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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE DIREITO Direito Civil V - Família Plano de ensino – 2015.2 Rosani Carvalho – rosani.carvalho@terra.com.br Aula 2: Direito de Família e Relações de Parentesco. I) Direitos de família. 1) Normas reguladoras. Os direitos de família, como o próprio nome indica, nascem do fato de uma pessoa pertencer a determinado grupo familiar sendo, por isso, em sua maioria, direitos extrapatrimoniais, e contrapondo-se, portanto, aos direitos patrimoniais (como os alimentos, o usufruto dos bens dos filhos e os regimes de bens). Podem-se, então dividir, em: Normas que regulam relações pessoais entre os cônjuges, ascendentes, descendentes e parentes em linha reta (Título I – arts. 1.511 a 1.638, CC) – Direito Matrimonial e Parental. Normas que disciplinam relações patrimoniais decorrentes de relações familiares (Título II – arts. 1.639 a 1.722, CC). Normas que disciplinam a união estável (Título III – arts. 1.723 a 1.727, CC) – Direito Convivencial. Normas que assumem a tutela de relações assistenciais (Título IV – arts. 1.728 a 1.783, CC) – Direito Assistencial. Os direitos de família caracterizam-se pelo seu fim ético e social, comportando a sua infração as mais diversas sanções, inclusive indenização por dano moral, conforme já despontam alguns julgados nos tribunais, como é o caso do cônjuge que quebra do dever de fidelidade recíproca. 2) Natureza jurídica. Já quanto à natureza jurídica, o Direito de Família deve ser considerado ramo do Direito Privado, embora algumas tentativas mal sucedidas tenham o apresentado como ramo de Direito Público (Jellinek) devido ao grande número de normas imperativas e de ordem pública que o compõe; outras tentativas o inseriram como ramo do Direito Social devido à diminuição da autonomia privada face às normas de caráter cogente que impregnam este ramo do Direito Civil. De fato, o Direito de Família tem por objeto a tutela da família em suas diferentes relações e o interesse social em manter equilibradas e seguras estas relações é evidente. Assim, embora a família seja considerada a base da sociedade e, por isso, goze de especial proteção do Estado, a sua íntima relação com o Direito Público não é suficiente para lhe conferir características deste ramo ou para inseri-lo no ramo dos Direitos Sociais. Nas palavras de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2009) “não se pode imaginar uma relação jurídica mais privada do que esta... Por certo, a relação familiar diz respeito a interesses particulares e está incluída na estrutura do Direito Civil porque o interesse fundamentalmente presente diz respeito, essencialmente, à pessoa humana”. 3) Características do Direito de Família: personalíssimo intransmissível intransferível inalienável irrenunciável 4) Fontes do Direito de Família brasileiro: fontes formais (CC/16, CF/88, CC/02, legislação ordinária) fontes históricas (Direito Romano, Direito Canônico, Direito Português). No Direito Romano, a família era organizada sob noções de autoridade e o poder concentrado na pessoa do pater familias. Tanto a mulher como os filhos eram subordinadas à autoridade do pater, podendo a esposa, inclusive, ser repudiada por ato unilateral. A família era uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional cujas regras sobre pátrio poder e sobre relações patrimoniais exerceram forte influência em várias legislações até a Idade Média. O Direito Canônico, durante a Idade Média, regeu quase que exclusivamente as relações familiares. No Brasil, esta influência, em especial, sobre o casamento se deu por meio das Constituições Primeiras do Arcebispo da Bahia (1707) que adotavam exclusivamente o casamento religioso (católico) como gerador de efeitos jurídicos. O casamento civil no Brasil foi instituído apenas em 1890 (Decreto n. 181), mas na prática a maioria dos casamentos continuava sendo realizado apenas no religioso. Outras influências que se podem identificar na formação do Direito de Família brasileiro: natureza contratual do casamento; necessidade de manifestação de vontade de ambos os nubentes; formalização do ato do casamento por autoridade competente; debitumconjugale; impedimentos matrimonias; sponsalia (noivado); indissolubilidade do vínculo conjugal (até 1977). O Direito Português também exerceu forte influência na formação do Direito de Família brasileiro, como por exemplo, inflexibilidade das relações familiares; forma patriarcal e hierarquizada da família; regime legal de bens (até 1977 prevaleceu a comunhão universal de bens); outorga uxória; dote; poder marital; tutela e curatela. O Código Civil de 1916, ainda sob a influência do Direito Português e tomado por elementos definitórios plenos, manteve a forma patriarcal e hierarquizada de família; a desigualdade entre cônjuges; o caráter matrimonializado e institucional da família; a desigualdade entre os filhos e a indissolubilidade do vínculo conjugal. A família era uma unidade de produção e de reprodução cujos elementos foram ao longo do tempo flexibilizados por meio da legislação ordinária e com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que, como já se afirmou, foi um ‘divisor de águas’ no Direito de Família Brasileiro. A Constituição Federal de 1988 reconheceu a pluralidade das formas de constituição de família, elevando o afeto como característica principal do vínculo familiar. Impõe um vínculo mais democrático, igualando substancialmente os cônjuges e os filhos. A família passa a ser uma unidade sócio-afetiva de caráter instrumental. Afirma Eduardo de Oliveira Leite (2005, p. 24-26) que a singeleza ilusória dos arts. 226 e 227, CF, gerou efeitos devastadores na ordem jurídica do Direito de Família brasileiro que se pretendia pacificada pela tradição, pela ordem natural dos fatos e pela influência do Direito Canônico e Português. Sob a influência dos princípios constitucionais de Direito de Família, o Código Civil de 2002, tomado por conceitos indeterminados, abertos e flexíveis, trouxe como principais mudanças o reconhecimento de outras formas de constituição da família (além do casamento); a igualdade absoluta entre cônjuges e entre filhos (independente da origem); a dissolubilidade do vínculo conjugal; o reconhecimento da união estável como figura diferente do concubinato. II) Relações de parentesco (artigos 1591 a 1638) “Sogro(a) é para sempre. Você sabe o motivo?” 1) Parentesco – conceito: é a relação das pessoas vinculadas pelo sangue, que se originam pela ascendência direta ou de um tronco comum, ou por outra origem, como a adoção e a socioafetividade” (Define Dimas Messias de Carvalho, 2009, p. 281). Trata-se, dessa forma, de relações humanas que assumem as mais diferenciadas formas (art. 1.593, CC) e, por isso, assumem um caráter multifacetário e plural. 2) O parentesco pode ser classificado em três ordens: Consaguinidade ou natural ou típico: é a relação de parentesco que vincula umas pessoas a outras que descendem do mesmo tronco ancestral. Afinidade: é a relação que aproxima um cônjuge ou companheiro aos parentes do outro (art. 1.595, CC). o A afinidade, em si, não constitui parentesco, estabelece, sim, laços vinculatórios entre cônjuge ou companheiro e os parentes do outro consorte ou companheiro. o O parentesco por afinidade limita-se aos descendentes, ascendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. A afinidade não gera afinidade(ex.: concunhados). o Na linha reta, a afinidade, para fins de impedimentos matrimoniais, não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. Civil ou socioafetivo: é o parentesco constituído por sentença ou por ato voluntário das partes e resultante da afetividade, como é o caso da adoção, da posse do estado de filhos ou dos filhos gerados por técnicas de reprodução humana medicamente assistida na modalidade heteróloga. 3) O parentesco se dá: a) EM LINHA: Em linha reta ou direta: quando as pessoas descendem uma da outra (art. 1.591, CC). Será descendente quando se parte em direção aos parentes da pessoa considerada. Será ascendente (materna ou paterna) quando se parte na direção do genitor ou progenitor. A linha reta é infinita, não havendo qualquer limitação para o parentesco. Em linha colateral, transversal ou oblíqua: quando as pessoas são ligadas a um tronco comum, sem descenderem um do outro (art. 1.592, CC). Para fins jurídicos, a linha colateral vai até o quarto grau. o A linha colateral pode ser duplicada quando duas pessoas que estabelecem parentesco transversal com outra simultaneamente. Exemplo: duas irmãs que se casam com dois irmãos, seus filhos serão parentes em quarto grau duplicado. b) EM GRAU: Grau é distância em gerações que separam os parentes. Os graus de parentesco no Direito brasileiro contam-se conforme o sistema romano: Na linha reta: enumeram-se o número das gerações (art. 1.594, CC). Na linha colateral: mede-se o parentesco subindo-se por uma das linhas até se encontrar o ascendente comum e, em seguida, desce-se pela outra linha até se encontrar o parente cujo grau se pretende encontrar (art. 1.594, CC). No parentesco por afinidade contam-se os graus por analogia com o parentesco consanguíneo. ÁRVORE GENEALÓGICA Fonte: google.com
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