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PNEUMONIAS NA INFÂNCIA P R O F . A N D R E A M A K S S O U D I A N Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Pneumonias na Infância 2PEDIATRIA APRESENTAÇÃO: PROF. ANDREA MAKSSOUDIAN É uma honra estarmos aqui e podermos colaborar na sua preparação para enfrentar as provas de Residência Médica! Já estivemos desse lado da tela e sabemos que um material bem elaborado, aliado a uma boa didática, aumenta exponencialmente as chances de aprovação de qualquer candidato. Por isso, essa será nossa missão: oferecer um conteúdo de qualidade para que você consiga passar na Residência de seus sonhos. As aulas serão dinâmicas, atualizadas, com resumos ao fim de cada tema, sempre com o objetivo de prepará-lo para todo e qualquer tipo de avaliação. Juntos vamos conseguir! Estude muito, faça seus próprios resumos, anotações, mapas mentais e tudo o que for necessário para sentir-se seguro. Conte conosco, estamos aqui para auxiliá-lo. O tema de hoje será: Pneumonia na Infância. Qual é a relevância desse tema nas provas de Residência? Esse assunto faz parte do Top 10 da Pediatria, portanto tem grande chance de estar presente em sua prova. Por isso, nosso intuito é fazer com que você seja capaz de responder a qualquer pergunta sobre pneumonia. Garantimos que, lendo todo esse material com atenção, nenhuma banca examinadora será capaz de tirar esse ponto de você! @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed @estrategiamed @dra.andreamakssoud https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://t.me/estrategiamed https://www.tiktok.com/@estrategiamed https://www.instagram.com/dra.andreamakssoud Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Pneumonias na Infância 3PEDIATRIA Confira que pneumonia ocupa o segundo lugar entre os assuntos que mais aparecem em pediatria: TOP 10 DA PEDIATRIA 1º Imunizações 2º Pneumonia 3º IVAS 4º Aleitamento materno 5º Doença exantemática 6º Asma 7º Infecções congênitas 8º DNPM 9º Icterícia 10º Crescimento IVAS – infecção de vias aéreas superiores | DNPM: desenvolvimento neuropsicomotor. Portanto, futuro(a) Residente, vamos focar especialmente em “tratamento” e “agente etiológico”, os dois temas mais prevalentes quando o assunto é pneumonia. E aí, preparado(a)? Nós estamos! Agora, veja quais são os itens mais cobrados pelas provas de Residência Médica! Confira a distribuição no gráfico a seguir: 0 5 10 15 20 25 30 30% 27% 15% 12% 10% 4% 4% 3% 3% 3% 2% 1% SINAIS DE PERIGO PN REPETIÇÃO PNEUMONIA PARASITÁRIA QUADRO CLÍNICO PN ESTAFILOCÓCICA ETIOLOGIA TRATAMENTO COMPLICAÇÕES PNEUMONIA ATÍPICA PNEUMONIA ASPIRATIVA EXAMESAFEBRIL DO LACTENTE Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 4 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO 6 2.0 CLASSIFICAÇÃO 7 3.0 FATORES DE RISCO 7 4.0 PATOGÊNESE 8 5.0 AGENTE ETIOLÓGICO 11 5.1 PERÍODO NEONATAL 12 5.2 LACTENTES JOVENS 13 5.3 CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS 13 5.4 CRIANÇAS MAIORES DE 5 ANOS 14 6.0 TIPOS DE PNEUMONIA 17 6.1 PNEUMONIAS BACTERIANAS 17 6.1.1 PNEUMONIA TÍPICA 17 6.1.1.1 ETIOLOGIA E QUADRO CLÍNICO 17 6.1.1.2 AVALIAÇÃO CLÍNICA 20 6.1.1.3 DIAGNÓSTICO 25 6.1.1.4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 28 6.1.1.5 TRATAMENTO 29 6.1.1.6 TRATAMENTO - AMBULATORIAL X INTERNADO 30 6.1.1.7 ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO 32 6.1.2 PNEUMONIA AFEBRIL DO LACTENTE 37 6.1.2.1 AGENTES ETIOLÓGICOS 37 6.1.2.2 ASPECTOS CLÍNICOS/QUADRO CLÍNICO 38 6.1.2.3 DIAGNÓSTICO 39 6.1.2.4 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 41 6.1.2.5 TRATAMENTO 41 Estratégia MED 5Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.3 PNEUMONIA ATÍPICA 43 6.1.3.1 AGENTES ETIOLÓGICOS 44 6.1.3.2 ASPECTOS CLÍNICOS/QUADRO CLÍNICO 45 6.1.3.3 DIAGNÓSTICO 47 6.1.3.4 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 48 6.1.3.5 TRATAMENTO 49 6.2 PNEUMONIA VIRAL 50 7.0 RADIOGRAFIA DE CONTROLE 52 8.0 COMPLICAÇÕES 52 9.0 TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES 66 10.0 OUTROS ASPECTOS COBRADOS EM PROVAS 67 11.0 RESUMO 75 12.0 LISTA DE QUESTÕES 76 13.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 14.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 79 Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 6 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 1.0 INTRODUÇÃO As infecções respiratórias agudas são causas comuns de morbidade na infância, especialmente a pneumonia, que acomete principalmente crianças menores de 5 anos e moradoras de países em desenvolvimento, sendo responsável por uma alta taxa de hospitalização e elevada mortalidade. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) corresponde a 15% das mortes em crianças menores de 5 anos. Assim, percebemos a importância do diagnóstico e tratamento precoces. CUIDADO! A pneumonia é a principal responsável por óbitos de causa infecciosa em menores de 5 anos. Entretanto, diante de todas as causas de morte em crianças, as causas externas (fatores externos) são as principais responsáveis. Aí você pergunta,... DEFINIÇÃO: A pneumonia corresponde a uma inflamação que acomete o trato respiratório inferior, mais especificamente o alvéolo, em resposta à invasão de um agente agressor, podendo ser infeccioso ou não. Esse agente chega até o pulmão, principalmente pela aspiração de material de secreções infectadas das vias aéreas superiores ou disseminação hematogênica. CAPÍTULO A incidência e a gravidade dessa doença têm diminuído nas últimas décadas, devido ao melhor acesso da população aos serviços de saúde e, principalmente, pela ampla imunização das crianças (fornecida pelo Programa Nacional de Imunização), sendo as vacinas contra Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae tipo B as grandes responsáveis por esse resultado. ...mas o que é pneumonia, professora? Estratégia MED 7Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 2.0 CLASSIFICAÇÃO CAPÍTULO É importante esclarecer que existem diferenças entre a pneumonia e a broncopneumonia (BCP), mas, neste livro, usaremos os termos como sinônimos, uma vez que nas infecções alveolares pediátricas frequentemente há o acometimento brônquico prévio e/ou concomitante. Começaremos apresentando algumas formas de classificar as pneumonias. Existem várias classificações propostas. Apresentaremos duas delas, ou seja, segundo o local onde foi adquirida e de acordo com o agente causador. Veja: 1. Segundo o local de aquisição: • Adquirida na comunidade: neste caso, o microrganismo causador da pneumonia vem, como o nome diz, da comunidade; • Pneumonia hospitalar ou nosocomial: quando a pneumonia desenvolve-se após 48 horas de internação hospitalar. 2. Tipo de agente causador da infecção: • Vírus; • Bactérias; • Agentes químicos. Neste capítulo, abordaremos apenas as pneumonias adquiridas na comunidade e causadas por agentes infecciosos. Devido à sua relevância em nosso meio, a tuberculose em crianças será abordada no capítulo de tuberculose em pediatria. CAPÍTULO 3.0 FATORES DE RISCO Quais são os motivos que levam as crianças a adquirirem as pneumonias? Existem algumas condições que podem possibilitar o surgimento de pneumonias em crianças. Elas estão listadas a seguir e constituem os principais fatores de risco para a pneumonia em crianças. Observe: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 8 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA • desmame precoce ou aleitamento artificial; • ausência de vacinação (ou falta de doses ou reforços); • frequentar creche; • baixa idade (sobretudo menores de 2 meses); • baixo nível socioeconômico; • aglomeração domiciliar (famílias numerosas morando na mesma casa); • baixo peso ao nascer (clássica: recém-nascido de parto normal, apresenta uma conjuntivite prévia e 2 a 3 semanas após esse episódio, inicia com quadro insidioso de tosse seca, sem febre (na maioria das vezes) e apresenta-se em bom estado geral. Ao exame físico: com ou sem sibilos à ausculta pulmonar, mas costumam estar presentes, principalmente, os estertores finos. Na radiografia de tórax: infiltrado intersticial bilateral ou difuso. Esse exame não deve ser realizado de rotina, uma vez que o diagnóstico é clínico. Tratamento: macrolídeos → claritromicina na dose de 15mg/kg/dia, de 12 em 12h, por 10 dias, ou azitromicina na dose de 10mg/kg/dia, 1 vez ao dia, por 5 dias. Entendido o tema pneumonia afebril do lactente? Vamos para o próximo então! 6.1.3 PNEUMONIA ATÍPICA A pneumonia atípica aparece em 12% das questões, muitas vezes como principal diagnóstico diferencial da pneumonia típica. Quase sempre a idade dos pacientes é acima de 5 anos e adolescentes. O que é a pneumonia atípica? É a pneumonia causada por um agente "atípico", ou seja, bactérias que não têm a presença de parede celular em sua composição. Diferentemente da pneumonia típica, seu quadro é mais arrastado e insidioso. Vamos estudar juntos. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 44 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA O Mycoplasma pneumoniae não se cora pelo método de Gram e não é detectável pela bacterioscopia do escarro, apresenta genoma reduzido e sua multiplicação é mais lenta. Sua transmissão ocorre por via respiratória (gotículas), por meio do contato direto próximo com pessoas infectadas. A transmissão intradomiciliar é muito comum. Geralmente a criança adquire a infecção de seus irmãos, pais ou outros familiares também com sintomas semelhantes. Em > 5 anos: As pneumonias atípicas tornam-se significativas! Então, o principal agente é o Mycoplasma pneumoniae Mas não esqueça: entre as típicas, continua o pneumococo! Fonte: Shutterstock. A Chlamydophila pneumoniae é o segundo agente mais encontrado nas pneumonias atípicas. Trata-se de uma bactéria que é parasita celular obrigatório e que necessita de nossas células para completar o ciclo celular. Seu quadro clínico e radiológico são muito semelhantes aos da pneumonia causada pelo mycoplasma. Fonte: Shutterstock. #dicadacoruja A Chlamydia pneumoniae, atualmente chamada de Chlamydophila pneumoniae, é o segundo agente mais importante em pneumonias atípicas. Não a confunda com a Chlamydia trachomatis dos bebês! 6.1.3.1 AGENTES ETIOLÓGICOS Aqui também achamos que vale a pena a repetição: Estratégia MED 45Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.3.2 ASPECTOS CLÍNICOS/QUADRO CLÍNICO As formas clínicas de pneumonia atípica são geralmente leves, mas podemos observar alguns quadros graves, que geralmente estão relacionados à presença de doenças de base. Existem, ainda, pessoas que são portadoras assintomáticas. Evolução clássica da BCP atípica: Sintomas iniciam-se com IVAS de evolução insidiosa de mais de uma semana. Costuma ser afebril (ou com febre baixa, intermitente), em geral, com o paciente em bom estado geral. Os principais sintomas são tosse seca, rouquidão, odinofagia e coriza (mais frequente a hialina). A tosse seca, que é o padrão clássico, pode evoluir para produtiva ou, mais raramente, ser irritativa e frequente, assemelhando-se a um padrão chamado coqueluchoide, ou seja, acessos de tosse que levam a criança a perder o fôlego. Outros sintomas que podem estar associados e costumam não ser intensos são: cefaleia, mal-estar, mialgia ou, ainda, adinamia. Algumas crianças podem apresentar artralgia, exantema ou até mesmo conjuntivite. Fique ligado! Esses sintomas associados são muito descritos nas provas de Residência Médica, para diferenciá-la de pneumonia típica. É usual, além da tosse seca, serem referidos um ou mais desses sintomas associados e é muito frequente a história de ter sido feito uso anterior de antibiótico (em geral, amoxicilina), sem melhora, ou seja, uma falha terapêutica prévia. Além disso, é comum o relato de familiares com sintomas semelhantes. #dicadacoruja Quando as provas questionam sobre a BCP atípica, as grandes dicas são: quadro arrastado de tosse em um paciente > 5 anos, em bom estado geral, com presença de sintomas associados (cefaleia, mal-estar, dor de garganta) e algum familiar apresenta os mesmos sintomas. Além disso, o paciente não responde ao tratamento com betalactâmicos. Ao exame, além do bom estado geral, comumente encontrado, há a taquipneia, que na BCP atípica não é obrigatória. A dispneia nem sempre está presente. À ausculta é inespecífica com estertores finos, que podem estar mascarados por sibilos (quase sempre presentes). Podem ser encontrados: estertores grossos e roncos, além da hipoxemia, mais intensa nos casos severos. Otite e miringite bolhosa (otoscopia com aspecto de bolhas) são incomuns em pacientes com Mycoplasma pneumoniae, mas são descritas e já apareceram em casos clínicos de questões. As complicações como o derrame pleural são raras, mas podem ser observadas em uma pequena proporção de pacientes. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 46 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Vamos treinar: CAI NA PROVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 2023) Paciente de 7 anos, previamente hígido, com calendário vacinal completo, foi trazido à consulta por febre de até 38o C há 24 horas, antecedida por 2 dias de dor de garganta, mialgias nos membros inferiores e dorso, tosse com sibilos e cefaleia frontal. Seus dois irmãos também estavam com tosse e faringite. A radiografia de tórax mostrou infiltrado peri-hilar, mais evidente nos lobos inferiores, e um pequeno derrame pleural à direita. Qual a provável etiologia e qual o primeiro tratamento recomendado? A) Mycoplasma – azitromicina por via oral B) Estafilococo – oxacilina por via intravenosa C) Pneumococo – amoxicilina-clavulanato por via oral D) Vírus sincicial respiratório – oxigenoterapia COMENTÁRIOS: Esse escolar apresenta tosse, cefaleia, mialgia e dor de garganta, com infiltrado peri-hilar, quadro muito sugestivo de pneumonia atípica, causada pelo mycoplasma. Correta A, o quadro clínico e radiológico é compatível com pneumonia atípica e o tratamento indicado é adequado. Incorreta B, suspeitamos de pneumonia estafilocócica quando existem algumas condições associadas tais como: celulite, impetigo estafilocócico, artrite séptica, desnutrição grave, osteomielite, fibrose cística entre outras. Incorreta C, os dados de dor de garganta, mialgia, antecedentes de irmãos com sintomas semelhantes reforçam a probabilidade de pneumonia típica, além disso, na pneumonia pneumocócica o padrão radiológico é de consolidação homogênea e não perihilar. Incorreta D a pneumonia pelo vírus sincicial respiratório é mais frequente em lactentes até 2 anos de idade e se manifesta com sibilância, o padrão radiológico clássico é de hiperinsuflação pulmonar e não é comum encontrarmos derrame pleural nessa condição. Estratégia MED 47Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.3.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico é essencialmente clínico e não é necessária a radiografia de tórax para firmá-lo. Algumas bancas examinadoras usam o infiltrado intersticial para direcionar o aluno para agentes atípicos. #dicadacoruja Fique atento e “não ligue” tanto para a radiografia, pois as alterações radiológicas observadas são inespecíficas e variadas. De toda forma, na maioria das questões de pneumonia atípica é relatado o padrão de radiografia de tórax com infiltrado intersticial difuso ou bilateral. Em relação ao hemograma, não há indicação para ser feito de rotina, ele deve ser realizado apenas em caso de internação. O hemograma costuma ser normal, mas pode ocorrer leucocitose com desvio à esquerda, nos casos mais graves, e o PCR tende a aumentar, contudo não tãosignificativamente, como nos quadros bacterianos típicos. Um exame que pode ser realizado na tentativa de identificar a infecção pelo M. pneumoniae é a dosagem de crioaglutininas, um anticorpo inespecífico, que se eleva nesse caso. Porém, a interpretação desse exame deve ser cautelosa e analisada em conjunto com todos os dados clínicos e epidemiológicos. As crioaglutininas também podem estar aumentadas em infecções por outros agentes, como infecções respiratórias por Klebsiella pneumoniae, citomegalovírus e vírus Epstein-Barr, além de outras patologias, como nas anemias hemolíticas e em neoplasias. Dessa maneira, esse exame pode ajudar na avaliação da hipótese diagnóstica, visto em conjunto com os demais dados, e ter um valor prognóstico, uma vez que valores mais altos estão associados a pneumonias mais graves pelo mycoplasma. Veja uma questão que cobrou esse conhecimento em particular: CAI NA PROVA (UFRJ – 2018) Escolar, oito anos, feminina, é levada à unidade básica de saúde com tosse iniciada há três semanas, cefaleia, febre baixa e odinofagia. Exame físico: sibilos bilaterais à ausculta respiratória. RX de tórax: infiltrados intersticiais discretos em ambas as bases pulmonares. O exame laboratorial que justifica o tratamento com macrolídeo é: A) Crioaglutininas> 1.64. B) Leucocitose com linfocitose. C) Linfócitos atípicos > 25%. D) Hematócrito > 20%. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 48 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa B: leucocitose com linfocitose é mais comum nas pneumonias virais e na coqueluche. Incorreta a alternativa C: a presença de linfócitos atípicos acontece mais em uma infecção viral. Incorreta a alternativa D: o exame de hematócrito, independentemente do seu valor, é usado para dar uma referência sobre a hemoglobina do indivíduo testado e, indiretamente, também para sua hidratação, não sendo útil na avaliação de processos respiratórios não associados a processos hematológicos. O diagnóstico específico pode ser feito por meio da sorologia, detectando-se anticorpos específicos contra o mycoplasma e clamídia. 6.1.3.4 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS O principal diagnóstico diferencial das pneumonias atípicas é composto, fundamentalmente, pelas outras pneumonias! Pneumonia afebril do lactente Causada pela Chlamydia trachomatis, o diferencial é facilmente descoberto, pois é indicado pela faixa etária. Hemograma na infecção por clamídia mostra eosinofilia e leucocitose. Pneumonias típicas Paciente em regular estado geral, febre alta. Na radiografia de tórax, podemos observar opacificação ou consolidação. Asma Quadro inflamatório crônico das vias aéreas, que se manifesta por crises de sibilância recorrentes, desencadeadas não só por infecções de vias aéreas, mas também por alérgenos como poeira, ácaros, entre outros. Coqueluche Quadros clínico e radiológico semelhantes. Hemograma auxilia a diferenciação entre essas duas condições, já que na coqueluche é comum encontrarmos leucocitose importante (geralmente acima de 20.000 leucócitos) e linfocitose significativa, em geral, acima de 50%. IVAS Quadro agudo de sintomas respiratórios altos. Melhora em até 7 dias. Tuberculose História de febre e tosse persistente há mais de 2 semanas, perda de peso, falta de resposta a antibióticos comuns. Relato de tossidor crônico na família em contato com a criança. Correta a alternativa A. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 49 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.3.5 TRATAMENTO O mycoplasma é resistente aos antibióticos betalactâmicos e sensível às quinolonas e macrolídeos. As quinolonas não são medicamentos utilizados como primeira opção em crianças. Dessa maneira, o tratamento da pneumonia atípica em crianças deve ser feito com macrolídeos, por via oral. É preferencial o uso da claritromicina na dose de 15mg/kg/dia, de 12 em 12h, por 10 dias, ou da azitromicina na dose de 10mg/ kg/dia, 1 vez ao dia, por 5 dias. A eritromicina é outra opção de macrolídeo, porém ocasiona efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais, e tem a posologia de 6 em 6 horas, que dificulta a administração e, consequentemente, a adesão ao tratamento. Mesmo em caso de necessidade de internação, é preferencial o uso dos macrolídeos por via oral, desde que o paciente tenha condições de ingerir o medicamento, já que a efetividade das duas vias de administração é semelhante. Mais uma questão que aborda o que comentamos até aqui: CAI NA PROVA (SES Pernambuco 2022) RCC, 14 anos, vem com quadro de tosse há 10 dias, acompanhada de febrícula. Rash cutâneo no início do quadro já superado. Queixas de mialgia e cefaleia há cinco dias. Ao exame: EGR, consciente, eupneica, corada, hidratada. AR: MV+ com estertores finos esparsos em AHT. FR: 26 ipm, SatO2:98%. Sem outras alterações ao exame físico. Até o momento, apenas em uso de sintomáticos. Sobre esse diagnóstico, analise as afirmativas abaixo: I. O padrão radiológico é patognomônico e define o diagnóstico. II. O uso de macrolídeos é a terapêutica de escolha. III. Dada a evolução arrastada de 10 dias, tem indicação de internamento para cobertura ampla para bactérias GRAM (+) e GRAM (-). IV. Hemograma e hemocultura devem ser solicitados para definir início da antibioticoterapia. Está CORRETO o que se afirma, apenas, em A) I e IV. B) II e IV. C) III. D) III e IV. E) II. COMENTÁRIOS: Temos um adolescente com tosse e febre baixa arrastada há 10 dias, com antecedente de exantema e acompanhada de mialgia e cefaleia. Esse quadro é característico da pneumonia atípica. Estratégia MED 50Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA I. Incorreta. Embora o padrão característico seja intersticial, ele não é patognomônico pois pneumonias virais também podem se manifestar dessa forma. II. Correta. O tratamento com macrolídeos é a melhor opção para a pneumonia atípica. III. Incorreta. Não há indicação de internação pois não se observa hipoxemia, desconforto respiratório e queda importante do estado geral. O tratamento pode ser domiciliar. IV. Incorreta. A pneumonia atípica não costuma apresentar alterações no hemograma e a hemocultura não é capaz de isolar os agentes causadores. A sorologia é uma opção para o diagnóstico específico. Vamos elencar o que é mais importante aqui? Venha conosco! Principal agente? Mycoplasma pneumoniae História clínica clássica: Paciente maior de 5 anos, em bom estado geral, com quadro arrastado (geralmente mais de uma semana) de tosse seca, acompanhado, na maioria das vezes, de outros sintomas, como: mialgia, cefaleia, dor de garganta, rouquidão e adinamia. Contatos domiciliares com sintomas parecidos. Pode haver uma febrícula (ou ausência de febre). História de uso de amoxicilina, sem melhora do quadro clínico. Idade: acomete os maiores de 5 anos, ou seja, escolares e adolescentes. Radiografia de tórax? Não é necessária para o diagnóstico, mas quando realizada, o padrão geralmente descrito é um infiltrado intersticial difuso. Tratamento: macrolídeos VO Claritromicina 15mg/kg/dia, de 12 em 12h, por 10 dias, ou Azitromicina 10mg/kg/dia, 1 vez ao dia, por 5 dias. 6.2 PNEUMONIA VIRAL Quando nós, médicos, pensamos em pneumonia na pediatria, usualmente lembramos das pneumonias bacterianas que geralmente são secundárias às IVAS. Contudo, precisamos lembrar também da pneumonia viral, que é um tema importante para as provas de Residência. Por esse motivo, precisamos ter atenção aos detalhes das questões sobre o tema. Veja um exemplo: Correta a alternativa E. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 51 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAI NA PROVA (UFSC 2018) Menina, 6 meses, inicia com quadro de febre, rinorreia, obstrução nasal. Evolui com dispneia sibilante progressiva em três dias. No quinto para o sexto dia apresenta um aumento da dispneia e dessaturação. Ao exame clínico,apresenta sibilos e estertores subcrepitantes disseminados. A radiografia evidencia infiltrado instersticial difuso de características centrífugas. O médico sugere que essa criança teve uma bronquiolite com provável evolução para: A) pneumonia viral. B) pneumonia por mycoplasma. C) pneumonia por clamídia. D) pneumonia por estafilococo. E) pneumonia por pneumococo. COMENTÁRIO: Caro colega, quem errou essa questão provavelmente pensou certo: a principal complicação de uma BQL é a pneumonia e quando pensamos nela “simplesmente” como a infecção secundária que nos preocupa Assim, fique atento! Na pneumonia viral, o paciente está em bom estado geral, com febre há menos de 72 horas e apresenta melhora espontaneamente. O paciente geralmente tem tosse, coriza e febre baixa. Pode-se encontrar, ainda, a presença de sibilos à ausculta pulmonar. O vírus sincicial respiratório é o agente de maior prevalência. Existem, também, outros responsáveis pela pneumonia viral, como: influenza, parainfluenza, adenovírus, rinovírus, metapneumovírus e bocavírus, esses dois últimos associados à síndrome da angústia respiratória. Os quadros virais correspondem a 90% dos casos em menores de 1 ano. Vírus sincicial respiratório é o de maior incidência. (“evolução para” pneumonia, como a questão coloca), escolhemos a alternativa E, pneumonia por pneumococo. Porém, quem respondeu erradamente a alternativa E esqueceu de atentar nos detalhes importantes: temos uma história clássica de bronquiolite (BQL) contada pelo examinador. Temos um lactente que evolui “apenas” com piora respiratória, repare que NÃO HÁ PIORA do estado geral (pelo menos, não relatado). A piora é exclusivamente respiratória no 5º para o 6º dia (com aumento da dispneia e dessaturação e, ao exame clínico, sibilos e estertores subcrepitantes disseminados), que é o clássico da BQL. Não há febre ou o aumento dela e nem a piora do estado geral, o que nos faria pensar em uma infecção secundária, bacteriana. A radiografia também evidencia infiltrado intersticial difuso, que remete a um quadro “não típico” ou viral e o principal agente de pneumonias adquiridas na comunidade, inclusive, descrito nessa faixa etária, é o vírus sincicial respiratório, agente etiológico da BQL. Lembre-se de que os vírus são a principal causa de pneumonia em crianças de 1 mês a 5 anos! Então, a resposta correta dessa questão é a alternativa A. Correta a alternativa A. Estratégia MED 52Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A radiografia de tórax pode mostrar sinais de hiperinsuflação e infiltrado intersticial. Como sabemos, as pneumonias virais são, geralmente, autolimitadas. Seu tratamento é de suporte, sendo indicada a fluidificação das secreções, aumento da oferta hídrica e controle da febre. Em casos de lactentes com desconforto respiratório e queda da saturação, a internação hospitalar com suporte ventilatório pode ser indicada de forma individualizada. Você encontrará mais informações acerca da pneumonia viral aguda no livro digital sobre bronquiolite. 7.0 RADIOGRAFIA DE CONTROLE CAPÍTULO Na maioria das vezes, o quadro clínico é suficiente para respaldar a melhora do paciente, mas há situações que podem requerer a radiografia de controle. Quando devemos realizar a radiografia de controle após o tratamento de uma pneumonia? As situações que indicam radiografia de controle são: • Pneumonias recorrentes na mesma localização; • Suspeita de malformações ou aspiração de corpo estranho; • Em casos de pneumonia redonda, considerar colapso pulmonar ou falta de resposta clínica. Pneumonia redonda: padrão atípico de pneumonia cujo principal agente etiológico é o pneumococo. É mais comum em crianças. Nessa idade, os poros de Kohn e os canais de Lambert são pouco desenvolvidos, causando a propagação centrífuga dos agentes infecciosos e do processo inflamatório. Estamos quase chegando ao final deste capítulo. Não desanime, vamos lá! 8.0 COMPLICAÇÕES CAPÍTULO Nem todos os casos de pneumonias evoluem de forma satisfatória, mesmo com tratamento adequado. Os principais fatores de risco associados às complicações são: ✓ desnutrição; ✓ baixa idade; ✓ presença de comorbidades; ✓ baixo peso ao nascer; ✓ episódios anteriores de sibilância e pneumonias; ✓ ausência de aleitamento materno; ✓ imunização incompleta. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 53 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Derrame pleural Complicação mais frequentemente encontrada. Como o nome indica: líquido (secreção) entre as pleuras parietal e visceral. Atelectasia Fechamento de uma área pulmonar, por absorção do ar de dentro do alvéolo. Cria uma opacificação à radiografia de tórax, mais triangular ou de aspecto “repuxado”. Pneumatocele Espaço aerado arredondado (cístico) no parênquima pulmonar; pode ter parede fina. Abscesso Área de necrose pulmonar arredondada, bem delimitada, circunscrita por uma parede, geralmente espessa e, muitas vezes, com conteúdo purulento, formando nível líquido. Pneumotórax Presença de ar entre as pleuras. Necrose pulmonar Trata-se de necrose, pela infecção, de uma parte do parênquima pulmonar; é muito grave e, felizmente, mais rara. � DERRAME PLEURAL É a complicação mais frequente das pneumonias e que mais cai nos concursos. Os derrames pleurais podem ser divididos em: ✓ Transudatos: não há processo inflamatório e sim alteração na reabsorção do líquido pleural; ✓ Exsudato: apresenta quadro inflamatório associado. O derrame pleural parapneumônico pode ser classificado, de acordo com a evolução em três estágios: ✓ Exsudativo: derrame parapneumônico simples; ✓ Fibrinopurulento: derrame parapneumônico complicado; ✓ Fase de organização: observa-se atividade fibroblástica e espessamento de pleura. O empiema é uma espécie de exsudato e pode ser definido pela presença de bactérias ou pus na cavidade pleural, sendo considerado um derrame complicado. É muito importante saber inferir e diagnosticar pela clínica um derrame pleural. Uma característica muito comum em crianças com derrame pleural é a persistência da febre, mesmo em vigência de tratamento adequado. Sabemos que a pandemia de COVID 19 determinou medidas amplas de isolamento social para toda a sociedade. Acredita-se que essas medidas possam ter levado a uma menor colonização de nasofaringe em crianças pelo Streptococcus pneumoniae. A colonização de nasofaringe em crianças pelo Streptococcus pneumoniae estimula as respostas humoral e celular, provavelmente essa falta de colonização pode ter contribuído para o surgimento de pneumonias graves e relacionadas a complicações, que foram observadas após o advento da pandemia. As possíveis complicações decorrentes das pneumonias podem ser: Estratégia MED 54Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A persistência da febre durante o tratamento da pneumonia é uma das principais dicas para a presença do derrame pleural! Observe como essa informação é explorada pelos examinadores: (ENARE 2023) Uma criança em idade escolar está em antibioticoterapia, há 48 horas, por pneumonia bacteriana. Ela é levada ao hospital para reavaliação, pois não teve melhora da curva térmica, está prostrada e com perda de apetite. Ao exame físico, apresenta diminuição do murmúrio vesicular em base esquerda e tem bom padrão respiratório, apesar de manter uma posição antálgica em escoliose. Qual, entre as seguintes, é a conduta mais indicada no momento? A) Realizar radiografia de tórax. B) Trocar antibiótico e reavaliar em 48 a 72 horas. C) Manter antibiótico e aguardar completar 72 horas de tratamento para uma reavaliação mais adequada. D) Realizar tomografia de tórax com contraste. E) Associar um segundo antibiótico ao esquema inicial, para cobertura de germes atípicos, e reavaliar em 48 horas. CAI NA PROVA COMENTÁRIOS: Frente a uma pneumonia bacteriana, que não apresenta melhoraapós 48 horas de antibioticoterapia, devemos pensar em complicações e realizar uma radiografia de tórax, antes de modificar a antibioticoterapia. Correta A, a radiografia de tórax é o método de imagem que pode diagnosticar a presença do derrame pleural, não há necessidade de troca de antibiótico, pois a principal bactéria envolvida é o pneumococo. Incorreta B, a troca de antibiótico é apropriada quando não encontramos complicações que justifiquem a persistência da febre. Incorreta C, se essa criança tiver um derrame pleural, a conduta não será expectante, devemos fazer a toracocentese. Incorreta C, a tomografia expõe a criança a uma radiação desnecessária, a radiografia de tórax é um bom método para detecção do derrame pleural. Incorreta E, antes de modificar a antibioticoterapia, precisamos nos certificar de que não estamos diante de alguma complicação. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 55 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA O primeiro conceito fundamental a saber é que, na presença de derrame pleural, deve ser feita, sempre que possível, a punção torácica para análise do líquido pleural, que é chamada de toracocentese! Primeiro conceito fundamental! Derrame pleural = toracocentese (ou punção torácica) Só não é possível realizar a toracocentese em derrames pleurais laminares, pois eles têm um volume tão diminuto que não permitem a punção. Outras contraindicações para a toracocentese são: pacientes anticoagulados ou com distúrbios hemorrágicos, entre outros. Atenção: a punção deve ser realizada para que possamos analisar o líquido pleural do ponto de vista bacteriológico (cultura e Gram) e bioquimico. Segundo conceito fundamental! A conduta no derrame pleural depende da análise do líquido da toracocentese! Lembre-se de que os sinais semiológicos característicos são: abolição dos murmúrios vesiculares à ausculta pulmonar e macicez à percussão. Algumas crianças podem apresentar dor pleurítica, posição antálgica e desconforto respiratório progressivo. A radiografia de tórax é um método de imagem muito acessível e que permite a comprovação do derrame pleural. Na incidência de Laurel (decúbito lateral com raios horizontais), derrames de menor volume podem ser identificados. A ultrassonografia (USG) de tórax é útil para avaliar a magnitude e o estágio do derrame pleural, sendo uma excelente ferramenta de apoio diagnóstico. Esse método é considerado superior à tomografia de tórax em sua capacidade de evidenciar componentes do derrame como loculações e presença de fibrina. A tomografia de tórax é reservada para casos especiais e traz poucos benefícios em relação à ultrassonografia. Atenção: se houver mais de uma complicação ao mesmo tempo, possivelmente se trata de uma pneumonia pelo Staphylococcus aureus. Estratégia MED 56Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Se a análise do líquido pleural, ou seja, se a toracocentese mostrar um derrame parapneumônico complicado, a drenagem torácica em selo d’água está indicada! Contudo, até o momento não existe um consenso a respeito dos critérios de indicação de drenagem torácica nessa situação. Descubra agora! E agora, você me pergunta… …professora, o que é um derrame parapneumônico complicado? Derrame complicado: ¾ Líquido com aspecto purulento (= Empiema); ¾ Presença de bactérias Gram positivas no Gram ou na cultura; ¾ Comprometimento da expansibilidade pulmonar devido a derrame extenso; ¾ Glicose 1000 U/L; ¾ Presença de septações ou loculações *O Tratado de Pediatria, baseado nas recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia sugere o seguinte fluxograma para a abordagem dos derrames pleurais: Vamos apresentar os critérios utilizados pela Sociedade Brasileira de Pediatria: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 57 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Os fibrinolíticos são substâncias que rompem as septações do derrame pleural e podem ser utilizadas em alguns casos, pois existem situações em que apenas a drenagem pleural não é suficiente para a resolução do derrame complicado. Terceiro conceito fundamental! As complicações sempre implicam em gravidade, portanto, em internação! Figura 9: fluxograma de abordagem do derrame pleural parapneumônico. Drenagem pH > 7,2 Glicose > 40 Observação 24 - 48 horas Reavaliação Piora Melhora: manter conduta Purulento Não purulento Toracocentese (Gram e cultura) Derrame pleural pHfebre persistente. Fique ligado! Nessa situação, a principal suspeita deve ser o derrame pleural. Correta a alternativa A, o que está fazendo com que a criança mantenha a febre é uma complicação: o derrame pleural. Não há necessidade de mudança de antibioticoterapia nesse momento. Incorretas as alternativas B e C, esses antibióticos são utilizados para pneumonias adquiridas dentro do hospital. Já sabemos o motivo da persistência da febre, o derrame pleural. Incorreta a alternativa D, todo derrame pleural deve ser submetido à toracocentese, a menos que ele seja laminar ou que a criança esteja com graves problemas de coagulação. � ATELECTASIA Quando a clínica fala a favor de uma BCP viral, principalmente em lactentes ou em crianças menores de 5 anos, e suspeitamos de uma complicação, você lembra qual é a principal? É a atelectasia! Ela consiste numa das principais complicações da bronquiolite. Corresponde ao fechamento de um segmento pulmonar e aparece como uma opacifidade localizada, com aspecto “repuxado” ou triangular. As atelectasias são muito pouco cobradas como complicações em questões de BCP, aparecendo mais frequentemente em casos de bronquiolite. É uma complicação bem menos grave que as demais, sendo mais observada em lactentes. Vamos ilustrar a atelectasia com algumas radiografias de tórax: Estratégia MED 61Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Figura 12: Imagem homogênea em lobo superior direito, que corresponde à área de atelectasia. Fonte: Shutterstock. Figura 13: Atelectasia em ápice direito visível nas incidências de frente e perfil. Fonte: Shutterstock. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 62 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA � PNEUMATOCELE As pneumatoceles se caracterizam por lesões císticas de parede muito fina, preenchidas por ar, que podem ocorrer durante o tratamento de crianças com pneumonia bacteriana. Elas resultam de necrose bronquiolar e alveolar. As pneumatoceles podem coalescer, formando fístulas e pneumotórax. Embora saibamos que a pneumonia pelo estafilococo leva a um risco maior de desenvolvimento de pneumatoceles, elas também podem ser encontradas em infecções pulmonares por outras bactérias como o pneumococo e Haemophilus. Agora vamos ilustrar esses conceitos, observando uma radiografia. Veja o pulmão direito dessa criança: Figura 14: Área arredondada de parede fina e preenchida de ar em hemitórax direito. Fonte: Shutterstock. Figura 15: Tomografia de tórax, com imagem de várias pneumatoceles à direita. (Acervo pessoal). � ABSCESSOS Os abscessos pulmonares são coleções de pus decorrentes de necrose pulmonar. Diferentemente das pneumatoceles, eles apresentam paredes espessadas e podem demonstrar nível líquido em seu interior. Estratégia MED 63Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Repare que, nessa radiografia de tórax portátil, temos o abscesso à esquerda e, apesar de sua parede espessada não ser bem visível, nota-se o nível líquido, possivelmente purulento, que não deixa dúvidas de que se trata de um abscesso. Figura 16: Abscesso pulmonar à esquerda. Fonte: Shutterstock. � PNEUMONIA NECROSANTE A pneumonia necrosante ou necrotizante é uma complicação rara, porém muito grave, de uma pneumonia adquirida na comunidade, mais comum em crianças abaixo de 5 anos. É caracterizada por necrose, como o próprio nome indica, liquefação, que é consequência da necrose, e cavitações no parênquima pulmonar, que se formam após a absorção da necrose. Acredita-se que a necrose seja decorrente da diminuição do fluxo sanguíneo de vasos pulmonares que sofreram trombose. O seu principal agente é o Streptococcus pneumoniae, assim como em todas as outras complicações, embora outros agentes possam estar envolvidos. Vamos colocar em prática o que aprendemos? CAI NA PROVA (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE 2023) Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as Pneumonias Adquiridas na Comunidade (PAC) ainda se configuram como a causa mais comum de morbidade e mortalidade em bebês e crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Em 2022, observou-se um aumento nos casos de pneumonias, com evolução rápida e grave entre as crianças. Sobre essa condição clínica na faixa etária pediátrica, é INCORRETO afirmar que: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 64 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A) A pneumonia afebril do lactente é comum nos bebês entre 2-3 meses e deve ser considerada naqueles lactentes com estado geral preservado, histórico de conjuntivite, quadro de tosse seca e eosinofilja periférica associada. B) O diagnóstico das PAC é eminentemente clínico valorizando sobretudo a taquipneia, dispensando a realização de radiografia de tórax, que deve ser reservada para os casos graves que demandam internação. C) Os vírus são os principais agentes etiológicos das PAC em crianças de até 5 anos, sendo a coinfecção vírus-vírus e vírus-bactéria cada vez mais descrita. D) A pesquisa de complicações como derrame pleural, abscesso e necrose pulmonar não é necessária diante da persistência da febre e da queda do estado geral em vigência de tratamento ambulatorial para PAC. COMENTÁRIOS: Correta A, porque a pneumonia afebril do lactente se manifesta com conjuntivite, tosse persistente e taquipneia. A radiografia de tórax pode ser normal ou apresentar infiltrado intersticial e no hemograma a eosinofilia é frequente. Correta B, o diagnóstico é clínico e a radiografia de tórax deve ser reservada para casos que necessitam de internação, na dúvida diagnóstica e na suspeita de complicações. Correta C, em crianças menores de 5 anos, os vírus são os principais agentes etiológicos, com destaque para o vírus sincicial respiratório. Incorreta D (gabarito da questão), a persistência da febre e da queda do estado geral em vigência de tratamento ambulatorial são os principais indícios de complicação. A principal complicação observada nas PAC é o derrame pleural. (UNIFESP – 2020) Criança, 2 anos de idade, é internada com diagnóstico de pneumonia. Após 72 horas de uso de penicilina cristalina endovenosa, a criança mantém febre e dispneia. Qual é o próximo passo para a condução do caso? A) Fazer broncoscopia B) Repetir radiografia de tórax C) Fazer tomografia de tórax D) Intensificar fisioterapia respiratória E) Trocar o antibiótico COMENTÁRIO: Nesse caso, em que a criança mantém febre e dispneia após 72 horas de uso de penicilina cristalina endovenosa, é obrigatório pensarmos que pode estar ocorrendo uma complicação. Dessa maneira, o próximo passo para a condução do caso é repetir a radiografia de tórax. Incorretas as alternativas A e C: não há nenhuma indicação de broncoscopia ou TC de tórax nesse caso, visto que são exames mais sofisticados e uma simples radiografia de tórax pode diagnosticar o motivo da persistência dos sintomas. Incorreta a alternativa D: intensificar fisioterapia respiratória só seria uma conduta adequada se o motivo da persistência da febre fosse uma atelectasia e, para isso, devemos fazer a radiografia de tórax antes. Incorreta a alternativa E: caso haja uma complicação na radiografia, como um derrame pleural, por exemplo, pode haver a persistência da febre pelo próprio derrame pleural (maior processo inflamatório). Se a criança estiver com quadro clínico estável (sem piora de estado geral) e HMG e PCR semelhantes ou melhores do que à entrada, deve-se manter a antibioticoterapia. No caso do derrame, indicaremos, em seguida, a toracocentese. Correta a alternativa B. Estratégia MED 65Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA (HOSPITAL EVANGÉLICO DE VILA VELHA 2019) O agente etiológico da pneumonia necrosante na criança é: A) Staphylococcus aureus. B) Pseudomonas aeruginosa. C) Streptococcus pneumoniae. D) Klebsiella pneumoniae. E) Mycobacterium tuberculosis. COMENTÁRIO: O agentemais comum das pneumonias bacterianas é o pneumococo, mesmo em casos de complicação, como a pneumonia necrosante. Correta a alternativa C. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 66 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 9.0 TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES CAPÍTULO Quando existem complicações, além da conduta adequada para cada tipo, a duração do tratamento é importante. Derrames pleurais causados pelo S. pneumoniae e pelo H. influenzae, depois de devidamente drenados, são tratados por 10 a 14 dias; pelo estafilococo, por um tempo maior que 3 a 4 semanas. Assim como nos casos de abscessos, o tratamento deve cobrir, além do pneumococo e do S. aureus, as bactérias anaeróbias. Outro conceito fundamental é que o tratamento antibiótico deve ser ajustado assim que estiverem disponíveis os resultados das culturas, diminuindo-se a cobertura, caso o microrganismo isolado tenha maior sensibilidade, ou aumentando-se o espectro, em casos de resistências. O tratamento de atelectasias é a fisioterapia respiratória, o que só não é indicada nos casos de pneumonias adquiridas na comunidade não complicadas, porque vários estudos randomizados não chegaram a uma conclusão sobre o seu benefício. As pneumatoceles não necessitam de tratamento específico, apenas orientações quanto ao cuidado na fisioterapia respiratória, devido ao risco de rompimento e evolução para pneumotórax. TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES DERRAME PLEURAL ABSCESSO ATELECTASIA PNEUMATOCELE TORACOCENTESE 4 A 8 SEMANAS DE ANTIBIÓTICO FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA CONDUTA EXPECTANTE Empiema? NÃO SIM MANTER ANTIBIOTICOTERAPIA DRENAGEM PNEUMOCOCO 10 A 14 DIAS ESTAFILOCOCO 3 a 4 SEMANAS Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 67 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 10.0 OUTROS ASPECTOS COBRADOS EM PROVAS CAPÍTULO � PNEUMONIA DE ORIGEM PARASITÁRIA Esse tipo de pneumonia aparece nas questões com história de uma criança que já está recebendo a alimentação complementar ou que tem idade para ter contato com os meios de aquisição dos parasitas. A síndrome de Löffler, se caracteriza pelo ciclo pulmonar dos parasitas, em que as larvas alcançam o pulmão por via hematogênica, penetram os alvéolos, amadurecem e, posteriormente, ascendem pela via aérea para descer, em seguida, pelo trato digestivo, até o intestino delgado. Pode causar tosse, sibilância, dispneia ou desconforto respiratório, além de febre intermitente, assim como imagens radiológicas de opacificações que mudam de posições. É interessante lembrar quais são os parasitas que podem causar a síndrome de Löffler. Veja a dica: #dicadacoruja Fonte: Shutterstock. Estratégia MED 68Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Veja o mnemônico para que você recorde os principais agentes na hora da prova! Quem tiver pneumonia, pode não chegar à NASA! • Necator americanus (ancilostomose) • Ancylostoma duodenale (ancilostomose) • Strongyloides stercoralis (estrongiloidíase) • Ascaris lumbricoides (ascaridíase) Atenção! Algumas referências consideram também o Toxocara canis e o Schistosoma mansoni como agentes que fazem ciclo pulmonar e que podem ser causadores das pneumonias parasitárias. Geralmente, no hemograma, há eosinofilia significativa, acima de 30%. CAI NA PROVA (PA - UNIVERSIDADE ESTADUAL SANTARÉM – UEPA - 2018) Menina de 5 anos foi internada com diagnóstico de pneumonia segmentar a direita, em uso de penicilina cristalina há 72 horas e mantém desconforto respiratório. Foi submetida a nova radiografia que evidenciou desaparecimento da opacidade a D e surgimento de opacidade em língula. Exame físico FR de 45 irpm, FC de 96 bpm, murmúrio vesicular presente e simétrico bilateralmente com sibilos difusos. Hemograma com Hb 10,2 g/dl, leucócitos de 15200 (4% bastões, 36 % de segmentados, 30% eosinófilos, 25 % linfócitos e 5% monócitos) e plaquetas 550000/mm3. Os agentes etiológicos mais prováveis são: A) Chlamydia trachomatis e Strongyloides stercoralis. B) Chlamydia trachomatis e Mycoplasma pneumoniae. C) Mycoplasma pneumoniae e Streptococos pneumoniae. D) Ancylostoma duodenal e Schistossoma mansoni. E) Mycoplasma pneumoniae e Ascaris lumbricoides. COMENTÁRIO: Vamos ao caso: criança com 5 anos com diagnóstico de pneumonia segmentar à direita, em uso de penicilina cristalina há 72 horas, mantém desconforto respiratório. Foi feita nova radiografia que evidenciou desaparecimento da opacidade a D e surgimento de opacidade em língula. Isso é muito sugestivo de uma pneumonia parasitária (alterações radiológicas que mudam de lugar). O HMG ajuda a confirmar esse diagnóstico (30% eosinófilos). Ancylostoma duodenale e Schistosoma mansoni. Incorretas as alternativas A e B: a Chlamydia trachomatis está associada à pneumonia afebril do lactente. Incorretas as alternativas C e E: o Mycoplasma pneumoniae produziria uma pneumonia atípica, que não costuma dar condensação à radiografia de tórax e nem eosinofilia no HMG (a Chlamydophila pneumoniae, como agente de pneumonias atípicas, costuma dar eosinofilia, mas não tão intensa). Em uma pneumonia bacteriana típica, causada pelo Streptococcus pneumoniae, ao exame físico, teríamos a criança em regular estado geral e com a ausculta pulmonar clássica de pneumonia, com estertores finos ou sinais de alguma complicação. Sibilos ao exame físico é fato excepcional nas pneumonias bacterianas típicas. No HMG, teríamos leucocitose com predomínio neutrofílico e, muitas vezes, desvio à esquerda. Na radiografia de tórax, teríamos, mais comumente, opacidade homogênea ou condensação, que não muda de posição e, possivelmente, uma complicação pela persistência da febre. Correta a alternativa D: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 69 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA � PNEUMONIAS DE REPETIÇÃO O conceito de pneumonias de repetição ainda não é um consenso na literatura. Sua principal definição é: presença de dois ou mais episódios de BCP em um ano ou de, pelo menos, três em qualquer período, sendo obrigatória a resolução completa da imagem radiológica dessas pneumonias entre os episódios. Uma vez confirmado esse diagnóstico, são necessários investigação e seguimento ambulatorial. A avaliação do estado nutricional é importante, pois a desnutrição é uma condição que predispõe a infecções, como as pneumonias. A anemia ferropriva também deve ser considerada e avaliada por meio da solicitação de HMG, reticulócitos e perfil de ferro. A asma, pela sua alta prevalência, também deve ser sempre considerada na BCP de repetição, porque a inflamação crônica das vias aéreas, quando não é bem controlada, favorece a infecção secundária pulmonar. A árvore brônquica lesada pela inflamação tem menos mecanismos de defesa mucociliar, entre outros, facilitando as IVAS e, consequentemente, a infecção secundária. A asma é a principal causa no nosso meio de BCP de repetição. Crianças portadoras de encefalopatia crônica podem evoluir com quadros de pneumonias de repetição, devido à aspiração de material de orofaringe. Sabe-se que nessa situação, a administração de colírio de atropina sublingual, pode reduzir a salivação, diminuindo a recidiva de pneumonias nesses pacientes, veja como esse assunto já foi explorado: CAI NA PROVA (USP SP 2023) Paciente de 3 anos, sexo masculino, com antecedente de encefalopatia hipóxico-isquêmica, portador de gastrostomia e traqueostomia, foi internado na enfermaria devido ao quadro de pneumonia à direita. O paciente tem antecedente de epilepsia, em uso de ácido valproico, com bom controle das crises, e pneumonias de repetição, com diversas internações no último ano. Durante a internação atual, o paciente foi avaliado por equipe de fonoaudiologia, que identificou distúrbio de deglutição e sialorreia. Qual das alternativas abaixo contém medicações que devem ser adicionadas às de uso contínuo, com o objetivo de reduzir a recorrência destesquadros pulmonares? A) Amoxicilina em dose profilática. B) Pró-cinético e bloqueador H2. C) Colírio de atropina via oral. D) Benzodiazepínicos de absorção lenta. COMENTÁRIOS: O sulfato de atropina é uma medicação que é capaz de bloquear os receptores muscarínicos nas glândulas salivares, causando redução da produção de saliva. Estudos realizados em crianças com encefalopatia hipóxico-isquêmica demonstraram segurança de seu uso, além de eficácia no tratamento da sialorreia, quando utilizada por via sublingual. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 70 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAI NA PROVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ 2017) A causa mais comum de pneumonias de repetição na infância é: A) Asma. B) Tuberculose. C) Refluxo gastroesôfágico. D) Imunodeficiência. E) Cardiopatia congênita. COMENTÁRIO: a asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, bastante prevalente na população, que predispõe a pneumonias, quando mal controlada. Incorreta a alternativa B: a tuberculose é um diagnóstico diferencial de pneumonias de repetição. Quando há essa suspeita, é importante a investigação para descartar-se um quadro de tuberculose. Incorreta a alternativa C: refluxo gastroesofágico pode ser causa de pneumonias de repetição, mas é menos prevalente. Incorreta a alternativa D: imunodeficiência também pode ser causa de pneumonias de repetição, porém é pouco prevalente. Incorreta a alternativa E: embora cardiopatias com hiperfluxo pulmonar possam causar pneumonias de repetição, a prevalência da asma é ainda maior. Incorreta A, não estamos diante de um problema de imunidade apenas, e sim uma tendência que esses pacientes neuropatas têm de broncoaspirar. Incorreta B, a criança já tem gastrostomia, e pouco provavelmente tem refluxo gastroesofágico. Assim, esses medicamentos não seriam eficazes. Correta C, o colírio de atropina pode reduzir a salivação, diminuindo o risco de broncoaspiração e pneumonias de repetição. Incorreta D, os benzodiazepínicos podem aumentar a secreção e diminuir o clearance das secreções respiratórias. Duas possibilidades de BCP de repetição que apareceram nas provas são: • Aspiração de corpos estranhos: geralmente com história de engasgos prévios ou de início recente de pneumonias de repetição, sempre na mesma localização (usualmente à direita), em criança anteriormente saudável; • Tuberculose: nesse caso, a pneumonia de repetição também ocorre na mesma localização, mas a criança tem uma falha terapêutica no uso de amoxicilina (ou amoxicilina com clavulanato) e uma história de tosse arrastada, com outros sintomas associados sugestivos de tuberculose, além de antecedentes epidemiológicos positivos (você pode obter mais informações no livro digital de Tuberculose na Infância). Veja como esse assunto cai em provas: Correta a alternativa A: Estratégia MED 71Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA As cardiopatias são outra causa de pneumonias de repetição. A identificação é possível pela história de bebês com cansaço e/ou cianose ao mamar, e crianças que apresentam esses sintomas quando brincam ou correm. No exame físico, podemos encontrar a ausculta de sopros cardíacos, alterações no ritmo cardíaco, hepatomegalia, entre outros sinais. A confirmação é possível com a realização do ecocardiograma. Por fim, as imunodeficiências primárias e secundárias consistem numa outra causa de pneumonias de repetição. Nesse caso, observamos infecções em órgãos diversos, sinalizando um comprometimento imunológico sistêmico. � PNEUMONIA ASPIRATIVA Quando há passagem de material da cavidade oral, esôfago ou estômago para as vias respiratórias, podemos encontrar as pneumonias aspirativas. Isso ocorre usualmente em crianças com problemas de deglutição (neuropatas), refluxo gastroesofágico e malformações congênitas. Sua etiologia é composta por germes gram positivos e negativos, além de anaeróbios. Seu tratamento exige antibióticos de amplo espectro. A radiografia de tórax costuma mostrar um infiltrado nos segmentos superiores do pulmão; além disso, é esperada a formação de abscessos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, o tratamento dessa condição pode ser realizado com: • Penicilina; • Amoxicilina+clavulanato endovenosa; • Amoxicilina+sulbactan endovenosa; • Cefalosporina de segunda ou terceira geração associada à clindamicina. (UERJ 2023) No paciente com quadro de pneumonia bacteriana de repetição, em uma mesma topografia pulmonar, o exame que mais auxilia a investigação diagnóstica é: A) tomografia computadorizada de tórax B) dosagem de imunoglobulinas C) contagem de células CD D) broncoscopia pulmonar COMENTÁRIOS: A aspiração de corpos estranhos geralmente cursa com antecedente de engasgos prévios ou de início recente de pneumonias de repetição, sempre na mesma localização em criança anteriormente saudável. Incorreta A, nem todos os objetos aspirados por crianças são radiopacos, na maioria das vezes são alimentos que não podem ser visíveis em um exame de tomografia. Incorreta B, embora a dosagem de imunoglobulinas possa auxiliar o diagnóstico de algum tipo de imunodeficiência, as pneumonias de repetição em uma mesma localização, são mais sugestivas da aspiração de corpo estranho. Incorreta C, a contagem de células CD pode auxiliar o diagnóstico de algum tipo de imunodeficiência, mas nesse caso, as pneumonias podem surgir em qualquer área do pulmão e não na mesma localização. Correta D, esse é o exame de eleição e que pode tratar o paciente. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 72 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA � PNEUMONIA POR PNEUMOCYSTIS JIROVECII O Pneumocystis jirovecii (antigo Pneumocystis carinii) é um agente oportunista que causa pneumonias em imunodeprimidos, geralmente com hipoxemias severas. Acontece mais frequentemente em pacientes HIV positivos ou em uso crônico de corticoide sistêmico. Esse assunto é abordado pela Infectologia. � PNEUMONIA NOSOCOMIAL O conceito de pneumonia nosocomial ou hospitalar é o da BCP que se desenvolve após 48 horas da internação hospitalar. Nos primeiros 5 dias de internação, predominam o pneumococo, o S. aureus e o H. influenzae, além de bactérias atípicas como agentes etiológicos da BCP. Nesses casos, o tratamento antibiótico segue o mesmo explicado para a falha terapêutica dos pacientes internados. As bactérias causadoras de infecção hospitalar após esse período de 5 dias de internação são: ¾ Pseudomonas aeruginosa; ¾ Klebsiella pneumoniae; ¾ Staphylococcus aureus (resistente à oxacilina); ¾ Enterobacter sp; ¾ Escherichia coli. Querido colega, agora quero apresentar um quadro em que se observam determinados fatores de risco que indicam um provável agente etiológico. Isso já caiu em prova, fique atento! Fator de risco Provável agente etiológico Crianças maiores de 5 anos com tosse arrastada, pouco produtiva Mycoplasma pneumoniae Crianças imunossuprimidas ou em tratamento antineoplásico Staphylococcus aureus Nocardia sp Aspergiluus Crianças infectadas pelo HIV em tratamento irregular Penumocistis jirovecci Crianças portadoras de fibrose cística Pseudomonas aeruginosa Histórico de internações recentes, manipulação cirúrgica, uso de catéteres Staphylococcus aureus meticilino resistente Manores de 1 ano com impetigo, celulite, porta de entrada Staphylococcus aureus Crianças menores de 5 anos com imunização incompleta Haemophylus influenzae tipo B Tosse e febre prolongadas, emagrecimento e piora radiológica Mycobacterium tuberculosis Varicela/escarlatina/sepse Streptococcus pyogenes Essa questão do SUS de SP cobrou exatamente essa tabela, veja: Estratégia MED 73Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAI NA PROVA (SUS SP 2023) Apesar do desenvolvimento de vacinas eficazes e novo testes de diagnósticos rápidos para detectar agentes virais e bacterianos,a PAC e suas complicações representam uma importante causa de morbidade e mortalidade na população pediátrica. O pneumococo é o principal agente bacteriano na PAC, mas há situações e condições clinicas que se relacionam a possíveis agentes etiológicos. Com relação a esse assunto, considere as seguintes condições de risco de pneumonias complicadas na infância e possíveis agentes etiológicos. Condições de risco. 1) tosse crônica, febre prolongada, emagrecimento e piora radiológica B 2) quadro de varicela D 3) Pacientes com fibrose cística C 4) infectados pelo HIV em tratamento irregular E 5) maiores de 5 anos de idade com tosse pouco produtiva subaguda ou crônica A Possíveis agentes etiologicos a) Mycoplasma pneumoniae b) Mycobectertum tuberculosis c) Pseudomonos aeruginosa d) Streptoccocus pyogenes e) Pneumocystis jirovecci Correlação correta: 1b; 2d; 3c; 4e; 5a. A) 1b; 2c; 3d; 4e; 5a B) 1b; 2d; 3c; 4e; 5a C) 1a; 2c; 3d; 4e; 5b D) 1a: 2d: 3c: 4e: 5b E) 1d; 2c; 3a; 4e; 5b COMENTÁRIO: Gabarito: B. Por fim, comentaremos sobre um diagnóstico que se assemelha às pneumonias, porém é uma condição normal! Em lactentes, podemos observar, à radiografia de tórax, uma imagem que corresponde à presença do timo hipertrofiado, mas isso é considerado normal para essa faixa etária! O timo ocupa o mediastino anterior. Na visualização em crianças pequenas, é uma imagem triangular na região paratraqueal direita, chamada de “sinal da vela de barco”. Esse sinal, quando deslocado à direita, pode ocasionar o “sinal da incisura”, representando a junção do timo normal com a área cardíaca. Também pode ser descrito o “sinal de onda”, mais visualizado à esquerda, como se fosse um outro contorno além do botão aórtico. Nesses três sinais, ao perfil, a opacificação é anterior e retroesternal. A imagem a seguir é de uma questão do Hospital Santa Marta (HSM)-DF, de 2019: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 74 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Figura 17: Imagem do timo em vela de barco. Observe a área de opacificação no ápice pulmonar direito. Fonte: Hospital Santa Marta (HSM)-DF, de 2019 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VOTUPORANGA 2016 4000114885) Na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal, o médico analisou o Rx de tórax de neonato onde o laudo radiológico descreveu a presença do “sinal de vela de barco”. Frente a este achado, é correta a conduta: A) imediata intubação orotraqueal e ventilação assistida por 24 hs no mínimo, até a maturação pulmonar estabilizar. B) imediata traqueostomia preventiva, pois este sinal está associado com a presença de corpo estranho nas vias respiratórias. C) o achado se refere à imagem peculiar do timo, e não representa, por si, fato gerador de atitude do médico assistente. D) o achado se refere à imagem peculiar do átrio direito, e está associado à cardiopatia congênita, devendo a criança ser avaliada imediatamente pelo cardiologista. COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: não há necessidade de intubação ou ventilação, visto que a imagem é devida à presença de timo. Incorreta a alternativa B: a traqueostomia não é um procedimento indicado pela constatação do timo na radiografia de tórax. a imagem é característica de presença de timo. Incorreta a alternativa D: essa imagem não se refere ao aumento do átrio direito e sim do timo, que é normal para essa faixa etária. Para um melhor aproveitamento, sugerimos que leia nosso resumo sobre esse assunto. Está imperdível! E, chegamos ao final de nosso livro de pneumonia! Para fechar com chave de ouro, selecionamos os tópicos mais importantes. Sigam-nos os bons! CAI NA PROVA Correta a alternativa C: Estratégia MED 75Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 11.0 RESUMO CAPÍTULO Aspectos Pneumonia afebril do lactente BCP típica Pneumonia atípica Faixa etária 5 anos Principal da história Parto normal, IVAS arrastada, Conjuntivite prévia IVAS prévia, com manutenção ou piora da febre em ≥ 72h IVAS arrastada, sintomas associados (dor de garganta, cefaleia, astenia) Principal agente Chlamydia trachomatis Streptococcus pneumoniae Mycoplasma pneumoniae Principal do exame físico, além de taquipneia e/ou estertores finos Sibilos, estertores grossos Roncos e estertores grossos Sibilos, hipoxemia (discreta) Radiografia de tórax Infiltrado intersticial Consolidações/ opacidades Infiltrado intersticial + qualquer padrão HMG Normal ou discreta leucocitose com eosinofilia Leucocitose com neutrofilia Normal ou discreta leucocitose Tratamento ambulatorial Macrolídeos Amoxicilina Macrolídeos Complicações Não usual Frequentes Principal: derrame pleural Não usual Atenção ao detalhe nas questões Não é qualquer clamídia! É a trachomatis! Se a infecção for primariamente óssea ou de pele e a pneumonia secundária, é por Staphylococcus aureus Se a questão só der a opção de clamídia (2º agente mais frequente), é a pneumoniae! Comum tratamento prévio sem sucesso (geralmente com amoxicilina) e familiares com sintomas parecidos Tratamento internado Menos frequente. Também com macrolídeos Ampicilina parenteral ou penicilina cristalina Se ≤ 2 meses: associar gentamicina Macrolídeos Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 76 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA https://estr.at/H5kU https://estr.at/H5kU Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 77 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 13.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. WARDLAW, T.; JOHANSSON, E. W.; HODGE, M. Pneumonia, the forgotten killer of children. Geneva: UNICEF/WHO; 2006. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/publications/2006/9280640489_eng.pdf. 2. BARSON, W. J. Pneumonia in children: Epidemiology, pathogenesis, and etiology. UpToDate®. 14 abr. 2020. 3. BURNS, D. A. R.; CAMPOS, D. J.; SILVA, L. R.; BORGES, W. G. Tratado de Pediatria SBP. 4. ed., vol. 2. Seção 21. Pneumonias Comunitárias, p.1736-1739. Manole, 2017. 4. SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria. Diretrizes brasileiras em pneumonia adquirida na comunidade em pediatria. J. Bras. Pneumol. 2007; 33(Supl. 1): S 31-S 50. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v33s1/02.pdf. Acesso em 12 maio 20. 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Manual AIDPI Criança: 2 meses a 5 anos, 2017. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4443883/mod_resource/content/0/aidpi2017.pdf. Acesso em 8 maio 20. 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Manual de quadros de procedimentos: Aidpi Criança: 2 meses a 5 anos, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_ procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em 13 maio 20. 7. WHO - World Health Organization. Programme of Acute Respiratory Infections. 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Community-acquired pneumonia in children: outpatient treatment. UpToDate®, 15 abr. 2020. 16. MARGOLIS, P.; GADOMSKI, A. The rational clinical examination. Does this infant have pneumonia? JAMA. 1998; 279(4):308-13. 17. RODRIGUES, J. C.; ADDE, F. V.; SILVA FILHO, L. V. R. F. Doenças respiratórias. Derrames Pleurais. Pediatria. Instituto da Criança HC- FMUSP. Editora Manole, 2. ed., 2011. CAPÍTULO https://www.uptodate.com/contents/pathology-classification-and-grading-of-neuroendocrine-neoplasms-arising-in-the-digestive-system?search=tumores%20neuroend%C3%B3crinos&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1 https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/neuroendocrine_blocks.pdf https://main.icmr.nic.in/sites/default/files/guidelines/Consensus_2.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/61873/WHO_ARI_90.5.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/61873/WHO_ARI_90.5.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-haemophilus https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-haemophilus http://www.sopterj.com.br/wp-content/themes/_sopterj_redesign_2017/_revista/2013/n_03/08.pdf http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-04-315/port_print.htm https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/clam%C3%ADdias-e-micoplasmas/clam%C3%ADdias https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/clam%C3%ADdias-e-micoplasmas/clam%C3%ADdias Estratégia MED 78Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 18. RODRIGUES, J. C.; ADDE, F. V.; SILVA FILHO, L. V. R. F. Doenças respiratórias. Abscesso pulmonar em crianças. Pediatria. Instituto da Criança HC- FMUSP. Editora Manole, 2. ed., 2011. 19. BUSH, L. M.; PEREZ, M. T. Infecção por Moraxella catarrhalis. Manual MSD. Julho, 2018. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt- pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cocos-e-cocobacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%A3o-por-moraxella-catarrhalis. Acesso em 29 maio 20. 20. BARSON, W. J.; EDWARDS, M. S.; MALLORY, G. B. Pneumonia in children: inpatient treatment. UpToDate®. Feb 06, 2019. 21. BARSON, W. J.; KAPLAN, S. L.; MALLORY, G. B. Barson WJ. Community-acquired pneumonia in children: clinical features and diagnosis. UpToDate®. 25 set. 2019. 22. SUCUPIRA, A. C. S. L. et al. Pediatria em Consultório. Cap. 39 Pneumonias Recorrentes. 5. ed. Brasil: Sarvier; 2010. p. 544-554. 23. MELLO, M. G. M. O. et al. Pneumonias de repetição em ambulatório de pneumologia pediátrica: conceito e prevalência. J. 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Disponível em: https://www.msdmanuals. com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-klebsiella-,-enterobacter-e- serratia?query=klebsiella%20pneumoniae#. Acesso em 1º jun. 20. 30. BUSH, L. M.; PEREZ M. T. Pseudomonas e infecções relacionadas. Manual MSD. Abr. 2018. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/ pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/pseudomonas-e-infec%C3%A7%C3%B5es-relacionadas#. Acesso em 1º jun. 20. 31. Pneumonias Adquiridas na Comunidade Complicadas. Documento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicado em fevereiro de 2022. 32. Abordagem Diagnóstica e Terapêutica das Pneumonias Adquiridas na Comunidade Não Complicadas. Documento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicado em maio de 2021. 33. Tratado de Pediatria 5a. Edição, seção 20, Pneumonia adquirida na comunidade. https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cocos-e-cocobacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%A3o-por-moraxella-catarrhalis https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cocos-e-cocobacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%A3o-por-moraxella-catarrhalis https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/pneumonia-por-pneumocystis-jirovecii https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/pneumonia-por-pneumocystis-jirovecii https://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v36n6/v36n6a08.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-klebsiella-,-enterobacter-e-serratia?query=klebsiella%20pneumoniae https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-klebsiella-,-enterobacter-e-serratia?query=klebsiella%20pneumoniae https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/infec%C3%A7%C3%B5es-por-klebsiella-,-enterobacter-e-serratia?query=klebsiella%20pneumoniae https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/pseudomonas-e-infec%C3%A7%C3%B5es-relacionadas https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-negativos/pseudomonas-e-infec%C3%A7%C3%B5es-relacionadas Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 202479 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 14.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro colega, Tivemos muito capricho e cuidado ao escrever este livro para você. Esperamos que tenha aproveitado e gostado. Depois de estudá-lo, temos certeza de que você estará apto a responder a todas as questões desse tema tão importante para as provas e também para a prática médica! Estou à disposição para ajudá-lo a superar qualquer dificuldade no aprendizado da pediatria. Conte comigo como uma parceira na sua caminhada! Lembre-se de que, havendo qualquer dificuldade na compreensão da teoria ou na resolução das questões, pode contar comigo contatando-me por meio do Fórum de Dúvidas! Finalizo com um verso que me ajudou durante meus anos de cursinho: “Se seus esforços forem vistos com indiferença, não desanime, pois o sol ao nascer dá um espetáculo todo especial e, no entanto, a maioria de sua plateia continua a dormir”. Desejo-lhe um ótimo estudo e muito sucesso em seus caminhos! Abraços carinhosos, Andrea Makssoudian. CAPÍTULO Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 80 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA https://med.estrategia.comcitados, vemos que existe uma nítida correlação entre nível socioeconômico e a prevalência de pneumonia em crianças. Além disso, condições associadas à desnutrição e doenças crônicas levam a um maior risco de pneumonia na faixa etária pediátrica. Quanto ao tabagismo passivo, a fumaça do cigarro altera a função mucociliar e a atividade dos macrófagos, incrementando o risco, sobretudo em lactentes. As vacinas contra o pneumococo e Haemophilus influenzae tipo B são capazes de proteger as crianças de doenças invasivas causadas por esses agentes. Dessa forma, crianças com imunização incompleta contra esses agentes tornam-se mais suscetíveis. Essa vacina deve ser aplicada em lactentes aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses. 4.0 PATOGÊNESE CAPÍTULO O mecanismo principal da pneumonia é o comprometimento das defesas do organismo. A defesa normal do hospedeiro depende de vários fatores como: ✓ Barreiras anatômicas: cílios da mucosa nasal, fluxo salivar, reflexo epiglótico; ✓ Imunidade humoral: IgA secretora das vias aéreas superiores, IgG e IgM nos espaços alveolares, surfactante, complemento, opsoninas, entre outros; ✓ Células fagocíticas: leucócitos polimorfonucleares e macrófagos; ✓ Imunidade celular: importante na defesa contra vírus e microrganismos intracelulares que sobrevivem dentro dos macrófagos pulmonares. Na maior parte das vezes, a criança manifesta, inicialmente, uma infecção de vias aéreas superiores (IVAS) que facilita a invasão de bactérias e vírus. Esses agentes atingem o trato respiratório inferior, causando um processo inflamatório. A consequência da inflamação pulmonar é a diminuição de sua complacência, além de obstrução de vias aéreas menores, que culminam em colapso dos espaços aéreos distais, aprisionamento de ar e alteração da relação ventilação-perfusão. Estratégia MED 9Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Além disso, quadros infecciosos graves podem ocasionar necrose de parênquima pulmonar. As pneumonias em crianças podem manifestar-se de acordo com alguns padrões, sendo os mais comuns: • Pneumonia lobar ou típica: acometimento de um único lobo ou segmento. Esse padrão classicamente é causado pelo Streptococcus pneumoniae (pneumococo); Figura 1: Pneumonia lobar ou típica. Acervo pessoal. Pneumonia lobar ou típica. O padrão é de opacificação homogênea em hemitórax direito, borrando a área cardíaca. • Broncopneumonia: envolvimento primário de vias aéreas e do interstício ao redor. Esse tipo de pneumonia pode ser causado pelo Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes; • Intersticial ou atípica: ocorre inflamação intersticial e pode evoluir com infiltração parenquimatosa secundária. Geralmente é ocasionada por vírus e germes bacterianos atípicos como a Chlamydia sp e Mycoplasma pneumoniae. Nas radiografias a seguir, podemos observar os três padrões de pneumonia citados: IVAS Invasão de vírus e bactérias no trato respiratório inferior Processo inflamatório Diminuição da complacência pulmonar Colapso dos espaços aéreos distais Alteração ventilação/perfusão Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 10 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Figura 2: Broncopneumonia com padrão difuso bilateral acometendo o pulmão direito e ápice esquerdo. Acervo pessoal. Broncopneumonia com padrão difuso bilateral acometendo o pulmão direito e ápice esquerdo. Figura 3: Pneumonia intersiticial. Fonte: Shutterstock. Pneumonia intersiticial. Padrão difuso, comprometimento mais nítido em bases pulmonares. Muito bem, querido(a) aluno(a), vamos continuar rumo aos agentes etiológicos. Venha conosco! Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 11 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAPÍTULO 5.0 AGENTE ETIOLÓGICO Neste tópico, é preciso que você concentre toda a sua atenção! Leia, releia, faça resumos, pois cerca de 30% das questões cobram conhecimentos sobre os agentes que causam pneumonias em crianças. Vamos iniciar essa viagem? Em pediatria, os agentes etiológicos variam de acordo com a faixa etária e esse é o primeiro conceito fundamental a ser entendido! Então, qual é o agente etiológico mais prevalente, professoras? Em todas as idades, exceto nos neonatos, o principal agente etiológico das pneumonias bacterianas é Streptococcus pneumoniae (pneumococo). Vamos decorar? O principal agente da pneumonia típica bacteriana é o pneumococo. Fique atento! Nas provas de Residência, é muito comum os autores questionarem quais são os principais agentes etiológicos das pneumonias complicadas, como no derrame pleural e na pneumatocele. A resposta é o pneumococo e isso deve estar na ponta da língua. Entenda a diferença: o Staphylococcus aureus é um microrganismo que, frequentemente, causa complicações, contudo o agente mais frequente é o pneumococo. Portanto, diante de um paciente com pneumonia típica bacteriana, mesmo que complicada, é nele que você deve pensar em primeiro lugar! Vamos treinar o que vimos até aqui, resolvendo uma questão: CAI NA PROVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 2021) Mariana, 6 anos, é trazida ao pronto atendimento com tosse persistente e febre há 2 semanas. Ao ser examinada, notam-se a frequência respiratória de 50 irpm, frequência cardíaca de 125 bpm e murmúrio vesicular diminuído no hemitórax esquerdo. Foi feita radiografia do tórax que evidenciou extenso derrame pleural. A toracocentese apresentou líquido amarelado, com a citologia diferencial, demostrando predomínio de neutrófilos. O agente etiológico mais provável a ser considerado é: A) Mycobacterium tuberculosis. A) Streptococcus pneumoniae. B) Mycoplasma pneumoniae. C) Haemophylus influenzae. D) Staphylococcus aureus. Estratégia MED 12Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: em um caso de pneumonia adquirida na comunidade, não pensamos em tuberculose sem falha terapêutica no tratamento inicial. O quadro da tuberculose pulmonar na infância costuma ser arrastado, cursando com emagrecimento e febre persistente (geralmente > 15 dias). Muitas vezes, a criança tem história de pneumonias de repetição (com achados radiológicos de adenomegalias hilares, pneumonias com qualquer padrão radiológico ou que cavitam durante a evolução). é o agente mais comum das pneumonias, mesmo complicadas. Incorreta a alternativa C: conforme explicado anteriormente, o Mycoplasma pneumoniae não costuma causar complicações (muito menos extensas); costuma apresentar um quadro de tosse arrastada, com febre baixa ou afebril e sintomas associados: adinamia, cefaleia, mal- estar, entre outros, que não temos nesse caso. Incorreta a alternativa D: o Haemophilus influenzae é um agente causador de pneumonias bacterianas “típicas”, que se tornou muito pouco prevalente após a vacinação de rotina das crianças contra esse agente. Incorreta a alternativa E: o Staphylococcus aureus é menos prevalente que o pneumococo nos quadros de BCP “típica”. Como exposto, o principal agente da pneumonia típica bacteriana é o pneumococo, mas agora vamos conversar sobre as particularidades de cada idade. 5.1 PERÍODO NEONATAL Caro aluno, o livro de distúrbios respiratórios no período neonatal apresenta a pneumonia neonatal com maior profundidade, sugiro que você o estude. No período neonatal, os principais agentes responsáveis pelas pneumonias são: ✓ Estreptococo B; ✓ Bactérias Gram-negativas; ✓ Staphylococcus aureus; ✓ Listeria monocytogenes; ✓ Vírus. Nas pneumonias de início precoce, os germes mais comuns são agentes que estão no canal de parto e/ou no intestino das gestantes e a contaminação acontece, em geral, no momento do parto. Correta a alternativa B: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 13 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 5.2 LACTENTES JOVENS Na faixa etária de 1 a 3 meses de idade, os agentes etiológicos mais encontrados são: ✓ Vírus:responsáveis pela maior parte de pneumonias em lactentes; ✓ Pneumococo (pneumonia típica); ✓ Chlamydia trachomatis; ✓ Ureaplasma urealyticum. Destaco que a Chlamydia trachomatis é o principal agente etiológico da pneumonia afebril do lactente. Esse tópico é cobrado em 8% das questões sobre pneumonia e será detalhado a seguir. FIQUE ATENTO: Em lactentes jovens, os vírus são os principais agentes. Um dos agentes mais encontrados na pneumonia afebril do lactente é a Chlamydia trachomatis. 5.3 CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS Em crianças menores de 5 anos de idade, o principal agente são os vírus, causadores de pneumonia viral. Dentre os agentes encontrados nessa faixa etária, destacam-se: VÍRUS BACTÉRIAS Vírus sincicial respiratório Pneumococo Vírus influenza A e B Estafilococo Metapneumovírus Moraxella catarrhalis Adenovírus Streptococcus pyogenes Parainfluenza O agente mais encontrado nas pneumonias virais em crianças é o vírus sincicial respiratório. Entre os agentes bacterianos, o pneumococo é o mais comum e o Staphylococcus aureus é o segundo. O Haemophilus influenzae tipo B tornou-se pouco frequente nas últimas décadas, devido à imunização infantil contra esse agente. Outros agentes que podem ser encontrados em menor frequência são: Moraxella catarrhalis e Streptococcus pyogenes. Estratégia MED 14Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA DICAS: Não se esqueça de que o vírus sincicial respiratório é um dos principais agentes virais das pneumonias nessa idade. Causas bacterianas: 1º pneumococo, 2º estafilococo. 5.4 CRIANÇAS MAIORES DE 5 ANOS Crianças escolares acima dos 5 anos de idade apresentam pneumonias desencadeadas pelos seguintes agentes: ✓ Pneumococo; ✓ Mycoplasma pneumoniae; ✓ Chlamydophila pneumoniae. Nessa idade, podemos observar pneumonias virais em menor proporção do que nas demais faixas etárias. Em pacientes maiores de 5 anos de idade, as pneumonias atípicas passam a ganhar importância. O agente principal das pneumonias atípicas é o Mycoplasma pneumoniae e em seguida a Chlamydophila pneumoniae. Mas nunca esqueça: entre as pneumonias típicas, mesmo nessa idade, o principal agente é o pneumococo. PARA MEMORIZAR Crianças acima de 5 anos: Pneumonia típica: pneumococo; Pneumonia atípica ou intersticial: Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae. A Chlamydia pneumoniae, atualmente chamada de Chlamydophila, é o segundo agente mais importante em pneumonias atípicas. Não a confunda com a Chlamydia trachomatis dos bebês (principal agente da pneumonia afebril do lactente). Resumindo: PERÍODO NEONATAL 1 A 3 MESES 4 MESES A 5 ANOS MAIORES DE 5 ANOS Estreptococo do grupo B Bacilos Gram-negativos Listeria monocytogenes Staphylococcus aureus Vírus Vírus Chlamydia trachomatis Ureaplasma urealyticum Pneumococo Staphylococcus aureus Vírus Pneumococo Staphylococcus aureus Haemophilus influenzae Moraxella catarrhalis Streptococcus pyogenes Pneumococo Staphylococcus aureus Mycoplasma pneumoniae Chlamydophila pneumoniae Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 15 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Esses são os conceitos fundamentais da etiologia que você deve saber. Ao longo deste texto, você terá oportunidade de fixar esses principais agentes e entender suas particularidades e tratamentos mais adequados. Assim, ficará mais fácil compreender esse assunto de maneira “medular” ou reflexa! Esse é um dos nossos objetivos neste livro. Vamos fazer um jogo para sedimentarmos nosso aprendizado até aqui? Faça a correlação entre as duas colunas: 1- Qual é o agente mais comum da pneumonia bacteriana, levando em conta todas as faixas etárias? A- Bactérias do canal do parto (estreptococo B, Gram- negativos e Listeria). 2- Qual é o agente etiológico mais comum da pneumonia entre 1 a 5 anos de idade? B- Vírus sincicial respiratório 3- Qual é o agente etiológico mais comum da pneumonia atípica após 5 anos? C- Pneumococo 4- Quais são os agentes etiológicos da pneumonia no período neonatal? D- 1 a 3 meses de idade 5- Qual a faixa etária da PNM afebril do lactente? E- Chlamydia trachomatis 6- Qual é o agente etiológico da PNM afebril do lactente? F- Mycoplasma pneumoniae 1-C 2-B 3-F 4-A 5-D 6-E Veja como esse assunto é cobrado nas provas. Estratégia MED 16Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAI NA PROVA (HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2020) As principais etiologias de pneumonia adquirida na comunidade variam de acordo com a faixa etária. Qual das alternativas abaixo apresenta agentes etiológicos comuns em recém-nascidos e em crianças maiores de 5 anos de idade? A) Estreptococo do grupo B; Mycoplasma pneumoniae. B) Chlamydophila pneumoniae; Haemophilus influenzae. C) Haemophilus influenzae; estreptococo do grupo B. D) Bordetella pertussis; Chlamydia trachomatis. COMENTÁRIO: a questão menciona os agentes mais comuns no período neonatal e maiores de 5 anos, respectivamente. (HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SP 2020) As doenças respiratórias correspondem a aproximadamente 50% dos atendimentos ambulatoriais, sendo que 12% destes são por pneumonias. Estima-se que 4,3 milhões das mortes de crianças menores de 5 anos ocorram anualmente por infecções respiratórias agudas, que nessa faixa etária representam 20% dos óbitos. Os principais agentes etiológicos de pneumonia adquirida na comunidade, de acordo com a faixa etária, são: A) Até 2 meses: estreptococo do grupo B e enterobactérias. B) De 2 a 6 meses: estreptococo do grupo B, vírus, germes da pneumonia afebril. C) De 7 meses a 5 anos: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, enterobactérias. D) Maiores de 5 anos: vírus, Bordetella pertussis, Streptococcus pneumoniae. E) Adolescência: vírus, Staphylococcus aureus, Chlamydia trachomatis. COMENTÁRIO: até 2 meses, estreptococo do grupo B e enterobactérias. Incorreta a alternativa B: em recém-nascidos, a Chlamydophila não é considerada agente relevante de pneumonia e a vacinação contra o Haemophilus influenzae diminuiu consideravelmente a prevalência de pneumonia por esse agente. Incorreta a alternativa C: o estreptococo B é mais comum no período neonatal e não após os 5 anos de vida. O Haemophilus não é um agente comumente encontrado nas pneumonias de recém-nascidos. Incorreta a alternativa D: a Bordetella pertussis não é agente comum de pneumonia no neonato e a Chlamydia trachomatis é mais comum no lactente jovem. Incorreta a alternativa B: nessa faixa etária, os principais agentes são os vírus. Incorreta a alternativa C: as enterobactérias não são comuns nessa idade. Incorreta a alternativa D: em maiores de 5 anos, os agentes mais comuns são o pneumococo e os germes atípicos. Incorreta a alternativa E: esses germes são raros nessa faixa etária. Correta a alternativa A: Correta a alternativa A: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 17 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.0 TIPOS DE PNEUMONIA CAPÍTULO De agora em diante, por questões didáticas, abordaremos os principais tipos de pneumonias, apresentando suas características. Vamos dividi-las da seguinte forma: ¾ Pneumonias bacterianas: - Pneumonia típica; - Pneumonia afebril do lactente; - Pneumonia atípica. ¾ Pneumonia viral: será abordada com maior profundidade no capítulo de bronquiolite. 6.1 PNEUMONIAS BACTERIANAS Entre as questões de concursos para Residência, a queridinha das bancas é a pneumonia típica. Fique atento, pois vamos começar por ela. 6.1.1 PNEUMONIA TÍPICA A pneumonia típica classicamente é resultado de uma infecção pelo pneumococo e, menos comumente, pelo Staphylococcus aureus (estafilococo), e ocorre após alguns dias de sinais e sintomas de infecção de vias aéreas superiores (IVAS). 6.1.1.1 ETIOLOGIA E QUADRO CLÍNICO � Pneumococo Como sabemos, o agente etiológico mais comum das pneumonias típicas é o pneumococo, que é umcoco Gram +, que se dispõe aos pares ou em cadeias. O início desse tipo de pneumonia se caracteriza por uma infecção viral de vias aéreas superiores (IVAS) que apresenta intensificação da febre após 48 a 72 horas, toxemia, dor torácica, expectoração amarelada ou esverdeada e desconforto respiratório moderado a grave. Alguns pacientes podem apresentar sinais e sintomas de sepse. A ausculta pulmonar revela alterações localizadas decorrentes do comprometimento de um lobo pulmonar, com estertores finos, diminuição do murmúrio vesicular e broncofonia aumentada. A sintomatologia é mais específica quanto maior for a criança.Fonte: Shutterstock. Estratégia MED 18Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA O principal agente de BCP típica bacteriana é o pneumococo! Vamos aplicar o que vimos até aqui: CAI NA PROVA (SP - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE TAUBATÉ UNITAU -2018) Uma criança de 3 anos apresenta febre alta há 3 dias, dor torácica, taquipneia e tosse seca. O raio x de tórax mostrou condensação pneumônica no hemitórax direito, com discreto derrame pleural. Qual o agente etiológico mais provável? A) Streptococcus pneumoniae B) Streptococcus pyogenes C) Mycoplasma pneumoniae D) Staphylococcus aureus E) Haemophilus influenzae COMENTÁRIO: Streptococcus pneumoniae. Incorreta a alternativa B: o Streptococcus pyogenes é agente causador da amigdalite estreptocócica e da escarlatina, não da pneumonia. Incorreta a alternativa C: o Mycoplasma pneumoniae é o mais prevalente nos maiores de 5 anos (escolares e adolescentes) como causador das pneumonias atípicas (como falaremos logo mais). Incorreta a alternativa D: Staphylococcus aureus é menos prevalente que o pneumococo. Incorreta a alternativa E: o Haemophilus influenzae tipo B, apesar de também ser um agente causador de pneumonias bacterianas típicas, tornou-se muito pouco prevalente após a vacinação de rotina das crianças contra esse agente. � Estafilococo O estafilococo é um coco Gram+, que pode agrupar-se em cachos de uva, aos pares ou isolados, sendo considerado o segundo agente mais comum da pneumonia típica. Por ser uma bactéria mais virulenta que atinge o pulmão por via hematogênica, o estafilococo desencadeia um quadro de pneumonia com sintomas mais exuberantes e as complicações são proporcionalmente mais comuns nas infecções estafilocócicas. Contudo, como o pneumococo é o agente mais prevalente, mesmo em pneumonias complicadas, a origem pneumocócica é muito mais provável na maior parte dos casos. Fonte: Shutterstock. Correta a alternativa A: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 19 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Suspeitamos de uma pneumonia estafilocócica nas seguintes condições associadas: • Impetigo estafilocócico; • Infecção secundária em lesões de varicela (celulite); • Infecções ósseas ou articulares; • Mais do que uma complicação; • Crianças com comorbidades: desnutrição, fibrose cística. Essas condições podem levar a uma disseminação hematogênica do estafilococo, desencadeando o quadro pulmonar. CAI NA PROVA (UFSC – 2020) Considere um pré-escolar de 4 anos com quadro de osteoartrite de joelho. Há dois dias apresenta febre alta 39.7°C, dispneia e gemência. No exame clínico percebe-se hipoventilação em região posterior de hemitórax direito. O Rx mostrou consolidação, derrame pleural e pneumatocele. O diagnóstico mais provável é: A) Pneumonia Viral. B) Pneumonia por Clamídia. C) Pneumonia por Estafilococo. D) Pneumonia por Mycoplasma. E) Pneumonia por Pneumococo. COMENTÁRIO: Nesse caso, em que temos um paciente com osteoartrite de joelho que evoluiu com BCP grave com complicações (duas, inclusive! O derrame pleural e a pneumatocele), é obrigatório pensarmos no � Haemophilus influenzae: Os Haemophilus influenzae são cocobacilos Gram-negativos encapsulados e não encapsulados (estes não tipáveis), responsáveis por várias infecções comuns em crianças, como otites, sinusites e celulites, e por infecções graves, como meningite, bacteremia, epiglotite e artrite, além das pneumonias. Os hemófilos não tipáveis são mais encontrados em crianças imunodeprimidas. Fonte: Shutterstock. São transmitidos por via respiratória (gotículas), através do contato direto com pessoas infectadas e por contato com superfícies infectadas. Staphylococcus aureus como agente etiológico mais provável. Não podemos pensar em um quadro viral em um paciente com osteoartrite de joelho, há dois dias com febre alta e sinais de gravidade (dispneia e gemência). Clamídia e micoplasma são agentes de BCP atípica, que incomumente causam complicações e o pneumococo não está associado a infecções osteoarticulares, sua evolução não é tão rápida e geralmente existe apenas uma complicação associada. Correta a alternativa C. Estratégia MED 20Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A vacinação contra o Haemophilus influenzae tipo B (Hib), com a vacina conjugada, reduziu vertiginosamente as doenças causadas por esse agente. � Moraxella catarrhalis: Essa bactéria é um diplococo Gram-negativo, que pode causar pneumonia típica. Assim como o Haemophilus influenzae, causa quadros clínicos de pneumonia indistinguíveis do pneumococo. É um agente muito frequente em infecções de vias aéreas superiores nas crianças, principalmente otite média aguda e sinusite aguda. Em casos de infecções concomitantes nessas áreas, devemos ficar atentos à possibilidade desse agente. Fonte: Shutterstock. A Moraxella é, atualmente, sempre produtora de betalactamases, o que implica na escolha antibiótica quando o agente mais provável for esse. Mas fique tranquilo, falaremos sobre o tratamento logo mais. 6.1.1.2 AVALIAÇÃO CLÍNICA Em geral, a evolução de uma pneumonia típica ocorre da seguinte forma: inicialmente a criança manifesta um quadro de IVAS, com tosse seca, coriza hialina e febre baixa. Após 48 a 72 horas, a tosse torna-se produtiva, a coriza torna-se amarelada e a febre torna-se mais alta e frequente. Esse quadro caracteriza uma infecção secundária de um processo que era inicialmente viral. Os sinais e sintomas encontrados em crianças com pneumonia dependem da idade, do estado nutricional, da presença de doença de base, da gravidade do quadro e do agente etiológico. Os mais encontrados são a febre, tosse, taquipneia, tiragens ou retrações subcostais, estertores finos, hipoxemia, dor no tórax entre outros. Vamos agora entender quais são os sinais que encontramos no exame físico de uma criança com pneumonia lobar: � FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA A frequência respiratória é um parâmetro muito sensível para o diagnóstico de pneumonia em crianças abaixo dos cinco anos de idade. Assim, diante de uma criança com quadro de infecção respiratória, é fundamental que a frequência respiratória (FR) seja avaliada. Crianças com taquipneia que não apresentem sibilos podem receber o diagnóstico clínico de pneumonia, de acordo com a FR: Devido à vacinação contra esse agente, o número de casos de pneumonia desencadeados por ele apresentou uma queda significativa nas últimas décadas. Quando hospitalizadas, as crianças com a suspeita diagnóstica desse agente ou com ele isolado devem permanecer em isolamento respiratório e de contato até 24 horas depois do início do tratamento antibiótico. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 21 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A taquipneia como critério diagnóstico para pneumonia obedece aos seguintes parâmetros, segundo a OMS e a SBP: ⟹ Até os 2 meses: FR ≥ 60ipm; ⟹ De 2 meses a menos de 12 meses: FR ≥ 50ipm; ⟹ 12 meses até 5 anos: FR ≥ 40ipm. *ipm = incursões por minuto. A avaliação da FR deve ser feita sem obstrução nasal ou febre, já que isso pode aumentá-la, sem que signifique um sinal de gravidade da situação. CAI NA PROVA (FACULDADE DE MEDICINA DE JUNDIAÍ 2020) A frequência respiratória,incursões respiratórias por minuto (irpm), acima da qual considera- se taquipneia em lactentes aos 8 meses de idade é: A) acima de 30 irpm. B) acima de 40 irpm. C) acima de 50 irpm. D) acima de 60 irpm. E) acima de 100 irpm. � DESCONFORTO RESPIRATÓRIO O desconforto respiratório desencadeado pela pneumonia típica pode ser observado de várias maneiras: • Tiragem subcostal (que classifica a doença como pneumonia grave); • Tiragem intercostal; • Retração de fúrcula; • Batimento de asas de nariz; • Gemência; • Balanço de cabeça. Você se lembra de todas essas tiragens citadas? Para recordar, veja: Resumindo: Sintomas respiratórios + taquipneia = PNEUMONIA Correta a alternativa C. Estratégia MED 22Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Fique atento, principalmente, para a diferença entre tiragem subcostal e intercostal, pois as provas adoram fazer os alunos confundirem essas duas nomenclaturas. Tiragem subcostal é a retração da parede torácica inferior; enquanto na tiragem intercostal há retração apenas da musculatura intercostal, como observamos nas figuras acima. � AUSCULTA PULMONAR Ainda no exame físico, é clássica a ausculta pulmonar com estertores finos (crepitantes) e comum a presença de roncos e estertores grossos (subcrepitantes), que muitas vezes dificultam a ausculta dos estertores finos subjacentes. Também podemos observar murmúrio vesicular diminuído e submacicez ou macicez à percussão, devido à consolidação. Devemos ficar atentos quanto ao estado geral do paciente que, em regra, está regular ou com piora notável, com prostração ou, ainda, a criança pode apresentar-se toxemiada. ATENÇÃO: A presença de sibilos ao exame físico é RARA nas pneumonias bacterianas típicas. Ou seja, havendo sibilos, é provável que não seja uma pneumonia bacteriana típica! Quando há sibilância, devemos pensar nas pneumonias atípicas e nas virais, como a bronquiolite. Figura 4: Representação das manifestações clínicas que caracterizam o desconforto respiratório em crianças. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 23 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA #dicadacoruja Quando CHIA, desconfie que possa NÃO ser pneumonia! As crianças com BCP estafilocócica quase sempre têm um quadro clínico bastante grave, com alto risco de sepse. Quando há evolução rápida e progressiva e mais de uma complicação associada, devemos pensar em broncopneumonia por Staphylococcus aureus. É muito importante ter em mente que as complicações que abordaremos a seguir, acontecem principalmente nas pneumonias típicas. Reforçando: outro dado que fala a favor da pneumonia estafilocócica é a presença de lesões de pele, ósseas ou articulares. � DOR ABDOMINAL Algumas crianças com pneumonia relatam a presença de dor abdominal. Isso ocorre principalmente em crianças com pneumonia de base, pois a pneumonia “encosta” na pleura diafragmática, causando um processo inflamatório por contiguidade no diafragma, que é o responsável por essa dor. A pneumonia de base pode mimetizar uma apendicite devido à dor abdominal. CAI NA PROVA (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE GOIÂNIA 2020) Criança de três anos de idade, no terceiro dia de uso de antimicrobiano para pneumonia, persiste com febre elevada e piora do estado geral, com anorexia, prostração, dor abdominal e aumento progressivo do desconforto respiratório. Nesse caso, qual deverá ser o tratamento imediato mais adequado? A) Laparotomia exploradora. B) Antibioticoterapia adequada. C) Quimioterapia. D) Pulsoterapia. Estratégia MED 24Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: a laparotomia exploradora seria indicada caso o paciente tivesse o diagnóstico de uma apendicite aguda, mas ele tem o diagnóstico de uma pneumonia, possivelmente complicada, pois evoluiu com desconforto respiratório progressivo, por falha terapêutica. (PSU-MG 2017) Menino de seis anos de idade é atendido no pronto-socorro com queixa de dor abdominal e febre. Informante relata que há dois dias está com tosse e inapetência e hoje teve dois episódios de evacuações diarreicas. Ao exame apresenta temperatura axiliar de 38,9°C, frequência cardíaca de 120bpm e frequência respiratória de 50irpm. Na ausculta respiratória, observa-se redução do murmúrio vesicular na base do hemitórax direito. O exame abdominal indica tensão difusa e dor à palpação. Diante do quadro descrito, o exame complementar MAIS INDICADO para confirmação do diagnóstico é: A) Tomografia abdominal B) Radiografia do tórax C) Ultrassonografia do abdome D) Exame de urina rotina COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: não há indicação de realização de TC de abdome, já que o paciente tem o diagnóstico de pneumonia (FR aumentada). Inclusive é uma situação para tomarmos cuidado, pois é descrita apendicite branca nesses casos. Pneumonias em base pulmonar, principalmente, podem causar peritonismo, como nesse caso, em que o exame abdominal da criança indica tensão difusa e dor à palpação. a alternativa indicou o tratamento correto. Incorreta a alternativa C: o paciente não tem câncer de pulmão que, além de ser raríssimo em crianças, não justificaria o quadro atual, descrito − inclusive na questão − como de uma pneumonia com evolução usual para complicação, por uma falha terapêutica. Incorreta a alternativa D: a pulsoterapia seria indicada caso a criança tivesse uma doença autoimune, mas ela não tem sinais e sintomas que justifiquem essa suspeita, como alterações de pele, artralgias, anemia ou quaisquer outros sinais ou sintomas além dos causados pela pneumonia mesmo. a alternativa indicou o exame apropriado para este caso. Incorreta a alternativa C: da mesma maneira que explicamos na alternativa A, a suspeita não é de apendicite. Incorreta a alternativa D: a infecção urinária não é a principal hipótese diagnóstica para uma criança com febre, taquipneia e ausculta pulmonar alterada. Correta a alternativa B: Correta a alternativa B: Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 25 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA ⟹ Dúvida diagnóstica; ⟹ Casos graves que necessitam de internação; ⟹ Suspeita de complicações; ⟹ Evolução prolongada; ⟹ Suspeita de aspiração de corpo estranho. Vamos treinar! CAI NA PROVA (SES DF 2023) Um lactente de 1 mês e 15 dias é levado à emergência com quadro de febre, coriza e tosse há cinco dias. Hoje, apresentou cianose e desconforto respiratório. Está com frequência respiratória de 70irpm, saturação arterial de oxigênio de 90% em ar ambiente, tiragem intercostal e subcostal leve e ausculta pulmonar com estertores bolhosos difusos, com tempo de expiração levemente prolongado, tendo sido iniciado tratamento para pneumonia. Em relação ao caso clínico descrito e aos conhecimentos médicos relacionados, julgue o item a seguir. Em relação às pneumonias comunitárias na infância, não há recomendação de realizar raio-x de tórax em crianças que estejam bem o suficiente para serem tratadas ambulatorialmente. C) Certo. E) Errado. COMENTÁRIO: Gabarito C, a radiografia de tórax não é necessária para crianças com pneumonia sem sinais de gravidade. 6.1.1.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico é eminentemente clínico. Não se recomenda a realização de radiografia de tórax em pacientes que receberão cuidados ambulatoriais, portanto deve-se focar na história e exame físico. Concordamos, nesse caso, com uma máxima da medicina que diz que: “A clínica é soberana”. Por outro lado, existem situações em que devemos solicitar o exame de imagem. Quando devemos solicitar esse exame, professoras? Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 26 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Figura 5: Pneumonia de ápice direito. Observe a área de hipotransparência homogênea no ápice do pulmão direito, respeitando o limite do lobo. Fonte: Shutterstock. Figura 6: Pneumonia de lobo médio direito. Observa-seopacidade da base direita, borrando a área cardíaca, e ao perfil encontramos uma imagem homogênea, respeitando o limite de um lobo pulmonar. Fonte: Shutterstock. � RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax pode ser utilizada como uma ferramenta auxiliar para o diagnóstico da pneumonia. Nas pneumonias típicas, o padrão mais encontrado é o de opacidade homogênea ou de condensação em um ou mais lobos pulmonares. São áreas “mais brancas”, que indicam preenchimento dos alvéolos por secreção ou líquido. Um outro achado que pode ser visualizado na pneumonia típica é o broncograma aéreo. Normalmente, os brônquios não são visíveis na radiografia e tomografia. Quando existe uma pneumonia que causa opacidades no parênquima pulmonar, os brônquios tornam-se mais visíveis. Estratégia MED 27Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA � ULTRASSONOGRAFIA DE TÓRAX Em crianças com suspeita de pneumonia complicada com derrame pleural, a ultrassonografia de tórax pode quantificar o volume de líquido, orientar o melhor local para a realização de toracocentese e detectar a presença de derrames septados e espessamento pleural. Veja adiante na parte de complicações. � TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Esse exame é indicado para avaliar as complicações de uma pneumonia típica. Ele é capaz de detectar o derrame pleural, necrose pulmonar, abscessos e pneumatoceles. O broncograma aéreo também pode ser visualizado no exame tomográfico. Figura 7: Imagem de corte tomográfico que ilustra o broncograma aéreo. Fonte acervo pessoal. Figura 8: Presença de consolidação pulmonar e volumoso derrame pleural à direita. Fonte acervo pessoal. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 28 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA � EXAMES LABORATORIAIS Exames como hemograma e proteína C reativa (PCR) apresentam valor limitado no diagnóstico de pneumonia bacteriana, mas podem ser utilizados como instrumentos na reavaliação dos pacientes internados. A presença de leucocitose com neutrofilia, desvio à esquerda e elevação de PCR sugere pneumonia bacteriana, contudo sua ausência não afasta o diagnóstico. Além disso, não é recomendável que a indicação de tratamento com antibiótico seja baseada apenas nas alterações laboratoriais. Quanto à hemocultura, sua coleta é recomendada em caso de internação, na tentativa de isolamento do agente causal. A positividade da hemocultura é baixa, girando em torno de 7%. Nas pneumonias complicadas o isolamento do agente etiológico pode ser conseguido por meio da realização do exame de reação em cadeia de polimerase em tempo real (RT-PCR). Esse teste apresenta sensibilidade superior à cultura, contudo, não estão disponíveis em todos os serviços de forma rotineira. A hemocultura é indicada em casos de internação hospitalar. 6.1.1.4 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Alguns diagnósticos diferenciais são frequentemente questionados nas provas de Residência Médica. Fique de na tabela a seguir. Estratégia MED 29Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Pneumonia atípica Escolares e adolescentes. Quadro arrastado. Febre baixa. Outros sintomas associados: odinofagia, cefaleia. Pneumonia viral Paciente em bom estado geral, boa aceitação da dieta, febre até 3 dias. Pode haver sibilância. Coqueluche Episódios de tosse com cianose e guincho, perda de fôlego.. HMG com leucocitose e linfocitose. Bronquiolite Quadro inicial de IVAS, com piora respiratória esperada entre o 4º e 6º dia de doença. Exame físico: presença de sibilos. Radiografia de tórax normal ou com hiperinsuflação. Pneumonia aspirativa (corpo estranho) História de engasgo, vômitos. Radiografia de tórax com imagem sempre na mesma localização Tuberculose História de tossidor crônico na família em contato com a criança. História de “pneumonias de repetição” que não melhoram com antibióticos comuns, usados no tratamento das pneumonias comunitárias e uma imagem de opacidade mantida na radiografia de tórax. Criança com baixo peso ou perda de peso recentemente, muitas vezes desnutrida. Febre intermitente. Laringotraqueobronquite viral aguda Tosse ladrante e estridor na ausculta pulmonar. Asma Crises recorrentes de sibilância. Melhora com uso de beta-2 agonista de curta duração. 6.1.1.5 TRATAMENTO O tratamento da pneumonia típica depende basicamente da decisão entre tratamento em ambulatório ou em regime de internação hospitalar. Além disso, ele deve ser o mais eficaz para a maioria dos patógenos que a causam, visando a diminuição de efeitos colaterais e menor desenvolvimento de resistência. Deve ser o mais cômodo e barato possível, para conforto e maior aderência e, por fim, deve ter o menor efeito colateral possível. Levando em conta esses princípios, detalharemos o tratamento geral para as pneumonias e o específico para pneumonia típica. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 30 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA O tratamento de suporte, ou seja, manter a hidratação do paciente, a fluidificação de suas secreções, com o uso de inalações com soro fisiológico, e a oxigenoterapia (se necessário) é importante, assim como manter o paciente afebril e sem dor. A oxigenoterapia está indicada para os pacientes com saturação ≤ a 92%, além de presença de tiragem subcostal, gemência respiratória e cianose central. 6.1.1.6 TRATAMENTO - AMBULATORIAL X INTERNADO Este é um tópico muito importante, querido aluno, leia-o com carinho! Um aspecto crucial em nossa vida de médicos é decidir pelo tratamento ambulatorial ou internado de determinado paciente. O diagnóstico de BCP na infância pode assustar, pois é condição potencialmente grave, cuja decisão pelo melhor tratamento tem impacto na morbimortalidade da doença, além de repercussões na família do paciente. A maior parte das crianças com pneumonia pode ser tratada ambulatorialmente. Mas essa decisão depende de uma classificação de gravidade. As duas classificações que vamos aprender e que apresentam pequenas diferenças são a classificação do AIDIPI e da OMS. A) AIDIPI AIDPI é uma ação coordenada para o atendimento de crianças de 2 meses a 5 anos na atenção básica, que visa a diminuir a morbimortalidade infantil no Brasil. Ela segue, em linhas gerais, as recomendações da OMS e significa Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância. AVALIAR CLASSIFICAR TRATAR Um dos seguintes sinais: Qualquer sinal de perigo*(veja logo mais) Tiragem subcostal Estridor em repouso PNEUMONIA GRAVE OU DOENÇA MUITO GRAVE Dar a primeira dose de um antibiótico recomendado Tratar a criança para evitar hipoglicemia Referir urgentemente ao hospital Oxigênio, se disponível. Respiração rápida PNEUMONIA Dar um antibiótico recomendado durante sete dias Aliviar a tosse com medidas caseiras Informar a mãe sobre quando retornar imediatamente Marcar retorno em dois dias Nenhum dos sinais acima NÃO É PNEUMONIA Aliviar a tosse com medidas caseiras Informar a mãe sobre quando retornar imediatamente Seguimento em cinco dias, caso não melhore Se tosse há mais de 14 dias, realizar investigação De acordo com a AIDIPI, devemos classificar a gravidade das pneumonias da seguinte forma: Assim, o AIDIPI classifica as pneumonias em duas categorias: � Pneumonia → caracterizada por taquipneia e/ou retrações torácicas, que pode ser tratada ambulatorialmente; � Pneumonia grave ou doença muito grave: caracterizada pela presença de tiragem subcostal, estridor em repouso ou sinais de perigo. Quando a classificação é de pneumonia grave ou doença muito grave, o tratamento deve ser realizado em regime de internação hospitalar. Estratégia MED 31Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Ok, é importante saber todos esses tópicos, mas os sinais de perigo que indicam internação são muito lógicas, portanto, se você raciocinar conosco, não precisará decorar! Observe os sinais de perigo, indicadospelo AIDIPI: • criança que não consegue ingerir líquidos ou mamar; • criança que vomita tudo o que ingere; • presença de convulsões ou movimentos anormais há menos de 72 horas; • criança letárgica ou inconsciente; • tempo de enchimento capilar >2 segundos; • desconforto respiratório grave: batimento de asa de nariz e ou gemência. B) OMS A Organização Mundial da Saúde (OMS) divide os sinais de perigo de acordo com a faixa etária: • Menores de 2 meses: FR ≥ 60 irpm, tiragem subcostal, febre alta, recusa do seio materno por mais de 3 mamadas, sibilância, estridor em repouso, sensório alterado com letargia, sonolência anormal ou irritabilidade excessiva. • Maiores de 2 meses: tiragem subcostal, estridor em repouso, recusa de líquidos, presença de convulsão, alteração do nível de consciência e vômito de tudo que lhe é oferecido. Um detalhe que você precisa saber: A OMS ainda diferencia a pneumonia grave da pneumonia muito grave, da seguinte forma: • Pneumonia grave: taquipneia e retração subcostal; • Pneumonia muito grave: taquipneia com sinais de perigo. Outros sinais que podem ser considerados para indicar a internação de uma criança com pneumonia (além da tiragem subcostal, estridor em repouso e sinais de perigo): • Idade menor do que 2 meses; • Desidratação; • FR>70ipm para menores de 12 meses e 50 ipm para crianças maiores; • Hipoxemia ( saturaçãohospitalar da pneumonia comunitária. CAI NA PROVA (UFRN 2023) E.Z.S., sexo masculino, 3 anos de idade, previamente saudável, é levado ao pronto-socorro por apresentar febre persistente há 3 dias além de adinamia e inapetência. A mãe relata que a criança iniciou coriza, obstrução nasal e dor de garganta há 5 dias e teve 2 episódios de vômitos nas últimas 24 h. No dia do atendimento, surgiu tosse pouco produtiva e piora da recusa alimentar. Realizou RT-PCR para SARS- COV2= negativo. Exame físico: estado geral comprometido, febril (38,5°C), frequência respiratória= 50 ipm; frequência cardíaca= 120 bpm; saturação O2 (ar ambiente) = 91%; presença de tiragem intercostal. Ausculta pulmonar: murmúrio vesicular diminuído em base de pulmão direito; sopro tubário audível em terço médio do pulmão direito; ausculta cardíaca: taquicardia leve; abdome levemente distendido, sem visceromegalias. Raio X de tórax mostra imagem de consolidação com broncogramas aéreos em 2/3 inferiores do pulmão direito. Como este tópico é muito prevalente nas provas, separamos algumas questões para você treinar! Alta após 48h sem febre, com ATB VO por 10 dias e reavaliação Repetir radiografia de tórax Com derrame pleural Sem derrame pleural Toracocentese Outros germes Suspeita de atípico: iniciar macrolídeo Persistência da febre, prostração e toxemia Cefuroxime ou Ceftriaxone Melhora clínica Piora ou sem melhora após 48h a 72h PENICILINA CRISTALINA Quadro clínico sugestivo de estafilococo: OXACILINA TRATAMENTO HOSPITALAR DA PNEUMONIA Colher hemocultura Estratégia MED 36Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA (UNAERP 2022) Criança de 2 anos, há 7 dias com feridas no membro inferior direito, evoluiu com celulite e febre, tratada com amoxicilina oral há 3 dias, sem melhora. Agora, apresenta piora da febre, tosse, taquidispneia e estertores crepitantes na base direita. Qual é o tratamento indicado? A) Penicilina cristalina. B) Ceftriaxona. C) Azitromicina. D) Oxacilina. E) Amoxicilina + clavulanato. A conduta nesse caso é A) internar e iniciar penicilina cristalina. B) internar e iniciar ceftriaxona intramuscular. C) iniciar amoxicilina + clavulanato e reavaliar após 24 h. D) iniciar amoxicilina e orientar retorno para avaliação em 24 a 48 h. COMENTÁRIOS: Essa criança de 3 anos apresenta febre, sintomas respiratórios, queda do estado geral, taquipneia, hipoxemia, ausculta compatível com pneumonia e radiografia de tórax compatível com pneumonia. Como há sinais de gravidade(hipoxemia e queda do estado geral), há indicação de internação. Correta A, porque indicou a conduta apropriada para o caso apresentado. Incorreta B, o ceftriaxone é um antibiótico de amplo espectro que deve ser reservado para casos em que não se observou resposta ao tratamento com penicilina. Além disso, se a criança será internada, o antibiótico deve ser administrado pela via endovenosa , que é preferencial. Incorretas C e D , devido aos sinais de gravidade, não é prudente tratar essa criança em casa. COMENTÁRIOS: Observamos que a doença respiratória dessa criança teve início com uma provável piodermite que evoluiu para celulite, que não respondeu à amoxicilina e está apresentando sinais e sintomas de pneumonia: taquidispneia, piora de febre e estertores crepitantes localizados.Nesse contexto, devemos pensar na pneumonia pelo estafilococo. Incorreta a alternativa A, a penicilina é um antibiótico que é direcionado ao pneumococo, contudo, há evidências de infecção estafilocócica nesse paciente. Incorreta a alternativa B, a ceftriaxona é um antibiótico de amplo espectro que deve ser reservado para casos refratários e não consiste no antibiótico de escolha para infecções estafilocócicas. Incorreta a alternativa C, a azitromicina é um macrolídeo que é indicado para infecções como coqueluche, pneumonia afebril do lactente e pneumonia atípica. Correta a alternativa D, esse é o antibiótico de escolha para o paciente do enunciado. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 37 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.2 PNEUMONIA AFEBRIL DO LACTENTE Entendido isso, vamos dar uma pausa para o café e depois continuaremos nosso treinamento! Querido aluno, a pneumonia afebril do lactente aparece em 10% das questões. A maior parte delas apresenta um caso clínico e solicita o diagnóstico, agente etiológico e o tratamento apropriado. Sua história clínica é muito característica, veja: Quase sempre, a idade dos pacientes é em torno de 2 meses e o enunciado fala de uma criança que nasceu de parto normal, teve um episódio de conjuntivite prévio e, no momento do exame físico, está com uma tosse seca há alguns dias e sem febre. E então, vamos começar a entender essa doença tão interessante? 6.1.2.1 AGENTES ETIOLÓGICOS O principal agente da pneumonia afebril do lactente é a Chlamydia trachomatis! A Chlamydia é uma bactéria Gram-negativa que possui 15 sorotipos de C. trachomatis, dos quais apenas 3 provocam a pneumonia em lactentes. São os mesmos que causam uretrite, cervicite e salpingite, ficando claro de onde são adquiridos. Além da clamídia, o ureaplasma e alguns vírus podem induzir quadros de pneumonia afebril nessa idade. Fonte: Shutterstock. Incorreta a alternativa E, a Amoxicilina + clavulanato pode ser indicada para crianças em que há suspeita de pneumococo parcialmente resistente. Nesse caso, a suspeita principal é de estafilococo. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 38 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.2.2 ASPECTOS CLÍNICOS/QUADRO CLÍNICO Procure memorizar que a faixa etária da pneumonia afebril do lactente (PAL) é de 1 a 3 meses de vida. Os fatores de risco para infecção pela clamídia são: • mãe adolescente; • mãe com múltiplos parceiros. A Chlamydia trachomatis é adquirida durante a passagem pelo canal do parto. Ela ocorre em bebês que nasceram por parto vaginal, muito embora possa ocorrer também em parto cesárea. Quase a metade dos recém-nascidos infectados desenvolve conjuntivite e até 20%, pneumonia. O início da pneumonia afebril do lactente é bastante insidioso e afebril ou com febre baixa. O paciente se mantém em bom estado geral. Grande parte desses pacientes tem história de uma conjuntivite prévia. Fonte: Shutterstock. DICA IMPORTANTE Os sintomas da PAL são tosse seca e/ou coriza, habitualmente depois de um episódio de conjuntivite, e que costuma estar presente em 1 a 2 semanas após o nascimento. Essa é uma dica importante para as provas, pois essas informações frequentemente aparecem no enunciado. Ao exame físico, observamos bom estado geral e taquipneia leve. A ausculta ́ inespecífica com sibilos,estertores finos, roncos. Hipoxemia não é usual, mas pode ocorrer. #dicadacoruja Fique atento, pois muitas bancas dos concursos ainda utilizam o termo antigo de estertores crepitantes para os estertores finos. Estratégia MED 39Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.2.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico é eminentemente clínico, sem necessidade de realização da radiografia de tórax. Se for realizada, podemos evidenciar um infiltrado intersticial bilateral, na maioria das vezes. Mas, fique atento, a radiografia de tórax normal não afasta o diagnóstico. O achado de infiltrado intersticial bilateral ou difuso é um padrão clássico, absoluto e frequentemente encontrado. É comum também estar associado a sinais de hiperinsuflação. Preste atenção na radiografia de tórax a seguir, retirada de uma prova do concurso da SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE (SES) do Distrito Federal, 2015: Figura 8: Pneumonia afebril do lactente. Na imagem, vemos um infiltrado intersticial bilateral. Foi relatada uma história de conjuntivite em um lactente de um mês de idade, nascido de parto vaginal, que apresentava tosse seca havia uma semana. Ao exame físico tinha apenas uma leve taquipneia e murmúrio vesicular rude, comcrepitações disseminadas à ausculta pulmonar. Essas informações já nos levariam à hipótese da pneumonia afebril do lactente. Somando-as à radiografia, o diagnóstico mais provável é: pneumonia causada pela Chlamydia trachomatis. SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE (SES) do Distrito Federal, 2015 Se houver indicação de internação, exames de hemocultura (HMC) e HMG (hemograma) devem ser colhidos. Curiosamente o hemograma costuma revelar leucocitose com eosinofilia, característica que ajuda bastante na prática clínica e na resolução das questões! Pneumonia afebril do lactente geralmente apresenta hemograma com EOSINOFILIA. O diagnóstico específico pode ser feito por meio da sorologia. A detecção de anticorpos da classe IgM associada a quadro clínico e radiológico compatíveis confirma o diagnóstico. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 40 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA CAI NA PROVA (USP 2019) Menina, 1 mês e 18 dias de idade, apresenta tosse há 7 dias, que evoluiu com piora do padrão respiratório há 2 dias, sem febre, sem outras queixas. Trata-se de criança nascida de termo, parto vaginal, sem intercorrências perinatais. Apresentou quadro de conjuntivite na terceira semana de vida, resolvido com uso de colirío de tobramicina. Ao exame clínico, criança em bom estado geral, descorada 1+/4+, hidratada, acianótica, anictérica, afebril. Exame pulmonar com estertores finos em base direita, com presença de tiragem subdiafragmática leve FR = 62 irpm, saturação de 89% em ar ambiente. Ausculta cardíaca sem alterações, FC = 180 bpm. Exame abdominal com fígado a 3 cm do rebordo costal direito, baço percutível há 1 cm do rebordo costal esquerdo. Boa perfusão periférica. Sem outras alterações ao exame clínico. Realizada radiografia de tórax, com presença de infiltrado intersticial bilateral, mais intenso em base direita, com sinais de hiperinsuflação e espessamento brônquico. Área cardíaca de tamanho normal. Qual a principal hipótese diagnóstica? A) Bronquiolite viral aguda. B) Síndrome aspirativa. C) Miocardite viral aguda. D) Pneumonia afebril do lactente. COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: na bronquiolite viral aguda, causada, na maioria dos casos, pelo vírus sincicial respiratório, teríamos um quadro inicial semelhante a um resfriado comum, geralmente com febre nas primeiras 24 a 72 horas e uma piora respiratória esperada no 4º a 6º dia, caracterizada por sibilos ao exame físico. Além disso, na radiografia de tórax esperaríamos hiperinsuflação “apenas”, com retificação de arcos costais, eventualmente. Incorreta a alternativa B: na síndrome aspirativa, geralmente, temos condições clínicas associadas: diminuição do nível de consciência, distúrbios de deglutição, história prévia de vômitos (muitas vezes com engasgos), colocação de sonda nasogástrica ou doença do refluxo gastroesofágico. A radiografia de tórax costuma mostrar um infiltrado nos segmentos superiores do pulmão (e não na base, como nesse caso). Incorreta a alternativa C: área cardíaca de tamanho normal e ausculta cardíaca sem alterações praticamente excluem a hipótese de uma patologia cardíaca. Além disso, as miocardites na infância costumam ser complicações de quadros virais, com febre no início do quadro, além de sintomas respiratórios e/ou diarreia. parto vaginal + conjuntivite + pneumonia entre 1 a 3 meses de idade = PNM afebril do lactente. Agente etiológico: Chlamydia trachomatis. Correta a alternativa D: Estratégia MED 41Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA 6.1.2.4 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Coqueluche Episódios de tosse, com cianose e guincho. HMG com leucocitose e linfocitose. Bronquiolite viral aguda Quadro inicial de IVAS, com piora respiratória esperada no 4º a 6º dia de doença. Ao exame físico: presença de sibilos. Radiografia de tórax normal ou com hiperinsuflação. Pneumonias típicas Paciente em regular estado geral, febre alta. Na radiografia de tórax, podemos observar opacificação ou condensação. Pneumonias atípicas Comum em pacientes escolares e adolescentes. Síndrome aspirativa História de engasgo, vômitos. Radiografia de tórax com imagem sempre na mesma localização (principalmente nos segmentos posteriores dos lobos superiores e segmentos superiores dos lobos inferiores). Miocardite Presença de alterações na ausculta cardíaca. Na radiografia de tórax, alterações na área cardíaca. História anterior de IVAS. Síndrome de Löffler (ou Loeffler) Tosse seca; sintomas respiratórios leves (ou assintomáticos). Radiografia de tórax: opacidades pulmonares que migram de locais (em diferentes momentos), de acordo com a migração dos parasitas. Entre os diagnósticos diferenciais da PAL, já foi cobrada a infecção pelo adenovírus, que também é um agente etiológico da BQL. Similarmente à PAL, ele pode cursar com conjuntivite, mas ela remite sem uso de antibióticos, ao contrário da causada pela clamídia. A conjuntivite causada pelo adenovírus também costuma acontecer ao mesmo tempo que a infecção respiratória; já pela clamídia, ocorre uma a duas semanas antes da infecção respiratória. Por fim, vamos conversar sobre o tratamento da pneumonia afebril do lactente. 6.1.2.5 TRATAMENTO O tratamento da pneumonia afebril do lactente deve ser feito com macrolídeos por via oral. É preferencial o uso da claritromicina na dose de 15mg/kg/dia, de 12 em 12h, por 10 dias, ou da azitromicina na dose de 10mg/kg/dia, 1 vez ao dia, por 5 dias. Estratégia MED Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 42 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA A eritromicina é outra opção, mas as desvantagens de seu uso são que ela causa mais efeitos colaterais gastrointestinais e sua posologia é de 6 em 6 horas, o que dificulta a administração e, consequentemente, a adesão ao tratamento. CAI NA PROVA (IAMSPE 2022) Um lactente com dois meses de vida foi levado ao PSI por apresentar tosse persistente, às vezes com vômitos, há sete dias. Sua mãe nega febre e refere parto vaginal sem intercorrências. Fez tratamento para conjuntivite após ter recebido alta do berçário. Hemograma com discreta eosinofilia. RX de tórax com hiperinsuflação leve e imagens hipodensas irradiando da região hilar. Ao exame físico, apresenta taquipneia, BEG ativa, acianótica, e FR de 68 irpm, sem outras alterações.Considerando-se o provável agente etiológico, o tratamento para o paciente será A) oxigênio e hidratação. B) beta-2 de ação curta e corticoide. C) ampicilina e amicacina. D) antibióticos macrolídeos. E) amoxicilina-clavulanato. COMENTÁRIO: O lactente do enunciado nasceu de parto normal, apresentou conjuntivite e está evoluindo com tosse persistente, taquipneia, alterações na radiografia de tórax e eosinofilia.Esse quadro é muito sugestivo da pneumonia afebril do lactente. Para o tratamento é preferencial o uso da claritromicina na dose de 15 mg/kg/dia, de 12 em 12h por 10 dias ou da azitromicina na dose de 10mg/kg/dia, 1 vez ao dia, por 5 dias. Incorreta a alternativa A, o tratamento da pneumonia afebril do lactente requer o uso de macrolídeos. Incorreta a alternativa B, esse tratamento é preconizado para a crise de exacerbação da asma e não para o tratamento da pneumonia afebril do lactente. Incorreta a alternativa C, esses antimicrobianos são opções terapêuticas para o tratamento das pneumonias típicas no período neonatal. A pneumonia afebril do lactente é uma pneumonia atípica. Correta a alternativa D, os macrolídeos são a classe de antibióticos preconizada para o tratamento da pneumonia afebril do lactente. Incorreta a alternativa E, a amoxicilina-clavulanato é útil para o tratamento da pneumonia típica. Estratégia MED 43Prof. Andrea Makssoudian | Curso Extensivo | 2024 Pneumonias na InfânciaPEDIATRIA Vamos retomar os principais tópicos da PNM afebril do lactente? Qual o principal agente? Chlamydia trachomatis. Particularidade: eosinofilia no hemograma. Idade do paciente: Até 3 meses de vida. História