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Trabalho: Resumo sobre o livro "Estranhos Caminhos do Dinheiro"

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Dowbor, Ladislau. Os estranhos caminhos do nosso dinheiro. Coleção o que saber – São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.
Palavras Chaves: dinheiro; economia; Estado; dívida pública; juros; paraísos fiscais.
Em sua obra “Os estranhos caminhos do dinheiro”, Ladislaw Dowbor recomenda seguir o complicado fluxo do dinheiro a fim de compreender a economia e o modo pelo qual o dinheiro se torna o principal instrumento das deformações dos processos econômicos e sociais, uma vez que tais caminhos seguem favorecidos pelo apoio do poder político e protegidos por linguagens cifradas, sigilo, operações de ocultamento de sua origem, paraísos fiscais etc., mecanismos estes, geradores de uma distância crescente entre quem produz e quem realmente ganha, aumentando assim, as desigualdades sociais devido a concentração do dinheiro nas mãos de poucos. Tendo em vista essa realidade, Dowbor também aponta os caminhos que contribuem para a superação desse modelo, ressaltando a cidadania e a democracia como os principais fatores para essa superação. Desse modo o autor elucida questões sobre o dinheiro e discorre sobre o recurso público, o Estado, a representação política, a manipulação do orçamento: emendas parlamentares, a dívida pública, a manipulação dos juros comerciais, os paraísos fiscais e os caminhos.
Dowbor ressalta em sua obra, que o dinheiro possui um papel relevante na sociedade, visto que faz parte da maioria das atividades, residindo sua relevância na própria função do dinheiro, além de que este constitui um estruturador da sociedade por meio de mecanismos utilizados pelo poder político, econômico e cultural. É visível, portanto, que o dinheiro permite adquirir todos e quaisquer bens e serviços disponíveis no mercado e é gerado pelo próprio dinheiro, ou seja, aquele que mais os têm, mais os terá. E quem os tem, deveriam os ter justamente pelo esforço de aumentar a riqueza da sociedade, o seu bem-estar e a sua qualidade de vida o que deveria significar remunerar melhor no mercado, as atividades que geram resultados mais positivos para a sociedade, ou seja, as que contribuem para elevar a real riqueza desta. No entanto essas regras funcionam cada vez menos, levando consequentemente, a deformações crescentes. 
Com as limitações naturais do mercado, criaram-se os mecanismos de alocação por meio do Estado, para que este cumpra com a função de otimizar a alocação de recursos escassos, o qual configura o objetivo central da economia monetária moderna, visto que o essencial é assegurar que o dinheiro, ou seja, o direito sobre bens e serviços de produção ou de consumo, vá para aqueles que melhor o saberão utilizar, promovendo assim, a real riqueza da sociedade, por meio dos investimentos certos, gerando mais riquezas.
Assim, o autor distingue ganhos de transferência e ganhos produtivos, sendo ganhos de transferência, a transferência de capital de um sujeito para outro devido alguma atividade, significando que apenas um obteve vantagem, enquanto que ganhos produtivos geram amplas vantagens, pois são motivados por ações que visam gerar uma riqueza não apenas ao indivíduo em particular, contribuindo com o desenvolvimento da sociedade a partir de um investimento em algo que também acrescentará à riqueza acumulada da sociedade referida, tais como em infraestruturas diversas para a sociedade como um todo.
O acesso à riqueza não se dá apenas através do dinheiro, da troca comercial, da compra, se dá também com a riqueza social acumulada, que por meio do investimento em infraestruturas como sistemas públicos de saúde, de educação, de pesquisa, de lazer etc. são disponibilizados de forma gratuita para todos, com exceção da sua construção e manutenção.
Assim há dois tipos de renda: a individual proveniente justamente e salário, lucro, aluguéis, renda de aplicações financeiras, as quais configuram a renda líquida e se recebe em conta bancária, em dimensão direta, enquanto que em uma dimensão indireta, via impostos que se transformam em bens de consumo coletivo. Assim, quanto mais evoluída a sociedade, mais elevada é a dimensão pública da nossa renda.
Do ponto de vista econômico, trata-se de bom senso, perceber o que faz viver melhor gastando-se menos recursos. Assim sendo, as infraestruturas, as políticas sociais e semelhantes funcionam melhor no quadro do sistema público, como por exemplo as políticas sociais, enquanto que outros funcionam melhor no circuito da renda individual.
 Ao se investir em bens coletivos, há amplas vantagens, tornando de baixo o bem de baixo custo para cada indivíduo, uma vez que o custo de construção e manutenção é dividido entre inúmeros usuários, garantindo o acesso a toda população, aumentando e assegurando a qualidade dos bens e serviços. Gerando vantagens a todas as classes socias, já que oportunizará o acesso aos bens e serviços às classes com rendas baixas e diminuirá também os custos individuais das classes mais altas, que não terão que fazer duplos investimentos nos mesmos serviços para garantir um acesso de qualidade, gerando assim, por meio do bom senso da alocação inteligente dos recursos, uma sociedade mais democrática, equilibrada e produtiva ao ampliar os diversos sistemas públicos e gratuitos, e evitando-se também, que as classes mais altas se apropriem de políticas públicas (o público a serviço do privado) enriquecendo ainda mais e aumentando as desigualdades sociais, por isso se faz necessário assegurar que o sistema público se torne um instrumento de desenvolvimento de uma sociedade equilibrada, Mas para isto, a forma de captação, gestão e destino final dos recursos públicos é essencial para evitar a perda de qualidade de vida para toda a população. Isto não significa que a gestão será sempre mais racional quando nas mãos do setor público, mas significa sim que há um conjunto de áreas da economia que funcionam muito melhor por meio dos serviços públicos, como por exemplo, as políticas sociais. 
O recurso público
Com o intuito de tornar a economia mais produtiva, a alocação de recursos públicos, os quais deveriam ser destinados para atividades afins, é feita por diversos intermediários: o governo (o principal), bancos, seguradoras, fundos de pensão e grandes investidores institucionais, os quais recolhem recursos com diversas justificativas. 
O governo aloca os recursos segundo um orçamento discutido no parlamento e aprovado em lei e precisa assegurar a captação dos recursos que vai investir. Dessa forma, a política fiscal (fazenda) e a aplicação (planejamento) caminham paralelamente na peça orçamentária. No conjunto do planeta, os governos são os maiores gestores de recursos, e quanto mais rico o país, maior é a participação do governo nesta mediação devido o grande consumo coletivo.
Há uma correlação rigorosa entre o nível de desenvolvimento e a participação do setor público. A parte do PIB que cabe ao governo central eleva-se numa progressão regular. Assim sendo, esta parte referida, aumenta à medida que aumenta a renda de seus países. Falar mal dos governos parece ser um consenso planetário, mas precisamos cada vez mais deles, inclusive nos países desenvolvidos que hoje pagam o preço do vale-tudo financeiro desregulamentado e das privatizações irresponsáveis.
Portanto, seja qual for a política adotada, é essencial assegurar a qualidade da alocação de recursos por parte do governo para que o país desenvolva. Na era urbana os investimentos sociais são assegurados pelo setor público no mundo todo, diferentemente da era rural, visto que são serviços de consumo coletivo, levando todas as atividades produtivas, as quais também se modificaram ao longo do tempo, para a dimensão pública, por meio de políticas sociais, os quais promovem uma reestruturação social ao garantir o acesso a todos os serviços, empregando mão de obra e propulsionando a economia. 
. São setores de atividade onde, com a exceção dos nichos de alta renda, o setor público tem prioridade evidente, frequentemente articulado com organizações da sociedade civil, outra área em expansão,caracterizando um setor público não governamental. A economia social e suas variantes ocupam um lugar crescente no conjunto das atividades econômicas, e com isto se expande a parte pública no conjunto. 
Um terceiro eixo de transformação social é a evolução para a sociedade do conhecimento já que todas as atividades incorporam a tecnologia, de conhecimentos diversos, inclusive o dos tipo “intangível”. Quando o essencial do valor de um produto está no conhecimento incorporado, mudam as formas de organização correspondentes. Na base está um amplo processo social que envolve as pesquisas dos mais diferentes setores, a generalização do acesso à educação, e os sistemas de difusão de informações que elevam a densidade de conhecimento no conjunto da sociedade, com fortíssima participação de recursos públicos em todos os níveis. A tendência natural é de que os conhecimentos tornem-se bem público (creative commons), pela facilidade de disseminação que as tecnologias modernas permitem, e pela compreensão que gradualmente penetra na sociedade de que o conhecimento se multiplica melhor quando se compartilha. O conhecimento é um fator de produção cujo consumo não reduz o estoque, pelo contrário.
 Ao se disponibilizar gratuitamente as pesquisas financiadas aumenta-se a produtividade destas a partir da colaboração conjunta, o que evita travamentos e duplicações e multiplica o conhecimento e os recursos investidos de uma forma inteligente. No entanto, a urbanização, a expansão das políticas sociais e a evolução para a economia do conhecimento tendem a transformar a sociedade, exigindo para isso, sistemas de gestão bem mais diversificados, descentralizados, participativos, colaborativos e flexíveis, além de novas regras, não bastando apenas o mercado dominado por uma estrutura oligopolizada e burocratizada pelos gigantes de intermediação.
 As políticas públicas têm um papel chave a desempenhar nesta transição para uma sociedade moderna, e com isto aumenta a importância dos recursos públicos no funcionamento da sociedade em geral, e em consequência também a necessidade de democratizar as decisões e de assegurar a transparência dos fluxos. Temos de repensar o Estado.
O ESTADO
Quando o Estado nos diversos países administra entre um terço e metade do PIB, melhorar a produtividade do setor público constitui a melhor maneira de melhorar a produtividade sistêmica de toda a sociedade. O Relatório Mundial sobre o Setor Público, elaborado pelas Nações Unidas em 2005, mostra a evolução que houve a partir da visão tradicional da “Administração Pública” baseada em obediência, controles rígidos e conceito de “autoridades”, transitando por uma fase em que se buscou uma gestão mais empresarial, como que um “gestor da cidade” no lugar do prefeito, e desembocando agora na visão mais moderna que o relatório chama de governança participativa.
Esta última forma de organização implica que no espaço público a boa gestão se consegue por meio da articulação inteligente e equilibrada do conjunto dos atores interessados no desenvolvimento que busca “responder”, ou “corresponder” aos interesses que diferentes grupos manifestam, e supõe sistemas amplamente participativos, e em todo caso mais democráticos, na linha da “governança participativa”, o que por sua vez exige a ampliação da transparência de todos os processos. 
A evolução da Administração Pública tradicional para a Nova Gestão Pública se baseou numa visão privatista da gestão, buscando chefias mais eficientes. A evolução mais recente para a Governança Participativa está baseada numa proposta mais pública, onde as chefias escutam melhor o cidadão, e onde é a participação cidadã, através de processos mais democráticos, que assegura que os administradores serão mais eficientes, pois mais afinados com o que deles se deseja. É a diferença entre a eficiência autoritária por cima e a eficiência democrática pela base. A eficiência é medida não só no resultado, mas no processo. 
 “O modelo de governança enfatiza um governo aberto e que se relaciona com a sociedade civil, mais responsabilizada e melhor regulada por controles externos e a lei. Propõe-se que a sociedade tenha voz através de ONGs e participação comunitária. Portanto o modelo de governança tende a se concentrar mais na incorporação e inclusão dos cidadãos em todos os seus papéis de atores interessados , não se limitando a satisfazer clientes, numa linha mais afinada com a noção de ‘criação de valor público’.” 
O novo modelo que emerge está essencialmente centrado numa visão mais democrática, com participação direta dos atores interessados, maior transparência, com forte abertura para as novas tecnologias da informação e comunicação, e soluções organizacionais para assegurar a interatividade entre governo e cidadania. A visão envolve “sistemas de gestão do conhecimento mais sofisticados”, com um papel importante do aproveitamento das novas tecnologias de informação e comunicação. 
É uma evolução que busca a construção de uma capacidade real de resolução de problemas através dos pactos necessários com a sociedade. Esta sistematização de tendências mundiais vem dar maior credibilidade aos que lutam pela apropriação das políticas pela cidadania, na base da sociedade, em vez da troca de uma solução autoritária por outra. 
A visão e as soluções existem. A acelerada informatização de todo o sistema administrativo, a aprovação de leis como a Lei da Transparência de maio de 2012, o resgate de instrumentos de planejamento, e, sobretudo a eleição de governos comprometidos com a redução das desigualdades, geraram mudanças profundas. Numa década foram tiradas da miséria 40 milhões de pessoas, foram gerados quase 20 milhões de empregos formais, generalizou-se o acesso à luz elétrica, mais de um milhão de alunos da escola pública passaram a frequentar universidades, o salário-mínimo passou a ter um valor minimamente decente, o apoio à micro e pequena empresa, bem como à agricultura familiar, deu um salto imenso. A alocação sistemática e sustentada dos recursos onde são mais necessários, ou seja, na base da sociedade, está transformando o país. 
Mas temos pela frente o imenso esforço de melhoria do processo decisório, de racionalização da máquina pública. A máquina que herdamos, apesar do impacto modernizador da Constituição Federal de 1988, continua sendo, na sua estrutura e, principalmente na sua cultura, uma máquina mais voltada para a administração de privilégios do que propriamente para a prestação de serviços. Continua a ser extremamente difícil, no quadro das instituições existentes, promover o uso racional dos recursos públicos. Na linha de frente do travamento da modernização necessária, está o problema da deformação do processo eleitoral.
A representação política 
É evidente que, no Brasil, assim como muitas partes do mundo, as empresas patrocinam campanhas em seus benefícios a fim de proteger seus interesses, sendo este sistema legalizado no país por meio da lei de 1997 que libera o financiamento das campanhas por interesses privados, os quais podem contribuir com até 2% do patrimônio. Dessa forma os recursos empresariais ocupam o primeiro lugar entre as fontes de financiamento de campanhas eleitorais brasileiras, como mostram alguns estudos, ou seja, as campanhas eleitorais transformam-se em uma descontrolada indústria de marketing político.
A empresa que financia um candidato faz com que este lhe deva favores em razão da dívida da campanha para sua eleição e pela expectativa de reeleição e dessa forma entre defender os interesses legítimos do povo como mais transporte de massa e mais saúde preventiva e assegurar a próxima eleição, o político fica preso na armadilha. O próprio processo de decisão sobre o uso dos recursos públicos é de certa maneira privatizado. Neste sentido o resgate da dimensão pública do Estado torna-se essencial.
Com a decisão da Corte Suprema em 2010 as empresas e sindicatos gastam somas ilimitadas em marketing eleitoral, e portanto quanto mais cara a campanha mais percebe-se uma políticacolonizada, resultando custos bem mais elevados para todos, uma vez que os preços são repassados para o público.
os financiamentos corporativos “se traduziram numa virada espetacular para a direita: a captura da vida política por uma casta financeira e midiática mais poderosa do que qualquer partido ou candidato. Não se trata apenas de um novo capítulo no interminável romance entre o dinheiro e o poder, mas de uma redefinição da própria política pela conjunção de dois fatores: o fim dos limites nas doações eleitorais por parte das empresas e a renúncia por parte da imprensa ao exame dos conteúdos das campanhas. Resulta um sistema no qual um pequeno círculo de conselheiros mobiliza montantes surrealistas para orientar o voto para os seus clientes. Este “complexo eleitoral dinheiro-mídia” constitui presentemente uma força temível, subtraída a qualquer forma de regulação, liberada de qualquer obrigação de prudência por uma imprensa que capitulou. Esta máquina é permanentemente mediada por cadeias comerciais de televisão que faturaram, em 2010, 3 bilhões de dólares graças à publicidade política”.
O sistema eleitoral deforma tanto os sistemas de captação, como de alocação final dos recursos, uma vez que tantos os políticos como os empresários ficam a mercê desse sistema corruptivo de troca de favores a partir da existência de Instituições burocráticas que a regulam, de modo a legitimar esse mecanismo. Do mesmo modo, ao receber recursos pelos seus serviços, a mídia torna-se cúmplice, ou seja, sócia dos empresários e políticos para os quais trabalham, não denunciando, portanto esse tipo de sistema.
A captação dos recursos públicos se dá através do sistema tributário. A apropriação da política permitiu a instalação de um sistema tributário profundamente injusto e desequilibrado
., e que os interesses assim encastelados impedem qualquer reforma significativa, afinal a máquina política trabalha para aqueles que pagam mais por ela.
O resultado básico, é que no Brasil os impostos indiretos (que todos pagam no mesmo montante ao comprar um produto) predominam sobre o imposto de renda, que pode ser mais progressivo. ; que não existe imposto sobre as grandes fortunas; que o imposto territorial rural é simbólico; que os grandes intermediários financeiros pagam pouquíssimo imposto, enquanto o único imposto a que eram submetidos, a CPMF, foi abolido, em nome, naturalmente, de proteger “os pequenos”. Acrescente-se a isto a evasão fiscal e terminamos tendo um sistema onde os pobres pagam proporcionalmente mais que os ricos, invertendo-se o papel de redistribuição que o Estado deveria ter. No Brasil, o problema não é de impostos elevados, e sim da estrutura profundamente injusta da carga tributária.
 
Mas custos econômicos maiores ainda resultam do impacto indireto, pela deformação do processo decisório na máquina pública, apropriada por corporações, que levados pela ambição acabam por prejudicar o desenvolvimento econômico social, diminuindo o PIB do Brasil, uma vez que pensam apenas em desenvolver e lucrar com suas empresas e estupidamente prejudicam a eficácia da produção de riqueza social no país o que geraria mais riquezas para o país. 
Seria necessário que o governo do país direcionasse suas políticas para a infraestrutura do país (instalando corredores de ônibus, aumentando as linhas de metrô, melhorando a qualidade dos transportes mais rápidos) a fim de diminuir custos e incentivar o crescimento do PIB, melhorando a qualidade de vida de todos, diminuindo, assim, a degradação do meio ambiente e as doenças e mortes provenientes do excessivo e mau gerenciamento dos recursos naturais. Essas ações aumentaria a produtividade de todo o sistema econômico, diminuindo os custos e melhoraria a alocação de recursos públicos. No entanto, a apropriação da política leva a deformação das prioridades do país, apoderando ainda mais os poderosos, por meio de desvio dos recursos públicos para interesses empresariais e não no que seria útil para a qualidade de vida de todos, gerando um círculo vicioso, uma vez que financia a reprodução desse sistema, acarretando em sobre-faturamentos e apoderamento de grandes empresas, uma vez que estas
 Quanto mais se eleva o custo financeiro das campanhas, mais a pressão empresarial sobre os políticos se concentra em grandes empresas. Quando são poucas, e poderosas, e com muitos laços políticos, a tendência é a distribuição organizada dos contratos, o que por sua vez reduz a concorrência pública a um arremedo, e permite elevar radicalmente o custo dos grandes contratos. Os lucros assim adquiridos permitirão financiar a campanha seguinte, além de engordarem contas em paraísos fiscais. 
Se juntarmos o crescimento do custo das campanhas, os custos do sobre-faturamento das obras, e, em particular, o custo da deformação do uso dos recursos públicos, estamos falando no vazamento de imensos recursos para onde não deveriam ir. Estes “gatos” que sugam os recursos públicos são muito mais poderosos do que os que encontramos nos postes de iluminação das nossas cidades. Pior: o processo corrói a gestão pública e deforma a democracia ao gerar uma perda de confiança popular nas dinâmicas públicas em geral. 
Não que não devam ser veiculados os interesses de diversos agentes econômicos na área pública. Mas para isto existem as associações de classe e diversas formas de articulação. A FIESP, por exemplo, articula os interesses da classe industrial do estado de São Paulo; e é poderosa. É a forma correta de exercer a sua função, de canalizar interesses privados. O voto deve representar cidadãos. Quando se deforma o processo eleitoral através de grandes somas de dinheiro, é o processo decisório sobre o uso dos recursos que é deformado. 
Esse fato precisa ser combatido para se evitar os desvios dos recursos públicos com a reformulação do sistema: vedar o financiamento corporativo das campanhas e limitar a contribuição da pessoa física, bem como impor um teto para gastos com cada nível de candidatura, por exemplos. Assim, a contribuição dos recursos públicos angariados pelo candidato junto aos cidadãos comuns seria proporcional à sua capacidade de convencê-los para representá-los, extinguindo por esses meios, a deformação financeira, a qual gera a sua própria legalidade. No país, Em 1997, transformou-se o poder financeiro em direito político. O direito de influenciar as leis, às quais seremos todos submetidos. 
A manipulação do orçamento: emendas parlamentares 
Temos de resgatar o bom-senso. O problema, quando se permite a apropriação privada de espaços públicos, em particular dos legislativos, é que atividades que não são legítimas ou que possam ser prejudiciais para a sociedade passam a ser legais. Vimos isto ocorrer com a lei que permite a compra corporativa das eleições, as transferências baseadas na taxa Selic, a adoção de juros comerciais surrealistas, a agiotagem legalizada, o travamento da reforma tributária. As emendas parlamentares constituem outro bom exemplo desta deformação da política, como se vê com o processo de aprovação da peça orçamentária, que sofre duas grandes deformações: uma a partir da pressão para que sejam alocados recursos prioritariamente para determinadas grandes obras propostas pelas empreiteiras, beneficiando grandes empresas em detrimentos de pequenas empresas. Sendo que essas deformações são embasadas no financiamento corporativo das campanhas, uma vez que há no congresso uma bancada dos grandes: ruralista, das empreiteiras, das montadoras, dos grandes bancos, da grande mídia e um ínfima bancada do cidadão, das pequenas e médias empresas, dos pequenos municípios, dos pequenos meios de comunicação, ou seja, daqueles que não podem “comprar” seus políticos. O que torna caro o custo Brasil, onerando toda a sociedade, em proveito de alguns grupos. A culpa não é da política, e sim da apropriação privada da política pública.
Outra deformação são as pequenas vantagens, por isso um legislador precisa da concordância do Executivo para seus projetos. Um legisladorque consegue uma obra importante para a sua cidade por meio de autorização de recursos por emenda parlamentar, não precisará nem gastar com a campanha para se tornar prefeito, pois a obra será sua própria propaganda. 
Dessa forma os Poderes da União não estão cumprindo seus reais papéis, os quais se confundem, como no caso do Legislativo onde o artigo 74 da CF/88 prescreve que são tarefas deste Poder: avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária etc. Já ao Executivo cabe o papel de escolher a ponte que será construída, planejar uma visão integrada de transportes e fazer estudos que permitam definir as prioridades técnicas.
Ocorre que a baixa capacidade fiscal dos municípios brasileiros e a visão de que os parlamentares têm por dever de ofício levar recursos (obras) para suas bases eleitorais, dificulta uma discussão mais ampla no Congresso para modificara o foco das emendas parlamentares de modo que estas, não fragmentem o orçamento devido às demandas picadas, fato que ocorre desde a última década do século XX.
O fato é que, a partir dos anos 1990, a prática se generalizou, e hoje grande parte do debate sobre a peça orçamentária proposta não versa sobre as prioridades dos transportes ou da educação, mas sobre as demandas picadas que representam muito mais a estratégia de sobrevivência de determinado representante público e o eventual vínculo com quem financiou a sua campanha, do que uma estratégia de desenvolvimento que o país ou uma região necessitam. Imensos recursos são assim desviados dos seus fins sistemicamente mais adequados e, ponto importante, todo o processo de cooptação de numerosos representantes, generalizado nos anos 1990, tornou-se prática “aceita”. Ou pelo menos, “legalizada” pela prática cotidiana dos diversos níveis legislativos do país. De certa forma, o “comprovar a legalidade e avaliar os resultados” virou um mercado persa.
É essencial fazer esta distinção com clareza. Quando determinadas práticas são generalizadas, não se trata de um problema de pessoas, e sim de gestão, de marco legal, de problemas institucionais. Um deputado que leva, dentro da prática generalizada, uma obra muito necessária para um município distante que não é ouvido por ninguém, está fazendo a sua parte. Mas outros o farão simplesmente por acordos com empreiteiras e a tendência será a de se generalizar desvios.
Se faz necessária a descentralização efetiva das políticas, inclusive para que os prefeitos dos quase cinco mil pequenos municípios não fiquem sujeitos a eternas negociações com donos de fragmentos do orçamento. O prefeito deve negociar a aplicação dos seus recursos com as comunidades interessadas no seu município e não em Brasília. 
Na nossa cultura política, ainda soa como legítimo um deputado defender interesses de quem o elegeu, ou de quem financiou a sua campanha. Dessa forma, as emendas orçamentárias individuais fazem com que o dinheiro público seja investido em pequenas obras de interesse público menor em benefício dos “grandes” e pela “troca de favores”, fazendo que o parlamentar federal exerça o papel de vereador, representando por esse meio, o principal caminho para desvios de dinheiro público, que assim, apesar de ser o representante do povo, acaba representando outros interesses que não o interesse público. No entanto, apesar das resistências dos Poderes Legislativos e das grandes corporações está havendo o amadurecimento da reforma política como percebe-se com a Lei da Transparência, cuja entrada em vigor foi em maio de 2012. 
Visto isso, como o jurista Lawrence Lessig, o autor concorda ser necessário resgatar a dimensão pública do Estado ao gerar transparência, mudar o sistema de financiamento e introduzir sistemas mais eficientes de gestão. Os grandes desvios são suficientemente grandes para serem legais, ainda que ilegítimos.
A dívida pública
Os principais mecanismos para a apropriação privada do dinheiro público seriam:
A compra das eleições, ou seja, o aparelhamento da máquina pública ao investir em propagandas que coloquem pessoas cujos interesses estão diretamente vinculados a grupos corporativos e assim, instalar no Congresso o clima de “negócios” favorecendo interesses privados, em detrimento dos interesses públicos. Assim os primeiros deixam, em parte, de estar submetidos às leis do mercado, como da concorrência por meio da qualidade dos bens e serviços produzidos, e passam a funcionar, legalmente com acesso privilegiado aos recursos públicos, onde a corrupção da própria legalidade, leva a sociedade a arcar com os imensos custos das próprias campanhas eleitorais, da deformação tributária, do sobre-faturamento de obras e da deformação das prioridades. A partir dessa legalização, apropria-se da coisa pública por interesses privados, deformando o processo democrático, criando para tanto, uma justificação ética de combate a inflação ao criar o Copom (Comitê de Política Monetária) para fixar uma taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), taxa de juros que o governo paga aos que aplicam dinheiro em títulos do governo, gerando dessa forma, a dívida pública. Assim em 1990 adotou-se uma taxa Selic elevada que mais tarde, passou-se a pagar, a partir de 1996, já com inflação baixa, entre 25 e 30% sobre a dívida pública. O que significou oficializar um sistema de acesso aos nossos impostos aos intermediários financeiros. E dessa forma o governo comprava, com os nossos impostos, o apoio dos rentistas e banqueiros situados no país, como também dos grupos financeiros transnacionais. Foi assim que os governantes organizaram a transferência massiva de recursos públicos para grupos financeiros privados.
Como funciona? Primeiro, eleva-se drasticamente a taxa Selic, em nome de se proteger a população da inflação. Ao depositar na poupança o banco, aplica o dinheiro em algum produto financeiro que vai lhe render, por exemplo, 10% ao ano; ou em títulos do governo que pagam, por exemplo, 25%. A diferença é embolsada pelo banco, pois o governo lhe paga estes 25% com o dinheiro do contribuinte.
 A fase da Selic elevada gerou enormes transferências do Governo para rentistas na marca de centenas de bilhões de reais a partir dos impostos pagos por este mesmo depositante, ao mesmo tempo que desobriga os bancos de fazerem investimentos produtivos que gerariam produto e emprego. O depositante, portanto, deposita o seu dinheiro no banco e deposita outro mais para pagar os impostos sobre os serviços bancários, como da própria poupança. Assim, o cliente do banco recebe 10%, mas paga 25%. É bem melhor aplicar nos títulos, liquidez total, risco zero. Por outro lado, a realização de investimentos produtivos, financiando, por exemplo, uma fábrica de sapatos, envolve análise de projetos, seguimento, enfim, envolve atividades que vão além de aplicações financeiras. É, na realidade, o que os intermediários deveriam fazer: fomento, irrigação das atividades econômicas, sobretudo porque estão trabalhando com o dinheiro dos outros. Tecnicamente, o que fazem ao tirar o dinheiro do circuito econômico e transferi-lo para a área financeira, é a esterilização da poupança. É mais um “gato” sobre os recursos públicos. 
5% do nosso PIB era desviado via governo para intermediários financeiros, sem que produzissem nada, pelo contrário, desviam-se os recursos do investimento produtivo para a aplicação financeira. Para cobrir os juros sobre a dívida, o governo FHC elevou a carga tributária de 26% para 32% do PIB e o povo arcar com o prejuízo. 
Lula em seu governo conseguiu reduzir essa dívida pública que extraia do PIB um grande montante. Em 2013, no governo Dilma, continua baixa e os juros pagos sobre a dívida baixaram para 8,5%, mas o estoque da dívida é maior. O que significa dizer que a partir do governo Lula o sistema foi sendo gradualmente controlado. Ainda assim, é uma transferência de dinheiro público paranão-produtores que se conta em centenas de bilhões de reais. Apoio político comprado com dinheiro público, mas rigorosamente legal. Em vez de ir contra a lei, é mais prático fazer a lei ir ao nosso encontro. Calcula-se que os recursos transferidos representam entre 7 e 10 vezes o volume total do programa Bolsa Família. Assim, a Selic alta é de interesse para os Bancos, que utilizam a mídia para aterrorizar por meio de ameaças com a inflação. Até o fim do Governo FHC a dívida pública só cresceu mesmo após a venda de vários patrimônios públicos por meio de privatizações. Apenas no governo Lula houve um controle dessa dívida, que caiu quase pela metade e que poderá vir cair ainda mais no Governo Dilma se a Selic continuar caindo até o patamar próximo do início do Governo FHC. E esse imenso mecanismo de transferência de recursos públicos se deu devido à assimetria de informação, ou seja, falta de conhecimentos de mecanismos financeiros. E os que têm por profissão manejar apenas dinheiro, entendem tudo. 
Dessa forma as campanhas políticas tornam-se um grande investimento, um excelente negócio para as corporações privadas que ao fazerem esses investimentos garantem a representação maciça no Congresso, tornando- se assim, um investimento de alta rentabilidade, uma vez que o Governo se transforma em uma imensa fonte de transferência de renda por meio da implementação da Taxa Selic instituída legalmente pelo Conselho Monetário, com o discurso de proteger o povo da inflação ganhando muito dinheiro e assim, desviando recursos de quem realmente produz.
A manipulação dos juros comerciais
Os mecanismos de apropriação do dinheiro público, apesar de serem simples não são divulgados pela mídia por alguma razão, enquanto que o público, que entra com a matéria prima, não os entende. 
Com o financiamento de candidatos ocorre a apropriação indevida do Poder Legislativo por grandes grupos econômicos, os quais tendem a gerar bases legais para ações ilegítimas. Essa legalidade promovida cria as condições para que os recursos públicos sejam drenados por meio das elevadas taxas Selic, a partir do quais os intermediários financeiros e “rentistas” do Governo se apropriam do rendimento do dinheiro que os clientes depositam, sem a obrigação de produzir nenhum retorno produtivo para a sociedade. Ainda assim, insatisfeitos essa taxa de juros oficial sobre a dívida pública, recorrem a um segundo mecanismo: a fixação de elevadas taxas de juros ao tomador final, por bancos comerciais, mecanismo tanto diferente como independente da taxa Selic. 
Os bancos comerciais (privados) apesar de defenderem a prática dos juros que bem entenderem, deve seguir as regras estipuladas pelo Banco Central uma vez que trabalham com dinheiro do público, e não dinheiro próprio. Dessa forma os bancos privados também precisam de uma carta patente que o autorize a funcionar dentro de certas regras que vão depender da capacidade de pressão política, o que significa dizer que o dinheiro público confiado diretamente à gestão de intermediários financeiros, sem a medição do Governo, constitui um desvio de dinheiro público legalizado à medida que políticos os ajudam nisso, aprovando emendas que os beneficiam ou mesmo quando estes banqueiros, na presidência do Banco Central representam seus próprios interesses.
Quando a CF/88 define no art. 170 os princípios da ordem econômica e financeira; a função social da propriedade (III) e a livre concorrência (IV) e protege a sociedade do abuso do poder econômico pela dominação dos mercados, eliminação da concorrência e aumento arbitrário de lucros” no parágrafo 4º do art. 173, prevendo a punição para quem o comete por meio do parágrafo 5º demonstrando que Cartel é crime, acaba por evidenciar a possível existência dessa ponte entre o político e o comercial.
Pesquisas do IPEA mostram que a taxa real de juros para pessoa física (descontada a inflação) cobrada pelos Bancos Comerciais Privados Estrangeiros é mais alta que a taxa real de juros cobrada para pessoa física pelos mesmos Bancos no exterior. E esse mesmo fato ocorre também com a pessoa jurídica. Assim, tanto se tratando de pessoas físicas ou jurídicas, fazer empréstimos bancários torna-se um problema para estas pessoas, e acabam por gerar lucros às matrizes dos bancos estrangeiros no país. 
Um dado básico: a intermediação financeira é uma atividade pela metade, pois não alimenta e nem veste ninguém. Mas se o intermediário, numa visão de fomento, agregar as nossas poupanças para financiar uma fábrica, por exemplo, e com isto gerar investimento, produção e empregos, a intermediação está plenamente justificada e completa. Os lucros da fábrica permitirão a remuneração da iniciativa, o lucro do intermediário e até o juro sobre a nossa aplicação financeira. Além de, evidentemente, aumentar a oferta de produtos produzidos pela fábrica. O uso das nossas poupanças pelos intermediários financeiros, quando direcionado para investimentos, capitaliza as atividades econômicas, enquanto a especulação financeira e a agiotagem as descapitalizam. 
Quando se compra a prazo, se o juro é elevado como é frequentemente praticado para pessoas físicas, as pessoas irão comprar com uma prestação “que cabe no bolso”, porque são pobres ou porque não entendem de juros dessa forma a metade do dinheiro que gastam irá para pagar o produtor do bem e a outra metade será para pagar os juros. O consumidor, portanto poderá comprar apenas a metade do que é a sua capacidade de compra real, e o produtor receberá pouco pelo produto que produziu. Assim o intermediário ganhará a metade de todo o valor, sem ter produzido nada, gerando uma espécie de pedágio financeiro. A capacidade do consumo de dinamizar a produção é, em grande parte, esterilizada pelo desvio da capacidade de compra para lucros financeiros, é o caso dos cartões de crédito. Não há como explicar uma diferença gritante entre o Brasil e outros países onde o juro médio do cartão de crédito é bem mais baixo, senão pela agiotagem, e não, “mecanismos de mercado”. Assim os juros altos do cartão de crédito faz com que se reduza a capacidade de compra, pagando-se muito mais pelos produtos, o que gera um impacto forte sobre os preços finais. Assim sendo, os juros altos não protege ninguém da inflação, e o que gera, são dificuldades para o consumidor e para o produtor enquanto os intermediários se beneficiam com os lucros exorbitantes gerados por essas taxas. 
Os lucros financeiros constituem custos pagos pela sociedade, sob forma de consumo retraído por parte do consumidor e de lucro menor (quando não quebra) por parte do produtor. A intermediação financeira é necessária, mas quando se usa o oligopólio para fixar juros estratosféricos, o intermediário vira atravessador enriquecendo com cobranças sem a obrigação de fomentar a produção e multiplicar seus efeitos, travando a economia ao prejudicar produtor e consumidor. Os grupos internacionais ainda possuem vantagens, pois buscarão dinheiro no exterior por meio de suas matrizes, com custos muito menores, inclusive para comprar empresas nacionais. Para o parque produtivo nacional, é desastroso. No conjunto, trata-se de um desvio de dinheiro da economia real, através de uma forma institucional ilegal, que é a “dominação dos mercados, eliminação da concorrência e aumento arbitrário dos lucros” que a Constituição condena em termos inequívocos. Frente aos números, há alguma dúvida quanto à ilegalidade? Não há notícias de julgamento a este respeito, e sim muitas denúncias no Procon, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e outras instituições, e milhões pessoas se debatendo em dificuldades. O Serasa Experian, hoje empresa multinacional, guardião da moralidade financeira, decretará quais brasileiros passam a ter o nome sujo, ou seja, punirá quem não conseguiu pagar 238%, e não quem os cobra. 
Na realidade, esta situação se mantém pela base política de que dispõe o poderoso setor financeiro e o conjunto da classe dos rentistas. A base política é mantida e reproduzida pelos mesmos mecanismosde contribuições eleitorais, além de posições de força conquistadas no Banco Central e no Copom. Para que não se mude a situação, é essencial que muitos deputados, senadores e funcionários de outras áreas sejam devidamente financiados. 
O problema do cartel é que, como no caso dos impostos, não temos escolha. Como todos cobram mais ou menos os mesmos juros e as mesmas tarifas, mudar de banco não resolve grande coisa, e gera dificuldades burocráticas. A massa de empregados no país é paga no banco que fez um acordo com a empresa empregadora, e não há muita escolha. O resultado será uma economia estagnada, porque os agentes financeiros privados preferem trabalhar com papéis do que fazer investimentos, ou seja, preencher a função social da propriedade prevista na Constituição. No conjunto, permite-se que no Brasil se ganhe muito dinheiro mesmo não produzindo, e sim intermediando o esforço dos outros. 
No braço de ferro com os bancos comerciais, o governo Dilma busca utilizar os bancos oficiais para introduzir gradualmente mecanismos de concorrência, baixando os juros pagos pelos tomadores de empréstimos. Foi aprovada uma lei que facilita ao usuário mudar de banco. O crédito em consignação que o governo instituiu permite acesso a juros mais baratos no banco, para comprar à vista no comércio. A própria Selic foi drasticamente reduzida, de 24,5% em 2002 para 8,5% em 2013, o que força gradualmente os bancos comerciais a procurar investimentos produtivos. A capacidade do governo de enfrentar processos de cartelização foi reforçada com o novo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Mas a lentidão do processo mostra a força da resistência. É a lenta e penosa batalha pela transferência dos recursos apropriados pelos rentistas e intermediários em geral, para os setores produtivos e os consumidores. 
É preciso transformar o dinheiro aplicado nas poupanças, em financiamento da economia real e fomento de atividades produtivas, reintroduzindo mecanismos de concorrência e de transparência, através de regulação pública adequada. 
Os paraísos fiscais
Os diversos mecanismos utilizados para desviarem recursos de modo a estagnar o desenvolvimento são por vezes legais, ou conquistaram a sua legalidade por meio de manipulações de legalidade duvidosa ou são mesmo ilegais. No conjunto, seguramente ilegítimos. E administrar bem um país, é alocar os recursos onde terão os efeitos mais positivos ao melhorar a produtividade sistêmica, ao contribuir para a qualidade de vida da população, ao assegurar um desenvolvimento sustentável. Em particular, quando olhamos o sistema de maneira mais ampla, constatamos que uma dimensão essencial ficou radicalmente deformada, que é o que assegurava, através de mecanismos de mercado e de sistemas regulatórios do Estado, uma certa proporcionalidade entre os ganhos e a contribuição produtiva para a sociedade. Esse divórcio, entre ficar individualmente rico e ser socialmente útil, gera uma crescente convicção de que o sistema tal como funciona está moralmente comprometido e economicamente disfuncional. 
Qualquer bom profissional pode legitimamente ganhar a sua vida, por exemplo numa atividade bancária, mas quer também ter o sentimento de estar fazendo algo útil, e em todo caso não estar contribuindo para fraudes e falcatruas. A contradição não é um privilégio do setor público. Quem trabalha no Serasa e tem de punir uma pessoa que não conseguiu pagar 238% de juros no cartão deve pensar duas vezes: uma vez no salário que lhe é necessário; e outra no impacto econômico negativo da sua atividade. 
O núcleo duro de resistência é o sistema de intermediação financeira, são os grandes grupos que ao fim e ao cabo intermedeiam todas estas operações, e que se recusam resolutamente a divulgar efetivamente os dados, sob o pretexto de proteger os clientes. James S. Henry, ex-economista chefe da Mckinsey, no seu estudo sobre o sistema planetário de finanças ilegais, traz uma constatação interessante: “O caráter secreto do setor privado e as políticas oficiais de governo que o protegem colocaram a maior parte das informações que precisamos fora de limites, ainda que, em princípio, estejam facilmente disponíveis. Em muitas maneiras, a questão política essencial é – quais são os custos e os benefícios de tanto segredo?” 
No estudo que publiquei com Ignacy Sachs e Carlos Lopes, Crises e oportunidades em tempos de mudança, destacamos um objetivo central: resgatar a dimensão pública do Estado. Este continua a ser, na nossa opinião, o desafio central. E isto passa, evidentemente, pela reforma política, em particular pela reforma do financiamento das campanhas. Perdoem a repetição, mas enquanto tivermos no Congresso existente – e isto se aplica evidentemente aos outros níveis de governo – uma bancada ruralista, uma bancada dos grandes bancos, das grandes empreiteiras, das grandes montadoras, da grande mídia, e pouca bancada cidadã, vai ser difícil. E tentar entender os descaminhos do dinheiro sem entender como a política está articulada com quem se beneficia desse desvio, não faz sentido. 
Os recursos que vazam, e que poderiam ser bem utilizados, giram em um circuito de interesses convergentes: os grandes beneficiários empresariais ou donos de fortunas pessoais; as instituições financeiras que fazem as transferências, geram o dinheiro ilegal e também se beneficiam no processo; e os políticos que criam o seu contexto institucional. E não esqueçamos o Judiciário, que não é de maneira alguma estranho ao processo, por dar suporte legal, por conivência ou por omissão. Neste quadrilátero devemos focar as atenções, pois são segmentos articulados. É também verdade que estamos, lenta e penosamente, avançando. 
Um dos efeitos indiretos da crise mundial, é que há um forte avanço recente no estudo dos grandes grupos econômicos e das grandes fortunas. Aliás, o imenso esforço de comunicação destinado a atribuir a crise financeira mundial ao comportamento irresponsável dos pobres, seja nos EUA ou na Grécia, é patético. Um estudo que sobressai, de autoria do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH na sigla alemã), constatou que 147 corporações, das quais 75% são grupos financeiros, controlam 40% do sistema corporativo mundial. No círculo um pouco mais aberto, 737 grupos controlam 80%. Nunca houve, na história da humanidade, nada parecido com este nível de controle planetário através de mecanismos econômicos e financeiros. A apropriação ou, no mínimo, fragilização das instituições políticas frente a estes gigantes, tornou-se hoje fato comprovado. 
Corroborando esta pesquisa e focando inclusive em grande parte os mesmos bancos, temos hoje outra pesquisa de grande porte, liderada por James Henry, e realizada no quadro da Tax Justice Network, rede de justiça tributária. O estoque de recursos aplicados em paraísos fiscais é estimado entre 21 trilhões e 32 trilhões de dólares, entre um terço e metade do PIB mundial. O Brasil participa generosamente com cerca de 520 bilhões de dólares, um pouco mais de um trilhão de reais, cerca de um quarto do nosso PIB. São dados obtidos através de cruzamento de informações dos grandes bancos, do BIS de Basiléia, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, de bancos centrais e de várias instituições de pesquisa ou de controle. Nada de invenções: trata-se no essencial de juntar os dados de forma organizada, com metodologia clara e transparente, e indicações da relativa segurança ou fragilidade dos dados a cada passo. Esta peça informativa fazia muita falta, e passamos agora a ver o que acontece com tanto dinheiro ilegal que resulta das várias formas de desvio. 
Vamos entrar um pouco no detalhe do estudo, pois o fato de se poder esconder dinheiro ilegal, em gigantescos volumes, a partir de qualquer parte do mundo ou tipo de atividade, é essencial para o vigor e a dinâmica crescente dos sistemas de desvio, tanto no mundo empresarial como no mundo político, um sustentando o outro. 
Primeiro, as fontes: “O presente estudo emprega quatro enfoques básicos de estimativas:(1) um modelo “fontes e usos” para os fluxos de capital não registrados país por país;
 (2) um modelo de “riqueza acumulada offshore”; 
 (3) um modelo de portfólio de investimentos offshore;
 (4) estimativas diretas de ativos offshore nos 50 principais bancos privados globais.
Para compilar estas estimativas, o estudo utilizou os dados disponíveis mais recentes do Banco Mundial, do FMI, das Nações Unidas, de bancos centrais, e as contas nacionais para modelar explicitamente os fluxos de capital para cada membro de um subgrupo de 139 países “fonte” que publicam este tipo de dados”. 
Segundo, o enfoque do estudo se concentrou menos nos fluxos e mais nos estoques acumulados de capital, o que permite identificar não só os fluxos como os ganhos de aplicação dos capitais clandestinos. “Ao deslocar a atenção de fluxos para os estoques acumulados de riqueza no exterior, este estudo chama a atenção para o fato de que a retenção de ganhos de investimentos no exterior pode facilmente tornar-se tão significativa que os fluxos iniciais são a partir de certo momento sobrepujados pela “fuga escondida”, com o estoque escondido de riqueza privada não registrada gerando suficiente renda não registrada para manter o seu crescimento muito tempo depois que as saídas iniciais pararam”. Ganhos que escapam dos impostos, serviço prestado pelos bancos. O estudo estima a evasão fiscal resultante em 189 bilhões de dólares ao ano.
Terceiro, há um complexo sistema de arranjos jurídicos e mudanças de localização oficial que torna difícil o seguimento. “O termo offshore não se refere tanto à localização física de ativos ou passivos privados, mas a locais frequentemente muito temporários de redes de entidades e a arranjos legais ou quase-legais, nominais, hiper-portáteis, multijurisdicionais, sempre no interesse dos que os administram, supostamente no interesse dos proprietários que se beneficiam, e frequentemente com indiferença ou desafio aberto relativamente aos interesses e leis de numerosos estados-nação.” Para isto o sistema se apoia nas amplas redes dos grandes bancos. O estudo menciona os grupos dominantes neste processo, que administram cerca de três quartos destes capitais: UBS, Crédit Suisse, Citigroup/SSB/Morgan Stanley, Deutsche Bank, BankAmerica/Merrill Lynch, JPMorganChase, BNP Paribas, HSBC, Pictet & Cie, Goldman Sachs, ABN Amro, Barclays, Crédit Agricole, Julius Baer, Société Générale e Lombard Odier. 
Quarto, os capitais não estão propriamente alocados nos paraísos fiscais, ainda que tenham ali a sua residência formal. Não se trata de cofres em paraísos tropicais, mas de contas administradas pelos grandes bancos. “Resulta que este setor offshore coberto de segredos – que se especializa essencialmente em evasão fiscal e lavagem dos resultados de uma miríade de atividades duvidosas – não é um arquipélago de paraísos exóticos e não relacionados, mas uma indústria global muito lucrativa, a ‘indústria da pirataria bancária global’. Esta indústria foi basicamente desenhada e tem sido operada há décadas, não por obscuros bancos sem nome localizados em ilhas paradisíacas, mas pelos maiores bancos privados, bem como firmas jurídicas e de contabilidade de proa. Todas estas instituições estão baseadas nas maiores capitais do primeiro mundo como Nova York, Londres, Genebra, Frankfurt e Cingapura”. 
Interessa-nos particularmente o mecanismo financeiro porque se trata da base de sustento – a extraterritorialidade jurídica, por assim dizer, e garantia de impunidade – de todo o sistema de desvio do dinheiro das possíveis utilizações produtivas. Mas também nos interessa o impacto político. “Isto também significa que como grupo essa elite transnacional tem, em princípio, um forte interesse em garantir impostos mais fracos sobre a renda e a riqueza, em fragilizar a capacidade de regulação do governo, em assegurar mercados mais ‘abertos’, e em fragilizar as restrições sobre a influência política e gastos de campanhas além das fronteiras – com um enorme ‘exército do paraíso’ com banqueiros piratas, empresas de advocacia, empresas de contabilidade, lobistas e empresas de relações públicas aos seus serviços”. 
Finalmente, um fato essencial: trata-se de recursos pertencentes a uma minoria ínfima de muito ricos. “Como a parte esmagadora de ativos privados offshore não registrados que identificamos pertence a uma minúscula elite, o impacto sobre a desigualdade é impressionante. (...) Do ponto de vista do ‘mercado pirata privado’, o que é talvez o mais interessante nesta paisagem de desigualdade global, é que estamos revelando a emergência recente de uma verdadeira elite transnacional privada, uma fração relativamente ínfima da população mundial que compartilha necessidades e interesses surpreendentemente semelhantes em termos de segredo financeiro, serviços bancários, impostos e regulação”. 
O conceito de desigualdade está sendo revisto. A partir de certo nível, o que é eticamente contestável torna-se economicamente pernicioso porque desarticula a própria política econômica. O tão conservador The Economist decidiu recentemente rever a sua defesa dos privilégios, e descreve, em amplo relatório especial, os impactos reais: “As desigualdades crescentes em muitos países estão começando a preocupar até os plutocratas. Uma pesquisa realizada para a reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos apontou a desigualdade como o problema mais premente da próxima década (junto com os desequilíbrios fiscais). Em todos os setores da sociedade, há um acordo crescente de que o mundo está se tornando mais desigual, e que as disparidades atuais e as suas prováveis trajetórias são perigosas. A história instável da América Latina, durante longo tempo o continente com a maior desigualdade de renda, sugere que países administrados por ricas elites entrincheiradas não funcionam muito bem”. 
Não se trata de invejar os ricos e sim de reduzir a máquina de desorganização econômica que geraram, com segredos e ilegalidades a cada passo, e influências sobre os sistemas Legislativo e Judiciário. Um artigo do Financial Times, comentando as análises de Christia Freeland, deixa o problema muito claro: “A busca da renta (rent-seeking) seja por parte de [Silvio] Berlusconi, Carlos Slim ou a Microsoft de Bill Gates durante os tempos do esmagamento da Netscape, causa danos à sociedade diretamente ao elevar preços e travar a inovação. Mas causa muito mais danos quando distorce, ou destrói, a democracia. A preferência dada pela Corte Suprema em 2010 ao argumento da ‘livre expressão’ representada por gastos corporativos ilimitados em campanhas políticas fez disto um problema sério nos Estados Unidos. É também o caso da proliferação dos lobistas e da influência que exercem sobre os políticos, em favor dos seus setores econômicos, em particular Wall Street. No entanto, como o caso da Itália mostra que o dano pode ser ainda pior se o bilionário assume o poder diretamente”. 
O Economist, frente às sucessivas evidências da amplitude que assumiram os paraísos fiscais, apresenta um relatório especial sobre “os 20 trilhões de dólares desaparecidos”: “Como nosso relatório deixa claro nesta semana, não há nada de pequeno na finança offshore. Se definirmos um paraíso fiscal como um lugar que tenta atrair fundos de não-residentes ao oferecer regulação light, taxação baixa (ou zero) e segredo, então o mundo teria entre 50 e 60 tais paraísos. Estes servem como domicílios para mais de 2 milhões de empresas e milhares de bancos, fundos e seguradoras. Ninguém realmente sabe quanto dinheiro está aplicado: as estimativas variam entre muito abaixo e muito acima de 20 trilhões de dólares”. 
Um aporte importante do relatório do Economist, que utiliza amplamente a pesquisa de James Henry vista anteriormente, é deixar claro que o paraíso fiscal não é uma ilhota com palmeiras. Assim, “O Estado (americano) de Delaware, com uma população de 917 mil habitantes, é a sede de 945 mil empresas, muitas das quais são precárias cascas de nozes. Miami é um centro de atividades bancárias offshore em massa(massive), oferecendo aos depositantes de mercados emergentes o tipo de proteção de olhos curiosos que os seus países de origem já não podem assegurar impunemente. A City de Londres, que foi pioneira no comércio de divisas offshore nos anos 1950, ainda se especializa em ajudar não-residentes a burlar as regras. Empresas-laranja britânicas e parcerias de confiabilidade duvidosa afloram regularmente em casos criminais. Londres não é melhor do que as ilhas Cayman quando se trata de controles contra a lavagem de dinheiro”.
Os paraísos fiscais, de acordo com o relatório, permitem “o round-tripping em que investimento interno circula nos offshore para retornar com tratamento fiscal mais favorável destinado a atrair capitais do exterior”. Citando James Henry, constata que “os países em desenvolvimento como um todo não fazem frente a um problema de dívida, mas ao problema de uma imensa evasão fiscal e de lavagem de dinheiro nos offshore” 
Assim, o Brasil não está isolado, neste sistema planetário, nem é particularmente corrupto em termos políticos e empresariais. Mas o conjunto criado é sim profundamente corrompido. Os dados para o Brasil, em termos de capitais offshore, são de toda forma impressionantes: ocupamos o quarto lugar no mundo. Em termos de valores, o Brasil tem em paraísos fiscais um total de 519,5 bilhões de dólares. Vemos também como outros países latino-americanos enfrentam o mesmo mal, inclusive proporcionalmente mais grave. Evasão fiscal é crime. E a origem deste dinheiro escapa a qualquer escrutínio. Enquanto os grandes bancos estiverem protegidos pelo segredo, não poderemos, no país, focar no que realmente interessa. Segundo a expressão tradicional, estaremos enxugando o chão, mas a torneira seguirá aberta. Sem dúvida, temos imensas tarefas pela frente. Os paraísos fiscais, que colocam ao abrigo das investigações o grande dinheiro, foram objeto de declarações fortes do G-20, e de nenhuma ação. 
Os paraísos fiscais permitem atividades ilegais em grande escala e em particular a evasão fiscal. No plano internacional, estão surgindo as cifras e isso é um fato novo, pois antes da crise financeira, os mecanismos eram conhecidos, mas não geravam repercussão política, e nem apareciam na mídia. Com a crise, em que as populações são chamadas a bancar os rombos, a pressão aumentou radicalmente, as pessoas querem saber onde está o dinheiro. No plano brasileiro, são pesquisas do exterior que nos dão os primeiros levantamentos, como os da Tabela 
Uma dimensão mais detalhada das pesquisas acima surge também recentemente com os dados da International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ) . Baseado em Washington, o ICIJ organizou um time de 86 jornalistas de 46 países, uma das maiores parcerias internacionais de investigação na história do jornalismo. Desenvolveu um sistema sofisticado de comunicações e armazenamento protegidos, e conseguiu, de fontes ainda secretas, 200 giga de documentos de vários paraísos fiscais (a fuga de documentos do Pentágono para o Wikileaks foi de dois giga). Os resultados são impressionantes, pois conseguiram cerca de 2 milhões de nomes de laranjas (nominees), e-mails, ordens de transferência, documentos de identidade, relatórios internos, instruções de clientes e semelhantes. 
O mapeamento, ainda em fase inicial, traça um novo mapa financeiro mundial. Por exemplo, relativamente ao round-tripping visto acima, constatou-se que em termos de volume financeiro, a segunda maior fonte de fluxos financeiros para a China é o paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, enquanto uma grande fonte de fluxos para a Rússia é Chipre.
 
E passam a aparecer, naturalmente, nomes britânicos, americanos, a filha do notoriamente corrupto ditador Ferdinand Marcos das Filipinas, o tesoureiro da campanha política do presidente da França, a baronesa Carmen Thyssen-Bornemisza, viúva do Thyssen bilionário do aço na Alemanha, russos, canadenses... Aguardamos, naturalmente, notícias brasileiras. O ICIJ montou um grande aparato de catalogação, ordenamento e análise da imensa base de dados. Os poucos nomes já revelados, segundo a entrevista de um dos membros da rede, resultam do fato de que os dados sobre estas pessoas já são razoavelmente seguros.
Estamos interessados aqui na compreensão do conjunto que emerge de pesquisas diversas, tecnicamente e ideologicamente insuspeitas, e que chegam a resultados absolutamente convergentes. Vimos que a pesquisa do ETH mostra os monstros financeiros planetários criados, grandes demais para sequer se administrar, e poderosos demais para serem controlados. A pesquisa da rede TJN de justiça tributária, que chegou a vazamentos não declarados de recursos da ordem de 21 a 32 trilhões de dólares, entre um terço e metade do PIB mundial. O relatório do Economist, absolutamente insuspeito de qualquer visão que não seja conservadora, e que corrobora os dados de James Henry da TJN, e mostra que se trata de recursos formalmente declarados em paraísos fiscais, mas administrados nos Estados Unidos, em Londres e praças europeias, e por bancos internacionais que estão no centro da crise. E vimos o início dos resultados de três anos de jornalismo investigativo em larga escala lançado pelo projeto da ICIJ onde os bancos, as praças financeiras, os métodos e os montantes encaixam-se perfeitamente nesta fase de abertura dos arquivos, com o que revelam as outras pesquisas. 
É importante notar que grande parte dessas atividades é legal. Quando se tem o poder de mudar a legislação, como foi o caso dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e outros países nos anos 1980, que reduziram drasticamente os controles sobre os fluxos financeiros, e geraram efetivamente a legalidade do que não é legítimo. Qualquer assalariado tem o seu imposto declarado por seu empregador, e não tem como sonegá-lo. A pessoa que compra um alimento no supermercado, com imposto incorporado, tampouco tem como fugir do imposto. Fugir do imposto através de contas em paraísos fiscais, colocando fortunas e empresas em nomes fictícios, pode ser tecnicamente legal, mas no espírito da Constituição é crime. O resto da sociedade paga os seus impostos, e não há firulas jurídicas que encubram que se trata de evasão fiscal, de um vazamento de recursos que deveriam servir ao desenvolvimento do país.
Um segundo aspecto aqui é que o segredo financeiro abriu espaço para inúmeras atividades criminosas. Basta hoje acompanhar o Financial Times, o Economist e tantos outros para constatar a quantidade de processos criminais em curso que envolvem o HSBC, Barclays e dezenas de outros bancos internacionais de primeira linha, os chamados “bancos sistemicamente relevantes”. É natural que tenhamos dificuldade em associar com atividades criminais empresas cujo nome vemos em edifícios luxuosos na avenida Paulista. Para dar um exemplo, segundo o Financial Times, o HSBC, “ainda está balançando pelo impacto causado por sua exposição a alegações de que facilitou a lavagem de dinheiro de drogas do México, um caso que o banco avisou nesta semana que lhe poderia custar ‘substancialmente mais’ que o 1,5 bilhão de dólares que já provisionou para pagar a esperada multa das autoridades americanas”. Hoje basta colocar no Google o nome de um grande banco internacional e a palavra settlements, ou seja acordos judiciais, para ver a ficha corrida. A manipulação fraudulenta das Libor e Euribor rendeu fortunas e prejudicou centenas de milhões de poupadores. E a cada vazamento das informações sobre as práticas ilegais, por parte de funcionários que se recusam a executá-las e as denunciam, a reação não é de mudar a cultura corporativa, e sim de perseguir os ‘informantes’ (whistleblowers) e reforçar o segredo.
Um terceiro aspecto dessa desorganização generalizada do uso racional dos recursos tem raízes institucionais. Em termos simples, quando cada país tinha a sua moeda, e as transações internacionais eram limitadas, bastava a ação local de cada banco central para regular o processo monetário, o crédito a alocação de recursos. Hoje, com o dinheirovirtual emitido por bancos sob forma de crédito, derivativos e outros mecanismos, e navegando na internet em frações de segundo de uma praça financeira a outra, simplesmente não há controle. A realidade é que o sistema financeiro tornou-se global, enquanto os instrumentos legais de regulação estão fragmentados entre os inúmeros bancos centrais dispersos nos 195 países do planeta. Ou seja, não há regulação, e isto explica porque inúmeras instituições e pessoas que em princípio são honestas, simplesmente derivaram para o vale-tudo. 
Um quarto aspecto resulta das próprias tecnologias que permitiram a criação da moeda virtual. Hoje, o carry trade, por exemplo, permite que, por meio de seu computador, um especulador financeiro tome dinheiro a 2% no Japão e o aplique em títulos do governo brasileiro a 8%, e tenha lucros altíssimos sobre um dinheiro que nunca ganhou. A alavancagem permite que um banco emita créditos, e sobre eles cobre juros, mesmo não tendo o dinheiro correspondente, e portanto recebe dinheiro que não lhe custou nada, pois não o tem. Mas os juros entram, e servem de lastro para outros empréstimos. A Lehman-Brothers, no momento da quebra, tinha emitido 27 vezes mais do que tinha em caixa. O High Frequency Trading está baseado em transações instantâneas pré-programadas nos computadores poderosos dos intermediários financeiros, comprando e vendendo grandes quantidades de valores para ganhos pequenos sobre grandes volumes, e gerando uma volatilidade planetária descontrolada. Os mercados de futuro geram flutuações violentas nos preços das commodities que obrigam os agentes da economia real a se precaver recorrendo mais ainda ao mercado de futuros. Os derivativos permitiram emissões de papéis, por parte de especuladores financeiros, em valor superior a 600 trilhões de dólares, para um PIB mundial próximo dos 70 trilhões. 
A verdade é que os economistas dos mais variados países estão em reuniões permanentes tentando, nos Estados Unidos, na União Europeia, na Grã-Bretanha e outros espaços financeiros, criar leis e sistemas de regulação que permitam recuperar as rédeas sobre o processo. É muito interessante encontrar na capa da importante publicação do FMI, Finance and Development, este título em letras garrafais: “Who’s in charge?”, quem é o encarregado? Ninguém coordena a alocação racional dos recursos neste sistema de vale tudo de intermediários, de pressões políticas imediatistas, de operações bilionárias de salvamento com dinheiro público, e de desinformação generalizada. Neste último plano, pelo menos, o da informação, é que agora estamos avançando a passos largos. O sistema está se tornando mais visível.
Caminhos
Não há dúvida de que ao fim e ao cabo, em todas as discussões teóricas, debates políticos e declarações de elevada preocupação ética, trata-se de quem se apropria da riqueza que a sociedade produz. Nos tempos de escravidão, era o caso de se apropriar das pessoas, e portanto do que elas produziam. Romanos, árabes, portugueses, britânicos e americanos, todos eles gostavam muito do sistema e achavam muito ético porque satisfazia os seus interesses. 
Nos tempos em que a riqueza básica era a agricultura, o instrumento de controle dominante foi a terra, e os feudos permitiam que os nobres usassem perucas e organizassem bailes em Versalhes ou em Viena – ou no Rio de Janeiro – enquanto os agricultores trabalhavam. Nos tempos da indústria, a ênfase passou a ser no controle das fábricas, com portaria, relógio de ponto e salários reduzidos ao máximo do politicamente viável. Hoje, é o mecanismo do dinheiro que assegura a apropriação do trabalho dos outros.
Sempre existiram as justificativas. No antigo Egito, era pela natureza divina do faraó. No tempo dos escravos, era porque não tinham alma e, portanto, não eram humanos. No tempo dos feudos, era porque os nobres garantiam a segurança dos servos no seu castelo. No tempo da indústria, era porque o capitalista tinha a justa remuneração do capital, e o assalariado a justa remuneração do trabalho. Hoje, é uma justificativa interessante: se não apoiarmos os intermediários financeiros, não somente eles quebram, mas quebramos todos, pois o que manejam são as nossas poupanças. A representação da quase totalidade da riqueza produzida pela humanidade está nas mãos de um grupo de algumas centenas de corporações financeiras. Não precisam controlar os produtos, basta controlar a sua representação virtual. 
Há resquícios do passado em todas as áreas. Há chefes de Estado que ainda se consideram de direito divino, produtores que usam trabalho escravo, latifundiários que se comportam como senhores feudais, industriais que pagam salários de miséria. Mas o mecanismo dominante deslocou-se para outro tipo de processo de concentração de renda e riqueza, por meio do controle dos que fazem as leis, da consequente deformação do sistema tributário, da dominação de amplas áreas da justiça, e da autorização das instituições financeiras emitirem moeda virtual livres de qualquer controle efetivo, gerando o desacerto entre a economia financeira e a economia real. É a chamada financeirização da economia. 
No plano crítico, há três eixos que se complementam. Em termos éticos, especuladores financeiros ganharem rios de dinheiro às custas do trabalho dos outros não se sustenta, e a desigualdade econômica chega a um nível insustentável no planeta. Não há argumento que se defenda neste plano. Não à toa o documento aprovado por 182 países na Rio+20 declara que “erradicar a pobreza é o maior desafio global que o mundo enfrenta hoje e uma condição indispensável para o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, nos comprometemos a liberar a humanidade da pobreza e da fome como uma questão de urgência”.
Em termos políticos, a apropriação, através do financiamento das eleições e outros mecanismos, do processo de elaboração das leis que regem a sociedade constitui um fator de geração de caos político e de erosão da democracia cada vez mais perigoso. A batalha de Wall Street, por exemplo, para impedir que seja aprovada a lei Dodd-Frank que asseguraria um mínimo de controle sobre os desmandos especulativos, com um exército de advogados, lobistas e políticos eleitos com o dinheiro corporativo, ilustra bem esta nova relação de forças. A submissão dos governos europeus e a sua aceitação de custear com a redução de direitos sociais os rombos dos grandes bancos, mostra a que ponto as relações de força se deslocaram. A pressão do sistema financeiro nacional e multinacional instalado no Brasil para não se reduzir as taxas de juros (comerciais e Selic) escandalosas, contribui aqui para o travamento da economia. O resgate da dimensão pública do Estado está se tornando crucial.
Em termos econômicos, estamos além da indignação com as injustiças e a corrupção do processo democrático: o dinheiro, da forma como está sendo administrado, deixou de ser útil, e em grande parte tornou-se pernicioso. Em vez de ajudar a economia financiando as atividades produtivas e políticas sustentáveis de desenvolvimento, está desviando os recursos para atividades especulativas que levam a um desequilíbrio cada vez maior entre as necessidades de financiamento e o destino dos recursos. Nunca é demais lembrar que os bancos, mesmo privados, não trabalham com dinheiro próprio, e sim dos poupadores, e por isto são instituições autorizadas a funcionar pelos respectivos bancos centrais. Somos todos obrigados a passar pelos bancos, a utilizar cartões, a depositar as nossas poupanças. Mesmo o nosso salário é depositado na nossa conta. Chama-se mercado financeiro, mas não é mercado, pois são poucos e eliminaram a concorrência. Na prática, é um cartel. Não temos muitas opções, enquanto não se democratizar o acesso ao crédito. 
No plano propositivo, a visão de conjunto é bastante clara: os imensos recursos que circulam no casino financeiro global têm de ser reorientados para os dois eixos críticos do desenvolvimento: a redução das desigualdades por processos redistributivos e inclusão produtiva, e o salto tecnológicoe organizacional que permita que o nosso desenvolvimento se dê de forma sustentável, sem comprometer o planeta e as futuras gerações. 
Em nenhum momento o sistema vai parar e começar a funcionar novamente de outra maneira. Por mais amplas que sejam as transformações que queremos, é preciso encontrar dentro do sistema as oportunidades da sua transformação. Muitas coisas estão a caminho, e vale a pena identificar e fortalecer as mudanças mais promissoras. 
Para a recuperação do controle das nossas poupanças e da orientação dos recursos para o que é socialmente útil, há inúmeras iniciativas. Os bancos comunitários de desenvolvimento, por exemplo, já eram 103 em 2012, inclusive emitindo a própria moeda, e expandindo a inclusão produtiva das comunidades mais pobres. Os sistemas P2P, Peer-to-Peer, em que as pessoas emprestam umas às outras sem intermediários, através da internet, estão ampliando o seu potencial. No Brasil já foram criadas agências de garantia de credito controladas por pequenos produtores rurais, OSCIPs de intermediação financeira e outras estruturas. Temos muito que aprender com as caixas de econômicas municipais que geram mais da metade das poupanças na Alemanha e na França, ou com os 470 bancos cooperativos na Polônia que asseguram os fluxos locais de financiamento necessários às comunidades e protegem o país dos desmandos dos grandes bancos. 
Mas temos pela frente, naturalmente, os desafios mais amplos. O sistema tributário brasileiro, por exemplo, no qual os ricos pagam proporcionalmente menos impostos que os pobres, inverte o seu papel distribuidor (impostos progressivos) para reproduzir um papel concentrador (impostos regressivos). Burocraticamente complicado, economicamente desestimulante e socialmente injusto, este sistema precisa de uma revisão em profundidade. Termos tantas grandes fortunas e nenhum imposto sobre a elas é mais do que significativo. O essencial não é o tamanho da carga tributária, e sim a sua distribuição. Ou seja, temos de racionalizar a captação e alocação dos recursos públicos. 
O que os dados sobre os paraísos fiscais mostram, é que a elite financeira do país não só é pouco taxada, como recorre de forma sistemática à evasão fiscal. O resgate dos mais de 500 bilhões de dólares em paraísos fiscais passa por sistemas modernizados de gestão pública financeira, e em particular por uma atuação firme do Banco Central no sentido de regular os fluxos. Numerosas iniciativas internacionais estão em curso, à medida que cresce a indignação planetária com as ilegalidades financeiras. No caso dos juros, o governo Dilma iniciou uma forma de reintrodução de mecanismos de concorrência no sistema bancário, por meio da redução dos juros do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e de outras instituições financeiras públicas, obrigando os bancos comerciais privados a acompanhá-los, pelo menos em parte. O processo tem encontrado imensas resistências, mas termos bancos que cobram ao mês o que no resto do mundo se cobra ao ano, fragiliza radicalmente o Brasil frente à competição internacional, e constitui uma das principais travas ao desenvolvimento.
A redução sistemática da taxa Selic, é outra batalha política a ser ganha. Em 2012 foram 147 bilhões transferidos para os rentistas, e em particular os bancos comerciais, e esta sangria de recursos públicos é insustentável. Houve grande progresso nesta área, já que a taxa Selic está abaixo dos 10%, mas é ainda absurdamente alta. A dívida pública é uma armadilha da qual temos de sair, e inúmeros países no resto do mundo encontram-se presos na chantagem financeira que ela permite. As pressões exercidas pela chamada comunidade financeira, por meio de suas bancadas políticas, de lobistas e outros mecanismos, são imensas. 
No plano internacional, há inúmeras propostas em curso. São importantes igualmente para o Brasil, pois os sistemas financeiros constituem vasos comunicantes, e dificilmente haverá um saneamento adequado no plano nacional enquanto se mantiver o caos gerado pelos grandes bancos internacionais. Vão desde o reforço dos sistemas de regulação, até propostas de abertura de informações sobre as contas privadas entre países, e a instauração de sistemas de controle sobre os paraísos fiscais. Propostas de portabilidade imediata das contas bancárias em que os correntistas possam migrar para outro banco sem mudança dos números de conta e mecanismo básico de acesso – tal como já se faz com o número do nosso celular – estão em estudo na Inglaterra, no sentido de se reintroduzir mecanismos de mercado no oligopólio bancário. 
A verdade é que todas estas mudanças estão sendo vigorosamente combatidas pelas corporações de intermediação financeira, e os recursos que tem sido transferidos dos nossos impostos para os bancos mostram o seu poder. O que encontramos diariamente na mídia são gritos contra os impostos, enquanto os spreads bancários (na média mundial cerca de 4%, no Brasil na média 38%) ficam discretos. 
O processo que ora ocorre nos parece melhor caracterizado por Gar Alperovitz: “Por baixo da superfície da ‘política-como-sempre’, do travamento político contínuo e da exaustão das abordagens existentes começaram a se abrir algumas possibilidades estratégicas muito interessantes. São melhor compreendidas não como ‘reformas’ (políticas para modificar e controlar, mas não transcender, as instituições atuais dominadas por corporações) nem com ‘revolução’ (a derrubada das instituições existentes), mas sim um processo de mais longo prazo de ‘reconstrução evolutiva’ – ou seja, transformações institucionais que se desenrolam no tempo”. 
Com avanços e recuos, este caminho nos parece estar sendo trilhado no conjunto da América Latina. O documento da Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (Cepal), resume o desafio: é necessário dotar o Estado de uma maior capacidade de redistribuição de recursos e de promoção da igualdade. “Trata-se de um estado de bem-estar e não de um Estado subsidiário, que avance para uma estrutura tributária e um sistema de transferências que privilegiem a solidariedade social” 38. E com uma nova equação Estado-mercado-sociedade se poderá alcançar um desenvolvimento com empregos de qualidade, coesão social e sustentabilidade ambiental”. 
3. O financiamento está baseado na Lei n. 9504, de 1997, “As doações podem ser provenientes de recursos próprios (do candidato); de pessoas físicas, com limite de 10% do valor que declarou de patrimônio no ano anterior no Imposto de Renda; e de pessoas jurídicas, com limite de 2%, correspondente [à declaração] ao ano anterior”, explicou o juiz Marco Antônio Martin Vargas, assessor da Presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo”. CRUZ, Elaine Patrícia. Entenda o financiamento de campanha no Brasil. Revista Exame, 8 de junho de 2010. 
4. “Pouquíssimos candidatos conseguem se eleger com pouco ou nenhum dinheiro”, comenta Mancuso, que coordena o projeto de pesquisa Poder econômico na política: a influência de financiadores eleitorais sobre a atuação parlamentar. Ver em ROMÃO, Bruna. Agência USP e site Mercado Ético, de 19 de setembro de 201, disponível em <www. usp.br/agen/?p=112039>. 
5. Ver dados completos em The Economist, Of Mud and Money, 8 de setembro de 2012, p. 61. Sobre a decisão da corte suprema americana, Hazel Henderson produziu uma excelente análise intitulada “Termos o melhor congresso que o dinheiro pode comprar” (We have the best congress money can buy). No plano propositivo, há um excelente trabalho de Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade de Harvard, Republic Lost: how money corrupts Congress and a plan to stop it, Twelve, New York, 2011, em particular p. 266 e seguintes.65 
6. MCCHESNEY, Robert e NICHOLS, John. Et les spots politi¬ques ont envahi les écrans. Le Monde Diplomatique, Manière de Voir, n. 125, Où va l’Amérique, Octobre-Novembre 2012, p. 62 – A liberação do financiamento corporativo das campanhas eleitorais foi consegui¬da pelo lobby conservador Citizens United, junto à Corte Suprema dos Estados

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