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Fisiologia – Lipídeos e Arterogênese Luiz Pedro Duarte Farias Universidade Salvador – Laureate International Universities Sistema Circulatório Turma IV DIGESTÃO LIPÍDICA A digestão dos lipídeos é dividida em pré e pós- duodenal; começa ao nível do estômago (hidrólise estomacal), promovendo uma absorção importante dos lipídeos (15% da digestão lipídica estomacal vai direto para o sistema porta-hepática). No estômago, há lipase gástrica (pH 3 a 6) e na cavidade oral: a lipase lingual (pH 6 a 6,5). Os produtos da lipase gástrica serão mediadores de ação no próprio intestino, então quando há uma hidrólise de lipídeos no estômago, uma parte dos produtos digeridos vai para circulação porta através da absorção da mucosa gástrica e outra parte será fundamental para a continuidade do processo de digestão. Se não houvesse essa hidrólise lipídica, não haveria liberação, por exemplo, de colecistoquinina (CCK) ao nível do duodeno. Dessa forma, sem a CCK, não haveria produção e liberação do suco pancreático (as enzimas pancreáticas de digestão), assim como não teria a contração da vesícula biliar e do esfíncter de Oddi. Além da estimulação da produção de CCK, hidrólise lipídica promove a síntese de secretina e um peptídeo chamado peptídeo inibitório gástrico (GIP). Esses produtos, em conjunto, retardam o esvaziamento gástrico (quanto mais tempo os lipídeos ficarem no estômago, melhor o processo de digestão). Então ocorre uma restrição da passagem do alimento pela abertura do esfíncter pilórico, para que aquele alimento passe um maior tempo no estômago e a digestão lipídica se processa de uma forma mais adequada. (Figura 1). Figura 1 No suco pancreático, existe uma enzima chamada lipase pancreática. Essa enzima quebra o triacilglicerol (TAG) e forma monacilglicerol, ácido graxo livre de cadeia longa, outros ácidos graxos... Então, dessa forma, lipídeos grandes serão clivados em lipídeos menores para passarem pelos enterócitos. Dentro do enterócito, esses lipídeos se acumulam de novo para formar o quilomícron; portanto, essa clivagem ocorre apenas para que a passagem de lipídeos ocorra com uma maior facilidade. Além disso, a lipase pancreática ajudará na formação das micelas e na emulsificação dos lipídeos. (Figura 2). Figura 2 Quando analisamos a composição da bile, é possível observar que existe uma grande quantidade de colesterol, pois, se não fosse assim, não seria possível emulsificar os lipídeos. Quando há a liberação de secretina, essa ajuda a contrair a vesícula biliar e equalizar a composição da bile. Conforme a secretina atua, aumenta a liberação de bicarbonato para o interior do ducto biliar. O bicarbonato é liberado pois a bile deve estar um pouco mais alcalino que o suco gástrico (ácido) para favorecer a ação de algumas enzimas. (Figura 3). Figura 3 Os componentes da vesícula biliar, podem ser secretados ou reabsorvidos para os tecidos sanguíneos. A CCK promove tanto a reabsorção quanto a secreção para o duodeno dessa substância. Há também um fator colinérgico, por estimulação vagal, que, quando a acetilcolina encontra receptores na vesícula, aumenta a contração e a liberação de bile. Os ácidos biliares, ao nível do íleo, são reabsorvidos para o fígado. Então ocorre uma reciclagem de bile. O básico para sintetizar essa substância é o colesterol. Qualquer alteração homeostática pode causar algum distúrbio na produção, como litíase biliar por exemplo (excesso de colesterol e diminuição do conteúdo de agua da bile, facilitando a formação de pequenos cristais que podem estar tanto ao nível da vesícula quanto ao nível do fígado). Existe, também, outras proteínas como a fosfolipase que promove a quebra de fosfolipídios em lisofosfolipídeos. Essa proteína atua em conjunto com a tripsina para ativar a atividade lipolítica. (Figuras 4 e 5). Figura 4 Figura 5 Então, resumindo: os lipídeos eram grandes e se tornaram pequenos, entraram no enterócito e formaram os quilomícrons. Estes, após, vão para o fígado pelo o sistema linfático. Ao cair no sague, esses quilomícrons sofrem hidrólise e os lipídeos se espalham. Os lipídeos, ao chegarem nos enterócitos, possuem muitas formas de atravessar a membrana celular. Uma dessas é a que, na membrana lateral da célula, há um gel mucoso que cobre toda a superfície e percorre a barreira e muda o aspecto da membrana e atrai, por diferença de carga, alguns lipídeos par a célula. Dessa forma, pela própria colisão, alguns lipídeos conseguem entrar. (Figura 6). Figura 6 De todas essas formas de passagem, existe a NPC1-L1. (Figura 7). Figura 7 Caso ocorra uma inibição dessa proteína, seria possível observar uma diarreia espumosa – forma que o organismo teria de eliminar os lipídeos nas fezes e impedir a absorção pelo sangue. Absorção dos lipídeos pelos enterócitos resumido: (Figura 8) Figura 8 Qual é a outra forma de conduzir o colesterol para as células? Através de lipoproteínas. Essas solubilizam o colesterol e transportam para um lugar correto já que possuem apoproteínas. TRANSPORTE LIPÍDICO O conhecimento das apoproteínas, é possível entender e compreender a função de cada lipoproteína. (Figura 9). Figura 9 A partir do quilomicron, há a formação de várias outras lipoprotéinas por clivagem. Ocorre a diminuição do tamanho e o aumento da densidade. (Ver figura 9). Os lipídeos de origem hepática podem ser transportados por VLDL, IDL e LDL. O VLDL é uma lipoproteína rica em triglicerídeos, formada/ preparada no fígado por ação da proteína MTP (transformação de triglicerídeos para apoB-100). Então, dessa forma, o VLDL vem sendo reconhecido como foco terapêutico para o tratamento da hipercolesterolemia, por inibição da síntese de apoB ou MTP. Então doenças genéticas de hipercolesterolemia podem ter origem em disfunção na proteína MTP. (Figura 10). Figura 10 Ao hidrolisar a VLDL, ocorre uma troca de lipídeos com o LDL e HDL. Então se ela consegue realizar essa troca, se houver uma inibição da proteína MTP, ocorre uma diminuição no transporte de colesterol que deveria ser transportado. A proteína CETP, proteína de transferência do éster de colesterol, está sendo testada como foco terapêutico no tratamento de dislipidemias. Qual é a lógica desse tratamento? Inibindo a CETEP, inibe a hidrólise do VLDL, aumenta o HDL e diminui o risco cardiovascular. (Figura 11). Figura 11 O hepatócito é o principal local de expressão do receptor do LDL. Existe uma enzima, HMG-CoA redutase, relacionada com a síntese de lipídeos dentro do hepatócito. Essa enzima é fundamental para a síntese intracelular do colesterol hepático. Ao nível de tratamento, quando há muito colesterol circulatória, esses receptores ficam ocupados pois a síntese interna pela HMG-CoA redutase está muito ativada. Então, se houver uma inibição dessa proteína, a célula “irá achar” que não existe colesterol intracelular e assim ocorre um aumento no receptor extracelular e uma maior captura do LDL que quer entrar na célula. (Figura 12). Figura 12 A HDL (expressa apo1 e apo2), toda vez que transporta colesterol, há uma esterificação para o tornar mais “fácil” de ser transportado/ maior fluidez. O colesterol é esterificado pela enzima LCAT (lectinacolesterolaciltransferase). A própria apo1, que o próprio HDL carrega, é o cofatordessa enzima. O receptor para o HDL no fígado é SR-B1. Quais são as funções do HDL? Protege o leito vascular contra a arterogênese, remove os lipídeos oxidados da LDL, inibe a fixação de moléculas de adesão e monócitos no endotélio e estimula a liberação de óxido nítrico (vasodilatador). Então, o HDL tem muito mais funções do que o transporte reverso do colesterol. (Figura 13). Figura 13 BASES FISIOPATOLÓGICAS DAS DISLIPIDEMIAS PRIMÁRIAS A partir dessas dislipidemias, pode ocorrer a formação de placas de arteroma, lesões ao endotélio, diabetes, entre outros. Acúmulo de quilomicrons e/ou de VLDL, variantes genéticas, defeitos no receptor do LDL, defeito no gene da apoB-100, mutação do gene que codifica a apoB-100. (Figura 14). Figura 14 APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO Injúria do endotélio/descontinuidade da camada endotelial, causada por dislipidemia, diabetes, mutação genética, acarreta em captura do colesterol para ser oxidado ou ser utilizado pelas células. Lesão no endotélio, recrutamento de monócito, entrada do monócito no tecido, transformação em macrófagos (aparecimento de processo inflamatório). Caso o processo persista, maior quantidade de colesterol entra e começa a ser oxidado, a própria oxidação do LDL libera citocinas (IL-1) que chamará mais monócitos para a região. Esses macrófagos tentam fagocitar esse excesso de lipídeos, formando as células espumosas, foam-cells. Quanto maior a produção de citocinas e fatores de crescimento, ocorre a migração de células de músculo liso para a região inflamada (vão para lugares que não deveriam estar). Ao mesmo tempo, ocorre produção de matriz celular. O macrófago não consegue suprir com a fagocitose a quantidade de colesterol e esse acaba escapando (fluindo) para o sangue periférico. E esse efluxo de colesterol tenta ser contornado pelo HDL (retirar) e isso cada vez mais piora o ciclo, formando tecido necrótico. (Figura 15). Figura 15 Como ocorre uma diminuição da luz dos vasos, o fluxo do sangue deixa de ser laminar (como normalmente deve ser) e acaba sendo desviado para outros vasos sanguíneos. Isso acaba gerando mais lesão ao endotélio. (Mecanismo de hipertensão arterial favorece essa situação). Figura 16 Figura 17 Em resposta a isso, ocorre a produção, pelas próprias células endoteliais, de óxido nítrico com o objetivo de diminuir a pressão arterial. Com o mecanismo de injúria, ocorre a infiltração celular. Monócitos recrutam mais monócitos e formam uma aglomeração. O colesterol não diminui e o ciclo persiste. (Figuras de 16 a 18). Figura 18 As células endoteliais começam a se descolar, abre-se um espaço no endotélio, as células de musculatura lisa começam a migrar e, consequentemente, sangue pode se concentrar nessas irregularidades do endotélio. Ocorre agregação de plaquetas (aumento do fator de agregação plaquetária) e, dessa forma, uma piora sensível do quadro. (Figuras de 19 a 22). Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 A placa está sendo formada de baixo para cima, “empurrando” o endotélio e chamando mais plaquetas para região, contribuindo para uma piora do quadro. As plaquetas promovem o aparecimento de fator de coagulação. As placas podem ser estáveis ou instáveis. A estável predomina o colágeno, poucas células inflamatórias, núcleo lipídico e necrótico menores. A placa instável possui uma atividade inflamatória mais intensa, com grande atividade proteolítica, núcleo lipídico e necrótico proeminente e capa fibrosa fina (tênue), podendo se romper. (Figura 23). Figura 23 Figura 24
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