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teóricas posteriores. o Ncw Criticism está longe de constituir um bloco homogêneo, abrigando tendências das mais divergentes, embora todas revelem um ponto comum: a origem na contribuição crítica de Sarnuel Taylor Coleridge, a partir de cuja Biographia literária (1817) reaparece como exigência basilar a necessidade de se ler, cada vez mais exatamente, as "palavras da página", o que se prestou até para pesquisas estatísticas sobre a freqüência de certas expressões e imagens em determinado poeta. [... ] De acordo com a lição de Coleridgc, deve ser dispensada a mesma atenção à estrutura do conjunto de palavras e à técnica de sua organização em estruturas poéticas. Assim, a crítica literária passa a ser entendida como uma ciência autônoma que se dedica ao estudo dessa técnica, sem qualquer preocupação com os elementos biográficos, psicológicos ou históricos aUNQUElRA, 1989, p. 13). o NEW CRITICISM oNeiu Criticism é um "movimento" de crítica literária que se desenvolveu, considerando-se os seus precursores, no su 1dos Estados Unidos da América, entre os anos 20-30 do século:XX, vindo a ocupar, nos anos 40-50, uma posição dominante nos estudos literários. A utilização do termo movimento entre aspas na frase anterior explica-se pelo fato de que não houve propriamente um movimento organizado por parte dos chamados novos críticos, bem como não houve, em seus estudos, algo como uma reflexão que se constituísse em um sistema fechado de princípios e conceitos teóricos seguidos por todos os seus membros. A diversidade de posições e, mesmo, a existência de divergências significativas entre as posições e ideias defendidas pelos new critics são características do "movimento". Junqueira afirma que 124 - T E o R I A LITERÁRIA FORMALISMO RUSSO E NEW·CRITICISM Segundo Cohen (1983, p. 3), a designação Neu/ Criticism já fora empregada por Joel Spingarn em 1910, mas passou a restringir-se a um grupo de críticos influenciados por John Crowe Ramson, que, além de batizar oficialmente o movimento com a publicação do livro The New Crituism, em 1941,combatia por uma crítica concebida em bases profissionais, mais voltada para a abordagem dos aspectostécnicos da poesia do que preocupada com a exibição de erudição histórica. Cohen considera importante, também, o fato de o New Criticism ter se desenvolvido "no final dos anos 30, num momento em que a crítica marxista, até então muito influente, encontrava-se desacreditada e posta de lado" (COHEN, 1983, p. 4). Lobo afirma que o New Criticism marca, no contexto mundial, a passagem da crítica litcrãria pata o âmbito do meio universitário, o que caracteriza a crítica "científica" ou metodológica e epistemológica do sécu!oXX ..,.isto é,.a.q1tcla .. que segue um método e uma teoria do conhecimento - com a superação da crítica impressionista ou intuitiva. Inaugura-se o ciclo de publicações sistemáticas de revistas universitãriasco professor deixa de ser mero veiculador de ideias para tornar-se também pesquisador em equipe e escritor de ideias(LOBO, 1998, p. 102). Cohen aponta John Crowe Ramson, AllenTate e Cleanth Brooks como os principais nomes do New Críticism, destacando, também, o importante papel de "colaboradores, colegas e outras figuras que, sem pertencerem ao movimento, a ele se ligaram" (COHEN, 1983, p. 4): Robert Penn Warren, Kenneth Burke, R. P. Blackmur, Austin Warren, W Stallman e William K. Wimsatt Jr. Dentre os precursores e teóricos que forneceram aos new criticscontribuições significativas, destacam-se, segundo Cohen (1983), T. E. Hulme, T. S. Eliot, Ezra Pound, I. A. Richards e William Empson. Tomemos, para os fins deste capítulo, algumas das influentes ideias de Eliot QUNQUEIRA, 1989) sobre a criação e a crítica literárias. No ensaio "Tradição e talento individual", escrito em 1917 e republicado em 1920 e 1932, Eliot: a) contrapõe à tendência de valorizar um poeta a partir dos "aspectos de sua obra nos quais ele menos se assemelha a qualquer outro" a leitura que, livre desse preconceito, descubra "que não apenas o melhor mas também as passagens mais individuais de sua obra podem ser aquelas em que os poetas mortos, seus ancestrais, revelam mais vigorosamente sua imortalidade" (ELIOT, 1917 In:JUNQUElRA, 1989, p.38); b) defende que a apreciação crítica deve estruturar-se em bases comparativas que considerem o talento individual em suas relações com a tradição da qual ele emerge, pois ~.. t nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu significado··e a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e os artistas mortos. Não se pode estimá-Io em si; é preciso situá-Io, para contraste e comparação, entre os mortos. Entendo isso como um princípio de estética, não apenas histórica, mas no sentido crítico (ELIOT, 1917 In:JUNQUEIRA, 1989, p. 39); c) destaca o sentido histórico da tradição artística e literária, essencial tanto para a atividade de criação como para a de crítica de arte, pois o queocorrequando uma nova obra de arte aparece é, às vezes, o que ocorre simultaneamente com relação a todas as obras de arte que a precedem. Os monumentos existentes formam uma ordem ideal entre si, e esta só se modifica pelo aparecimento de uma nova (realmente nova) obra entre eles. A ordem existente é completa antes que a nova obra apareça; para que a ordem persista após a introdução da novidade, a totalidade da ordem existente deve ser [... ] alterada: e desse modo as relações, proporções, valores de cada obra de arte rumo ao todo são reajustados; aí reside a harmonia entre o antigo e o novo [...]. Neste sentido, em arte não é absurdo que o passado deva ser modificado pelo presente tanto quanto o presente esteja orientado pelo passado (ELIOT, 1917 In:JUNQUElRA, 1989, p. 39-40); THOMAS BONNICI I LÚCIA OSANA ZOLIN (ORGANIZADORES) 125 A mente do poeta [...] pode, parcial ou exclusivamente, atuar sobre a experiência do próprio homem, mas, quanto mais perfeito for o artista, mais inteiramente separado estará nele o homem' que sofre e a mente que cria; e com maior perfeição saberá a mente digerir e transfigurar as paixões que lhe servem -de matéria-prima (ELIOT, 1917 In: JUNQUElRA, 1989, p. 43); (€h A V 1 NCO JUNIOR d) defende uma atividade crítica voltada para o estudo da obra e deliberada mente desvencilhada do apego positivista às abordagens extrínsecas (históricas, biográficas, sociológicas etc.), pois "a crítica honesta e a sensibilidade literária não se interessam pelo poeta, e sim pela poesia" (C01-IEN, 1983, p. 6). Desse modo, a arte é concebida como o resultado de uma atividade mental capaz de transfigurar em obra as experiências vividas pelo artista: e) afirma que um poeta não deve ser avaliado senão por sua capacidade de produzir obras capazes de suscitar no leitor os sentimentos e emoções que pode ou não ter experimentado em sua vida particular, pois o objetivo do. poeta não é descobrir novas emoções, mas utilizar as corriqueiras e, trabalhando- as no elevado nível poético, exprimir sentimentos que não se encontram em absoluto nas emoções como tais. E emoções que ele jamais experimentou servirão [...] tanto quanto as que lhe são familiares (ELIOT, 1917 1n:JUNQUEIRA, 1989, p. 47). A poesia, portanto, não consiste mima liberação das emoções ou numa expressão da personalidade do poeta; ela consiste na capacidade deste para elaborar tais dados sob a forma de poema. Nesse sentido, sugere, a crítica deve interessar-se pela poesia, e não pela vida individual do poeta' que a criou, já que "a emoção da arte é impessoal" (ELIOT, 1917 In: ]UNQUE1RA, 1989, p. 48), produto do trabalho efetuado com a linguagem e, portanto, construída artificialmente a partir do domínio de determinado conjunto de técnicas de composição. Tais ideias serão importantes para o desenvolvimento e a fundamentação das atividades do New Criticism, já que elas afirmam uma ruptura para com os modelos