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ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO W B A 04 21 _v 1. 0 2 Kriscia Vicente Proença Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Simone Cecília Pelegrini da Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Proença, Kriscia Vicente P964e Estratégia de conteúdo/ Kriscia Vicente Proença, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 42 p. ISBN 978-65-86461-18-3 1. Marketing na Internet. 2. Narrativas digitais I. Proença, Kriscia Vicente.Título. CDD 658.8 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Afinal, o que é Marketing de Conteúdo? _____________________________ 05 Como estruturar uma campanha de marketing de conteúdo _______ 18 Contando histórias que vendem ____________________________________ 32 Criando narrativas transmídia ______________________________________ 45 ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO 5 Afinal, o que é Marketing de Conteúdo? Autoria: Kriscia Proença Leitura crítica: Simone Cecília Pelegrini da Silva Objetivos • Entender o que é marketing de conteúdo. • Conhecer a evolução do uso deste recurso, inclusive no meio digital. • Compreender a importância do conteúdo para estratégias de marketing 6 1. Um pouco sobre marketing Antes de mergulharmos de cabeça no marketing de conteúdo, é importante entendermos quais os caminhos que direcionaram o marketing a ser como o conhecemos hoje, como as mudanças do consumidor na era digital e como as estratégias das empresas estão se adaptando aos novos desafios do século XXI. Para começarmos, você precisa saber o que é marketing. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 4), marketing é um “processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos de valor entre si”. E, uma vez que se trata de um processo social, depende diretamente da sociedade – ou seja, de pessoas. E se há mudanças no comportamento ou valores delas, o marketing também é diretamente impactado. Essas mudanças e suas consequências são bastante exploradas pelos autores Kotler, Kartajaya e Setiawan nos livros Marketing 3.0 (2010) e Marketing 4.0 (2017), em que os autores dividem o marketing em diferentes momentos, começando no século XVIII, com a Revolução Industrial, quando teve início o desenvolvimento das tecnologias de produção em massa e, nesse contexto, temos o Marketing 1.0, no qual o centro da estratégia era vender os produtos de uma empresa a todos que quisessem comprá-los, pensando em reduzir ao máximo o custo, padronizando e escalonando a produção e, assim, permitindo que os produtos fossem comprados pelo maior número de pessoas. Ainda temos empresas no mercado que aplicam essas práticas atualmente, você consegue identificar alguma delas? Já no Marketing 2.0, as estratégias são orientadas ao consumidor. Ele começou na atual Era da Informação, na qual o conhecimento e informação passaram a ser mais valorizado que o trabalho operacional, consequência das novas tecnologias da informação, e a indústria deixou 7 de ser o centro de tudo – a maior parte dos consumidores são bem informados e comparam as ofertas de produtos que têm ao seu alcance. Com isso, o maior desafio do profissional de marketing é satisfazer e reter o consumidor, oferecendo um produto superior para um determinado segmento do mercado. No Marketing 3.0, centrado em valores e no ser humano completo: mente, coração e espírito, em que só satisfazer necessidades e desejos do consumidor não é suficiente. Desse modo, é necessário pensar em como transformar o mundo para melhor, oferecendo soluções para problemas da sociedade. O consumidor se identifica com empresas que tenham valores similares aos seus. “Os responsáveis pelo marketing preenchem não apenas as necessidades funcionais e emocionais dos consumidores, mas também abordam suas ansiedades e seus desejos latentes”. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017, p. 134) E por fim, no Marketing 4.0, os autores afirmam que o foco será cada vez mais no ser humano e as marcas com personalidades humanas devem se destacar mais que as demais, tendo maior poder de atração. Nesse sentido, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 134) defendem que “as marcas precisam demonstrar atributos humanos capazes de atrair consumidores e desenvolver conexões de pessoa a pessoa”. O Quadro 1 apresenta as principais informações que diferenciam os momentos e evolução do marketing. Quadro 1– Evolução do conceito de Marketing Marketing 1.0 Marketing 2.0 Marketing 3.0 Marketing 4.0 Centrado no produto Voltado ao consumidor Voltado aos valores Voltado ao ser humano Objetivo Vender produtos Satisfazer e reter os consumidores Fazer do mundo um lugar melhor Incluir todos on e off-line Forças propulsoras Revolução Industrial Tecnologia da Informação Nova onda de tecnologia Conectividade social 8 Como as em- presas veem o mercado Compradores de massa, com neces- sidades físicas Consumidor inte- ligente, dotado de coração e mente Ser humano ple- no, com coração, mente e espírito Ser humano ple- no, com coração, mente, espírito e inclusivo Conceito de marketing Desenvolvimento de produto Diferenciação Valores Conexão Diretrizes de marketing da empresa Especificação do produto Posicionamento do produto e da em- presa Missão, visão e valores da em- presa Negócio horizon- tal, inclusivo e so- cial Proposição de valor Funcional Funcional e emo- cional Funcional, emo- cional e espiritual Funcional, emo- cional, espiritual e social Interação com os con- sumidores Transação do tipo um-para-um Relacionamento um-para-um Colaboração um- -para-um Influência um-pa- ra-muitos Fonte: adaptado de Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, p. 5). Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010) divivem o Marketing 3.0 em três elementos básicos: o marketing colaborativo, cultural e espiritual; e enumeram em seu livro, Marketing 3.0, três grandes forças que moldam nossa sociedade atual e que transformam os consumidores, tornando- os mais colaborativos, culturais e voltados ao espírito: 1. A era da participação: as pessoas não só consomem conteúdo, mas também criam, transformando consumidores em prosumidores (produtor + consumidor). A nova onda tecnológica, formada por computadores e celulares baratos, internet de baixo custo e fonte aberta, permitiu maior conectividade e interatividade entre pessoas no mundo todo. Aqui aparece o primeiro elemento básico do Marketing 3.0, o marketing colaborativo. Um fatorque estamos inseridos atualmente. Para a criação de narrativas transmídia efetivas é interessante entender a jornada do consumidor da empresa, analisando todas as etapas que ele passa desde o momento em que há a identificação da necessidade ou desejo por um produto ou serviço, até o momento pós-compra e, eventualmente, o retorno desse consumidor a comprar produtos das marcas, mostrando uma fidelidade – comportamento que qualquer empresa deseja conquistar, sem que haja consideração de concorrentes. No entanto, dependendo da etapa da jornada em que esse consumidor se encontra, o conteúdo disponibilizado será diferente, sempre incentivando uma ação alinhada ao objetivo estabelecido na campanha. Veja abaixo o modelo de jornada desenvolvido pela empresa McKinsey: 51 Figura 1 – Modelo de jornada Fonte: adaptada de McKinsey (2009). Nesse modelo, temos as seguintes etapas: 1. Gatilho: é o momento em que a pessoa percebe que necessita ou que deseja algo – por exemplo, o consumidor desta jornada decidiu comprar um tênis – no momento do gatilho ele resolve que precisa do produto para a próxima corrida de rua que participará. 2. Consideração Inicial: chegamos ao segundo momento da jornada – após decidir que precisa de algo, o consumidor considera algumas marcas de sua preferência, as quais conheceu em algum momento e aprendeu, de algum jeito, que tem produtos a oferecer para sua necessidade – normalmente, ao enumerar as opções de marcas para uma compra, uma pessoa lembra no máximo de cinco marcas/produtos diferentes. No caso do exemplo desta jornada, o consumidor lembraria da Nike, Adidas e Under Armour – marcas que oferecem bons tênis de corrida. Agora, por sua vez, entra a parte que o profissional de marketing precisa pensar: como faço para estar nessa primeira lembrança quando uma pessoa quer comprar algo? Além de 52 lembrada, a marca/produto precisa ser considerada interessante e reconhecida como uma das melhores opções por esse consumidor – a comunicação em meios de grande audiência faz um papel bastante efetivo nesse momento, ao impactarmos o máximo possível o consumidor com uma mensagem para que ele conheça a marca e seus produtos, reconhecendo a qualidade e a finalidade para qual o produto é destinado. 3. Avaliação Ativa: após a consideração das possíveis marcas para comprar, o consumidor buscará mais informações sobre cada uma delas, como: preço, qualidade, indicação de uso, opinião de pessoas que usam, recomendação de influenciadores etc. Nessa etapa, além do boca-a-boca presencial, que pode acontecer com amigos, o treinador de corrida ou colegas de treino, a pessoa normalmente procura mais informação em sites de busca, blogs especializados em corrida, perfis em redes sociais, entre outros. É imprescindível ter uma boa estratégia digital para aparecer nessas buscas, com uma presença consistente em diversos veículos. No caso do tênis de corrida, ele poderia, inclusive, considerar parcerias com academias para que os professores conhecessem o seu produto e pudessem recomendar para alunos que estivessem buscando informação. Assim, produzir conteúdo relacionado ao tema também é bastante eficiente, se colocando como uma referência no assunto. 4. Momento da Compra: é o momento em que a pessoa decidiu qual marca/produto irá comprar e vai até uma loja, física ou digital, para efetivar a compra. Imagine que o consumidor do exemplo trabalhado até aqui decidiu comprar um tênis Adidas, ele vai até uma loja física para experimentar o produto no pé e concluir a compra. Chegando na loja, o vendedor pergunta quais os motivos da compra e, ao explicar que é para uma determinada distância de corrida de rua, o consumidor recebe a recomendação de outra marca, um Mizuno, como a melhor opção para a ocasião, 53 além de ser mais confortável e durável. Será que um consumidor consideraria a recomendação do vendedor? A maior parte dos consumidores sim – de acordo com dados da Nielsen, 70% das decisões de compra são realizadas no ponto de venda (PDV). Por isso, ter ações promocionais no PDV é bastante importante para conseguir converter vendas. Caso seja um e-commerce, ter um site bem construído é fundamental, com informações completas, opções diversificadas de pagamento, além de ter uma linguagem consistente com as narrativas dos demais canais utilizados até o momento. Lembre-se que o consumidor precisa ter a sensação de que a marca está conversando com ele de maneira coerente em todos os canais, criando uma experiência única e, de preferência, positiva com a marca. 5. Experiência pós-compra: agora que o consumidor já comprou o tênis Adidas o que mais a marca pode fazer? Tentar entregar uma experiência pós-compra de excelência, como mencionamos anteriormente – coerência é fundamental. Quanto melhor for esse momento para o consumidor, maiores são as chances dele voltar a consumir e recomendar os produtos. Essa etapa se divide em dois momentos: o primeiro é a experiência com o produto, se atende as expectativas de performance, qualidade, design etc.; e o outro é o relacionamento com a marca, houve contato com o consumidor após a compra para saber a opinião sobre o produto ou oferecer benefícios para uma próxima compra? Talvez o compartilhamento de conteúdo sobre corrida, indicação de grupos para o consumidor poder treinar e conhecer pessoas, enfim, pontos de contato para que esse consumidor não esqueça que a marca está presente em todos os momentos e deve continuar sendo referência sobre o assunto. 6. Looping de Fidelidade: caso a marca consiga conquistar esse consumidor com a experiência oferecida, ao ter um novo gatilho, essa pessoa provavelmente considerará os produtos da Adidas novamente, sem consultar marcas concorrentes numa nova etapa 54 de consideração inicial, fechando assim um looping de fidelidade. Nesse caso, o esforço para uma nova conversão diminui, já que não há duas etapas da jornada percorridas – a marca gasta menos investimentos financeiros e humanos para a conversão de venda do mesmo consumidor. Ao analisar e conhecer a jornada completa do seu consumidor é menos provável que você o deixe a mercê dos concorrentes, se mostrando presente em todas as etapas de maneira efetiva. O principal fator que impede as empresas de criar narrativas transmídia atualmente é o custo e esforço requeridos, uma vez que é necessário tempo e planejamento a longo prazo para a marca estar presente, de maneira consistente, em diversas plataformas, além da necessidade de diferentes profissionais, nem sempre presentes em agências de propaganda ou nos departamentos de marketing das empresas, como roteiristas, produtores teatrais, desenvolvedores de aplicativos etc. Um ponto de atenção é que a construção de conteúdo transmídia vai além de usar diferentes plataformas para contar uma história – precisando, necessariamente, ser colaborativo e imersivo, fazendo com que a audiência se sinta parte da construção da narrativa, criando uma experiência completa com a marca. Essa colaboração é bastante benéfica para a empresa, uma vez que o próprio espectador divulga informações sobre o que quer saber, dúvidas e opiniões sobre a marca, disponibilizando insumos a empresa criar mais conteúdos. Pense no sucesso dos últimos produtos da Marvel, que tem HQs no mercado desde 1940 com vários grupos de super-heróis, forças especiais e vilões. Ao longo de sua história, a empresa fez bastante sucesso, mas no início da década de 1990, ela enfrentou uma crise financeira e quase faliu. Foi quando seus dirigentes voltaram sua atenção para o cinema, produzindo filmes sobre o universo previamente construído nos quadrinhos. No final da década de 1990 e início dos anos 2000, já tinham se recuperado financeiramente, usando o cross entre as 55 diversas histórias da empresa, assim como já acontecia nos HQs, mas dessa vez em diferentes plataformas e formatos. Hoje ela continua presente no cinema, mas criam continuaçõesdas histórias em plataformas diversas, conquistando uma audiência que não é, necessariamente, fã dos quadrinhos, mas acompanha as histórias em outros meios. Os últimos lançamentos da empresa têm obtido bastante sucesso, mostrando que com narrativas transmídia conseguem construir um universo coeso da marca. Em quase todos os lançamentos de filmes da empresa, há também lançamentos de outros conteúdos em diferentes meios e formatos como jogos ou enquetes nas redes sociais para que o espectador saiba qual personagem seria, de acordo com algumas respostas simples, por exemplo. Essa estratégia, além de criar um sentimento de ansiedade para os lançamentos, dando pequenos spoilers da nova história que virá, faz com que os próprios consumidores compartilhem os conteúdos, amplificando o alcance e entretendo os envolvidos. Em paralelo das produções, os fãs da Marvel criaram diversos grupos on-line para discutir teorias envolvendo os personagens e tramas, tentando achar pontos em que as diferentes narrativas se encontram e, em muitos casos, criando teorias que nem os próprios autores tinham imaginado – fazendo com que os consumidores interfiram na produção das futuras histórias. Ou seja, um ponto bastante positivo de uma boa construção de storytelling transmídia é fazer com que a audiência queira cada vez mais histórias, por se entreter com conteúdos que vão além do produzido pela empresa, criando seu próprio conteúdo, engajando cada vez um número maior de pessoas. Quanto mais os espectadores sentem que são participantes efetivos na criação das histórias, mais tempo e energia investem nela, interagindo mais, estreitando o relacionamento com as narrativas e potencializando a identificação com as marcas presentes ou patrocinadoras. 56 O espectador, por sua vez, para ter vontade e tomar atitude de compartilhar um conteúdo criado por alguma empresa é indispensável que este seja surpreendente, além de original, fazendo com que as pessoas se identifiquem e engajem mais. De acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 169) “à medida que os consumidores se tornam cada vez mais conectados, o tempo passa a ser o recurso mais escasso em suas vidas”, portanto, é necessário que o conteúdo proposto pela empresa valha o tempo requerido, entregando uma experiência contagiante. Além disso, as marcas e os produtos devem estar presentes na narrativa, uma vez que o conteúdo criado faz parte de uma estratégia de marketing e não é produzido apenas para entretenimento da audiência, mas de uma maneira sutil, fazendo parte da história e não como algo forçado. Caso o espectador sinta que a marca está roubando o protagonismo do conteúdo, é bastante provável que não o compartilhe e não faça questão de engajar. Desse modo, o relacionamento entre marca e consumidor deve ser construído aos poucos, de maneira consistente e coerente, com a empresa antenada nas novas tecnologias que podem ser usadas na sua comunicação com o público-alvo, lembrando sempre que possibilitar interatividade é bastante importante, desde que o conteúdo disponibilizado seja considerado relevante pela audiência e seja disponibilizado da maneira mais apropriada para quem irá recebe-lo. “Os profissionais de marketing de conteúdo precisam entender que a sua definição do que é bom conteúdo pode não ser a mesma definição do consumidor. Em última análise, é a dele que conta” (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2017, p. 150). 57 Referências Bibliográficas JENKINS, H. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LÉVY, P. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola. 2007. PARRON, R. O consumo de informações na era da mobilidade. Disponível em: http://www.cantareira.br/thesis2/ed_16/6_parron.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020. McKINSEY. The consumer decision journey. 2 jun. 2009. Disponível em: https://www. mckinsey.com/business-functions/marketing-and-sales/our-insights/the-consumer- decision-journey. Acesso em: 4 maio 2020. 58 Bons estudos!importante dessa era são as redes sociais. 2. A era do paradoxo da globalização: com o desenvolvimento da tecnologia da informação, a globalização foi impulsionada, gerando maior troca de informações entre países e uma economia interligada. Com isso, também, surgem paradoxos, como o político, o econômico ou o paradoxo sociocultural. Nesse sentido, “A globalização cria uma cultura global universal e, ao mesmo 9 tempo, para contrabalancear, fortalece a cultura tradicional” (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p. 15). As pessoas continuam com seus valores locais, mas sentem a pressão cada vez maior de se tornarem cidadãos globais, fato que gera uma onda de ansiedade, por serem valores, muitas vezes, conflitantes. Segundo Holt (2005), com isso, surgiram as marcas culturais, com objetivo de resolverem paradoxos da sociedade. Elas são marcas que promovem o nacionalismo e o protecionismo, desejando serem ícones culturais locais. Um exemplo bastante conhecido de uma campanha cultural é a Vem para Rua, campanha da marca Fiat, criada em 2013 para a Copa do mundo, que virou hino das manifestações que aconteceram no país no mesmo ano. Então, o segundo elemento básico do Marketing 3.0 é o marketing cultural. 3. A era da sociedade criativa: o índice de criatividade está crescendo no mundo, mais uma vez, impulsionada pela tecnologia da informação. As pessoas estão vivendo cada vez mais como cientistas e artistas criativos, buscando a autorrealização, além de suas necessidades primárias de sobrevivência, elas buscam algo além do dinheiro, como: significado, felicidade e realização espiritual. Assim, as pessoas criativas acreditam na pirâmide de Maslow invertida, na qual a autorrealização apareceria como necessidade primária a todos os seres humanos. Desse modo, apresentamos o terceiro elemento básico do Marketing 3.0, o marketing espiritual ou do espírito humano. Considerando a definição de espiritualidade como “a valorização dos aspectos não materiais da vida e as sugestões de uma realidade duradoura” (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2012, p. 2). O Marketing 4.0 é uma evolução do anterior, no qual esses três elementos básicos continuam presentes, mas com uma diferença: a conectividade. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017, p. 34) enfatizam que “a conectividade é possivelmente o mais importante agente de mudanças 10 na história do marketing”. Assim, temos a inclusão como uma tendência na sociedade, dando maior poder a grupos sociais e menos para indivíduos – consumidores são mais influenciados por outras pessoas do que por um porta-voz ou pela própria marca e, muitas vezes, a opinião de estranhos sobrepõe a preferência do próprio consumidor. Nesse novo cenário, as empresas não têm mais controle sobre o que as pessoas divulgam sobre ela – os elogios e as reclamações não são mais individuais, mas feitas por comunidades de pessoas–que não podem ser censuradas para não influenciar na credibilidade da marca. É quando o conteúdo ganha mais protagonismo, tornando uma marca conhecida em uma marca interessante, sendo referência para os consumidores, interagindo com eles e entregando informações relevantes para que eles possam dar a sua opinião também. 2. O que é e como surgiu o Marketing de Conteúdo? Podemos dizer que estamos no meio de uma revolução tecnológica, com mudanças a todo momento, ou seja, o que conhecemos hoje tem uma grande probabilidade de estar diferente amanhã. Desse modo, como as empresas conseguem se manter atuais, considerando sempre a melhor estratégia e a mensagem correta para o seu público? Conhecendo e entendendo o consumidor. Nesse sentido, a internet possibilitou que exista um relacionamento mais próximo entre empresa e consumidor, já que o contato não termina no momento da compra, e isso mudou completamente as estratégias de marketing. O consumidor não enxerga mais valor na propaganda, uma vez que a oferta de produtos similares cresceu consideravelmente e a comunicação das marcas ficaram muito semelhantes, focadas em ofertas e preço, não criando vínculos. Como 11 resultado temos um consumidor que troca de marca com facilidade quando não percebe o valor da dela, sendo orientado basicamente ao preço. Então, como a marca consegue voltar a fazer parte da vida das pessoas e merecer a atenção desse consumidor? Nesse sentido, Seth Godin (2000) defende que o marketing de conteúdo é a última estratégia de marketing que sobrou. Você concorda com isso? Primeiramente, precisamos entender o que consideramos ser “conteúdo”: É tudo aquilo que pode ser consumido como informação e que acrescenta valor para alguém. Informação pode ser oferecida como imagem, vídeo, texto, arquivo de som e as diversas derivações – screencasts, slidecasts, audiobooks etc. (ADOLPHO, 2011, p. 528) Além disso, precisamos salientar nessa definição que o conteúdo precisa sempre acrescentar valor para alguém. E, esse alguém, pensando no que você já viu acima sobre marketing, é sempre o consumidor. Esse é o erro mais clássico dos profissionais de marketing que criam estratégias embasadas em conteúdo: não consideram o que gera valor para seus consumidores, criando conteúdos que, muitas vezes, apenas o presidente, CEO ou diretor de marketing acreditam ser interessantes. Consequentemente, os resultados acabam não sendo os esperados. Seguindo esse raciocínio acima, podemos considerar a definição de marketing de conteúdo de Rez (2016, p. 3): Marketing de conteúdo é a estratégia de marketing que usa o conteúdo como ferramenta de descoberta, informação, vendas e relacionamento com o público de uma empresa. Consiste em definir esse público, estabelecer os pontos de conexão, entregar valor e educar o cliente com formas de conteúdo nas mais variadas modalidades, medindo cada etapa 12 do relacionamento para manter esse conteúdo sempre relevante para o consumidor. Ou seja, entregar o conteúdo certo, para o público certo, no lugar certo. Mas este é um conceito recente, que surgiu com a internet, certo? Não! A era digital difundiu bastante a ideia de marcas criando e divulgando conteúdo, mas a essência dessa estratégia existe há anos. Por exemplo, em 1895, a empresa John Deere, líder mundial na fabricação de equipamentos agrícolas, lançou a revista The Furrow, com o objetivo de educar fazendeiros para tornarem seus negócios mais lucrativos e a revista existe até hoje. O que eles ganhariam com isso? Uma vez que os fazendeiros tivessem mais dinheiro e o negócio crescesse, precisariam de mais equipamentos. Ou seja, a venda acontece como consequência da informação disponibilizada pela própria empresa num formato de interesse para o consumidor final. Outro exemplo muito conhecido é do Guia Michelin, que foi idealizado pelo francês André Michelin, fundador da empresa que leva seu sobrenome e fábrica pneus. Publicado pela primeira vez em 1900, época em que viagens de carro eram consideradas de luxo e as pessoas viajavam mais de trem, o guia continha informações sobre estradas, oficinas mecânicas, lojas, hotéis e restaurantes, com o objetivo principal de promover viagens de carro e, consequentemente, aumentar as vendas de pneus. Com o tempo, o guia começou a pontuar os restaurantes com estrelas, bastante cobiçadas até os dias de hoje. Com a disseminação da internet, os guias impressos de viagem perderam importância, mas o prestígio das estrelas Michelin continua até hoje, sendo cobiçadas por chefs do mundo todo. 13 Figura 1 – Guia Michelin, primeira edição (1900) Fonte: GUIA... (2020, [s.p.]). Um exemplo brasileiro de bastante sucesso em marketing de conteúdo é do Leite Moça Nestlé – inicialmente, o produto foi criado para reduzir o volume do leite e aumentar a sua durabilidade, porque no século XIX, sem geladeiras nem processo de pasteurização, era comum que o alimento estragasse antes mesmo de chegar aos consumidores. O produto citado ganhou grande popularidade durante a Guerra de Secessão americana, uma vez que possibilitavatransporte mais fácil para lugares mais distantes. Com o tempo, no Brasil, ele começou a ser usado na culinária e a Nestlé, em meados de 1960, percebendo a oportunidade de aumentar vendas, começou a imprimir receitas nos rótulos do produto, com o objetivo de ensinar os consumidores a usá-lo de maneiras diversas. O sucesso foi tão grande que o produto não teve concorrentes até a década de 1980 e a estratégia foi adotada por outras marcas dentro e fora da empresa. Atualmente, é difícil encontrarmos produtos destinados a preparação de alimentos sem uma receita no rótulo. 14 Figura 2 – Rótulo do leite condensado Moça Fonte: ANÚNCIO... (2015, [s.p.]). Você consegue observar o que esses dois exemplos têm em comum? Ambos tiveram como principal foco o consumidor e como agregar valor ao produto para ele, fazendo com que ele percebesse os benefícios ao escolher uma marca e não outra. O crescimento das vendas e disseminação da marca aconteceram como consequência da estratégia de marketing, fazendo com que o consumidor procure a marca que se colocou como referência naquele determinado assunto. Mas, nos dias de hoje, como criar campanhas de marketing de conteúdo que engajem o consumidor? 2.1 Marketing de conteúdo no ambiente virtual Atualmente, é praticamente impossível você estudar sobre marketing digital sem se deparar diversas vezes com conceitos de marketing de conteúdo. Com a disseminação das redes sociais dando poder as pessoas comuns de escolher as informações que querem consumir, além de serem produtores de conteúdo, as empresas precisam se esforçar mais para chamar a atenção. 15 Nesse sentido, a comunicação interruptiva, aquela que conhecemos como mais tradicional, que interrompe o conteúdo que o consumidor escolheu ver (vídeo, novela, música, filme etc.) para mostrar a mensagem da empresa, já não tem sido tão efetiva quanto antes. Principalmente no ambiente digital, sendo um dos maiores desafios para empresas que querem criar um relacionamento cada vez mais próximo com os seus consumidores. Nesse cenário temos o conteúdo como um ótimo recurso – quando a informação que a empresa divulga é realmente relevante para as pessoas consegue chamar atenção e gerar engajamento em prol da marca. Um ponto de bastante atenção é lembrarmos que a internet possibilitou uma troca, em que o consumidor não é mais um ser passivo, apenas recebendo e consumindo informações. Pelo contrário, ele quer interagir, quer sentir que aquele conteúdo que está recebendo foi criado para ele e, quando possível, fazer parte do processo e ser ouvido. Anteriormente, nesta aula, você pôde ler sobre as forças que estão transformando a nossa sociedade e como o consumidor está cada vez mais participativo e a não consideração dessas mudanças faz com que empresas não consigam se comunicar efetivamente, muitas vezes, esquecendo que do outro lado tem uma pessoa real esperando a sua vez de falar e ser ouvido. Mas o marketing de conteúdo não acontece apenas nas redes sociais – tomar isso como verdade é um erro bastante comum entre os profissionais de marketing. Não há dúvidas que as redes influenciaram demais para o crescimento exponencial que temos hoje na produção de conteúdo, mas há outras plataformas bastante interessantes que podem e devem ser usadas dentro da estratégia. Como exemplo de marketing de conteúdo que aconteceu, prioritariamente, fora das redes sociais, é um projeto da marca Friboi que, em parceria com a Globo.com, criou um dos maiores projetos de conteúdo de marca, ou branded content–termo mais usado no 16 mercado. Em pesquisa feita em veículos de busca e com consumidores que reclamavam da qualidade de alguns produtos, constatou-se que o consumidor não sabia como usar a carne: não sabiam qual corte de carne era mais indicado para um determinado tipo de preparo, porções, temperos, higiene etc. Com esse problema principal identificado, a marca soube que precisava ensinar o consumidor, diminuindo os problemas e preconceitos com os produtos da marca e, consequentemente, aumentando as vendas. Então, eles criaram uma plataforma on-line chamada Academia da Carne Friboi (academiadacarnefriboi.globo.com), na qual produziram conteúdos que vão desde receitas a cursos, com diversos chefs convidados. Em menos de um ano, eles conseguiram aumentar as vendas, mesmo num momento de crise econômica em que o Brasil estava vivendo e, em alguns produtos, esse aumento foi superior a 160%. Além dos conteúdos disponíveis na plataforma, houve disparos de e-mails marketing com conteúdos exclusivos, além de divulgação nas redes sociais, veículos digitais e off-line. Como você pode reparar, não há uma fórmula pronta para fazer marketing de conteúdo. Logo, é primordial identificar qual a necessidade ou desejo do consumidor que a empresa quer e pode resolver com informações relevantes, se tornando referência naquele assunto. Sem ter a dor do consumidor que está sendo solucionada e quem exatamente é o público-alvo da estratégia que está sendo desenvolvida, é bastante difícil seguir os próximos passos para desenvolver uma estratégia de marketing de conteúdo eficaz e que faça diferença. Desse modo, é necessário conhecer o seu consumidor, o que ele pensa, sente, vê e acompanha dentro e fora do meio digital, identificando não só as suas dores, mas seus interesses que podem ajudar a produzir conteúdo que chame sua atenção e gere engajamento, transformando o próprio consumidor num disseminador da sua mensagem. Uma vez que conseguimos identificar a persona com quem vamos falar na estratégia 17 de marketing de conteúdo conseguimos personalizar o tom de voz que será usado, plataformas e frequência mais adequadas, a fim de realmente termos uma conversa entre marca e consumidor. Portanto, um bom profissional de marketing está sempre atualizado com as mudanças que acontecem a sua volta, identificando oportunidades e avaliando o que pode ser uma ameaça, conseguindo ler os movimentos do mercado e adaptando sua estratégia de acordo, baseando suas ações em dados e nunca em “achismos”. Com objetivos claros, persona bem identificada e pesquisa bem-feita, a sua estratégia de marketing de conteúdo tem tudo para ser um sucesso. Referências Bibliográficas ADOLPHO, C. Os 8 P’s do Marketing Digital: o guia estratégico de marketing digital. São Paulo: Editora Novatec, 2011. ANÚNCIO Antigo 40: Leite Condensado Moça. Disponível em: http://histormundi. blogspot.com/2015/10/anuncio-antigo-40-leite-condensado-moca.html. Acesso em: 20 jan. 2020. GODIN, S. Marketing de Permissão: transformando desconhecidos em amigos e amigos em clientes. Rio de Janeiro: Campus/ Elsevier, 2000. GUIA Michelin: tudo começou para vender mais pneus. Disponível em: http:// virtusjornalismo.blogspot.com/2014/01/guia-michelin-tudo-comecou-para-vender. html. Acesso em: 20 jan. 2020. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de Marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education, 2012. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0. 16. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. REZ, R. Marketing de Conteúdo: a moeda do século XXI. São Paulo: DVS Editora, 2016. 18 Como estruturar uma campanha de marketing de conteúdo Autoria: Kriscia Proença Leitura crítica: Simone Cecília Pelegrini da Silva Objetivos • Conhecer as etapas de um planejamento de campanha. • Entender as principais características de uma campanha embasada em conteúdo. • Identificar oportunidades para desenvolver conteúdo relevante. 19 1. Por onde começar o planejamento da sua campanha Nesta aula, você aprenderá o passo a passo para planejar uma campanha de marketing embasada em conteúdo, e assim ajudar o seu consumidor em alguma dor sobre esse assunto. Vale ressaltar que produzir uma campanha é muito mais do que simplesmente postar nas redes sociais - é necessário conhecer e entender o seu consumidor e, acima de tudo, gerar valorcom o que está falando. Como em qualquer campanha, precisamos começar pelo começo: definindo o objetivo a ser alcançado. Sem objetivos, indicadores e metas bem definidas para nortear a campanha, você não terá como saber se obteve ou não sucesso ao final do projeto. Veja o diálogo abaixo do livro Alice no País das Maravilhas, de Carroll (2003, p. 84): Alice: Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui? Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato. “O lugar não importa muito…”, disse Alice. “Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato. 20 Figura 1 - Alice no País das Maravilhas Fonte: duncan1890/iStock.com. Ou seja, sem objetivos claros você pode chegar em qualquer lugar sem saber se teve êxito ou não em sua estratégia. Mas, como estabelecer objetivos estratégicos para uma campanha de marketing de conteúdo? Alinhando os objetivos da campanha com os objetivos de negócios. Um erro bastante comum de empresas é ter como principal objetivo de negócio a obtenção de lucro. Sem dúvidas, todas as empresas precisam de lucro para sobreviver no mercado, mas esse não pode ser o principal objetivo da existência do seu negócio. Se tudo o que você oferecer para o seu consumidor for baseado em dinheiro, ele provavelmente o trocará pelo primeiro concorrente que oferecer uma condição financeira melhor de compra. Por isso, o objetivo de negócio precisa ser algo maior, abrangente e estratégico, que atenda uma demanda real de um grupo 21 específico de pessoas – ter como objetivo o encantamento e a satisfação do consumidor. Um objetivo de negócio pode, por exemplo, ser entregar a melhor experiência gastronômica para pessoas de um bairro X de uma cidade. Mas, como fazer isso? Além das características físicas de negócio, são essenciais os objetivos do marketing – tornar o restaurante referência em gastronomia pelo seu público-alvo ou tornar a marca conhecida, ou ensinar o consumidor a utilizar um determinado produto ou serviço, caso seja algo extremamente novo. Tenha muito claro o que você quer oferecer e para qual público se destina –, baseado nisso, encontrará o seu objetivo de negócio. Para traçar os objetivos do negócio, é fundamental conhecer o consumidor – lembre-se que sem consumidor não existe empresa ou negócio, pelo simples fato de que sem ter quem compre o seu produto, não há razão para sua empresa existir. Desse modo, tudo o que fizer precisa ser pensado no consumidor. Assim, para definição dos objetivos da campanha de marketing, é necessário elaborar as prioridades que o negócio deve alcançar, podendo ser de qualquer tipo, conforme exemplificado por Adolpho (2011) em seu livro: • Aumentar vendas de produtos/serviços. • Capturar e-mails/telefones, no caso de uma empresa que precisa crescer sua base de dados para relacionamento. • Aumentar tempo médio de navegação no site, como no caso de um veículo online. • Ser autoridade em determinado assunto, dentre outras. 22 Além dos objetivos, é fundamental estipular metas – essas são ações que irão te levar a conquistar os objetivos. Para isso, as metas precisam ser específicas, relevantes, atingíveis, mensuráveis e temporais. Em outras palavras, as metas deverão ser específicas, para saber exatamente o que precisa ser feito –, ao contrário do objetivo que é mais abrangente, as metas precisam ser específicas. Devem ser relevantes porque precisam ser algo que fará diferença para alcançar o objetivo traçado. Atingível, pois não podem ser algo escolhido aleatoriamente, mas embasado em dados de mercado reais. Mensuráveis, ou seja, ter como medir se a meta foi ou não alcançada. Por fim, temporal – precisa ter um prazo específico para ser atingida, justamente para ser mensurável. Assim, um exemplo de objetivo seria a empresa se tornar líder de mercado no seu segmento de atuação – é algo bastante abrangente. Por outro lado, o exemplo de uma meta seria: crescer 4% de vendas em no máximo 2 anos. 1.1 Descobrindo o consumidor ideal Como você pôde ver anteriormente, um personagem fundamental para a construção de uma campanha é o consumidor, assim, precisa ser muito claro quem é a pessoa principal que se beneficiará do produto/ serviço que você está oferecendo. Todo mundo pode consumir o seu produto? Sim, claro. Mas você não conseguirá falar com todo mundo ao mesmo tempo – quando você fala com todo mundo, você não fala com ninguém. Por exemplo: todo mundo pode consumir Coca-Cola, mas a marca tem uma comunicação voltada para o público mais jovem. Então, é necessário definir com quem você falará – normalmente, em campanhas de marketing nós temos um público-alvo: um recorte de pessoas que tem maior probabilidade de consumir o que estamos oferecendo, ou para quem foi idealizado aquele produto ou serviço. 23 Para uma campanha de conteúdo, é mais efetivo definirmos uma persona ou um avatar – é um personagem criado para ter mais clareza de com quem está falando. Lembre-se que numa campanha de conteúdo é essencial gerar conversa, assim, sabendo exatamente com quem você está conversando é mais fácil criar uma conexão e saber quais as dores e crenças que compartilham. Consequentemente, será mais assertivo na escolha de histórias que contará e qual linguagem utilizará para se comunicar e vender seu negócio. As pessoas que vão receber seu conteúdo precisam sentir que você está conversando com elas, ou seja, o conteúdo foi feito pensando nelas e, por isso, é relevante para elas. Com isso, você conseguirá com que essas pessoas busquem a sua marca para saber mais sobre o conteúdo, compartilhando o que você publica e, assim, é possível criar uma comunidade, uma base de fãs que trará cada vez mais insights para que você consiga criar conteúdos cada vez mais relevantes. Frente a isso, a marca gerará maior impacto e o seu resultado será melhor. Não obstante, a sua persona é um personagem criado, com nome, idade, medos, desejos, crenças, sonhos – como se fosse alguém real. Desse modo, você precisa saber o problema que está resolvendo e de quem está resolvendo. O melhor jeito de desenhar a sua persona é fazer listas após pesquisar com pessoas reais, que se enquadram no perfil do seu público-alvo. À título de síntese, o público-alvo é um recorte, um grupo de pessoas com características similares que você atende e tem maior probabilidade de comprar o seu produto/serviço. Por outro lado, a persona ou avatar é um personagem criado a partir de muita pesquisa e observação de pessoas reais, alguém que faria parte do seu público-alvo, que ache no seu produto/serviço a solução para um problema que possui, recomendaria seu produto/serviço e seria um advogado da sua marca. 24 Como se trata de uma pessoa, é preciso descrever seus detalhes: além de nome, idade, estado civil, escolaridade, profissão, renda, se tem filhos, lembre-se de características quem podem te ajudar a criar uma conexão maior com o público, como lugares que frequenta, o que gosta de fazer como entretenimento, quais seus maiores medos e desejos, quais redes utiliza, perfis que segue, o que e onde busca seus dúvidas relacionadas a solução que você oferece etc. Faça listas com 5 até 10 características principais desses temas e tente conhecer essa persona, como conhece seu melhor amigo. Assim, será mais fácil saber o que falar com ela. 2. Pesquisa Agora que você já sabe quem é o seu consumidor ideal, quais suas dores e desejos, você já consegue ter claro os objetivos, metas e público-alvo para o planejamento estratégico. Caso não tenha percebido, a pesquisa é algo fundamental durante todo processo – sem ela não é possível conhecer mercado, seu consumidor e, mais importante, identificar oportunidades de negócios. Fazer conteúdo por fazer não é interessante para nenhuma empresa – o que importa é que esse conteúdo se converta em vendas – criar situações, gerar senso de urgência no seu consumidor, contar uma história coerente que faça com quepessoas se identifiquem com a sua marca e a queiram consumir. A pesquisa deve começar por macroambientes: natural, econômico, político legal, cultural e demográfico. Esses são aspectos que não tem, necessariamente, alguma relação com o segmento de mercado em que sua empresa está inserida, mas podem, de alguma maneira, impactar o seu negócio e, portanto, merecem atenção. Por exemplo: a população do Brasil está envelhecendo – é algo que sua empresa não tem controle e talvez não tenha um impacto direto com o que oferece, mas pode 25 ocasionar uma mudança no comportamento do consumidor ou mostrar uma oportunidade que não tinha sido considerada antes. Após análise dos macroambientes, vá para microambientes, que são aspectos que tem alguma relação com o mercado em que você atua: concorrentes, fornecedores, consumidores, dados da própria empresa etc. Nessa etapa da pesquisa, é importante que as informações sejam embasadas em dados reais – sejam dados secundários, pesquisas que foram realizadas por outras pessoas e estão disponíveis para consulta, sejam dados primários, pesquisas que você mesmo coletou e analisou os dados. Em ambos os casos existem dados a considerar – nenhum planejamento deve ser baseado em achismos: nunca assuma que você sabe de algo sem antes pesquisar– é um erro bastante comum cometido por profissionais de marketing. Lembre-se que você não é o seu consumidor, que deve ser o principal foco de todo o processo. Nesta parte de pesquisa, você deve ter levantado também os principais interesses e características do consumidor – que o ajudou a desenhar a persona. Então, você já sabe o problema que deve resolver com sua campanha de conteúdo: reforçar proposito de marca? Ensinar o seu consumidor a usar o seu produto? Criar um relacionamento mais próximo com a marca? O que importa é você ter isso claro antes de avançar para a parte da criação da linha editorial, que norteará o desenvolvimento de todo o conteúdo a ser divulgado. A pesquisa o ajudará a descobrir fatos que você não sabia ou não tinha certeza sobre o consumidor e usá-los como insights para futuras ações de marketing. Ao pesquisar algo é importante entender o que o mercado procura, traçando ações com as informações encontradas. Nesse sentido, saber como as pessoas buscam algo na internet é algo que traz muitas respostas e insights, uma vez que mostra como elas enxergam o mundo, sem filtros. Você duvida? Você mostraria para alguém as buscas que fez no Google no último ano? Aposto que a 26 resposta foi um enfático “NÃO!”. Isso ocorre porque essas buscam demonstram nossas verdadeiras intenções e necessidades. Ao analisar os resultados de buscas feitas no Google é possível estimar com precisão a demanda, sazonalidade, praça e dificuldades sobre um produto/serviço, uma vez que o Google sabe a localização dos seus usuários. Atualmente, as ferramentas mais usadas do Google são: Google Trends: ferramenta gratuita para pesquisa de tendências entre os usuários, que permite identificar as pesquisas que os usuários têm feito de acordo com determinados termos. Com ela, também é possível ver quais são as principais consultas que os usuários têm feito para responder todas as suas dúvidas – e encontrar essas consultas crescentes de acordo com cada assunto escolhido, filtrado por país e estado. Além disso, é possível acompanhar a evolução de pesquisa dos termos e o interesse do usuário por assuntos, desde 2004 até o momento atual. Isso permite que a empresa entenda como acontece a oscilação de interesse nesse tipo de assunto com base em períodos de tempo de todos os tamanhos – por exemplo, se houve algum pico de busca após uma campanha entrar no ar na televisão. Google Adwords Planejador de Palavras - Chave: ferramenta gratuita para usuários do Google AdWords. Com ela, é possível consultar ideias de palavras-chave e grupo de anúncios, utilizando como filtros: localização, idioma, sites parceiros do google, palavras-chave negativas, CPC médio, concorrência (alto, médio, baixo), média de pesquisa mensais pelo termo etc. Com essa ferramenta, conseguimos ter outras sugestões de palavras-chaves dentro do universo semântico do negócio que, muitas vezes, a empresa nem pensou em considerar, mas há dados de buscas feitas. Google Correlate: também gratuita, a ferramenta usa correlação entre os dados para identificar padrões e tendências de buscas, muitas vezes, mostrando relações entre palavras aparentemente independentes. 27 Sugestões do Google: ao digitarmos qualquer termo no campo de busca do Google, aparecem algumas sugestões para completar o campo automaticamente. Essas sugestões são os dados de buscas feitos em maior quantidade relacionados ao termo digitado – que também pode mostrar algumas opções diferentes das consideradas pela empresa. Além das ferramentas do Google, temos alguns outros sites que podem ajudar na pesquisa, como: Facebook Insights: mostra os dados da página da empresa no Facebook, como demografia, localização e idioma falado pela audiência da página, horário em que as pessoas que curtem a página estão mais on-line, dados dos posts, outras páginas mais curtidas, entre outras informações. Nielsen: a empresa é conhecida por pesquisa de tendência e comportamento e disponibiliza em seu site diversos estudos que podem ajudar no momento da pesquisa. 3. Linha editorial Após a pesquisa, é o momento de desenvolver a linha editorial. Como você já deve ter levantado todas as informações sobre mercado, concorrentes e, principalmente, seu consumidor, essa parte deverá ser mais fácil de construir. Ao definir os objetivos da campanha de conteúdo, você já sabe o porquê é importante para sua marca divulgar a mensagem. Além disso, você também já sabe para quem será a mensagem, uma vez que já desenvolveu a persona com base no público-alvo bem definido. Agora, você precisará decidir qual o conceito, a ideia chave que norteará todo o seu conteúdo. Essa ideia precisa ser algo que solucione a principal dor que você identificou da sua persona. Por exemplo: você está 28 trabalhando com uma marca de roupas fast fashion e tem como público- alvo homens, entre 40 e 50 anos, que gostam de se cuidar e se vestir com um estilo mais moderno, mas vivem um choque de gerações, já que cresceram ouvindo que homens não podem usar muitas cores ou roupas mais justas no corpo. Talvez, a ideia chave para sua linha editorial seja fazer com que esse homem se sinta representado e tenha uma referência para seguir sem ser julgado. Com isso, todo conteúdo que criar, independentemente da plataforma escolhida, deve contribuir de algum jeito para construção dessa ideia chave ou big idea, termo bastante usado no mercado. Lembre-se que as pessoas consomem o conteúdo que as representa, que contam uma história crível com a qual elas se identifiquem e que seja relevante. Achar essa espinha dorsal da sua linha editorial é fundamental, assim como definir o tom de voz que usará para contar a sua história. Se o seu público-alvo é mais jovem, não tenha medo de usar uma linguagem mais descontraída e de mais fácil entendimento para que se identifiquem e entendam a mensagem que quer passar. Mas se estiver tentando comunicar para pessoas mais velhas ou mais conservadoras, tente evitar o uso de linguagem muito coloquial e assuntos que possam ser polêmicos. O conteúdo precisa ser relevante para a sua persona, quem quer que ela seja. Com esses pontos definidos, você precisará definir os melhores formatos que usará para distribuir o conteúdo criado – vídeo, imagem, textos, posts, artigos – e onde serão veiculados: redes sociais, blogs, portais, revistas etc. Essas escolhas dependem da verba que você tem disponível (grandes veículos de mídia são mais caros, uma vez que atingem muitas pessoas com apenas uma veiculação) e de onde o seu público-alvo está – não faz sentido fazer posts no Instagram se você está falando com um público-alvo que está, majoritariamente,no LinkedIn ou no TikTok, por exemplo. Por isso, a etapa da pesquisa é tão importante – sem os dados não é possível definir os próximos passos da campanha. 29 Assim, podemos partir para a etapa de criação do conteúdo: não precisa e nem deve ser feito todo de uma vez, é um processo constante que requer consistência, tempo e investimento – normalmente, é criado para 7 a 15 dias. Ela precisa ser original, rica e ter alta qualidade. Uma opção bastante interessante é usar o consumidor como cocriador desse conteúdo, lembrando o crescimento da cultura participativa. Imagine, por exemplo, que você fará uma campanha de posts no Instagram: não precisa falar sempre a mesma coisa em todos os posts – o interessante é você saber combinar posts que, no todo, vão passar a mensagem que definiu previamente. Portanto, é importante definir: • Os tipos de conteúdo que a campanha abordará: histórias (para gerar maior conexão), educacional (para ensinar algo sobre o produto/serviço), mostrar a dor que muitas pessoas nem conseguem identificar (e colocar o seu produto/serviço como a solução), autoridade (mostrar como tem experiência para falar sobre o assunto) etc. • Identificar em qual parte do funil está o seu público-alvo: pode ser que você tenha pessoas em diferentes momentos e é importante fazer tipos de conteúdo direcionando para cada parte. Veja abaixo o funil de conteúdo. 30 Figura 2 - Funil de conteúdo Fonte: elaborada pela autora. 1. Atrair: conteúdo voltado para pessoas que não conhecem o seu produto/serviço – é o momento de descobrir que ele existe e aprender como funciona. 2. Converter: fazer com que a pessoa tenha interesse no seu produto/serviço – no mercado é usado o termo gerar lead – pessoas interessadas no que você está oferecendo e que considerem que tenham a dor, o problema que você está abordando. 3. Engajar: momento para que a pessoa se identifique com o que você está falando e reconheça no seu produto/serviço a solução para o problema apresentado. 4. Vender: quando sua audiência se torna consumidor – decide comprar o que você está oferecendo. Lembre-se que você está produzindo conteúdo com um objetivo e você precisa sempre dar informação suficiente nos seus canais de comunicação, para que esse público-alvo tome a ação desejada (cadastro, contato por mensagem, compra etc.). 31 5. Fidelizar: momento pós-compra – nessa etapa, você precisará ter encantado o consumidor, para que ele te indique para outras pessoas e te defenda de críticas. O consumidor fidelizado tende a ser mais fiel às marcas. Após todo esse processo, temos o momento de mensuração, um dos mais importantes de uma campanha. Nele medimos o sucesso da campanha – se as metas previamente definidas estão próximas de ser atingidas e, caso contrário, alterar o que está sendo feito – o que é chamado de otimização. Para uma campanha de marketing de conteúdo acontecendo num ambiente digital, essa mensuração é feita quase diariamente, uma vez que os dados são de fácil acesso. Algumas métricas que são muito usadas nessa etapa são: cliques, likes, comentários, compartilhamentos, itens salvos – dados que temos de engajamento em redes sociais, por exemplo. Mas o engajamento por si só não demonstra o sucesso de uma campanha: se o seu objetivo é vender algo e, mesmo com um alto engajamento no seu conteúdo, não houve aumento nas vendas, não houve sucesso na campanha. Por isso, o conteúdo precisa ser relevante para o consumidor, mas seguindo o objetivo que você propôs para a campanha, caso contrário, você estará apenas criando um conteúdo interessante que não gera negócio – o que não será muito interessante para a empresa. Referências Bibliográficas ADOLPHO, C. Os 8 P’s do Marketing Digital: o guia estratégico de marketing digital. São Paulo: Editora Novatec, 2011. CARROLL, L. Alice no país das maravilhas. Porto Alegre: L&PM, 2003. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0. 16. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. REZ, R. Marketing de Conteúdo: a moeda do século XXI. São Paulo: DVS Editora, 2016. 32 Contando histórias que vendem Autoria: Kriscia Proença Leitura crítica: Simone Cecília Pelegrini da Silva Objetivos • Conhecer o que é storytelling. • Identificar as principais características do storytelling em campanhas. • Criar histórias para vender mais. 33 1. O que é storytelling? Você deve ter entre seus amigos, caso não seja você mesmo, aquela pessoa que sempre tem histórias incríveis para contar e que são o centro de qualquer confraternização, já que todos sempre querem ouvir e saber o final das aventuras. Ou talvez, aquele professor que consegue transformar a disciplina mais chata em algo extremamente interessante, usando apenas narrativas diferentes. Você pensou em alguém? Essa pessoa é boa em storytelling! A palavra em inglês é a junção de outras duas: story (história) e telling (contar). Ou seja, storytelling é o ato de contar histórias, criar uma narrativa. Mas o que isso tem a ver com marketing de conteúdo? Tudo. A maior parte das campanhas bem-sucedidas de marketing de conteúdo tem como principal ferramenta o storytelling. Parece bastante simples contar histórias, mas o uso de alguns elementos-chave pode fazer muita diferença entre uma história chata e outra estimulante. Você já imaginou como seria o renomado filme do diretor James Cameron, Titanic, sem o casal Jack e Rose? Provavelmente a história de um desastre marítimo enorme que aconteceu há mais de um século, que já foi contada diversas vezes e de várias maneiras diferentes – atualmente, existem dezenove filmes registrados sobre o acontecimento, quantos você conhece? Vale lembrar que contar histórias não é algo novo, isso acompanha a humanidade desde a Pré-história. Em seu livro, Harari (2017) conta um pouco sobre a evolução do Homo sapiens, trazendo a história de outras espécies humanas que a ciência confirma ter existido e como os sapiens se desenvolveram mais do que as demais, chegando onde estamos atualmente. Ele cita a Revolução Cognitiva, datada entre 70 mil a 30 mil anos atrás, em que houve o surgimento de novas maneiras de pensar e se comunicar entre indivíduos da espécie, criando uma linguagem mais 34 complexa das que existiam até então, permitindo aos nossos ancestrais transmitirem maior quantidade de informações. Nesse sentido, ele afirma que “a nossa linguagem evoluiu como uma forma de fofoca. De acordo com essa teoria, o Homo sapiens é antes de mais nada um animal social” (HARARI, 2017, p. 31). Desse modo, a linguagem não foi usada somente para transmissão de informações reais, como acontece em outras espécies para avisar perigo, mas sobre aquilo que não existe perigo também. Dessa forma nasceram as lendas, mitos, deuses e religiões que temos até os dias de hoje – histórias que foram contadas de geração em geração e que fizeram com que os sapiens imaginassem coletivamente, cooperando entre si ao terem crenças similares – acreditando nos mesmos mitos. Veja como a crescente capacidade de transmitir informações beneficiou os sapiens a se desenvolverem como grupo: Quadro 1 – Habilidades versus benefícios Nova habilidade Benefícios Capacidade de transmitir maiores quantidades de informação sobre o mundo à volta dos Homo sapiens. Planejamento e realização de ações complexas, como evitar leões e caçar bisões. Capacidade de transmitir grandes quantidades de informação sobre as relações sociais dos sapiens. Grupos maiores e mais coesos, chegando a 150 indivíduos. Capacidade de transmitir grandes quantidades de informação sobre coisas que não existem de fato, tais como espíritos tribais, nações companhias de responsabilidade limitada e direitos humanos. a. Cooperação entre números muito grandes de estranhos. b. Rápida inovação do comportamento social. Fonte: Harari (2017, p. 45). 35 Com o tempo e o avanço da tecnologia, aumentamos a quantidade de informação transmitidas. Uma pesquisa de 2018 feita pelaDomo, empresa de pesquisa e análise de dados, estimou que até 2020 serão criados por segundo 1.7MB de dados para cada pessoa no planeta. Se quiser ter uma ideia de como está o compartilhamento de informações atualmente, acesse o site da Betfy UK – The Internet in Real Time, e você verá uma estimativa, segmentado por veículos, da quantidade de informações transmitidas por um determinado período de tempo. Isso prova que o homem é realmente um ser social e apreciamos ter informações compartilhadas, seja por meios off-line ou on-line. O desenvolvimento e disseminação da tecnologia da informação aumentaram exponencialmente esse comportamento que o ser humano tem desde a pré-história, ajudando a nos desenvolvermos como civilização. Esse fato traz um desafio enorme para o profissional de marketing: se todos têm uma história para contar, porque a sua, como empresa ou marca, será mais interessante ou relevante? Sabendo usar gatilhos corretos do storytelling é possível se destacar em meio a tanta informação. 2. Para contar uma boa história A maior parte das pessoas gostam de conhecer as histórias ainda não contadas, que parecem ser bastidores ou que mostram um caminho percorrido até o sucesso; ou uma narrativa simples com que se identifiquem, que converse com a realidade de quem está ouvindo. O importante é que na maior parte das histórias consideradas interessantes existem três pontos em comum: 1. Quem – o personagem principal – pode ser uma pessoa, uma marca, um grupo. O importante é que fique claro de quem é a história contada, o que esse personagem representa, quais os 36 desafios ele enfrenta ou enfrentou até o momento e, o mais importante, o que ele deseja no final. 2. Onde – localizar onde a história está acontecendo, seja fisicamente e/ou temporalmente. Mas é importante que a audiência consiga identificar o local para sentir maior proximidade. 3. Sentimento – é o fator que gera maior vínculo entre o personagem e a audiência – cria identificação. O que você quer despertar contando a história – talvez um receio de que o mesmo possa acontecer ou despertar o desejo para que aconteça o mesmo. Por isso, é tão importante definir e conhecer a persona, ou as personas, para quem contará a história – você precisará chamar a atenção em qualquer momento em que essa pessoa tiver contato com a sua comunicação – seja quando estiver focado para ler/ouvir/ver o que você produziu ou quando estiver deitado na cama com sono, rolando o feed de uma rede social, assistindo algo na televisão etc. Sem essa pessoa se identificar e ter a curiosidade de saber o final da narrativa, dificilmente você conseguirá passar a mensagem que planejou inicialmente. Nesse sentido, é interessante ter a possibilidade de considerar mais de uma persona dentro de uma mesma estratégia de conteúdo, apesar de não ser recomendado ter mais de três – caso contrário será bastante difícil definir prioridades de informação e tom de voz, dificultando a identificação com a marca, como colocado acima. Considere que todo mundo tem um vilão, um conflito e o desejo de um final feliz – o que precisa ser feito é descobrir esses elementos da persona que está sendo trabalhada e criar uma narrativa com eles, fazendo com que a audiência sinta que você criou essa história especialmente para ela, como uma boa música consegue fazer. Lembre-se de criar uma conversa com a sua audiência, principalmente se estiver usando uma rede social para divulgação, uma vez que as respostas podem trazer mais insights para novos conteúdos, além de 37 fazer com que essas pessoas se sintam parte do que a marca está criando e que estão sendo ouvidas. E, como a narrativa criada faz parte de uma estratégia de marketing de conteúdo, necessariamente tem um objetivo a ser atingido e uma mensagem a ser passada – o que nesse caso pode ser chamado de “moral da história”. O que mais traz poder a uma história é a transformação que ela causa ao final – o que você quer que a sua audiência sinta ao terminar ela, deve ser a mensagem que você planeja em passar. As pessoas lembram melhor de algo que provoque alguma emoção, seja desejo, conflito ou medo – não à toa que filmes de ação são a preferência dos brasileiros, dos quais a maioria, numa breve análise, segue alguns passos presente na jornada do herói, metodologia bastante usada por roteiristas de Hollywood, e que faz com que a maior parte das pessoas viva uma aventura improvável junto ao protagonista, que, quase sempre, tem o seu final feliz. 3. A jornada do herói A jornada do herói, como ficou conhecido o conceito do monomito de Joseph Campbell (1989), identifica, inicialmente, três momentos principais de uma jornada cíclica presente em diversas histórias mitológicas conhecidas, como Prometeu, Moisés e Jesus. São eles: 1. Partida: momento em que o protagonista, ou o herói, deixa sua vida comum e vai viver a aventura a qual foi chamado. 2. Iniciação: quando o herói entra no mundo desconhecido e vive as aventuras e desafios que jamais imaginou. 3. Retorno: o herói volta ao seu mundo inicial, mas com os conhecimentos que as novas experiências lhe proporcionaram. 38 Christopher Vogler, roteirista da Disney na década de 1980, momento em que a empresa passou por uma crise com longas metragens de animação por baixa audiência, e mais tarde consultor de histórias em Hollywood, criou uma lista a ser seguida pelos personagens das animações do conhecido estúdio americano, embasado no conceito do monomito de Campbell, resultando em diversos sucessos de bilheteria nas animações em que a lista foi usada – que até recebeu o nome Paradigma Disney – quando usado atingia o sucesso desejado. Essa nova estrutura de roteiro criou narrativas que podem ser compreendidas por diversas culturas ao redor do mundo, gerando maior probabilidade das pessoas se identificarem e sentirem empatia pelos personagens e suas aventuras. Essa lista foi publicada em formato de livro posteriormente, sendo seguida por diversos roteirista desde então e, mais recentemente, em estratégias de marketing de conteúdo. A jornada é dividida em doze seções, organizadas nos mesmos três momentos definidos por Campbell: 39 Figura 1 – Jornada do herói Fonte: elaborada pela autora. 1. Ato I–Partida 1.1. O mundo comum: contar sobre o mundo em que o herói vive, seu cotidiano, sonhos, desejos, relacionamentos etc. É o momento de situar os espectadores na vida do protagonista da história, a fim de que criem identificação e empatia pelo personagem, no seu caso, pode ser a marca ou a empresa. Use a história do Rei Leão para identificar os passos, nesse caso, Simba, o protagonista, é apresentado como o próximo rei dos animais, crescendo até o momento em que ele foge, chegando a fase adulta, negando sua posição de príncipe ao lado dos amigos Timão e Pumba e sem conhecimento do que acontece fora do seu ambiente habitual. 40 1.2. Chamado à aventura: momento em que é apresentado um conflito, normalmente marcado por algum acontecimento marcante na vida do herói em que ele é desafiado a sair da sua vida rotineira. No caso de Simba, que até então vivia no lema hakunamatata com seus dois amigos e negando sua posição de rei, encontra Nala, sua melhor amiga de infância, que conta as coisas horríveis que está acontecendo em seu antigo reino sob o reinado do tio, e o chama para voltar e assumir seu lugar de direito para salvar a todos. 1.3. Recusa ao chamado: o herói não quer ou demora a aceitar o chamado que recebeu, normalmente por medo. Em nosso exemplo, Simba foge de Nala nesse momento da história, não se achando digno de ser rei. 1.4. Encontro com o mentor: o protagonista encontra um personagem que lhe dará informações e o guiará ou treinará para enfrentar as aventuras que estão por vir, enchendo o herói de confiança para aceitar o chamado proposto anteriormente. No caso do Rei Leão, Simba encontra com Rafiki, o macaco que foi conselheiro de seu pai e o apresentou como herdeirono início da história. 2. Ato II–Iniciação 2.1. Travessia do primeiro limiar: o herói aceita o chamado e deixa o ambiente em que estava, sua rotina, para viver os desafios propostos após o treinamento/mentoria que recebeu. Simba, após as informações que recebe de Rafiki, volta ao seu antigo reino para reivindicar a posição de rei e salvar a todos. 2.2. Testes, aliados e inimigos: o protagonista vive desafios menores e encontra personagens que serão aliados nessa jornada, além de inimigos em seu caminho, enfrentando situações que dificultam sua conquista. No exemplo que está sendo usado, Simba segue com seus aliados (Nala, Zazu, Timão e Pumba) até o local em que estão os 41 inimigos (as hienas e Scar, o tio que está como rei) e vivem os primeiros confrontos. 2.3. Aproximação da caverna oculta: momento em que o herói, após enfrentar os primeiros desafios, repensa se é capaz de completar a missão que se propôs e precisa aprender com os últimos acontecimentos para enfrentar o maior desafio que ainda está por vir. Simba arma um plano com seus aliados para passar pelas hienas e chegar ao seu tio, Scar. 2.4. Provação: quando o herói vive a maior crise de toda a história, normalmente marcada por uma situação de vida ou morte, em que o personagem pode chegar muito próximo de não continuar. Na história do Rei Leão, Simba quase morre ao tentar derrotar seu tio, que acaba perdendo a luta e morrendo na sequência. 2.5. Recompensa: após enfrentar seu maior desafio e conseguir resolve- lo, o herói consegue conquistar o que mais desejava ou precisava. Simba, além de derrotar o tio tirano, se livra da culpa de ter matado o seu pai, que carregava desde a infância. 3. Ato III – Retorno 3.1. O caminho de volta: depois de passar pela maior provação da história, o herói deve retornar a sua vida comum, que normalmente traz um conflito do personagem entre seguir um novo caminho com os conhecimentos adquiridos e novas experiências vividas ou voltar a antiga vida. No caso do Rei Leão, Simba livra o reino dos malefícios do tio e reencontra sua antiga alcateia. 3.2. Ressurreição: momento de decisão para o herói, em que ele precisa renascer para a nova vida que escolheu. É comum aparecer um último desafio, como o vilão que não está realmente derrotado. Em O Rei Leão, 42 o conflito acontece com Simba, que decide assumir as responsabilidades como rei e deixar sua antiga vida com Timão e Pumba para trás. 3.3. Retorno com o elixir: o herói retorna a uma rotina, que pode ser numa nova realidade que escolheu ou voltar para casa, mas sendo uma pessoa diferente da que iniciou a jornada após viver as aventuras da história. Simba assume como rei dos animais e aparece com um filho, de sua união com Nala, mostrando que está vivendo uma nova vida, diferente da que tinha anteriormente. Se considerar a história do Senhor dos Anéis como exemplo, Frodo volta ao condado, de onde saiu no início da história, mas com novos conhecimentos. Um ponto de atenção é perceber que nem todas as histórias seguem à risca todas as etapas supracitadas, mas normalmente passam pela maior parte delas, nem que seja rapidamente. Ou podem apresentar uma parte da jornada, para instigar o espectador a saber mais ou a imaginar o que pode ter acontecido com o herói. Caso não seja um filme ou um livro em que é possível contar todos os detalhes de uma história, é importante manter a estrutura inicial dos três momentos, em que no começo seja apresentada um personagem com o qual o espectador consiga se identificar e um conflito é apresentado – para isso, é preciso conhecer os desejos e possíveis medos da sua persona. Em seguida, mostrar como o personagem enfrentará o problema apresentado e o final, em que apresentar uma solução causa conforto no espectador. Diversas narrativas não concluem o conflito proposto, resultando num número menor de pessoas que se identificam com a história apresentada – por mais clichê que pareça, a maior parte das pessoas gostam de um final feliz. Numa estratégia de marketing de conteúdo é importante criar conexão com o maior número de pessoas possível dentro do público-alvo escolhido, uma vez que criar um vínculo mais próximo com a marca é bastante interessante para gerar vendas. 43 4. Storytelling na estratégia de marketing Contar uma boa história pode ser bastante benéfico para atrair o seu público-alvo, mas lembre-se que deve ter claro qual o objetivo a ser alcançado. Caso contrário, será uma perda de tempo e dinheiro para a empresa. Usar personagens sem sentido ou conflitos que não tenham absolutamente nenhuma relação com a sua persona ou com o seu negócio também não uma escolha muito estratégica – será apenas um conteúdo bem produzido, sem finalidade alguma de negócio. Mesmo parecendo óbvio, os pontos acima são erros comuns cometidos por profissionais de marketing, que não planejam antes de produzir uma campanha. Outro erro muito recorrente no mercado são empresas que contam histórias de suas marcas e/ou produtos, alegando ser acontecimentos reais e, na realidade, são apenas ficção. O espectador espera, cada vez mais, transparência na comunicação das empresas e, com a internet, não é raro que essas mentiras sejam confrontadas por fatos que os consumidores podem encontrar on-line. É um cuidado simples, mas que precisa ser tomado – você pode criar conflitos para deixar a história mais interessante, caso seja baseado em fatos reais, mas não mentir sobre algo que nunca aconteceu. Um recurso bastante usado atualmente é depoimento real de pessoas que tiveram uma boa experiência com a marca – lembre-se que as pessoas tendem a acreditar mais no que outras pessoas falam sobre a sua marca, do que ouvir você, como empresário, falando sobre ela. Caso sua empresa seja de um nicho em que pessoas reais não podem aparecer dando depoimento, como é o caso de hospitais, em que médicos e pacientes reais não podem ser usados em comunicação por determinação do Ministério Público, é possível usar as histórias verídicas e criar o conteúdo com dramatização de atores profissionais, sempre deixando claro do que se trata. 44 Se o conteúdo for disponibilizado apenas áudio, no caso de podcasts, use a repetição de palavras para reforçar uma ideia que a marca quer priorizar é um artifício interessante, mas sem que isso pareça artificial – não pode ser algo perceptível ao espectador. Assim como em vídeos é possível reforçar uma ideia com artifícios de iluminação (normalmente algo mais iluminado é percebido como melhor que algo que está mais apagado, com menos luz ou cores vivas, por exemplo). Também usar a repetição de símbolos ou a próprio logo da marca pode gerar uma maior lembrança na audiência. Portanto, criando personagens com os quais o seu público-alvo consiga se identificar, propondo problemas que sejam reais a realidade deles e colocando a sua marca e/ou produto como solução, ou como parte da solução, é uma estratégia cada vez mais usada no mercado por se apresentar eficaz. Não se esqueça de que estar alinhado com os objetivos definidos previamente é fundamental para que o storytelling seja usado estrategicamente dentro do seu planejamento. Referências Bibliográficas CAMPBELL, J. O Herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1989. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 3.0. 16. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. REZ, R. Marketing de Conteúdo: a moeda do século XXI. São Paulo: DVS Editora, 2016. VOGLER, C. A Jornada do Escritor: estrutura mítica para escritores. São Paulo: Aleph, 2015. 45 Criando narrativas transmídia Autoria: Kriscia Proença Leitura crítica: Simone Cecília Pelegrini da Silva Objetivos • Conhecer as principais características da cultura da convergência e inteligência coletiva. • Entender as etapas da jornada do consumidor. • Compreender o que é e como criar conteúdo transmídia. 46 1.Convergência e inteligênciacoletiva Você já assistiu a um programa ou jogo na televisão e, nos intervalos ou durante a programação, ficou procurando comentários ou mais informações nas redes ou sites on-line? Se a resposta é sim, você está inserido na cultura da convergência. Para entendermos isso melhor, de acordo com Jenkins (2009, p. 29), a convergência é o “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam”. Ou seja, quando uma pessoa consome conteúdos de uma mesma empresa em diferentes meios de comunicação, interagindo e produzindo o seu próprio conteúdo sobre ela, essa pessoa está inserida na cultura da convergência, a qual depende fortemente da participação de espectadores, já que eventualmente se tornam produtores com suas intervenções sociais cada vez mais frequentes. Essa cultura teve seu período inicial na década de 1980, com o desenvolvimento e disseminação de computadores pessoais, que resultou em um crescimento exponencial do número de pessoas usando a rede, resultando em “uma corrente cultural espontânea e imprevisível, que impôs um novo curso ao desenvolvimento tecno-econômico” (LÉVY, 1999, p. 32). Com isso, ocorreram transformações sociais e culturais bastante significativas na sociedade, até chegarmos no momento presente. Um ponto bastante importante é entendermos que a internet é apenas uma ferramenta, e não a causa, para que a interação social aconteça com mais rapidez e abrangência. Esse eixo de troca vivo e espontâneo é essencial para o desenvolvimento humano, que acontece em todas as esferas da nossa sociedade: política, social, econômica etc. Com a 47 popularização da internet e dispositivos móveis, houve a geração de uma nova dinâmica de disseminação da informação, com pessoas do mundo todo conectadas em rede e compartilhando cada vez mais seus conhecimentos. Dessa maneira, há a criação de uma inteligência coletiva, que parte do pressuposto que todos têm algum conhecimento para compartilhar e ninguém detém todo conhecimento sozinho, ou seja, alguém sempre terá algo a acrescentar a todo conhecimento que já existe: O intelectual coletivo é uma espécie de sociedade anônima para a qual cada acionista traz como capital seus conhecimentos, suas navegações, sua capacidade de aprender e de ensinar. O coletivo inteligente não submete nem limita as inteligências individuais; pelo contrário, exalta-as, fá-las frutificar e abre-lhes novas potencias. (LÉVY, 2007, p. 94) Esse mesmo conceito já foi abordado por outros autores, como James Surowiecki, usando o termo sabedoria das massas, e Norman Lee Johnson, quando falam de inteligência simbiótica. Esse raciocínio foi um dos principais motivos da criação da internet (além do uso militar), com cientistas e professores em diversos pontos do planeta que desejavam saber o que outros estudiosos estavam descobrindo ao redor do mundo, e se determinado assunto já teria sido pesquisado, além do desejo de compartilharem o que estavam pesquisando – tudo isso num menor período de tempo possível. Hoje, no entanto, conseguimos informações em tempo real sobre quase qualquer assunto, em qualquer lugar do mundo–ou até no espaço. A ideia dessa inteligência coletiva cria a possibilidade de que todas as opiniões e ideias sejam igualmente compartilhadas e consideradas, gerando uma noção de comunidade e o crescimento do desenvolvimento de conteúdos colaborativos. Esse aspecto é cada vez mais presente na sociedade atual, na qual os consumidores acreditam mais no que estranhos falam do que a própria empresa comunica – o poder da influência nas redes sociais ganhou uma proporção jamais 48 vista, como consequência da conectividade social, fazendo com que as marcas tenham de conversar mais ativamente com os seus consumidores, mantendo essa relação de colaboração e diálogo. E isso só tende a aumentar com a inclusão digital e social de cada vez mais pessoas. Nesse sentido, Parron (2011) defende que, o fato dos preços dos aparelhos móveis com acesso à internet estarem cada vez mais acessíveis e a taxa de transmissão de dados cada vez mais alta, faz com que a maneira das pessoas se relacionarem entre si e consumirem informação mude efetivamente. Assim, os novos hábitos de consumo da informação impactam diretamente em como as marcas devem pensar a disponibilização de conteúdo, uma vez que comunicar de maneira unilateral, sem considerar a interatividade da audiência, não impacta uma grande parte das pessoas. Logo, planejar a comunicação é um dos maiores desafios das marcas atualmente, uma vez que a maioria dos espectadores tem acesso a quase qualquer informação em tempo real, em seus dispositivos móveis – então, como as empresas conseguirão impactar essas pessoas? Se colocando presente onde o público-alvo está – não basta entregar o conteúdo certo para o público certo –, se estiver no lugar errado não irá funcionar. 2. Conteúdo transmídia e a Jornada do Consumidor As primeiras tentativas de usar diferentes meios se convergindo aconteceu nos EUA, na década de 1990, tentando direcionar pessoas que estavam assistindo a um programa de televisão para uma ação de compra por telefone, não tendo muito sucesso – os telespectadores não saíam da frente da televisão como esperado. Mais tarde, adaptaram o formato de reality shows para que as pessoas pudessem participar 49 decidindo os próximos passos do programa – como os que ainda temos atualmente –, essas foram as primeiras aplicações bem-sucedidas de convergência midiática. No Brasil, por sua vez, esse formato participativo funcionava na década de 1990 com o programa Você Decide, em que os telespectadores eram incentivados a ligar para a emissora para escolher entre dois finais propostos para um episódio do programa – normalmente, recheado de suspense. Mais tarde, já na década de 2000, tivemos no país a importação de diversos reality shows que já faziam bastante sucesso em outros lugares do mundo e conseguiram conquistar uma grande parte da audiência nacional, fazendo com que fosse criado diversos universos transmidiáticos. O termo transmídia foi usado pela primeira vez pela pesquisadora Marsha Kinder, em 1991, e posteriormente popularizado por Henry Jenkins como transmedia storytelling ou narrativa transmídia – uma consequência da cultura da convergência, sendo definida como a “circulação de conteúdos–por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais– depende fortemente da participação ativa dos consumidores” (JENKINS, 2009, p. 29). Nesse sentido, é importante entender que uma narrativa transmídia é a disponibilização de diferentes conteúdos que se complementam, ou partes de uma mesma história que se completam, em diferentes plataformas de mídias, incentivando a audiência a ir atrás da informação de diferentes jeitos e lugares – criando um universo multimeios. Se o espectador consumir o conteúdo apenas em um canal ficará sem o todo – terá apenas uma parte da informação disponibilizada. Assim, Jenkins (2009) usa diversos exemplos de transmídia em seu livro, entre eles o produto Matrix, que após o lançamento do primeiro filme da trilogia, teve a história adaptada para jogos eletrônicos e HQs. Um 50 caso pioneiro de bastante sucesso no Brasil é a Turma da Mônica, que além de ter muito sucesso com as histórias nos gibis (HQs), elas foram contadas também em livros impressos e digitais, seriado na televisão, filmes no cinema, peças de teatro, aplicativos de jogos para celulares etc. Ou seja, está presente em diferentes mídias, fazendo com que o espectador acompanhe as narrativas e peça cada vez por mais histórias, dando sugestões, criando e disseminando seu próprio conteúdo sobre o assunto – característica muito presente na cultura participativa em