Prévia do material em texto
EVANDRO LUÍS AMARAL RIBEIRO KELLY ELAINE DOS SANTOS OLIVEIRA SUSTENTABILIDADE E CONTEXTO REGIONAL SUSTENTABILIDADE E CONTEXTO REGIONAL 2024 Evandro Luís Amaral Ribeiro Kelly Elaine dos Santos Oliveira DIRETOR-PRESIDENTE Frei Daniel Dellandrea, OFM DIRETOR-VICE-PRESIDENTE Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM REITOR Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM VICE-REITOR Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO Adriel de Moura Cabral PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Dilnei Giseli Lorenzi COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD Franklin Portela Correia CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE Franklin Portela Correia PROJETO GRÁFICO Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE CAPA Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE DIAGRAMADORES Andréa Calegari © 2024 Universidade São Francisco Avenida São Francisco de Assis, 218 CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – ORDEM DOS FRADES MENORES EVANDRO LUÍS AMARAL RIBEIRO Doutorando em Educação pela Universidade São Francisco (USF), mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005) e bacharel em Direito pela USF (1998). Foi Pró-reitor Comunitário na USF e Pró-reitor de Graduação na Universidade Católica do Salvador - BA. No setor público, foi Secretário Municipal de Ad- ministração na Prefeitura de Bragança Paulista- SP e Assessor de Gabinete no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Governo Federal, em Brasília (gestão Dilma Rousseff e Michel Temer). É professor no ensino superior há mais de 20 anos e, atual- mente, leciona na USF nos cursos de Graduação em Direito e em Gestão e Negócios. KELLY ELAINE DOS SANTOS OLIVEIRA Possui graduação em Ciências Econômicas (Universidade São Francisco), pós-gradu- ação em Economia Urbana e Gestão Pública (PUC-SP) e em Docência Universitária (FAE).Doutoranda em Ambiente e Sociedade no NEPAM/IFCH/UNICAMP. Atualmente é professora da Universidade São Francisco. Tem experiência na docência de disciplinas relacionadas à Economia e à orientação de trabalhos acadêmicos. Participou de proje- tos de pesquisa na área de Economia Ambiental e Desenvolvimento Socioeconômico (Economia Solidária). OS AUTORES SUMÁRIO UNIDADE 01: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ......................................................................................................6 1. Origem e desenvolvimento da Extensão .............................................................6 2. Política de Extensão USF ...................................................................................9 3. Conceito de território em extensão .....................................................................13 UNIDADE 02: O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ......................................................................................................22 1. A elaboração e o planejamento de um projeto de extensão ...............................23 2. Elaboração e planejamento das práticas extensionistas: o estabelecimento do objetivo geral e objetivos específicos ......................................................................34 3. Elaboração e planejamento das práticas extensionistas ....................................38 4. Considerações finais: a gestão a serviço de todos .............................................42 UNIDADE 03: CONSTRUINDO PONTES: A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS ...................................................44 1. As ciências humanas e os desafios enfrentados pela sociedade .......................44 2. A garantia de direitos fundamentais para a redução das desigualdades ............46 3. A sustentabilidade e as ciências humanas e sociais ...........................................52 4. A ponte da extensão universitária com o desenvolvimento socioeconômico ......58 UNIDADE 04: GESTÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO ......................................64 1. A elaboração e planejamento das práticas extensionistas. .................................65 2. Resultados esperados e indicadores de avaliação .............................................73 3. Estrutura final de um Projeto de Extensão ..........................................................82 6 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária UNIDADE 1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA INTRODUÇÃO A formação de nível superior requer de você o desenvolvimento de diversas habilidades e competências que possam promover tanto uma preparação para o trabalho quanto para a compreensão do mundo que envolve o ambiente de trabalho. A preparação para a vida laboral envolve não apenas adquirir conhecimento técnico na sua área escolhi- da, mas também desenvolver um senso crítico para avaliar, criticar e propor soluções inovadoras para desafios profissionais e problemas sociais. Portanto, uma preparação adequada é essencial. Todos os cursos de graduação na Universidade São Francisco trazem em sua propos- ta pedagógica um compromisso para com essa questão formativa e você, estudante, conhecerá qual é essa proposta, a percorrer pela sua prática pedagógica e descobrir os valores que irão se somar à sua formação profissional. Conheceremos o que é a extensão (essa é a proposta), como ela se realiza no seu curso de graduação (essa é a pedagogia da formação que ela propõe) e quais são os resultados esperados que se acrescerão à sua formação (valores e novas habilidades e competências). Neste curso de Prática Formativa Extensionista, você percorrerá uma trilha de aprendi- zado que o levará a experienciar a extensão universitária no processo de sua formação acadêmica de nível superior. 1. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA EXTENSÃO A primeira referência à extensão universitária é encontrada no que ficou conhecido como o Estatuto das Universidades Brasileiras, criado através do Decreto n.º 19.851, de 11 de abril de 1931. Naquela época, entendia-se que a extensão universitária deveria se concentrar na disseminação de conhecimentos filosóficos, artísticos, literários e cientí- ficos para o aprimoramento individual e coletivo. Isso era feito por meio de cursos “intra e extra-universitários”, conferências sobre o ensino superior e demonstrações práticas, conforme descrito no art. 109 do mencionado Decreto. Esse conceito é reforçado em outra passagem do mesmo texto do Decreto: Art. 42. A extensão universitária será efetivada por meio de cursos e confe- rências de carater educacional ou utilitário, uns e outras organizados pelos diversos institutos da Universidade, com prévia autorização do Conselho Universitário. 7 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional Segundo o parágrafo primeiro do mesmo artigo, os cursos e conferências tinham como principal objetivo a disseminação de conhecimentos ‘úteis’ para a vida individual ou coletiva, a resolução de problemas sociais e a promoção de ideias e princípios que protejam os interesses nacionais. É interessante notar que o Decreto acima foi publicado pelo então Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, o Presidente Getúlio Vargas. Esse fato merece destaque porque o próprio texto legal afirma ser um dos objetivos da extensão “a solução de problemas sociais” e a “propagação de ideias e princípios que salvaguardem os altos interesses nacionais”, características do momento político brasileiro pré-Estado Novo. Essa mesma ideia nacionalista volta a surgir, de modo a envolver a extensão, com a edição do Decreto n.º 62.927, de 23 de junho de 1968, que lançou o Projeto Rondon. Referido Decreto criou um grupo de trabalho, de caráter permanente, intitulado “Projeto Rondon”. Este projeto, subordinado ao Ministério do Interior, envolvia diversos outros Ministérios, taiscomo: do Exército, Marinha e Aeronáutica, do Planejamento e Coor- denação-Geral, Transportes e Agricultura, além dos Ministérios da Saúde e da Edu- cação e Cultura. O objetivo maior era o recrutamento de estudantes universitários, de diversas áreas, para as chamadas “Operações Nacionais”, voltadas ao atendimento das populações carentes encontradas nas regiões mais pobres do interior do país. De cunho assistencialista, e sob o lema dos militares “integrar para não entregar” (DEUS, 2020, pág. 47), o Projeto Rondon, alicerçou uma experiência de ação extensionista dos estudantes, sem, contudo, contar com a participação direta das instituições de educa- ção superior no planejamento e na organização das atividades. Dessa forma, o Projeto Rondon se configurou em uma modalidade de prática extensionista desvinculada e des- -relacionada das demais atividades acadêmicas, como o ensino e a pesquisa. Essas experiências da prática de extensão ajudaram a conceber um primeiro modelo conceitual, fixado na Lei Básica da Reforma Universitária de 1969 (Lei n.º 5.540, de 28 de novembro de 1968), que se apresenta da seguinte forma: Art. 40. As instituições de ensino superior: a) por meio de suas atividades de extensão, proporcionarão aos corpos dis- centes oportunidades de participação em programas de melhoria das condi- ções de vida da comunidade e no processo geral do desenvolvimento; Essa missão da extensão — melhorar as condições de vida da comunidade e contri- buir para o desenvolvimento — dá continuidade à estratégia do Projeto Rondon, que, conforme mencionado por Getúlio Vargas em seu Decreto, visa proteger os interesses nacionais e oferecer uma contribuição útil para a vida individual e coletiva na busca de soluções para problemas sociais. Segundo Nogueira (2000), a extensão ganha força enquanto é reconhecida a sua im- portância para a transformação da universidade em instituição verdadeiramente comprome- tida com a mudança social do ponto de vista emancipatório, democrático e popular. A extensão é considerada como atividade que vai possibilitar à universidade cumprir sua missão social (NOGUEIRA, 2000, pág. 28). 8 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária SAIBA MAIS Toda essa legislação foi revogada, o que significa dizer que foi substituída por outros instru- mentos normativos mais atualizados. Por exemplo: ` O Decreto n.º 19.851, de 11 de abril de 1931, de Getúlio Vargas, foi revogado pelo Decreto n.º 99.999, de 11 de janeiro de 1991 e este pelo Decreto s/n, de 5 de setembro de 1991, pelo Presidente Fernando Collor. ` O Decreto n.º 62.927, de 23 de junho de 1968, do Projeto Rondon (editado pelo Presiden- te Militar Costa e Silva), foi revogado pelo Decreto s/n, de 15 de fevereiro de 1991, pelo Presidente Fernando Collor. ` A Lei Básica da Reforma Universitária de 1969 (Lei n.º 5.540, de 28 de novembro de 1968) foi revogada pela Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, promulgada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Como você pode observar, as bases conceituais foram todas lançadas em períodos em que o Brasil se encontrava em governos ditatoriais. A semelhança entre os documentos legais dessa época revela a preocupação estratégica de integrar o interior do Brasil (pessoas e territórios) com o pensamento da capital federal, centro do comando federal. Todos os documentos legais citados acima foram substituídos após a abertura democrática de 1986. 1.1. CONCEITO DE EXTENSÃO COMO UM PROCESSO DE FORMAÇÃO. Um fato marcante que dará um impulso totalmente inovador ao conceito de extensão universitária é a realização, em novembro de 1987, do I Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Neste encontro, foi criado o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universi- dades Públicas (FORPROEX), que se apresentava como uma organização representa- tiva das Universidades brasileiras, especialmente em assuntos envolvendo a extensão universitária. Naquele momento de criação, o Fórum apresentou à sociedade brasileira a seguinte definição de extensão universitária, dizendo que a “Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade” (NOGUEIRA, 2000, pág. 39). Ressalte-se que o caráter inovador se dá no estabelecimento da relação entre a exten- são universitária com o ensino e a pesquisa, de forma que a extensão, enquanto pro- cesso educativo, cultural e científico, deverá “articular-se” com o ensino e a pesquisa, de forma indissociável. Remete, por fim, a uma finalidade da extensão que é viabilizar (através dela) a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. São três elementos que merecem uma análise mais detalhada. O primeiro elemento a se destacar diz respeito ao caráter da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e 9 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional GLOSSÁRIO extensão. O conceito apresentado pelo FORPROEX antecede no tempo o texto cons- titucional de 1988: Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, adminis- trativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Com isso, a norma constitucional consagrou, além da equiparação e/ou equivalências entre o ensino, a pesquisa e a extensão, também a presença obrigatória de todas elas na propos- ta didático-científica dos currículos acadêmicos. Ser indissociável não implica apenas na “forma” como devem se relacionar, mas sobre principalmente a coexistência que há entre elas, de modo que podemos afirmar que onde uma não existe, a outra não coexistirá. Um segundo elemento é o caráter da extensão. Ela é, definitivamente, um “momento”, um processo educativo, cultural e científico presente e real na formação do estudante, assim como é o ensino ou a pesquisa. A extensão não é nada complementar ao proces- so educativo, ela “é”, como “é” o ensino e a pesquisa. Por fim, quanto à sua finalidade, a extensão volta-se, assim como o ensino e a pes- quisa, à relação transformadora entre a universidade e a sociedade. A postura da ins- tituição universitária, na sua relação com a sociedade, é a de sempre se colocar como agente transformador. E de que forma isso se viabilizaria? Através da Educação. Mas, assim como ela transforma, modifica as pessoas ao seu redor, ela também se deixa mo- dificar. A transformação ocorre na via de mão-dupla. Abordaremos esse assunto quando formos tratar da metodologia da extensão. 2. POLÍTICA DE EXTENSÃO USF A Universidade São Francisco (USF) vem, diligentemente, atualizando e aprimorando os currículos acadêmicos de seus cursos de graduação, de modo a atender à normati- zação emanada pelo Ministério da Educação e seus órgãos de fiscalização e controle, bem como atender às políticas educacionais vigentes no país. Mas não apenas por isso, visa a USF, sobretudo, ofertar aos seus estudantes o que há de mais novo, atualizado e significante, para que a experiência acadêmico-científica faça toda a diferença na formação profissional. Atualmente, todos os projetos pedagógicos dos cursos de graduação da USF estão atualizados no que diz a Resolução CNE/CES n.º 7, de 18 de dezembro de 2018, em relação à extensão universitária. O Conselho Nacional de Educação (CNE) é um órgão colegiado vinculado ao Minis- tério da Educação e tem por missão a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera de competência, assegurar a par- ticipação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade. 10 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária Assim, são atribuições do CNE emanar normas e deliberar sobre matéria em educação e assessorar o Ministro de Estado da Educação no desempenho das funções e atribuições. Cabe ainda ao CNEformular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino, velar pelo cumprimento da legislação educacional e assegurar a participação da sociedade no aprimoramento da educação brasileira. Para tanto, o CNE é organizado em duas Câmaras: a Câmara de Educação Superior (CES) e a Câmara de Educação Básica (CEB), que exercerem as atribuições conferidas pela Lei n.º 9.131/95, emitindo pareceres e decidindo privativa e autonomamente sobre os assuntos que lhe são pertinentes, cabendo, no caso de decisões das Câmaras, recurso ao Conselho Pleno. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/apresentacao. Acesso em 1 de maio de 2024. A Resolução CNE/CES n.º 7, de 2018, fixou alguns elementos importantes, como o conceito de extensão, suas diretrizes e princípios. Segundo a Resolução, o seu art. 3º apresenta o seguinte conceito de extensão: Art. 3º A Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa. A fixação desse conceito para a extensão universitária realça aqueles anteriormente desenvolvidos, de modo que podemos verificar a manutenção de seus três elementos, a saber: ` Indissociabilidade: “(…) em articulação permanente com o ensino e a pesquisa”. ` Processo educativo: “é a atividade que se integra à matriz curricular (…), cons- tituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico”. ` Finalidade: “(…) que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade”. A novidade trazida pela Resolução normativa, em seu art. 4º, diz respeito ao modo como a extensão deve ser organizada na Instituição de Ensino Superior (IES). Após a edição desta Resolução, “as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação”. Diante desse fato normativo novo, é que a USF reelabora todos os seus currículos de graduação, fazendo neles inserir as atividades de extensão. 11 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional Conheça os documentos normativos da USF que tratam da extensão universitária: ` RESOLUÇÃO CONSEPE 114/2021 APROVA A POLÍTICA DE EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF. acesso: https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/410/2191121768627664.pdf Acesso em 1 de maio de 2024. ` PORTARIA PROEPE 1/2022 ESTABELECE OS PROCEDIMENTOS PARA A CURRICULARIZAÇÃO DA EXTENSÃO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF. acesso: https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/410/2061430596198599.pdf Acesso em 1 de maio de 2024. ` Núcleo de Extensão da USF (NEXT): acesso: https://www.usf.edu.br/next/next-apresentacao.vm#conteudoInternas Acesso em 1 de maio de 2024. SAIBA MAIS De forma orgânica, a extensão na USF tem como órgão superintendente a Pró-Reito- ria de Ensino, Pesquisa e Extensão (PROEPE), a quem compete buscar a articulação entre estas três dimensões (ensino-pesquisa-extensão) nas propostas dos cursos de graduação da USF. A organização interna da USF inclui o Núcleo de Extensão Universitária (NEXT), res- ponsável pela coordenação estratégica da extensão. Sua tarefa, segundo a Resolução CONSEPE, é: fomentar a prática extensionista de maneira articulada entre os cursos de gra- duação e sociedade, estendendo à pós-graduação este diálogo para propiciar a formação do estudante, a produção e aplicação de um conhecimento socialmente responsável, capaz de promover ações voltadas à preservação da vida e do ser humano, considerado integralmente (Resolução CONSEPE n.º 114/2021). Além das responsabilidades atribuídas ao NEXT, a Portaria PROEPE n.º 1, de 2022, também disciplinou as atribuições de outros agentes envolvidos na prática extensio- nista, dentre os quais destacamos: o papel que compete ao docente e o papel que compete ao estudante. Essas são as atribuições que competem ao docente: Art. 32. São atribuições do docente responsável pelo componente curricular extensionista: I. planejar, coordenar, orientar e acompanhar as ações extensionistas reali- zadas no âmbito do componente curricular, nos termos legais da curriculari- zação da extensão; 12 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária CURIOSIDADE II. submeter para apreciação da coordenação e do NDE o(s) programa(s) ou projeto(s) de extensão ao(s) qual(is) o componente curricular extensionista estará vinculado; III. manter o currículo lattes atualizado com as informações do programa/ projeto de extensão em que participa; IV. avaliar o caráter formativo das ações extensionistas realizadas pelo estu- dante em concordância com o PPC; V. acompanhar a participação dos estudantes nas ações de extensão regis- tradas; VI. ao final do semestre letivo, o docente responsável pelo componente cur- ricular extensionista deverá encaminhar ao NEXT o relatório detalhando, os indicadores, as evidências e os produtos oriundos das atividades de exten- são desenvolvidas pelos estudantes ao longo do período, assim como os resultados do desempenho do protagonismo estudantil. E essas são as atribuições que competem ao estudante extensionista: Art. 33. Caberá ao estudante: I. cumprir a carga horária dedicada à execução das atividades de extensão prevista nos componentes curriculares extensionistas; II. planejar e desenvolver o plano de atividades em extensão conforme con- teúdo programático dos componentes curriculares extensionistas; III. desempenhar as atividades extensionistas de forma ética e responsável; IV. apresentar relatório de atividades concretizadas sempre que solicitado pelo docente do componente curricular; V. acompanhar o cumprimento da carga horária dos componentes curricula- res a fim de integralizar as atividades extensionistas. Cabendo ainda uma nota referente ao corpo técnico-administrativo da USF, tal qual se depreende do parágrafo único inserido ao final do art. 33: Parágrafo único. As atividades extensionistas deverão propiciar formas de participação, de registro e de valorização do corpo técnico-administrativo no processo de planejamento, organização e execução. Como se depreende, a organização da prática extensionista na USF é bastante comple- xa, no sentido de envolver diversos atores, o que lhe é próprio e peculiar. Ficou curioso? Acesse a Portaria PROEPE nº 1, de 2022 (https://www.usf.edu.br/galeria/getIma- ge/410/2061430596198599.pdf ) e confira também quais são as atribuições do seu coorde- nador de curso, dispostas no art. 30. 13 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional SAIBA MAIS 2.1. O PACTO GLOBAL E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ODS Como determina a Resolução CONSEPE n.º 114, de 2021, a extensão tem por objetivo geral a promoção, de forma sistêmica, de uma relação dialógica com a sociedade por meio do desenvolvimento de atividades extensionistas. Espera-se que essas atividades, por sua vez, ampliem a formação do estudante e, ao mesmo tempo, promovam, produ- zam e apliquem o conhecimento de maneira socialmente responsável e sustentável, con- tribuindo para o desenvolvimento e bem-estar da comunidade, interna e externa à USF. Para melhor atendimento desse objetivo geral, a USF organizou a realização das ativida- des extensionistas por meio de linhas de atuação que, por sua vez, encontram referência na Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, as linhas de atuação das atividades extensionistas deverão priorizar os 17 Objetivos de Desenvolvi- mento Sustentável estabelecidos pelo PactoGlobal da Organização das Nações Unidas. Para mais detalhes e explicações a respeito desses 17 objetivos, presentes na Agenda 2030, acesse o site das Nações Unidas Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 1 de maio de 2024. A Agenda Global 2030 encontra-se em desenvolvimento no Brasil. Atualmente, segun- do a Organização (2024), são cerca de 790 atividades-chave em andamento no Brasil, num sistema de parceria entre a ONU e entidades privadas e públicas. No Estado de São Paulo, são 119 atividades. Mas o que são, afinal, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável? “Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade” (ONU, 2024). 3. CONCEITO DE TERRITÓRIO EM EXTENSÃO Para falarmos em conceito de território, será preciso retomar alguns pontos conceituais importantes. Voltando ao texto constitucional de 1988, encontramos a seguinte redação no capítulo que trata da Educação: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração dece- nal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: 14 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educa- ção como proporção do produto interno bruto. A norma constitucional faz referência ao Plano Nacional de Educação (PNE), que de- verá articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas, quais sejam, Distrito Federal e os Estados; e, a partir destes, os Municípios. Volta-se ainda o PNE à determinação de algumas finalidades e objetivos, dentre as quais a erradicação do analfabetismo, a formação para o trabalho, a promoção hu- manística, científica e tecnológica do País, dentre outros. A partir desta breve leitura, você estudante já deve ter percebido que a Constituição de 1988 devolve à Educação uma parcela de responsabilidade para com a sociedade mais frágil, resgatando o que comumente chamamos de “compromisso social”. O mesmo compromisso social é encontrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, fixado no seu art. 43: Art. 43. A educação superior tem por finalidade: (…) VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em parti- cular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunida- de e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pes- quisa científica e tecnológica geradas na instituição. A par desta destinação à educação e à extensão, o Plano Nacional de Educação (PNE) vigente, instituído pela lei n.º 13.005/2014, traz em sua meta 12 a seguinte determinação: Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualida- de da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público. (…) 12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos cur- riculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social; 15 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional Disponível em: https://www.significados.com.br/vulnerabilidade-social/#:~:text=Vulne- rabilidade%20social%20%C3%A9%20o%20conceito,social%2C%20principalmente%20 por%20fatores%20socioecon%C3%B4micos. Acesso em 13 mai de 2024. GLOSSÁRIO Explicitamente, a meta 12.7, do PNE, orienta as ações de extensão para o atendimento prioritário de áreas de grande pertinência social. Reunindo os documentos normativos apre- sentados, encontramos uma forte diretriz regulatória para que a extensão se volte ao aten- dimento de parcelas da sociedade que se encontram em estado de vulnerabilidade social. O que é Vulnerabilidade Social? Vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de indivíduos que estão à margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em processo de ex- clusão social, principalmente por fatores socioeconômicos. Fonte: Enciclopédia Significados: A educação - e a extensão - deverão promover, portanto, a erradicação do analfabe- tismo, a melhoria da qualidade do ensino, a formação para o trabalho e a promoção humanística, científica e tecnológica do País (art. 214, da CF/1988). Então, ao se colocar a questão do “território” na extensão, pergunta-se, na verdade, onde as atividades de extensão deverão acontecer. Esse “onde” remete a um lugar que deve ser determinado, materialmente existente e conhecido, sobre o qual seja possível estabelecer uma comunicação intersubjetiva que relacione os saberes e as experiên- cias de cada pessoa envolvida. No entanto, o território físico, georreferenciado, é fre- quentemente identificado com a cidade ou região em que se mora ou se relaciona. Isso nos leva à seguinte indagação: é esse território, de fato, ‘o’ território da extensão? Po- demos considerar que, com base na leitura dos instrumentos normativos e no conceito historicamente construído sobre a extensão, esse ‘território’ refere-se mais às pessoas e ao complexo meio das relações humanas do que apenas ao espaço físico? Ou será que se trata de ambos? Essa perspectiva é fundamental para não se perder o motivo central ou a razão pela qual existe a extensão (assim como o ensino e a pesquisa). São as pessoas que, em última instância, importam, são elas as destinatárias, por excelência, das atividades de extensão. A partir da leitura dos instrumentos normativos acima estudados, poderíamos identificar que houve uma vontade dos legisladores e gestores públicos, ao elaborarem os docu- mentos normativos e as políticas públicas, de buscarem atender às pessoas com maior vulnerabilidade social. É certo também que as pessoas, quaisquer que sejam, não se desvinculam de seus ter- ritórios, de seus lugares de origem ou de vida, onde criam laços, referências e diferen- tes relações. Pessoa e espaço estão intrinsecamente ligados, de modo que podemos 16 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária falar de um “meio” cultural onde a subjetividade de cada pessoa se realiza, onde cada um encontra e desenvolve a sua identidade. Ora, a extensão quer atuar em um determinado território para modificá-lo e para trans- formá-lo, mas não apenas o território “físico” em si, mas sobretudo as pessoas. Ainda que a ação da extensão se volte à transformação desse espaço físico - como uma obra de engenharia, por exemplo —, toda e qualquer mudança do espaço se realiza em função do atendimento das pessoas que ali se relacionam. O que estamos dizendo, na verdade, é que a transformação do meio (ambiente), do território, é, fundamentalmente, a transformação das pessoas. A extensão transforma o meio e as pessoas: estes são os territórios da extensão. Mas, estamos falando de qualquer pessoa e de qualquer meio? Todos podem ser be- neficiados pela extensão, indistintamente? Sim, mesmo apesar de haver explicitamente nos documentos normativos e nas políticas públicas uma atençãoespecial voltada às pessoas com maior vulnerabilidade social, todas as pessoas podem se beneficiar das atividades de extensão. A extensão deve dialogar com todos e transformar a todos. Agora, poderíamos ainda nos perguntar o seguinte: por que teria essa inclinação da lei e das políticas públicas? Essa preferência para esse público com vulnerabilidade so- cial? A resposta é bem simples: porque vivemos em um Estado desigual. Essa condição não é privilégio do Brasil, mas uma condição recorrente de todos os países de matriz econômica capitalista. É neste território, por excelência, que a extensão encontrará o lugar fértil para desen- volver todo o seu potencial na realização de seu compromisso social, como vimos an- teriormente. 3.1. DIÁLOGOS POSSÍVEIS E NECESSÁRIOS. INDISSOCIABILIDADE ENSINO PESQUISA E EXTENSÃO. Ainda no tema do território da extensão, precisamos agora refletir um pouco sobre como se estabelece essa relação transformadora. Para isso, trazemos para nos ajudar dois autores contemporâneos nessa reflexão: Enrique Dussel e Paulo Freire. O binômio território-pessoa (ou meio-pessoa) para estes dois atores é representado pela compreensão da pessoa-sujeito. O sujeito é um “ser” que se comunica com outro “ser”. A essa comunicação podemos chamar de diálogo. É o diálogo, portanto, o “meio” através do qual uma pessoa “acessa” a outra pessoa, um território se coloca em relação a outro territó- rio. São seres que “pensam” juntos, cada qual a partir da sua experiência em seu território. Para Freire (1985), este ato de pensar “junto” é o que ele chama de comunicação. Esta co-participação dos sujeitos no ato de pensar se dá na comunicação. O objeto, por isto mesmo, não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito, mas o mediatizador da comunicação (FREIRE, 1985, pág.45). Ora, se a extensão é transformadora, ela precisa se comunicar, ou melhor, estabelecer uma comunicação. A extensão não se confunde com a comunicação, mas ela recorre à comunicação, pois aquela é processo, e esta, meio. 17 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional Deste modo, “extensão” e “comunicação” acabam se encontrando nos territórios envolvi- dos, quando se trata da(s) intersubjetividade(s), com vistas à transformação social. De tal sorte, esta relação é tão intrínseca que, sem ela, não haveria extensão ou a comunicação. Paulo Freire (1985) enfatiza essa relação entre sujeitos que se comunicam ao comparti- lharem entre si o seu conhecimento sobre determinado objeto numa relação tal que “de- sapareceriam” os conhecimentos “individuais” para dar lugar a um único conhecimento “comum”, novo e construído a partir do ato comunicativo. Esse é o verdadeiro resultado perseguido pela extensão: o comum é a transformação, o sair de si para encontrar o ou- tro, no lugar (e território) em que ele se encontra. Neste encontro, todo resultado (comum) terá sentido e significado. Caso contrário, a extensão apenas levará uma “ajuda” a quem pretensamente achamos que precisa e da forma como achamos… o que não fará neces- sariamente sentido ao outro. A isso podemos chamar de assistência. Tomando, portanto, como base, o ensinamento de Paulo Freire, podemos entender que o papel da educação (e da extensão), nesse meio, mais do que “transferir” conhecimen- to, é estabelecer uma comunicação, uma relação entre sujeitos, através do diálogo, “um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREI- RE, 1985, pág. 46), ou seja, uma solução para os seus problemas sociais. Então, quando a universidade se coloca em uma atividade de extensão, nada mais faz do que se colocar enquanto sujeito que co-participa da transformação social. Ela pode fazer isso em todas as áreas de conhecimento nas quais atua, por meio da participação de seus professores, estudantes e, é claro, das pessoas da comunidade. Esses indiví- duos são, ao mesmo tempo, sujeitos de transformação social e sujeitos transformados pelo meio social extensionista. No mesmo sentido, encontramos em Enrique Dussel, em comentário feito por Alonso (2009), o conceito de transmodernidade. Para Dussel, transmodernidade é esse mes- mo “lugar” (ou território) onde há o encontro de sujeitos transformados, seres humanos igualados e que conseguiram, através do diálogo, sair de si (e de seu mundo) para encontrar o outro (o mundo do outro). “Se entiende la Transmodernidad como un proyecto de racionalidad ampliada donde tenga cabida la razón del Otro dentro de una comunidad de comunicación en la que todos los seres humanos puedan participar como iguales, pero donde, al mismo tiempo, se respeten en su alteridad, en su Ser-Otro, respeto que debe quedar garantizado incluso en la comunidad ideal de habla o de comunicación de Habermas y de Apel” (ALONSO, 2009, pág.121). CITAÇÃO ORIGINAL É um encontro de sabedorias e conhecimentos diferentes, é a afirmação do diálogo como meio possível para se chegar a um lugar antes inatingível. A transformação social é a realização (e o desabrochar) de um novo território. Dussel e Freire “se comunicam” através da compreensão do que é o diálogo. Para Frei- re, é através do diálogo que o humano “se humaniza” (OLIVEIRA, 2011). 18 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária Pensemos agora essa dimensão do diálogo no território da Universidade e na relação indissociável entre ensino - pesquisa - extensão. São territórios distintos, cada um deles com seus sinais característicos, processos independentes, mas que possuem uma cor- relação harmoniosa. Ser indissociável implica em dizer, como vimos anteriormente, que um co-existe com o outro, mas também que um não existirá se o outro lhe faltar. Caso algum deles falte, o processo formativo - na totalidade - estará incompleto. Lembremos do que nos diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996: Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domí- nio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cul- tural, quanto regional e nacional; Ora, no caso específico da Universidade São Francisco, visamos atender à formação de profissionais de nível superior, por meio do ensino (formação), da pesquisa e da extensão. Esse objetivo maior, fixado no caput do artigo 52, não estabelece nenhuma preferência, maior ou menor relevância entre as dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. Muito pelo contrário, coloca-as em igualdade de importância no agir da instituição que, por sua vez, é pluridisciplinar. A partir da interpretação do dispositivo legal, entendemos também que o ensino cuida, in- dubitavelmente, da formação do profissional, enquanto mantém, igualmente, a universida- de, a pesquisa e a extensão. Aqui, as funções de cada uma dessas dimensões aparecem bastante distintas. No entanto, não devemos nos esquecer do princípio constitucional do art. 207, que estabelece que as universidades “obedecerão ao princípio de indissociabili- dade entre ensino, pesquisa e extensão”. (BRASIL, Constituição Federal de 1988). Logo, ao formar profissionais de nível superior, deve a universidade fazê-lo para “inse- rir” nesse processo formativo a dimensão da pesquisa e da extensão, pois todos eles participam da mesma ação da instituição universitária. E através dessa forma de agir, resulta que o processo formativo, o processo de ensino-aprendizagem, se torna algo rico e complexo: é rico porque ele é desenvolvido nas três dimensões; e é complexo porque necessita cuidar para haver uma perfeita relação entre todas essas dimensões. Enquanto o ensino foca na transmissão do conhecimento científico consolidado, a pes- quisa e a extensão exploram novas situações que desafiam esses saberes, questio- nando sua adequação para resolver problemassociais emergentes. Assim, pesquisa e extensão atuam juntas como processos investigativos sobre o novo. Na esteira da busca das soluções para os novos problemas, a pesquisa buscará, com a ajuda da pró- pria comunidade científica da universidade (ou de outras universidades e institutos de pesquisa nacionais ou internacionais), os conhecimentos necessários para “solucionar” aquele desafio que se apresenta. A extensão, por sua vez, sem abrir da mesma metodo- logia utilizada pela pesquisa, procurará contemplar, nesta investigação, outros saberes, como os saberes populares, por exemplo, não necessariamente científicos, ou poderá ainda, a par destes saberes populares, desenvolver outros saberes científicos que até então “permaneciam escondidos” da comunidade acadêmica. Pesquisa e extensão ca- 19 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional minham juntas, pois, enquanto método, se completam ou mesmo se confundem, apesar de que, enquanto produto acadêmico, são totalmente distintos. O que se aproveita desta tecnologia metodológica e científica é que ambos os proces- sos - pesquisa e extensão - devem alcançar a dimensão do ensino, ou seja, em uma universidade, este não poderá ficar isolado, sob pena de se ter uma formação do estu- dante sob um único viés: o da reprodução do conhecimento, sem lhe oportunizar explo- rar as outras formas de aprendizado, que se acessa através da pesquisa e da extensão. PARA REFLETIR A partir desse entendimento sobre os processos de formação de nível superior, através do ensino, da pesquisa e da extensão, o que você poderia dizer a respeito da formação de estudantes realizados por faculdades ou centros universitários, onde a pesquisa não é uma atividade obrigatória? Mesmo em uma instituição universitária, onde você, estudante, pode praticar a pesquisa? Que tal participar de projetos de Iniciação Científica? Ou, talvez, se interessar pelo projeto de Trabalho de Conclusão de Curso? As dimensões ensino, pesquisa e extensão são, portanto, atividades indissociáveis do agir da instituição universitária e são, por consequência, dimensões do mesmo proces- so formativo do estudante. Hoje, a extensão universitária, como vimos, é uma atividade obrigatória em todos os cursos de graduação. Esperamos que você, estudante, aprovei- te essa oportunidade para potencializar a sua formação de nível superior. CONCLUSÃO Exploramos amplamente a extensão universitária: seu conceito, origem, características ao longo do tempo, a inclusão na Constituição Federal de 1988 e outras leis, o signifi- cado atribuído pela Universidade São Francisco, e sua conexão com a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Também vimos um pouco sobre o método da extensão e sua relação com a sociedade, suas finalidades e compro- misso social e, por fim, a relação indissociável com o ensino e a pesquisa, na dimensão dos territórios da ação extensionista. Você estudante, praticamente, recebeu todas as informações básicas para iniciar o seu itinerário formativo através da extensão - visando primordialmente a sua formação de nível superior para o trabalho. Mas, apesar de saber tudo (ou quase tudo) sobre a ex- tensão, ainda falta um elemento essencial: a prática! Não é porque sabemos tudo sobre como andar de bicicleta que sabemos de fato andar de bicicleta: todos sabemos que só sabe andar verdadeiramente de bicicleta quem um dia já andou de bicicleta - ou seja, já praticou. Assim será com a extensão. O verdadeiro saber vem com a prática! Então, vamos pôr a mão na massa. 20 1 Origem e desenvolvimento da Extensão Universitária Uma coisa é certa, com este aprendizado, você já pode reunir todos os recursos instrumen- tais para a elaboração de um projeto de extensão. Sim, como se trata de uma ação aca- dêmica e científica, ela precisa ser elaborada, planejada e sistematicamente organizada. 21 1 U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Sustentabilidade e contexto regional REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO. Tomás Miranda. E. Dussel: filosofía de la liberación y diálogo intercultural. Daímon - Revista In- ternacional de Filosofía, nº 47, Universidad de Murcia, Espanha, 2009, 107-122. Disponível em: https:// revistas.um.es/daimon/article/view/97521/93601. Acesso em: 09 abr de 2024. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Pre- sidência da República, 2020. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 12 ago. 2023. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 26/6/2014, Edição Extra, 2014. Disponível em https://pne. mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Aces- so em: 11 ago. de 2023. BRASIL. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Edu- cação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7, da Lei nº 13.005/201, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024 e dá outras providências. Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior (CNE/CES). Brasília, DF: Diário Oficial da União, 19/12/2018, Edição: 243, Seção 1, página 49, 2018b. Disponível em: https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNE- CESN72018.pdf. Acesso em: 11 ago. de 2023. Enciclopédia Significados, disponíel em https://www.significados.com.br/vulnerabilidade=-social/#:~:text- Vulnerabilidade%20social%20%C3%A9%20o%20conceito,social%2C%20principalmente%20por%20fato- res%20socioecon%C3%B4micos. Acesso em: 13 mai. de 2024. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação?, tradução de Rosisca Darcy de Oliveira, prefácio de Jacques Chonchol, 8ª ed,. Col. O Mundo, Hoje, v. 24, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985, 93 págs. OLIVEIRA, I. A. Cultura e interculturalidade na educação popular de Paulo Freire. EccoS – Rev. Cient., São Paulo, n. 25, p. 109-124, jan./jun. 2011. Disponível em:https://periodicos.uninove.br/eccos/article/ view/3219/2158. Acesso em 10 de abr 2024. NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel. Avaliação da Extensão Universitária: práticas e discussões da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão, Belo Horizonte: FORPROEX/CPAE; PROEX/UFMG, 2013. DEUS, Sandra de. Extensão universitária: trajetórias e desafios.Santa Maria, RS, Ed. PRE-UFSM, 2020, 96 págs. USF. Portaria PROEPE 1/2022. Estabelece os procedimentos para a Curricularização da Extensão nos Cur- sos de Graduação da Universidade São Francisco – USF. Bragança Paulista, SP: Pró-Reitoria de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2022. Disponível em: https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/410/2061430596198599. pdf. Acesso em 17 ago. de 2023. USF. Resolução CONSEPE 114/2021. Aprova a Política de Extensão da Universidade São Francisco – USF. Bragança Paulista, SP: Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2021. Disponível em https://www. usf.edu.br/galeria/getImage/410/2191121768627664.pdf. Acesso em 17 ago. de 2023.