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ANÁLISE MATEMÁTICA
AULA 2
Prof. Oliver Kolossoski
2
CONVERSA INICIAL
O foco de estudo da análise matemática são os conceitos de limite,
derivadas e integrais. Porém, antes de iniciar o estudo de tais conceitos, é
necessário firmar a base sobre a qual as demonstrações são fundamentadas. Já
estudamos os conjuntos numéricos, desde a sua construção axiomática; agora,
vamos estudar as sequências e séries de números reais. Estudar sequências
será de grande valor para caracterizar, futuramente, resultados acerca de limites,
e por conseguinte derivadas e integrais, que são o objetivo principal desta
disciplina.
Por isso, nesta aula vamos estudar sequências e séries de números reais.
Caracterizaremos sequências e séries em convergentes ou divergentes,
estabelecendo resultados que nos auxiliam a determinar se uma sequência ou
série é ou não convergente.
TEMA 1 – SEQUÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS
Nesta primeira parte, definimos sequências e conceitos classificatórios
básicos: sequência limitada, monótona, convergente e subsequência.
Apresentamos resultados relacionando os diversos conceitos, buscando
entender os conceitos e resultados por meio de exemplos.
1.1 Sequências de números reais
Uma sequência de números reais (ou somente sequência) é uma função
𝑓: 𝑁 ↦ 𝑅. Para cada natural 𝒏, associa-se um número real 𝑓(𝑛). Qualquer
função define uma sequência. A função não precisa ter uma fórmula fechada.
Vejamos o exemplo da sequência de Fibonacci: define-se recursivamente 𝑓(1) =
𝑓(2) = 1; assim, para todo 𝑛 ≥ 3, define-se 𝑓(𝑛) = 𝑓(𝑛 − 1) + 𝑓(𝑛 − 2), isto é,
𝑓(3) = 1 + 1 = 2, 𝑓(4) = 1 + 2 = 3, e assim por diante. Conseguimos assim a
conhecida sequência de Fibonacci: {1,1,2,3,5,8,13, … }.
Como podemos ver, é mais natural considerar sequências como uma lista
sequencial de números reais (fazendo jus ao nome), do que um ente matemático
dependente de domínio e imagem, como uma função. Por isso, é mais comum
denotar sequências reais como conjuntos {𝑎𝑛}𝑛∈𝑁, conforme o exemplo anterior,
do que referenciar a função em si.
3
Algumas definições: uma subsequência de uma sequência {𝑎𝑛} é a sua
restrição a um subconjunto próprio e infinito de números naturais. Uma
sequência {𝑎𝑛} é dita convergente para um número real 𝑎 se, para todo ϵ > 0,
houver um natural �̅� ∈ N tal que, se 𝑛 > �̅�, vale |𝑎𝑛 − 𝑎| 𝑎𝑛; a sequência é monótona não decrescente se,
para todo 𝑛, vale 𝑎𝑛+1 ≥ 𝑎𝑛. Analogamente, podemos definir sequências
monótonas decrescentes e não crescentes. Uma sequência é dita apenas
monótona se é definida como alguma dessas quatro definições. Uma sequência
é limitada superiormente se existe um número real 𝑀 > 0, tal que 𝑎𝑛 ≤ 𝑀 ∀𝑛 ∈
𝑁. De forma similar, definimos uma sequência limitada inferiormente. Por fim,
dizemos que uma sequência é apenas limitada se for limitada superior e
inferiormente.
Como exemplo, considere a sequência {0,1,0,
1
2
, 0,
1
4
, 0,
1
8
, ⋯ }. Isto é, 𝑎_𝑛 =
0, se 𝑛 é ímpar, e 𝑎𝑛 =
1
2((𝑛−2)/2)
, se 𝑛 é par. Essa sequência é limitada tanto
inferiormente (por qualquer número negativo) quanto superiormente (por
qualquer número maior ou igual a 1) – portanto, é limitada. Essa sequência não
é monótona, pois os elementos pares são sempre menores que os ímpares, de
modo que 𝑎𝑛+1 > 𝑎𝑛 se 𝑛 é ímpar; o sinal se inverte se 𝑛 é par. Contudo, a
subsequência dada pela restrição de {𝑎𝑛} ao conjunto dos naturais pares é
monótona decrescente. Já a subsequência restrita ao conjunto dos ímpares é
monótona, tanto não crescente quanto não decrescente, portanto, constante. Por
fim, vemos que a sequência é convergente para 0, pois, para todo ϵ > 0,
escolhemos �̅� tal que
1
2�̅�
�̅�.
1.2 Resultados
Provamos aqui alguns resultados principais acerca de sequências.
Toda sequência convergente é limitada. Com efeito, seja {𝑎𝑛}
convergente. Então, existe �̅� tal que |𝑎𝑛 − 𝑎| �̅�, donde −1 �̅�. Segue que a sequência é limitada
tanto superiormente quanto inferiormente para 𝑛 > �̅�. Já para os números
4
anteriores a �̅�, basta considerar 𝑀 = 𝑚𝑎𝑥{𝑎1, 𝑎2, ⋯ 𝑎�̅�}. Claramente vale 𝑎𝑛 ≤ 𝑀
para todo 𝑛 ≤ �̅�, de modo que a sequência é limitada superiormente. Sendo
assim, a sequência toda é limitada superiormente pelo maior de 𝑀 e 1 − 𝑎. Um
raciocínio similar mostra que ela é também limitada inferiormente.
Toda sequência monótona e limitada é convergente. Suponha, por
exemplo, que {𝑎𝑛} é monótona crescente. Como ela é limitada, admite supremo.
Seja 𝑠 o supremo. Pela definição de supremo, dado ϵ > 0, existe �̅� tal que 𝐿 −
ϵ ≤ 𝑎�̅� �̅�
vale 𝐿 − ϵ ≤ 𝑎�̅� 𝑏, tais que uma subsequência convergisse para um e não
para o outro, então, tomando ϵ =
𝑏−𝑎
2
, teríamos elementos tais que
𝑎−𝑏
2
0 tal que para todo �̅� vale |𝑎𝑛 − 𝑎| ≥ ϵ para algum 𝑛 > �̅�. Basta tomar a
subsequência dada justamente por esses 𝑎𝑛 e chegamos a um absurdo.
Tais resultados facilitam a caracterização de sequências convergentes, e
podem ser usados para comprovar ou refutar convergências. Traremos
exemplos de uso no final desta aula.
TEMA 2 – OPERAÇÕES COM LIMITES DE SEQUÊNCIAS
Neste tema, estudamos as propriedades operatórias de limites finitos e de
limites infinitos. Os resultados aqui apresentados nos permitem calcular limites
de qualquer sequência, cujos termos são dados por combinações convenientes
de termos de sequências, das quais já sabemos o limite. Você pode praticar esse
uso nos exercícios do fim desta aula.
2.1 Operações com limites
Sejam {𝑎𝑛} e {𝑏𝑛} duas sequências convergentes para dois números reais
𝑎 e 𝑏, respectivamente. Assim, valem as seguintes propriedades:
5
• A sequência das somas dos termos de ambas {𝑎𝑛 + 𝑏𝑛} converge para
𝑎 + 𝑏.
• A sequência do produto dos termos de ambas {𝑎𝑛 ⋅ 𝑏𝑛} converge para 𝑎 ⋅
𝑏.
• Se 𝑏 ≠ 0 a sequência da divisão dos termos de ambas {
𝑎𝑛
𝑏𝑛
} converge
para
𝑎
𝑏
.
As provas desses fatos seguem de definição com o uso de pouca
manipulação matemática, e podem ser feitas como exercício. Como exemplo,
provamos a propriedade 2. Da definição de convergência temos que, dado ϵ′ >
0, existe um �̅� ∈ 𝑁 tal que para n maior que este vale |𝑎𝑛 − 𝑎| 0, usamos este argumento com ϵ′ ≔
ϵ
|𝑎|+|𝑏|
, e então temos que
|𝑎𝑛 ⋅ 𝑏𝑛 − 𝑎 ⋅ 𝑏|Dizemos que uma sequência {𝑎𝑛}
diverge para mais infinito se, para todo número real 𝑀 > 0, existe �̅� ∈ 𝑁 tal que
se 𝑛 > �̅� então 𝑎𝑛 > 𝑀. Em outras palavras, os termos da sequência ficam
arbitrariamente grandes, como é o exemplo da sequência {1,2,3,4, ⋯ }. Definimos
uma sequência divergente para menos infinito de forma análoga.
Uma consequência dessa definição é que, se uma sequência de números
reais diverge para mais ou menos infinito, então a sequência dos seus inversos
converge para 0. Com efeito, dado ϵ > 0, escolha 𝑀 > 0 tal que
1
𝑀
𝑎, então o número ϵ = 𝑏 − 𝑎 > 0 é menor que o comprimento de todos os
intervalos 𝐼𝑛, de modo que certamente a sequência do tamanho dos intervalos
não tende a zero, o que prova a segunda parte – isto é, se o comprimento dos
intervalos tende a zero, então necessariamente 𝑎 = 𝑏, portanto [𝑎, 𝑏] = {𝑎}.
3.2 Teorema de Bolzano-Weierstrass
O enunciado do teorema de Bolzano-Weierstrass é o seguinte: toda
sequência limitada admite uma subsequência convergente.
Para provar esse fato, usamos justamente o teorema dos intervalos
encaixantes. Considere uma sequência limitada. Então, por definição, todos os
elementos da sequência estão contidos num intervalo 𝐼1 = [−𝑀, 𝑀].
7
Vamos cortar esse intervalo pela metade. Como uma sequência tem
infinitos pontos, pelo menos um dos intervalos (metades) terá infinitos pontos.
Denomine este intervalo 𝐼2.
Assim, sucessivamente, vamos criando intervalos encaixantes 𝐼1 ⊃ 𝐼2 ⊃
..., de modo que o tamanho deles é sempre a metade do anterior. Sendo assim,
construímos uma sequência de intervalos encaixantes com o tamanho dos
intervalos tendendo a zero (os tamanhos são a sequência {
𝑀
2𝑛−2}.), donde, pelo
teorema dos intervalos encaixantes, a interseção é apenas um ponto 𝑎.
Considere a subsequência: tome um ponto de 𝐼1, um ponto de 𝐼2, e assim
por diante. Segue que o ponto 𝑎 necessariamente deve ser o único limite da
subsequência considerada.
3.3 Sequências de Cauchy e caracterização de sequências convergentes
O último resultado da sequência que expomos neste texto é a
caracterização de convergência via sequências de Cauchy.
Uma sequência {𝑎𝑛} é dita de Cauchy se os elementos ficam
arbitrariamente próximos à medida que n cresce. Matematicamente, dado ϵ > 0,
existe �̅� ∈ 𝑁 tal que, se 𝑛, 𝑚 > �̅�, tem-se |𝑎𝑛 − 𝑎𝑚| �̅�, então |𝑎𝑛 − 𝑎�̅�+1| 0 consegue-se 𝑛′ ∈ 𝑁 tal que, se 𝑛 > 𝑛’, então |𝑎𝑛 − 𝑎𝑚| 𝑛′ ∈ 𝐵. Temos então que |𝑎𝑛 − 𝑎| = |𝑎𝑛– 𝑎𝑚 +
𝑎𝑚– 𝑎| 0, usamos o
raciocínio com ϵ′ =
ϵ
2
e provamos o resultado.
TEMA 4 – SÉRIES DE NÚMEROS REAIS
Neste tema, introduzimos o conceito de séries de números reais.
Definimos também o conceito de convergência e exibimos os resultados
principais que nos auxiliam a determinar se uma série é convergente ou
divergente.
4.1 Séries de números reais
Dada uma sequência {𝑎𝑛}, considere a sequência {𝑠𝑛} formada a partir de
{𝑎𝑛} da seguinte forma: 𝑠1 = 𝑎1, 𝑠2 = 𝑎1 + 𝑎2, 𝑠3 = 𝑎1 + 𝑎2 + 𝑎3, e assim por
diante.
A sequência {𝑠𝑛} é dita sequência das somas parciais ou reduzidas de
{𝑎𝑛}, ou simplesmente série de {𝑎𝑛}. Como tem-se que cada termo 𝑠𝑛 pode ser
escrito como 𝑠𝑛 = ∑ 𝑎𝑖
𝑛
𝑖=1 , denotamos a série como ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 . A razão dessa
notação fica mais clara quando definimos o conceito de convergência.
Uma série é dita convergente para um número real 𝑎 se os termos ficam
arbitrariamente próximos de 𝑎, à medida que 𝑛 cresce, ou matematicamente,
dado ϵ > 0 existe �̅� ∈ 𝑁 tal que se 𝑛 > �̅�, então |∑ 𝑎1 − 𝑎𝑛
𝑖= | 𝑛 > �̅� fica arbitrariamente pequena. Ou seja, para 𝑛, 𝑚
suficientemente grandes, os valores ∑ 𝑎𝑖
𝑛
𝑖=1 e ∑ 𝑎𝑖
𝑚
𝑖=1 são arbitrariamente
próximos, e, portanto, uma boa aproximação do valor de convergência da série
é apenas um termo 𝑠𝑛 qualquer para 𝑛 grande o bastante. Isso justifica a notação
∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 , pois o valor da série seria exatamente o seu limite de convergência se
conseguíssemos “somar todos os termos”, isto é, ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 = 𝑎 se {𝑠𝑛} converge
para 𝑎. Tal observação também nos revela que se uma série ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 é
convergente, de modo que a sequência dos termos gerais 𝑎𝑛 deve convergir
para zero, pois 𝑎𝑛 = ∑ 𝑎𝑖
𝑛
𝑖=1 - ∑ 𝑎𝑖
𝑛−1
𝑖=1 .
9
Por exemplo, a série de termo geral 𝑠𝑛 = 1 + 2 + ⋯ 𝑛, definida a partir da
sequência dos naturais, não é convergente, entre outra infinidade de exemplos.
A recíproca desse fato não é verdadeira, como mostraremos a seguir.
Um exemplo de série convergente é a série geométrica de termo geral
𝑠𝑛 = 1 +
1
2
+
1
4
+ ⋯ +
1
2𝑛−1. Temos que
𝑠𝑛
2
=
1
2
+
1
4
+ ⋯ +
1
2𝑛−2 = 𝑠𝑛 − 1 −
1
2𝑛−1,
donde𝑠𝑛
2
= 1 +
1
2𝑛−1
. Tomando o limite quando 𝑛 tende a infinito, vemos que
𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
𝑠𝑛
2
= 1, donde a série converge para 2. Em verdade, esse raciocínio pode ser
estendido para toda série geométrica de razão 𝑝 0 no conjunto dos termos positivos
𝑃. Pelo critério da comparação com a série ∑ 𝑏𝑛
∞
𝑛=1 , que estamos admitindo
convergente, a série ∑ 𝑏𝑛𝑃 = ∑ anP restrita a esse conjunto, é convergente. Por
outro, lado, no conjunto dos termos negativos 𝑁, 𝑏𝑛 = −𝑎𝑛, pelo critério de
comparação com a série ∑ 𝑏𝑛
∞
𝑛=1 , a série ∑ 𝑏𝑛𝑁 = ∑ (−𝑎𝑛)𝑁 converge. Segue que
∑ 𝑎𝑛𝑁 também é convergente nesse conjunto, por ser o oposto de ∑ (−𝑎𝑛)𝑁 .
Ainda, pelas propriedades operatórias, temos que a série original ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 é dada
pela soma das restrições da série aos conjuntos dos termos positivos e
negativos, donde é convergente e vale ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 = ∑ anP − ∑ (−𝑎𝑛)𝑁 .
O critério de convergência absoluta é especialmente útil para decidir sobre
a convergência de séries quando os termos têm sinal variável. Por exemplo,
sabemos que a série ∑
(−1)𝑛+1
𝑛!
∞
𝑛=1 é convergente, pois é absolutamente
convergente, visto que a série dos módulos dos termos é a série ∑
1
𝑛!
∞
𝑛=1 , que já
vimos que é convergente.
A recíproca desse fato não é verdadeira, como mostraremos a seguir. O
próximo critério nos permite decidir sobre a convergência de um tipo específico
de série de sinal variável, a partir dos módulos de seus termos.
Critério de Leibniz: se {𝑎𝑛} é uma sequência monótona não crescente
de termos positivos, com os termos tendendo a zero, então a série ∑ (−1)𝑛𝑎𝑛
∞
𝑛=1
é convergente. Para verificar isso, escreva a série alternada ∑ (−1)𝑛𝑎𝑛
∞
𝑛=1
como 𝑠2𝑛 ≔ (−𝑎1 + 𝑎2) + (−𝑎3 + 𝑎4) + ⋯ + (−𝑎2𝑛−1 + 𝑎2𝑛). Note que os sinais
dos termos (−1)𝑛𝑎𝑛 se alternam, e como 𝑎𝑛+1 ≤ 𝑎𝑛 por hipótese, temos que os
termos donde a sequência dos termos em parênteses de 𝑠2𝑛 é monótona não
crescente, pois os termos em parênteses sendo somados são sempre não
positivos. Ainda, a mesma sequência é limitada inferiormente por −𝑎1, pois
podemos enxergar os termos como 𝑠2𝑛+1 = −𝑎1 + (𝑎2 − 𝑎3) + (𝑎4 − 𝑎5) + ⋯ +
(𝑎2𝑛 − 𝑎2𝑛+1). Como os termos em parênteses são negativos, pois 𝑎𝑛+1 ≤ 𝑎𝑛,
tem-se que −𝑎1 é uma cota inferior. Segue que a sequência das somas parciais
é limitada e monótona, e assim, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, é
convergente.
11
Os mais conhecidos e utilizados critérios de convergência de séries são
os critérios da razão e da raiz. Ambos apresentam uma filosofia parecida: decidir
sobre a convergência de uma série por meio do limite de uma função de seus
termos. Em ambos os casos, se o limite é menor do que 1, então pode-se dizer
que a série é convergente. Enunciamos a seguir os dois últimos critérios, cuja
prova pode ser encontrada em uma referência mais focada ao assunto específico
de sequências e séries, como Matos (2001).
Critério da razão: considere uma série ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 de termos não nulos, e
defina 𝐿 ≔ 𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
|
𝑎𝑛
𝑎𝑛+1
|, que pode não existir. Se 𝐿 ∈ 𝑅 e 𝐿 1, então a série diverge.
Critério da raiz: sob as mesmas condições, defina 𝑀 ≔ 𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
|𝑎𝑛|
1
𝑛. Se
𝑀 1 ou 𝑀 não existe, a série diverge.
O teste da razão é especialmente bom para decidir sobre a convergência
de séries envolvendo potências ou fatoriais. Por exemplo, temos que a série
∑
𝑛𝑛
𝑛!
∞
𝑛=1 diverge. De fato, tomando o limite do valor absoluto da razão dos termos,
temos que 𝐿 = 𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
|
𝑛𝑛
𝑛!
(𝑛+1)𝑛+1
(𝑛+1)!
| = 𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
|
𝑛𝑛(𝑛+1)!
(𝑛+1)𝑛+1𝑛!
| = 𝑙𝑖𝑚
𝑛→∞
|
𝑛𝑛
(𝑛+1)𝑛| = 𝑙𝑖𝑚
→∞
|(
𝑛
𝑛+1
)
𝑛
| =
𝑙𝑖𝑚
→∞
(1 +
1
𝑛
)
𝑛
=𝑒 > 1.
Na próxima seção, veremos mais alguns exemplos do uso de critérios de
convergência para verificar se dadas séries de números reais são convergentes
ou divergentes.
TEMA 5 – EXEMPLOS
Finalizamos nossa aula com alguns exemplos, por meio dos quais
colocamos em prática os resultados acerca da convergência de séries expostos
no decorrer da aula, com vistas a verificar se tais séries de números reais são
convergentes ou divergentes
5.1 Exemplos de sequências
O primeiro exemplo a que nos atemos aqui é a importante sequência
{(1 +
1
𝑛
)
𝑛
}. Um aluno familiar com um curso de cálculo reconhecerá que o limite
12
𝑙𝑖𝑚
𝑥→+∞
(1 +
1
𝑥
)
𝑥
define o número de Euler 𝑒. Em verdade, o limite da sequência
para 𝑛 variando nos naturais ao invés de nos reais é o mesmo. Para mostrar a
convergência da sequência, analisemos suas propriedades. Primeiro, note que
a sequência é limitada: de fato, uma cota superior para a sequência é 3.
Desenvolvendo o binômio (1 +
1
𝑛
)
𝑛
, temos:
(1 +
1
𝑛
)
𝑛
= 1 + (𝑛
1
)
1
𝑛
+(𝑛
2
)
1
𝑛2+(𝑛
3
)
1
𝑛3+ ... +(𝑛
𝑛
)
1
𝑛𝑛 =
1 + 1 +
𝑛⋅(𝑛−1)
𝑛2 ⋅
1
2!
+
𝑛⋅(𝑛−1)⋅(𝑛−2)
𝑛3 ⋅
1
3!
+ ... +
𝑛!
𝑛𝑛 ⋅
1
𝑛!
2𝑛, sempre que 𝑛 > 2, temos que o
lado direito da desigualdade pode ser limitado pelo termo geral da série ∑
1
2𝑛
𝑛
𝑖=1 ,
que é convergente. Segue que a sequência é limitada pelo seu limite.
Em verdade, tal sequência pode ser vista como a sequência de somas
parciais, de modo que o termo geral é 𝑠𝑛 = 1 + (𝑛
1
)
1
𝑛
+(𝑛
2
)
1
𝑛2+(𝑛
3
)
1
𝑛3+ ... +(𝑛
𝑛
)
1
𝑛𝑛 =
∑ (𝑖
1
)
1
𝑖
𝑛
𝑖=1 , donde acabamos de mostrar que a sequência é convergente pelo
critério de comparação.
Vimos que sequências monótonas e limitadas são convergentes; contudo,
sequências que são apenasuma ou outra não necessariamente são
convergentes. Com efeito, considere a sequência {𝑎𝑛 = (−1)𝑛} =
{−1,1, −1,1, ⋯ } . Ela é claramente limitada (inferiormente por -1 e superiormente
por 1). Contudo, trata-se de um exemplo de uma sequência que não é
convergente. Para verificar esse ponto, podemos usar a caracterização de
subsequências: existem duas subsequências de {𝑎𝑛} (a saber, a dos termos de
índices ímpares e a dos pares), que convergem para limites diferentes; portanto,
a sequência não é convergente.
Um exemplo de sequência monótona não convergente é a sequência
{1,2,3,4, … }, que é monótona crescente. Contudo, a diferença entre seus termos
arbitrários sempre excede 1, logo a sequência não é de Cauchy. Segue, pela
caracterização de Cauchy, que a sequência não é convergente.
13
5.2 Exemplos de séries
Nosso primeiro exemplo é a conhecida série harmônica, dada pela soma
das frações de n: ∑
1
𝑛
𝑛
𝑖=1 . Tal série é interessante por ser contraexemplo para
várias ideias aqui consideradas. Note que a sequência dos termos tende a zero,
portanto a série obedece à condição necessária para a convergência. No
entanto, como mencionamos anteriormente, essa condição não é suficiente.
Vejamos que este é um contraexemplo: separe os termos da série harmônica
em quantias de 2𝑚:
∑
1
𝑛
𝑛
𝑖=1 = 1 + (
1
2
) + (
1
3
+
1
4
) + (
1
5
+
1
6
+
1
7
+
1
8
) + ...
Os termos entre parênteses são maiores que a soma de apenas 2𝑚 vezes
a última parcela, isto é:
∑
1
𝑛
𝑛
𝑖=1 > 1 + (
1
2
) + (
1
4
+
1
4
) + (
1
8
+
1
8
+
1
8
+
1
8
) + ...
Ou seja, a série harmônica é maior do que a soma da série
1
2
+
1
2
+
1
2
+ ⋯
Contudo, a série de termo geral constante ∑
1
2
𝑛
𝑖=1 diverge, visto que seus
termos gerais não tendem a zero; logo, pelo critério de comparação, a série é
divergente.
Observamos que a série harmônica também é um exemplo interessante
quando fazendo uso de diversos critérios aqui apresentados: por exemplo,
fazendo o teste da razão, temos que o limite da razão de seus termos é 𝑙 =
𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
1
𝑛
1
𝑛+1
= 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
𝑛+1
𝑛
= 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
𝑛(1+
1
𝑛
)
𝑛
= 1.
O critério da comparação nos fornece a resposta sobre a convergência ou
divergência de uma série para todos os valores reais (ou +∞) de 𝑙, exceto
apenas um valor. No exemplo, temos que 𝑙 é justamente esse valor, e logo não
podemos concluir nada a respeito da série, de acordo com esse teste.
O teste é realmente inconclusivo: podemos também achar séries
convergentes tal que o limite 𝑙 é igual a 1. É o caso da série geométrica de razão
2 ∑
1
𝑛2
∞
𝑛=1 que como já vimos é convergente. Nesse caso, o limite é:
𝑙 = 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
1
𝑛2
1
(𝑛+1)2
= 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
(
𝑛+1
𝑛
)
2
= 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
(1 +
1
𝑛
)
2
=12=1.
Vimos que séries absolutamente convergentes são convergentes. É o
critério da convergência absoluta. Contudo, a recíproca não é verdadeira:
14
existem séries que convergem absolutamente, mas que não são convergentes.
Tais séries têm até um nome: chamam-se séries condicionalmente
convergentes. Um exemplo é a série alternada da série harmônica ∑
(−1)𝑛
𝑛
∞
𝑛=1 =
−1 +
1
2
−
1
3
−
1
4
+
1
5
−...Podemos enxergar esta série como ∑
(−1)𝑛
𝑛
∞
𝑛=1 = (−1 +
1
2
) +
(−
1
3
−
1
4
) +... Cada termo entre parênteses é positivo e os termos formam uma
sequência {𝑏𝑛}, sendo 𝑏1 = (−1 +
1
2
), 𝑏2 = (−
1
3
+
1
4
), e assim por diante. A série
pode então ser vista como ∑ 𝑏𝑛
∞
𝑛=1 . Como a sequência {𝑏𝑛} é monótona não
crescente, e seus termos tendem a zero, pelo critério de Leibniz, a série é
convergente.
Por fim, terminamos com o exemplo da série de Euler. Vimos que a
sequência definida de termo geral (1 +
1
𝑛
)
𝑛
é convergente (e definimos o limite
da sequência como o número de Euler 𝑒). Durante o processo da demonstração
da convergência, verificamos que vale a relação 𝑒 = 𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
(1 +
1
𝑛
)
𝑛
≤ ∑
1
𝑛!
∞
𝑛=0 .
(veja novamente os passos da demonstração).
Em verdade, a desigualdade contrária pode ser mostrada, isto é, 𝑒 =
𝑙𝑖𝑚
𝑛→+∞
(1 +
1
𝑛
)
𝑛
≥ ∑
1
𝑛!
∞
𝑛=0 . Contudo, a prova não será o foco desse texto. Ela pode
ser encontrada, por exemplo, em Lima (2001). Isso mostra que o número de
Euler 𝑒 pode ser visto não somente como o limite da sequência {(1 +
1
𝑛
)
𝑛
}, mas
também como limite da simples série convergente ∑
1
𝑛!
∞
𝑛=0 .
NA PRÁTICA
Nesta aula, estudamos diversos modos de inferir sobre a convergência ou
não de sequências e séries de números reais. É hora de praticar o aprendido,
decidindo sobre a convergência das sequências e séries a seguir.
Use seus conhecimentos adquiridos para responder as seguintes
perguntas acerca de sequências:
• A sequência {(1 −
1
𝑛
)} é convergente? Justifique.
• Considere a sequência {𝑎𝑛}da seguinte maneira: 𝑎1 = 𝑎 > 1, e para cada
𝑛 > 1, põe-se 𝑎𝑛 = √𝑎𝑛−1. Essa sequência é convergente? Justifique.
15
• Seja 𝑀 > 0. Qual sequência cresce mais rápido para o infinito? {𝑀𝑛} ou
{𝑛!}? Justifique.
• Prove a seguinte afirmação utilizando a definição formal de sequências:
se uma sequência {𝑎𝑛} converge para um número 𝑎 > 0, então existe um
natural �̅� ∈ 𝑁 tal que para todo 𝑛 > �̅� tem-se 𝑎𝑛 > 0.
• Teorema do sanduíche para sequências. Prove a seguinte afirmação
utilizando a definição formal de sequências: se duas sequências {𝑎𝑛}, {𝑏𝑛}
convergem para o mesmo limite 𝑎 ∈ 𝑅, e se {𝑐𝑛} é uma sequência tal que
𝑎𝑛 ≤ 𝑐𝑛 ≤ 𝑏𝑛 para todo 𝑛, então a sequência {𝑐𝑛} também converge para
𝑎.
Use seus conhecimentos adquiridos para responder as seguintes
perguntas sobre séries:
• ∑
1
2𝑛
∞
𝑛=7 é uma série convergente? Justifique. (Note que a soma começa
em n=7).
• Você pode generalizar o item anterior? Se ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=1 é uma série
convergente, o que se pode afirmar da série ∑ 𝑎𝑛
∞
𝑛=𝑘 , com 𝑘 > 1?
• Mostre que a série geométrica de razão 𝑝