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Autora: Profa. Simone Hypolito Pisa Colaboradoras: Profa. Silmara Maria Machado Profa. Christiane Mazur Doi Gestão Escolar e Orientação Educacional Professora conteudista: Simone Hypolito Pisa Graduada em Pedagogia e habilitada em magistério. Especialista em Necessidades Especiais e em Psicopedagogia. Mestre em Comunicação e Inovação, e em Ciências da Educação. Desde 1984 atua na área educacional, com ênfase na Administração Educacional e larga experiência em Educação Infantil. Desenvolveu funções na sala de aula, na coordenação pedagógica e na orientação educacional. Dedica-se a atividades em nível superior, atuando como coordenadora do curso de Pedagogia da UNIP e ministra aulas no curso de Pedagogia. Na pós-graduação lato sensu, desenvolve conteúdo para Educação a Distância. Ministra aulas em módulos específicos da área da Educação Infantil e da Educomunicação. Autora de material didático de Educação Infantil, formadora e palestrante. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P673g Pisa, Simone Hypolito. Gestão Escolar e Orientação Educacional / Simone Hypolito Pisa. – São Paulo: Editora Sol, 2025. 128 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Orientação educacional. 2. Gestão. 3. Educação contemporânea. I. Título. CDU 371.2 U521.15 – 25 Prof. João Carlos Di Genio Fundador Profa. Sandra Rejane Gomes Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Profa. M. Marisa Regina Paixão Vice-Reitora de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor das Unidades Universitárias Profa. Silvia Renata Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Maria Cecília França Auriana Malaquias Sumário Gestão Escolar e Orientação Educacional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 CONCEPÇÕES DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ....................................................................................9 2 CONCEPÇÕES DA GESTÃO ESCOLAR ....................................................................................................... 13 2.1 Gestão democrática ............................................................................................................................ 15 2.2 Desafios da gestão escolar democrática participativa .......................................................... 16 2.3 Estratégias para implantação da gestão escolar democrática ......................................... 17 3 A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A GESTÃO ESCOLAR .................................................................... 18 3.1 Articulação da orientação educacional com os demais setores da escola ................... 19 3.2 Articulação com a coordenação pedagógica e a direção escolar .................................... 20 3.3 Articulação com equipes docente e de apoio .......................................................................... 22 3.4 Fortalecimento da comunidade escolar ...................................................................................... 23 4 O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) ........................................................................................................................ 26 4.1 Monitoramento e implementação do PPP ............................................................................... 29 4.2 Articulação das ações com a comunidade ................................................................................ 30 4.3 Fomentação da cidadania ativa e consciente........................................................................... 30 4.4 Fortalecimento da rede de apoio ................................................................................................... 31 Unidade II 5 ATUAÇÃO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ......................................................................................... 38 5.1 Aspectos legais do trabalho do orientador educacional ...................................................... 39 5.2 Montagem e organização do SOE ................................................................................................. 40 5.3 Acompanhamento e orientação individual e em grupo de alunos ................................. 44 5.4 Atendimento às necessidades específicas dos alunos ........................................................... 51 5.5 Desenvolvimento de programas e projetos de orientação educacional ........................ 55 5.6 Articulação com a família e a comunidade ............................................................................... 57 6 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL .................................................... 59 6.1 A entrevista ............................................................................................................................................. 60 6.1.1 Tipos de entrevistas ................................................................................................................................ 61 6.2 Observação .............................................................................................................................................. 63 6.2.1 Tipos de observação ............................................................................................................................... 63 6.3 Dinâmicas de grupo ............................................................................................................................ 66 6.3.1 Tipos de dinâmicas e suas aplicações ............................................................................................. 67 6.4 Técnicas de aconselhamento ........................................................................................................... 70 6.5 Orientação profissional ...................................................................................................................... 72 Unidade III 7 EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ................................................................................................................. 81 7.1 As exigências da educação contemporânea ............................................................................. 83 8 DESAFIOS DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA ................. 84 8.1 O orientador educacional e a inclusão escolar ....................................................................... 84 8.1.1 A importância da inclusão escolar................................................................................................... 87 8.1.2 A construção de uma escola inclusiva ...........................................................................................atuando como facilitador. • Concepção democrática — Características: combinação de elementos das concepções anteriores, com ênfase na participação de todos os membros da comunidade escolar na construção coletiva do projeto pedagógico e na gestão democrática da escola. — Implicações: a escola é vista como um espaço de diálogo e construção coletiva, em que as decisões são tomadas de forma democrática, considerando os diferentes aspectos da escola. A aprendizagem é um processo ativo e significativo, que envolve aluno, professor e comunidade. Questão 2. Implementar a gestão democrática na unidade escolar é um processo complexo, que exige dedicação, planejamento e participação de todos os atores escolares para superar obstáculos desafiadores. Para que isso ocorra, o gestor deve apostar em estratégias que favoreçam a implantação desse modelo de gestão. Entre elas, algumas podem causar maior impacto nesse processo de mudança: • Construção coletiva do PPP. • Formação continuada de funcionários. • Espaços de diálogo e escuta. 36 Unidade I • Delegação de responsabilidades aos membros da equipe. • Comunicação ativa. • Redes de colaboração. • Envolvimento da comunidade local em ações na escola. • Liderança democrática. • Avaliação contínua. • Superação de resistências. Em relação às estratégias para favorecer a gestão democrática, avalie as afirmativas. I – A construção coletiva do PPP fortalece o sentimento de pertencimento e aumenta o engajamento de todos. II – A delegação de responsabilidades aos membros da equipe é feita com a intenção de que o gestor possa se ausentar da unidade escolar e isentar os professores de participar de quaisquer decisões. III – A comunicação ativa é objetiva em relação às decisões tomadas e aos resultados alcançados para garantir transparência nas ações. IV – A liderança democrática implica incentivar a participação, o respeito às diferenças e a tomada de decisões coletivas. V – A superação de resistências deve ser realizada com base no diálogo e na negociação, com a apresentação de argumentos justos e com respeito às diferenças. É correto o que se afirma em: A) I, II, III, IV e V. B) I, III, IV e V , apenas. C) II, III, IV e V, apenas. D) I, IV e V, apenas. E) I e III, apenas. Resposta correta: alternativa B. 37 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Análise da questão Vejamos as estratégias que o gestor educacional pode usar para favorecer a gestão democrática. • Construção coletiva do PPP: fortalece o sentimento de pertencimento e aumenta o engajamento de todos. • Formação continuada: oferecimento de formação constante a professores, funcionários e demais membros da comunidade escolar sobre os princípios da gestão democrática, as ferramentas de participação e a importância do trabalho em equipe. • Espaços de diálogo: elaborar um cronograma para garantir que momentos de diálogo e escuta (conselhos escolares, reuniões pedagógicas e assembleias) ocorram com frequência para todos expressarem suas ideias e suas opiniões. • Delegação de funções: ao delegar responsabilidades e funções aos membros da equipe, o gestor incentiva a autonomia e a participação nas decisões. • Comunicação ativa: oferecer comunicação objetiva das decisões tomadas e apresentar os resultados alcançados garantem transparência nas ações da unidade escolar. • Redes de colaboração: buscar parcerias com outras escolas, universidades e instituições da comunidade, fortalecendo o trabalho, ampliando o processo de ensino-aprendizagem e compartilhando experiências. • Envolvimento da comunidade: impulsionar a participação da comunidade em ações na escola fortalece os vínculos entre elas. • Liderança democrática: exercer liderança democrática, incentivando a participação, o respeito às diferenças e a tomada de decisões coletivas. • Avaliação contínua: ao realizar avaliações periódicas do processo de implementação da gestão democrática, a equipe gestora identifica os pontos fortes e fracos, analisa-os e realiza os ajustes necessários. • Superação de resistências: encarar as resistências à mudança de forma pacífica e construtiva, promovendo espaços para o diálogo e a negociação.88 8.1.3 Reflexões sobre integração e inclusão ........................................................................................... 90 8.1.4 A orientação educacional e o atendimento à diversidade .................................................... 91 8.2 O orientador educacional e a prevenção da violência nas escolas ................................ 93 8.2.1 Possíveis causas da violência na escola ......................................................................................... 93 8.2.2 A equipe gestora diante do desafio da indisciplina e da violência na escola ................ 97 8.3 O orientador educacional e o bullying ........................................................................................ 98 8.3.1 O cyberbullying ......................................................................................................................................101 8.4 A orientação educacional e a promoção da saúde mental de educandos e educadores...............................................................................................................................................105 8.4.1 A Base Nacional Comum Curricular e a educação em saúde ...........................................109 8.5 A cultura da paz nas escolas ..........................................................................................................111 8.5.1 Política Nacional de Promoção da Cultura de Paz nas Escolas ........................................ 114 7 APRESENTAÇÃO Caro estudante, Este livro-texto tem a intenção de levá-lo a conhecer a realidade e a atuação de um orientador educacional como parte integrante da gestão escolar. Temos como objetivos que você, estudante e futuro professor: • compreenda o papel da orientação educacional na gestão escolar como tripé do processo educativo; • analise as diferentes concepções de orientação educacional e sua evolução histórica; • identifique as principais funções do orientador educacional na gestão escolar; • aplique técnicas de orientação educacional para o acompanhamento e o apoio aos alunos; • atue de forma colaborativa com os demais profissionais da escola, visando à construção de um projeto político-pedagógico inclusivo; • desenvolva ações de orientação educacional que promovam o desenvolvimento integral dos alunos, considerando suas necessidades e seus interesses; • reflita sobre a prática profissional da orientação educacional e sua relação com os desafios da educação contemporânea. Diante disso e pela observação e análise constantes, pretendemos que você tenha subsídios para compreender a orientação educacional como um processo essencial para uma gestão escolar eficaz. É fundamental atuar de forma crítica e reflexiva na construção de um ambiente escolar educativo, produtivo e inclusivo, comprometido com o contínuo e sistemático acompanhamento e apoio do desenvolvimento integral dos alunos. Agir de forma colaborativa com os demais profissionais da escola na construção de um projeto político-pedagógico inclusivo é importante para o profissional. Você está prestes a descortinar as teorias de uma disciplina empolgante e significativa para a sua formação. Vamos juntos aproveitar esta aventura? Boa leitura! 8 INTRODUÇÃO A disciplina aborda a importância da orientação educacional para a formação de profissionais da educação comprometidos com a construção de uma educação de qualidade para todos. A orientação é essencial para garantir oportunidades iguais aos alunos. O responsável pela orientação educacional é o orientador educacional, profissional que atua como mediador entre os diferentes agentes da comunidade escolar, com foco na construção de um projeto político-pedagógico que considere as necessidades e os interesses dos alunos. Estudaremos os desafios da educação contemporânea como o bullying e o cyberbullying. Isso exige novas habilidades dos profissionais da educação. Veremos as funções do orientador educacional, um profissional de suma importância nesse processo. Conheceremos as leis relacionadas à orientação educacional, como a primeira lei brasileira que cita o papel do orientador, o Decreto-lei n. 4.073/42, a Lei n. 5.564/68, a Lei de Diretrizes e Bases, Lei n. 5.692/71, o Decreto n. 72.846/73 e a Constituição Federal de 1988. 9 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Unidade I 1 CONCEPÇÕES DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A orientação educacional no Brasil perpassa a história da educação nacional desde o início do século XX, evoluindo de um foco inicial na orientação profissional para uma visão abrangente do desenvolvimento integral do aluno. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 consolidou a orientação educacional como um componente curricular obrigatório na educação básica, reconhecendo seu papel fundamental na formação de cidadãos críticos, autônomos e responsáveis. A orientação hoje está mobilizada com outros fatores que não apenas e unicamente cuidar e ajudar os alunos com problemas. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de orientação, voltada para a construção de um cidadão que esteja mais comprometido com o seu tempo e sua gente. Desloca-se, significativamente, aonde chegar, neste momento da orientação educacional, em termos do trabalho com os alunos. Pretende-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas (Grinspun, 1994, p. 13). A administração escolar recebe fundamental contribuição da orientação educacional na gestão escolar, estabelecendo o tripé (direção escolar, coordenação pedagógica e orientação educacional) que sustenta o processo educativo. Ela se configura como um processo contínuo e sistemático de acompanhamento e apoio ao desenvolvimento integral dos alunos, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, em consonância com os princípios da educação inclusiva e da formação humana integral. A orientação educacional se fundamenta em princípios como a educação inclusiva, a formação humana integral e a construção de um ambiente educativo positivo. Esses são princípios para a atuação do profissional de orientação que busca promover o autoconhecimento, a autonomia e a responsabilidade social dos alunos. A educação é um processo que visa orientar o educando para um estado de maturidade que o capacite a encontrar-se conscientemente com a realidade, para nela, atuar de maneira eficiente e responsável, a fim de serem atendidas necessidades e aspirações pessoais e coletivas (Nérici, 1990, p. 11-12). 10 Unidade I Tardif (2015) acredita que a orientação educacional é um dos pilares da gestão escolar, pois contribui para o desenvolvimento integral dos estudantes, visando à sua formação como cidadãos críticos e participativos. O principal objetivo da orientação educacional é contribuir para o sucesso escolar dos alunos, preparando-os para a vida pessoal, profissional e social. Cabe ao orientador educacional atuar como mediador entre os diferentes agentes da comunidade escolar (alunos, pais, professores, equipe gestora), desenvolvendo ações de orientação individual e em grupo para prevenção de problemas de aprendizagem e comportamento, como: palestras, workshops, projetos e programas de intervenção. Nessa perspectiva inovadora, a orientação educacional se articula com os demais setores da escola, promovendo a construção de um ambiente educativo mais positivo e inclusivo, em prol do sucesso escolar dos alunos. O orientador educacional é essencial para a gestão escolar eficaz, pois contribui para a construção de um projeto político-pedagógico que atenda às necessidades de todos os alunos. No entanto, enfrenta desafios como a falta de recursos humanos e materiais, a desvalorização profissional e a carência de formação específica. No contexto educacional brasileiro, a orientação educacional tende a se fortalecer impulsionada pela crescentedemanda por uma educação personalizada e humanizada. A formação de profissionais qualificados e o investimento em políticas públicas são fatores cruciais para o desenvolvimento da orientação educacional no país. O orientador educacional tem o potencial de transformar a educação brasileira, auxiliando no desenvolvimento integral dos alunos e preparando-os para os desafios do mundo contemporâneo. Por meio de um compromisso coletivo com a excelência educacional, a orientação pode contribuir para a construção de um futuro mais próspero e justo para todos. A orientação educacional, ao longo de sua trajetória histórica, passou por transformações e adaptações, moldando-se às demandas e aos contextos sociais de cada época. Essa evolução resultou em diferentes concepções que norteiam a atuação do orientador educacional e definem seus objetivos, funções e metodologias. As raízes da orientação educacional no Brasil remetem às décadas de 1920 e 1930, marcadas pelo pioneirismo de nomes como Lourenço Filho e Helena Antipoff. Nessa época, o foco era a orientação profissional, auxiliando os alunos na escolha de uma carreira compatível com suas aptidões e interesses. Segundo Grinspun (1994), a orientação educacional foi implantada em São Paulo pelo engenheiro suíço Roberto Mange, com a criação do primeiro serviço de seleção e orientação profissional no Liceu de Artes e Ofícios. Em 1934, foi fundado o primeiro serviço de orientação profissional no Colégio Americano no Rio de Janeiro. 11 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Saiba mais Conheça um pouco da história do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. “O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) foi criado em 1873, com a denominação de Sociedade Propagadora da Instrução Popular, por iniciativa de Carlos Leôncio da Silva Carvalho (1847-1912) e um grupo de sócios ligados às elites cafeicultoras locais. Trata-se de uma associação educacional privada, fundada com apoio da maçonaria, destinada às classes trabalhadoras, do campo e da cidade, que se propõe a ministrar gratuitamente ao povo os conhecimentos necessários às artes e ofícios, ao comércio, à lavoura, às indústrias. O objetivo explícito da instituição é a formação de mão de obra especializada para a indústria, do ponto de vista técnico e moral.” LICEU de Artes e Ofícios de São Paulo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. São Paulo, 2018. Disponível em: https://tinyurl.com/4hay9v3c. Acesso em: 18 nov. 2024. Figura 1 – Liceu de Artes de São Paulo fundado em 1873 Disponível em: https://tinyurl.com/8ymsabyh. Acesso em: 18 nov. 2024. 12 Unidade I Nas décadas de 1940 e 1950 houve a expansão da orientação educacional, com a criação de serviços de orientação em escolas públicas e privadas. Esse período é conhecido como as décadas de ouro da expansão. A orientação educacional se espalha por todo o Brasil, com a criação de serviços em diversas cidades. A abordagem psicopedagógica ganhou destaque, reconhecendo a importância da dimensão emocional e social no desenvolvimento dos alunos. A década de 1960 foi um marco histórico com a LDB, a qual reconhece a orientação educacional como serviço fundamental para as escolas brasileiras. Na década de 1970 houve a influência da psicologia humanista com ênfase no autoconhecimento e na autonomia do indivíduo. Nesse sentido, a orientação educacional se fortaleceu, com foco no atendimento individualizado e na resolução de problemas pessoais dos alunos. Saiba mais Conheça o exercício da profissão de orientador educacional no Decreto-lei n. 72.846. BRASIL. Decreto-lei n. 72.846, de 26 setembro de 1973. Brasília, 1973. Disponível em: https://tinyurl.com/msdanzxe. Acesso em: 18 nov. 2024. Em um contexto sociopolítico marcado por conturbações, nas décadas de 1980 e 1990 houve ajustes na orientação educacional. As lutas pela democratização da educação e pela inclusão social ganharam relevância, exigindo do orientador educacional um papel mais ativo na promoção da igualdade de oportunidades e na construção de uma sociedade mais justa. Com essa nova visão, nota-se a preocupação com a construção de um olhar profilático, de cuidado e planejamento das ações, ou seja, a atuação do orientador ganha intencionalidade. Com a promulgação da atual LDB em 1996, a formação do orientador é evidenciada na lei. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em curso de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida , nesta forma a base comum nacional (Brasil, 1996). No século XXI, com a democratização da educação, a orientação educacional assume uma abordagem histórico-crítica e transformadora, reconhecendo a complexidade social e a influência dos fatores externos no desenvolvimento dos alunos. O foco é a promoção da cidadania, da autonomia e da transformação social, além da prevenção à evasão escolar e do combate à discriminação. 13 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL É importante destacar que a orientação educacional não se limita a uma única concepção. Diversas perspectivas teóricas coexistem e se complementam, enriquecendo a área e abrindo espaço para diferentes formas de atuação. Essa diversidade é fundamental para a construção coletiva do conhecimento e a resolução dos desafios contemporâneos da educação. Ao longo dessas décadas, o papel do orientador educacional se consolidou como mediador entre os diferentes atores da comunidade escolar (alunos, professores, pais, equipe gestora e comunidade externa). Sua atuação interdisciplinar contribui para a construção de um ambiente escolar acolhedor e promotor do desenvolvimento integral dos alunos. O orientador educacional é um dos membros da equipe gestora, ao lado do diretor e do coordenador pedagógico. Ele é responsável pelo desenvolvimento pessoal do aluno, dando suporte à sua formação como cidadão, à reflexão sobre valores morais e éticos e à resolução de conflitos. Hoje, além de conhecer o contexto socioeconômico e cultural da comunidade, bem como a realidade social mais ampla, o orientador educacional pode ser um profissional da educação encarregado de desvelar as forças e contradições presentes no cotidiano escolar e que podem interferir na aprendizagem (Pascoal, Honorato e Albuquerque, 2008, p. 118-119). Para Lück (2010), no trabalho do orientador educacional, a intencionalidade é um dos aspectos mais importantes, pois ela o direciona. O orientador educacional, consciente da importância do seu trabalho, adota uma postura crítica e passa a atuar de forma reflexiva e intencional, respondendo às demandas da realidade atual. 2 CONCEPÇÕES DA GESTÃO ESCOLAR Ao longo do tempo, diversas concepções emergiram, cada uma com suas características e implicações para a prática educativa. As unidades escolares são moldadas pela concepção de gestão escolar. A forma como a gestão escolar conduz a unidade influencia diretamente na qualidade do ensino e no desenvolvimento dos alunos. Cada uma das concepções de gestão escolar tem características próprias, que exercem impactos diretos no ambiente escolar. A seguir, vamos entender essas concepções, as características e as implicações que cada uma delas exerce na unidade escolar. Concepção tecnicista • Características: centralização do poder, ênfase em resultados quantitativos, visão fragmentada do processo educativo, aplicação de técnicas e métodos padronizados. • Implicações: a escola é vista como uma fábrica, o diretor como um gerente e os professores como executores de tarefas. A aprendizagem é centrada no professor e no conteúdo, com pouco e por vezes quase nenhum espaço para a participação dos alunos e da comunidade. 14 Unidade I Concepção autogestionária • Características: poder distribuído entre todos os membros da comunidade escolar, tomada coletiva de decisões e ênfase na autonomia de alunos e professores. • Implicações:a escola é vista como um espaço de autogestão, em que todos os membros têm voz e voto. A aprendizagem é centrada nos alunos e em suas necessidades, com o professor atuando como facilitador. Concepção democrática • Características: combinação de elementos das concepções anteriores, com ênfase na participação de todos os membros da comunidade escolar na construção coletiva do projeto pedagógico e na gestão democrática da escola. • Implicações: a escola é vista como um espaço de diálogo e construção coletiva, em que as decisões são tomadas de forma democrática, considerando os diferentes aspectos da unidade escolar. A aprendizagem é um processo ativo e significativo, que envolve o aluno, o professor e a comunidade. Atualmente, a concepção democrático-participativa, a qual vamos nos referir apenas por gestão democrática, é considerada a mais adequada para a gestão escolar, como apresentado na LDB. Em pelo menos duas passagens, localizamos a primeira referência. No Título II, art. 3º, inciso VIII, definem-se princípios e fins da educação nacional, fixando gestão democrática do ensino público. A segunda referência surge no Título IV, que trata da organização da educação nacional, em seu art. 14, definindo: Lei dos respectivos Estados e Municípios e do Distrito Federal definirá as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I) participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II) participação das comunidades escolar e local em Conselhos Escolares e em Fóruns dos Conselhos Escolares ou equivalentes (Brasil, 1996). Lembrete A gestão democrática, caracterizada pela participação ativa de todos os membros da comunidade escolar na tomada de decisões, exige que os gestores possuam competências e habilidades específicas para promover um ambiente escolar justo e participativo. 15 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Quadro 1 – Comparativo das concepções Concepção Centralização do poder Ênfase Tomada de decisões Papel do professor Tecnicista Alta Resultados quantitativos Centralizada Transmissor de conhecimento Autogestionária Baixa Autonomia Coletiva Facilitador Democrático-participativa Moderada Desenvolvimento integral Coletiva e participativa Mediador e orientador 2.1 Gestão democrática A gestão escolar democrática representa um avanço significativo na forma de conduzir as escolas. Ao envolver todos os membros da comunidade escolar na tomada de decisões, essa abordagem promove um ambiente mais colaborativo, transparente e humanizado. Se falamos “gestão democrática da escola”, parece-me já estar necessariamente implícita a participação da população em tal processo. Quando, entretanto, destacamos a gestão democrática da escola, para examinar as relações que tal gestão tem com a comunidade, parece-me que estamos imputando a ela um caráter de exterioridade ao processo democrático que se daria no interior da escola, como se, consubstanciada a democracia na unidade escolar, a comunidade fosse apenas mais um fator a ser administrado por meio das relações que com ela se estabelecem. Se, todavia, concebermos a comunidade – para cujos interesses a educação escolar deve voltar-se – como o real substrato de um processo de democratização das relações na escola, parece-me absurda a proposição de uma gestão democrática que não suponha a comunidade como sua parte integrante (Paro, 2010, p. 15). Saiba mais A gestão democrática está diretamente ligada à ética e à sala de aula. A leitura do artigo “Gestão democrática da escola, ética e salas de aulas”, de Cipriano Luckesi, esclarece o conceito de gestão escolar democrática e o impacto que ela causa nas salas de aula e no aprendizado dos alunos. LUCKESI, C. Gestão democrática da escola, ética e salas de aulas. Luckesi. [s.d.]. Disponível em: https://tinyurl.com/ykwyypv4. Acesso em: 18 nov. 2024. Para que a gestão democrática se efetive e forneça resultados significativos para a unidade escolar, é necessário que os atores escolares tenham oportunidade de participar das decisões que afetam a 16 Unidade I unidade escolar, seja por conselhos escolares, reuniões ou outras formas de participação. Em uma gestão democrática, as decisões são tomadas de forma coletiva, considerando as diferentes perspectivas e necessidades da comunidade escolar. Em um cenário democrático participativo, as relações entre os membros da comunidade escolar são horizontais, com menos hierarquia e mais diálogo. As informações sobre a gestão da escola são divulgadas de forma clara para todos os membros da comunidade. Uma gestão efetivamente democrática busca empoderar os membros da comunidade escolar, incentivando a participação e a corresponsabilidade, fortalecendo os laços entre eles. A gestão escolar democrática aponta um caminho promissor para a construção de escolas mais justas, equitativas e participativas. 2.2 Desafios da gestão escolar democrática participativa A gestão democrática na unidade escolar, embora seja um ideal almejado por muitos, enfrenta diversos desafios em sua implementação. Essa gestão busca envolver todos os membros da comunidade escolar nas decisões que afetam a vida na escola. Como destaca Paro (2008), a concretização desse modelo de gestão exige a superação de obstáculos que se manifestam em diferentes níveis. A participação da comunidade na escola, como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de refletir previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a ação (Paro, 2008, p. 17-18). A direção escolar desempenha um papel fundamental na implementação da gestão democrática. Dentro da unidade escolar, a direção é a liderança que inspira, motiva e guia a comunidade escolar nesse processo de transformação. Sua atuação é crucial para que a unidade escolar se torne um espaço de diálogo, construção coletiva e tomada de decisões compartilhadas. Implementar a gestão democrática em uma unidade escolar não é tarefa fácil, como afirma Paro (2023, p. 45): “se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escola que temos”. Nesse cenário, cabe à direção transpor alguns obstáculos para transformar a escola e torná-la democrática e participativa. Vejamos a seguir alguns desses desafios. O primeiro grande desafio enfrentado pela gestão escolar é a resistência a mudanças por parte de alguns membros da comunidade escolar, que estão acostumados a um modelo de gestão mais tradicional. A gestão democrática exige a capacidade de construir consensos e mediar conflitos, o que nem sempre é tarefa fácil, pois a escola é um espaço de convivência de pessoas com diferentes perspectivas e interesses. Uma sociedade autoritária, com tradição autoritária, com organização autoritária, e não por acaso, articulada com interesses autoritários de uma minoria, orienta-se na direção oposta à da democracia. Como sabemos, os determinantes econômicos, sociais, políticos e culturais mais amplos é que agem em favor dessa tendência, tornando muito difícil toda a ação em sentido contrário (Paro, 2008, p. 19). 17 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Outro desafio está na falta de tempo e recursos para a realização de reuniões, formação de grupos de trabalho e estudo com a comunidade escolar. A falta desses elementos compromete o processo de implantação do novo modelo de gestão. As condições de vida da população enquanto fator determinante da baixa participação dos usuários nas escolas públicas mostram-se tanto mais sérias e de difícil solução quando se atenta para o fato de que este é um problema social cuja solução definitiva escapa às medidas que se podem tomar no âmbito da unidade escolar (Paro, 2008, p. 55). O maior desafio está nas questões relativas à formação. Infelizmente, muitos profissionais da educação não têm a formação específicaem gestão democrática, o que impacta diretamente na falta de envolvimento e na qualidade das discussões. Isso afeta o entendimento e a implantação desse modelo de gestão. Alguns fatores que dificultam a construção de um projeto coletivo são a falta de comprometimento, em função do alto índice de rotatividade de professores (inevitavelmente ocorre), e a falta de interesse e de tempo de alguns pais em participar da vida acadêmica de seus filhos. De pouco adianta atacar o problema da má formação do educador se não se atacam concomitantemente seus determinantes. E uma das causas mais importantes da baixa formação do professor da escola fundamental e média são os baixos salários oferecidos. Numa economia de mercado, quando cai a remuneração por determinada ocupação, ocorre, como consequência imediata, uma cadeia de fatores que leva à queda da qualidade da força de trabalho a ela associadas. Uma das primeiras consequências é a evasão das pessoas mais bem qualificadas, que investiram em sua formação e treinamento na expectativa de obter uma remuneração que tal ocupação já não mais oferece. Com o tempo, a ocupação só consegue atrair pessoas menos qualificadas [...] (Paro, 2008, p. 95-96). A valorização da gestão democrática e a crescente demanda por educação de qualidade têm inflado a oferta de programas de formação para gestores. Além disso, o avanço das tecnologias da informação e da comunicação possibilita o desenvolvimento de metodologias de formação, mais flexíveis e acessíveis, com a oferta de cursos online de formação e especialização em gestão escolar. 2.3 Estratégias para implantação da gestão escolar democrática O gestor deve adotar estratégias que favoreçam a implantação desse modelo de gestão. Entre elas, destacamos algumas que podem causar maior impacto nesse processo de mudança. • Construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP): a construção coletiva do PPP fortalece o sentimento de pertencimento e aumenta o engajamento de todos na unidade escolar. • Formação continuada: oferecimento de formação constante a professores, funcionários e demais membros da comunidade escolar sobre os princípios da gestão democrática, as ferramentas de participação e a importância do trabalho em equipe. 18 Unidade I • Espaços de diálogo: elaborar um cronograma para garantir que espaços de diálogo e escuta (conselhos escolares, reuniões pedagógicas e assembleias) ocorram com frequência na unidade escolar para que todos os atores escolares consigam expressar suas ideias e suas opiniões. • Delegação de funções: ao delegar responsabilidades e funções aos membros da equipe, o gestor incentiva a autonomia e a participação nas decisões. • Comunicação ativa: oferecer comunicação clara e objetiva das decisões tomadas e apresentar os resultados alcançados com transparência nas ações da unidade escolar. • Redes de colaboração: buscar parcerias com outras escolas, universidades e instituições da comunidade, fortalecendo o trabalho, ampliando o processo de ensino-aprendizagem e compartilhando experiências. • Envolvimento da comunidade: impulsionar a participação da comunidade local em ações na unidade escolar fortalece os vínculos entre a escola e a sociedade. • Liderança democrática: é importante exercer liderança democrática, incentivando a participação, o respeito às diferenças e a tomada de decisões coletivas. • Avaliação contínua: ao realizar avaliações periódicas do processo de implementação da gestão democrática, a equipe gestora identifica os pontos fortes e fracos, analisa-os e realiza os ajustes necessários. • Superação de resistências: encarar as resistências à mudança de forma pacífica e construtiva, promovendo espaços para o diálogo e a negociação traz bons resultados. Implementar o modelo de gestão democrática na unidade escolar é um processo contínuo que exige comprometimento e esforço de toda a comunidade escolar. Ao superar os desafios e adotar as estratégias apresentadas, o gestor contribui para a construção de uma escola mais democrática, participativa e comprometida com a aprendizagem de todos. São muitos os benefícios a longo prazo para a educação, a formação cidadã dos alunos e a construção de uma sociedade transformadora. 3 A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A GESTÃO ESCOLAR A gestão escolar, em sua missão de garantir uma educação de qualidade para todos os alunos, encontra na orientação educacional um aliado forte e estratégico. Mais do que um mero serviço de apoio, a orientação se configura como a base de uma gestão escolar eficaz, contribuindo para o sucesso acadêmico e pessoal dos alunos, o fortalecimento da comunidade escolar e o alcance dos objetivos educacionais propostos pela unidade escolar. A orientação educacional e a gestão escolar, trabalhando em parceria, são essenciais para garantir a qualidade do ensino e o bem-estar dos alunos. Elas contribuem para a construção de uma escola mais democrática e inclusiva. São duas funções interligadas que desempenham papéis decisivos no processo educativo. Ambas trabalham para garantir um ambiente escolar de qualidade, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes e a eficiência da instituição. 19 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A história das experiências inovadoras e revolucionárias no século XX é pródiga na defesa e na adoção de estruturas organizacionais das instituições educativas que sejam coerentes com o tipo de educação preconizada, enfatizando a importância de tais estruturas para o êxito da educação que se propõe [...]. Em nossos dias, todas as experiências testemunham a importância da organização e da estrutura da instituição escolar no desenvolvimento de suas práticas educativas (Paro, 2011, p. 33). O orientador educacional, como membro da equipe gestora, contribui para o sucesso da escola ao participar do planejamento, colaborando na definição de metas e objetivos educacionais, considerando as necessidades dos alunos. Cabe a ele acompanhar o desenvolvimento dos alunos, informando a gestão sobre dificuldades e potencialidades, para que medidas adequadas sejam tomadas. Ele deve trabalhar para garantir que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem, contribuindo para a construção de um ambiente escolar harmonioso e colaborativo, fortalecendo os vínculos entre todos os setores da escola e as famílias. A qualidade da educação oferecida deve referir-se, portanto, à formação da personalidade do educando em sua integralidade, não apenas a aquisição de conhecimentos em seu sentido tradicional. Certamente, não se trata de voltar-se contra os conteúdos das disciplinas que usualmente compõem os currículos, e sim de valorizar esses conteúdos, mas fazê-los de acordo com sua contribuição para a formação integral dos estudantes (Paro, 2007, p. 34). 3.1 Articulação da orientação educacional com os demais setores da escola A tendência é que a articulação se fortaleça à medida que a importância da orientação educacional seja reconhecida para o sucesso da escola. A atuação dela para ser concreta precisa estar integrada aos demais setores da escola, com comunicação eficiente. Essa articulação é essencial para garantir o atendimento integral dos estudantes e um ambiente escolar propício ao aprendizado. Ao investir em um sistema de comunicação eficaz, a escola promove um ambiente colaborativo, que impacta diretamente na melhoria do clima educacional e no bem-estar dos envolvidos. Existem escolas onde, pelo “olhar” do gestor e pela relação intergrupal que se estabelece, cria-se uma equipe sinérgica, um processo participativo, um ambiente de investimento e “apoio ao outro” como sujeito. Uma gestão efetiva abre espaço para comunicação, criação e desenvolvimento no dia a dia do trabalho profissional. A equipe se sente mais valorizada, com mais oportunidades para exercer suas contribuições individuais, de agregar valor, arriscar, errar e refletir sobre sua atuação (Costa, 2011, p. 56). Com um sistema de comunicação objetivo e transparente,a troca de informações é mais rápida e auxilia na construção de um ambiente escolar coeso e produtivo. A comunicação eficiente promove a troca de ideias, o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um ambiente de 20 Unidade I trabalho colaborativo. Por meio da comunicação, os diferentes setores da escola conseguem alinhar seus objetivos e trabalhar em direção a objetivos comuns: a qualidade do ensino e o bem-estar dos alunos. As reuniões periódicas garantem um acompanhamento completo e preciso com os demais setores da escola, pois é um espaço para discutir o andamento das ações, trocar informações sobre alunos e alinhar estratégias de trabalho. Para alcançar os objetivos propostos, algumas estratégias precisam ser tomadas como investir na formação continuada de todos os profissionais da escola, para aprimorar suas competências e habilidades para trabalhar em equipe, definir indicadores para avaliar o alcance de metas e o impacto das ações realizadas. 3.2 Articulação com a coordenação pedagógica e a direção escolar A articulação entre o orientador educacional e o coordenador pedagógico é fundamental. Ambos possuem papéis distintos, mas complementares, e ao trabalharem em conjunto podem intensificar seus esforços e oferecer suporte completo à comunidade escolar. Essa relação deve ser construída de forma gradual e colaborativa, envolvendo todos os setores da escola, em reuniões regulares para elaboração do planejamento das ações da unidade escolar. A articulação desses profissionais, que possuem papéis distintos, mas complementares, e que se confundem, carece de uma separação para definir a atuação de cada um dentro da unidade escolar. • Direção escolar: o foco é a visão geral da escola, garantindo a qualidade do ensino-aprendizagem e promovendo ambiente escolar seguro e eficiente. O diretor escolar deve garantir o equilíbrio entre as diversas áreas da escola: gestões administrativa, pedagógica e de pessoas. Ele direciona a comunidade escolar e garante que todos estejam em harmonia. • Orientação educacional: o foco é o aluno como indivíduo, suas necessidades, dificuldades e potencialidades. Atua na prevenção e na resolução de problemas, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes. • Coordenação pedagógica: o foco é o processo de ensino-aprendizagem em sua totalidade. Acompanha a execução do projeto pedagógico, oferece suporte aos professores e garante a qualidade do ensino. A atuação do orientador educacional em parceria com a coordenação pedagógica oferece apoio pedagógico, auxiliando os alunos na superação de dificuldades de aprendizagem, na construção de hábitos de estudo eficazes e no desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, que promovam o sucesso acadêmico dos alunos. Essa parceria favorece o trabalho junto aos professores, em que orientação educacional e coordenação pedagógica promovem formação continuada dos professores, organizando capacitações e orientando os profissionais sobre temas relevantes para a solução das demandas da unidade escolar e o desenvolvimento integral dos alunos. Esse processo garante que a equipe esteja preparada para lidar com os desafios da educação contemporânea. 21 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Quadro 2 – Orientação educacional e coordenação pedagógica Função Orientação educacional Coordenação pedagógica Foco Desenvolvimento pessoal, social e emocional dos alunos Suporte aos professores e garantia de educação integrada Interação Mediação entre alunos, pais e professores Trabalho direto com os professores para melhorar práticas pedagógicas Objetivos Ajudar os alunos a superar dificuldades e promover o bem-estar geral Assegurar a qualidade do ensino e a implementação eficaz do currículo Atribuições Orientação individual e em grupo, aconselhamento e resolução de conflitos, formação continuada de professores Planejamento de aulas, formação continuada de professores e avaliação de práticas Colaboração Trabalha em conjunto com o coordenador pedagógico para o desenvolvimento dos estudantes Colabora com o orientador educacional para abordar questões comportamentais e emocionais Se a articulação da orientação educacional e da coordenação pedagógica é essencial para o bom andamento da unidade escolar, a união delas com a direção garante o sucesso da unidade escolar. O trabalho em conjunto desses profissionais oferece suporte completo à comunidade escolar, contribuindo para a construção de um ambiente de aprendizagem significativo e humanizado. Quadro 3 – Funções do gestor escolar – direção Função Descrição Gestão administrativa Organizar a rotina escolar e administrar recursos financeiros e materiais Supervisão pedagógica Supervisionar as atividades pedagógicas e garantir a qualidade do ensino, em parceria com a coordenação pedagógica Cumprimento das leis Assegurar o cumprimento das leis e das diretrizes educacionais Comunicação Realizar reuniões periódicas com pais, professores, coordenação pedagógica e orientação educacional Ambiente escolar Promover um ambiente seguro e colaborativo para alunos e funcionários Planejamento Planejar e coordenar eventos escolares e atividades extracurriculares em parceria com a coordenação e a orientação educacional Formação de equipe Promover a formação e a atualização dos profissionais da escola Ao trabalharem em conjunto, a orientação educacional, a coordenação pedagógica e a direção conseguem traçar uma visão completa da unidade escolar, identificando suas necessidades e suas potencialidades de forma precisa. Essa articulação permite que a escola trabalhe de maneira coesa em direção aos seus objetivos, garante atendimento eficiente aos alunos e fornece à equipe gestora suporte para tomar decisões adequadas às necessidades da comunidade escolar. Na prática, a articulação da gestão escolar ocorre quando o orientador educacional identifica problemas ou necessidades. Após fazer o levantamento da situação-problema encontrada, ele compartilha as informações com a direção e a coordenação. A equipe gestora busca recursos e implementa ações para atender a essa demanda e tornar o ambiente educacional favorável para todos na unidade escolar. 22 Unidade I A articulação ocorre também em situações de conflito, em que a equipe gestora encontra soluções eficazes na definição de políticas escolares que promovam o bem-estar dos alunos e a qualidade do ensino. Lembrete A direção é responsável pela gestão da escola, define políticas e diretrizes pedagógicas, administra os recursos e representa a escola perante a comunidade. Por meio de um trabalho direcionado e eficaz, a orientação educacional auxilia na elaboração do projeto pedagógico, acompanhando o desempenho escolar, monitorando o desempenho dos alunos e identificando dificuldades e oportunidades de aprimoramento. Isso permite que a gestão escolar tome decisões reais para ajudar os alunos em suas necessidades individuais. A orientação educacional é essencial na gestão escolar, impulsionando o sucesso acadêmico e pessoal dos alunos, fortalecendo a comunidade escolar e garantindo o alcance dos objetivos educacionais. Com um trabalho abrangente, direcionado e eficaz, a gestão escolar democrática contribui para a construção de uma escola de qualidade, em que todos os alunos tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial e se tornem cidadãos conscientes, críticos e preparados para os desafios da vida. Exemplo de aplicação Situação-problema – Escola de Ensino Médio observa aumento significativo nos casos de cyberbullying entre os alunos. Essa situação aumenta o absenteísmo nas aulas e o desempenho dos alunos nas avaliações externas tem se mostrado abaixo da média. A comunidade escolar demonstra preocupação com a situação e busca soluções para reverter esse quadro. Aponte o papel da gestão escolar para resolução dessa situação-problema. 3.3 Articulação com equipes docente e de apoio Assim como a articulação entre o orientador educacional,a coordenação pedagógica e a direção é fundamental para o sucesso escolar, a união entre a orientação educacional, a equipe docente e os profissionais de apoio também é importante. Isso garante um ambiente escolar acolhedor, rico em experiências que promovam o desenvolvimento global dos alunos e os impulsionem a alcançar os objetivos educacionais. Ao trabalharem em conjunto, esses profissionais podem melhorar os resultados e oferecer amplo suporte aos alunos. A orientação educacional no trabalho com a equipe docente auxilia na implementação e no ajuste de estratégias de ensino, adequando-as às necessidades individuais dos alunos, colaborando com a evolução de cada caso de ensino-aprendizagem e promovendo a inclusão e o sucesso de todos. 23 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Na articulação com a equipe de apoio, o orientador atua em reuniões multiprofissionais para discutir o caso de cada aluno em acompanhamento. Nas reuniões, define-se um plano de ação individualizado, garantindo atendimento integral e personalizado. Observação Equipe multiprofissional é um grupo de profissionais com diferentes formações e áreas de expertise que trabalham em conjunto para atender às diversas necessidades dos alunos. Essa equipe inclui professores, diretores, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros. 3.4 Fortalecimento da comunidade escolar A orientação educacional atua como elo entre a escola, as famílias e a comunidade, fortalecendo diálogo e colaboração para o sucesso da gestão escolar. Com a adoção de ações estratégicas, a orientação educacional estabelece parcerias com instituições e entidades da comunidade, ampliando as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Isso fortalece a inserção da unidade escolar no contexto social, combatendo o preconceito e a discriminação, promovendo o respeito à diversidade e a inclusão social, com a construção de um ambiente escolar mais justo. O trabalho da orientação educacional, junto à comunidade escolar, envolve a organização de eventos e projetos. O trabalho visa estabelecer canais de comunicação eficazes entre a escola e as famílias, construindo uma relação de confiança mútua, promovendo um ambiente acolhedor e participativo que favoreça o desenvolvimento integral dos alunos. A construção de um ambiente escolar acolhedor e participativo que auxilia o desenvolvimento integral dos alunos passa por ações que fortalecem o vínculo entre todos os membros da comunidade escolar. Para tanto, o orientador educacional, em parceria com os demais setores da escola, pode organizar as seguintes atividades: • Feiras culturais: espaço para que alunos, professores e famílias compartilhem suas culturas, talentos e conhecimentos, por meio de apresentações artísticas, exposições de trabalhos e oficinas. • Gincanas e olimpíadas: atividades lúdicas que promovem a integração e a cooperação entre os participantes. • Mutirões: realizar melhorias na escola, como pintura de muros, organização da biblioteca ou criação de um jardim. Esse tipo de estratégia, além de promover o trabalho em equipe, desenvolve o senso de pertencimento à comunidade escolar. • Projetos interdisciplinares: envolvem diferentes áreas do conhecimento e a participação de toda a comunidade escolar, como a criação de um jornal escolar ou a organização de uma campanha social. 24 Unidade I • Noites culturais: eventos que reúnem alunos, professores e famílias para assistir a apresentações artísticas, peças de teatro ou filmes, promovendo momentos de lazer e cultura. Figura 2 Disponível em: https://tinyurl.com/2mdt226k. Acesso em: 18 nov. 2024. Figura 3 – Gincana escolar Disponível em: https://tinyurl.com/h7cf5y4e. Acesso em: 18 nov. 2024. 25 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL A criação de espaços de convivência, como cantinhos de leitura, espaço de jogos e horta comunitária auxilia no fortalecimento de parceria com a comunidade, pois favorece a socialização, a cooperação e o desenvolvimento de habilidades sociais dos membros da comunidade escolar. Figura 4 – Horta comunitária Disponível em: https://tinyurl.com/rmddvk4c. Acesso em: 18 nov. 2024. Para melhorar e amplificar a comunicação entre a escola e a comunidade, o orientador pode propor aos alunos atividades que envolvam a divulgação de informações intra e extraescolares. Isso promove a criação de um jornal escolar para divulgar as notícias da escola, os trabalhos dos alunos e os eventos realizados. A criação de um perfil da escola nas redes sociais permite uma comunicação mais rápida e dinâmica com a comunidade, além de divulgar as atividades e os eventos. Figura 5 – Montagem de jornal da escola Disponível em: https://tinyurl.com/28vdxs43. Acesso em: 18 nov. 2024. 26 Unidade I Atividades que envolvem diretamente os pais são eficientes estratégias para envolver as famílias no ambiente escolar. O orientador educacional pode criar espaços que vão além das conhecidas reuniões de pais, promovendo encontros de pais para discutir assuntos como a educação dos filhos, saúde e bem-estar, importância da leitura, prevenção ao bullying, uso de drogas, sexo e gravidez na adolescência. Ao implementar essas estratégias, a escola pode fortalecer o vínculo entre todos os seus membros, criando um ambiente mais aberto, democrático, participativo e propício ao aprendizado. 4 O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO‑PEDAGÓGICO (PPP) O PPP é um documento fundamental para qualquer instituição de ensino. Ele representa um plano de ação que define a identidade, os objetivos, as metas e as diretrizes que nortearão todas as atividades da unidade escolar. É um guia para a escola em direção a um futuro ideal, considerando suas particularidades e o contexto em que ela está inserida. Um projeto pedagógico abrangente deve contemplar diversos aspectos, como: • filosofia da unidade escolar; • objetivos; • metas; • organização do conteúdo a ser ensinado; • estratégias de ensino a serem adotadas; • critérios e instrumentos para avaliar o processo de ensino-aprendizagem; • estrutura administrativa e pedagógica da escola; • relações entre os membros da comunidade escolar; • visão da unidade escolar sobre seu papel na sociedade. Para a construção de um projeto pedagógico participativo que envolva todos os membros da comunidade escolar, algumas etapas importantes devem ser observadas: • Diagnóstico da realidade da escola para identificar os pontos fortes e fracos, as oportunidades e as ameaças. • Planejamento do projeto pedagógico para definir objetivos, metas e estratégias a fim de alcançar os objetivos. • Implementação das ações previstas no plano. 27 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL • Organização das estratégias de acompanhamento. • Avaliação dos resultados das ações, realizando ajustes quando necessário. Saiba mais Para saber mais sobre o projeto político-pedagógico, proposta pedagógica ou projeto pedagógico, leia os arts. 12 e 13, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. Disponível em: https://tinyurl.com/mr3a7zsc. Acesso em: 18 nov. 2024. Sabendo que o projeto pedagógico se configura como a base para a escola formar cidadãos conscientes, críticos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo, a orientação educacional assume um papel fundamental na construção de um projeto pedagógico inclusivo, que reconhece e valoriza a diversidade da unidade escolar. De certo modo, o projeto pedagógico é tanto a expressão da cultura da escola (cultura organizacional) como sua recriação e desenvolvimento. Expressa a cultura da escola porque está assentado nas crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que o elaboram. Ao mesmo tempo, é o conjunto de princípios e práticas que reflete e recria essa cultura, projetando a cultura organizacional que se deseja visando àintervenção e transformação da realidade (Libâneo, 2004, p. 151). O orientador educacional atua como um observador atento da realidade escolar, identificando as diferentes necessidades dos alunos relacionadas à etnia, gênero, classe social; deficiências física, intelectual ou sensorial; transtornos de aprendizagem ou qualquer outra característica que os torne singulares. Ele atua como articulador, mediador e facilitador do processo, garantindo que o projeto político-pedagógico seja um documento vivo e reflita as necessidades e as aspirações da comunidade escolar. As informações colhidas garantem que o projeto pedagógico defina as diretrizes que nortearão as ações da escola, considerando as diferentes dimensões do desenvolvimento dos alunos, como cognitiva, social, emocional. Isso visa à formação de cidadãos críticos e participativos. Com um olhar sensível e empático, o orientador educacional assume algumas funções na elaboração do projeto pedagógico quando realiza o mapeamento das necessidades individuais dos alunos. Ele utiliza instrumentos de avaliação, entrevistas e observações, construindo um diagnóstico preciso da realidade escolar. 28 Unidade I Cabe ao orientador identificar as barreiras que impedem ou dificultam o aprendizado e a participação dos alunos nas atividades escolares, como a falta de acessibilidade física, pedagógica ou atitudinal, e outros fatores que podem comprometer o seu desenvolvimento integral. O orientador educacional também analisa o contexto social em que a unidade escolar está inserida, considerando as características da comunidade, os valores e as crenças presentes, para que o projeto pedagógico seja construído de forma contextualizada e sensível às demandas da realidade local. A participação ativa do orientador educacional na construção do projeto pedagógico garante que diretrizes inclusivas sejam inseridas em uma perspectiva que valoriza a diversidade e reconhece as potencialidades dos alunos. Essa participação sugere estratégias de ação para garantir a inclusão de todos os alunos no processo educativo, como implementação de práticas pedagógicas diferenciadas, criação de recursos didáticos acessíveis, formação continuada dos professores e promoção de uma cultura escolar acolhedora e inclusiva. O projeto pedagógico é um documento dinâmico que deve ser constantemente revisado e atualizado para atender às necessidades da escola e da sociedade. É um instrumento fundamental para garantir educação de qualidade e formar cidadãos críticos e participativos. Exemplo de aplicação Elaboração de PPP Título da atividade – A escola que queremos para o futuro que desejamos. Objetivo – sensibilizar a comunidade escolar para construção de um PPP participativo, democrático e que reflita a realidade e as aspirações de todos. Escola – pública, de Ensinos Fundamental e Médio. Público-alvo – comunidade escolar: professores, alunos, funcionários, pais e comunidade local. Etapas: • sensibilização do público-alvo; • diagnóstico da realidade escolar; • análise dos dados; • elaboração da visão, da missão e dos valores; • definição de objetivos e metas; • elaboração do plano de ação. 29 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 4.1 Monitoramento e implementação do PPP O PPP é um documento que orienta as práticas educativas e garante que a escola atinja os objetivos pedagógicos e administrativos. A equipe gestora desempenha um papel decisivo na implementação e no monitoramento desse documento dentro da unidade escolar. O orientador educacional é o responsável por garantir o feedback das atividades e sugerir melhorias, embasado nas informações obtidas durante as observações e a coleta de dados. Monitorar sua implementação é importante para garantir que a unidade escolar esteja no rumo correto. Como a equipe gestora pode fazer isso de forma eficaz? O quadro 4 apresenta algumas estratégias que podem auxiliar no processo de implantação do projeto. Quadro 4 – Estratégias para implantação do projeto Estratégias de monitoramento Descrição Ferramentas e indicadores Frequência Reuniões e encontros Discussões e avaliações coletivas sobre a implementação do PPP Atas de reuniões, relatórios, indicadores de participação Mensal, bimestral ou conforme a necessidade Registro e documentação Coleta de dados e informações sobre as ações realizadas Diários de classe, portfólios, relatórios, banco de dados Contínua Avaliação contínua Análise sistemática do processo de implementação do PPP Questionários, entrevistas, observações e indicadores de desempenho Semestral ou anual Indicadores de desempenho Mensuração do progresso em relação às metas estabelecidas no PPP Indicadores de aprendizagem, ambiente escolar, gestão democrática e infraestrutura Mensal, bimestral ou anual Visitas e observações Acompanhamento direto de atividades e práticas pedagógicas Registros de observação e fotos Mensal, bimestral ou conforme a necessidade Como parte da equipe gestora, o orientador educacional não se limita apenas à participação de elaboração do projeto pedagógico, ele também atua na implementação, no monitoramento e na avaliação, garantindo que as ações propostas se concretizem e alcancem os resultados esperados. Nesta etapa cabe ao orientador direcionar a equipe escolar na implementação de práticas inclusivas, auxiliando na oferta de formação continuada aos professores e demais profissionais da escola, e esclarecendo dúvidas e desafios. Em parceria com a coordenação pedagógica e a direção escolar, avalia os resultados das ações implementadas, coletando dados e informações sobre o progresso dos alunos e o impacto das ações na escola para que o projeto pedagógico seja constantemente aprimorado e atualizado. 30 Unidade I 4.2 Articulação das ações com a comunidade Consciente da importância da participação da comunidade no processo de construção de uma escola inclusiva, o orientador atua como um articulador entre a escola, as famílias, a comunidade local e outras instituições relevantes. Ele busca por meio de um trabalho colaborativo promover o diálogo com as famílias dos alunos, informando-as sobre as ações implementadas na escola. O orientador busca a colaboração das famílias no processo de acompanhamento e apoio aos alunos, estabelecendo parcerias com a comunidade local, como ONGs, centros de atendimento especializado e órgãos públicos. O objetivo é ampliar o suporte oferecido aos alunos com necessidades educacionais específicas e promover a inclusão social. Saiba Mais Para saber mais sobre as atribuições do orientador educacional e sua atuação na unidade escolar, assista ao vídeo da pesquisadora Mariangela Pozza do grupo Promot (Processos Motivacionais em Contextos Educactivos). 35 ATRIBUIÇÕES do orientador educacional. 2024. 1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal Mariangela Pozza. Disponível em: https://tinyurl.com/2u4bhsbp. Acesso em: 18 nov. 2024. 4.3 Fomentação da cidadania ativa e consciente Além das questões pedagógicas, o orientador promove a construção de valores, atitudes, práticas cidadãs, desenvolvimento da cidadania ativa e consciente. Ele contribui para a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, por meio da discussão de temas como democracia, justiça social, participação política e responsabilidade civil. Essa conscientização os torna mais aptos a cobrar seus direitos e a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Com um cronograma ativo de reuniões e assembleias, o orientador estimula o engajamento dos alunos em projetos sociais, campanhas de conscientização e ações voluntárias. Isso promove o senso de responsabilidade social e a participação ativa na comunidade. A vivência prática fortalece os laços sociais e contribui para a resolução de problemas coletivos. Observação As rodas de discussão, organizadas pela orientação educacional, desempenham o papel de construtoras de umacultura de paz nas escolas, por meio da mediação de conflitos, da promoção do diálogo e da resolução pacífica de problemas. 31 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Outra função da orientação é a cidadania ativa, utilizada no combate ao preconceito e à discriminação. Os alunos são estimulados a desenvolver empatia, tolerância, respeito às diferenças, à diversidade e à inclusão social. Eles participam de atividades que abordam temas como raça, gênero, orientação sexual, religião e deficiência. Esse modelo de participação transforma a vida social, política e cultural da comunidade. Observação Práticas cidadãs se referem às ações e aos comportamentos que os indivíduos adotam para exercer sua cidadania de maneira ativa e responsável. Exemplo de aplicação Contexto – o parque comunitário de um bairro está em más condições, com áreas verdes descuidadas, equipamentos de lazer e brinquedos danificados e lixo espalhado. A comunidade local sente falta de um espaço seguro e agradável para lazer. Exemplo – informada da situação do parque por um grupo de pais e alunos do Ensino Médio, a orientação educacional, em assembleia com alunos e professores, organiza um mutirão para limpar o parque. Essa atitude faz com que a unidade escolar se envolva com a conservação do parque e a preservação do meio ambiente, deixando o espaço agradável e propício à convivência da comunidade local. 4.4 Fortalecimento da rede de apoio Na escola, cabe ao orientador educacional estabelecer e fortalecer a rede de apoio, garantindo que alunos, professores e familiares sejam assistidos. Como criar e fortalecer essa rede e o que ela representa? Uma rede de apoio escolar é formada por um conjunto de pessoas, instituições e recursos que colaboram para oferecer suporte integral a alunos, professores e famílias dentro da escola. O objetivo é criar um ambiente educacional inclusivo, seguro e propício ao aprendizado. A seguir estão alguns componentes de uma rede de apoio escolar e os benefícios para a comunidade escolar. • Equipe escolar: professores, orientadores, coordenadores e diretores trabalham juntos para identificar e atender às necessidades dos alunos. • Parceria com famílias e comunidade: a orientação estabelece comunicação entre a escola, as famílias e a comunidade, alinhando ações educativas e fortalecimento da rede de apoio ao aluno. Essa parceria garante que os alunos recebam um suporte integral e personalizado, considerando as diferentes esferas de sua vida. 32 Unidade I • Articulação com redes de proteção: em casos de violação de direitos ou situações de risco, cabe à orientação educacional se articular com as redes de proteção à criança e ao adolescente, garantindo que os alunos recebam o apoio e a proteção adequados. Essa articulação intersetorial é fundamental para garantir a segurança e o bem-estar dos alunos. • Serviços de saúde: psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de saúde que oferecem suporte emocional e psicológico aos alunos. • Organizações comunitárias: ONGs, empresas locais e outras entidades que podem fornecer recursos adicionais e oportunidades de aprendizado para os alunos. • Instituições governamentais: Secretarias de Educação e outros órgãos públicos que apoiam a escola com políticas, programas e recursos. As redes de apoio auxiliam o funcionamento eficaz das unidades escolares e oferecem uma série de benefícios que impactam positivamente os alunos e a comunidade escolar. 33 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Resumo Vimos que a orientação educacional e a gestão escolar são campos interligados que visam promover um ambiente escolar democrático. Tradicionalmente, a orientação focava em questões individuais dos estudantes, enquanto a gestão se concentrava nas questões administrativas da escola. Ambas evoluíram para se adequar à modernidade e a um modelo de gestão democrática, integrando os diversos setores da escola e com a participação de todos os membros da comunidade escolar. Na perspectiva da gestão escolar democrática, a participação de todos os membros da comunidade escolar nas decisões que afetam a escola se faz latente. Na prática, esse modelo de gestão enfrenta diversos desafios, como a resistência a mudanças, a falta de tempo e de recursos e a dificuldade em conciliar os diferentes interesses dos atores escolares. Para superar esses desafios, é necessário investir na formação continuada da equipe escolar, organizando assembleias e espaços de diálogo, discussão e negociação, para atrair as famílias e a comunidade escolar para as problemáticas encontradas. No trabalho em parceria com a coordenação pedagógica, a direção, a equipe docente e a equipe de apoio, o orientador amplifica a comunicação entre os diferentes setores da unidade escolar, contribuindo para a construção de um PPP mais coerente e eficaz. A coleta e a análise de dados auxiliam na identificação das necessidades da comunidade escolar e na elaboração de metas e estratégias adequadas à realidade da escola. Com a organização de assembleias, festas e eventos escolares, como saraus, apresentações, feiras de ciências e palestras, o orientador educacional fomenta a participação de pais, responsáveis e demais membros da comunidade nas atividades escolares, fortalecendo a troca e a cidadania ativa de toda a comunidade escolar. A construção de uma rede de apoio é essencial para o sucesso da escola e cabe ao orientador estabelecer parcerias com outras instituições, como universidades, órgãos governamentais e organizações da sociedade civil. O objetivo é ampliar as oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento dos estudantes. O trabalho em conjunto entre a orientação educacional e a gestão escolar constrói escolas mais justas, democráticas e eficazes, que promovem o desenvolvimento integral dos estudantes e a formação de cidadãos críticos e participativos. 34 Unidade I Exercícios Questão 1. A forma como a gestão escolar conduz a unidade escolar influencia diretamente na qualidade do ensino e no desenvolvimento dos estudantes. Cada uma das concepções de gestão escolar tem características próprias, que exercem impactos diretos na unidade escolar. As principais concepções são as seguintes: • Concepção tecnicista. • Concepção autogestionária. • Concepção democrática. Em relação a essas concepções de gestão escolar, avalie as afirmativas. I – Na concepção tecnicista, a aprendizagem é centrada no professor e no conteúdo, com pouco e, por vezes, quase nenhum espaço para a participação dos alunos e da comunidade. II – Na concepção autogestionária, a aprendizagem é centrada nos alunos e nas suas necessidades, sendo que o professor atua como facilitador. III – Na concepção democrática, a aprendizagem é um processo ativo e significativo, que envolve aluno, professor e comunidade. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) III, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa E. 35 GESTÃO ESCOLAR E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Análise da questão Vejamos as características e as implicações das três concepções de gestão escolar citadas no enunciado. • Concepção tecnicista — Características: centralização do poder, ênfase em resultados quantitativos, visão fragmentada do processo educativo, aplicação de técnicas e métodos padronizados. — Implicações: a escola é vista como uma fábrica, o diretor como um gerente e os professores como executores de tarefas. A aprendizagem é centrada no professor e no conteúdo, com pouco e quase nenhum espaço para a participação dos alunos e da comunidade. • Concepção autogestionária — Características: poder distribuído entre todos os membros da comunidade escolar, tomada de decisões coletiva, ênfase na autonomia dos alunos e dos professores. — Implicações: a escola é vista como um espaço de autogestão, em que todos os membros têm voz e voto. A aprendizagem é centrada nos alunos e em suas necessidades, com o professor