 5 , 26) . Ele está, portanto, relacionado 
a ambos os seus predecessores (8 , 1 4- 1 5 ; Gl 
4, 6) . 
8, 1 O: "vosso corpo esteja morto" - Ou 
seja, ainda sujeito à morte e à queda. 
8, 1 1 : "também vossos corpos mortais" 
- Quando Deus ressuscitar os corpos dos 
santos no Juízo Final (8 , 23) , Ele irá concluir 
o processo de adoção divina, que teve início 
no Batismo com a infusão do Espírito em 
nossas almas (8 , 1 5 ; Gl 4, 4-7; Tt 3, 5-7) . 
8, 13: "morrereis" - Paulo está falando 
de uma morte espiritual, visto que todos 
morrem fisicamente, independente de como 
vivem. Esse aviso é dado aos fiéis , que vivem 
"segundo o Espírito" (8, 9) , mas que ainda 
podem se submeter à carne. 
r\'rl 8, 14-25: Paulo reflete sobre a filiação 
LlU divina dos fiéis em Cristo. Embora 
Cristo seja o eterno Filho de Deus por natu­
reza, nós participamos de sua vida e nos tor­
namos filhos adotivos de Deus pela graça. 
Isso acontece por meio do Espírito , que é 
derramado em nossos corações ( 5 , 5) e nos 
mostra o caminho para o Pai (8 , 1 5 ; CIC 
1 996) . 
O discurso de Paulo sobre a filiação e o 
sofrimento faz paralelos com a história 
do Êxodo. A filiação dos fiéis (8, 1 5) re­
lembra a filiação de Israel (9, 4; Ex 4, 22; 
Is 63, 8) . Chamar Deus de Pai (8 , 1 5) 
ecoa com o primeiro título dado a Javé 
no fim da jornada do Êxodo (Dt 32, 6; Is 
63, 1 6) . Os fiéis sendo conduzidos pelo 
Espírito para fora da escravidão (8 , 1 4-
4 9 
Cadernos de estudo bíblico 
1 5) relembra como o povo de Israel foi 
conduzido para fora da servidão ao Egito 
pela coluna de fogo (Ex 6, 6; 1 3 , 2 1 ) , que 
a tradição bíblica vê como uma imagem 
do Espírito (Is 63, 1 0- 1 4) . Mesmo os 
gemidos do fiel , aguardando o cumpri­
mento da redenção (8, 23) , relembram 
os gemidos do povo de Israel sob o jugo 
da escravidão (Ex 2, 23-24; 6, 5 ) , à espe­
ra da redenção do Senhor (Ex 6, 6; 1 5 , 
1 3) . Para o cnstao, o Êxodo ainda está 
em progresso, porque ele foi libertado da 
escravidão ao pecado (6, 6-7. 1 7) , mas 
ainda não se livrou da escravidão à cor­
rupção (8 , 1 9-23) . Para mais comentá­
rios sobre o ensinamento de Paulo sobre 
a Igreja revivendo o Êxodo de Israel, ver 
nota em nosso estudo bíblico sobre a Pri­
meira Carta de São Paulo aos Coríntios, 
1 0 , 1 - 1 1 . 
A esperança da glória - 1 8Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória 
que há de ser revelada em nós. 19De fato, toda a criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus; 
20pois a criação foi sujeita ao que é vão e ilusório, não por seu querer, mas por dependência daquele que a 
sujeitou. 2 1Também a própria criação espera ser libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade 
que é a glória dos filhos de Deus. 22Com efeito, sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo 
como que em dores de parto, 23e não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, 
gememos em nosso íntimo, esperando a condição filial, a redenção de nosso corpo. 24Pois é na esperança 
que fomos salvos. Ora, aquilo que se tem diante dos olhos não é objeto de esperança: como pode alguém 
esperar o que está vendo? 25Mas, se esperamos o que não vemos, é porque o aguardamos com perseverança. 
26Da mesma forma, o Espírito vem em socorro de nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir nem como 
pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os 
corações sabe qual é a intenção do Espírito, pois é de acordo com Deus que ele intercede em favor dos santos. 
28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo 
o seu desígnio. 29Pois aos que ele conheceu desde sempre, também os predestinou a se configurarem com a 
imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30E àqueles que predestinou, 
também os chamou, e aos que chamou, também os justificou, e aos que justificou, também os glorificou. 
O amor de Deus em Jesus Cristo - 3 1 Depois disto, que dizer ainda? Se Deus é por nós, quem será contra 
nós? 32Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como é que, com ele, não 
nos daria tudo? 33Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que justifica? 34Quem condenará? Cristo 
Jesus, que morreu, mais ainda, que ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo por nós? 35Quem 
nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada? 36Pois 
está escrito : "Por tua causa somos entregues à morte, o dia todo; fomos tidos como ovelhas destinadas ao 
matadouro". 37Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou. 38Tenho certeza 
de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,nem o presente, nem o futuro, nem 
as potências, 39nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do 
amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor. 
8, 15 : Rm 9 , 4 ; GI 4, 5-7; Me 14 , 36. 8, 16: At 5, 32. 8, 17: GI 3 , 29; 4, 7; 2 Cor 1 , 5, 7 ; 2 Tm 2, 1 2; 1 Pe 4, 1 3 . 8, 18, 2 Cor 4, 1 7; Col 
3, 4 ; 1 Pe 5 , 1 . 8, 19: 1 Pe 1 , 7, 1 3 ; 1 Jn 3, 2. 8, 20: Ecles l , 2. 8, 2 1 : At 3, 2 1 ; Rm 6, 2 1 ; 2 Pe 3, 1 3 ; Rev 2 1 , 1 . 8, 22: Jer 1 2, 4, 1 1 . 8, 23: 
2 Cor 1, 22; 5 , 2 , 4 ; Gal 5 , 5 . 8, 24: 2 Cor 5 , 7; Heb 1 1 , 1 . 8, 27: Ps 1 39, 1 -2; Lc 16 , 1 5 ; Rev 2, 23; Rm 8, 6, 34. 8, 29: Rm 9, 23; 1 1 , 2 ; 1 
Pe 1 , 2, 20; Ef l , 5, 1 1 . 8, 3 1 : SI 1 1 8, 6. 8, 32: Jn 3, 16 ; Rm 4, 25 ; 5, 8. 8, 33: Lc 1 8 , 7; Is 50, 8-9. 8, 34: Rm 8, 27. 8, 36: SI 44, 22. 8, 37: 
! Cor 1 5 , 57. 
5 0 
8, 15 : "vos torna filhos" - A condi­
ção filial de 8, 23. Nosso parentesco com 
Deus, legitimado na adoção da Alian­
ça, nos assegura uma herança celeste 
(8 , 17 ; l Pd 1 , 3-4) . Ver estudo da pala­
vra: Adoção em nosso estudo bíblico so­
bre a Carta de São Paulo aos Gálatas 4, 5 . 
''A.bba'': "Pai", em aramaico. Um termo 
que denota intimidade, usado por Jesus em 
sua própria vida de oração (Me 1 4, 36) . O 
Espírito faz da oração de Jesus a oração de 
todos os filhos de Deus quando eles pedem 
ao Pai graça e auxílio nos momentos de ne­
cessidade (Gl 4, 6; CIC 2779-82) . 
8, 17: "co-herdeiros de Cristo" - Sofrer 
com Cristo é compartilhar com ele sua he­
rança, que, segundo Paulo, é "tudo" (8 , 32; 
Cl 1 , 1 6 ; Hb 1 , 2) . 
8, 18-25: Paulo defende, sob uma lógica 
de custo-benefício, que não há equivalência 
entre os nossos sofrimentos, mesmo os mais 
pesados fardos, e a glória que nos espera 
(2Cor 4, 1 7) . Embora não possamos evitar 
as aflições de nossa vida terrena, o Espírito 
nos ajuda a torná-las suportáveis (8 , 26) . 
Todo sofrimento faz parte do plano divino 
de moldar-nos à imagem de Cristo (8 , 29) . 
8, 21 : "da liberdade que é a glória'' -
Os filhos de Deus e sua criação comparti­
lham a mesma condição e estão destinados 
ao mesmo fim, que é vida sem corrupção 
(CIC 1 042-47) . 
lJJ 8, 22 "gemendo como que em dores 
de parto" - Paulo ouve toda a criação 
gemendo como uma mulher que dá à luz. 
Essa dor excruciante não irá cessar até que os 
filhos de Deus sejam revelados e toda a cria­
ção material seja restaurada (8 , 2 1 ) . Ver estu-
A carta de São Paulo aos romanos 
do da palavra: Unir em nosso estudo bíblico 
sobre a Carta de São Paulo aos Efésios, 1 , 1 0 . 
A Terra geme sob a maldição de Gn 3 , 
1 7 . A passagem mostra que a transgressão 
de Adão teve conseqüências catastróficas 
não só para ele, mas para o mundo em 
que vivia. 
8, 23: "as primícias" - Um termo agrí­
cola, usado para designar os frutos da pri­
meira colheita da temporada. Paulo usa uma 
metáfora comercial para ilustrar a mesma 
idéia, descrevendo o Espírito como uma "ga­
rantia'' , ou a primeira parcela da herança que 
esperamos receber no Céu (Ef 1 , 1 3- 1 4; CIC 
735 ) . 
8, 24: "esperança'' - O desejo de partici­
par na glória de Deus (5 , 2) . Escondida dos 
olhos humanos, esta herança só consegue ser 
vista por meio da fé (2Cor 5, 7) , e alcançada 
por meio do amor ( l Cor 1 6, 22) . O ponto 
que Paulo está levantando é que esperança 
nos ajuda a vencer as dificuldades da vida 
(Rm 8, 25 ; CIC 1 8 1 7-20) . 
8, 26: "vem em socorro" - Quando a 
angústia perturba nossa oração, o Espírito 
transforma nossos gemidos e suspiros (8 , 23) 
numa oração fervorosa ao Pai (CIC 2729-
3 1 ; 2739) . 
8, 27: "intercede em favor dos santos" 
- O mesmo é dito do Filho em 8, 34. O Fi­
lho e o Espírito pedem ao Pai que nos dê o 
que precisamos, e não necessariamente o que 
nós desejamos. A vontade do Pai é o fator 
que determina o que é necessário para nossas 
vidas . 
8, 29: "predestinou" - Predestinado é 
aquele que foi escolhido para a adoção divi­
na por um decreto de Deus anterior ao mun-
Cadernos de estudo bíblico 
do (Ef 1 , 4) . A predestinação é um mistério 
revelado , mas não completamente compre­
endido. O que sabemos com certeza é que 
Deus é livre para agir como bem entende (SI 
1 35 , 6) e o homem é livre para aceitar ou 
rejeitar suas bênçãos (Rm 2, 6-8 ; Eclo 1 5 , 
1 1 - 1 3) . Ninguém é predestinado por Deus 
à danação eterna (CIC 1 037) . Ver nota em 
nosso estudo bíblico sobre a Carta de São 
Paulo aos Efésios, 1 , 5 . 
"O primogênito": Jesus é o irmão mais 
velho da família de fé. Como filhos adoti­
vos, olhamos para ele como a imagem per­
feita da filiação e o modelo perfeito de obe­
diência filial ao Pai (J o 1 5 , 1 O) . Ver estudo 
da palavra: Primogênito em nosso estudo 
bíblico sobre a Carta de São Paulo aos He­
breus, 1 , 6. 
fT1 8, 32 "não poupou" - Paulo retira 
LJ.U essa expressão da versão grega de Gn 
22, 1 2 para comparar a entrega de Cristo por 
Deus com o sacrifício de Isaac por Abraão. 
Esse evento memorável, que aconteceu em 
Moriá (Gn 22, 2) , prefigura o sacrifício de 
Jesus na cidade de Jerusalém - construída 
em parte sobre o Monte Moriá (2Cr 3, 1 ; 
CIC 2572) . 
8, 35: "Quem nos separará [ . . . ] ?" - Pau­
lo afirma que o sofrimento não tem o poder 
de nos apartar de Cristo. Segundo seu pen­
samento, apenas o pecado pode nos afastar de 
sua graça (1 Cor 6, 9- 1 O; Gl 5, 4) . Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre a Primeira 
Carta de João, 5, 1 6- 1 7 . 
"Tribulação [ . . . ] espada?": ARições que 
relembram as maldições que Deus lançou 
sobre o povo de Israel (Lv 26, 2 1 -26; Dt 28, 
48; Jr 29, 1 8) . Esse pano de fundo prepara o 
terreno para 8 , 36. 
fT1 8, 36 "Por tua causa'' - Citação de SI 
LJ.U 44, 23. 
O Salmista questiona o fato de Javé per­
mitir que os justos de Israel sofram com 
os injustos as maldições do exílio. Coberto 
de vergonha, mas convencido de sua ino­
cência, ele suplica a Deus por libertação. 
Para Paulo, essa é a súplica do fiel que vive 
em Cristo e suporta com Cristo as maldi­
ções de sofrimento e morte que pesam so­
bre o mundo (Gn 3, 1 7- 1 9; Gl 3, 1 3) . Em 
conseqüência disso, nós não somos esma­
gados pelo sofrimento, mas o vencemos de 
forma redentora (Rm 8, 37; At 14, 22) . 
8, 38-39: Um sumário das diferentes 
forças e dimensões da criação: a existência 
humana (morte/vida) , a existência espiritu­
al (anjos/principados/potências) , o tempo 
(coisas presentes/coisas futuras) , e as forças 
astronômicas (altura/profundidade) . Ne­
nhuma dessas ameaças pode afligir aqueles 
envoltos pelo amor de Deus. Para mais co­
mentários sobre os principados, potências e 
classes angelicais , ver Ef 3 , 1 0 e nota em nos­
so estudo bíblico sobre a Carta de São Paulo 
aos Efésios, 1 , 1 O. 
8, 39: "nem outra criatura'' - Paulo 
não está afirmando que os fiéis têm garantia 
absoluta da sua salvação, mas que nenhuma 
força cósmica externa a nós pode ameaçá-la. 
Para Paulo, a única ameaça real à salvação 
é a nossa vontade, que é livre para rejeitar 
o amor de Deus e perder a vida eterna por 
causa do pecado (2, 5- 1 0 ; 6, 1 6 ; 8, 1 3 ; 1 1 , 
2 1 -22) . Ver nota neste estudo, 8, 35 . 
5 2 
A carta de São Paulo aos romanos 
9A eleição de Israel - 'Não estou mentindo, mas digo a verdade, em Cristo, e minha consciência, 
no Espírito Santo, o atesta: 2tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, 3a tal ponto 
que desejaria ser, eu mesmo, excluído de Cristo em favor de meus irmãos, meus parentes segundo 
a carne. 4Eles são israelitas, a eles pertencem a adoção como filhos, a glória, as alianças, as leis, o culto, 
as promessas 5e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à carne, o Cristo, que está acima de 
tudo, Deus bendito para sempre! Amém! 6Não que tenha falhado a palavra de Deus! De fato, nem todos os 
descendentes de Israel são Israel; 7nem é por serem descendentes de Abraão que todos são seus filhos; mas 
"é em Isaac que terá começo a tua descendência''.80 que significa: não são os filhos físicos que são filhos 
de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência. 9De fato, são estes os termos da 
promessa: "Por esta época, eu virei e Sara terá um filho''. 10E não é só. Há também Rebeca, que concebeu 
gêmeos de um só homem, Isaac, nosso pai, 1 1e antes mesmo de eles nascerem e terem feito algo de bem 
ou de mal, 1 2foi-lhe dito: "O mais velho servirá ao mais novo", 1 3conforme está escrito: "Amei mais a Jacó 
do que a Esaú''. 1 1• 12Assim se confirmou o propósito de Deus, propósito de livre escolha, dependendo 
d'Aquele que chama, e não de ações humanas. 14Que diremos então? Haveria, porventura, injustiça em 
Deus? De modo algum. 1 5Pois ele disse a Moisés: "Farei misericórdia a quem eu quiser e terei piedade de 
quem eu quiser''. '6Portanto, a escolha de Deus não depende da vontade ou dos esforços do ser humano, 
mas somente de Deus que usa de misericórdia. 1 7Pois a Escritura diz a respeito do faraó: "Eu te deixei de pé 
precisamente para mostrar em ti meu poder e para tornar meu nome conhecido por toda a terra'' . 1 8Assim, 
pois, ele faz misericórdia a quem ele quer e endurece a quem ele quer. 
9, 3: Ex 32, 32. 9, 4: Rm 3, 2; 8, 1 5 . 9, 6: Rm 2, 28-29. 9, 7: Gn 2 1 , 1 2 ; Hb 1 1 , 1 8 . 9, 8: GI 3. 29; 4, 28 . 9, 9: Gn 1 8 , 1 O . 9, 10: Gn 25, 
2 1 . 
COMENTÁRIOS 
9, 1-1 1 , 36: Na seção intermediária 
da Carta aos Romanos, Paulo, que discur­
sava sobre a salvação do mundo em geral 
(caps. 1-8) , concentra sua atenção sobre 
a salvação do povo de Israel em particular 
(caps. 9- 1 1 ) . Diante desse enigma pasto­
ral e teológico, Paulo toma a oportunidade 
para explicar como a eleição do povo Israel 
promulgada por Deus no passado está com­
pletamente relacionada à grande rejeição do 
evangelho no presente. Sua argumentação é 
difícil de acompanhar, pois apresenta uma 
rede complexa de ecos, alusões e citações 
do AT. De modo geral, Paulo acompanha 
o enredo da história de Israel anunciada na 
Bíblia: inicia com Abraão, Isaac e Jacó (9, 
6- 1 3) , passa pelo Êxodo (9, 1 4- 1 8) , consi­
dera o Exílio (9, 25-29) , delineia passagens 
do tempo da restauração ( 1 0 , 1 -2 1 ) e encerra 
com a visão profética da salvação de Jacó-Is­
rael na Nova Aliança (1 l , 26-27) . Esses três 
capítulos reúnem quase um terço de todas 
as referências às escrituras hebraicas contidas 
na obra de Paulo. 
9, 1: "Não estou mentindo" - Uma 
firme declaração de inocência. Isso sugere 
que Paulo tivesse sido acusado de indiferen­
ça para com o povo de Israel . Ele usa essa 
mesma expressão para esclarecer suspeitas e 
rumores em 2Cor 1 1 , 3 1 e Gl 1 , 20. 
9, 3: "excluído de Cristo" - Paulo che­
gou a desejar que fosse afastado para a des­
truição e excluído de Cristo caso isso trou­
xesse a salvação para Israel . Ver escudo da 
palavra: Excluído em nosso escudo bíblico 
sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, 1 , 8 . 
• Moisés também expressou esse sentimento 
em um momento similar de apostasia nado-
5 3 
Cadernos de estudo bíblico 
nal (Ex 32, 32) , quando quase todo o povo 
de Israel foi apartado da graça na rebelião do 
cordeiro de ouro (Ex 32, 1 -6) . 
9, 4-5: Uma lista de bênçãos concedidas 
a Israel na Aliança. Essas bênçãos são sím­
bolos do compromisso irrevogável de Deus 
com o povo de Israel ( 1 1 , 29) , que lhe deu 
"superioridade" sobre as nações (3, 1 -2) ao 
aproximá-lo de Deus, organizar sua adora­
ção, e mostrar-lhe o caminho da justiça. O 
presente que coroa esse conjunto de bênçãos 
é o Messias, que veio ao mundo muitos sé­
culos após as primeiras bênçãos terem sido 
transmitidas ao povo por meio de Moisés e 
dos patriarcas. 
9, 5: "Cristo [ . . . ] Deus bendito para 
sempre!" - A pontuação desse versículo é 
muito discutida. Quando colocamos uma 
vírgula entre "Cristo" e "Deus" , como está em 
nossa tradução, a divindade de Jesus é confir­
mada. Quando colocamos um ponto no lu­
gar, distinguimos os dois, e Deus Pai é quem é 
louvado pela bênção final. Ambas as interpre­
tações são coerentes com a teologia paulina. 
9, 6 "nem todos [ . . . ] são Israel" - O 
tema central de Rm 9- 1 1 . Paulo explica que 
o povo eleito de Israel é um "resto" separado 
pela graça divina, e sempre foi um subcon­
junto do povo étnico de Israel ( 1 1 , 6-7) . 
rT'I 9, 7-13 - Paulo mostra que esse pa-
IJU drão de seleção e exclusão divina já 
estava em voga antes da fundação da nação 
de Israel . 
• Citando Gn 2 1 , 1 2 e 1 8 , 1 0 , ele mostra que 
Deus fez uma distinção entre os filhos bio­
lógicos de Abraão, escolhendo Isaac em vez 
de Ismael para ser o canal das bênçãos de sua 
aliança (9, 7. 9) . E depois, citando Gn 25 , 
23 e MI 1 , 2 -3 , mostra que Deus fez uma 
distinção entre os filhos biológicos de Isaac, 
escolhendo Jacó no lugar de Esaú para ser o 
canal das bênçãos de sua aliança (Rm 9, 1 2-
1 3) . A descendência biológica dos patriarcas 
não garante a participação nas bênçãos divi­
nas, porque tudo depende da graça do cha­
mado de Deus (9, 1 1 ; Lc 3, 8; Jo 8, 33-39) . 
9, 8: "filhos físicos [ . . . ] da promessa" -
Essa distinção se aplica aos filhos de Abraão e 
Isaac. Ismael e Esaú são filhos segundo a car­
ne, mas estão excluídos dos planos da aliança 
de Deus, enquanto que Isaac e Jacó são filhos 
da promessa, convocados pelo Senhor para 
ser veículo de suas bênçãos. 
A ira e a misericórdia de Deus - 19Então me dirás: "Que tem ele ainda a censurar? Pois, quem pode jamais 
resistir à sua vontade?"2ºPensa bem, homem! Quem és tu para contestares a Deus? Porventura vai o vaso de 
barro dizer a quem o modelou: "Por que me fizeste assim?"21Acaso não pode o oleiro, da mesma massa, fazer 
um vaso de luxo e outro vulgar? 22Se, pois, Deus, embora quisesse manifestar sua ira e tornar conhecido seu 
poder, suportou com muita paciência "vasos da irà' já preparados para a destruição; 23se, a fim de tornar 
conhecida a riqueza de sua glória para com os "vasos da misericórdià' que de antemão preparou para a glória . . . 
24Nós é que somos estes vasos de misericórdia que ele chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre 
os pagãos. 25É isso que ele diz no livro do profeta Oséias: ''Aquele que não era meu povo, eu o chamarei meu 
povo, e a não amada chamarei amada; 26e lá onde lhes foi dito: 'Vós não sois meu povo', ali serão eles chamados 
filhos do Deus vivo". 27Por seu lado, Isaías brada a respeito de Israel: "Mesmo se o número dos filhos de Israel 
for como a areia da praia, o resto é que será salvo; 28pois o Senhor cumprirá, plena e prontamente, sua palavra 
sobre a terrà'. 29É como predisse ainda Isaías: "Se o Senhor dos exércitos não nos tivesse deixado um germe, 
nos teríamos tornado como Sodoma e teríamos ficado iguais a Gomorrà'. 
5 4 
A carta de São Paulo aos romanos 
A falta de fé de Israel - 30Que vamos concluir? O seguinte: os pagãos, que não buscavam a justiça, 
alcançaram justiça - a justiça que vem da fé -, 31enquanto Israel, que procurava seguir uma lei de justiça, 
não chegou até esta lei. 32Porque queriam conseguir a justiça pela observância da Lei e não pela fé. Assim, 
tropeçaram na pedra de tropeço, 33como está escrito: "Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço, uma 
pedra que faz cair; mas quem nela crer não passará vergonhà'. 
9, 12: Gn 25 . 23. 9, 13: MI ! , 2-3. 9, 14: 2Cr 1 9, 7 . 9, 15 : Ex 33, 1 9. 9, 17: Ex 9 , 1 6. 9, 18: Rm 1 1 . 7. 9, 20: Is 29, 1 6; 45, 9 . 9, 21: 2Tm 
2, 20. 9, 22: Pv 16 , 4. 9,23: Rm 8, 29. 9, 24: Rm 3, 29. 9, 25: Os 2, 23; I Pd 2, 1 0. 9, 26: Os ! , 1 0. 9, 27: Is 1 0 , 22-23; Gn 22, 1 7; Os I , 
1 0 ; Rm 1 1 , 5 ; 2Rs 1 9 , 4 ; Is 1 I , 1 ! . 9, 29: I s I , 9 . 9 , 30: Rm 3 , 22; 1 0, 6 . 20; G I 2 , 1 6; 3 , 24; F I 3 , 9 ; H b 1 I , 7 . 9, 3 1 : I s 5 1 , ! ; Rm 1 0,2-3; 
1 1 , 7. 9, 32: I Pd 2 , 8. 9, 33: Is 28, 1 6; Rm 10, 1 1 . 
9 , 1 1 -12: "Aquele que chama'' - É por 
meio de seu chamado que Deus dá continui­
dade ao seu plano de eleição. Paulo introduz 
esse tema citandoGênesis em 9, 7 ("é em 
Isaac que terá começo a tua descendência") , 
e discursa sobre ele ao longo desse capítulo 
(9 , 24-26) . 
9, 13: "Amei mais aJacó do que a Esaú" 
- Isto não quer dizer que Deus predestinou 
Esaú ao castigo e à danação. 
lJJ 9, 14-18 - Paulo explica por que a 
eleição divina não é injusta. 
• Citando Ex 33, 1 9, ele mostra que a justiça 
de Deus é abundante em misericórdia (Rm 9, 
1 5) , como quando Ele foi misericordioso com 
o povo de Israel logo após ser abandonado 
pelo bezerro de ouro (Ex 32, l -6) . Citando Ex 
9, 1 6, mostra que Deus somente permitiu a 
tirania do faraó durante o Êxodo para poder 
revelar seu poder ao mundo (Rm 9, 1 7) . Pau­
lo está defendendo a liberdade de Deus de ser 
paciente e misericordioso com os pecadores, mas 
não sua liberdade de punir os pecadores . 
9, 18: "ele faz misericórdia [ • • • ] endu­
rece" - Do mesmo modo que Deus tratou 
o povo de Israel (9, 1 5) e o faraó (9 , 1 7) de 
formas diferentes no período do Êxodo, Ele 
também o faz nos tempos de Paulo, onde 
uma parcela do povo de Israel revela-se mi­
sericordiosa (9, 23-24) e o resto permanece 
endurecido ( 1 1 , 7 . 25 ) . O endurecimento 
divino não faz a pessoa pecar, mas é uma me­
dida disciplinar, aplicada àqueles que, como 
o faraó, já apresentam obstinada resistência a 
Deus (Ex 7, 1 4 ; 8, 1 5) . 
lJJ 9 , 2 1 "o oleiro" - Ilustra a liberdade 
soberana de Deus. 
• Paulo está fazendo uma alusão a Is 29, 1 6, 
embora essas mesmas imagens também sejam 
usadas em outras passagens do AT (Eclo 33, 
1 3 ; Is 45 , 9; Jr 1 8 , 1 - 1 1 ) . Isaías descreve o 
povo de Israel como um vaso de barro que 
reclama ao Senhor, questionando a sabedoria 
de seu manuseio. Deus repreende o povo de 
Israel por sua audácia, relembrando-o que Ele 
é o criador de todas as coisas e não deve satis­
fações a ninguém. 
9, 22: "preparados para a destruição" -
Essa expressão em grego pode significar que 
os vasos da ira, ao rejeitarem o evangelho, 
prepararam a si mesmos para a destruição. 
Paulo não está dizendo que Deus havia pre­
destinado os infiéis de Israel à danação; se 
assim fosse, ele não estaria rezando ( 1 0 , 1 ) 
e trabalhando ( 1 1 , 1 4) para a sua salvação 
(CIC 1 037) . 
5 5 
Cadernos de estudo bíblico 
fT1 9, 25-29 - As citações de Oséias e Isa­
LJU ías dão suporte à afirmação de Paulo 
em 9, 24 de que os gentios e uma parcela de 
judeus constituem os "vasos da misericórdià' 
(9, 23) . 
• Oséias prevê a restauração de todo o povo 
Israel , que iria sofrer muitos anos no exílio, 
dissolvendo suas tribos do Norte em nações 
gemias, para depois reunir-se novamente e 
restabelecer sua filiação na Aliança (Os 2, 23 
em 9, 25 e Os 1 , 10 em 9, 26) . Isaías descreve 
Javé salvando uma pane do povo de Israel ao 
passo que pune o resto da nação por causa de 
suas transgressões. Relacionando as passagens 
de Isaías com o contexto de Paulo, podemos 
dizer que o "resto" mencionadopelo profeta 
se refere às tribos do Norte e do Sul de Israel, 
respectivamente (Is 1 0, 22 em 9, 27-28 e Is 
1 , 9 em 9, 29) . Ver estudo da palavra: Resto 
neste estudo, 1 1 , 5 . 
9, 32 "pela fé": A parcela endurecida de 
Israel ( 1 1 , 7) não busca o objeto errado (jus­
tiça) , mas o objeto certo, pelos meios errados 
(pelas obras/sem fé) . O objetivo da Lei é le­
var os fiéis ao seu Messias ( 1 0 , 4) . 
fT1 9, 33 "Eis que ponho" - Paulo justa­
LJU põe os versículos Is 28, 1 6 e Is 8 , 14, 
construindo uma só frase com as duas passa­
gens . 
• Essas passagens têm em comum a imagem 
de uma pedra, um símbolo da realeza messi­
ânica na tradição judaica ( Targum de Isaías) . 
Tropeçar sobre uma pedra dramatiza a insensa­
tez dos descrentes ( 1 1 , 20; I Cor 1 , 23) . Paulo 
acredita que muitos em Israel tropeçaram mas 
ainda não caíram completamente ( 1 1 , 1 1 ) . Ele 
tem a esperança de que alguns recuperem o 
equilíbrio e adquiram fé em Jesus ( 1 1 , 23) . 
NOTAS 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 O 'Irmãos, o que desejo de todo o coração e peço por eles a Deus é que cheguem à salvaçáci. 2Sou 
testemunha de que eles têm zelo por Deus, porém, um zelo não esclarecido. 3Ignorando a justiça 
que vem de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se submeteram à justiça de 
Deus; 4pois Cristo é o fim da Lei, para que seja justificado rodo aquele que crê. 
A salvação é para os que crêem no Cristo - 5Em relação à justiça que vem da Lei, Moisés escreve: "Quem 
cumprir estas coisas, por elas viverá" . 6Mas quanto à justiça que vem da fé, diz a Escritura: "Não digas em 
teu coração: Quem subirá ao céu? (quer dizer: para de lá fazer descer o Cristo) ; 7ou: "Quem descerá ao 
abismo?" (para fazer subir o Cristo dentre os mortos) . 8Na realidade, que diz a Escritura? "A palavra está 
perto de ti, em tua boca e em teu coração" . Essa palavra é a palavra da fé que pregamos. 9Se, pois, com 
tua boca confessares que Jesus é Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás 
salvo. 'ºÉ crendo no coração que se alcança a justiça, e é confessando com a boca que se consegue a salvação. 
"Pois a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não passará vergonha'' . 12Portanto, não há diferença entre 
judeu e grego: rodos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com rodos os que o invocam. 13De fato, 
"rodo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". 140ra, como invocarão aquele em quem não 
creram? E como crerão naquele que não ouviram? E como o ouvirão, se ninguém o proclamar? 1 5E como o 
proclamarão, se não houver enviados? Assim é que está escrito: "Quão benvindos os pés dos que anunciam 
boas novas!" 1 6Mas nem todos obedeceram à Boa Nova, pois Isaías diz: "Senhor, quem acreditou em nossa 
pregação?" 17Logo, a fé vem pela pregação e a pregação, pela palavra de Cristo. 1 8Então, eu pergunto: 
Será que eles não ouviram? Certo que ouviram, pois a voz deles se espalhou por toda a terra e as suas 
palavras chegaram aos confins do mundo. 19Pergunto ainda: Porventura Israel não compreendeu? Moisés 
é o primeiro a dizer: "Eu vos levarei a ter ciúme de gente que não é nação, excitarei vossa ira contra uma 
nação que nada entende" . 20E Isaías chega a dizer: "Fui encontrado por aqueles que não me procuravam, 
revelei-me àqueles que não perguntavam por mim". 2 1E, referindo-se a Israel, diz: "O dia inteiro estendi as 
mãos a um povo desobediente e rebelde" . 
10, 2-4: Rm 9, 3 1 . 10, 3: Rm 1 , 1 7. 10, 4: GI 3, 24; Rm 3, 22; 7, 1 -4. 10, 5: Lv 1 8 , 5; Ne 9, 29; Ez 20, 1 1 . 1 3 . 2 1 ; Rm 7, 1 0. 10, 6: Dt 30, 
1 2 - 1 3 ; Rm 9, 30. 10, 8: Dt 30, 14. 10, 9: Mt 1 0 , 32; Lc 1 2, 8 ; At 1 6, 3 1 . 10, l i : Is 28, 1 6; Rm 9, 33. 10, 12: Rm 3, 22. 29; GI 3 , 28; CL 
3 , 1 1 ; At 1 0, 36. 10, 13: JI 2, 32; At 2, 2 1 . 10, 15: Is 52, 7 . 10, 16: Is 53, 1; ]o 1 2, 38. 10, 18: SI 1 9, 4 ; CI l, 6. 23 . 10, 19: Dt 32, 2 1 ; Rm 
1 1 , 1 1 . 1 4 . 10, 20: Is 65, l ; Rm 9, 30. 10, 2 1 : Is 65, 2 . 
COMENTÁRIOS 
10, 1-4: Ao invés de condenar e aban­
donar seus compatriotas, Paulo, aflito com a 
descrença do povo de Israel (9, 2) , reza inten­
samente por sua salvação. Antigo fariseu, ele 
conhecia muito bem o que o zelo não escla­
recido pelas tradições ancestrais podia causar 
nos judeus (Gl l , 14; Fl 3, 6; CIC 579) . 
10, 3: "a justiça" - Uma distinção entre 
a justiça da lei de Moisés (De 6, 25) e a justi­
ça do Messias (Rm 5, 1 7; Fl 3, 9) . A primeira 
é real , mas radicalmente deficiente; somente 
a segunda nos possibilita o ingresso no reino 
messiânico (Mt 5, 20) . 
� 10, 4 "o fim'' - O termo pode desig­
.. nar tanto "término" quanto "finalida­
de" . A segunda possibilidade é muito mais 
adequada, visto que Jesus veio antes para 
cumprir a Lei do que para aboli-la (Mt 5, 1 9 ; 
CIC 1 953) . 
• Cristo não é o fim que destrói, mas o fim 
que aperfeiçoa. Ele iluminou as sombras da 
Lei que prefiguravam sua chegada (Sto. Agos­
tinho, Réplica ao adversário da Lei e dos Pro­
jetas 2, 26-27) . 
5 7 
Cadernosmaiores sábios'. De fato, 'não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por 
eles falava - são palavras de Sto. Agostinho -, ensinar aos homens essas coisas - isto é, a íntima constituição do mundo visível 
- que nada importam para a salvação'. [ ... ] Nem pode ser acusado de erro o escritor sagrado, 'se aos copistas escaparam algumas 
inexatidões na transcrição dos códices' ou 'se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo'. Enfim, é absolutamente vedado 
'coarctar a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou; pois 
que a divina inspiração 'de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que 
Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja" - NE. 
8 
A carta de São Paulo aos romanos 
Isso significa que Deus é o autor primordial da Bíblia. Certamente Ele se serviu tam­
bém de autores humanos para essa tarefa, mas não é que Ele simplesmente os assistiu 
enquanto escreviam, ou então aprovou posteriormente aquilo que tinham escrito. 
Deus Espírito Santo é essencialmente o autor da Escritura, enquanto que os escritores 
humanos o são instrumentalmente. Esses autores humanos escreveram francamente 
tudo aquilo - e somente aquilo - que Deus queria: é a palavra de Deus nas exatas 
palavras de Deus. Esse milagre da dupla-autoria se estende a toda a Escritura e a 
cada uma de suas partes, de modo que tudo o que os seus autores humanos afirmam, 
Deus também afirma através de suas palavras. 
O princípio da inerrância bíblica decorre logicamente do princípio de sua divina 
autoria. Afinal de contas, Deus não mente, e nem erra. Sendo a Bíblia divinamente 
inspirada, nela não pode haver erro algum quanto àquilo que seus autores, tanto o 
divino quanto os humanos, afirmam ser verdadeiro. Isso quer dizer que o mistério 
da inerrância bíblica é de âmbito ainda mais abrangente que o de sua infalibilidade 
- a saber, o de que é garantido que a Igreja sempre nos ensinará a verdade em tudo 
aquilo que disser respeito à fé e à moral. É claro que o manto da inerrância sempre 
cobrirá também o campo das questões de fé e moral, mas ele se estende para mais 
longe ainda, no sentido de nos assegurar de que todos os fatos e eventos da histó­
ria de nossa salvação estão apresentados de modo exato na Escritura. A inerrância 
bíblica é a nossa garantia de que as palavras e os feitos de Deus narrados na Bíblia 
são verdadeiros e lá estão unificados, declarando numa só voz as maravilhas de seu 
amor salvífico. 
A garantia da inerrância bíblica não quer dizer, no entanto, que a Bíblia é uma 
enciclopédia universal, que serve a todos os propósitos e cobre todos os campos 
de estudo. A Bíblia não é, por exemplo, um compêndio das ciências empíricas - e 
não deve ser tratada como tal. Quando os autores bíblicos relatam fatos de ordem 
natural, podemos ter a certeza de que estão falando de modo puramente descritivo 
e "fenomenológico" , de acordo com a maneira como as coisas se apresentaram aos 
seus sentidos. 
AUTORIDADE BÍBLICA 
Implícito nessas doutrinas6 está o desejo de Deus de se fazer conhecido por todo 
o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem, mulher e criança 
que Ele criou. Deus nos deu a Escritura não apenas para nos informar ou nos moti­
var; mais do que tudo, Ele quer nos salvar. É este o principal propósito que perpassa 
cada página da Bíblia - e cada palavra sua, na verdade. 
6 As doutrinas da inspiração, da inerrância e da dupla-autoria da Bíblia - NE. 
9 
Cadernos de estudo bíblico 
No intuito de se revelar, Deus usa aquilo que os teólogos chamam de "acomoda­
ção" . Às vezes Ele se inclina para se comunicar conosco por "condescendência'' - ou 
seja, Ele fala à maneira dos homens, como se Ele tivesse as mesmas paixões e fraque­
zas que nós temos (por exemplo, quando Deus diz que "se arrependeu" de ter feito 
o homem sobre a Terra, em Gn 6, 6) . Noutras vezes, Ele se comunica conosco por 
"elevação" - ou seja, dotando as palavras humanas de um poder divino (por exem­
plo, através dos profetas) . Os inúmeros exemplos de acomodação divina na Bíblia 
são a expressão do modo sábio e paternal de proceder de Deus. Com efeito, um pai 
sensitivo fala com seus filhos tanto por condescendência, usando um palavreado in­
fantil, ou por elevação, trazendo o entendimento do filho a um nível mais maduro. 
A palavra de Deus é, portanto, salvífica, paternal e pessoal. Justamente porque 
fala diretamente conosco, nós nunca devemos ser indiferentes ao seu conteúdo; afi­
nal de contas, a palavra de Deus é, ao mesmo tempo, objeto, causa e sustento da 
nossa fé. Ela é, na verdade, um teste para a nossa fé, uma vez que nós só vemos na 
Escritura aquilo que nossa fé nos faz ver. Se nosso modo de crer é o mesmo da Igreja, 
vemos na Escritura a revelação salvífica e inerrante de Deus, feita por Ele mesmo. Se 
cremos de modo distinto, vemos um livro totalmente distinto. 
Esse teste é válido e aplicável não só aos fiéis leigos, como também aos teólogos da 
Igreja e até aos seus membros da mais alta hierarquia - inclusive para o seu Magisté­
rio. Recentemente, o Concílio Vaticano II enfatizou que a Escritura deve ser "como 
que a alma da sagrada teologia" .7 O Papa Emérito Bento XVI, ainda enquanto Car­
deal Ratzinger, ecoou esse ensinamento com as próprias palavras, insistindo que "os 
teólogos normativos são os autores da Sagrada Escritura'' (grifo nosso) . Ele nos lembra 
que a Escritura e o ensinamento dogmático da Igreja estão entrelaçados de forma tão 
firme ao ponto de serem inseparáveis: "O dogma é, por definição, nada mais que a 
interpretação da Escritura''. Os dogmas já definidos de nossa fé, portanto, guardam 
em si a interpretação infalível da Igreja daquilo que está na Escritura, e a teologia é 
uma reflexão posterior sobre eles. 
OS SENTIDOS DA SAGRADA ESCRITURA 
Como a Bíblia é, ao mesmo tempo, de autoria divina e humana, é necessário, 
para lê-la coerentemente, que dominemos um tipo de leitura distinto daquele ao 
qual estamos acostumados. Primeiramente, temos que lê-la de acordo com seu sen­
tido literal, ou seja, do mesmo modo como lemos qualquer outro escrito humano. 
Neste estágio inicial, devemos nos empenhar na descoberta do significado originário 
que tinham as palavras e expressões usadas pelos escritores bíblicos à época em que 
primeiramente foram escritas e recebidas por seus contemporâneos. Isso quer dizer, 
7 Cf. Dei Verbum, 24. 
IO 
A carta de São Paulo aos romanos 
entre outras coisas, que não devemos interpretar tudo que lemos "literalmente" , 
como se a Escritura nunca falasse de forma figurada ou simbólica (porque freqüen­
temente fala!) . Pelo contrário: a lemos de acordo com as regras de escrita que go­
vernam seus diferentes gêneros literários, que variam dependendo do que estamos 
lendo - se é uma narrativa, um poema, uma carta, uma parábola ou uma visão 
apocalíptica. A Igreja nos exorta a ler os livros sagrados dessa maneira a fim de nos 
fazer compreender, com segurança, o que os autores bíblicos estavam se esforçando 
para explicar ao povo de Deus a cada texto. 
O sentido literal, no entanto, não é o único da Escritura; nós interpretamos suas 
sagradas páginas também de acordo com seus sentidos espirituais. Dessa forma, bus­
camos compreender o que o Espírito Santo está tentando nos dizer para além daqui­
lo que afirmaram conscientemente os escritores humanos. Enquanto que o sentido 
literal da Escritura descreve realidades históricas - fatos, ensinamentos, eventos -, os 
sentidos espirituais desvelam os profundos mistérios abrigados através das realidades 
históricas. Os sentidos espirituais são para o literal o que a alma é a para o corpo. 
Você é capaz de distingui-los; porém, se tentar separá-los, a conseqüência imediata 
é fatal. São Paulo foi o primeiro a insistir nisso e já alertava para as conseqüências: 
"Deus [ . . . ] nos tornou capazes de sermos ministros dede estudo bíblico 
liJ 10, 5 "por elas viverá'' - Um excerto 
de Lv 1 8 , 5 . 
• O povo d e Israel é impelido a observar a 
Torá e deixar de lado as práticas dos egípcios 
e dos cananeus. A adesão da Lei traria vida ao 
povo de Israel. No entanto, era preciso enten­
der que a obediência era humanamente im­
possível sem a graça e o auxílio de Deus, que 
só são alcançados por meio da fé. Ver nota 
neste estudo, 5, 20. 
liJ 10, 6-8 - Paulo cita e interpreta a pas­
sagem de Dt 30, 1 2- 1 4. 
• Moisés explica ao povo de Israel que nin­
guém pode fugir da responsabilidade de obe­
decer à palavra de Deus, pois a Torá está ao 
alcance de todos os judeus. Seguindo o espí­
rito de Moisés, Paulo afirma que o povo de 
Israel não pode fugir da responsabilidade de 
obedecer à palavra do evangelho, como se 
fosse necessário galgar as alturas e profunde­
zas para encontrar Cristo. Pelo contrário, o 
evangelho foi ao seu encontro por meio das 
Escrituras e dos esforços missionários da Igre­
ja ( 1 0, 1 7- 1 9) . Eles , portanto, não podem 
alegar ignorância da boa nova. 
10, 10: "coração [ . . . ] boca'' - Paulo faz 
uma relação entre esses órgãos e a convicção 
interna (coração) e a confissão externa (boca) 
da fé em Jesus. As imagens são retiradas da 
citação de Deuteronômio em 1 0 , 8 . 
10 , 1 1 : "Todo aquele que nele crer"­
Uma referência a Is 28, 1 6, já citado em Rm 
9, 33 . 
10, 12: "não há diferença'' - Todas as 
nações serão salvas em Cristo assim como to­
das as nações pecaram antes de sua chegada 
(3, 9. 22-23) . 
liJ 10, 13 "todo aquele que invocar" -
Uma citação de Jl 2, 32. 
• O profeta tem a visão de um tempo de jul­
gamento e salvação na era messiânica, onde o 
Espírito será derramado sobre todos os viven­
tes , e uma parcela de Israel será salva. Pedro 
inicia com essa passagem seu sermão inaugu­
ral nos Atos dos Apóstolos, onde relaciona a 
invocação do "nome" do Senhor com o Batis­
mo (At, 2, 2 1 . 38 ; CIC 432; 449; 2666) . Ver 
nota em nosso estudo bíblico sobre os Atos 
dos Apóstolos , 2, 1 7-2 1 . 
liJ 10, 14-17 - Paulo salienta a necessi­
dade de disseminar o evangelho. Se 
não forem enviados missionários e Cristo 
não for proclamado, o mundo não poderá 
recorrer a seu salvador (CIC 875) . 
• Paulo faz dois excertos de Isaías , que pre­
vêem tanto a evangelização de Israel (1 O, 1 5 ; 
Is 52 , 7) quanto a trágica rejeição do Messias 
( 1 0 , 1 6; Is 53 , l ; CIC 60 1 ) . Consciente de 
que alguns em Israel haviam aceitado a men­
sagem, Paulo ,tomando cuidado para não os 
ofender, diz que nem todos haviam abraçado 
o evangelho ( 1 O, 1 6) . 
liJ 10, 18 "a voz deles" - Uma citação 
de Sl 1 9 , 4 . 
• O salmista descreve como os Céus procla­
mam a glória de Deus por todo o mundo. 
Paulo empresta essa imagem para explicar 
como o evangelho tinha ressoado por toda a 
Terra, anunciando aos dispersos a chegada do 
Messias (Cl 1 , 5 -6) . 
liJ 10, 19 "Eu vos levarei a ter ciúme" 
- Uma citação de Ot 32, 2 1 . 
• Deuteronômio 32 é um cântico profético 
que prevê a rebelião e restauração de Israel 
muito cempo após o Êxodo. Essa restauração 
envolverá a salvação de uma nação que nada 
entende (gentios) , fato que irá enfurecer ai-
A carta de São Paulo aos romanos 
guns em Israel, mas deixará oucros com ci­
úme de suas bênçãos, instigando-os a imitar 
sua fé ( 1 1 , 1 1 . 14 ) . 
ESTUDO DA PALAVRA: RESTO (RM 1 1 , 5) 
L
eimma (grego) : "porção" ou "sobrà' . No contexto bíblico, o termo é 
usado para referir-se aos sobreviventes do povo de Deus que escaparam 
de guerras, catástrofes, e castigos divinos. No AT há ocorrências de termos 
similares em contextos onde a punição de Deus sobre seu povo cessa pouco antes 
de tornar-se uma aniquilação total. Desse modo, podemos dizer que a família 
de Noé é o resto sobrevivente do dilúvio (Eclo 44, 1 7) , e Jacó e seus filhos são o 
resto sobrevivente de uma grande fome (Gn 45 , 7) . Quando o Reino de Israel foi 
dividido, o termo "resto" passou a significar, primeiro, o restante dos israelitas do 
Norte que foi poupado dos ataques assírios em 722 a. C. (Is 1 0, 20-22; Jr 3 1 , 7; 
Am 3, 1 2) . Mais tarde começou a ser usado para designar os israelitas do Reino 
Sul de Judá que escaparam da morte na conquista babilônia de Jerusalém em 586 
a . C. (Ed 9, 8 ; Jr 40 , 1 1 ; Ag l , 1 2) . Muitos profetas esperaram ansiosamente que 
Deus restaurasse o resto dos povos de Israel e de Judá espalhados pelo mundo, 
reunindo-os novamente como seu povo (Is 1 1 , 1 1 ; Jr 50, 20; Zc 8, 1 2- 1 3) . 
lJJ 10, 20-21 - Paulo faz uma demons­
tração final para provar que o povo 
infiel de Israel é culpado de desobediência 
intencional . 
• Paulo examina dois versículos seqüen­
ciais de Isaías, aplicando o primeiro aos 
gentios ( 1 0, 20; Is 65 , 1) e o segundo aos 
desobedientes de Israel ( 1 0 , 2 1 ; Is 65 , 2) . O 
contraste é forte: as nações estão recebendo 
com entusiasmo o evangelho sem tê-lo bus­
cado, ao passo que o povo de Israel continua 
indiferente apesar dos persistentes apelos do 
Senhor. 
5 9 
NOTAS 
Cadernos de estudo bíblico 
1 1 A rejeição de Israel não é definitiva - 1Eu pergunto: Será que Deus rejeitou o seu povo? De 
modo algum! Pois eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim . . . 
2Deus não rejeitou o seu povo que ele, desde sempre, distinguiu e escolheu. Não sabeis o que diz a 
Escritura na passagem em que Elias interpela Deus contra Israel, dizendo: 3"Senhor, mataram os teus profetas, 
demoliram teus altares, e eu fiquei só, e querem tirar-me a vidà'. 4E que resposta lhe dá o oráculo do céu? 
"Reservei para mim sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal". 5Assim também agora, em 
nossos dias, subsiste um "resto", por livre escolha da graça. 6Mas, se é pela graça, já não é em razão das obras; 
do contrário, a graça já não é graça. 7Daí, o que se conclui? Israel não conseguiu aquilo que está procurando; 
só os escolhidos é que o conseguiram; os demais se tornaram embotados, 8como está escrito: "Deus lhes deu 
um espírito de torpor, olhos que não vejam e ouvidos que não ouçam, até ao dia de hoje". 9E Davi diz: "Que 
sua mesa seja para eles como um laço e uma armadilha, causa de queda e justa retribuição; 10que seus olhos se 
escureçam até à cegueira completa. Mantém sempre curvado o dorso deles!" 
A salvação dos gentios - 1 1Eu pergunto, pois: porventura eles tropeçaram para cair de vez? Não, de modo 
algum. O passo em falso que deram serviu para a salvação dos pagãos, e isto, para despertar ciúme neles. 
12Üra, se o passo em falso deles significou riqueza para o mundo, e o seu fracasso, riqueza para os pagãos, 
quanto mais significará a adesão de todos eles! 1 3A vós, vindos do paganismo, eu digo: enquanto eu for 
apóstolo dos pagãos, honrarei o meu ministério. 14na esperança de despertar ciúme nos da minha raça e 
assim salvar alguns deles. 1 5Se o afastamento deles foi reconciliação para o mundo, o que não será a sua 
acolhida? Será uma passagem da morte para a vida! 16Aliás, se as primícias são santas, a massa toda também 
é santa; e se a raiz é santa, os ramos também são santos . 17Se alguns ramos foram cortados e tu, oliveira 
silvestre, foste enxertada no lugar deles e, assim, te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira 
cultivada, 1 8não te gabes à custa dos ramos cortados. Se, no entanto, cederes à vanglória, toma consciência 
de que não és tu que sustentas a raiz, mas é a raiz que te sustenta. 19Dirás: Alguns ramos foram cortados 
para que eu fosse enxertado. 20Bem! Esses ramos foram cortados por causa de sua incredulidade, mas 
tu, é pela fé que estás firme . . . Portanto, não te ensoberbeças; antes, teme. 2 1Pois se Deus não poupou os 
ramos naturais, nem a ti poupará. 22Repara na bondade e na severidade de Deus: para com os que caíram, 
severidade; para contigo, bondade, contanto que perseveres nessa bondade; do contrário, também tu serás 
cortado. 23E eles, se deixarem de ser incrédulos, serão enxertados:Deus é bastante poderoso para enxertá-los 
de novo. 24Pois se tu foste cortado da oliveira silvestre, à qual pertencias por natureza, e se, contrariamente 
à natureza, foste enxertado na oliveira cultivada, quanto mais eles serão enxertados em sua própria oliveira, 
à qual pertencem por natureza. 
1 1 , 1: I Sm 1 2, 22; Jr 3 1 , 37; 33, 24-26; 2Cor l i , 22; Fl 3 , 5 . 1 1 , 2: 51 94, 1 4 ; I Rs 1 9 , 1 0 . 1 1 , 4: ! Rs 1 9 , 1 8 . l l , 5: 2Rs 1 9 , 4; Is l i , l i ; 
Rm 9, 27. 1 1 , 6: Rm 4, 4 . 1 1 , 7: Rm 9, 1 8 . 3 1 ; 1 1 , 25 . 1 1 , 8: Is 29, 1 0; Dr 29, 4 ; Mt 1 3 , 1 3- 1 4 . 1 1 , 9: Sl 69, 22-23. 1 1 , 1 1 : Rm 1 0, 1 9 ; 1 1 , 
1 4. 1 1 , 13: At 9, 1 5 . 
COMENTÁRIOS 
1 1 , 1 "rejeitou o seu povo?" - Paulo 
nega enfaticamente essa possibilidade. Para 
Paulo, a falta de fé de Israel não anula a fi­
delidade de Deus, que se recusa a abandonar 
seu povo ( l Sm 1 2, 22; Sl 94, 14) . Paulo é a 
prova viva disso, sendo um israelita que vi­
venciou a graça e misericórdia de Cristo. 
fT'l 1 1 , 2-4 - A Escritura nos mostra que 
LJ.U Deus preserva uma parcela de Israel 
até quando a grande maioria da nação se des­
via do caminho. 
• Esse foi o caso no tempo de Elias , quando 
quase todos os israelitas do Reino do Norte 
abandonaram Javé para prestar culto idó­
latra a Baal ( l Rs 1 6 , 30-32) . O profeta se 
60 
desesperou achando que só ele sobrara, mas 
o Senhor tinha preservado um resto de sete 
mil homens fortes, que se salvaram de sua 
profecia. 
liJ " 1 1 , 8- 1 O" - Paulo invoca a Lei, os 
profetas, e os salmos para testemu­
nhar contra a nação endurecida de Israel . 
• Moisés descreve como Javé não concedia as 
dádivas da compreensão espiritual (olhos e 
ouvidos) à geração de Israel do deserto devi­
do à sua falta de fé, ingratidão e idolatria ( 1 1 , 
8 ; D t 29, 4) . O mesmo cenário repetiu-se nos 
tempos de Isaías, quando o Senhor puniu o 
povo de Israel com um espírito de torpor, 
fazendo-o cambalear em trevas espirituais, 
trôpego e indiferente aos seus alertas ( 1 1 , 8 ; 
Is 29, 1 0) . Davi invocou uma maldição simi­
lar sobre seus inimigos em Israel por causa de 
suas injustiças ( 1 1 , 9; SI 69, 22-23) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 1 , 1 1 : "para despertar ciúme neles" -
Os tropeços de Israel são temporários para o 
seu povo e benéficos para os gentios. Enquanto 
Israel recobria seu passo, uma janela foi aberta 
para reunir outros povos na Igreja ( 1 1 , 1 7-24) . 
1 1 , 13: "vindos do paganismo" - Paulo 
dirige-se diretamente aos gentios, alertando­
-os sobre o orgulho. Alguns gentios conver­
tidos olhavam com desdém para o povo de 
Israel, como se tivessem substituído o povo 
da Aliança na era messiânica. Paulo não só 
repudia esse comportamento ( 1 1 , 1 ) , como 
avisa que os gentios também podem ser re­
jeitados tão facilmente quanto foram aceitos . 
Ao invés de procederem desta forma, eles de­
veriam ficar maravilhados por Deus lhes ter 
incluído nas bênçãos espirituais concedidas a 
Israel ( 1 5 , 27) . O anti-semitismo pagão era 
muito difundido na antigüidade romana. 
Todo o Israel será salvo - 25Para que não confieis demais em vossa própria sabedoria, irmãos, desejo que 
conheçais este mistério, a saber: o endurecimento de uma parte de Israel vai durar até que tenha entrado 
a totalidade dos pagãos. 26E então rodo o Israel será salvo, como está escrito: "De Sião virá o Libertador; ele 
removerá as impiedades do meio de ]acó. 27 E esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados". 
28De faro, quanto ao evangelho, eles são inimigos, para benefício vosso; mas, como povo escolhido, são 
amados, por causa dos pais. 29Com efeito, os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. 300urrora, vós fostes 
desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, em conseqüência da desobediência deles. 31Agora, 
são eles que desobedecem, dando ocasião à misericórdia de Deus para convosco, para que, finalmente, eles 
também alcancem misericórdia. 32Pois Deus encerrou rodos na desobediência, a fim de usar de misericórdia 
para com rodos. 33Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Como são 
insondáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! 34De fato, quem conheceu o pensamento do 
Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 350u quem se antecipou em dar-lhe alguma coisa, de maneira a ter 
direito a uma retribuição? 36Na verdade, tudo é dele, por ele e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém! 
1 1 , 14: Rm 10 , 1 9; 1 1 , 1 1 ; ! Cor 9, 22. 1 1 , 15 : Lc 1 5 , 24. 32. 1 1 , 20: 2Cor 1 , 24. 1 1 , 25: ! Cor 2, 7- 1 0; Ef 3, 3-5 . 9; Rm 9. 1 8 ; 1 1 , 7; Lc 
2 1 , 24. 1 1 , 26: ls 59, 20-2 1 . 1 1 , 27: Jr 3 1 . 33; Is 27, 9. 1 1 , 32: Rm 3, 9; GI 3, 22-29. 1 1 , 33: CI 2, 3. 1 1 , 34: Is 40, 1 3- 1 4; ! Cor 2, 1 6. 1 1 , 
35: ]ó 35 , 7; 4 1 , 1 1 . 1 1 , 36: ! Cor 8, 6; 1 1 , 1 2 ; CI 1 , 1 6; Hb 2, 1 0. 
1 1 , 14: "nos da minha raçà' - Literal­
mente, "minha carne" . Paulo está se refe­
rindo aos seus parentes israelitas "segundo a 
carne" (9, 3-4) . 
liJ 1 1 , 15 "uma passagem da morte 
para a vida!" - Como os profetas do 
AT, Paulo vê a recuperação espiritual de Isra­
el como uma ressurreição nacional (Is 26, 
1 9 ; Ez 37, 1 - 1 2; Os 6, 2) . 
6 r 
Cadernos de estudo bíblico 
1 1 , 1 6: "primícias" - A oferta de ali­
mento ao Senhor com os frutos da primeira 
colheita do ano (Nm 1 5 , 1 7-2 1 ) . 
"A raiz": Antecipa a parábola da oliveira 
que a procede em 1 1 , 1 7-24. As primícias e 
a raiz provavelmente simbolizam os patriar­
cas, que são os fundadores ancestrais de Is­
rael (9 , 5) e o motivo pelo qual o povo de 
Israel é amado por Deus ( 1 1 , 28) . Outros 
interpretam as imagens como uma referência 
a Cristo ( 1 5 , 1 2 ; l Cor 1 5 , 23) ou aos judeus 
cristãos (Rm 1 6, 5; l Cor 1 6, 1 5) . 
fT1 1 1 , 17-24 - Paulo retrata o povo mes­
LJ.U siânico como uma oliveira, composta 
por uma parte original (os crentes de Israel) , 
uma parte enxertada (os crentes gentios) , e 
outra parte desmembrada (os descrentes de 
Israel) . O processo hortícola de enxertar mu­
das silvestres em um tronco cultivado tinha a 
finalidade de revigorar uma árvore antiga e 
fraca, que estivesse dando cada vez menos 
frutos. Essa analogia nos mostra que o povo 
de Israel não está sendo rebaixado de sua po­
sição de nação favorecida, tampouco os gen­
tios estão sendo elevados quando passam a 
participar em suas bênçãos ( 1 5 , 27) . 
• A imagem de Israel como uma oliveira vem 
de Jr 1 1 , 1 6- 1 7. 
1 1 , 20: "por causa de sua incredulida­
de" - Do mesmo modo que os gentios são 
enxertados na Aliança por meio da fé, tam­
bém os israelitas desmembrados serão enxer­
tados na árvore se tiverem fé em Jesus Cristo. 
1 1 , 22: "na bondade e na severidade de 
Deus" - A justiça e a misericórdia de Deus 
são mantidas em delicado equilíbrio: Ele não 
recusa o perdão a um coração contrito, mas 
também não faz vista grossa da dureza de um 
coração impenitente. 
1 1 , 25: "mistério" - O plano de salvação 
mundial que estava escondido nas Escrituras 
( 1 6 , 25-26) e foi revelado pelo Espírito (Ef 
3, 4-6) . 
"Uma parte de Israel" - Aqueles em Is­
rael que são indiferentes ao evangelho ( 1 1 , 
7) . Apenas alguns em Israel estão endureci­
dos dessa maneira, já que uma parcela de is­
raelitas étnicos passou a crer em Jesus como 
o Messias ( 1 1 , 5 ) . O Próprio Paulo está entre 
essa parcela de convertidos ( 1 1 , 1 ) . 
' 'A totalidade dos pagãos": Todas as 
pessoas e nações do mundo que virão a ter 
fé em Cristo. Paulo desempenhou um pa­
pel fundamental na realização deste objetivo 
missionário da Igreja ( 1 , 5; 1 1 , 1 3) . Só Deus 
sabe quando esse trabalho de conversão dos 
gentios chegará ao seu termo (CIC 674) . 
fT1 1 1 , 26 "E então" - Essa expressão em 
LJ.U grego pode significar tanto "e deste 
modo" (modal) quanto "e depois" (temporal) . 
"Todo o Israel": Toda a família tribal de 
Israel. Paulo não está dizendo que todos os 
israelitasserão salvos, mas apenas um grupo 
de descendentes de todas as doze tribos (Ap 
7, 1 -8 ) . Ver ensaio: A salvação de todo o Israel 
neste estudo, 12 . 
"Como está escrito": Paulo combina ci­
tações de Is 59 , 20-2 1 e Is 27, 9 . 
• Isaías tem a visão da restauração de Jacó-lsra­
el depois do exílio e do pecado. A nova aliança 
de Javé trará ao seu povo uma nova abundân­
cia de misericórdia e perdão ( 1 1 , 27; J r 3 1 , 
3 1 -34) . A expressão De Sião é formulada de 
maneira distinta em Is 59, 20 ("para Sião") e 
pode ter sido retirada de Is 2, 3, passagem que 
prevê que a palavra do Senhor sairá de Jerusa­
lém para todas as nações ( 1 5 , 1 9 ; Lc 24, 47) . 
6 2 
1 1 , 28: "inimigos" - Temporariamente, 
até a sua salvação ( 1 1 , 26) . 
"Amados": Deus nunca revogará suas 
promessas a Israel por causa dos patriarcas 
(9 , 5 ) , mas ama seu povo com o "amor da 
eternidade" (J r 3 1 , 3) . 
1 1 , 32: "encerrou todos na desobedi­
ência'' - Deus permitiuque todos pecassem 
para que todos pudessem receber a salvação 
(3 , 9 . 23) . Seu plano de salvação avança ape­
sar da rebelião do homem. 
A carta de São Paulo aos romanos 
lIJ 1 1 , 33-36 - A doxologia de conclu­
são dessa seção celebra a sabedoria in­
finita de Deus. Maravilhado e dominado por 
completo, Paulo suspira ao ver o plano in­
sondável e impenetrável de Deus para a sal­
vação do mundo por meio de Cristo. 
• As citações de Is 40, 1 3 (em 1 1 , 34) e Jó 
4 1 , 1 1 (em 1 1 , 35) retratam como os projetos 
de Deus estão acima de nossa compreensão 
e como sua grandeza independe de qualquer 
retribuição do mundo. 
ENSAIO: A SALVAÇÃO DE TODO O ISRAEL 
N
o ápice de sua argumentação em Rm 9, 1 1 , Paulo faz uma afirmação 
surpreendente: "todo o Israel será salvo" (Rm 1 1 , 26) . O que ele quer 
dizer com isso já foi tema de um número considerável de debates. Duas 
questões, ambas cruciais para compreensão do sentido desse versículo e de toda 
a argumentação em Rm 9, 1 1 , devem ser examinadas: Quem é "todo o Israel" ? E 
como todo o Israel será "salvo"? 
QUEM É TODO O ISRAEL? 
Várias respostas são dadas a essa pergunta hoje. De acordo com alguns estudiosos, 
Paulo está falando sobre a Israel espiritual, ou seja, a Igreja composta por judeus e 
gentios convertidos à cristandade. De acordo com outros estudiosos, Paulo está se 
referindo à salvação dos judeus étnicos, seja de todas as gerações ou apenas da geração 
dos tempos de Paulo. É mais provável, no entanto, que a expressão "todo o Israel" 
designe a Israel étnica, ou seja, a reunião dos fiéis de todas as doze tribos de Israel 
em todas as eras. Em outras palavras, Paulo está aludindo a toda a nação da Aliança 
descendente dos doze filhos do patriarca Jacó (renomeado Israel, Gn 32, 28) . 
Várias considerações pesam em favor dessa terceira alternativa. 
1 A seção intermediária da Carta aos Romanos (9- 1 1 ) é dominada pelos termos 
"Israel" (onze vezes) e " israelita'' (duas vezes) . Isso faz um forte contraste com 
a primeira seção (Rm 1 -8 ) , onde Paulo usa apenas o termo "judeus" (nove 
vezes) . A mudança do uso exclusivo de "judeus" para o uso quase exclusivo de 
"Israel" e "israelita'' aponta para uma sutil, mas significativa, distinção entre 
esses termos. Essa distinção teve origem quando as tribos de Israel se dividiram 
em dois reinos após o reinado de Salomão ( l Rs 1 2) . Dez tribos do Norte se 
romperam e formaram a "casa de Israel" , enquanto que as duas tribos do Sul, 
Cadernos de estudo bíblico 
Judá e Benjamim, formaram a "casa de Judá'' . Ao longo de muitos séculos, 
primeiro as tribos do Norte e depois as tribos do Sul foram forçadas ao exílio, e 
muitas delas j amais retornaram. Os poucos que eventualmente retornaram da 
escravidão e se reinstalaram na Palestina no século VI a. C. ficaram conhecidos 
como "judeus" , recebendo esse nome por causa de sua tribo dominante (Judá) 
e ocupando as terras ao redor de Jerusalém, no Sul (Judéia) . Nos tempos de 
Paulo, o termo "judeu" tinha um significado mais amplo, e era usado para de­
signar os que seguiam a religião de Moisés, o j udaísmo, e tinham como edifício 
central de sua vida espiritual o Templo de Jerusalém, independentemente de 
morarem na Judéia ou não.A maioria dos j udeus religiosos da época traçava sua 
linhagem até as tribos de Judá, Benjamim e Levi. Parece, então, que, quando 
Paulo começa a falar "Israel" em Rm 9- 1 1 , ele muda o termo para adquirir 
uma perspectiva histórica mais ampla, que se estende para além do círculo dos 
"judeus" e evoca a memória de "todo o Israel" - a família nacional das doze 
tribos (Dt 27, 9; Js 3, 1 7; 2Sm 5 , 5; l Cr 9, 1 ; Ed 6, 1 7; Tb 1 , 4-6; etc . ) . Em 
outras palavras, Paulo parece estar consciente de que a noção clássica de "Isra­
el" é mais inclusiva e abrangente do que a noção contemporânea de "judeus" . 
2 Enquanto desenvolve seu argumento em Rm 9- 1 1 , Paulo cita passagens do 
Antigo Testamento que prometem a salvação de todas as tribos de Israel. Várias 
tribos do Reino do Norte de Israel (por exemplo, Is 1 0, 22-23 em Rm 9, 27-
28, e l Rs 1 9, 10 em Rm 1 1 , 4) e do Reino do Sul de Judá (Is l , 9 em Rm 9, 
29, e Jl 2 , 32 em Rm 1 0, 1 3) são citadas nessas passagens. 
3 Quando descreve a si mesmo como um "israelità' em Rm 1 1 , l , Paulo faz uma 
referência explícita a sua afiliação tribal (tribo de Benjamim) . 
4 A esperança de Paulo da salvação de "todo o Israel" é coerente com as profe­
cias do Antigo Testamento, nas quais a restauração espiritual de todas as doze 
tribos, após séculos de divisão e exílio entre os gentios, é uma das principais 
expectativas para a era messiânica (Eclo 36, 1 1 ; 48, 1 0; Is 1 1 , 1 1 - 1 2; 49, 6; Jr 
3, 1 8 ; 50, 1 7-20; Ez 37, 1 5-28; 48, 1 -35 ; Zc 8, 1 3 , etc. ) . A mesma esperança 
de restauração das doze tribos é expressa em fontes j udaicas antigas que não 
compõem a Bíblia (por exemplo, 4 Esdras 1 3, 39-48; Salmos de Salomão 1 7, 
28 . 44; Testamento de Benjamim 9, 2 ; 1 0, 1 1 ; 2 Baruc 78, 4-7) . 
COMO TODO O ISRAEL SERÁ SALVO? 
Ao menos duas perspectivas diferentes de como "todo o Israel" será salvo cir­
culam atualmente. 
1 ) A perspectiva da dupla-aliança, desenvolvida na modernidade, sustenta que o 
povo de Israel será salvo independentemente de Cristo e de qualquer aceitação 
do evangelho. Em outras palavras, proponentes dessa perspectiva imaginam 
um arranjo da Aliança em que a aliança de Moisés continua em vigor juntamente 
A carta de São Paulo aos romanos 
com a Nova Aliança, tendo a primeira a finalidade de salvar os judeus, e a segun­
da, de salvar os gentios. Em suporte a isso, os defensores dessa idéia argumentam 
que "Cristo" nunca é explicitamente mencionado no capítulo 1 1 da Carta aos 
Romanos, que "a salvação" prevista por Isaías se refere a Javé, e não ao Messias (Is 
59, 20 citada em Rm 1 1 , 26) , e que a "aliança'' de perdão mencionada por Isaías 
é a aliança de Moisés, e não a Nova Aliança (Is 27, 9, aludida em Rm 1 1 , 27) . 
2) A perspectiva da Nova Aliança, defendida pela grande maioria dos intérpretes 
ao longo dos séculos, sustenta que o povo de Israel será salvo pela graça de Jesus 
Cristo. Essa segunda perspectiva é muito mais provável que a primeira, visto que 
é coerente com o contexto imediato de Rm 9- 1 1 e com o contexto mais amplo 
da teologia de Paulo e de seus escritos. Na realidade, a perspectiva da dupla 
aliança entra em conflito com a mensagem completa da Carta aos Romanos, isto 
é, de que o evangelho de Jesus Cristo traz a "salvação" tanto aos judeus quanto 
aos gentios (Rm l , 1 6) , que se deve confessar a fé em Jesus para ser "salvo" (Rm 
1 0, 9) , e que Paulo pensa seus esforços missionários entre os gentios como um 
meio de "salvar" seus parentes israelitas (Rm 1 1 , 1 4) . Há todos os motivos para 
supor, ademais, que Paulo está pensando em Cristo e na Nova Aliança quando 
cita as palavras de Isaías em Rm 1 1 , 26-27. Para Paulo, o Cristo ressuscitado é o 
nosso Salvador ( l Ts 1 , 1 0) e aqueleque retira o pecado através dos sacramentos 
da Nova Aliança (Rm 6, 1 - 1 1 ) . Comparada com a Nova Aliança, a aliança de 
Moisés mais condena do que salva (At 1 3, 38-39; Rm 3, 20; 2Cor 3, 4- 1 1 ) . De 
acordo com Paulo, não há, portanto, um "meio alternativo" para a salvação de 
Israel sem a graça de Jesus Cristo, que é alcançada por meio da pregação e da 
aceitação do evangelho (Rm 1 0, 14- 1 7; CIC 765 ; 839-40) . 
O CLÍMAX da argumentação de Paulo é a revelação de que os israelitas de todas 
as doze tribos serão salvos pelo Messias através da misericórdia e do perdão da 
Nova Aliança (Rm 1 1 , 26-27) . Sob essa ótica, o ensinamento de Paulo simples­
mente ecoa o ensinamento de Jesus, que não só escolheu doze apóstolos para 
simbolizar a restauração messiânica de Israel (Mt 1 0, 2-5 ) , mas os enviou para re­
colher as "ovelhas perdidas" de seu povo (Mt 1 0, 6) , e prometeu sentá-los em doze 
tronos, sobre as "doze tribos de Israel" (Mt 1 9, 28) . Nada disso é surpreendente 
quando consideramos que a Igreja, que é o reino messiânico de Jesus (Mt 1 6, 
1 7- 1 9; Lc 22, 28-30) , é construída sobre o antigo Reino de Davi, que unificou as 
doze tribos sob o rei ungido (2Sm 5 , 1 -5 ; l Rs 1 1 , 42) e ultrapassou as fronteiras 
de Israel, abraçando os povos gentios ( l Rs 4, 2 1 ; Sl 2, 8; 72, 8- 1 1 ) . Para mais 
detalhes sobre esse tema no Novo Testamento, ver nota em nosso estudo bíblico 
sobre o evangelho de São Lucas, l , 33, o ensaio: O Restabelecimento do Reino em 
nosso estudo bíblico sobre o livro dos Atos dos Apóstolos, e passagens relaciona­
das em At 26, 7; Tg l , 1 , e Ap 7, 1 -8 ; 2 1 , 1 0- 1 4 . 
Cadernos de estudo bíblico 
1 2A vida nova em Cristo - 1Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos 
corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto. 2Não vos 
conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, 
para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é 
perfeito. 3Pela graça que me foi dada, recomendo a cada um de vós : ninguém faça de si uma idéia muito 
elevada, mas tenha de si uma justa estima, de acordo com o bom senso e conforme a medida da fé que 
Deus deu a cada um. 4Como, num só corpo, temos muitos membros, cada qual com uma função diferente, 
5assim nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. 
6Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção 
com a fé recebida. 7É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de ensinar? Dediquemos-nos 
ao ensino. ªÉ o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui donativos, faça-o com simplicidade; quem 
preside, presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. 
12, l : Rm 6, 1 3 . 1 6. 1 9; 1 Pd 2, 5 . 12, 2: 1Jo 2, 1 5 ; Ef 4, 23; 5 . 1 0 . 12, 4: ! Cor 1 2, 1 2- 1 4 ; Ef 4, 4 . 1 6. 12, 5: l Cor 10 , 1 7; 1 2, 20. 27; Ef 4, 
25 . 
COMENTÁRIOS 
12, 1-15, 13: Paulo nos apresenta uma 
catequese moral na seção final da Carta aos 
Romanos. Esse ensinamento não é uma obra 
posterior às duas seções anteriores, mas uma 
aplicação prática da teologia exposta na carta. 
Paulo dá instruções sobre a adoração a Deus 
( 1 2 , 1 -2) , o convívio na Igreja ( 1 2 , 3-2 1 ) , 
a relação com o s governos e as autoridades 
( 1 3 , 1 -7) , e nos ensina a evitar conflitos ( 1 4, 
1-15 , 1 3 ; CIC 1454; 1 97 1 ) . 
12, 1 -2: A adoração que Paulo descre­
ve nesses versículos faz forte contraste com 
a adoração idólatra descrita em 1 , 1 8-32. 
Os fiéis adoram racionalmente; os idólatras 
adoram irracionalmente ( 1 , 22) . Os fiéis 
oferecem o corpo a Deus em sacrifício; os 
idólatras desonram o corpo através da imo­
ralidade sexual ( 1 , 24) . Os fiéis lutam para 
renovar sua inteligência com a verdade; os 
idólatras turvam sua razão com o erro ( 1 , 
2 1 ) . Os fiéis discernem a vontade divina; 
os idólatras desprezam a vontade divina e 
servem à sua própria vontade ( 1 , 32) . Para 
Paulo, a diferença entre a adoração cristã e 
a pagá é a diferença entre uma queda-livre 
espiritual degradante ( 1 , 1 8-32) e um sa­
crifício espiritual ascendente ( 1 2 , 1 -2 ; CIC 
203 1 ) . 
� 12, 1 "misericórdia de Deus" -
� Tema principal dos capítulos anterio­
res (9 , 1 5- 1 6 . 1 8 . 23; 1 1 , 30-32) . 
"Sacri6cio vivo": Sacrificar o corpo sig­
nifica suprimir as ações e intenções da carne 
(8 , 1 3) para que nossos membros possam se 
tornar instrumentos da justiça (6, 1 3) . Paulo 
provavelmente estava referindo-se a virtudes 
associadas ao corpo (castidade, temperança, 
etc. ) . 
• Sacrificamos nosso corpo quando os olhos 
não vêem nada perverso, a língua não diz 
nada sujo, e a mão não faz nada ilegal . Mais 
do que isso, a mão deve dar esmolas; a boca 
deve abençoar quem ofende; e o ouvido deve 
escutar a leitura das Escrituras (São João Cri­
sóstomo, Sermões sobre Romanos, 20) . 
6 6 
"Verdadeiro culto": Ou "culto racional" . 
O culto a Deus é adequado quando é racio­
nal e espiritual. É provável que Paulo esteja 
fazendo aqui uma comparação implícita en­
tre a adoração racional cristã e o sacrifício de 
animais irracionais da Antiga Aliança. 
12, 2: "Não vos conformeis" - Visto 
que a sabedoria e os valores seculares são na 
maioria das vezes deformados ( 1 , 2 1 . 28) , os 
cristãos devem permitir que Deus os transfor­
me na imagem de Cristo (8 , 29; 2Cor 3, 1 8) . 
A graça do Espírito nos capacita a examinar 
nossas vidas e avaliar os valores de nossa cultu­
ra sob a luz do evangelho. Em todas as coisas, 
a vontade de Deus deve ser o objeto central 
para nosso discernimento, pois somente ela é 
agradável e perfeita (CIC 2520; 2826) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
12, 3: "justa estima'' - Uma mente re­
novada ( 1 2 , 2) é antes de tudo uma mente 
humilde (FI 2, 3) . 
"Que Deus deu": Deus distribuiu dons 
a todos, para que fossem usados a seu serviço 
e para o bem dos outros . Em última análise, 
esses dons nos foram conferidos para edifi­
carmos a Igreja ( 1 2 , 6-8) . 
12, 4-5: Paulo resume aqui o que elabora 
de maneira mais completa em l Cor 1 2 , isto 
é, que a Igreja é um mistério de unidade e 
diversidade. Todos os fiéis são um em Cristo , 
mas cada pessoa é um membro individual , 
com diferentes dons e tarefas para o bem do 
corpo todo. Os dons espirituais, embora di­
versos, são complementares . 
As marcas de um cristão verdadeiro - 90 amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. 'ºQue o 
amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas. "Sede 
zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, 12alegres na esperança, fortes na 
tribulação, perseverantes na oração. 1 3Mostrai-vos solidários com os santos em suas necessidades, prossegui 
firmes na prática da hospitalidade. '4Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. 15 Alegrai­
vos com os que se alegram, chorai com os que choram. '6Mantende um bom entendimento uns com 
os outros; não sejais pretensiosos, mas acomodai-vos às coisas humildes. Não vos considereis sábios aos 
próprios olhos. 17 A ninguém pagueis o mal com o mal. Empenhai-vos em fazer o bem diante de todos. 1 8Na 
medida do possível e enquanto depender de vós, vivei em paz com todos. 1 9Caríssimos, não vos vingueis 
de ninguém, mas cedei o passo à ira de Deus, porquanto está escrito: "A mim pertence a vingança, eu 
retribuirei, diz o Senhor" . 20Pelo contrário, se teu inimigo estiver com fome, dá-lhe de comer; se estiver com 
sede, dá-lhe de beber. Agindo assim, estarás amontoando brasas sobre sua cabeça. 2 1Não te deixes vencer 
pelo mal, mas vence o mal pelo bem. 
12, 6-8: ! Cor ?, 7; 1 2, 4 - 1 1 ; ! Pd 4, 1 0- 1 1 . 12, 12: Ar I , 14; Rm 5 , 2; 1 Ts 5 , 1 7. 1 2, 14: Mr 5, 44; Lc 6, 28. 12, 16: Rm l i , 25 ; 1 5 , 5 ; 
l Cor l , 1 0; 2Cor 1 3 , 1 1 ; Fl 2 , 2; 4 , 2 ; Pv 3 , 7; 26, 1 2 . 12, 17: Pv 20, 22; 2Cor 8 , 2 1 ; I Ts 5 , 1 5 . 12, 18: Rm Me 9, 50; Rm 1 4 , 1 9 . 12, 19: 
Lv 1 9, 1 8 ; Dr 32, 35 ; Hb 1 0 , 30. 12, 20: Pv 25 , 2 1 -22; Mr 5 , 44; Lc 6, 27. 
� 12, 6 "dons" - O termo, em grego sito de todas as graças, que é o de facilitar a 
.. (charismata) , é relacionado ao subs- nossa salvação e a dos outros. A breve lista­
tantivo "graçà' (charis) . O propósito dos gem de dons em 1 2 , 6-8 é apenas um exem­
dons espirituais está alinhado com o propó- pio representativo, não completo, e cita ape-
Cadernos de estudo bíblico 
nas os dons da instrução e dos serviços 
práticos (CIC 2003-4) . 
"Em proporção com a fé recebida'': 
Ou, "segundo a analogia da fé" . Embora 
alguns relacionem essa expressão com a fé 
pessoal daquele que profetiza, é mais prová­
vel que Paulo esteja se referindo à reunião 
dos artigos da fé cristã dos credos antigos, 
dos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, e 
dos livros da Bíblia. As novas profecias eram 
avaliadas sob a luz da tradição doutrinal da 
Igreja, e não vice-versa ( l Tm 6, 20-2 1 ) . 
• Tradicionalmente, a "analogia da fé" signi­
fica a unidade e coerência da doutrina cristã. 
Visto que nenhum dogma está isolado e inde­
pendente dos outros, o mistério completo de 
Deus e de nossa salvação pode iluminar qual­
quer parte da crença cristã. Esse princípio foi 
discutido brevemente em 1 870 no Concílio 
Vaticano I (Dei FiLius, cap. 4; CIC 1 1 4) . 
12, 10: "Que o amor fraterno vos una 
uns aos outros" - Os atos de amor, não me­
ramente as palavras e os sentimentos ( lJo 3 , 
1 8) . O amor sincero e altruísta transforma os 
cristãos em verdadeiros discípulos de Cristo 
(Jo 1 3 , 34-35) . 
"Terna afeição": Ou "afeição fraternal" . 
O amor familiar está enraizado nas relações 
familiares. Cristo é nosso irmão mais velho, 
e todos nós somos irmãos espirituais (8 , 29) , 
que devem amar e cuidar uns dos outros na 
família de fé. 
12, 1 1 : "zelosos": Com energia e entu­
siasmo espiritual . Os cristãos devem seguir 
as orientações do Espírito para resistirem às 
tentações da apatia (8 , 1 4) . 
12, 1 2 : "perseverantes na oração" - O 
diálogo com Deus dever ser incessante, tanto 
em tempos de tribulação quanto em tempos 
de paz (Lc 1 8 , 1 ; l Ts 5, 1 7) . Ora sem cessar 
aquele que trabalha com fé e para a glória de 
Deus (Cl 3, 1 7; 4, 2; CIC 2745) . 
12, 14: ''Abençoai os que vos perse­
guem" - Relembra o ensinamento de Jesus 
(Mt 5 , 44; Lc 6, 28) . 
12, 15 : Alegrai-vos [ . . . ] chorai" - Paulo 
não permite que haja espaço para a indife­
rença entre os cristãos ( l Cor 1 2 , 26) . Uni­
dos uns aos outros, os fiéis devem expandir 
sua compaixão, permanecendo solidários 
nos "altos" e "baixos" do convívio cotidiano 
(Eclo 7, 34) . 
12, 18: "vivei em paz" - A pacificação 
faz parte da missão cristã (Mt 5 , 9; Hb 1 2 , 
14 ; Tg 3 , 1 8) . Visto que a harmonia nem 
sempre é possível, Paulo faz uma ressalva 
em sua ordem, reconhecendo que a paz não 
pode ser imposta aos outros (CIC 2304) . 
IT'l 12, 19 "A mim pertence a vingança'' 
IJU - Citação de Dt 32, 35 nos termos da 
Targum Neofiti aramaica. É possível também 
que Paulo tenha feito uma combinação das 
versões hebraica ("A vingança é minhà') e 
grega ("eu retribuirei") dessa passagem. 
Deus prometeu vingar seus inimigos e justi­
ficar os fiéis por meio de Moisés. Paulo en­
tende isso como uma proibição à retaliação 
pessoal . Os cristãos devem compreender que 
Deus não deixa passar nenhum mal ou ini­
qüidade, mas irá exigir justiça no Juízo Final. 
Devemos ser misericordiosos com nossos ini­
migos, imitando Jesus (Lc 23, 34) . Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre o evangelho de 
São Mateus, 5, 38 . 
IT1 � 12, 20 "se teu inimigo" -
IJU lillulil Uma referência a Pv 25 , 2 1 -22. 
68 
• O significado do provérbio é misterioso, 
mas parece dizer que quando servimos a um 
inimigo, fazemos acumular sobre ele castigos 
futuros. 
A carta de São Paulo aos romanos 
• Depositar brasas de bondade sobre os ini­
migos pode curá-los de vícios, queimar sua 
malícia e movê-los ao arrependimento (São 
Jerônimo, Sermões sobre os Salmos 4 1 ) . 
1 3 Sobre ser submisso às autoridades - 'Todos se submetam às autoridades que exercem o 
poder, pois não existe autoridade que não venha de Deus, e as autoridades que existem foram 
estabelecidas por Deus. 2Portanto, quem se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e 
tais rebeldes atrairão sobre si a condenação. 3De fato, não há razão para se temer o magistrado, quando se 
pratica o bem, mas somente quando se pratica o mal. Queres não ter medo da autoridade? Pratica o bem, e 
serás por ela elogiado. 4Pois a autoridade está a serviço de Deus para te levar à prática do bem. Caso, porém, 
pratiques o mal, terás motivo de temê-la. Não é sem razão que ela traz a espada. Ela está a serviço da ira 
de Deus para punir quem pratica o mal. 5Por conseguinte, é preciso obedecer, não somente por medo do 
castigo, mas sobretudo por motivo de consciência. 6Pela mesma razão, pagais impostos; os funcionários 
que os recolhem fazem-no como ministros de Deus . 7Dai a cada um o que lhe é devido: seja imposto, seja 
taxa, ou, também, o temor e o respeito. 
13, l : Tc 3 , l; 1 Pd 2, 1 3- 1 4; Pv 8, 1 5 ; Jo 1 9, 1 1 . 13, 3: 1 Pd 2, 1 4 . 1 3, 4: 1 Ts 4, 6. 13, 7: M1 22, 2 1 ; Me 1 2, 1 7; Lc 20, 25 . 
COMENTÁRIOS 
13, 1 -7: Paulo discursa sobre a relação 
entre Igreja e Estado, e incentiva os fiéis a 
serem cidadãos exemplares . Visto que Deus 
é o criador da ordem política, a submissão a 
Cristo implica uma submissão aos governos 
razoáveis da Terra. 
13, 1: "não existe autoridade que não 
venha de Deus" - As Escrituras ensinam que 
Deus concede autoridade política aos gover­
nantes civis (Pv 8 , 1 5 ; Sb 6, 1 -3; Jo 1 9 , 1 1 ) . 
Em teoria, o s governos têm a finalidade de 
fornecer à sociedade bens e seguranças que in­
divíduos e famílias não poderiam fornecer por 
si próprios. Note, no entanto, que o cristão 
deve obediência ao Estado somente quando 
este legisla segundo a lei divina. Se ele ultra­
passa suas fronteiras e concebe leis contrárias 
à lei de Deus, o fiel deve recorrer à desobedi­
ência civil e buscar mudar as leis do Estado 
através da persuasão moral e de outros meios. 
Paulo nos convida a rezar pelos governantes 
em lTm 2, 1 -4 (CIC 1 897- 1 900; 2238) . 
� 13, 4 "a espadà' - Paulo está aludin­
.. do ao ius gladii (lac. "direito da espa-
da" ) , a autoridade do Império Roma­
no de administrar a pena capital por 
decapitação. Aqui e em outras passagens, 
Paulo admite que medidas tão extremas 
como a pena de morte só são aceitáveis se 
estiverem a serviço da justiça (At 25 , 1 1 ) . 
A tradição cristã sustenta que os governos 
têm o direito de aplicar a pena capital para 
o bem geral da sociedade, eliminando seus 
mais perigosos ofensores. Na atualidade, 
essa prática é muito desencorajada, a não 
ser em casos extremos (CIC 2266-67) . 
13, 6: "pagais impostos" - É coeren-
te com a fé cristã que tenhamos obrigações 
para com o Estado. Essa e outras responsa­
bilidades civis têm seu devido lugar ( 1 3 , 7) , 
mas estão subordinadas ao nosso dever su­
premo para com Deus (CIC 2240) . Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre o evangelho 
de São Mateus, 22, 2 1 . 
Cadernos de estudo bíblico 
Amar uns aos outros - 8Não fiqueis devendo nada a ninguém . . . a não ser o amor que deveis uns aos 
outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. 9De fato, os mandamentos: "Não cometerás 
adultério", "Não cometerás homicídio", "Não roubarás", "Não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, 
se resumem neste: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". 100 amor não faz nenhum mal contra o 
próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeiro da Lei. 
Um apelo urgente - 1 1 Sabeis em que momento estamos: já é hora de despertardes do sono. Agora, a 
salvação está mais perro de nós do que quando abraçamos a fé. 1 2A noite está quase passando, o dia 
vemchegando: abandonemos as obras das trevas e vistamos as armas da luz. 13Procedamos honestamente, 
como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nada de orgias e imoralidades, nem de contendas 
e rivalidades. 14Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não atendais aos desejos e paixóes da 
vida carnal. 
13, 8: Mr 22, 39-40; Rm 1 3 , 1 0; Gl 5 , 1 4; Cl 3 , 14; Tg 2, 8. 13, 9: Ex 20, 1 3- 1 4; Dr 5 , 1 7- 1 8; Lv 1 9, 1 8 ; Mr 1 9, 1 9 . 13, 10: Mt 22, 39-40; Rm 
13 , 8; Gl 5, 1 4 ; Tg 2, 8. 13, I I : Ef 5, 1 4 ; I Ts 5, 6. 13, 12: lJo 2, 8; Ef 5, 1 1 ; I Ts 5, 8. 13, 13: I Ts 4, 1 2; Gl 5, 1 9-2 1 . 13, 14: GI 3, 27; 5, 1 6. 
13, 8: "devendo nada a ninguém" -
Nossas obrigações civis ( 1 3 , 7) são superadas 
pela obrigação do amor ao próximo - uma 
dívida impossível de ser quitada. Nós só so­
mos capazes de obedecer aos mandamentos 
divinos por causado auxílio interior do Es­
pírito, que derrama amor divino em nossos 
corações e torna a obediência possível ( 5 , 5 ; 
8 , 4; CIC 1 827) . 
13, 9: "os mandamentos": Paulo resume 
quatro dos sete mandamentos do Decálogo 
(Ex 20, 1 3- 1 7) em um só: Amarás o pró­
ximo como a ti mesmo (Lv 1 9 , 1 8 ; Gl 5 , 
14) . "O próximo" possui a mais ampla possi­
bilidade de aplicação, incluindo os inimigos 
(Mt 5, 44) e qualquer um que estiver em ne­
cessidade (Lc 1 0, 25-37; CIC 2 1 96) . 
13, 1 1 : "a salvação está mais perto de 
nós" - Faz referência à nossa j ustificação pes­
soal e também ao retorno futuro do Cristo 
na glória (Hb 9, 27. 28 ; l Pd 1 , 5) . 
13, 12: ''A noite" - A era presente, onde 
a maldade, a morte e as trevas estão impreg­
nadas em todas as coisas (Gl 1 , 4) . Destinado 
essencialmente à conversão da humanidade, 
esse período perdurará até que nasça o dia 
sem fim (Ap 22, 5 ) . Enquanto isso, os cris­
tãos devem estar em guarda contra o demô­
nio, protegendo-se com as armas da luz (Ef 
6, 1 1 - 1 7; l Ts 5, 8) . 
1 3, 14: "revesti-vos do Senhor Jesus" 
- Renovar os compromissos assumidos no 
Batismo, onde o fiel se reveste de Cristo pela 
primeira vez (Gl 3, 27) . É preciso fugir das 
ocasiões de pecado que seduzem a carne. Ver 
nota neste estudo, 7, 5 
70 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 4Náo julgueis uns aos outros - 'Acolhei aquele que é fraco na fé, sem discutir opiniões. 2Um 
acredita que pode comer de tudo; outro, sendo fraco na fé, só come legumes. 30 que come de 
tudo náo despreze o que náo come, e o que náo come náo condene o que come, pois Deus 
acolheu também a este. 4Quem és tu para condenar o servo de um outro? É para seu próprio senhor 
que ele fica de pé ou cai. De fato, ele vai continuar de pé, pois o Senhor tem poder de sustentá-lo. 5Há 
quem considere uns dias mais importantes que outros; já outras pessoas consideram todos os dias iguais. 
Continue cada qual com o próprio modo de pensar. 6Quem distingue um dia do outro faz isso por amor 
ao Senhor. E quem come de tudo come tudo para a glória do Senhor, pois, ao comer, dá graças a Deus; 
e quem náo come deixa de comer por amor ao Senhor, e também ele dá graças a Deus. 7Ninguém dentre 
nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. 8Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos, e se 
morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. 9Cristo 
morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos mortos e dos vivos. 10E tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, por 
que desprezas teu irmão? Pois é diante do tribunal de Deus que todos compareceremos. 1 1 Com efeito, está 
escrito: "Por minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua glorificará a 
Deus" . 12Assim, cada um de nós prestará conta de si mesmo a Deus. 
Não sede obstáculo para um irmão - 13Portanto, náo mais nos julguemos uns aos outros. Antes, julgai 
que não se deve pôr diante do irmão nada que o faça tropeçar ou cair. "Em si, nada é impuro", mas . . . 14Eu 
sei e estou convencido, no Senhor Jesus, que, em si, nada é impuro. Uma coisa torna-se impura somente 
para quem a considera impura. 1 5Se, tomando tal alimento, entristeces teu irmão, já não estás procedendo 
de acordo com o amor. Por causa do alimento que tomas, não sejas ocasião de perdição para aquele por 
quem Cristo morreu. 16Que não seja difamado o que é bom para vós. 17Pois o Reino de Deus não é comida 
e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo. 18Quem serve assim a Cristo agrada a Deus e é 
estimado pelos homens. 1 9Portanto, busquemos tenazmente tudo o que contribui para a paz e a edificação 
de uns pelos outros. 20Por causa de um alimento, náo destruas a obra de Deus! Certamente, tudo é puro, 
mas é errado comer alguma coisa dando escândalo. 2 1É melhor abster-se de carne e de vinho e de qualquer 
coisa que possa fazer o teu irmão tropeçar. 22Guarda para ti, diante de Deus, a convicção que tens. Feliz 
é quem, ao aprovar alguma coisa, não se condena a si mesmo! 23Aquele, porém, que come, estando com 
dúvidas, é condenado, porque a sua açáo não procede da convicção. E rodo ato que não procede da 
convicção é pecado. 
14, 3: CI 2, 1 6. 14, 5: GI 4, 1 0. 14, 7: GI 2 , 20; 2Cor 5, 1 5 . 14, 8: FI l , 20. 1 4, 10: 2Cor 5 , 1 0 . 14, 1 1 : Is 45, 23; FI 2 , 10 - 1 1 . 14,13: Me 
7, l ; 1 Cor 8, 1 3 . 14, 15: Rm 14 , 29; 1 Cor 8 , 1 1 . 14, 16 : ! Cor 10 , 30. 14, 19: Mc 9, 50; Rm 1 2, 1 8 ; 1 Ts 5 , 1 1 . 14, 20: Rm 1 4 , 1 5 ; 1 Cor 8, 
9- 1 2 . 14, 2 1 : ! Cor 1 0, 30. 14, 19: Me 9 , 50; Rm 1 2, 18 ; ! Ts 5 , 1 1 . 14, 20: Rm 14 , 1 5 ; ! Cor 8 . 9- 1 2 . 14, 21 : ! Cor 8 , 13 . 14, 22: Rm 2. 1 . 
COMENTÁRIOS 
14, 1-15, 13: Em suas instruções finais 
aos fiéis da igreja de Roma, Paulo distingue 
dois grupos, um fraco ( 1 4 , 1 ) e outro for­
te ( 1 5 , 1 ) . Os fracos são em maioria cristãos 
judeus; os fortes são em maioria os cristãos 
gentios. Aparentemente, os fortes apresen­
tam uma atitude condescendente com os 
fracos, que precisa ser corrigida. 
llJ 14, 1 "fraco na fé" - Uma minoria de 
judeus cristãos que mantinha uma 
dieta vegetariana ( 1 4 , 2) , observava as festas 
litúrgicas de Israel ( 1 4, 5-6) , e possivelmente 
seguia as leis de restrição alimentar da Torá 
( 1 4, 1 4) . 
• O comportamento dos fracos, especialmen­
te sua abstinência de carne e de vinho ( 1 4 , 
2 1 ) , é provavelmente uma imitação conscien­
te dos heróis bíblicos, que evitavam alimen-
7 1 
Cadernos de estudo bíblico 
tos gentios quando habitavam em suas terras . 
Entre os heróis que mantinham essa espécie 
de dieta da Diáspora estão Tobias, Judite, Es­
ter e Daniel (Tb 1 , 1 0- 1 1 ; Jt 1 0 , 5; 1 2, 2; Est 
14 , 1 7; Dn 1 , 8; 1 0 , 3) . 
14, 3: "condene" - Insuflar as diferenças 
de opinião causa divisão e conflito. Os fortes 
deviam ajudar os fracos sem se vangloria­
rem de sua liberdade cristã ou olhá-los com 
desprezo. Nesse caso, preservar a paz é uma 
prioridade anterior ao exercício da liberda­
de. Os fracos e os fortes devem explicações a 
Deus, não uns aos outros ( 1 4, 1 0- 1 2) . 
14, 5 : "dias mais importantes" - Re­
fere-se aos dias sagrados do calendário da 
Antiga Aliança, incluindo o Shabat semanal. 
Esses ritos cerimoniais pertenciam à era de 
Moisés, e foram extintos com a chegada da 
era messiânica (Gl 4, 1 0; Cl 2, 1 6) . Por esse 
motivo, esses dias não têm mais vínculo com 
a consciência cristã, embora fosse permitido 
aos convertidos judeus observá-los nos pri­
meiros dias da Igreja. Note que Paulo não 
é indiferente a todos os dias sagrados, mas 
apenas às festas rituais do judaísmo. Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre os Atos dos 
Apóstolos, 2 1 , 2 1 . 
14, 8 : "pertencemos ao Senhor" - Os 
cristãos, vivos ou mortos, pertencem a Cris­
co, e foram comprados pelo preço de seu 
sangue ( l Cor 6, 20; Ap 5, 9) . Nosso maior 
objetivo é, portanto, agradá-lo, uma busca 
que requer, na maioria das vezes, a supressão 
de nossos interesses e opiniões pessoais . 
lJJ 14, 1 1 "Por minha vidà' - Uma re­
ferência a Is 45 , 23. 
• A teologia judaica interpreta essa passagem 
como uma profecia do Juízo Final . Paulo se­
gue essa tradição, na tentativa de dissuadir os 
fracos e os forces de julgarem uns aos outros 
( 1 4, 3. 1 0 . 1 3) . Paulo move o Cristo para o 
centro desse oráculo em FI 2, 1 0 (CIC 679) . 
14, 13: "nada que o faça tropeçar ou 
cair" - Qualquer obstáculo moral que possa 
causar a queda dos fracos e o desprezo do 
evangelho ( 1 4, 1 6) . Seria muico irresponsá­
vel e injurioso da parte dos fortes ficar osten­
tando suas liberdades cristãs aos fracos. 
14, 14: "nada é impuro" - Alude às 
distinções entre alimentos puros e imp{uos 
prescritas na Torá (Lv 1 1 ) . Para a anulação 
dessas restrições alimentares na Nova Alian­
ça, ver notas em nosso estudo bíblico sobre 
os Aros dos Apóscolos , 1 O, 1 4 e 1 0, 1 5 . 
14, 15 : "por quem Cristo morreu'' -
Visto que os fracos também são amados por 
Deus, os fortes deveriam dar suporte a eles, e 
não os afastar da fé. A consideração pessoal é 
mais importante do que as convicções indi­
viduaissobre assuntos paralelos à fé. 
NOTAS 
7 2 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 5 Agradai aos outros, não a vós mesmos - 1Nós, os fortes, devemos suportar as fraquezas dos 
fracos e não buscar só o que nos agrada. 2Cada um de nós procure agradar ao próximo para o bem, 
visando à edificação. 3Com efeito, Cristo também não procurou o que lhe agradava, mas, como 
está escrito: "Os ultrajes dos que te ultrajavam caíram sobre mim". 4Tudo o que outrora foi escrito, foi escrito 
para nossa instrução, para que, pela constância e consolação que nos dão as Escrituras, sejamos firmes na 
esperança. 50 Deus da constância e da consolação vos dê também perfeito entendimento, uns com os outros, 
como ensina o Cristo Jesus. 6Assim, tendo como que um só coração e a uma só voz, glorificareis o Deus e Pai 
do nosso Senhor Jesus Cristo. 
O evangelho é tanto para os judeus quanto para os gentios - 7Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como 
Cristo vos acolheu, para a glória de Deus. 8Pois eu digo: Cristo tornou-se servo dos circuncisos, para mostrar 
que Deus é fiel e cumpre as promessas feitas aos pais. 9Quanto aos pagãos, eles glorificam a Deus por causa 
de sua misericórdia, como está escrito: "Por isso eu te glorificarei entre as nações e cantarei louvores ao teu 
nome". 1 0A Escritura diz ainda: "Nações, alegrai-vos junto com seu povo", 1 1 e, em outra passagem: "Nações, 
louvai todas o Senhor e aclamem-no todos os povos". 12Isaías, por sua vez, diz: "Despontará o rebento de 
Jessé, para governar as nações. Nele, elas colocarão a sua esperança". 13Que o Deus da esperança vos encha 
de toda alegria e paz, em vossa vida de fé. Assim, vossa esperança transbordará, pelo poder do Espírito 
Santo. 
15, 3: SI 69, 9. 15, 4: Rm 4, 23-24; ! Cor 9 , l O ; 2Tm 3, 1 6. 15, 5: Rm 1 2, 1 6; l Cor l, 10; 2Cor 13, 1 1 ; FI 2 , 2 ; 4 , 2 . 15, 9: SI 1 8 , 49; 2Sm 
22, 50. 
COMENTÁRIOS 
15 , 1: "Nós, os fortes" - Paulo conta-se e servir aos fracos com amor altruísta. 
entre os cristãos fortes que se libertaram das 
regulações da lei de Moisés. 
"Suportar": Não somente tolerar, mas 
encorajar e apoiar com amor. 
''As fraquezas": Paulo não está se referindo 
aos pecados dos fracos, mas aseus escrúpulos 
com relação às restrições alimentares ( 1 4, 1 4) . 
[JJ 1 5, 3 " os ultrajes" - Uma referência a 
Sl 69,9. O Salmo 69 descreve o justo 
que sofre e é perseguido por causa de sua fide­
lidade a Deus. Paulo retrata Jesus nesses ter­
mos, acentuando que Cristo seguiu a vontade 
do Pai para o benefício dos outros, até mesmo 
nos últimos momentos de sua vida (Me 1 4, 
36; 2Cor 8, 9; Fl 2, 8) . Seu exemplo deveria 
inspirar os fortes a deixar de lado seu orgulho 
15 , 4: "constância e consolação que 
dão as Escrituras" - As escrituras de Israel, 
repletas de sabedoria para o convívio cristão 
( 1 Cor 1 O, 1 1 ) , permanecem essenciais para a 
vida e liturgia da Igreja. A unidade dos dois 
Testamentos, o Antigo e o Novo, descansa 
na unidade da história da salvação e na auto­
ria divina de todos os livros bíblicos (2Tm 3, 
1 5- 1 7; 2Pd 1 , 20-2 1 ; CIC 1 2 1 -22) . 
15 , 7: "Cristo vos acolheu'' -Nas exor­
tações de Paulo, Jesus é o modelo a ser imita­
do ( 1 4, 1 . 3; CIC 520) . 
15 , 8: "servo dos circuncisos" - Jesus 
limitou seu ministério basicamente ao povo 
de Israel (Mt 1 5 , 24) . Paulo está aqui inci­
tando os fortes em Roma a servirem os "fra­
cos" de Israel (Rm 1 4, 1 ) . 
7 3 
Cadernos de estudo bíblico 
fT1 15, 9- 12 - Uma seqüência de versícu­
LJU los do AT, que prevêem a edificação 
mundial da Igreja, onde as nações de Israel e 
dos gentios se reúnem para prestar juntas 
culto ao Senhor. 
• As quatro passagens do AT se conectam por 
sua referência aos gentios (SI 1 8 , 49; a versão 
grega de Dt 32, 43; Sl 1 1 7, l ; Is 1 1 , 1 0) . Elas 
dão suporte à perspectiva de Paulo,presente 
em toda a Carta aos Romanos, de que as es­
crituras de Israel prevêem a inclusão total dos 
gentios na família de Deus. 
O motivo de Paulo para escrever tão impetuosamente - 1 4Meus irmãos, de minha parte estou convencido, 
a vosso respeito, que sois cheios de bons sentimentos e cumulados de conhecimento, de tal maneira que 
podeis admoestar-vos uns aos outros. 1 5No entanto, em alguns trechos desta carta eu vos escrevi com certa 
ousadia, a fim de vos reavivar a memória, em virtude da graça que Deus me deu: 1 6a graça de ser ministro 
de Jesus Cristo junto aos pagãos, prestando um serviço sacerdotal ao evangelho de Deus, para que os pagãos 
se tornem uma oferenda bem aceita, santificada no Espírito Santo. 17Tenho, pois, de que me gloriar em 
Cristo Jesus, no que concerne a Deus. 18Falo tão somente daquilo que Cristo realizou por meu intermédio, 
para trazer os pagãos à obediência da fé - em palavras e ações -, 1 9pelo poder de sinais e prodígios, pela 
força do Espírito. Assim, levei a cabo a pregação do evangelho de Cristo, desde Jerusalém e arredores até ao 
Ilírico, 20rendo o cuidado de anunciar o evangelho somente onde o Cristo ainda não era conhecido, a fim 
de não edificar sobre alicerce alheio 2 1 e me conformar ao que está escrito: "Aqueles aos quais ele nunca fora 
anunciado o verão; os que dele não tinham ouvido falar, compreenderão". 
15, 10: Dr 32, 43. 15 , 1 1 : 51 1 1 7, 1 . 15, 12: ls l i , 1 0; Mt 1 2, 2 1 . 15, 16: At 9, 1 5 . 15, 18: Rm l , 5 ; At 1 5 , 1 2 ; 2 1 , 1 9 . 1 5, 19: Ar 1 9 , l i ; 
2Cor 1 2, 1 2. 1 5, 20: 2Cor 1 0 , 1 5- 1 6. 15, 21 : ls 52, 1 5 . 
15, 12: "o rebento de Jessé" - Um dos 
títulos messiânicos de Jesus (Ap, 5, 5) . A tra­
dição judaica esperava que o messias descen­
desse da linhagem real de Davi (Rm 1 , 3) , 
cujo pai foi nomeado Jessé ( l Sm 1 6, 1 - 1 3) . 
Ver nota neste estudo, 1 1 , 1 6 . 
15, 14-16, 27: Exortações e agradeci­
mentos finais de Paulo. Ele esboça brevemen­
te seu plano de evangelizar o mundo com a 
ajuda dos cristãos romanos ( 1 5 , 24. 30) . 
fT1 15, 16 "os pagãos se tornem uma 
LJU oferenda'' - Paulo vê sua obra missio­
nária como um ministério sacerdotal . Sua 
oferta sacrificial é o mundo gentio converti­
do a Cristo e santificado pelo Espírito. 
• Paulo parece aludir à profecia missionária 
de Is 66, 1 8-20, em que Deus envia seu remi­
do para proclamar sua glória entre as nações 
e reuni-las novamente como uma oferta de 
sacrifício ao Senhor. O desejo de Paulo de al­
cançar a Espanha (Rm 1 5 , 24. 28) pode ter 
sido influenciado pela referência desse orácu­
lo às "ilhas distantes" (Is 66, 1 9) , relacionadas 
ao Sul da Espanha. 
15 , 19: "levei a cabo a pregação" - No 
momento em que Paulo escreve a Carta aos 
Romanos, ele já havia evangelizado todo o 
quadrante nordeste do mundo mediter­
râneo, desde Jerusalém, na Judéia, até a 
província de Ilírico, na costa Leste do Mar 
Adriático. 
74 
A carta de São Paulo aos romanos 
MAPA: A INFLUÊNCIA DE SÃO PAULO 
Mar Mediterrâneo 
A influência de São Paulo 
Cirene 
200 Km. 
Mar Negro 
& 
FENICI . Damasco Sldõn"la • 
TiroGALI IA? Cesaréia ./' .Samaria 
SAMARIA ! 
Jvllt1A•jrrusalem 
Gaza'• (S Mar morto 
O plano de Paulo de visitar Roma - 22É isso que, o mais das vezes, me impedia de ir até vós. 23Mas 
agora que não tenho mais campo para o meu trabalho naquelas regiões, e como, há tantos anos, desejo 
vivamente visitar-vos, 24espero ver-vos, de passagem, quando viajar à Espanha. Espero também que me 
ajudeis no prosseguimento da minha viagem, depois, naturalmente, de eu ter desfrutado um pouco a vossa 
convivência. 25De imediaro, porém, tenho de ir a Jerusalém, em serviço aos santos. 26De fato, a Macedônia 
e a Acaia consideraram bom que se fizesse uma coleta para os santos de Jerusalém que estão na pobreza. 
27Consideraram bom, sim, mas eles têm também uma certa dívida. Pois, se os pagãos participaram dos bens 
espirituais dos santos de Jerusalém, devem, por sua vez, servi-los com seus bens materiais. 28Depois que eu 
tiver cumprido essa minha incumbência e tiver entregue em mãos todos esses donativos aos santos, partirei 
para a Espanha, passando por vós. 29E sei que irei ter convosco com a plenitude da bênção de Cristo. 
30Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do seu Espírito, que vos junteis a mim 
numa ofensiva de orações a Deus, 31para que eu escape dos incrédulos da Judéia e para que a ajuda que vou 
levar a Jerusalém seja bem aceita pelos santos. 32Assim chegarei a vós com alegria e, pela vontade de Deus, 
descansarei um pouco entre vós. 330 Deus da paz esteja com rodos vós! Amém. 
15, 22: Rm 1, 1 3. 15 , 23: At 19 , 2 1 ; Rm 1 , 1 0- 1 1 ; 1 5 , 32. 15, 24: Rm 1 5 , 28. 15, 25: At 19 , 2 1 ; 24, 1 7; 1 5 , 3 1 . 15 , 26: 2Cor 8 , 1 -5 ; 9, 2 ; 
I Ts 1 , 7-8 . 15, 27: 1 Cor 9, 1 1 . 15, 28: Rm 1 5 , 24. 15, 29: At 1 9, 2 1 . 15, 3 1 : 2Ts 3, 2 ; Rm 1 5 , 25-26; 2Cor 8 , 4 ; 9, 1 . 15 , 32: Rm 1, 1 0; At 
1 9, 2 1 . 15, 33: 2Cor 1 3 , 1 1 ; FI 4 , 9 . 
7 5 
Cadernos de estudo bíblico 
l1J 1 5, 2 1 "Aqueles [ . . . ] o verão": Uma Atos dos Apóstolos, 28 , 30 . 
referência a Is 52, 1 5 . 15 , 25: "em serviço aos santos" - Em 
• Paulo cita o começo da visão de Isaías do 
Servo Sofredor, um oráculo que prevê a re­
jeição e morte do Messias (Is 52, 1 3-53, 
1 2) . Segundo a tradição judaica, o anúncio 
desse acontecimento iria impressionar muitas 
nações, abrindo seus olhos e ouvidos para a 
mensagem de Deus. 
1 5, 24: "Espanha'' - O limite ociden­
tal do mundo romano. Embora não conste 
no NT, a tradição cristã sustenta que Paulo 
pregou o evangelho até o extremo Leste do 
mundo antigo antes de sofrer o martírio,na 
metade da década de 60 do primeiro século. 
Ver nota em nosso estudo bíblico sobre os 
sua terceira jornada missionária, Paulo fez 
uma coleta de dinheiro nas igrejas gemias 
(2Cor 8-9) .Essas doações de todo o mun­
do grego são uma expressão da caridade e da 
solidariedade entre os fiéis de diferentes na-
ções . Ver nota em nosso estudo bíblico sobre 
a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, 
1 6 , 1 -4. 
15 , 31: "que eu escape" - Paulo foi avi­
sado dos perigos que o esperavam em Jerusa­
lém (At 20, 22-23; 2 1 , 1 0- 1 1 ) 
1 5 , 33: " O Deus da paz" - Um título 
recorrente nas cartas de Paulo (2Cor 1 3 , 1 1 ; 
Fl 4, 9; 1 Ts 5 , 23) . 
1 6Saudaç:óes pessoais - 1Recomendo-vos nossa irmã Febe, diaconisa da Igreja em Cencréia. 
2Acolhei-a no Senhor, de maneira digna, como convém aos santos, e assisti-lhe em qualquer coisa 
em que possa precisar de ajuda; pois ela também tem ajudado a muitos, inclusive a mim. 3Saudai 
Prisca e Áquila, colaboradores meus no Cristo Jesus, 4os quais expuseram suas próprias vidas para salvar a 
minha. Eu lhes sou agradecido, e não somente eu, mas também todas as igrejas fundadas entre os pagãos. 
5Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu muito estimado Epêneto, primícias da 
Ásia para Cristo. 6Saudai Maria, que muito trabalhou para vós. 7Saudai Andrônico e Júnia, meus parentes 
e companheiros de prisão, apóstolos notáveis, que ademais se tornaram discípulos de Cristo antes de mim. 
8Saudai Ampliato, a quem muito estimo no Senhor. 9Saudai Urbano, nosso colaborador em Cristo, e a 
meu caríssimo Estáquis. 1 0Saudai Apeles, provado e aprovado em Cristo; saudai os da casa de Aristóbulo; 
1 1saudai Herodião, meu parente; saudai os da casa de Narciso que estão no Senhor; 1 2saudai Trifena e 
Trifosa, que tanto se afadigam no Senhor; saudai a caríssima Pérside, que muito trabalhou no Senhor; 
1 3saudai Rufo, esse eleito do Senhor, e sua mãe, que é também a minha; 14saudai Asíncrito, Flegonte, 
Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que estão com eles. 1 5Saudai Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, bem 
como Olimpa e todos os santos que estão com eles. 1 6Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. Todas 
as igrejas de Cristo vos saúdam. 
16, 3: At 18, 2. 16, 5: ! Cor 16, 1 9 . 16, 16: 2Cor 1 3 , 1 2; I Ts 5 , 26; I Pd 5 , 1 4 . 
COMENTÁRIOS 
16, 1 -27: Alguns estudiosos questionam 
a autenticidade desse capítulo, consideran­
do-o uma adição posterior ao restante da 
Carta aos Romanos. Isso ocorre porque o 
manuscrito mais antigo da carta que chegou 
até nós tem a doxologia final ( 1 6, 25-27) si­
tuada logo após 1 5 , 33 , e também porque se 
relata que existiam edições menores da carta 
na antigüidade cristã (sem os caps. 1 5 e 1 6) . 
O s estudiosos que partilham dessa opinião 
supõem que o capítulo l 6seja ou uma carta 
independente de recomendação a Febe ( 1 6, 
1 ) ou uma carta destinada originalmente à 
igreja de Éfeso. Analistas textuais dão pouco 
suporte a essa hipótese e confirmam a auten­
ticidade do capítulo 1 6 como parte integran­
te da epístola. Se versões menores da carta 
existiram, elas eram provavelmente resumos, 
adaptados para o uso litúrgico. 
� 16, 1 "nossa irmã Febe" - Possivel­
.. mente a pessoa que transmitiu a carta 
de Paulo aos romanos. 
"Diaconisa": O termo grego diáconos 
serve para designar tanto um ministro orde­
nado da Igreja (Fl 1 , 1 ; I Tm 3, 8) quanto um 
"servo" ou "assistente" , de modo geral (Rm 
1 3 , 4; 1 5 , 8) . No início da Igreja, as diaconi­
sas auxiliavam no batismo de mulheres e em 
tarefas similares . 
• De acordo com o Concílio de Nicéia em 
325 d .C. , as diaconisas são contadas entre os 
leigos, e não entre o clero ordenado (can . 1 9) . 
16, 3-23: Paulo cita 26 cristãos romanos 
pelo nome na maior lista de agradecimentos 
do NT. A etimologia dos nomes revela um 
cenário diversificado de fiéis, que inclui gre­
gos, romanos e judeus . 
16, 3: "Prisca e Áquila" -Um casal de 
cristãos, que trabalhou muito ao lado de 
Paulo em suas missões (At 1 8 , 2; l Cor 1 6, 
1 9 ; 2Tm 4, 1 9) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
16, 5: "a igreja que se reúne na casa 
deles" - No início da Igreja, os cristãos reu­
niam-se em lares privados para rezar e adorar 
(At 2, 46; 1 2, 1 2 ; l Cor 1 6, 1 9) . Os judeus 
também tinham esse costume, antes do uso 
de sinagogas se tornar comum. 
16, 7: "Júnia" - Esse nome também é 
feminino no grego, o que sugere a muitos 
que Júnia fosse uma mulher, possivelmente a 
esposa de Andrônico.Também pode ser uma 
forma abreviada do nome latino juniarus, e, 
portanto, referir-se a um homem. 
"Apóstolos notáveis": Ou "notáveis en­
tre os apóstolos" . Essa expressão pode sig­
nificar que ( 1 ) Andrônico e Júnia fossem 
apóstolos no sentido mais amplo do termo 
("mensageiro'' , Fl 2, 25 ; 2Cor 8, 23) , ou 
que (2) eles fossem estimados pelos apósto­
los originais. De qualquer forma, eles eram 
judeus que se tornaram cristãos depois de 
Paulo. 
16, 13: "Rufo" - Possivelmente o filho 
de Simão de Cirene, mencionado em Me 1 5 , 
2 1 . Note que Paulo e o evangelista Marcos 
ambos escreveram para os cristãos romanos . 
Ver introdução: Destinatários em nosso estu­
do bíblico sobre o evangelho de São Marcos. 
16, 16: "o beijo santo" - Uma expressão 
comum de amor fraternal na Igreja Antiga 
( l Cor 1 6, 20; 2Cor 1 3 , 1 2 ; lTs 5, 26; l Pd 
5 , 1 4) .7 7 
Cadernos de estudo bíblico 
Instruções finais - 17Rogo-vos, irmãos, acautelai-vos dos que provocam dissensões e escândalos, 
contrariando o ensinamento que aprendestes; afastai-vos deles. 1 8Esses tais não servem a Cristo, nosso 
Senhor, mas ao próprio ventre. Com um palavreado bonito e lisonjeiro, enganam os simples. 1 9Com efeito, 
vossa obediência tornou-se conhecida de todos, e isso me alegra; mas desejo que vos mostreis experientes 
para o bem e sem nenhum compromisso com o mal. 200 Deus da paz esmagará, sem demora, Satanás, sob 
vossos pés . Que a graça de nosso Senhor Jesus esteja convosco. 2 1Timóteo, meu colaborador, vos saúda; 
também vos saúdam Lúcio, Jasão e Sosípatro, meus parentes. 22Eu, Tércio, que escrevi esta carta, vos saúdo 
no Senhor. 23Gaio, que hospeda a mim e a toda a Igreja, vos saúda. Erasto, tesoureiro da cidade, e o irmão 
Quarto vos saúdam. (24] 
Doxologia final - 25Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu 
evangelho e à pregação de Jesus Cristo, de acordo com a revelação do mistério mantido em sigilo desde 
sempre. 26Agora este mistério foi manifestado e, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação 
do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé. 27 A Deus, 
o único sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém! 
16, 16: 2Cor 1 3 , 1 2 ; I Ts 5 , 26; I Pd 5 , 14. 16, 17: GI 1, 8-9; 2Ts 3 , 6. 1 4 ; 2Jo 1 0. 16, 19: Rm 1, 8 ; I Cor 14, 20. 16, 20: I Cor 1 6, 23; 2Cor 
13, 14; GI 6 , 1 8 ; FI 4 , 23; ! Ts 5, 28; 2Ts 3 , 1 8 ; Ap 22, 2 1 . 16, 2 1 : Ac 16, 1. 16, 23: I Cor 1, 1 4 . 
"Jasão e Sosípatro": Possivelmente os 
mesmos mencionados em At 1 7, 5 e At 20, 4. 
16, 22: "Tércio, que escrevi esta cartà' 
- O secretário que escreveu a carta, ditada 
por Paulo. 
1 6, 1 8: "ao próprio ventre" - Paulo 
pode estar se referindo a(l) alguns dos cris­
tãos "fortes" de Roma, que estavam mais dis­
postos a estabelecer o Reino de Deus pelo 
alimento do que pela harmonia uns com os 
outros ( 1 4, 1 7; 1 5 , 1 ) ou (2) aos que exer­
ciam sua liberdade cristã de modo infrutífero 
e egoísta (Fl 3, 1 9) . 
16, 23: "Gaio" - Um dos primeiros cris­
tãos batizados em Corinto ( l Cor 1 , 1 4) , que 
caridosamente cedeu sua casa para Paulo e 
fT'l 1 6, 20 "esmagará, sem demora, Sa- outros visitantes . 
LJU tanás, sob vossos pés" - Paulo deseja 
"Erasto": Embora um nome comum, é 
que os cristãos romanos compreendam a ver-
provavelmente a figura citada em At 1 9 , 22 
dadeira diferença entre o "bem" e o "mal" 
( 1 6 1 9) · · v1º to' r1' a de e 2Tm 4, 20· , , para part1c1parem na 
Cristo sobre 0 diabo ( lJo 3, 8) . 16, 25: "revelação do mistério" - Jesus 
Paulo está aludindo à primeira profecia Cristo cumpriu o plano de Deus escondido 
bíblica, Gn 3, 1 5 , de que 0 Redentor iria nas Escrituras ( 1 6, 26; 1 , 2) . Ver estudo da 
palavra: Mistério em nosso estudo bíblico so­
bre a Carta de São Paulo aos Efésios, 3, 3 . 
calcar a serpente satânica sob seus pés. 
Paulo estende essa profecia sobre o Mes­
sias para todo o povo da era messiânica. 
16, 2 1 : "Timóteo" - Companheiro de 
longa data de Paulo (At 1 6, 1 -4) , ao qual 
dedicou duas cartas do NT, 1 e 2 Timóteo. 
16, 26: "à obediência da fé" - Esta ex­
pressão aparece no início ( 1 , 5) e no final da 
carta (CIC 1 43 ; 2087) . Ver nota neste estu­
do, 1 , 5 . 
QUESTÕES PARA ESTUDO 
CAPÍTULO I 
Para compreender 
1 . (cf. 1 , 5) Qual é o significado da expressão "obediência da fé" na carta aos Ro­
manos? Que tipo de ato confirma essa obediência e qual é o seu papel em nossa 
relação com Cristo? 
2. ( cf. 1 , 1 7) Quais são os dois significados relacionados que o tema "justiça de 
Deus" tem na carta aos Romanos? O que a expressão "que vem pela fé e conduz 
à fé" significa? Por que Paulo cita Habacuque 2, 4 ? 
3 . ( cf. 1 , 1 8) O que é "a ira de Deus" ? Como ela se relaciona com o amor de Deus? 
4. (cf. 1 , 24) Que forma severa de punição Deus tem aplicado aos pecadores 
obstinados? De que modo o permitir-lhes persistir em seu pecado é uma mani­
festação dessa punição? 
Para meditar 
1 . (cf. 1 , 7) O que esse versículo fala sobre sua própria vocação na vida? Como 
você faz para cumprir essa vocação agora, em sua presente situação? O quanto 
você deseja desenvolvê-la num futuro próximo? 
2. (cf. 1 , 1 1 - 1 2) Quais dons espirituais você tem para compartilhar com os ou­
tros? No ambiente em que você vive, como você compartilha esses dons com 
os outros cristãos? Quando os outros compartilham seus dons com você, você 
se sente reconfortado? 
3 . (cf. 1 , 1 6) O evangelho já se revelou uma força salvadora em algum momento 
de sua vida? O quanto você quer que os outros saibam de sua fé? Você se orgu­
lha do evangelho? 
4. (cf. 1 , 26-32) Como as atitudes de militantes contra a moral básica e natural 
(sem mencionar a cristã) afetaram sua própria vigilância moral? Quão cuida­
dosamente você examina a influência da mídia ou da opinião de seus amigos e 
parentes em suas próprias atitudes? 
79 
Cadernos de estudo bíblico 
CAPÍTULO 2 
Para compreender 
1 . (cf. 2 , 1-3, 20) Qual recurso estilístico Paulo emprega nessa seção? Com 
quem Paulo está discutindo aqui? Quem mais utiliza esse recurso? 
2. (Estudo da Palavra: Justificado) O que esse termo significa no contexto jurídi­
co? Qual significado teológico Paulo atribui ao termo quando é Deus quem 
justifica os homens? O que Deus faz quando absolve os pecadores? Para Paulo, 
qual é o efeito do decreto justificador de Deus em nós? 
3 . (cf. 2, 1 4) Qual é o sentido desse versículo, de acordo com a tradução aqui 
utilizada? O que ele pode significar se tiver o verbo "cumprem" alterado para 
"têm"? Quando Paulo usa a expressão "mantêm por bom senso natural", a qual 
natureza ele está se referindo? 
4. (cf. 2, 29) O que a circuncisão física significa para o israelita? Qual 
necessidade mais profunda a própria Torá evidencia? De acor­
do com Paulo, o que Deus realiza pelo batismo? O que Paulo 
indica sobre a necessidade do procedimento literal da circuncisão? 
Para meditar 
1 . (cf. 2 , 6- 1 1 ) De acordo com Paulo , por que medida você será julgado no fi­
nal de sua vida? O que isso representa para quem "por rebeldia, desobedece à 
verdade"? Se Deus é imparcial , quão severo você pensa que será o julgamento 
d'Ele no seu caso? 
2. (cf. 2, 1 3) Releia o estudo da palavra desse versículo. Depois de ter sido jus­
tificado pelo batismo e abraçado a fé proclamada, por quais meios você pode 
vivificar seu batismo? Segundo Paulo, o que significa "ouvir" a Lei e o que, em 
oposição, significa "observá-là' ? 
3 . ( cf. 2, 1 7-2 1 ) Sob a luz desses versículos, como você julga sua auto-imagem de 
cristão católico? Se alguém lhe acusasse de hipocrisia, quais provas você apre­
sentaria para refutar essa acusação? 
4. (cf. 2, 28-29) De acordo com esses versículos, o que é um verdadeiro católico? 
8 0 
A carta de São Paulo aos romanos 
CAPÍTULO 3 
Para compreender 
1 . (cf. 3 , 1 0- 1 8) O que a seqüência de citações dos Salmos sugere sobre a distin­
ção entre o j usto e o perverso? O que Paulo quer dizer com essas passagens? 
Qual é a relação entre o pecado e os membros do corpo humano? 
2 . (cf. 3, 20) O que significa a expressão "prática da Lei" ? Como a Torá contribui 
na vida espiritual dos fiéis? 
3 . (cf. 3, 23) O que Paulo quer dizer quando afirma que "todos pecaram"? Quais 
exceções realmente existem ao "todos" dessa passagem? 
4. (cf. 3, 28) De que modo a fé leva à j ustificação? O que o Concílio de Trento 
ensina sobre a capacidade do homem de merecer a graça da justificação por 
suas próprias obras? 
Para meditar 
1 . (cf. 3 , 8) Você pode se lembrar de algum momento de sua vida em que alguém 
justificou ações (aparentemente pouco) más com a desculpa de que um (apa­
rentemente maior) bem resultaria delas? O que está moralmente (e logicamen­
te)errado nesse raciocínio? Você também já usou essa lógica para justificar uma 
má ação? 
2. (cf. 3, 20-22) Se alguém lhe dissesse que o cristianismo não é necessário porque 
há muitos não-cristãos (inclusive ateus) que praticam mais o bem do que os 
próprios fiéis , qual seria sua resposta? 
3 . (cf. 3, 1 9-25) Se o que Paulo diz é verdade, qual é o sentido de ir à missa do­
minical, obedecer às restrições quaresmais e cumprir outros preceitos da Igreja? 
Qual é a finalidade dessas práticas? 
4. (cf. 3, 27) Se os cristãos não podem se orgulhar de suas obras, eles podem pelo 
menos se orgulhar de sua fé? Segundo Paulo, do que podemos nos orgulhar? 
CAPÍTULO 4 
Para compreender 
1 . (cf. 4, 3) O que Paulo quer demonstrar citando Gênesis 1 5 , 1 -5 ? O que a se­
qüência narrativa da história de Abraão nos revela? O que Paulo está tentado 
derrubar? 
8 1 
Cadernos de estudo bíblico 
2 . (cf. 4, 7-8) Leia Gn 1 5 , 6 e SI 32, 1 -2 . Qual técnica exegética Paulo está apli­
cando aqui? O que Paulo quer nos mostrar com esse recurso? 
3. (cf. 4, 1 8-24) Qual é o paralelo feito por Paulo nesses versículos? Qual é o 
ponto comum apresentado? 
4. (cf. 4, 25) O que Paulo está dizendo sobre a ressurreição de Jesus? Como os 
cristãos participam nesse mistério? 
Para meditar 
1 . (cf. 4 , 3-5) Quando você faz um pedido a Deus em oração, você espera uma 
resposta? O que o faz crer que Deus atenderá seu pedido? (Do contrário, por 
quais motivos você acha que ele não lhe atenderia?) . Em outras palavras, qual 
é o seu nível de confiança no amor de Deus por você? 
2 . (cf. 4, 9- 1 2) Um pregador já declarou em um programa de rádio que Deus 
nunca ouve as orações de um não-cristão. Essa declaração é coerente com esses 
versículos? Como você se sentiria se descobrisse que Deus atende as orações 
de alguns judeus, muçulmanos, hindus e budistas? Essa descoberta abalaria ou 
confirmaria sua fé? 
3 . (cf. 4, 1 5) O que Paulo está dizendo aqui? Ele quer dizer que o pecado e a pu­
nição pelos pecados não existem? (cf. Rm 1 , 1 8-32) . 
4. (cf. 4, 20) Diante de uma tragédia pessoal , como fica sua confiança em Deus? 
Quais são as promessas de Deus que superam tais calamidades? 
CAPÍTULO 5 
Para compreender 
1 . (cf. 5 , 1 0) Como a salvação pode acontecer no passado, presente e futuro? Qual 
outra passagem das Escrituras dá suporte a esse entendimento? 
2 . (cf. 5 , 1 2) De que modo Adão permitiu que a morte entrasse no mundo? Que 
tipo de morte é essa? Por que todos os homens são considerados pecadores se 
somente Adão pecou? O que o Concílio de Trento definiu como posição católi­
ca a respeito desse versículo? Como a condição de morte espiritual se propaga? 
3. (cf. Estudo da palavra: Figura) O que o termo grego typos significa? Qual é o 
seu significado mais corrente? Quais são alguns de seus significados no Novo 
Testamento? Em qual sentido Paulo aplica o termo? 
8 2 
A carta de Sáo Paulo aos romanos 
4. (cf. 5 , 20) Por que a Torá agravou o problema do pecado em Israel? Qual , 
portanto, era o objetivo da Lei? Segundo Sto. Agostinho, qual é a relação da 
Lei com a graça? 
Para meditar 
1 . (cf. 5 , 1 -5) Leia a nota (sobre as virtudes teologais) desse versículo. Em qual das 
três você apresenta maior fraqueza? Como essa fraqueza se revela em sua vida? 
O que você já fez para superá-la? 
2 . (cf. 5 , 3-5) Esses três versículos já se provaram verdadeiros em sua vida? De que 
modo o sofrimento e as tribulações podem produzir virtudes? 
3. (cf. 5, 6-8) Quão bom você deve ser para merecer o amor de Deus? Como 
Deus já interferiu em sua vida provando que o ama apesar de seus pecados? 
4. (cf. 5 , 20-2 1 ) Leia a nota sobre o versículo 20. Se a Lei multiplica os pecados , o 
que a graça faz? Se a morte é a conseqüência do pecado - e se você peca - que 
tipo de vida você pode esperar, de acordo com Paulo? Por quê? 
CAPÍTULO 6 
Para compreender 
1 . (cf. 6, 1 -23) Qual é a possível confusão mencionada por Paulo nesses versícu­
los? Quais princípios essa lógica trai ? 
2 . (cf. 6, 4) Quais são os principais efeitos do batismo? A que Paulo está aludindo 
quando descreve esse mistério? 
3. (cf. 6, 1 6) Qual é o ponto de Paulo aqui? Quem são os respectivos senhores de 
quem ele fala? Para onde o primeiro senhor estava guiando o servo? 
4. (cf. 6, 23) Qual é o serviço descrito nesse versículo? Qual é o seu pagamento? 
Para meditar 
1 . (cf. 6, 2) Qual seria sua resposta a essa pergunta? Quão "morto" para o pecado 
você acha que está? Como você lida com a tensão entre o chamado cristão 
à santidade e os padrões pecaminosos de comportamento que detecta em si 
mesmo? 
2. (cf. 6, 1 2- 1 4) Como suas ações podem mostrar que você não está mais sob o 
domínio do pecado? Por exemplo, se você não gosta de um conhecido, como 
pode agir para que isso não o controle? Se você está com medo de assumir 
um compromisso, como pode agir para que esse medo não domine seu com-
Cadernos de estudo bíblico 
portamento? De acordo com o versículo 1 4, qual fator impede que o pecado 
determine suas ações? 
3 . (cf. 6, 1 7) Se você fosse um músico, como seria tocar uma partitura, com todas 
as suas notas e dinâmicas , de coração? Como seria "obedecer de coração" a um 
ensinamento que lhe foi passado? Essa obediência o escraviza ou liberta? 
4 . (cf. 6, 20-23) Se a recompensa pela obediência a Deus é a santidade, você deve 
ser capaz de notar sinais dela olhando para o seu passado. Quais recordações 
lhe indicam que o pecado já não tem tanto poder sobre você? Quais são os seus 
interesses espirituais? 
CAPÍTULO 7 
Para compreender 
1 . (cf. 7, 5) O que Paulo quer dizer com "vivíamos no nível da carne" ? Para ele, 
o que significa "a carne" ? Para quais fins nós podemos usar nossos membros? 
2. (cf. 7, 7-25) O que Paulo está defendendo nesses versículos? De que ele está 
acusando o pecado? Como ele dramatiza sua acusação? O que a experiência da 
graça causa em nossa consciência? 
3 . (cf. 7, 9- 1 0) Quando Paulo diz "eu morri" , para quais pessoas ou grupos ele 
pode estar falando? 
4. (cf. 7, 23) Como é tradicionalmente chamada a "lei de pecado"? Como ela se 
manifesta? O que o Catecismo da Igreja Católica (CIC 405; 1 426; 2520) diz 
sobre sua permanência no fiel batizado? 
Para meditar 
1 . (cf. 7, 4-6) Se você está morto para a Lei e, portanto, livre dela, o que o impede 
de adotar a conduta que bem entender? A quem você pertence? 
2. (cf. 7, 7-8) De que modo a proibição de um ato pode provocar o desejo de fazê­
-lo? Você já fez alguma coisa exatamente porque lhe disseram para não fazê-la? 
Quais foram os resultados de sua desobediência? 
3 . (cf. 7, 1 5- 1 9) Como esses versículos se revelam em sua própria vida? Qual seria 
a fonte do conflito entre a intenção e a ação nesse caso, segundo a psicologia 
moderna? E segundo Paulo, qual seria? 
4. (cf. 7, 2 1 -24) Qual é a gravidade do conflito interno descrito por Paulo nessas 
passagens? O quanto você "põe toda a sua satisfação na Lei de Deus" ? Como 
A carta de São Paulo aos romanos 
você se sente quando essa entrega não é o bastante para dominar a tentação 
para o mal? Se esse conflito não causa preocupação em você, por que não? Se 
causa, o que você faz? 
CAPÍTULO 8 
Para compreender 
1 . (cf. 8 , 2) Quais são os dois significados possíveis para a expressão "a Lei do Es­
pírito" ? Com que freqüência Paulo refere-se ao Espírito nesse capítulo? Como 
o profeta Ezequiel prevê essa nova lei? 
2. (cf. 8, 1 4-25) Como fazemos para participar da vida do Filho de Deus? De que 
modo essa participação se estabelece? Quais são os paralelos com a narrativa do 
Êxodo nesses versículos? 
3. (cf. 8 , 29) O que Paulo quer dizer usando o termo predestinou nesse versículo? 
Em que devemos e não devemos crer sobre a predestinação? 
4 . (cf. 8 , 35 ) De acordo com Paulo, o que não tem o poder de nos apartar de Cris­
to? O que, segundo seu pensamento, pode nos separar? Com o que as aflições 
que Paulouma aliança nova, não aliança 
da letra, mas do espírito; pois a letra mata, e o Espírito é que dá a vidà' (2Co 3, 5-6) . 
A tradição católica reconhece três sentidos espirituais que se erguem sobre o ali­
cerce do sentido literal da Escritura (cf. CIC 115) : 
Alegórico. O primeiro é o alegórico, que revela o significado espiritual e profético da 
história da Bíblia. As interpretações alegóricas expõem como as personagens, os eventos 
e as leis da Escritura podem apontar para além deles mesmos, em direção ou a grandes 
mistérios ainda por vir (como no caso do Antigo Testamento) , ou aos frutos de mistérios 
já revelados (como no Novo Testamento) . Os cristãos freqüentemente lêem o Antigo 
Testamento dessa forma para descobrir de que modo o mistério da Nova Aliança do 
Cristo já estava contido no da Antiga - e também de que modo a Antiga Aliança foi 
manifestada plena e finalmente na Nova. A compreensão alegórica é também latente no 
Novo Testamento, especialmente no relato da vida e da obra de Jesus nos evangelhos . 
Sendo Cristo a cabeça da Igreja e a fonte de sua vida espiritual , tudo aquilo que foi reali­
zado por Ele enquanto viveu no mundo antecipa aquilo que Ele continua realizando em 
seus membros através da Graça. O sentido alegórico fortalece a virtude da fé. 
Moral. O segundo sentido espiritual da Escritura é o moral, ou tropológico, que revela 
como as ações do povo de Deus, no Antigo Testamento, e a vida de Jesus , no Novo, nos 
incitam a criar hábitos virtuosos em nossa própria vida. Nesse sentido, da Escritura se 
tiram alertas contra vícios e pecados , assim como nela se encontra a inspiração para se 
perseguir a pureza e a santidade. O sentido moral fortalece a virtude da caridade. 
I I 
Cadernos de estudo bíblico 
Anagógico. O terceiro sentido espiritual é o anagógico, que nos ascende à glória celeste: 
mostra-nos como um incontável número de eventos contidos na Bíblia prefigura nos­
sa união final com Deus na eternidade; revela-nos como as coisas visíveis na Terra são 
imagens das coisas invisíveis do Céu. O sentido anagógico leva-nos a contemplar nosso 
destino e, portanto, é próprio para o fortalecimento da virtude da esperança. 
Junto do sentido literal, esses sentidos espirituais extraem a totalidade daquilo 
que Deus quer nos dizer através de sua Palavra e, portanto, abarcam o que a antiga 
tradição chamava de "sentido total" da Sagrada Escritura. 
Tudo isso significa que os feitos e eventos narrados na Bíblia são dotados de um 
sentido que vai além do que é imediatamente aparente ao leitor. Em essência, esse 
sentido é Jesus Cristo e a salvação que, morrendo, Ele nos concedeu. Isso é correto 
sobretudo nos livros do Novo Testamento, que explicitamente proclamam Jesus; 
porém é também verdadeiro para o Antigo Testamento, que fala de Jesus de um 
modo mais camuflado e simbólico. Os autores humanos do Antigo Testamento nos 
revelaram tudo que lhes era possível revelar, mas eles não podiam, à distância em 
que estavam, ver claramente que forma tomariam os eventos futuros. Só o Espírito 
Santo, autor divino da Bíblia, podia predizer a obra salvífica do Cristo (e assim o 
fez) , da primeira página do livro do Génesis adiante. 
O Novo Testamento, portanto, não aboliu o Antigo. Ao contrário, o Novo cum­
priu o Antigo e, assim o fazendo, levantou o véu que mantinha escondida a face da 
noiva do Senhor. Uma vez removido o véu, vemos de súbito o mundo da Antiga 
Aliança cheio de esplendor. Água, fogo, nuvens, jardins, árvores, montanhas, pom­
bas, cordeiros - todas essas coisas são detalhes memoráveis na história e na poesia 
do povo de Israel. Mas agora, vistas à luz de Jesus Cristo, são muito mais que isso. 
Para o cristão que sabe ver, a água simboliza o poder salvífico do batismo; o fogo é 
o Espírito Santo; o cordeiro imaculado, o próprio Cristo crucificado; Jerusalém, a 
cidade da glória celestial. 
Essa leitura espiritual da Escritura não é novidade alguma. De fato, logo os pri­
meiros cristãos já liam a Bíblia dessa maneira. São Paulo descreve Adão como sendo 
um "tipo" que prefigurava Jesus Cristo (Rm 5, 14) .8 Um "tipo" é algo, ou alguém, ou 
um lugar ou um evento - reais - do Antigo Testamento que prenuncia algo maior 
do Novo Testamento. É desse termo que vem a palavra "tipologià', referente ao es­
tudo de como o Antigo Testamento prefigura Cristo (CIC 128-130) . Em outro tre-
8 Rm 5, 14: "Ora, a morte reinou de Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não haviam pecado, cometendo uma 
transgressão igual à de Adão, o qual é figura daquele que devia vir" (grifo adicionado). As traduções deste trecho (não só 
as brasileiras) preferem o termo figura à palavra tipo, que aparece em algumas traduções inglesas. O termo latino encon­
trado na Vulgata é forma. Aqui, mantém-se o termo tipo pela associação imediata que se faz com o conceito de tipologia 
- NE. 
12 
A carta de São Paulo aos romanos 
cho, São Paulo retira significados mais profundos da história dos filhos de Abraão, 
declarando: "Isto foi dito em alegorià' (Gl 4, 24) .9 Ele não está sugerindo que esses 
eventos distantes nunca aconteceram de fato; ele está dizendo que os eventos não só 
aconteceram mesmo como também significam algo maior ainda por vir. 
O Novo Testamento, depois, descreve o Tabernáculo da antiga Israel como sendo 
a "imitação e sombra das realidades celestes" (Hb 8 , 5) e a Lei Mosaica como "uma 
sombra dos bens futuros" (Hb 10, 1) . São Pedro, por sua vez, nota que Noé e sua 
família foram "salvos por meio da águà' que, de certo modo, "representavà' o sacra­
mento do Batismo, "que agora salva vocês" (lPd 3, 20-10) . É interessante saber que 
a palavra grega que aí foi traduzida para "representavà' é originalmente um termo 
que denota o cumprimento ou contrapartida de um antigo "tipo" . 
Não é preciso, no entanto, que busquemos justificar a leitura espiritual da Bíblia 
considerando apenas os discípulos. Afinal de contas, o próprio Jesus lia o Antigo 
Testamento assim. Ele se referia a Jonas (Mt 12, 39) , a Salomão (Mt 12, 42) , ao 
Templo Oo 2, 19) e à serpente de bronze (Jo 3, 14) como "sinais" que apontavam 
para ele mesmo. Vemos no evangelho de Lucas, quando Cristo conversa com os 
discípulos no caminho para Emaús, que "começando por Moisés e continuando por 
todos os Profetas, Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura 
que falavam a respeito dele" (Lc 24, 27) . Foi precisamente essa interpretação espiri­
tual do Antigo Testamento que causou um profundo impacto nesses viajantes, antes 
tão desencorajados, e deixou seus corações "ardendo" dentro deles (Lc 24, 32) . 
CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 
Nós também devemos aprender a discernir o "sentido total" da Escritura e o 
modo como nele estão incluídos o sentido literal e os espirituais. Contudo, isso não 
significa que devemos "exagerar na interpretação" , buscando significados na Bíblia 
que não estão de fato nela. A exegese espiritual não é um vôo irrestrito da imagina­
ção. Pelo contrário, é uma ciência sagrada que procede de acordo com certos prin­
cípios e permanece sob a responsabilidade da sagrada tradição, o Magistério, e da 
ampla comunidade de intérpretes bíblicos (tanto os vivos quanto os mortos) . 
Na busca do sentido total de um texto, sempre devemos evitar a forte tendência 
de "espiritualizá-lo demais" , de modo que a verdade literal da Bíblia seja minimizada 
ou até negada. Santo Tomás de Aquino, muito ciente desse problema, asseverou: 
"Todos os sentidos da Sagrada Escritura devem estar fundados no literal" (cf. CIC 
9 Gl 4, 24: "Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças [ . . . ]" (grifo adiciona­
do). Novamente há divergências terminológicas: as traduções ora utilizam o termo simbolicamente, ora o termo alegoria. 
O termo latino encontrado na Vulgata é allegoriam. A tradução brasileira aqui escolhida, especificamente para este caso, 
é a da Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002; assim, mantém-se o termo alegorialista aqui são comumente relacionadas? 
Para meditar 
1 . (cf. 8 , 1 2- 1 3) O que você precisa fazer para viver segundo o Espírito? Quão 
automática você imagina que seja a vida no Espírito? Quais são as alternativas 
que Paulo nos apresenta no versículo 1 3 ? 
2. (cf. 8 , 1 8) Quais são os "sofrimentos do tempo presente" ? Paulo está se refe­
rindo a sofrimentos individuais ou coletivos? Você acredita que vale a pena 
compará-los com a glória que o espera no futuro? 
3 . (cf. 8 , 24-25) Quais são alguns de seus pontos fortes e fracos com relação à vir­
tude da esperança? Como você faz para se equilibrar entre as duas deficiências 
relacionadas à esperança - de um lado, a presunção (crer que sua salvação já 
está garantida) , e, do outro, o desespero (o terror de achar que nunca a alcan­
çará, mesmo com a graça de Deus) ? 
4 . (cf. 8 , 28) De que modo os infortúnios pessoais e sociais podem contribuir 
para o bem daqueles que amam a Deus? O que impede que tais infortúnios 
sejam um transtorno tanto para a fé quanto para a esperança? Como você faz 
para ver nesses obstáculos uma ocasião para crescer no amor a Deus? 
8 5 
Cadernos de estudo bíblico 
CAPÍTULO 9 
Para compreender 
1 . (cf. 9 , 7- 1 3) O que Paulo nos revela nesses versículos? O que ele nos mostra 
sobre os filhos biológicos de Abraão e de Jacó? O que ele quer dizer com essa 
relação? 
2 . (cf. 9, 1 4- 1 8) O que Paulo nega sobre a eleição divina nesses versículos? Como 
ele usa o Êxodo para sustentar essa negação? O que Paulo está defendendo? 
3 . (cf. 9, 1 8) Como a conduta de Deus com o povo de Israel e com o faraó 
na narrativa do Êxodo se reflete nos dias de Paulo? O que o "endurecimento 
divino" causa aos pecadores? O que ele não causa? 
4. (cf. 9, 25-29) Por que Paulo recorre aos profetas Oséias e Isaías nesses ver­
sículos? O que cada profeta tem a dizer sobre a restauração do povo de Israel? 
5 . (cf. 9 , 33 ) Como a s duas passagens de Isaías citadas por Paulo s e relacionam? 
Qual é a imagem comum entre elas, e o que ela simboliza? 
Para meditar 
1 . (cf. 9 , 6-8) O que a expressão "Deus não tem netos" significa para você? Como 
que você faz para "herdar" a fé? 
2 . (cf. 9 , 1 3) Leia a nota sobre esse versículo. Como é possível que Deus ame 
"mais" uma pessoa do que outra? Qual é a sua confiança no amor de Deus 
por você? E de seu amor pelas pessoas que você considera incapazes de serem 
amadas? Se Deus ama igualmente a todos, por que alguns parecem estar mais 
próximos d'Ele do que outros? 
3 . (cf. 9, 1 4- 1 8) Quão perseverante você considera sua relação com Deus? 
Qual é a diferença entre ser firme na fé e ser apenas teimoso no jeito que vê e 
faz as coisas? 
4. (cf. 9 , 30-32) Como você pode saber se alguém (que não você) é devoto apenas 
por rotina ou tem fé verdadeira? Por que é perigoso fazer julgamentos dessa 
espécie? 
8 6 
A carta de São Paulo aos romanos 
CAPÍTULO I O 
Para compreender 
1 . (cf. 1 O , 4) Quais são os dois significados do termo fim na expressão "Cristo é o 
fim da Lei" ? Qual parece ser o mais adequado? Por quê? 
2 . (cf. 1 0 , 6-8) Na passagem em que Paulo cita Dt 30, 1 2- 1 4, o que Moisés diz 
sobre a responsabilidade de Israel? O que Paulo afirma, seguindo o espírito do 
profeta? Por que o povo de Israel não pode alegar ignorância do evangelho? 
3. (cf. 1 O , 1 4- 1 7) O que Paulo está salientando nesses versículos? Nas passa­
gens retiradas de Isaías, o que o profeta prevê? Por que Paulo diz que nem todos 
em Israel haviam rejeitado Jesus como o Messias ? 
4. (cf. 1 0 , 20-2 1 ) O que Paulo está tentando demonstrar pelas Escrituras 
aqui? Qual é o contraste revelado nas duas passagens seqüenciais de Isaías? 
Para meditar 
1 . (cf. 1 O , 2) O que é o "zelo por Deus" ? Qual é a diferença entre zelo e fanatismo? 
Como você caracterizaria seu próprio zelo por Deus? Quais são bons exemplos, 
entre pessoas que você conhece, de um zelo equilibrado por Deus? 
2. (cf. 1 0 , 9- 1 0) O que alcançamos pela confissão verbal (ou seja, audível e públi­
ca) de Jesus como Senhor, que não alcançamos somente com a fé guardada no 
coração? Por que devemos confessar Jesus verbalmente? 
3 . (cf. 1 0, 1 4- 1 5) Como você responderia a alguém que fosse contra a aproxi­
mação e pregação cristã em tribos primitivas com base na afirmação de que a fé 
cristã é estrangeira e nociva para suas culturas, e que sua religião nativa é mais 
apropriada para eles? Como você aplicaria Mt 28, 1 8-20 aqui? 
4. (cf. 1 O, 1 7) De acordo com Paulo, qual é o meio pelo qual a fé chega aos 
fiéis? Como esse versículo muda a noção popular de que é preciso "ver para 
crer" ? 
CAPÍTULO 1 1 
Para compreender 
1 . (cf. Estudo da Palavra: Resto) O que o conceito bíblico de "resto" significa? 
Quais são alguns exemplos de "restos" no AT? De que modo muitos profetas 
aplicam esse conceito? 
2 . (cf. 1 1 , 1 7-24) Como Paulo retrata o povo messiânico? Qual é a finalidade do 
Cadernos de estudo bíblico 
processo hortícola de enxertia? Segundo Paulo, o que essa analogia nos revela? 
3 . (cf. Ensaio: A salvação de todo o Israel) O que a expressão "todo o Israel" em 
Rm 1 1 , 26 significa? Quais são os argumentos que dão suporte a isso? Qual é 
a diferença sutil , mas significante, entre os termos "Israel" e "judeus" ? Como 
"todo o Israel" será salvo? 
4 . (cf. 1 1 , 28 ) Como o povo de Israel pode ser, ao mesmo tempo, inimigo e 
amado? 
Para meditar 
1 . (cf. 1 1 , 1 -6) Quais foram as dúvidas ou circunstâncias em sua vida que desafia­
ram sua fé? Quais conseqüências elas tiveram? Como que você fez para manter 
sua fé, mesmo que fosse pouca, diante desses obstáculos? 
2. (cf. 1 1 , 1 7-20) Quais são as raízes religiosas do cristianismo? Se você não é 
etnicamente judeu, o que essas raízes operam em você, que crê no cristianis­
mo? Quão reverente, portanto, você deve ser ao judaísmo? E a Deus, que lhe 
concedeu a graça da filiação divina? 
3. (cf. 1 1 , 28-29) Sob a luz desses versículos, como você responderia a alguém 
que dissesse que o povo de Israel foi rejeitado? Se alguém é inimigo de Deus 
"quanto ao evangelho" , como pode ser, ao mesmo tempo, "amado por causa 
dos pais" ? 
4. (cf. 1 1 , 33-36) Sob a luz desses versículos, como você pode olhar para os de­
sastres que já assolaram a Igreja como possíveis bênçãos do Espírito Santo? 
Por exemplo, como pode a secularização do Brasil moderno 13 representar uma 
possível bênção do Espírito Santo e não uma maldição? 
CAPÍTULO 1 2 
Para compreender 
1 . (cf. 12 , 1 -2) Quais são os exemplos que Paulo cita para comparar a adoração 
descrita em 1 , 1 8-32 com a adoração cristã? Em resumo, qual é a principal 
diferença entre a adoração pagã e cristã? 
2. (cf. 12 , 6) Qual é o propósito dos dons espirituais? Quais dons a listagem desse 
capítulo cobre? Com o que normalmente é relacionada a expressão "em propor­
ção com a fé recebidà'? O que significa a expressão "segundo a analogia da fé" ? 
13 No original, o autor refere-se aos Estados Unidos. Visto que a secularização moderna é um fenômeno global que também 
atinge o Brasil, transferi o objeto dessa meditação para a nossa nação - NT. 
8 8 
A carta de São Paulo aos romanos 
3 . (cf. 1 2, 1 9) O que Deus promete em Dt 32, 35 ? Como Paulo interpreta essa 
promessa? Como os cristãos devem tratar seus inimigos? 
4. (cf. 1 2, 20) O que Pv 25 , 2 1 -22 diz sobre a maldade e a vingança? Qual deve 
ser nossa motivação por trás das boas obras? 
Para meditar 
1 . (cf. 1 2 , 2) De quais formas você se "conforma" com os aspectos sociais, eco­
nômicos, políticos ou ideológicos do mundo em que vive? Por que Paulo nos 
alerta sobre o perigo de ficarmos muito conformados? Como você faz para 
permitir ser "transformado, renovando sua maneira de pensar e j ulgar" ? 
2 . (cf. 1 2 , 3-8) De acordo com a "medida da fé" que Deus lhe deu, quais são os 
dons espirituais que lhe foram concedidos? Como você faz uso deles? Qual é o 
bem que elesfazem para o corpo de Cristo? 
3 . (cf. 1 2, 1 3) Quando foi a última vez que você convidou algum padre ou 
pároco para um jantar em sua casa? Como você pode praticar a hospitalidade 
em sua própria comunidade paroquial? 
4. (cf. 1 2, 1 4-2 1 ) Como você trata aqueles que o ofendem? O que significa 
ceder espaço para que Deus promova a vingança, ao invés de executá-la com 
suas próprias mãos? Em seu contexto presente, o que você pode fazer para ven­
cer o mal que se lhe apresenta? 
CAPÍTULO 1 3 
Para compreender 
1 . (cf. 1 3 , 1 ) Qual é o papel do Estado na sociedade, segundo os planos de Deus? 
Até qual ponto os cristãos devem obediência ao Estado? Qual é responsabilida­
de do cristão se o Estado ultrapassa esse ponto? Por que então os cristãos devem 
rezar pelos governantes civis? 
2 . (cf. 1 3 , 4) O que é a ius gladii a que São Paulo se refere? Em qual situação essa 
medida extrema é aceitável? Qual é o argumento da tradição cristã que afirma 
o direito dos governos de aplicar essa pena? A Igreja moderna proíbe a pena 
de morte? 
3 . (cf. 1 3 , 8) Qual tipo de dívida é impossível de ser quitada? Como é, por­
tanto, que podemos cumprir essa obrigação? 
4 . (cf. 1 3 , 1 4) Considerando que os cristãos se revestem de Cristo pela primeira 
vez no batismo, o que Paulo está recomendando? 
Cadernos de estudo bíblico 
Para meditar 
1 . Que tipo de problemas você tem com aqueles que possuem autoridade sobre 
você (seja a autoridade de governo, do seu trabalho, ambiente social ou reli­
gioso) ? Como você resiste, evita ou faz críticas a essas autoridades? Por que São 
Paulo diz que é preciso se submeter a uma autoridade por respeito à própria 
consciência? 
2 . Quão cuidadoso você é em relação ao pagamento de impostos? E quais a s ra­
zões pelas quais São Paulo justifica esse pagamento? 
3 . Qual o nível da sua dívida financeira? Mesmo que vivamos numa época de 
crédito fácil, por que o cristão deve evitar permanecer na dívida? E como Deus 
quer que você honre suas dívidas? (Se você não sabe, o que pode fazer para 
compreender a vontade d'Ele quanto a isso?) 
4. (cf. 1 3 , 1 2- 1 4) Quais são os seus principais vícios? O que você está fazendo 
para vencê-los? O que Paulo nos aconselha a fazer para vencermos os desejos da 
carne? Como você faz para "revestir-se do Senhor Jesus Cristo" ? 
CAPÍTULO 1 4 
Para compreender 
1 . (cf. 14 , 1 ) Quem são os "fracos" referidos nesse versículo e quais são algumas 
de suas características? Quem eles provavelmente estão tentando imitar? Quais 
personagens do AT mantinham esta espécie de dieta da Diáspora que os fracos 
estão mantendo? 
2. (cf. 14, 3) Quais são as conseqüências de insuflar diferenças de opinião? A 
quem tanto os fracos quanto os fortes devem explicações? 
3. (cf. 14 , 1 1 ) Como a teologia judaica interpretava a passagem de Isaías 45 
citada por Paulo? Como Paulo a interpreta aqui? 
4 . ( cf. 1 4, 1 5) O que os fortes deveriam fazer pelos fracos? Por quê? 
Para meditar 
1 . (cf. 14 , 3) Como esse versículo aplica o que Paulo já dissera em 1 2 , 9- 1 3 e 1 3 , 
8- 1 O? Em quais outros aspectos que não o alimentar você é tentado a despre­
zar ou julgar as fraquezas dos outros? Como você faria para contra-atacar essa 
tentação? 
A carta de São Paulo aos romanos 
2. (cf. 1 4 , 7-8) Quais são as maneiras pelas quais você vive para si mesmo e não 
para o Senhor? Observando seu modo de viver, a quem você diria que sua vida 
realmente pertence? 
3 . (cf. 1 4, 1 5) De que modo algumas de suas atividades, buscas ou até mesmo 
passatempos podem ser nocivos à fé dos que estão próximos a você? Por que 
Paulo não adere ao raciocínio de que a reação das pessoas à sua conduta é "pro­
blema delas" ? O que significa o termo "escândalo" (CIC 2284) ? 
4. (cf. 1 4, 22-23) Quão importante é, de acordo com esses versículos, ter a con­
vicção de que o que você está fazendo é certo? De que modo pode ser pecami­
noso fazer boas obras sem a fé para lhes dar suporte? 
CAPÍTULO I 5 
Para compreender 
1 . (cf. 1 5 , 3) O verso citado nesse versículo fala sobre o quê? Retratando Jesus 
Cristo nos termos do Salmo, o que Paulo está acentuando? O exemplo de Jesus 
deveria inspirar os fortes a fazer o quê? 
2. (cf. 1 5 , 9- 1 2) O que a seqüência de versículos do AT aqui citados por Paulo 
prevêem? Eles dão suporte a qual perspectiva de Paulo? 
3 . (cf. 1 5 , 1 6) Como Paulo vê sua obra missionária? Qual é a sua oferta 
sacrificial ? Qual é a relação da profecia de Is 66, 1 8-20 com as aspirações mis­
sionárias de Paulo? 
4. (cf. 1 5 , 2 1 ) Por que Paulo cita Is 52, 1 5 aqui? O que a notícia do sofrimen­
to e morte do Messias deveria causar? 
Para meditar 
1 . (cf. 1 5 , 1 -3) Nesses versículos, Paulo quer dizer que devemos tolerar os defeitos 
dos outros ou que devemos procurar agradá-los? De que modo essa passagem 
dá suporte à sua resposta? De acordo com o versículo 2, qual é a finalidade 
dessa ação? 
2 . (cf. 1 5 , 1 3) De que modo a oração de Paulo pela esperança se aplica ao que ele 
disse sobre suportar as fraquezas dos fracos? Como isso pode se aplicar às suas 
próprias fraquezas? 
3 . (cf. 1 5 , 1 7- 1 9) Em qual situação é apropriado ter orgulho do que você fez 
por Deus? Quem, na realidade, tornou possível esses feitos? 
9 1 
Cadernos de estudo bíblico 
4. (cf. 1 5 , 30) O quanto você reza pelos missionários? E com que fervor? Segundo 
Paulo, quais são os motivos pelos quais devemos rezar por eles? 
CAPÍTULO 1 6 
Para compreender 
1 . (cf 1 6, 1 ) O que o termo "diaconisà' pode significar? Qual era a função das 
diaconisas no início da Igreja? O que o Concílio de Nicéia (325 d. C.) nos 
ensina sobre diaconisas? 
2 . (cf 1 6, 5) Onde os cristãos se reuniam para rezar e adorar no início da Igreja? 
Como essa prática reflete a dos judeus? 
3 . (cf 1 6, 1 8) A quem Paulo está se referindo nesse versículo? 
4 . (cf 1 6, 20) O que Paulo deseja que os cristãos romanos compreendam? A 
qual profecia bíblica Paulo está aludindo? A quem Paulo estende essa profecia? 
Para meditar 
1 . (cf 1 6, 1 6) Até que ponto é apropriado saudar seus companheiros de paróquia 
com uma saudação além do costumeiro aperto de mão? Como você se sente 
quando cumprimenta seus companheiros com o "sinal da paz" (ou "beijo san­
to" , nos termos de Paulo) durante a liturgia eucarística - e quão sincero você é 
nesse cumprimento? 
2. ( cf 1 6, 1 7- 1 9) Qual é a diferença entre uma discordância e uma dissensão? 
Você pode lembrar situações em que as percebeu em sua paróquia? Como você 
faz para permanecer equilibrado face a uma discordância sincera? O que você 
faz para não praticar o mal face a uma dissensão? 
3 . (cf. 1 6, 25-27) De que modo a fé fortalece sua obediência ao evangelho? O 
quanto ela já o inspirou a compartilhar o evangelho com os outros? 
9 2 
Anotações 
Anotações 
Anotações 
FICHA CATALOGRÁFICA 
Hahn, Scott; Mitch, Curtis; Walters, Dennis 
A carta de São Paulo aos romanos - Cadernos 
de estudo bíblico / Scott Hahn, Curtis Mitch e Dennis 
Walters; tradução de Giuliano Bonesso - Campinas, SP: 
Ecclesiae, 20 1 6. 
Título original: The Letter of Saint Paul to the Romans 
(Catholic Study Bible) 
ISBN: 978-85-849 1 -037-3 
1. Escudos Bíblicos 2. Igreja Católica 
I. Autores II. Título. 
CDD - 220.7 
282 
Índices para Catálogo Sistemático 
1 . Escudos Bíblicos - 220. 7 
2. Igreja Católica - 282 
Este livro foi impresso pela Gráfica Santuário. 
O miolo deste livro foi feito com papel 
Ofsset 90g, e a capa com cartão supremo 250g.no sentido de concordar com a 
uniformidade terminológica do restante da introdução - NE. 
r 3 
Cadernos de estudo bíblico 
116) .10 Por outro lado, jamais devemos confinar o significado de um texto em seu 
sentido literal, indicado pelo seu autor humano, como se o divino Autor não inten­
cionasse que aquela passagem fosse lida à luz da vinda do Cristo. 
Felizmente, a Igreja nos deu diretrizes de estudo da Sagrada Escritura. O caráter 
único e a autoria divina da Bíblia nos clamam a lê-la "com o espírito" . " O Concílio 
Vaticano II delineou de forma prática esse conselho direcionando-nos a ler a Escri­
tura de acordo com três critérios específicos: 
1 . Devemos "prestar muita atenção 'ao conteúdo e à unidade da Escritura inteirà" (CIC 
1 1 2) ; 
2. Devemos "ler a Escritura dentro 'da Tradição viva da Igreja inteira' " (CIC 1 1 3) ; 
3 . Devemos "estar atento[s] 'à analogia da fé"' (CIC 1 1 4; cf. Rm 1 2 , 6) . 
Esses critérios nos protegem de muitos perigos que iludem alguns leitores da 
Bíblia, do mais novo estudante ao mais prestigiado erudito. Ler a Escritura fora de 
contexto é uma tremenda armadilha, provavelmente a mais difícil de escapar. Num 
desenho animado memorável dos anos 50, um jovem garoto, debruçado sobre as 
páginas da Bíblia, dizia à sua irmã: "Não me perturbe agora; estou tentando achar 
um versículo da Escritura que fundamente meus preconceitos" . Não há dúvida de 
que um texto bíblico, privado de seu contexto original, pode ser manipulado a dizer 
algo completamente diferente daquilo que seu autor realmente intencionava. 
Os critérios da Igreja nos guiam justamente porque definem em que consistem 
os "contextos" autênticos de cada passagem bíblica. O primeiro critério dirige-nos 
ao contexto literário de cada verso, no que se inclui não apenas as palavras e pará­
grafos que o compõem e o circundam, mas também todo o corpo de escritos do 
autor bíblico em questão e, ainda, toda a extensão dos escritos da Bíblia. O contexto 
literário completo de qualquer parte da Escritura inclui todo e qualquer texto desde o 
Gênesis até o Apocalipse - já que a Bíblia é um livro unificado, não uma coleção de 
livros separados. Quando a Igreja canonizou o livro do Apocalipse, por exemplo, ela 
reconheceu que ele seria incompreensível se lido separadamente do contexto mais 
amplo de toda a Bíblia. 
O segundo critério posiciona firmemente a Bíblia no contexto de uma comuni­
dade que valoriza sua "tradição vivà'. Tal comunidade é o Povo de Deus através dos 
séculos. Os cristãos viveram sua fé por bem mais que um milênio antes da invenção 
da imprensa. Por séculos, só alguns fiéis possuíam cópias dos evangelhos e, aliás, só 
poucas pessoas sabiam ler. Ainda assim, eles absorveram o evangelho - através dos 
10 Cf. Sto. Tomás de Aquino, Summa Theologiae I, !, 10, ad 1. 
11 Cf. Dei Verbum, 12. 
14 
A carta de São Paulo aos romanos 
sermões dos bispos e clérigos, através de oração e meditação, através da arte cristã, 
através das celebrações litúrgicas e através da tradição oral. Essas eram as expressões 
de uma "tradição viva'', de uma cultura de viva fé que se estende da antiga Israel à 
Igreja contemporânea. Para os primeiros cristãos, o evangelho não podia ser enten­
dido à parte dessa tradição. Assim também é conosco. A reverência pela tradição 
da Igreja é o que nos protege de qualquer tipo de provincianismo cultural ou cro­
nológico, como alguns modismos acadêmicos que surgem, arrebatam uma geração 
inteira de intérpretes e logo são rejeitados pela próxima geração. 
O terceiro critério coloca a Escritura dentro do quadro da fé. Se cremos que a 
Escritura é divinamente inspirada, temos de crer também que ela é internamente 
consistente e coerente com todas as doutrinas nas quais os cristãos crêem. É impor­
tante relembrar que os dogmas da Igreja (como o da Presença Real, o do papado, 
o da Imaculada Conceição) não foram adicionados à Escritura; eles são, de fato, a 
interpretação infalível da Escritura feita pela Igreja. 
USANDO ESTE ESTUDO 
Este estudo foi projetado para conduzir o leitor pela Escritura dentro das di­
retrizes da Igreja - fidelidade ao cânon, à tradição e ao credo. Os princípios in­
terpretativos usados pela Igreja, portanto, é que deram forma unificada às partes 
componentes deste livro, de modo a fazer com que o estudo do leitor seja eficaz e 
recompensador tanto quanto possível. 
Introduções. Nós fizemos uma introdução ao texto bíblico que, na forma de ensaio , 
abarca as questões sobre sua autoria, a data de sua composição, seus objetivos e propó­
sitos originais e seus temas mais recorrentes . Esse conjunto de informações históricas 
ajuda o leitor a compreender e a se aproximar do texto nos seus próprios termos. 
Comentários. Os comentários feitos em toda página ajudam o estudante a ler a Escritu­
ra com conhecimento. De forma alguma eles esgotam os significados do texto sagrado, 
mas sempre providenciam um material informativo básico que auxilia o leitor a encon­
trar o sentido do que lê. Freqüentemente, esses comentários servem para deixar explícito 
aquilo que os escritores sagrados tomavam por implícito. Eles também trazem um gran­
de número de informações históricas, culturais , geográficas e teológicas pertinentes à 
narrativa inspirada - informações que podem ajudar o leitor a suprimir a distância entre 
o mundo bíblico e o seu próprio. 
Notas e referências. Junto do texto bíblico e de seus comentários, em cada página são 
listadas numerosas notas que fazem referência a outras passagens da Escritura relaciona­
das àquela que o leitor está estudando. Essas notas de acompanhamento são essenciais 
para todo e qualquer estudo sério. São também um ótimo meio de se ver como o con-
15 
Cadernos de estudo bíblico 
teúdo da Escritura "se encaixà' numa unidade providencial . Junto às notas e referências 
bíblicas, os comentários também apontam a determinados parágrafos do Catecismo da 
Igreja Católica (CIC) . Eles não são "provas doutrinais" , e sim um auxílio para que a 
interpretação da Bíblia por parte do estudante esteja de acordo com o pensamento da 
Igreja. Os parágrafos do Catecismo mencionados ou tratam diretamente de algum texto 
bíblico ou tratam, então, de um tema mais amplo da doutrina que lança uma luz essen­
cial ao texto bíblico relacionado. 
Ensaios sobre tópicos, Estudos de palavras e Quadros. Esses recursos trazem ao leitor 
um entendimento mais profundo a respeito de determinados detalhes . Os ensaios sobre 
tópicos abordam grandes temas no sentido de explicá-los de modo mais minucioso e 
teológico do que o que se usa nos comentários gerais , relacionando-os com freqüência 
às doutrinas da Igreja. Os comentários, inclusive, são ocasionalmente complementados 
de um estudo de palavras que coloca o leitor em contato com as antigas linguagens da 
Escritura. Isso deveria ajudar o estudante a apreciar e a entender melhor a terminologia 
que foi inspirada e que percorre todos os textos sagrados. Também neste livro estão in­
cluídos vários quadros que resumem muitas informações bíblicas "num piscar de olhos" . 
Ícones . Os seguintes ícones, intercalados ao longo dos comentários, correspondem cada 
qual a um dos três critérios de interpretação bíblica promulgados pela Igreja. Pequenas 
bolas pretas (•) indicam a que passagem (ou a que passagens) cada ícone se aplica. 
fT1 Os comentários marcados pelo ícone do livro relacionam-se ao primeiro critério 
LlU interpretativo, o do "conteúdo e unidade" da Escritura, a fim de que se torne ex­
plícito o modo como determinada passagem do Antigo Testamento ilumina os mistérios 
do Novo. Muitas das informações contidas nesses comentários explicam o contexto ori­
ginal das citações e indicam a maneira e o motivo pelos quais aquele trecho tem ligação 
direta com Cristo e com a Igreja. Por esses comentários, o leitor é capaz de desenvolver 
sua sensibilidade à beleza e à unidade do plano salvífico de Deus, que perpassa ambos os 
Testamentos. 
� Os comentários marcados pelo ícone da pombarelacionam-se ao segundo crité­
.. rio interpretativo e examinam as passagens em questão à luz da "tradição viva" da 
Igreja. Como o mesmo Espírito Santo foi quem inspirou os sentidos espirituais da Escri­
tura e é quem guia agora o Magistério que a interpreta, as informações contidas nesses 
comentários seguem essas duas vias da interpretação. Por um lado, referem-se aos ensi­
namentos doutrinais da Igreja da maneira como são apresentados por vários papas e 
concílios ecumênicos; por outro lado, eles expõem (e parafraseiam) as interpretações 
espirituais de vários Padres Antigos, Doutores da Igreja e santos. 
m Os comentários marcados pelo ícone das chaves relacionam-se ao terceiro critério 
W interpretativo, o da "analogia da fé" . Neles é possível decifrar como um mistério 
1 6 
A carta de São Paulo aos romanos 
da fé "desvendà' e explica outro. Esse tipo de comparação entre alguns pontos da fé 
cristã evidencia a coerência e unidade dos dogmas definidos , ou seja, da interpretação 
infalível da Escritura feita pela Igreja. 
COLOCANDO TUDO EM PERSPECTIVA 
Talvez tenhamos deixado por último o mais importante aspecto de todo este 
estudo: a vida interior individual do leitor. O que tiramos ou deixamos de tirar da 
Bíblia depende muito do modo como a abordamos. Se não mantivermos uma vida 
de oração consistente e disciplinada, jamais teremos a reverência, a profunda humil­
dade ou a graça necessária para ver a Escritura como ela de fato é. 
Você está se aproximando da "palavra de Deus" . Mas, por milhares de anos - des­
de muito antes de tecer-lhe no ventre de sua mãe -, a Palavra de Deus se aproxima 
de você. 
UMA NOTA FINAL 
O livro que tem nas mãos é apenas uma pequena parte de um trabalho muito 
maior que ainda está em andamento. Guias de estudo como este estão sendo prepa­
rados para todos os livros da Bíblia e serão publicados gradualmente, à medida que 
forem sendo finalizados. Nosso maior objetivo é publicar um grande estudo bíblico 
que, num único volume, inclua o texto completo da Escritura junto de todos os 
comentários, quadros, notas, mapas e os outros recursos encontrados nas páginas 
seguintes. Enquanto isso não acontece, cada livro será publicado individualmente, 
na esperança de que o povo de Deus possa já se beneficiar deste trabalho antes mes­
mo que esteja completo. 
Aqui incluímos ainda uma longa lista de questões de estudo, ao final , para deixar este 
formato o mais útil possível, não apenas para o estudo individual , mas também para 
discussões em grupo. As questões foram projetadas para fazer o estudante tanto compre­
ender quanto meditar a Bíblia, aplicando-a à própria vida. Rogamos a Deus para que faça 
bom uso dos seus e dos nossos esforços para renovar a face da Terra! 
17 
INTRODUÇÃO À CARTA DE SÃO PAULO AOS 
ROMANOS 
AUTORIA E DATA 
Tanto os estudiosos antigos quanto os modernos concordam que o autor da Carta 
aos Romanos é o apóstolo Paulo. Além de ter seu nome na própria carta (1, 1) , o con­
teúdo da obra é concordante com o que conhecemos do ministério e do pensamento 
de Paulo no livro dos Atos dos Apóstolos e em suas outras epístolas do NT. É tam­
bém consenso que Paulo escreveu essa carta nos últimos meses de sua terceira jornada 
missionária (At 18, 23-21, 16) , provavelmente durante o inverno, no final do ano 
57 d.C. , ou em meados de 58 d.C. . Essa afirmação tem como base informações de 
Rm 15, onde Paulo menciona seus esforços para arrecadar fundos na Macedônia e na 
Acaia (atual Grécia) "para os santos de Jerusalém que estão na pobreza" (15, 26) . De 
acordo com At 20, 1-3, Paulo passou por essas regiões logo antes de partir a Jerusalém 
para oferecer sua coleta em 58 d.C. . A carta foi provavelmente enviada da cidade Acaia 
de Corinto, ou do seu porto mais próximo, a Cencréia (Rm 16, 1) . 
DESTINATÁRIOS 
Na época de Paulo, Roma era a capital do Império Romano e a metrópole mais 
populosa do mundo mediterrâneo. Embora predominantemente pagã e notória por 
sua imoralidade, a cidade também abrigava mais de uma dúzia de sinagogas judai­
cas. O nascimento do cristianismo em Roma é um dos muitos enigmas da História 
que ainda não foram esclarecidos. O evangelho deve ter chegado primeiro à cidade 
por meio de peregrinos judeus que retornavam de Jerusalém (At 2, 10) . A Tradição 
também nos relembra que o apóstolo Pedro pregou o evangelho na capital do Im­
pério nos anos 40 do primeiro século (ver nota em nosso estudo bíblico sobre os 
Atos dos Apóstolos, 12, 17) . Independentemente de qual foi o primeiro contato de 
Roma com o evangelho, a cidade já havia adquirido uma reputação radiante por 
causa de sua fé na época em que Paulo escreveu à comunidade cristã (Rm 1, 8) . 
Pistas espalhadas por toda a carta sugerem que a igreja de Roma nesse período era 
composta por um misto de fiéis judeus (2, 17; 7, 1) e gentios (II, 13; 15, 15-16) . 
Os gentios compunham provavelmente a maioria, já que grande parte dos nomes 
citados no capítulo 16 é greco-romana e apenas uma pequena parcela é de origem 
1 9 
Cadernos de estudo bíblico 
semítica. Mesmo assim, muitos acadêmicos sustentam que a igreja de Roma ainda 
estava muito associada às comunidades das sinagogas locais, onde aparentemente 
criou suas primeiras raízes. 
FINALIDADE 
A Carta aos Romanos tem como base três objetivos principais. (1) Paulo escre­
veu-a para apresentar-se e apresentar seu ensinamento aos cristãos romanos que se 
preparavam para receber sua visita já anunciada (1, 11-13) . A igreja em Roma foi 
um dos poucos locais para os quais Paulo escreveu antes de fazer uma visita. (2) Pau­
lo esperava usar a igreja romana como plataforma para uma nova etapa missionária 
de evangelização. Tendo completado seu trabalho na região Leste do mediterrâneo, 
Paulo estava agora pronto para direcionar sua atenção e seus esforços à Espanha, no 
Oeste (15, 23-24) . A carta é a tentativa inicial de Paulo de engajar os romanos para o 
suporte e a viabilização de seus novos planos apostólicos. (3) Paulo também esperava 
aliviar as tensões que estavam impedindo a unidade e irmandade da própria igreja 
romana. A vanglória, ao que parece, era um problema tanto para os judeus quan­
to para os gentios: os judeus se vangloriavam das bênçãos e privilégios da Antiga 
Aliança (2, 1-3, 20) ; e os gentios afirmavam que haviam substituído Israel e agora 
eram o novo povo dileto de Deus (11, 13-32) . Por esse motivo, Paulo argumenta 
longamente sobre a unidade e eqüidade de todos os povos pela fé em Jesus Cristo 
(3, 28-30) e exorta os fiéis de cada nação a receberem uns aos outros como servos e 
adoradores do mesmo Senhor (10, 12; 15, 7-12) . 
TEMAS E CARACTERÍSTICAS 
A Carta aos Romanos é uma obra de profunda reflexão teológica. Como tal, ela 
provavelmente influenciou o pensamento e a história cristã mais do que qualquer 
outra epístola paulina. É sua carta mais longa e, aos olhos de muitos, a mais madura. 
De fato, Paulo pregou e defendeu o evangelho por duas décadas antes de escrevê-la, 
nos deixando um trabalho marcado por sua sabedoria, profundidade, e vigor espiri­
tual. Ainda mais do que em seus outros escritos, no entanto, a Carta aos Romanos 
é repleta de "coisas difíceis" de entender (2Pd 3, 16) . Seu estilo é mais formal que o 
de costume, e seus pensamentos vão e voltam numa rede complexa de mistérios te­
ológicos sobre pecado, juízo, retidão, justificação, santificação, salvação, sofrimento, 
lei, graça, filiação, eleição, misericórdia, sacrifício, e sobre a trindade e unidade de 
Deus. Se alguma epístola do NT pode ser considerada um tratado de teologia, essa 
epístola é a Carta aos Romanos. 
O corpo da Carta aos Romanos pode ser dividido com precisão em três partes 
principais. (!)Salvação em Cristo (l, 16-8, 39) . A carta tem início com uma vasta 
20 
A carta de São Paulo aos romanos 
acusação à humanidade, que declara o mundo culpado diante de Deus. Aqui Paulo 
afirma que o câncer da rebelião humana, que se espalhou ferrenhamente entre os 
pagãos (1, 18-32) , também contaminouIsrael (2, 1-3, 20) . Como resultado disso, 
todas as nações, sem distinção, ficaram escravas dessa condição vergonhosa: emara­
nhadas no pecado e em desesperada necessidade de salvação (3, 23) . Deus responde 
a essa tragédia enviando seu Filho, Jesus Cristo, cuja morte e ressurreição resgatam a 
família decaída de Adão e a reconciliam com Deus (5, 1-21) . Em muitas passagens 
dessa seção Paulo reflete profundamente sobre o mistério do pecado (6, 12-23; 7, 
7-25) e sobre a salvação que vivenciamos em Cristo e através do Espírito (8, 1-39) . 
(2) Restauração de Israel (9, 1-11, 39) . A seção central da carta examina o lugar do 
povo de Israel na nova economia da graça. Embora muitos em Israel tivessem repu­
diado o evangelho, Paulo insiste que Deus não abandonou o povo de sua aliança, 
mas planeja salvar "todo o Israel" em Cristo (11, 26-27) . Esse fato, de acordo com 
Paulo, repete o padrão das relações de Deus com Israel nas Escrituras. Esses capítu­
los também examinam como os gentios estão ligados a Israel como ramos enxerta­
dos no tronco de uma oliveira (11, 17-24) . (3) A vida cristã e Epílogo (12, 1-16, 
23) . Os capítulos finais da Carta aos Romanos são uma aplicação prática da teologia 
exposta nos capítulos anteriores. Aqui Paulo discorre sobre as obrigações do fiel na 
Igreja e na sociedade. Sua catequese segue os principais contornos dos ensinamentos 
de Jesus nos evangelhos (12, 9-21) . Nesta seção encontramos as instruções mais ex­
plícitas de Paulo sobre como deve ser a relação dos cristãos com o Estado (13, 1-7) 
e sobre a necessidade dos fiéis de exercitar a liberdade cristã com prudência, para 
prevenir que causem a queda uns dos outros (14, 1-23) . 
21 
ESQUEMA DA CARTA DE SÃO PAULO AOS ROMANOS 
1. Prólogo (1, 1-15) 
1. Saudação (1, 1-7) 
2. Ação de graças (1, 8-15) 
II. Salvação em Cristo (1, 16-8, 39) 
1. Tema: a justificação pela fé (1, 16-17) 
2. Condenação: a corrupção universal dos gentios e judeus (1, 18-3, 20) 
3. Justificação: a graça e do perdão pela fé (3, 21-5, 11) 
4. Jesus Cristo: Adão pecador, Cristo salvador (5, 12-21) 
5. Santificação: morte e vida com Cristo (6, 1-8, 11) 
6. Glorificação: o Espírito, a filiação e o sofrimento (8, 12-39) 
III. Restauração de Israel (9, 1-11, 36) 
1. Eleição de Israel (9, 1-29) 
2. Rejeição de Israel do evangelho (9, 30-10, 21) 
3. Ressurreição e salvação de Israel (1l, 1-36) 
IV. A vida cristã (12, 1-14, 23) 
1. Conduta cristã na Igreja (12, 1-21) 
2. Cidadania cristã (13, 1-7) 
3. O amor confirma a lei de Deus (13, 8-14) 
4. Irmandade e flexibilidade cristãs (14, 1-23) 
V. Epílogo (15, 1-16, 23) 
1. Admoestação ( 15, 1-7) 
2. Sumário da epístola (15, 8-13) 
3. Ministério e projetos de viagem de Paulo (15, 14-33) 
4. Saudações pessoais (16, 1-23 [24]) 
VI. Doxologia final (16, 25-27) 
2 3 
A CARTA DE SÃO PAULO AOS 
ROMANOS 
1 Saudação - 1Paulo, servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de 
Deus, 2evangelho que Deus prometeu por meio de seus profetas, nas Sagradas Escrituras, 3a respeito 
de seu Filho. Este, segundo a carne, era descendente de Davi, 4mas, segundo o Espírito de santidade 
foi declarado Filho de Deus com poder, desde a ressurreição dos mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor. 5Por 
ele recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de trazermos à obediência da fé, para a glória de 
seu nome, todas as nações; 6entre as quais também vós, chamados a pertencer a Jesus Cristo. 7 A vós todos 
que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de 
nosso Senhor, Jesus Cristo. 
Ação de graças - 8Primeiramente, dou graças ao meu Deus, por meio de Jesus Cristo, por todos vós, 
pois no mundo inteiro se faz o elogio de vossa fé. 9Deus, a quem presto um culto espiritual, servindo ao 
evangelho do seu Filho, é testemunha de que constantemente faço menção de vós, 10pedindo sempre em 
minhas orações que eu possa, enfim, fazer uma boa viagem até vós, de acordo com a vontade de Deus. 1 1 Pois 
desejo vivamente estar convosco, para vos mediar alguma dádiva espiritual, a fim de serdes confirmados, 
12ou melhor, a fim de que todos nós sejamos reconfortados, eu por vós e vós por mim, graças à fé que nos é 
comum. 13 Aliás, irmãos, deveis saber que, muitas vezes, me propus ir até vós, mas até agora fui impedido de 
realizar este propósito. Na verdade, desejo colher algum fruto, tanto entre vós como entre as demais nações. 
14Sou devedor tanto aos gregos quanto aos bárbaros, tanto aos letrados quanto às pessoas sem instrução. 
1 5Daí o meu ardente desejo de anunciar o evangelho também a vós, que estais em Roma. 
l, l: Ar 9 , 1 5 ; 1 3 , 2 ; ! Cor I, 1; 2Cor 1 , l ; GI 1, 1 5 . l, 5: At 26, 1 6- 1 8 ; Rm 1 5 , 1 8 ; GI 2 , 7. 9. l, 7: ! Cor 1 , 3; 2Cor 1 , 2 ; GI l, 3 ; Ef l , 2 ; FI 
l, 2 ; CI 1 ,2 ; l Ts l , 2 ; 2Ts 1. 2 ; ! Tm l, 2; 2Tm 1 . 2 ; Tt l, 4; Fm 3 ; 2Jo 3. 1, 8: Rm 1 6 , 1 9 . l, 10: Rm 1 5 , 23. 32; At 1 9, 2 1 . 
COMENTÁRIOS 
1, 1 -7: Paulo adapta e expande a intro­
dução convencional usada nas epístolas de 
seu tempo ("De A para B, saudações") pre­
enchendo-a com elementos cristãos . Soma­
do ao seu nome ( 1 , 1 ) e ao do destinatário 
( 1 , 7), ele adiciona seu chamado divino ao 
apostolado ( 1 , 1), introduz o evangelho ( 1 , 
2-5) e substitui a saudação costumeira, de 
desejar saúde, desejando agora graça e paz a 
seus destinatários ( 1 , 7). 
� 1 , 1 "Paulo" - Sobrenome romano 
a. usado com freqüência pelo apóstolo 
desde os primeiros dias de seu minis­
tério (At 1 3 , 9). Anteriormente ele respondia 
pelo nome hebraico "Saulo" . Assim como 
Paulo, muito judeus dos tempos do NT usa­
vam dois nomes, um semítico e um greco­
-romano (At 1, 23; 9, 36; 1 2 , 1 2 ; 1 3 , 1). 
"Servo": Ou "escravo" . Paulo não usa 
esse termo para dizer que sua submissão a 
Cadernos de estudo bíblico 
Cristo é degradante ou desumana. Paulo 
quer dizer que fez de sua vida um presente 
a Cristo , colocando todos os seus talentos e 
forças a serviço da missão que lhe foi confe­
rida (CIC 876). 
"Apóstolo": Um emissário ou mensagei­
ro enviado pelo Jesus ressuscitado para di­
vulgar o evangelho ( l Cor 9, 1 ; Gl 1 , 1 ). 
• Logo no início da carta Paulo se designa 
apóstolo, não para insuflar sua autoridade, 
mas para convencer seus leitores , de modo 
que lessem a carta com mais atenção e serie­
dade. (Teodoreto de Cirro, Interpretação de 
Romanos). 
"Separado": Mesmo antes de seu nasci­
mento, Paulo já havia sido consagrado para 
sua missão apostólica (Gl 1 , 1 5). 
1, 2: "nas Sagradas Escrituras" - A 
mensagem do evangelho é a mensagem da 
própria Bíblia. Foi profetizada e prevista há 
muito tempo nas escrituras hebraicas ( 1 5 , 4; 
1 6, 26) . Essa convicção de Paulo é vastamen­
te confirmada na Carta aos Romanos, onde 
Paulo apela ao AT mais de 60 vezes ao longo 
dos seus 1 6 capítulos (CIC 1 2 1 -23). 
1, 3-4: Possivelmente um excerto de al­
gum hino ou credo da Igreja Antiga. Essa 
passagem não está fazendo uma referência à 
dupla natureza de Cristo, humana e divina, 
mas delineia duas fases de sua vida encarna­
da, como homem (2Tm 2, 8). A linha que 
divide essas duas fases é a Ressurreição: Jesus 
descendeu da linhagem real de Davi segundo 
a carne (Rm 1 , 3), e então, ao levantar dos 
mortos, sua humanidade renasceu para uma 
vida celestial - o reinado eterno, conferido 
pelo poder do Espírito( l , 4). Esses versículos 
foram compostos com base nos conceitos da 
tradição judaica sobre o messias, encontra­
dos nos escritos da época. 
fT11, 3 "a respeito de seu Filho" - Suge­
W re que Paulo tivesse em mente passa­
gens específicas do AT sobre o "Filho" . 
• Duas passagens se encaixam na descrição: 
2Sm 7, 1 4 e SI 2, 7. Ambas se referem ao Rei 
davídico. Na antiga Israel, os reis da linha­
gem de Davi recebiam o título de "filhos" de 
Javé no dia de sua posse, segundo um decreto 
de adoção real. Paulo vê esse padrão elevar­
-se a um novo patamar na manhã da Páscoa, 
quandoa humanidade de Jesus, descendente 
de Davi, é ungida e transformada para rece­
ber uma parte na glória da filiação divina - o 
reinado eterno (At 1 3 , 33-34) . Esse aconteci­
mento, que culmina na entronização de Jesus 
no Céu, cumpriu a profecia de Javé, feita na 
Aliança, de estabelecer o reino eterno de Davi 
(SI 89, 3-4; 1 32, 1 1 ; Lc 1 , 32-33; At 2, 29-36) . 
1 , 4: "declarado" - Ou "determinado" . 
Paulo não está dizendo que Jesus se tornou o 
filho divino de Deus somente depois de sua 
ressurreição, mas que a glória de sua filiação 
divina foi agora manifestada em sua huma­
nidade ressuscitada (CIC 445 , 648). 
1, 5: "obediência da fé" - Provavelmen­
te significa "a obediência que é a fé" ou "a 
obediência que nasce da fé" . A expressão, 
que tem uma reincidência no final da carta 
( 1 6, 26) , é o ponto de partida e de retorno 
da Carta aos Romanos. Ela mantém toda a 
epístola unida em torno do tema central da 
fé, que é o ato de confiar e se confiar a Deus . 
A fé inspira o amor (Gl 5 , 6) e é a base indis­
pensável para uma relação viva com Cristo 
(Rm 1 , 1 7; Hb 1 1 , 6 ; CIC 1 43 ; 1 8 1 4). 
"Todas as nações": Paulo foi feito após­
tolo tanto para os "pagãos" ( 1 1 , 1 3) quanto 
para os "israelitas" (At 9, 1 5). 
1 , 8: "no mundo inteiro" - A igreja de 
Roma já era amplamente admirada e reco­
nhecida no mundo inteiro como um exem­
plo vivo da fé cristã ( 1 6, 1 9) . Sua reputação 
continuou a crescer depois que Pedro e Pau­
lo pregaram, ensinaram e sofreram o martí­
rio na cidade, na década de 60 do primeiro 
século. Esses acontecimentos moveram a 
atenção dos primeiros cristãos de Jerusalém 
A carta de São Paulo aos romanos 
para Roma, que se tornou o novo centro de 
tradição e autoridade apostólica. Ver nota 
em nosso estudo bíblico sobre os Atos dos 
Apóstolos , 1 2 , 1 7 . 
1 , 1 1 : "desejo vivamente estar convos­
co" - Um desejo que foi cumprido quando 
Paulo chegou a Roma como prisioneiro por 
volta de 60 d.C. (At 28, 14- 1 6) 
O poder do evangelho - 1 6Eu náo me envergonho do evangelho, pois ele é a força salvadora de Deus 
para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego. 17Nele se revela a justiça de 
Deus, que vem pela fé e conduz à fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé". 
A ira de Deus contra a perversão dos homens - 18Ao mesmo tempo revela-se, lá do céu, a ira de Deus 
contra toda impiedade e injustiça humana, daqueles que por sua injustiça reprimem a verdade. 19Pois o 
que de Deus se pode conhecer é a eles manifesto, já que Deus mesmo lhes deu esse conhecimento. 20De 
fato, as perfeições invisíveis de Deus - náo somente seu poder eterno, mas também a sua eterna divindade 
- são percebidas pelo intelecto, através de suas obras, desde a criação do mundo. Portanto, eles não têm 
desculpa: 2 1 apesar de conhecerem a Deus, náo o glorificaram como Deus nem lhe deram graças. Pelo 
contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. 22Alardeando 
sabedoria, tornaram-se tolos23e trocaram a glória do Deus incorruptível por uma imagem de seres 
corruptíveis, como: homens, pássaros, quadrúpedes, répteis. 24Por isso, Deus os entregou, dominados 
pelas paixões de seus corações, a tal impureza que eles desonram seus próprios corpos. 25Trocaram a 
verdade de Deus pela falsidade, cultuando e servindo a criatura em lugar do Criador, que é bendito para 
sempre. Amém. 
26Por tudo isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: tanto as mulheres substituíram a relaçáo natural 
por uma relaçáo antinatural, 27como também os homens abandonaram a relaçáo sexual com a mulher e 
arderam de paixáo uns pelos outros, praticando a torpeza homem com homem e recebendo em si mesmos 
a devida paga de seus desvios. 28E, porque não aprovaram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os 
entregou ao seu reprovado modo de pensar. Praticaram entáo todo tipo de torpeza: 29cheios de injustiça, 
iniqüidade, avareza, malvadez, inveja, homicídio, rixa, astúcia, perversidade; intrigantes, 30difamadores, 
abominadores de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, tramadores de maldades, rebeldes aos pais, 
3 1 insensatos, traidores, sem afeiçáo, sem compaixão. 32E, apesar de conhecerem o juízo de Deus que declara 
dignos de morte os autores de tais ações, não somente as praticam, mas ainda aprovam os que as praticam. 
l, 13: Rm 1 5 , 22 . 1 , 14: ! Cor 9, 1 6. l, 16: ! Cor 1 , 1 8 . 24. l, 17: Rm 3, 2 1 ; GI 3, l l ;FI 3, 9; Hb 10 , 38; Hab 2, 4. l, 18: Ef S. 6; CI 3. 6. l , 
20: 51 1 9, l -4. l , 2 l : Ef 4, 1 7 - 1 8 . l , 23: At 1 7, 29. 
1, 14: "gregos" - Povos cultos do me­
diterrâneo que tinham como língua mãe o 
grego. 
"Bárbaros": Povos do mediterrâneo que 
falavam outras línguas que não o grego e se-
guiam seus próprios costumes nativos. Para 
mais encontros de Paulo com bárbaros, ver 
notas em nosso estudo bíblico sobre os Atos 
dos Apóstolos , 14 , 8- 1 8 e 27, 1 - 1 0 . 
1 , 16: "eu não me envergonho" - Pau-
27 
Cadernos de estudo bíblico 
lo não tinha receio nem vergonha de pregar 
o evangelho. Era necessária muita coragem 
para enfrentar a oposição endurecida de ju­
deus e gregos que consideravam sua mensa­
gem escandalosa e até mesmo ridícula ( 1 Cor 
1 , 23) . Paulo adquiriu essa coragem através 
do próprio evangelho, quando testemunhou 
seu poder vigoroso de salvação penetrando 
nas vidas dos fiéis ( 1 Cor 1 , 1 8) . 
"Primeiro para o judeu, mas também 
para o grego": Paulo pregava aos j udeus e 
aos gregos a igualdade, mas uma igualdade 
que seguia uma ordem. Essa convicção de 
que o povo de Israel deveria ser o primeiro 
a receber as bênçãos do Messias era a mes­
ma que Jesus (Mt 1 5 , 24) e Pedro (At 3, 26) 
tinham. Ver nota em nosso estudo bíblico 
sobre os Atos dos Apóstolos, 1 3 , 5 . 
fT'l 1 , 17 "a justiça de Deus" - Um dos 
LlU temas pilares da Carta aos Romanos. 
A expressão possui dois significados que se 
relacionam. (1 ) Denota a fidelidade de Javé à 
Aliança, revelada na história e nas escrituras 
de Israel . Deus se mostra justo quando man­
tém suas promessas e cumpre seus compro­
missos jurados na Aliança - abençoar os jus­
tos e mover maldições sobre os perversos (Ne 
9, 8; Sl 50, 6; 1 43 , 1 1 ; Dn 9 , 1 4; Zc 8, 8 ) . 
(2) Também denota uma graça infusa, que 
estabelece o fiel numa relação correta com 
Deus na Aliança (5 , 1 7 ; Fl 3, 9) . Esses dois 
significados trabalham juntos na Carta aos 
Romanos , especialmente em 3, 2 1 -26. Ver 
Estudo da Palavra: justificado neste estudo, 
2, 1 3 . 
"Que vem pela fé e conduz à fé": Do 
princípio ao fim, o avanço da vida cristã se 
dá por meio da fé. A expressão que Paulo 
utiliza aqui sugere que ele previa um cresci-
mento consistente na fé dos fiéis (as mesmas 
preposições são usadas na mesma seqüência 
na versão grega de Sl 84, 7 e Jr 9 , 3) . 
"O justo viverá pela fé": Uma citação de 
Hab 2, 4. 
• Habacuque, depois de se queixar a Deus e 
suplicar por justiça, recebe uma mensagem 
de esperança. Javé, embora estivesse enviando 
hordas de babilônios para punir o povo de 
Israel por causa de seus pecados, prometeu 
poupar os homens justos que mantivessem 
sua fidelidade. Recebido com fé, o evangelho 
pregado por Paulo oferece a mesma esperança 
de salvação diante do julgamento futuro (2, 
5- 1 1 ) . 
1 , 18-3, 20: Paulo pavimenta com as 
más notícias do pecado humano o caminho 
que leva às boas novas. Ele declara todas as 
nações culpadas diante de Deus : os gentios 
por rejeitarem a revelação natural de Deus 
nas coisas criadas ( 1 , 1 8-32) ; e o povo de Is­
rael por desprezar a revelação sobrenatural de 
Deus nas Escrituras (2, 1-3,20; CIC 40 1 ) . 
1 , 18-32: Paulo reflete sobre a deprava­
ção moral e espiritual dos gentios. Deus dei­
xou a si e sua lei ao alcance da razão humana 
( 1 , 1 9) , mas os gentios viraram-se obstina­
damente contra Ele , perdendo-se em pen­
samentos fúteis e insensatos ( 1 , 2 1 ) até que 
seus pecados sufocassem a Verdade em suas 
consciências (1 , 1 8) . Essa é a causa implícita 
de seus costumes insensatos e idólatras . 
• O diagnóstico de Paulo da corrupção se as­
semelha com a análise feita em Sb 1 1 - 1 4 . 
1 , 18: "a ira de Deus" - Não um rom­
pante de ódio que se apodera de Deus, mas a 
constante resposta ou reflexo da divina santi­
dade ao pecado. 
� 1 , 20: "perfeições invisíveis de Deus" 
.. - Paulo argumenta que nossa mente 
pode conhecer o poder e divindade de Deus 
por meio da reflexão sobre o esplendor do 
mundo (Sb 13 , 5; At 1 7, 26-28) . Falhar nessa 
compreensão é um erro inescusável, visto que 
Deus deixou-a ao alcance de todos os povos e 
em todas as épocas (CIC 1 1 47) . O ateísmo e 
a idolatria são de fato problemas morais e ape­
nas secundariamente intelectuais (CIC 2 1 25) . 
• O Concílio Vaticano 1 decretou em 1 870 
que a existência de Deus pode certamente ser 
inteligida pela razão humana (Dei Filius, cap. 
2) . Esse decreto confirma séculos de tradição 
teológica, que desenvolveu numerosos argu­
mentos filosóficos para provar a existência do 
ser supremo (CIC 3 1 -35 ) . 
1 , 21 : "seu coração insensato se obscu­
receu" - A persistência no pecado tem efei­
tos nocivos às faculdades humanas: a razão 
turva-se gradativamente até chegar ao ponto 
de cegueira intelectual, e o coração vai endu­
recendo até ficar insensível ao amor e à lei de 
Deus (Ef 4, 1 7- 1 8) . 
rT1 l , 23 "trocaram a glória" - A idola­
LJ.U tria é o erro mais evidente do paganis­
mo. É o pecado de adorar criaturas no lugar 
do Criador ( 1 , 25 ; Sb 12 , 1 0) . Os gentios do 
período bíblico adoravam imagens de ho­
mens (gregos) e animais (egípcios; CIC 
2 1 1 2- 1 4) . 
• Paulo alude a S I 1 06 , 2 0 para relembrar 
sutilmente que Israel também tropeçou no 
caminho da idolatria. Embora Javé tivesse es­
tritamente proibido Israel de construir escul­
turas (Ex 20, 4), a nação, em seus momentos 
de maior fraqueza, também venerou imagens 
de homens (Ez 1 6, 1 7) , bestas (Ex 32, 4) e 
répteis (2Rs 1 8 , 4) . 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 , 24: "Deus os entregou" - Deus não 
guarda seu julgamento somente para o final 
dos tempos, mas o manifesta também na His­
tória (Sl 8 1 , 1 2; Ar 7, 42) . Uma forma muito 
severa de punição divina consiste em permi­
tir que pecadores obstinados continuem pe­
cando. As graças que moveriam os pecadores 
ao arrependimento são negadas, e, em con­
seqüência disso, seu senso moral fica entor­
pecido, dando vazão a desejos desordenados. 
Paulo vê essa espécie de punição em vigor en­
tre os gentios, aos quais Deus permitiu que 
se entregassem a milhares de obscenidades e 
pecados contra a natureza ( 1 , 26. 28) , porque 
eles não O aceitaram nem à sua verdade ( 1 , 
2 1 . 25 . 28 . 32) . Em outras palavras, Deus diz 
a eles: "façam do jeito que bem entenderem" . 
1 , 27: "paixão uns pelos outros" - A prá­
tica homossexual é expressamente condenada 
no AT (Lv 1 8 , 22; 20, 1 3) , como também 
no NT ( l Cor 6, 9; lTm 1 , 1 0) . É um grave 
distúrbio que vitima homens e mulheres e os 
afasta uns dos outros e de sua complementa­
ridade natural . Para Paulo, a rebelião sexual 
contra a natureza ( 1 , 26) é apenas um sinto­
ma de uma rebelião espiritual contra Deus 
(CIC 2357-59) . 
l , 28-32: Uma das muitas listas de vícios, 
comuns nas obras de Paulo (1 Cor 6, 9- 1 O; 
Gl 5, 1 9-2 1 ) . Aqui Paulo nos descreve como 
o caos desponta nas famílias e na sociedade 
quando a relação de Deus com os homens é 
quebrada (CIC 1 8 52-53) . 
1 , 32: "conhecerem o juízo de Deus" -
Mesmo os pagãos possuem o juízo moral do 
certo e do errado. Por causa disso, eles não 
podem negar a responsabilidade sobre sua 
perversão e alegar ignorância da existência 
de Deus ( 1 , 2 1 ; CIC 1 776; 1 954) . 
Cadernos de estudo bíblico 
''Aprovam os que as praticam": Os gen- Enaltecer os pecadores encoraja-os a conti­
tios são acusados de adulação, ou seja, o pe- nuarem com seus maus costumes, e por isso 
cada de elogiar os outros por seus maus atos. é considerado um ato pecaminoso. 
2 O justo julgamento de Deus - 1Ó homem, quem quer que sejas, tu que julgas, não tens desculpa. 
Pois julgando os outros condenas a ti mesmo, já que fazes as mesmas coisas, tu que julgas. 2Üra, 
sabemos que o julgamento de Deus se exerce segundo a verdade, contra os que praticam tais coisas. 
3Ó homem, tu que julgas os que praticam tais coisas e, no entanto, as fazes também tu, pensas que 
escaparás ao julgamento de Deus? 40u será que desprezas as riquezas de sua bondade, de sua tolerância, 
de sua paciência, não entendendo que a bondade de Deus te convida à conversão? 5Por causa de teu 
endurecimento e de teu coração impenitente, estás acumulando ira para ti mesmo, no dia da ira, quando se 
revelará o justo juízo de Deus, 6que retribuirá a cada um segundo as suas obras. 7Àqueles que, perseverando 
na prática do bem, buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade, Deus dará a vida eterna. 8Para aqueles, 
porém, que por rebeldia desobedecem à verdade e se submetem à iniqüidade, estão reservadas a ira e a 
indignação. 9'fribulação e angústia para todo aquele que faz o mal, primeiro para o judeu, mas também 
para o grego, 1 0glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, mas também 
para o grego, 1 1 pois Deus não faz acepção de pessoas. 12Todos os que pecaram sem a Lei perecerão também 
sem a Lei; e todos os que pecaram sob o regime da Lei serão julgados de acordo com a Lei. 13Pois não são 
justos diante de Deus os que se contentam de ouvir o ensino da Lei, mas somente aqueles que observam a 
Lei é que serão justificados por Deus. 14Quando os pagãos, embora não tenham a Lei, cumprem o que a Lei 
prescreve, guiados pelo bom senso natural, esses que não têm a Lei tornam-se Lei para si mesmos. 1 5Por sua 
maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus corações: disso dão testemunho igualmente 
sua consciência e os juízos éticos de acusação ou de defesa que fazem uns aos outros. 16É o que se verá no dia 
em que Deus vai julgar, segundo meu evangelho, por 
.
Cristo Jesus, as intenções e ações ocultas das pessoas. 
2, 1: Rm 1 4 , 22. 2, 4: Ef l, 7; 2 , 7; Fl 4, 1 9 ; Cl 1, 27. 2, 6: Mt 1 6, 27; ! Cor 3 . 8 ; 2Cor 5. 1 0; Ap 22, 1 2 . 2, l i : Dr 1 0, 1 7; 2Cr 19 , 7; Gl 2 , 
6; Ef 6, 9 ; Cl 3 . 25 ; I Pd I . 1 7. 2, 12: Rm 3 . 1 9 ; l Cor 9. 2 1 . 2, 13: Tg I . 22-23. 25 . 2, 1 6: Ec l 1 2 , 14 ; Rm 16 , 25 ; ! Cor 4, 5 . 
2, 1-3, 20: Paulo agora restringe sua 
acusação contra o mundo, concentrando­
-se nos erros de Israel . Ele acusa os judeus 
(3, 9) , que, mesmo possuindo a Torá para 
organizar sua adoração e sua conduta, co­
metiam os mesmos pecados que os gentios. 
Estilísticamente, Paulo emprega nesta seção 
uma técnica de escrita chamada "diatribe" , 
que consiste em emular um debate entre o 
escritor (Paulo) e um leitor hipotético (um 
judeu, em 2, 1 7) . Escritores da antigüidade 
grega usavam esse recurso de pergunta e res­
posta para explicar suas idéias já antecipan­
do objeções de seus leitores e ouvintes. Essa 
técnica é utilizada ao longo de toda a epístola 
(2, 1 7-23; 3, 1 -9 . 27-29; 4, l ; etc.) . 
2, 3: "escaparás ao julgamento de 
Deus?" - A presunção era uma tentação para 
muitos judeus do período bíblico, que acre­
ditavam que sua filiação à Antiga Aliança e 
descendência israelita iriam isentá-los do jul­
gamento de Deus (Mt 3, 9; ]o 8, 33) . Paulo 
ataca essa mentalidade e a conduta arrogante 
conseqüente dela. 
n 2, 4 "tolerância'' - o tempo que 
.. Deus confere para que o pecador se 
arrependa é uma graça (Sb 1 1 , 23; 2Pd 3 , 9) . 
Fazer pouco dessa dádiva é demonstrar des­
prezo à Sua misericórdia. 
• Tolerância se diferencia de paciência. Deus 
tolera aqueles que pecam por fraqueza, mas 
suporta com pac1encia aqueles que pecam 
deliberada e descaradamente. Essa paciência 
tem limites, como podemos ver quando Deus 
afoga uma geração inteira no dilúvio para 
destruir os ateus de Sodoma (Orígenes,Co­
mentário sobre Romanos 2, 3 ) . 
2, 6: "segundo suas obras" - Paulo olha 
à frente, para o último dia, quando a vida de 
cada pessoa será completamente escancarada 
diante de Deus, e cada pensamento ( 1 Cor 
4, 5 ) , palavra (Mt 12 , 36) e ação (2Cor 5 , 
1 0) será pesado na balança da justiça divina. 
A doutrina de que Deus irá determinar seu 
veredicto com base nas obras humanas tem 
origem no AT (SI 62, 1 2; Pv 24, 1 2) . Foi 
mais tarde confirmada por Jesus (Mt 1 6, 27) 
e reiterada pelos apóstolos (2Cor 5, 1 O; 1 Pd 
1 , 1 7) . Paulo está ressaltando aqui que tanto 
os judeus quanto os gentios serão julgados 
segundo o mesmo padrão (CIC 682) . 
2, 1 1 : "Deus não faz acepção de pesso­
as" - Os judeus não podem esperar nenhum 
favoritismo de Deus no Juízo Final (At 1 O, 
34-35) . O que é preciso é que os homens se 
arrependam do mal a tempo, de modo que 
A carta de São Paulo aos romanos 
possam submeter suas vidas a Deus (2, 7) e 
não mais a si próprios e às suas ambições su­
pérfluas (2, 8) . 
2, 13: "os que se contentam de ouvir" -
A salvação é garantida, não para todos judeus 
que ouvem a Torá na sinagoga (Ar 1 5 , 2 1 ) , 
mas para aqueles que põem em prática o que 
ouvem (Tg 1 , 22-25) . 
� 2, 14: "cumprem o que a lei prescre­
.. ve [ . . . ] bom senso natural" - A expres­
são grega pode ser entendida de duas manei­
ras. (1) Se mantivermos, como na tradução, o 
verbo "cumprem" ,significa que os gentios se­
guiam a lei natural, inscrita por Deus em seus 
corações (CIC 1 954; 2070) ; (2) Se modificar­
mos o verbo para "têm" , significa queos gen­
tios não tinham sido privilegiados desde o 
nascimento pela lei de Moisés. Esse é o senti­
do aplicado em 2, 27 (ter fisicamente) . 
• Quando Paulo diz que os gentios "man­
têm por bom senso natural" a Lei, ele está 
se referindo não à natureza separada da graça 
[enquanto corrompida pelo pecado original] , 
mas à que agora é curada e restaurada pela 
graça (Sto. Agostinho, O espírito e a letra, 47) . 
Os judeus e a Lei - 1 7Tu te chamas judeu e colocas na Lei tua segurança, e em Deus, a tua glória; 1 8tu 
aprendeste da Lei qual é sua vontade e sabes discernir o que é realmente imporrante; 19tu estás convencido 
de ser guia dos cegos, luz dos que se acham nas trevas, 20instrutor de ignorantes, mestre de pessoas simples, 
porque tens na Lei a lídima expressão do conhecimento e da verdade . . . 21 Como, então, ensinas aos outros 
e a ti mesmo não ensinas? Pregas que não se pode roubar e tu mesmo roubas? 22Dizes que não se pode 
cometer adultério e tu mesmo cometes? Detestas os ídolos e, no entanto, roubas os templos? 23Tu, que 
te glorias da Lei, desonras a Deus com tuas transgressões da Lei? 24De faro, como está escrito, "o nome 
de Deus é blasfemado entre as nações por causa de vós!"25Por um lado, a circuncisão é útil, se cumpres a 
Lei . Por outro lado, se transgrides a Lei, mesmo com tua circuncisão não passas de um incircunciso. 26Se, 
porranto, o incircunciso observar as prescrições da Lei, não será ele tido como circunciso? 27Mais ainda: o 
incircunciso que cumpre a Lei te condenará a ti, que transgrides a Lei, embora possuas as Escrituras e sejas 
circuncidado. 28Não é verdadeiro judeu o que parece tal apenas pelo exterior, nem é verdadeira circuncisão 
uma simples incisão na carne. 29Verdadeiro judeu é o que se distingue como judeu por seu interior, e 
verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o espírito e não segundo a letra. Esta é que recebe o louvor, 
não dos homens, mas de Deus . 
2, 18: FI l , 1 0. 2, 20: Rm 6, 1 7 ; 2Tm 1 , 1 3 . 2, 2 1 : Mr 23, 3-4. 2, 24: Is 52. 5. 2, 25: Jr 9, 25 . 2, 26: 1 Cor 7, 1 9 ; Ar 1 0 , 35 . 2, 27: Mt 1 2 . 
4 1 . 2, 28: Mr 3. 9; ]o 8. 39; Rm 9. 6-7; GI 6. 1 5 . 2, 29: 2Cor 3. 6; FI 3. 3; CI 2, 1 1 ; 1 Pd 3. 4. 
Cadernos de estudo bíblico 
2, 17-29: Paulo fulmina o judeu que se ção (2, 4) , ele agora é acusado de hipocrisia 
gaba de possuir a Torá, mas não a põe em (2, 23) . 
prática. Anteriormente acusado de presun-
ESTUDO DA PALAVRA: }USlJFICADO (RM 2, 13) 
D 
ikaioo (grego) : O verbo significa "absolver" , "vindicar" ou "declarar justo" , 
e é usado 1 5 vezes na Carta aos Romanos e 24 vezes no resto do NT. 
Pode ser usado para descrever como os homens fazem para parecerem 
justos diante dos outros (Lc 1 6, 1 5) e também como uma forma de expressar o 
reconhecimento da justiça de Deus (Lc 7, 29) . Em um contexto jurídico, um juiz 
j ustifica um inocente quando o absolve de acusações sem p rova (Ex23, 7; Dt 25 , 
1 ; l Cor 4, 4) . Esse termo recebe grande significância teológica quando Deus é 
aquele que justifica. Principalmente nos escritos de Paulo o termo é usado para 
descrever como Deus estabelece o homem em uma relação apropriada com Ele em 
sua aliança. Essa adequação tornou-se possível com a morte do Cristo (Rm 5, 9) , 
que nos liberta do pecado (At 1 3 , 39; Rm 6, 7) pelo dom gratuito da graça (Rm 
3, 24) . Essa graça é recebida por meio da fé (Rm 3, 26; 5, 1 ) e ocorre no Batismo 
( 1 Cor 6, 1 1 ) . Quando Deus absolve o pecador, Ele também o adota como um 
de seus próprios filhos, tornando-o herdeiro da vida eterna (Tt 3, 7) . Para Paulo, 
o decreto justificador de Deus opera em nós uma transformação interior que nos 
faz santos e justos à sua vista (Rm 5 , 1 9; CIC 654; 1 987-95 ) . 
llJ 2 , 1 9 "luz [ . . . ] nas trevas" - O povo de 
Israel foi convocado a compartilhar 
sua sabedoria com todas as nações como tes­
temunha viva dos caminhos da justiça. 
• Esse chamado à atividade missionária tem 
raízes no Pentateuco (Dt 4, 5-8) e alcança sua 
plenitude em Isaías (Is 42, 6; 49, 6) . Paulo 
acusa os j udeus de não terem respondido a 
essa convocação: Em vez de serem luz para os 
povos gentios, transgrediram obstinadamente 
a Lei se tornaram como eles. 
llJ 2, 24 "O nome de Deus" - Uma ci­
tação da versão grega de Is 52 , 5 . 
• Isaías relembra o povo de Israel que devido 
às suas iniqüidades, que os levaram ao exí­
lio, espalhando-os entre as nações, o próprio 
nome de Javé foi desonrado, manchando sua 
reputação por todo o mundo. Para Paulo, a 
contínua infidelidade dos judeus à Torá per­
petuou esse legado vergonhoso. 
2, 29: "verdadeira circuncisão" - A cir­
cuncisão física era o sinal visível da aliança 
de Abraão ( Gn 1 7, 9- 14) e o rito de iniciação 
para o ingresso na família de Israel (Lv 1 2 , 
3) . Entretanto, a própria Torá ensina que a 
circuncisão do corpo aponta para uma ne­
cessidade mais profunda: a de circuncidar o 
coração , consagrando-o a Deus e talhando 
suas inclinações à rebeldia (Lv 26, 4 1 ; Dt 
1 0 , 1 6) . Deus circuncida o coração dos fi-
3 2 
éis no Batismo (Cl 2, 1 1 - 1 2) , como havia 
prometido a Moisés que o faria nos tempos 
do restabelecimento (Dt 30, 6) . Como resul­
tado disso, na nova economia da graça esse 
procedimento espiritual torna desnecessário 
o procedimento literal ( l Cor 7, 1 9 ; Gl 6, 
A carta de São Paulo aos romanos 
1 5 ; Fl 3, 3) . 
"O louvor" - Uma brincadeira morfo­
lógica com o termo "judeus" , que deriva do 
nome hebraico "judá" , relacionado à idéia de 
"louvor" (Gn 29, 35) . 
3 'Então, qual a superioridade do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? 2Grande, e sob todos os 
pontos de vista. Primeiro, porque a eles, os judeus, é que foram confiados os oráculos de Deus. 3Que 
importa, se alguns não creram? Acaso a incredulidade deles vai anular a fidelidade de Deus? 4De modo 
algum. Seja Deus reconhecido veraz, e todo ser humano, mentiroso, como está escrito: "De modo que 
sejas reconhecido justo nas tuas palavras e saias vitorioso, quando fores julgado". 5Mas, se nossa injustiça 
realça a justiça de Deus, que diremos? Que Deus é injusto, quando em sua ira nos fere? (Estou falando em 
termos humanos.) 6De modo algum. Do contrário, como Deus iria julgar o mundo? 7No entanto, se, por 
minha falsidade, a veracidade de Deus sobressaiu para a sua glória, por que seria eu ainda condenado como 
pecador? 8E então, por que não faríamos o mal, para

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